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TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO


Profª Sonia R. Arbues Decoster
O MOVIMENTO DA
ADMINISTRAÇÃO
CIENTÍFICA

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OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Entrar em contato com os principais conceitos e aplicações da


Administração Científica, área de estudos precursora da Administração;
• Entrar em contato com os principais autores da Administração
Científica, dentre os quais Frederick Taylor, Frank e Lillian Gilbreth,
Henry Grant e Henry Ford;
• Compreender ideias e práticas da Administração Científica que ainda
hoje podem ser aplicados em certos cenários organizacionais.

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SUMÁRIO

1. Introdução
2. O contexto da administração científica
2.1. Taylor e o movimento da administração científica
3. Integrantes do movimento
3.1. Frank e Lillian Gilbreth
3.2. Henry Grant
4. Henry Ford e a linha de montagem
4.1. A linha de montagem
4.2. Princípios da produção em massa
4.3. Especialização do trabalhador
5. Considerações finais

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1. INTRODUÇÃO 2. O CONTEXTO DA ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA

Este material tem como intuito apresentar ao aluno as teorias da A Revolução Industrial teve início na Inglaterra no século XVIII, quando
Administração propostas pela Escola Clássica, passando por seus se inicia a transformação do processo de manufatura da produção
criadores e pelas primeiras propostas de soluções consideradas perenes artesanal para a produção por máquinas, especialmente a partir da
na história da Administração das Organizações. A Escola Clássica utilização da máquina a vapor. Nos Estados Unidos, esse processo
compreende os avanços na teoria e na prática da administração das também teve força, especialmente na última metade do século XIX, de
organizações que ocorreram na passagem para do século XIX para modo que, em 1900, o número de trabalhadores industriais chegava a
o XX em um contexto de mudança marcado pela Primeira Revolução aproximadamente 4.500.000 de pessoas. As maiores fábricas eram as
Industrial. O marco inicial da Escola Clássica foi o movimento da usinas siderúrgicas, em torno de 8 a 10 mil pessoas, até o momento
Administração Científica, de Frederick Taylor. Em seguida, temos o em que foi ultrapassada em número pela indústria automobilística.
marco de Henry Ford, com a invenção da linha de montagem móvel. Em 1924, a fábrica da Ford em River Rouge apresentava 70 mil
A contribuição desses dois autores e de outros protagonistas está empregados. Isso fez com que novos métodos de administração
diretamente relacionada com a ideia de eficiência empresarial. fossem necessários, sobre os quais pessoas como Frederick Winslow
Taylor debruçaram-se, buscando por soluções e ideias para promover
a eficiência na produtividade industrial.

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2.1. Taylor e o movimento da administração científica administração com o trabalhador;
• A ausência de incentivos para melhorar o desempenho do
Frederick Taylor (1856-1915) foi o criador trabalhador;
do movimento da Administração Científica • A falta de cumprimento das responsabilidades por parte dos
e seu mais proeminente participante. trabalhadores;
Tinha como objetivo aumentar a eficiência • Intuição e palpite como a base das decisões dos
da produtividade e eliminar o desperdício. administradores;
Em 1878, iniciou suas atividades na usina • Inexistência de integração entre os departamentos da
siderúrgica em Midvale Steel, Pensilvânia, empresa;
nos EUA. Após estudar Engenharia, fez • Os trabalhadores eram colocados em tarefas para as quais
carreira rápida, chegando a engenheiro- não tinham aptidão;
chefe da produção. De 1890 a 1893, • Falta de conhecimento, por parte dos gerentes que a
Frederick W. Taylor
Fonte trabalhou como consultor, entrando excelência no desempenho significaria recompensas tanto
em seguida na Metalúrgica Bethlehem, para eles próprios quanto para a mão de obra;
Pensilvânia, de onde saiu para promover os métodos de produtividade • Existência de conflitos entre capatazes e operários a respeito
que se tornariam que havia elaborado. de números da produção.

De acordo com Maximiano (2017), quando ainda trabalhava na Midvale Para saber mais sobre Frederick Taylor:
Steel, Taylor relacionou os problemas das operações fabris, que eram,
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então:

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• A falta de noção clara da divisão das responsabilidades da

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Joseph Wharton, grande acionista da empresa e fundador, em 1881, da duas principais inovações envolviam, então:
primeira Escola de Administração dos Estados Unidos, contrata Taylor,
em 1893, para trabalhar exclusivamente na Bethlehem Steel, uma das a) O sistema dos salários
grandes siderúrgicas da época, com cerca de quatro mil empregados Esse foi um problema do qual a Sociedade ocupou-se
em 1900. Na empresa, o engenheiro pode desenvolver suas ideias e inicialmente. Na época, o sistema de pagamento (por dia
aplicá-las e, a partir de suas observações e experiências, elaborou o trabalhado e por peça produzida) fazia com que o trabalhador
método de produção que mais tarde seria chamado de taylorismo. entendesse que seu esforço beneficiava apenas o patrão. Por
conta disso, os trabalhadores não viam nenhuma vantagem
Henry Gantt, sobre quem falaremos mais adiante, era o assistente de em produzir além do que eles próprios achavam adequado,
Taylor na Bethlehem Steel. Juntos, criaram em 1910 a Sociedade para dado que o salário por dia trabalhado era fixo. Isso fazia com
a Promoção da Administração Científica, que passaria a chamar-se que a produção se mantivesse em um nível propositadamente
Sociedade Taylor, a partir de 1915, após a morte de seu precursor. baixo. Foi nesse momento que surgiu, então, a possibilidade
Nesse contexto, foi criando, então, na Sociedade Americana dos de participação do empregado nos lucros da empresa, que foi
Engenheiros (ASME), o Movimento da Administração Científico, cujo praticado incialmente na Europa, mesmo com controvérsias
desenvolvimento das ideias pode ser compreendido em 3 fases, de que a medida acabou gerando.
acordo com o que nos aponta Maximiano (2017).
b) O piece-rate system ou o sistema de pagamento por
1ª Fase: o sistema de salários e a definição de tempos-padrão peça
Em 1895, Taylor apresentou à Sociedade o que é considerado
Nessa primeira fase da Administração Científica, Taylor buscou o primeiro trabalho da administração científica: a piece-rate
racionalizar as práticas de trabalho das fábricas para, sobre isso, system (um sistema de pagamento por peça), que propõe um
propor algumas soluções para os problemas que observava. Suas método para eliminar a diminuição do valor pago por peça. Taylor

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argumentou que a administração deveria primeiro procurar de modelo que seria altamente motivado e capaz de realizar seu
descobrir qual o tempo padrão para o trabalhador completar trabalho sem desperdiçar tempo nem restringir sua produção. Como
uma tarefa. Um exemplo ideal seria uma produção em que aponta Maximiano (2017), nessa obra, Taylor apresenta os princípios
fosse possível estabelecer valores de pagamento de 80 a de administração de uma empresa, baseados em:
120% por peça. Assim, baseando-se em um estudo sistemático
e científico do tempo para resolver o problema dos salários, • Seleção e treinamento de pessoal;
Taylor propôs dividir cada tarefa em seus elementos básicos, • Salários altos e custos baixos de produção;
cronometrá-las e registrá-las, para serem definidos os tempos- • Identificação da melhor maneira de executar tarefas;
padrão de sua produção. Esse procedimento era a base do • Cooperação entre administração e trabalhadores.
sistema de administração de tarefas (task management), que
compreendia ainda a seleção de trabalhadores e o pagamento 3ª Fase: Consolidação dos princípios
de incentivos, questões igualmente essenciais para se chegar
à eficiência. Em sua terceira obra, Princípios de Administração Científica, de 1911,
Taylor define os objetivos da área. De acordo com Maximiano (2017),
2ª Fase: ampliação de escopo e das tarefas da administração. são eles:

A segunda fase concentra-se no desenvolvimento de uma concepção 1) Desenvolver uma ciência para cada elemento do trabalho,
teórica para a administração, compreendendo com isso um aumento para substituir o velho método empírico;
do escopo da administração científica, que se torna um sistema 2) Selecionar cientificamente e depois treinar e desenvolver o
mais abrangente. Taylor criou em seu livro, Shop Management trabalhador, diferentemente do passado, quando o trabalhador
(Administração de Oficinas), uma distinção entre o que chamou de escolhia seu próprio trabalho;
homem médio e homem de primeira classe, sendo este uma espécie 3) Cooperar sinceramente com os trabalhadores, de modo a

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garantir que o trabalho seja feito de acordo com princípios da de supervisores funcionais, cada um cuidando de um aspecto do
ciência que foi desenvolvida; trabalho operacional. Tais mudanças não foram, porém, implementadas
4) Reconhecer que existe uma divisão quase igual de trabalho e e também não sobreviveriam à modernização das organizações.
de responsabilidade entre a administração e os trabalhadores;
5) A administração é responsável por todo o trabalho para o qual Taylor define os mecanismos ou técnicas da administração científica,
esteja mais bem preparada que os trabalhadores, e por conta a partir de:
disso, também pelo incentivo para o trabalhador individual,
atendendo ao desejo de ganho material o possibilitando seu • Estudos de tempos e movimentos;
crescimento pessoal. • Padronização de ferramentas e instrumentos;
• Padronização de movimentos;
Para saber mais • Conveniência de uma área de planejamento;
Taylor enfatizava que “a prosperidade máxima de cada • Cartões de instruções;
empregado significa não apenas salários mais altos, • Sistema de pagamento de acordo com o desempenho;
mas também, e mais importante, o desenvolvimento • Cálculo de custos.
de cada homem à sua condição de eficiência máxima.”
(TAYLOR apud CHIAVENATO, 2004, p. 57) Comentário
Durante as três fases da Administração Científica,
Nessa fase, o alcance da administração científica cresce para sugerir percebe-se que Taylor elaborou conceitos e técnicas
mudanças nas responsabilidades dentro da empresa. A principal que contribuíram tanto para a empresa, quanto
mudança seria a criação de um departamento de planejamento, ao qual para os empregados e que seu raciocínio remete à
caberia o trabalho intelectual de estudar e propor o aperfeiçoamento no sistematização de um modelo de administração, por
chão de fábrica. A segunda mudança seria a ampliação da quantidade meio da qual a produtividade resulta da eficiência do

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trabalho e não da maximização do esforço.
3. INTEGRANTES DO MOVIMENTO

Vários foram os seguidores das ideias de Frederick Taylor e que


integraram, então, o movimento da Administração Científica. Dentre
os autores que tiveram contribuições mais podemos citar o casal Frank
e Lillian Gilbreth, Henry Gantt e Hugo Münsterberg.

3.1. Frank e Lillian Gilbreth

Frank Gilbreth (1868 - 1924), nascido


em Fairfield, no Maine, chegou a
superintendente com a idade de 27
anos. Nesse período, começou a fazer
observações sobre os movimentos e
hábitos dos trabalhadores e inventou
os andaimes móveis, que facilitavam o
trabalho de colocação de tijolos. Em 1895,
fundou uma próspera empresa produtora
de concreto, chegando a trabalhar no
Frank Gilbreth
Fonte Canadá e na Europa. Em 1909, Frank
publicou o livro Bricklaying system

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(Sistema de construção com tijolos), no qual incluiu suas primeiras doméstica e se dedicou, ainda, à carreira acadêmica.
observações sobre o estudo de movimentos. A partir de suas
observações, concluiu que: i) o trabalhador precisa conhecer seu Frank e Lillian tornaram-se um dos casais mais famosos da história
ofício, ii) deve ser rápido e iii) deve fazer o mínimo de movimentos da ciência e da engenharia. Em 1912, o casal publicou Primer of
para alcançar o resultado desejado. Em 1907, Gilbreth tornou-se um scientific management, um meio de divulgação da administração
discípulo das ideias de Taylor. científica para o grande público. Nesse livro, os Gilbreth enfatizam o
estudo de movimentos, diferentemente de Taylor que se especializou
Lillian Moller Gilbreth (1878 - 1972), nascida no estudo de tempos. Os Gilbreth procuraram avançar as fronteiras
em Oakland, Phoenix, concentrou seus da administração científica, para abordar as questões relativas às
estudos em psicologia e em engenharia relações humanas que Elton Mayo se dedicaria futuramente.
industrial. Em 1914, publicou The
psychology of management (Psicologia Frank Gilbreth foi um dos principais mentores da criação da Sociedade
da administração), que, em 1915, tornar- para a Promoção da Administração Científica e que se tornaria,
se-ia sua tese de doutorado, tendo sido futuramente, a Sociedade Taylor. A influência de Frederik Taylor pode
a primeira engenheira norte-americana ser observada no livro Motion study (Estudo de movimentos), de 1911,
a formar-se também em psicologia, no qual Gilbreth aborda o trabalho em seu sentido mais amplo, fixando-
Lillian Moller Gilbreth
Fonte sendo também pioneira ao atuar na área se no desperdício de produtividade humana. Diante disso, propunha o
de psicologia organizacional. A síntese estudo sistemático e a racionalização dos movimentos necessários para
que propôs entre as duas áreas, inédita quando realizada, permitiu a execução das tarefas. Gilbreth também dedicou atenção particular à
dar maior ênfase ao aspecto humano no ambiente organizacional. fadiga, e juntamente com sua mulher, Lillian, publicou em 1916, o livro
Foi responsável por campanhas de marketing de empresas como Fatigue study (Estudo da fadiga), obra que combina uma síntese da
a Johnson & Johnson, desenvolveu técnicas de gestão e economia administração científica com a visão da psicologia industrial.

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Compreenderam que o estudo científico dos movimentos e a introdução um método gráfico para acompanhar fluxos de produção. Esse método
de aprimoramentos nos métodos de trabalho poderiam contribuir muito tornar-se-ia o gráfico de Gantt. Fez o mestrado em engenharia no
para a diminuição do cansaço dos trabalhadores. Os Gilbreth também Instituto de Tecnologia Stevens, onde Taylor também estudou. Em
propuseram a redução das horas diárias de trabalho e a implantação 1887, aos 26 anos de idade, juntou-se a ele na metalúrgica Midvale,
ou o aumento de dias de descanso remunerado. Frank Gilbreth, onde ficou até 1893. Em 1901, estabeleceu-se como consultor em
no começo da Primeira Guerra Mundial, estudou os processos e administração. Foi um dos primeiros especialistas em eficiência a
equipamentos industriais na Alemanha. Quando os soldados feridos entrar no ramo, tendo sido também um dos primeiros a se preocupar
começaram a voltar do front, aplicou seus princípios ao aprimoramento na otimização gráfica de processos. A ASME criou um prêmio com
dos procedimentos cirúrgicos. seu nome. Em 1908, publicou o trabalho Training workmen in habits
of industry (Treinamento de trabalhadores em hábitos industriais).
3.2. Henry Grant Os pontos de vista dessa obra foram ampliados no trabalho Modern
methods of training (Métodos modernos de treinamento), de 1915.
Henry Gantt (1861 - 1919), nascido Em 1918, quando os Estados Unidos já haviam entrado na Primeira
em Calvert, Maryland, foi uma das Guerra Mundial, Gantt coordenou a construção de 533 navios em uma
pessoas mais importantes na história da impressionante demonstração de capacidade industrial. Nessa época,
engenharia e da administração. Gantt Gantt desenvolveu totalmente o gráfico que leva seu nome, usando-o
era inventor e junto com Taylor, registrou para coordenar o trabalho das diversas fábricas e departamentos
seis patentes. Em 1903, apresentou à envolvidos no esforço de guerra.
Sociedade Americana dos Engenheiros
Mecânicos o trabalho A graphical daily
Henry Grant balance in manufacturing (Controle gráfico
Fonte
diário da produção), no qual descreveu

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Curiosidade
4. HENRY FORD E A LINHA DE MONTAGEM
O livro The Gantt Chart: a working too of management
(O gráfico de Gantt: uma ferramenta da administração),
Henry Ford (1863 - 1947) foi o divulgador
traduzido para oito idiomas e publicado após a
das ideias da Administração Científica
sua morte, formou a base de sistemas dos Planos
e o precursor do processo de produção
Quinquenais da União Soviética. A técnica popularizou-
em massa com a adoção da linha de
se no mundo inteiro, tornando-se a mais importante das
montagem. Nasceu no Estado de Michigan
técnicas de planejamento e controle. Há algum tempo,
e contribuiu, em muitos aspectos, para a
foi informatizada e transformou-se no software MS-
evolução da administração, principalmente
Project (MAXIMIANO, 2017).
no processo produtivo. Apesar de não
ser formado em engenharia, ele era
Henry Ford
Fonte um empresário visionário, com foco
na questão da eficiência aplicada nas
indústrias e, mais especificamente, na fábrica de automóveis. Ambos,
Taylor e Ford, entendiam que o trabalho nas empresas consistia em
planejamento, realizado pelos técnicos responsáveis e execução,
realizada pelos operários de acordo com a função realizada. A
administração científica de Taylor teve um papel importante para os
trabalhos de Ford. Foi com base nos princípios do Taylorismo que
surgiu sua famosa linha de montagem. Além dela, a produção em
massa e a intercambialidade foram algumas de suas inovações que

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marcaram a época.
E o que é uma linha de montagem?
4.1. A linha de montagem
“É o processo de produção em que os componentes do produto
A introdução da linha de montagem no começo do século XX procurava a ser fabricado são transportados por meios mecânicos, em
responder à expansão acelerada na indústria automobilística. Como geral correias transportadoras, aos locais em que ficam os
aponta Maximiano (2017), este princípio de fabricação em massa já operários incumbidos de montar cada componente ou conjunto
era conhecido havia muito tempo, fato que se evidencia já entre os de componentes no produto que está sendo manufaturado”
venezianos do século XVI, que dominavam a montagem seriada de (LACOMBE, 2009).
navios. Quando visitou a Ford, em 1914, Taylor ficou surpreso com
a adoção dos princípios da administração científica, uma vez que 4.2. Princípios da produção em massa
ninguém na empresa conhecia suas teorias. Isso sugere que a linha
de montagem e a administração científica, apesar de contemporâneos,
são dois desenvolvimentos independentes um do outro. Em 1912, o
conceito de linha de montagem, sem mecanização, era aplicado à
fabricação de motores, radiadores e componentes elétricos. Quando
Ford passou a adotá-la, mecanizada, para a montagem de chassis,
com o trabalhador imóvel enquanto a peça se deslocava, o tempo
médio de ciclo foi reduzido para 1,19 minuto. Com o volume maior
de carros fabricados, eles passaram a ser vendidos a preços mais
baixos, caracterizando, portanto, uma mudança espantosa em termos Ford Modelo T

de eficiência na produtividade. Fonte

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Outros dois marcos na teoria e prática da administração foram: i) o 4.3. Especialização do trabalhador
princípio de produção em massa, por meio da fabricação de produtos
não diferenciados em grande quantidade de peças padronizadas e ii) o A especialização do trabalhador é a divisão do processo de fabricação
princípio da instituição do trabalhador especializado. Henry Ford em massa em etapas, onde cada etapa do processo produtivo
trabalhou como engenheiro na Companhia Edison de Iluminação e, corresponde à montagem de uma de suas partes. Com isso, cada
em 1893, era engenheiro-chefe da empresa. Em 1896, apresentou os trabalhador terá uma tarefa fixa dentro de uma fase em um processo
planos de um automóvel para Thomas Edison. Em 1903, fundou a Ford predefinido de produção. Essa divisão do trabalho conduz, em certa
Motor Company, lançando o Modelo T em 1908. Por fim, outro marco medida, à hiperespecialização do trabalhador.
foi a utilização, na produção em massa, de peças e componentes
padronizados e intercambiáveis. Assim, cada peça ou componente Como as qualificações do trabalhador, na produção em
poderia ser montado em qualquer sistema ou produto final. Por conta massa, resumem-se a um conhecimento atrelado à execução
disso, para obter a padronização, Ford passou a utilizar o mesmo de uma única tarefa, esse sistema levou a uma subsequente
sistema de calibragem para todas as peças, em todo o processo de mecanização das atividades e do trabalho. Por conta disso,
manufatura. Desse processo, surgiu o controle da qualidade, com o esse foi um aspecto da linha de montagem de Henry Ford que
objetivo de assegurar a uniformidade das peças. mais sofreu críticas, tendo servido, inclusive, de tema para o
filme Tempos Modernos (1936), de Charles Chaplin.
Para saber mais sobre Henry Ford:
Apesar de vários aspectos do Taylorismo terem sido aplicados por
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Ford, existiam alguns pontos em que Ford inovou durante o processo.
Veja no Quadro 1:

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QUADRO 1: DIVERGÊNCIAS ENTRE TAYLOR E FORD Esses três princípios permitiram mudanças na metodologia de
trabalho. Em vez do operário ir buscar a tarefa, é ela quem vai até
TAYLOR FORD ele, por exemplo. Isso mudou a forma de ver o trabalho nas fábricas
Operário adaptava seus e principalmente o que se poderia esperar como resultado. Esse fato
Operário executava em tempo
movimentos à velocidade
padrão movimentos regulados e
da esteira rolante, sendo revolucionou todo o sistema produtivo na área automotiva. Com uma
prescritos pela administração de
naturalmente conduzido à
planejamento. linha de montagem móvel e mecanizada voltada para a montagem
ritmização involuntária.
Economia do trabalho humano. Economia de material e do tempo. de chassis, reduzindo o tempo de produção. Percebe-se, então, que
Adaptação dos movimentos ao o grande sucesso levou o sistema Ford a se expandir para diversas
Execução de movimentos sob
ritmo da produção, às aptidões e
rígido controle. outras empresas, dentro e fora do país. As indústrias automotivas
à vontade.
Suprimir o tempo perdido pela ainda hoje utilizam seus princípios.
Estudo do tempo perdido pelo
matéria-prima com o trabalho
homem e pela máquina.
contínuo.
Adaptado de SILVA, (2008)

Você conseguiu perceber a diferença? Apesar de ambos trabalharem


com os mesmos conceitos básicos, em alguns pontos eles mudam
o foco de trabalho, seguindo outra vertente. Ford se concentrou na
divisão, repetição e continuidade do trabalho. Desse estudo, surgiram
os princípios da produção em massa. De acordo com Chiavenato (2014)
Ford elaborou ainda três princípios para tornar o processo produtivo
mais eficiente: o princípio da intensificação, o da economicidade e o
de produtividade.

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japonês do toyotismo, ou o sistema Toyota de produção, como um
exemplo disso. Uma das bases desse sistema é uma técnica chamada
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
kaizen – ou aprimoramento contínuo. Há similaridades entre esse
processo produtivo e o processo de racionalização do trabalho que
A Administração Científica teve como seu precursor Frederik Taylor e
Taylor instituiu.
discípulos como Gilbreth, Gantt e, de forma concomitante, Henry Ford,
que estudaram formas de elevar a produção, focando na execução das
Em uma mesma linha teórica, Henry Ford criou a linha de montagem
tarefas. Elaboraram princípios que nortearam a teoria permitindo que
e instituiu princípios de produção em massa, modificando a forma de
tanto a organização, quanto os empregados se tornassem satisfeitos
execução das tarefas. Isso mudou radicalmente o foco produtivo, de
com a possibilidade de ganhos cada vez maiores.
modo que, em vez da tradicional maneira artesanal que permite ao
trabalhador buscar suas tarefas, Ford transformou o processo levando
Convém evidenciar que muitas críticas foram feitas aos princípios da
a tarefa ao trabalhador especializado, reduzindo, com isso, o tempo
Administração Científica. Apontou-se, por exemplo, que o aumento
de produção.
da eficiência provocaria desemprego e que a administração científica
nada mais era do que uma técnica para fazer o operário trabalhar mais
No século XXI, a linha de montagem continua seu funcionamento como
e ganhar menos. As críticas tornaram-se tão intensas, que em 1911,
Ford a inventou no começo do século XX, ou seja, os produtos se
o Congresso Americano convocou Taylor para fazer um depoimento
locomovem até o operador. Hoje, porém, esse trabalho é executado,
sobre o Movimento da Administração Científica. Nessa ocasião, proibiu-
em grande parte, por robôs, ao invés de por operários. Isso evidencia
se o uso de cronômetros e decretou-se os pagamentos de incentivos e
que todos esses conceitos, apesar da época em que surgiram, ainda
as demais técnicas da administração científica foram mantidas.
existem e são aplicados pelas organizações, com adptações e melhorias
no processo, de modo a acompanhar o ritmo das organizações formais
Outro ponto a destacar é que, mesmo com outros nomes e métodos,
modernas.
os princípios de Taylor ainda sobrevivem. Pode-se citar o modelo

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INDICAÇÕES DE LEITURA OBRIGATÓRIA INDICAÇÕES DE LEITURA COMPLEMENTAR

VIZEU, F. (Re)contando a Velha História: Reflexões WOOD,Jr., T. Fordismo, Toyotismo e Volvismo: os


sobre a Gênese do Management. Revista de caminhos da indústria em busca do tempo perdido.
administração contemporânea (RAC), Curitiba, v.14. Revista administração de empresas (RAE), vol. 32,
n.5, art. 1, pp. 780-797, set-out 2010. n.4, São Paulo, set/out,1992.

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MATOS FILHO, H.A. Influência da administração TAYLOR, Frederick W. The principles of scientific
científica nas organizações. Revista gestão industrial, management. EBook: Project Gutenberg, 2004.
v.14, n1., 2018.
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REFERÊNCIAS
A FIPECAFI assegura a proteção das informações contidas nesse
CHIAVENATO, Idalberto. Recursos humanos: o material pelas leis e normas que regulamentam os direitos autorais,
capital humano das organizações. São Paulo: Atlas, marcas registradas e patentes. Todos os textos, imagens, sons,
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Paulo: Manole, 2014.
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LACOMBE, F; HEILBORN, G. Teoria geral da prévio e formal da FIPECAFI.


administração. São Paulo: Saraiva, 2009.
CRÉDITOS
MAXIMIANO, A C A. Teoria geral da administração: Coordenação Educacional: Manoel Farias e Jhonatan Hoff
da revolução urbana à revolução digital. 7ª ed. São Autoria: Sonia R. Arbues Decoster
Paulo: Atlas, 2017. Supervisão Geral: Juliana Nascimento
Design Instrucional: Patricia Brasil
SILVA, R. O. da. Teorias da administração. São
Design Gráfico e Diagramação: Aline Silva
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.
Captação e Produção de Mídias: Erika Alves, Vinícius Gomes e
Maurício Leme
Revisão de Texto: Patricia Brasil e Thiago Batista

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