Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Obras Hídricas - AHE EduQC
Obras Hídricas - AHE EduQC
1
Onde P: potência instalada (kW); Q: vazão que passa pelas turbinas (m³/s); H: queda útil
(m); η: rendimento do conjunto turbina-gerador.
3
idéia, segundo informações de alguns professores da UFRJ, no inventário hidrelétrico do
rio Tocantins (onde se localiza a maior hidrelétrica exclusivamente em território brasileiro,
a UHE Tucuruí) foi proposto um conjunto com mais de uma centena de alternativas inici-
ais de divisões de queda.
Um exemplo de programa computacional bastante usado nas simulações econômico-
energéticas e ambientais de um estudo de inventário é o “Sistema de Inventário Hidroelé-
trico” (SINV), do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL), do grupo Eletrobrás.
Quem estiver curioso para conhecer mais sobre esse e outros programas computacionais do
CEPEL, pode visitar: www.cepel.br/servicos/descprog.shtm
Uma importante função das simulações computacionais na fase de inventário é quantificar
o real benefício energético da regularização de vazões proporcionada pelos grandes reser-
vatórios. Pois bem, um grande reservatório que consiga exercer função de regularizador de
vazões a jusante contribui para aumentar a garantia e confiabilidade da geração de ener-
gia em todas as UHEs que estão abaixo dele na cascata. Logo, concluímos que o “benefício
energético” de um reservatório de regularização (acumulando água nos períodos úmidos e
liberando nos períodos de estiagem) não se atém apenas à geração na própria UHE, mas
sim se estende para todas as demais UHEs a jusante. Dessa forma, tal benefício deve ser
quantificado sempre por meio da simulação “conjunta” de todos os aproveitamentos (e
respectivos reservatórios), operando simultaneamente na bacia, tendo como dados de en-
trada as características estimadas inicialmente para cada UHE e a série histórica de vazões
medidas na bacia que está sendo inventariada.
Falamos dos benefícios, mas… e os custos? Na fase de estudos de inventário são aceitas
planilhas orçamentárias menos detalhadas do que aquelas obrigatórias por Lei para efeito
de Projeto Básico, seguindo orientação do Manual de Inventário, no formato usualmente
conhecido como “Orçamento Padrão Eletrobrás” (OPE). A padronização dos custos é ne-
cessária para que se permita a comparação entre alternativas distintas.
É importante também destacar que após anos deixando a responsabilidade da realização
dos inventários para as empresas (estatais e iniciativa privada), o Governo Federal, a partir
de 2004, retomou a responsabilidade pela execução dos principais estudos de inventário
no Brasil. Para tal, foi criada a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), subordinada ao
Ministério de Minas e Energia (MME), atualmente responsável pela contratação e fiscali-
zação da execução desses estudos.
Deve-se destacar também que o órgão regulador do setor elétrico (ANEEL) é o responsá-
vel pela análise e aprovação dos estudos de inventário, nos termos das Resoluções Norma-
tivas ANEEL nos 393/1998 e 398/2001.
1. Estudos de Viabilidade:
É a etapa em que se define a concepção global de um dado aproveitamento, da divisão de
queda selecionada na etapa anterior, visando sua otimização técnico- econômica e ambien-
tal e a obtenção de seus benefícios e custos associados.
Essa concepção compreende o dimensionamento do aproveitamento, as obras de infra-
estrutura local e regional necessárias a sua implantação, o reservatório, a área de influên-
cia, os outros usos da água e as ações sócio-ambientais correspondentes.
Nesta fase, é possível se estudar alternativas de melhoria da locação do eixo da barragem,
4
desde que tal alteração não seja significativa e não prejudique a geração total de energia da
bacia hidrográfica. Caso as alterações propostas sejam significativas, em especial quando
se pretende alterar sensivelmente a altura de queda, um novo estudo de inventário deve ser
realizado, para aprovação da ANEEL.
É importante comentar isto porque sendo o potencial hidráulico um bem de propriedade da
União, todo cuidado deve ser tomado nos estudos para que não se configure, a posteriori,
qualquer “desperdício” de potencial de geração. Portanto, os estudos energéticos que de-
terminarão os “benefícios” da UHE nesta fase de viabilidade devem ser muito bem feitos,
com base em dados confiáveis acerca das características hidrológicas da bacia (pois a água
é o “combustível” da UHE, certo?), além de especificações técnicas minimamente adequa-
das acerca do rendimento dos equipamentos turbo-geradores. Além disso, os custos tam-
bém devem ser corretamente avaliados, pois erros grosseiros podem “inviabilizar” o AHE
na forma como foi definido nos estudos de inventário. Para tal, é importante definir bem os
preços unitários de cada serviço da planilha orçamentária, bem como os quantitativos da
obra, tais como: escavação em solo e em rocha, injeções nas fundações, volumes de aterro,
concreto e aço das estruturas, equipamentos especiais etc.
Na viabilidade, como vimos, o foco deixa de ser a bacia hidrográfica como um todo (com
todos os AHEs selecionados na alternativa “ótima”) para ser uma UHE individualizada.
Portanto, a simulação energética deve igualmente ter como foco a UHE em estudo. Porém,
isto não significa que devamos “ignorar” as demais UHEs, pois, como vimos, o benefício
energético esperado na UHE sob estudo pode ser maior em virtude da regularização de
vazões proporcionada pelos reservatórios a montante dela.
Apenas como curiosidade, um dos programas tradicionalmente utilizados para tais simula-
ções energéticas na fase de viabilidade é o chamado “Modelo de Simulação a Usinas Indi-
vidualizadas (MSUI)”, elaborado e mantido pela Eletrobrás. Este modelo também é usado
como ferramenta para realizar o rateio da energia assegurada hidráulica do sistema, con-
forme Portaria nº 258, de 28 de julho de 2008, do Ministério de Minas e Energia (mais
detalhes
em: www.eletrobras.gov.br/ELB/data/Pages/LUMISD28EA113PTBRNN.htm). Outro mo-
delo adotado atualmente com finalidade muito similar ao do MSUI é o “Modelo de Simu-
lação a Usinas Individualizadas de Subsistemas Hidrotérmicos Interligados (SUISHI-O)”,
do CEPEL (www.cepel.br/servicos/descprog.shtm).
A principal referência técnica (“manual”) usada para a elaboração dos Estudos de Viabi-
lidade Técnica e Econômica (EVTE) são as “Instruções” publicadas pela Eletrobrás. Deste
documento extraímos o seguinte, acerca dos objetivos de um EVTE:
5
Concluir sobre a exeqüibilidade ou não do aproveitamento através de avaliações, análi-
ses e definições fundamentadas nos custos e nos benefícios múltiplos que podem ser
obtidos, de acordo com as diretrizes estabelecidas nestas Instruções;
Subsidiar a tomada de decisões quanto à época de início de construção do aproveita-
mento hidrelétrico;
Subsidiar a elaboração dos documentos necessários para licenciamento ambiental;
Subsidiar as ações junto a órgãos públicos e privados, visando otimizar a utilização dos
recursos naturais existentes na área do futuro aproveitamento, e promover sua inserção
na região.
Para que os objetivos mencionados sejam atingidos, é necessário que os estudos sejam
realizados de maneira uniforme e homogênea, devendo, portanto, ser considerado o em-
prego dos critérios básicos que devem nortear a qualidade e quantidade dos estudos. Os
critérios básicos utilizados deverão ser indicados nos estudos.”
Os Estudos de Viabilidade se constituem em documento de suporte técnico para os proces-
sos de licitação da concessão. Atualmente, da mesma forma como comentado para os estu-
dos de inventário, boa parte dos estudos de viabilidade disponíveis se encontra a cargo do
próprio governo federal (Poder Concedente), neste caso representado pela EPE. Fazemos
também a mesma observação em relação ao fato de que a ANEEL é a responsável pela
análise e aprovação dos estudos de viabilidade, nos termos das Resoluções Normativas
ANEEL no 395/1998.
Um conceito de grande importância para a implantação das hidrelétricas é o de “aprovei-
tamento ótimo”, que é definido nos Estudos de Viabilidade. A seguir trecho do art. 5º da
Lei 9074/95, que obriga a realização do EVTE antes da Concessão:
“§ 2º Nenhum aproveitamento hidrelétrico poderá ser licitado sem a definição do “apro-
veitamento ótimo” pelo poder concedente, podendo ser atribuída ao licitante vencedor a
responsabilidade pelo desenvolvimento dos projetos básico e executivo.
3º Considera-se “aproveitamento ótimo”, todo potencial definido em sua concepção
global pelo melhor eixo do barramento, arranjo físico geral, níveis d’água operativos,
reservatório e potência, integrante da alternativa escolhida para divisão de quedas de
uma bacia hidrográfica.”
O período de duração dessa etapa de EVTE depende sobremaneira da qualidade dos traba-
lhos realizados na fase de inventário, mas, usualmente, situa-se entre 1 e 2 anos.
1. Projeto Básico:
É a etapa em que o aproveitamento, concebido nos Estudos de Viabilidade, é detalhado de
modo a definir, com maior precisão, a segurança das estruturas através do desenvolvimento
das características técnicas do projeto, as especificações técnicas das obras civis e equipa-
mentos eletromecânicos, bem como os projetos sócio-ambientais. Para fins de estudos
energéticos, a metodologia é muito similar àquela adotada na fase de viabilidade, adequan-
do- se apenas as características finais da UHE (agora mais detalhadas). Inclusive, os
mesmos modelos computacionais MSUI e SUISHI-O podem ser utilizados.
Excepcionalmente, verificamos que o vencedor do leilão da concessão propõe melhorias
no projeto básico, inclusive com pequenos deslocamentos do eixo da barragem em relação
6
àquele definido nos estudos de viabilidade. Este caso ocorreu com o vencedor da licitação
da UHE Jirau, no rio Madeira. O consórcio apresentou projeto básico que deslocava o eixo
para jusante a uma distância da ordem de 7 km. Como justificativa, apresentou argumentos
convincentes de que poderia reduzir sensivelmente os custos da obra (menor quantidade
de escavação em rocha, menor tamanho do canteiro de obras etc.). Dessa forma, a nova
solução de engenharia consubstanciada no projeto básico foi aprovada pela ANEEL, com o
acompanhamento (controle externo) do TCU.
Da mesma forma como vimos para o EVTE, a principal referência técnica usada para a
elaboração do Projeto Básico também foi editada pela Eletrobrás. Podemos, na visão do
setor elétrico, concluir preliminarmente o seguinte sobre os objetivos de um Projeto Básico
de UHE:
7
ser “simplificado”, pouco detalhado, como se este documento fosse uma mera formalidade
ou, pior, um “instrumento de ficção” (Voto do Acórdão 133/2000).
1. Projeto Executivo
É a etapa em que se processa a elaboração dos desenhos de detalhamento das obras civis e
dos equipamentos eletromecânicos, necessários à execução da obra e à montagem dos
equipamentos. Nesta etapa, são tomadas todas as medidas pertinentes à implantação do
reservatório e dos projetos sócio- ambientais.
De acordo com a Lei n° 8.666/93, o conceito de Projeto Executivo pode ser resumido co-
mo o “conjunto dos elementos necessários e suficientes à execução completa da obra, de
acordo com as normas pertinentes da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT)”. Apesar de acharmos esta definição da Lei de Licitações bastante incompleta
(pois dá a entender que o Projeto Básico não precisaria ser feito com base também nas
Normas da ABNT…), ela é a que vale. Além disso, o mais importante é saber que a Lei
permite que este projeto seja desenvolvido simultaneamente à execução da obras (Lei
8666/93, art. 7º, § 1º). Dessa forma, a duração do Projeto Executivo é a mesma da Obra, a
qual, no caso de grandes hidrelétricas, normalmente se situa no intervalo entre 4 e 6 anos.
Ao final dessa etapa de Projeto Executivo devemos ter todos os desenhos definitivos que
expressem com fidedignidade os serviços executados, também chamados de “as built”
(“conforme construído”).
Portanto, diante do que acabamos de ver, é importante destacar que para fins de leilão
para Concessão da hidrelétrica são exigidos apenas os Estudos de Viabilidade e a Licença
Prévia do órgão ambiental, mas para o Contrato de Execução da Obra da Hidrelétrica, no
caso da Concessão ter sido obtida por empresa Estatal, as exigências são semelhantes às de
outras obras públicas. Ou seja, o Projeto Básico do empreendimento, devidamente deta-
lhado (inclusive em seu orçamento), é obrigatório para o Edital de Licitação da Constru-
ção!
Perceberam bem que são duas etapas distintas: a Licitação para Concessão do empreendi-
mento e a Licitação para Contratação da Obra? Essa distinção é importante pessoal.
Em resumo, atentem para os seguintes pontos relevantes pessoal:
1º – Os estudos do setor elétrico iniciam avaliando, de forma um tanto “grosseira” (sem
precisão) o potencial da bacia como um todo, reunindo e aproveitando as informações já
disponíveis (Estimativa do Potencial Hidrelétrico).
2º – Em seguida, nos Estudos de Inventário, determina-se o potencial hidrelétrico da bacia
e é definida a melhor partição de quedas, além de estabelecidas as principais características
de cada aproveitamento. Nesta etapa é feita uma avaliação integrada da bacia, envolvendo
aspectos de usos múltiplos e ambientais.
3º – Observa-se que, até a fase de estudos de inventário, as análises são efetuadas conside-
rando o conjunto de empreendimentos.
4º – Nos Estudos de Viabilidade (feitos individualmente para cada aproveitamento), defi-
nem-se a concepção global da hidrelétrica e é feita uma otimização de benefícios e custos
(uma espécie de “refinamento” sobre os estudos anteriores, chegando ao chamado “poten-
cial ótimo”), além do dimensionamento do aproveitamento.
8
5º – Com os estudos de viabilidade, é possível obter a Licença Prévia do órgão ambiental
(LP), que é exigida para o empreendimento ir ao leilão de Concessão. Ou seja, o
EIA/RIMA (Estudo de Impacto Ambiental/ Relatório de Impacto Ambiental) é elaborado
nessa etapa do estudo. Deve-se preocupar tanto com a infraestrutura local quanto com a
regional, visando à implantação do empreendimento. É necessário, entre outros, o projeto
de integração da usina com a rede básica de transmissão de energia elétrica. Esse projeto
deve ser submetido à apreciação do Operador Nacional do Sistema – ONS, responsável
pela operação da rede básica nacional, e também à aprovação do órgão regulador.
6º – Com os estudos de viabilidade aprovados e a licença prévia emitida, o aproveitamento
hidroelétrico pode ir para leilão, de forma a ser definida a empresa (ou consórcio) que irá
obter a concessão para construir e explorar o empreendimento.
7º – Depois de concedido, o empreendedor deve elaborar o Projeto Básico (ou “Projeto
Básico de Engenharia” – PB, como também é conhecido). Nesta etapa são definidas com
precisão as características técnicas da hidrelétrica para fins de projeto/programação da
obra. No caso de empresas estatais, o projeto deve atender todas as exigências necessárias
para o processo licitatório de contratação da obra, conforme exigido pela Lei 8666/1993.
8º – Com o projeto básico deve ser obtida a Licença de Instalação (LI) junto ao órgão am-
biental, sendo o Projeto Básico Ambiental (PBA) elaborado nesta etapa.
9º – Por fim, no Projeto Executivo é feito um detalhamento do projeto básico, abrangen-
do aspectos construtivos, dos equipamentos e ambientais.
Ressaltando que as soluções técnicas devem já estar previstas no básico, é comum o de-
senvolvimento do projeto executivo concomitante com a execução da obra.
10º – Após o término da obra, é necessária a Licença de Operação (LO), emitida pelo
mesmo órgão ambiental competente, antes de iniciar a operação da hidrelétrica.
A atuação do TCU relativo às obras ganha maior importância a partir dos estudos de viabi-
lidade, visto que as tarifas de energia elétrica aos consumidores serão definidas com base
nesses estudos. Já o projeto básico servirá de base para a contratação da obra, no caso da
concessão ser de uma estatal.
A próxima figura resume o ciclo de planejamento (estudos), projeto, implantação
(construção) e operação de uma usina hidrelétrica, bem como a obtenção do necessá-
rio licenciamento ambiental.
Chamamos a atenção para o fato de que, em todas as etapas de estudos, devem ser levados
em consideração tanto os aspectos técnicos- econômicos como também os sócio-
ambientais, além de avaliados os usos múltiplos da água do reservatório, conforme legisla-
ção vigente. Devem ser avaliadas as possibilidades de compartilhamento do reservatório
com outros usos, de forma a maximizar os benefícios da obra. As eclusas (transposição do
desnível da barragem pela navegação), o abastecimento d’água, a irrigação, a criação de
peixes e o turismo no lago são alguns exemplos de usos múltiplos que devem ser analisa-
dos nos estudos para implantação de hidrelétricas.
9
reservatório. Nessa região de remanso ocorre uma sobrelevação das águas em relação tanto
ao nível d’ água original do rio (sem reservatório) quanto em relação ao nível “horizontal”
médio do reservatório. Dessa forma, tal sobrelevação afeta também o nível de jusante de
uma UHE que se encontra imediatamente a montante do referido reservatório, podendo
acarretar a perda de alguma altura de queda para a geração. Além disso, nessa região o lago
tende a alargar outras áreas, além das computadas pela simples curva topográfica corres-
pondente ao NA Max. normal.
Para determinar a grandeza dessa sobrelevação, são usados modelos matemáticos para a
simulação hidráulica do perfil de linha d’água. Tais modelos devem ser calibrados com
dados medidos no local (seções topobatimétricas e da hidrologia), sendo um dos modelos
mais conhecidos o HEC-RAS (“Hydrologic Engineering Centers – River Analysis System”,
ou, traduzindo, “Sistema de Análise de Rios” do Centro de Engenharia Hidrológica do
Exército dos EUA).
A figura a seguir esclarece bastante sobre o efeito de remanso.
a) Estruturas componentes de um aproveitamento hidroelétrico
A escolha do local e da concepção do “arranjo” (distribuição das estruturas) de uma usina
hidrelétrica depende de uma série de fatores particulares, tais como condições topográficas,
geológicas e hidrológicas. A escolha da concepção do arranjo de uma UHE, mesmo para
engenheiros experientes, é uma arte, sendo normalmente resultado de um processo iterati-
vo, no qual várias opções são concebidas, dimensionadas e orçadas, até se chegar à melhor
solução.
Na definição do arranjo deve-se considerar a segurança, o custo global (obra, operação e
manutenção), aspectos sócio-ambientais, usos múltiplos e outras variáveis, conforme já
abordamos.
Basicamente há três tipos de arranjos “básicos” para as centrais hidrelétricas:
(1) de represamento (CHR); (2) de desvio (CHD); e (3) de derivação (CHV).
Nas centrais hidrelétricas de represamento, são aquelas que a tomada d’água é localizada
junto à barragem, ou seja, o circuito hidráulico de adução é basicamente composto pela
tomada d’água, conduto forçado e casa de força.
Para as centrais de desvio e de derivação deve ser acrescentado o “sistema de baixa pres-
são”. O circuito hidráulico de adução é basicamente composto por: (i) tomada d’água, (ii)
conduto de baixa pressão (canal ou túnel), (iii) conduto de alta pressão (conduto forçado,
que pode ser também um túnel) e (iv) a casa de força.
Nesses casos, podem ocorrer os chamados “transientes hidráulicos” (variações bruscas de
pressão no interior das tubulações, em virtude de aberturas e fechamentos do fluxo na saída
destas), em especial na região entre o sistema de baixa e o de alta pressão. Para mitigar os
efeitos dos transientes hidráulicos, necessitamos de estruturas “aliviadoras de pressão”, tais
como a “câmara de carga” ou a “chaminé de equilíbrio”.
A diferença básica entre as centrais de desvio e de derivação é que esta última opera entre
dois rios, realizando uma “transposição” de águas, ou seja, “derivando” a água do rio 1
para o rio 2, conforme mostra a figura a seguir:
Fazem parte do arranjo geral de uma UHE:
10
1. Barragem – É uma estrutura em solo ou concreto construída no vale do rio, da ombrei-
ra de uma margem para a da outra, com o objetivo de elevar o nível de água do rio até o
nível máximo normal do reservatório.
2. Dique – É uma estrutura usualmente em solo, que fecha eventuais pontos onde existam
“selas topográficas” (pequenos vales), a fim de evitar “fuga” (perda) da água do reser-
vatório.
3. Sistema de desvio do rio – Em geral, fica localizado junto à barragem, com o objetivo
de desviar, temporariamente, as águas do rio por meio de (i) canal, (ii) galerias, (iii)
adufas (vãos no meio das estruturas de concreto), (iv) túneis ou mesmo (v) “estrangu-
lamento” do leito do rio (por meio de “ensecadeiras” = pequenas barragens provisó-
rias), de modo a permitir a construção das demais estruturas (localizadas no leito do rio)
em uma zona seca.
4. Circuito de geração – Constituído por (i) canais, (ii) tomadas d’água, (iii) condutos ou
túneis de adução de baixa pressão, (iv) eventuais chaminés de equilíbrio ou câmaras de
carga, (v) condutos ou túneis forçados de alta pressão, (vi) casa de força externa ou
subterrânea e (vii) canal ou túneis de fuga. O circuito de geração tem por finalidade
aduzir a água para a transformação de energia mecânica em energia elétrica.
5. Estrutura de vertimento – Composto de (i) canal de aproximação, (ii) vertedouro com
ou sem controle (comportas), (iii) dissipador de energia e (iv) canal de restituição. Co-
mo no caso do circuito de geração, as obras das estruturas de vertimento podem ficar
localizadas junto ou distante da barragem, dependendo das características particulares
do sítio em estudo.
6. Descarregador de fundo – Estrutura dotada de comportas ou válvulas para liberar as
águas para jusante da barragem.
7. Sistema de transposição de desnível – São estruturas que permitem a transposição de
cargas ou passageiros transportados pela via navegável, superando o desnível decorren-
te da implantação da barragem. São estruturas normalmente conhecidas como eclusas
de navegação. Pessoal, quem não conhece o funcionamento de uma eclusa (ou quiser
mais detalhes) pode recorrer à seguinte anima-
ção: www1.folha.uol.com.br/folha/turismo/americadosul/brasil-barra_bonita- eclu-
sa.shtml
8. Sistema de transposição de fauna aquática migratória – São estruturas que permitem a
transposição da ictiofauna (fauna aquática), superando o desnível decorrente da implan-
tação da barragem por meios de (i) escadas de peixes (pequenos tanques com aberturas
no fundo, dispostos conforme os degraus de uma escada convencional) ou (ii) cami-
nhões tanques que coletam os peixes no pé da barragem e os despeja a montante.
9. Subestação – É a instalação elétrica responsável por elevar a tensão de saída para a
transmissão da energia elétrica gerada na usina, “injetando-a” no sistema elétrico (a
elevação da tensão tem por objetivo reduzir as perdas de energia, por transformação em
calor, na linha de transmissão).
Na figura a seguir temos uma ilustração “tridimensional” de uma UHE típica, a qual
pode ajudar bastante na visualização e compreensão de plantas e cortes de arranjos de usi-
nas. Podemos ver: barragem (face de jusante, com caminho para chegar à crista), vertedou-
11
ro (com comportas), 04 condutos forçados, casa de força, canal de fuga, emboque de jusan-
te dos túneis de desvio etc.
Na figura a seguir, temos o arranjo “tradicional” da UHE Água Vermelha (rio Gran-
de), mostrando a casa de força junto ao vertedouro, ambos no meio do rio, entre duas
barragens de terra.
Já na próxima figura, da UHE Furnas (rio Grande), podemos ver outro arranjo, dife-
renciado em relação ao da UHE Água Vermelha por termos tanto o vertedouro
quanto a tomada d’água separados da barragem (localizados nas encostas do vale).
A figura a seguir é da UHE Três Marias, localizada no rio São Francisco, onde pode-
mos ver o vertedouro na encosta do vale e a tubulação de adução de água para a casa
de força passando por baixo da barragem.
Nas últimas figuras da nossa série “arranjos criativos de UHEs”, temos a UHE Itaú-
ba, localizada em uma meandro (grande curva) do rio Jacuí, no qual temos um desní-
vel de 16 metros e um canal adutor de 120m de comprimento (a primeira figura com
o arranjo geral de desvio e a segunda com um detalhes da tomada d’água, vertedouro
e casa de força).
3. Turbinas e Geradores
Os grupo geradores respondem diretamente pelas transformações e qualidade da energia
de uma usina, bem como pela estabilidade operacional dos sistemas que conduzem e su-
portam as massas energéticas.
Os grupos geradores podem ter eixo horizontal ou vertical, ter acoplamento direto ou com
amplificação de rotação (entre eixo do rotor da turbina e o gerador).
Os principais componentes são as turbinas e os geradores.
A queda líquida (m) e a vazão de projeto por turbina (m3/s) são os parâmetros utiliza-
dos para a escolha preliminar do tipo de turbina. Na escolha, deve-se analisar, além dos
parâmetros técnicos e preço, a disponibilidade para fornecimento de peças sobressalentes,
por parte do fabricante.
As turbinas podem ser de dois tipos:
1. De ação: o escoamento através do rotor ocorre sem variação de pressão (turbinas tipo
Pelton);
2. De reação: o escoamento através do rotor ocorre com variação de pressão (turbinas tipo
Francis, Kaplan e Bulbo). As turbinas de reação, ao contrário das de ação, devem tra-
balhar afogadas.
A seguir encontra-se um gráfico de muita utilidade para o processo de escolha do tipo e
da potência máxima das unidades de turbinas, em função (i) da queda líquida (já desconta-
das as perdas hidráulicas) e (ii) da potência nominal das unidades.
A próxima figura ilustra o rotor dos três tipos de turbina mais usados. A foto da es-
12
querda representa a turbina tipo Kaplan, a do centro é a Francis e a da direita a Pel-
ton, que serão descritas em seguida.
Turbina Pelton
As turbinas Kaplan foram antecedidas por turbinas denominadas “hélice”. Tais turbinas
possuem como característica principal a geometria do rotor composta por um cubo com
pás em forma de asa de sustentação (o número de pás varia de 2 a 8). Quando as pás eram
fixadas rigidamente ao cubo, essas turbinas denominavam-se “rotor-hélice”.
Com o passar do tempo foram desenvolvidas pás que se movimentam em relação ao cubo,
acarretando em nova classe de turbinas denominadas Kaplan. Normalmente as turbinas
Kaplan são de eixo vertical, mas também existem algumas versões de eixo horizontal ou
até inclinado, como nas turbinas “Kaplan- S” ou “tubular-S” como também é conhecida (o
nome provém do formato do tubo adutor, que lembra a letra “S”).
13
Na figura a seguir, a turbina Kaplan posicionada na casa de força e o detalhe esque-
mático das pás variáveis.
Atualmente uma turbina tubular muito conhecida para alturas de queda muito baixas é a
turbina Bulbo (eixo horizontal). O diferencial desta turbina é que o gerador é ligado à tur-
bina mediante uma engrenagem cilíndrica ou planetária que aumenta a pequena velocida-
de da turbina até 10 vezes e reduz, assim, o tamanho do gerador. Desse modo, o gerador
pode ser colocado em um poço a montante da turbina (bulbo), dentro do tubo de sucção.
Tanto nas turbinas Kaplan quanto nas Bulbo, a movimentação das pás confere capacidade
de regulação da vazão e água entra e sai na mesma direção do eixo. São utilizadas para
baixas quedas (de centímetros até 70m) e grandes vazões.
A figura a seguir ilustra, em planta e em corte, o posicionamento típico da turbina
Bulbo (notar o gerador dentro do “bulbo”, colocado no interior do tubo de sucção, na
frente da turbina).
Devemos destacar que as Usinas do rio Madeira, em Rondônia (UHE Santo Antônio e
UHE Jirau) terão, cada uma, 44 unidades de turbinas Bulbo, com uma potência nunca
antes fabricada no mundo (77 MW), representando um grande desafio tecnológico. Os pro-
jetos dessas usinas passaram pela análise no TCU quando do leilão para a concessão dos
empreendimentos.
14
São diversas as formas possíveis de “acoplagem” entre o eixo da turbina e o gerador. Se-
lecionamos dois tipos mais comuns para eixos verticais (sendo possível algumas variações
destes): (1) arranjo “convencional”, com um mancal combinado guia-escora, posicionado
acima do rotor do gerador, e um mancal guia abaixo do rotor (neste caso a turbina tem seu
próprio mancal-guia)– usado para grupos com velocidades mais altas (acima de 250 “rota-
ções por minuto”, ou 250 “rpm”); (2) arranjo tipo “umbrella” (= “guarda-chuva”, em in-
glês), dispensando o mancal guia superior, temos uma grande redução na altura do grupo
gerador, com economias nas dimensões da casa de força – usado para máquinas de baixas
velocidades (abaixo de 200 rpm).
A figura a seguir ilustra os arranjos mencionados para eixos verticais.
Também no caso dos eixos horizontais, temos uma vasta gama de possibilidades de aco-
plamento.
A figura a seguir ilustra alguns tipos de arranjos para eixos horizontais (mais comuns
em PCHs), de acordo com as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT).
15
Construção da barragem com o uso de ensecadeiras (a) ou túnel (b)
16
em caso de acidentes a terceiros, ou mesmo danos à obra causado por estranhos.
As estradas de serviço deverão ser revestidas com brita ou cascalho, visando-se manter a
trafegabilidade durante todo o ano. Deve-se prever a rega das mesmas, visando-se evitar
nuvens de poeira causadas pelo tráfego prejudiciais a manter uma boa visibilidade.
Deverá ser prevista, também, uma área para o acampamento, próxima à obra, que deverá
apresentar condições de abrigar o pessoal envolvido na obra que
não se conseguir alojar aproveitando a infra-estrutura local (cidades vizinhas).
O dimensionamento do pessoal a ser mobilizado para a obra deverá ser elaborado com base
nos histogramas de produção e nos índices de produtividade de execução dos principais
serviços: limpeza, escavação e tratamento das fundações, produção industrial de concretos
diversos, execução de aterros compactados e montagens dos equipamentos principais.
1. Reservatório:
1. Deve-se prever sistemas de controle do estado geral do reservatório e das suas en-
costas, objetivando a verificação do processo de assoreamento, da contenção e re-
moção de plantas aquáticas (sistemas flutuantes, tais como o “log-boom”), bem
como de verificação da qualidade da água do reservatório e de jusante.
2. Barragem de Terra e Enrocamento – Deve-se prever instrumentação, para monitorar,
principalmente:
0. Sistema de drenagem;
1. Surgimento de água a jusante (água transparente, ou com sedimentos? cuidado
com o “piping”!);
2. Trincas, erosão, recalques e solapamentos;
3. Vegetação indesejável.
3. Barragem de Concreto e Vertedouro – Deve-se prever instrumentação, para observar:
0. Sistema de drenagem;
1. Surgimento de água a jusante;
2. Estado geral do concreto (trincas e erosão).
4. Canal Adutor – Deve-se prever sistemas para acompanhar:
0. Estado geral da grade – limpeza e reparos;
1. Estado geral da estrutura do canal
17
1. Estado geral do concreto (trincas e erosão);
2. Estado geral da grade – limpeza e reparos;
3. Estado geral das comportas – reparos;
4. Estado geral do pórtico/talha – lubrificação.
18