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APRESENTAÇÃO.
A visão cartesiana, por seu turno, é uma visão inflexível, retangular, que analisa o
comportamento das relações sociais de produção, de uma maneira estanque, por
intermédio de variáveis isoladas e funcionando como se fosse um relógio.
Na realidade não é isso que acontece com a evolução das relações de produção,
que se desenvolve, como o curso de um rio caudaloso, cheio de contornos e
afluentes, fazendo das relações de produção um complexo de envolvimentos
históricos, filosóficos, antropológicos, sociológicos e, por isso, contraditórios, mas
que porém, se ajustam num princípio comum, definido pela Escola Neoclássica,
como a necessidade e a busca por bem estar econômico e social.
Entrementes, essa busca por bem estar, diverge de acordo com o tempo, o
momento histórico, os aspectos psicológicos, sociológicos e a existência de
recursos produtivos necessários para atender a situação econômica e social, de
cada momento.
Transformar isso tudo numa visão cartesiana seria um desafio que nem os mais
bem preparados ousariam tentar; no entanto, é isso que prevalece no campo
econômico atual, onde os economistas se tornaram escravos de cálculos
matemáticos, que deveriam estes por último, serem utilizados apenas como
recursos de análise e não como instrumentos determinadores do comportamento
da economia como um todo.
Por outro lado, utiliza-se a visão holística, tendo a dialética como instrumental
básico de observações, porque se considera que, esse é o fundamento que
melhor explica o comportamento da relação capital trabalho, com todas suas
implicações e complexidades de análise, que ocorrem, ao longo da evolução do
processo econômico de produção.
Além de tudo, a dialética é um recurso que analisa o processo de produção de
maneira contínua, sem criar variáveis isoladas e muito menos, inflexíveis. Na
dialética todas as variáveis se encontram em movimento, acompanhando as
mudanças constantes nas relações de produção.
Acredita-se que, para o presente estudo, esse é o melhor instrumental que se
pode utilizar para explicar o funcionamento do sistema como um todo.
A práxis também está inserida nesse contexto. Para efeito de análise neste
trabalho, considera-se práxis, segundo visão marxista, a aplicação prática dos
aspectos teóricos nas relações de produção e distribuição das riquezas, no
campo econômico e social.
5
O autor.
6
Os dois conceitos citados acima são mais que suficientes para definir a
importância e a abrangência da Economia Política.
Fundamentando-se nesses princípios, este estudo, se aterá nos dados fornecidos
pela História Econômica ao longo do desenvolvimento das relações de produção,
para se ter maiores recursos de análise, a fim de buscar um melhor entendimento
do que se passa pela economia política atual, compreender o papel dessa ciência
dentro da sociedade e o motivo que faz outros cientistas sociais denominarem os
Economistas de: “lacaios do governo”. (BLAUG, 1993, p. 18).
O que realmente ocorre, é que, segundo Blaug (1993, p. 17-18):
Não há muito de errado com a metodologia econômica padrão assim
como é exposta no primeiro capitulo de qualquer livro de teoria
econômica; o que há de errado é que os economistas não praticam o
que pregam.
formação da economia como ciência social, basta estudar essa ciência, a partir da
Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra, no século XVIII, por intermédio da
obra, “A Riqueza das Nações”, de Adam Smith, publicada em 1776.
É mais que certo que a obra de Smith foi fundamental para que se implantasse
um modelo de pensamento econômico sistemático, conciso e esclarecedor a
respeito dos principais questionamentos econômicos da época.
Entretanto, ele não esgota por si só, todo o processo de evolução da teoria
econômica ao longo da história, além de conter, muitas premissas, até certo ponto
ingênuas, na versão da economia atual.
Como exemplo da assertiva acima, basta citar: a consideração de Smith a
respeito da inexistência de crises no capitalismo; a regulação do mercado pela
“mão invisível”; a existência da chamada “concorrência perfeita”; e outros
enunciados, que, voltar-se-á a comentar no momento oportuno.
Ao mesmo tempo, deve-se reconhecer que, a visão de excedente econômico de
Smith, só foi possível, devido a brilhante contribuição de outro grande pensador
da época, François Quesnay, que vislumbrou e definiu a criação desse
excedente, durante o processo da produção agrícola, batizado por esse último, de
“produto líquido”.
Na realidade, Smith apenas transferiu a lógica de raciocínio de criação de produto
líquido de Quesnay, que se fundamentava na produção agrícola, para as
atividades manufatureiras, rebatizando-o de excedente econômico.
A noção da criação do produto líquido de Quesnay, ou excedente econômico de
Smith foi fator fundamental para que este último criasse a teoria do valor trabalho,
o que deu base para a formulação de toda sua teoria econômica, apresentada em
sua principal obra, de cunho econômico.
Para se entender a formação do pensamento econômico atual, faz-se necessário
dar continuidade na análise das premissas básicas, das principais teorias
econômicas, que surgiram, ao longo do avanço das relações de produção.
Ao mesmo tempo, este trabalho procura ainda, demonstrar o grau de influência
exercida na economia, pelas elites detentoras do poder, e como elas ainda hoje
agem, para dominar o pensamento econômico reinante.
Independente de quaisquer ideologias dominantes ou tendenciosidades, o
presente estudo está pautado ainda, nas abordagens de (HUBERMAN, 1985,
p.07) quando este afirma:
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pecaminosas.
Tais fatores associados tornaram a vida nas cidades insuportável, o que obrigou a
população local, principalmente as pessoas mais abastadas que se dedicavam às
atividades do comércio e produção artesanal, a se transferirem para o campo,
para viverem da agricultura, onde ali, as leis baseadas em imposições severas
eram mais brandas ou, praticamente não existiam.
A intensificação da transferência da população mais abastada para o campo -
como forma de fugir das opressões econômicas e políticas, exercidas por
intermédio de imposição de leis cada vez mais absurdas, de toda natureza e para
todos os objetivos, principalmente para aumentar receitas e garantir regalias à
igreja e aos governantes - provocou o aumento do arrendamento de terras dos
nobres e da própria Igreja, para os novos habitantes, fazendo crescer o número
dos feudos e da população do campo.
A migração brusca da população mais abastada, da cidade para o campo, por
conseguinte, provocou mudanças significativas na vida campal, e com isso, a
base da formação da riqueza econômica, que antes era centrada nas cidades se
transferiu também para o campo.
O feudalismo, que apareceu na Europa Ocidental no transcurso do
século IX, representou a volta da sociedade a uma existência rural. Os
senhores de terra tenderam a se transformar em grupos sem lei e
tornaram-se independentes dos reis. Foi a época da fundação de
grandes Estados. Tais propriedades existiram no Império Romano e em
outros Estados anteriores como a Gália e a Alemanha; contudo as
propriedades com grandes terras e seus dependentes, da Idade Média,
trouxeram significativas mudanças econômicas e sociais com
conseqüências de grande alcance. As unidades eram em sua maioria
auto-suficientes, sendo o comércio e as transações reduzidos a uma
insignificância. [...] Foi o fato de o povo depender do proprietário da terra
o que fez deste um pequeno soberano. Os senhores da terra se
converteram cada vez mais nos verdadeiros dirigentes do povo porque
os reis não os podiam controlar. (BELL, 1976, p. 66).
Para Bell, não foi a quantidade excessiva de leis e a pressão exercida pelos
governantes e bispos por intermédio de proibições, taxações e obrigações
diversas, sobre os habitantes das cidades, para obter maiores receitas, que
fizeram com que estes últimos, se transferissem para o campo, levando consigo a
base da riqueza econômica.
Embora defensor dessa idéia, Bell não explicita os verdadeiros motivos que
motivaram a transferência dos habitantes mais abastados da cidade para o
campo.
Diferentemente de Bell, a história não deixa dúvidas de que, realmente, o que
provocou a transferência da população abastada da cidade para o campo, foi o
excesso de leis criadas para garantir a legalidade da elevação da carga tributária,
aumento de taxas, e outros tipos de pressões econômicas e sociais visando
financiar os excessos praticados pela Coroa, pela aristocracia e pela Igreja.
É justamente sobre essa última versão que o presente estudo ganha corpo e
ainda considera que; por conseguinte, novamente, foram os excessos de leis
embasadas em obrigações, pressões, cargas tributárias, imposições, visando
garantir regalias, criadas pelos senhores feudais que, também, motivou a queda
do regime feudal, e o ressurgimento das novas cidades, como será visto em
páginas posteriores da presente obra. (grifo nosso).
A lei do homem, no decorrer da história, sempre foi utilizada como um instrumento
de coerção, de arbitrariedades, utilizadas pela classe dominante, para transformar
uma ilegalidade numa legalidade, por intermédio de instrumentos éticos. Assim, o
excesso de lei se transforma num obstáculo ao desenvolvimento econômico e
social, garantindo o interesse apenas dos mais abastados. (grifo nosso).
O apóstolo Paulo que afirma que:
Sabemos, pois que a lei é boa, para aquele que usa dela legitimamente:
sabendo isto, que a lei não foi posta para o justo, mas para libertinos e
desobedientes, para os ímpios, e pecadores, para os irreligiosos e
profanos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas. Para os
devassos, sodomitas, roubadores de homens, para os mentirosos e
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De acordo com São Paulo, a lei dos homens só foi criada para agrilhoar o
indivíduo, tornando-o escravo dos interesses dos grupos hegemônicos,
principalmente para aqueles que vivem de rendas. Sendo assim, a lei do homem
não tem sentido no meio social, onde prevalece a justiça do espírito, da fé da
caridade e do trabalho sincero, honesto e virtuoso.
Mais à frente, São Paulo ainda assevera:
Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém. Tudo me é permitido,
mas eu de ninguém me farei escravo. (PRIMEIRA EPÍSTOLA DE SÃO
PAULO AOS CORÍNTIOS. Cap. 06. Vers. 12).
trabalhavam em seus campos durante todo o tempo, não apenas por dois ou três
dias na semana” 2.
Os servos fronteiriços eram camponeses muito pobres “que mantinham pequenos
arrendamentos de um hectare, mais ou menos, à orla da aldeia”. 3
Os aldeões por sua vez, “que nem mesmo possuíam um pequeno arrendamento,
mas apenas uma cabana e deveriam trabalhar para o senhor como braços
contratados, em troca de comida” 4.
No aspecto puramente econômico, pode-se considerar que a sociedade feudal
compreendia apenas três classes principais: a dos sacerdotes, guerreiros e
trabalhadores, estes últimos considerados como “o homem que trabalhava
produzia para ambas as outras classes, eclesiástica e militar”. Huberman (85, p.
11).
(CÁCERES,1993, p. 66) afirma que:
A sociedade feudal era caracterizada por uma imobilidade social, onde
cada grupo possuía uma honra específica. O clero criou a ideologia das
três ordens: os clérigos, os senhores leigos e os produtores, cada qual
exercendo uma função específica para manter o corpo social,
considerado uma criação divina. Os primeiros oravam, os segundos
guerreavam e mantinham a ordem através das armas e os terceiros
trabalhavam. A igreja criava, dessa forma, uma justificativa de caráter
religioso para a desigualdade social.
Ainda existiam os vilões, que eram um tipo de servo especial. Os vilões possuíam
“privilégios pessoais e econômicos. Distanciavam-se muito dos servos, na estrada
que conduz à liberdade, gozavam de maiores privilégios e menores deveres para
com o senhor”. (HUBERMAN, 1985, p. 16).
Além disso, sobre os trabalhadores, considerados como classes inferiores,
“compostos por camponeses, vilões e livres, recaíam todos os impostos”.
(BARSA, CD. 2004).
Huberman (85, p. 14), ainda assevera que:
O camponês vivia numa choça do tipo mais miserável. Trabalhando
longa e arduamente em suas faixas de terra espalhadas (todas juntas
tinham, em média, uma extensão de 6 a 12 hectares, na Inglaterra, e 15
a 20, na França), conseguia arrancar do solo apenas o suficiente para
uma vida miserável. Teria vivido melhor, não fora o fato de que, dois ou
três dias por semana, tinha que trabalhar a terra do senhor, sem
pagamento.
2
Op. cit.
3
Idem.
4
Ibidem.
19
Quanto às feiras, vilas e depois cidades, estas foram criadas em volta dos
castelos ou muros das cidades mais antigas, que tinham entrado em decadência
em períodos anteriores, mais especificamente; do século V ao século IX,
conforme observado anteriormente.
De maneira dedutiva, esse período caracteriza-se por apresentar uma vida
campal, onde a economia se fundamentava na exploração e na propriedade da
terra. Assim sendo, as atividades no campo era a base da riqueza econômica do
sistema feudal.
Assim, o nível de riqueza da população da Europa, na época, passou a ser
determinada pela quantidade de feudos, possuído por cada nobre. Quem
detivesse a maior quantidade de feudos, era considerada a classe social mais
abastada. Dessa maneira, a posse da terra, se transformou no maior objeto de
cobiça, em toda a Europa Ocidental e Central.
Isso porque, além de ser a base da riqueza, os feudos eram auto-suficientes,
produzindo praticamente tudo que o proprietário precisasse para sua
sobrevivência.
Huberman (1985, p. 19) nos conta que; “a terra e apenas a terra era a chave da
fortuna de um homem”.
Assim, a demanda por terra, se elevou de maneira extraordinária, por
praticamente toda a Europa.
Os senhores feudais, para aumentarem seu nível de riqueza, procuravam adquirir
e arrendar para os vassalos, a maior quantidade de feudos possível.
Alguns nobres possuíam vários feudos, outros alguns domínios, e outros
um número de feudos espalhados por lugares diferentes. Na Inglaterra,
por exemplo, um barão rico tinha propriedades formadas de cerca de
790 arrendamentos. Na Itália, vários grandes senhores possuíam cerca
de 10 mil feudos. (HUBERMAN, 1985, p. 19).
Outro problema sério que passou a ocorrer no período feudal, como forma de
aumentar a riqueza da nobreza, foi a busca por aumento da produção no campo.
Esse novo fato provocou uma redução paulatina da produtividade das terras,
levando-as quase à exaustão.
Indiferentes a isso, os senhores feudais faziam exigências e mais exigências aos
servos por aumento de produção tornando a vida da classe camponesa
insustentável.
Essas pressões provocaram as fugas dos trabalhadores de toda natureza - seja
vassalo, trabalhador livre ou servo - dos feudos para as feiras, que
posteriormente, se transformaram em vilas, o que ao longo do tempo, em função
do seu crescimento e importância, transformaram-se novamente, em cidades.
De acordo com Maurice Dobb (1977:64):
O resultado dessa pressão maior foi não só exaurir a galinha que punha
ovos de ouro para o castelo, mas provocar pelo desespero, um
movimento de emigração ilegal das propriedades senhoriais — uma
deserção maciça por parte dos produtores, que se destinava a retirar do
sistema seu sangue vital e provocar a série de crises nas quais a
economia feudal iria achar-se mergulhada nos séculos XIV e XV. A fuga
dos vilões que deixavam a terra muitas vezes assumia proporções
catastróficas tanto na Inglaterra quanto em outros lugares, e não apenas
servia para aumentar a população das cidades crescentes, como e
principalmente no continente contribuía para a continuação das
quadrilhas de proscritos da vagabundagem e jacqueries periódicas.
senhores.
Com o decorrer do tempo, já sabendo do seu fim, caso perdessem as
mercadorias nas viagens, os pés descalços passaram, eles próprios, a roubar as
mercadorias e fugir com o fruto do roubo, para outras regiões da Europa, se
tornando ambulantes e formando quadrilhas de proscritos.
Em muitos outros casos, alguns pés descalços inclusive, se associavam com
ladrões para desviarem as próprias mercadorias que transportavam.
Outros grupos de pés descalços, depois de terem acumulado certa quantidade de
mercadorias, fugiam para outros feudos, onde procuravam vender o produto do
roubo, nos cruzamentos das estradas, nas feiras, depois vilas; à beira dos
castelos, nos pés das muralhas das antigas cidades, fazendo surgirem novas
levas de comerciantes ambulantes, no período feudal.
HUBERMAN, (85, p. 35), nos conta que:
Se é de fato que as cidades crescem em regiões onde o comércio tem
uma expansão rápida, na Idade Média temos de procurar cidades em
crescimento na Itália e Holanda. E é exatamente onde elas surgiram
primeiro. À medida que o comércio continuava a se expandir, surgiam
cidades nos locais em que duas estradas se encontravam, ou na
embocadura de um rio, ou ainda onde a terra apresentava um declive
adequado. Tais eram os lugares que os mercadores procuravam. Neles,
além disso, havia geralmente uma igreja, ou uma zona fortificada
chamada ‘burgo’ que assegurava proteção em caso de ataque.
Mercadores errantes descansando nos intervalos de suas longas
viagens esperando o degelo de um rio congelado, ou que uma estrada
lamacenta se tornasse transitável outra vez, naturalmente se deteriam
próximo aos muros de uma fortaleza, ou à sombra da catedral. E como
um número cada vez maior de mercadores se reunia nesses locais,
criou-se um ‘faudeburg’ ou ‘burgo extramural’. E não demorou muito
para que o arrabalde se tornasse mais importante do que o próprio
burgo antigo.
Foi assim, que surgiram as feiras durante o período feudal e que, mais tarde, se
tornaram cidades. Para esse processo evolutivo, a atividade do comércio foi
fundamental. (grifo nosso).
De início, os senhores feudais ignoravam as fugas dos pés descalços e mais
tarde burgos, porque estes além de serem considerados insignificantes, não
trabalhavam diretamente nas atividades agrícolas, que era a atividade que
realmente gerava riquezas.
Além de tudo, os senhores feudais eram muito abastados para se importarem
com o roubo de um pouco de mercadorias, por parte dos pés descalços, uma raça
estéril e, portanto, descartável.
Mesmo assim, quando estes eram pegos em flagrante, conforme visto, eram
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imediatamente executados da pior maneira possível, tanto por parte dos senhores
feudais, como por parte da Igreja.
Em virtude da intensificação das pressões exercidas pelos senhores feudais,
igreja e reis, os servos passaram a acompanhar os pés descalços, em suas
fugas, fazendo aumentar o número de vendedores ambulantes e habitantes das
vilas e depois cidades, que passaram a existir pela Europa inteira.
Outro fator interessante a observar, foi a aproximação entre os pés descalços e
os comerciantes árabes, seguidores de Maomé. Como parte da Europa Ocidental
foi conquistada por estes últimos, houve, de certa forma, uma incorporação dos
costumes árabes pela região da Europa conquistada, principalmente por Portugal
e Espanha, com destaque para as atividades de comércio, que era praticada em
larga escala pelo povo muçulmano.
Acostumados a comercializar, os árabes ensinaram as principais técnicas de
comercialização aos pés descalços, que estenderam a prática dessa atividade,
por toda a Europa.
Com o tempo, a intensificação das atividades de comércio transformou as feiras
em burgos e depois cidades, o que facilitou a fixação dos aldeões ou pés
descalços nestas, transformando estes, em comerciantes e depois, burgueses.
De início, as atividades de comércio eram ignoradas pela sociedade feudal,
principalmente porque não era a base da formação da riqueza econômica da
época, e sim a posse e o cultivo da terra. Além de tudo, as atividades de
comércio, eram praticadas por grupos considerados como proscritos e
vagabundos, o que a tornava uma atividade isenta de leis que as regulamentasse
isentado-a assim livre de quaisquer impedimentos.
Assim, os pés descalços e depois burgos, ficavam livres para praticarem a
atividade de comércio fazendo este ofício crescer, intensificar e se alastrar por
toda a Europa, gerando rendas extras e conseqüente acumulação de capital.
Assim, como resultado dessa atividade, foi criada pelo interior de toda a Europa
Ocidental, cidades que se destacavam pela liberdade e pela intensificação do
comércio realizada pelos seus habitantes, os burgueses, nova classe ascendente
e que, antes, eram denominados simplesmente de “pés descalços”. (grifo nosso).
A liberdade, o desejo de fuga dos pesados impostos praticados no campo, fez
com que grande parte da população, principalmente servos e vassalos, fugisse
para as cidades aglomerando-as de todo tipo de cidadãos.
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fato voltou a ocorrer, desta vez por intermédio da fuga da população servil do
campo para as cidades. Tudo isso em busca de liberdade e fuga das leis
unilaterais e coercitivas. (grifo nosso).
Esse último fato, já marca o fim do sistema feudal e surgimento do mercantilismo,
que foi o último capítulo, pode-se dizer assim, da época medieval.
Como já observado exaustivamente nas páginas anteriores, a base da riqueza da
idade medieval, considerada, do século I até o século VIII, se concentrava nas
cidades.
Assim sendo, nesse período, como as cidades eram denominadas, a base da
riqueza econômica da época, o interesse pelo controle destas, eram disputadas
de maneira cada vez mais intensa, pelos governantes desse período.
Quem participava dessa cúpula e estabelecia os critérios de domínio, como já
visto, primeiro foram os burgos governantes, depois; com a ascensão da Igreja ao
poder definitivo, esse controle passou para os bispos.
Os instrumentos utilizados para efetivarem esse controle se davam por intermédio
da opressão e da cobrança de impostos, regulamentadas por leis severíssimas e
de toda natureza, para aumentar a fonte de renda das classes dominantes e
parasitárias.
Para fugirem desse tipo de coisas, as classes produtivas, que praticavam
principalmente as atividades de comércio (tido como atividade pecaminosa pela
Igreja), passaram a abandonar as cidades, para viverem no campo, onde estes
últimos, podiam desfrutar de toda liberdade para realizar a atividade que
quisessem.
Como visto, com a transferência da classe produtiva da cidade para o campo,
esse fato gerou a decadência da primeira e ascensão da atividade no campo,
fazendo transferir também a base da riqueza econômica da cidade para este
último.
Com a intensificação da atividade no campo, já no período feudal, para
usufruírem de maiores regalias, novamente, as classes parasitárias, também se
transferiram para o campo, sempre procurando se impor, por intermédio da
criação de leis coercitivas e proibitivas, fazendo aumentar a pressão sobre as
classes produtivas já, agora, centralizadas no campo.
Esse fato tornou a vida nos feudos insustentável, uma vez que as leis só
garantiam os direitos às classes mais abastadas.
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O resultado dessas pressões, novamente, foi a fuga; primeiro das pessoas mais
pobres, discriminadas e portanto, ignoradas pela sociedade da época (os pés
descalços), depois para os servos, que trabalhavam diretamente na terra, em
busca da liberdade das feiras, vilas, depois cidades, que começavam novamente
a surgir na Europa.
Esse fato fez revigorar as atividades do comércio, uma vez que, não tendo outras
fontes de receitas, os pés descalços negociavam tudo que tivesse valor na época
e podia lhes gerar uma fonte de renda adicional para garantirem suas
sobrevivências.
Esse fato fez surgir uma nova classe social, conforme já dito, oriunda de um dos
setores mais pobres da época, no caso os pés descalços, que deram origem aos
comerciantes; primeiro ambulantes, depois já fixados nas cidades, estes se
transformaram em burgueses.
Ao mesmo tempo, a fuga dos trabalhadores e artesãos para as cidades, mais o
empobrecimento das terras agricultáveis por problema de exaustão, provocou o
enfraquecimento dos senhores feudais que, a partir daí, começaram a intensificar
suas ações sobre as cruzadas, não mais com o objetivo de libertar as cidades
santas, mas de fazer assaltos, pilhagens, massacres a fim de recuperar suas
riquezas.
Além das ações sobre as cruzadas, os senhores feudais intensificaram suas
pressões sobre as cidades, através do aumento da cobrança de impostos e
outras exigências sobre estas, para garantir a geração de novas fontes de rendas.
As terras das cidades pertenciam aos senhores feudais, bispos, nobres,
reis. Esses senhores feudais, a princípio, não viam diferença entre suas
terras na cidade e as outras terras que possuíam. Esperavam arrecadar
impostos, desfrutar os monopólios, criar taxas e serviços e dirigir os
tribunais de justiça, tal como faziam em suas propriedades feudais.
(HUBERMAN, 1985:37).
Esse fato provocava cada vez mais, indignação por parte da classe social
ascendente.
Para se livrarem dessa situação, os burgueses se associaram aos reis por
intermédio de um acordo tácito (acordo entre cavalheiros).
Por intermédio desse acordo, a burguesia se comprometia a passar o poder
político para as mãos dos reis, e estes, em troca, libertavam as cidades
garantindo o poder econômico aos burgueses.
Como a burguesia já detinha certo poderio financeiro, a missão desta, era a
criação e financiamento de exércitos cada vez mais fortes, que eram repassados
aos reis, para lhes garantir a supremacia política, por intermédio do absolutismo e
o oferecimento de outras regalias.
Em troca, os reis libertavam as cidades para os burgueses, garantindo-lhes o
poder econômico, ao mesmo tempo, em que os livrava do jugo da nobreza. Assim
era estabelecido um processo “ganha-ganha” entre os burgueses ascendentes -
que controlariam a economia - e os reis - que passariam a ter o domínio político
sobre o novo sistema estabelecido.
É bom lembrar que, a burguesia, de início, não tinha poderio econômico e político
suficiente, para dar início a um confronto direto contra a nobreza, que era a
senhora absoluta tanto do domínio econômico quanto político, no período feudal,
daí a importância e a necessidade da criação do acordo tácito com os reis.
Por seu turno, os reis viam de bom grado o apoio da Burguesia, pois só assim
eles teriam condições de ampliar os seus domínios e se consolidarem no poder
político de maneira definitiva e absoluta.
Dessa forma, a burguesia assumia o poder econômico e os reis assumiam o
poder político absolutista. Aí está a criação do acordo tácito, que só fez consolidar
o processo dialético estabelecido, na época medieval. (grifo nosso).
Associados a esses fatos, a Idade Média se viu envolta com outros problemas
gravíssimos, como os causados pela peste negra, o início da guerra dos cem
anos, entre os franceses e ingleses e a crise do clero, provocado pela divisão da
igreja, o que fazia com que esta última, chegasse a possuir vários papas em
determinados momentos.
No começo, conforme visto, os feudos eram auto-suficientes, praticamente todas
as atividades agrícolas, artesanais e produtivas eram realizadas dentro dos
próprios feudos, sem a necessidade de se recorrer aos outros mercados. Com o
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3.2 - O MERCANTILISMO.
Esse processo se deu pela implantação do absolutismo (poder total nas mãos dos
reis), que foi um dos princípios básicos do sistema mercantil.
Novamente, essa associação foi considerada como necessária por parte da
burguesia, para que esta pudesse se ver livre dos abusos políticos e econômicos
praticados por parte da nobreza e do clero.
Os burgueses tinham consciência que sozinhos, não conseguiriam atingir seus
objetivos de supremacia absoluta no campo econômico. Isso porque, a nobreza e
o clero, ainda eram classes econômico-sociais dominantes. Nesse caso, apelando
para aspectos empírico-estratégicos, se fosse estabelecido um confronto direto
contra a nobreza, os burgueses seriam massacrados, logo no início do processo.
Sem contar o fato de que, o Clero, apoiaria os interesses da nobreza, deixando a
burguesia completamente isolada e sem nenhum tipo de sustentação política,
econômica e religiosa. Automaticamente, a burguesia, se levasse adiante esse
intento sem o devido apoio dos reis, passaria a ser considerada pela Igreja, como
hereges, e portanto, inimigos de Deus e da sociedade da época. (grifo nosso).
Os reis, por sua vez, eram considerados pessoas abençoadas, uma vez que o
cargo de rei era uma função divina determinada por Deus. Em virtude disso, esse
cargo (de rei), ganhava mais destaque como uma função sagrada, do que
propriamente, como uma função econômica e política. As duas últimas funções
ficavam mais restritas ao controle da nobreza e do clero.
Assim, em que pese a função do rei fosse considerada uma unanimidade no meio
social, como o maior representante e defensor dos interesses nacionais, essa
função de destaque, prevalecia mais no meio religioso do que propriamente, no
meio político e econômico, que eram mantidos nas mãos da nobreza, apoiada
pelo clero. Em outras palavras, o Rei só fazia o que a burguesia e o clero
determinassem. (grifo nosso).
Em muitos países da Europa, principalmente na França, antes do período
absolutista, a função dos reis era mais eminentemente de relações públicas,
garantidora de status, do que propriamente, econômica e política.
Tanto o poder político quanto o econômico; de acordo com o que já foi visto,
estavam centralizados nas mãos da nobreza feudal, detentora, ao lado do clero,
da maior fonte de riqueza da época, que era, a propriedade da terra.
Em virtude do controle dessa riqueza, os senhores feudais usavam suas terras,
para garantir a sua supremacia como força política e econômica.
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Nessa ótica, o fator preponderante para a burguesia era apenas e tão somente o
desejo de acumular riquezas, a fim de garantir a sua perpetuação no poder. O
que acontecia em outros substratos da sociedade não interessava, desde que
esses acontecimentos, não interferissem no processo de acumulação, por parte
da aristocracia burguesa e da Corte.
OSER & BLANCHFIELD (1987:22) comentam que:
Embora o mercantilismo promovesse riqueza para a nação, não
encorajava a riqueza para a maioria da população. De fato, os
mercantilistas favoreciam uma população numerosa, que trabalhasse
muito e fornecesse mão-de-obra barata e abundancia de soldados e
marinheiros prontos para lutarem pela glória da nação e pelo
enriquecimento de seus lideres. A ociosidade e a mendicância de
pessoas capazes, assim como o roubo, eram punidos com severidade.
Oser e Blanchfield (1987:32) afirmam que Colbert ia ainda mais longe, quando
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deles consumir em valor’. Afirmou que a única forma de uma nação que não
disponha de minas aumentar o seu suprimento de ouro e prata é exportar mais
mercadorias do que importá-las”. (BELL, 1976:88).
Sir William Petty, outro grande pensador inglês, também era mercantilista. Suas
idéias de acordo com Oser e Blanchfield (1987:32) foram as que melhor
“anteviam a economia clássica”.
Petty era considerado um mercantilista liberal 6. “Sua grande experiência,
juntamente com a influência de seus amigos e associados eruditos, deram ao seu
trabalho um frescor e uma originalidade sem iguais durante cem anos. Todos os
escritos de Petty mostram; o seu interesse pela análise científica e sua aplicação
prática a problemas específicos”. (BELL, 1976:91).
Além de coerentes, os principais pressupostos mercantis dos analistas e
intelectuais ingleses eram bem razoáveis ao bom funcionamento da economia da
época, o que permitia uma maior liberdade e flexibilidade de ação, por parte dos
comerciantes, dentro do mercado.
Esse foi o principal fator que viabilizou a aceitação geral das teorias inglesas e
que as transformaram na base do pensamento mercantil ocidental, durante
séculos. (grifo nosso).
No sistema de relação de trocas, na concepção de Mun e Petty, pensadores
ingleses, não deveria haver excessos, quanto à taxação. Quando se referia à
prática tributária, Petty era detentor de uma opinião fixa, harmônica e bastante
inovadora para a época. Em um de seus escritos, Petty apud Oser e Blanchfield
(1987:33), sobre essa questão, assim se manifesta:
O imposto nunca deve ser muito elevado, deve ser proporcional para
todos, de forma que nenhum homem sofra perda de Riqueza com ele.
Para os homens (como dissemos), se suas posições fossem todas
cortadas pela metade ou duplicadas, em ambos os casos
permaneceriam igualmente ricos, pois cada um deles conservaria seu
estado ou posição anteriores, dignidade e grau; e, principalmente, se o
Dinheiro cobrado não sair da nação, esta também permaneceria tão rica
em comparação a qualquer outra nação.
conceito produto líquido que, segundo ele (Quesnay) era originado nas atividades
agrícolas.
Por intermédio da admissão da premissa da existência de um “produto líquido”
que era gerado no processo produtivo, e que foi desenvolvido pela primeira vez
por François Quesnay, para explicar a importância da agricultura para acumular
capital, Adam Smith a rebatizou de “excedente econômico”, e transferiu a idéia da
geração do produto líquido não apenas na agricultura, mas sim, para todas as
atividades, desde que elas fossem geradas pelo “trabalho realizado”.
Baseado na hipótese de Quesnay, e seguindo o raciocínio desse último, Adam
Smith conseguiu desenvolver no campo econômico, uma análise bastante ampla,
concisa e coerente, para explicar como se daria o processo de crescimento,
desenvolvimento e enriquecimento de uma nação, por intermédio do que ele
chamou de acumulação de capital.
Essa teoria foi reunida e explicada pela primeira vez, na obra da Adam Smith
denominada “A Riqueza das Nações”, permitindo à Economia, graças
principalmente a Quesnay, Smith, e alguns outros pensadores liberais como
Petty, Hume, Mun, Davenant, Cantillon e Locke, se desenvolver como ciência
social.
Assunto esse que será tratado com maior propriedade nas páginas posteriores da
presente obra. No entanto, cabe voltar agora, à análise do desenvolvimento do
pensamento mercantilista, em outros países da Europa.
cidadãos.
A teoria dos direitos naturais, conforme aplicada, significa que a
liberdade individual era expressada por uma união das vontades
individuais no compacto social. (BELL, 1976:106).
produtos internos.
Sexta. Caso se faça necessária a importação de produtos estrangeiros,
os mesmos devem ser trocados por mercadorias nacionais, e não pagos
com ouro ou prata.
Sétima. Caso seja necessária a importação de mercadorias
estrangeiras, as mesmas devem ser importadas em estado natural e
beneficiadas no país, poupando-se, assim, os salários pagos pela
manufatura.
Oitava. Devem ser despendidos todos os esforços para vender as
mercadorias supérfluas aos estrangeiros, já manufaturadas, com
pagamento em ouro e prata.
Nona. Não deve ser permitida qualquer importação de mercadorias caso
já exista um suprimento de qualidade tolerável no país, mesmo que
possam ser compradas a menores preços no exterior. É mais benéfico
ao país pagar dois dólares por um produto no pis do que gastar um dólar
no exterior com um produto importado.
Nesse período, a burguesia pertencia ao terceiro estado, que era constituído, por
artesãos, comerciantes e camponeses. O primeiro e o segundo estado eram
compostos pelo clero e a nobreza feudal respectivamente, que controlavam toda
67
OSER & BLANCHFIELD, (p. 31) ainda asseveram que Colbert “foi um defensor
da acumulação de metais preciosos que acreditou que a força de um Estado
depende de suas finanças, que, por sua vez, dependem da coleta de impostos; as
receitas tributárias são maiores se o dinheiro for abundante. Apoiava a expansão
de exportações, redução de importações, e leis que impedissem a saída de ouro
do país”.
Considerava ainda que a atividade mercantil baseada no comércio exterior era a
única fonte de riqueza para uma nação, uma vez que “um país pode tornar-se
mais rico somente às custas de outro, porque o volume de comércio, o número de
navios empregados no comércio e a produção de bens manufaturados são todos
relativamente fixos”. (p. 31).
Afirmava que, para que uma nação se tornasse forte e conseguisse acumular
riquezas sob forma de ouro e prata, eram necessárias quatro profissões
principais: “agricultura, comércio, guerra em terra e guerra em mar”. (p. 31).
Imbuído dessas idéias e para atingir os objetivos propostos que era o
enriquecimento da Corte e fortalecimento do Estado, Colbert criou e aumentou
vários tipos de impostos, por intermédio da promulgação de leis, que oprimia
apenas as classes mais simples, uma vez que a aristocracia feudal composta pela
nobreza, clero e a Coroa não pagavam tributos e desfrutavam de todas as
regalias da Corte.
CÁCERES (1993:151-152) argumenta que “a França era sustentada pelo terceiro
estado, liderado pela burguesia e composto pelas camadas populares – os
poucos operários, os artesãos e principalmente os camponeses, maioria da
população francesa. Entre estes, mais ou menos um milhão, ainda estava
submetido à servidão. O terceiro estado financiava toda a estrutura parasitária do
Antigo Regime francês, pagando todos os impostos”.
Mesmo assim, as contribuições de Colbert, para o fortalecimento e crescimento
da França, foram significativos.
Colbert “desejou libertar a França da dependência dos manufatures estrangeiros.
A compra de ferro, porcelana, rendas, tecidos e outros artigos em Estados
vizinhos o perturbava. A fim de superar essa dependência, convenceu os artífices
estrangeiros a emigrar para a França. Ofereceu prêmios para encorajar a
produção nacional, especialmente das coisas cuja confecção exigia perícia.
Manufaturadores privilegiados foram isentados das regulamentações restritivas e
69
Assim, a Coroa podia criar quaisquer tipos de leis para garantir benefícios a
qualquer hora e a bel prazer, desde que os interesses de determinados grupos e
os seus próprios, fossem contemplados.
CÁCERES (1993:152) afirma que “apesar de ser a burguesia, no século XVIII, a
camada social mais rica e culta da sociedade francesa – em seus salões se
discutia e se desenvolvia a filosofia desse século: o Iluminismo 7 ou Ilustração -,
7
Nos séculos XVII e XVIII, melhorias das técnicas de produção e a intensificação das atividades
manufatureiras promoveram o desenvolvimento do capitalismo em alguns países da Europa,
principalmente na Inglaterra. “As técnicas de produção, a sociedade e a política também
tomaram grande impulso. O progresso das técnicas de produção levou a um grande
desenvolvimento das ciências naturais, como a mecânica, a física e a química, pois, para se
expandir a produção, era necessário conhecer as propriedades da matéria. As ciências naturais
72
Esse conflito ficou marcado como uma das guerras civis mais sangrentas de toda
a história da humanidade.(grifo nosso).
De um lado estavam: a coroa francesa, o primeiro e o segundo estado; todos
constituídos por grupos privilegiados que viviam à custa do sacrifício econômico e
social do resto da população composta, pelo terceiro estado.
De outro lado estava justamente o terceiro estado; formado pela burguesia
ascendente e o resto da população, que se encontravam indignados pelo
processo de submissão, humilhação e imposições de leis coercitivas, criadas pelo
primeiro e segundo estado, apenas com o objetivo de verem perpetuadas as suas
regalias e excessos de toda natureza, que esses praticavam.
Com o primeiro e o segundo estado; extremamente fortalecidos, contra o poderio
do terceiro estado, constituído pela burguesia com alto poder econômico e o resto
maciço da população, extremamente indignada e disposta a tudo para tomar o
poder, teve início a Revolução Francesa em 1789.
Assim, a correlação de forças entre os grupos envolvidos era enorme. Ambos os
grupos estavam muito bem armados. A dimensão do conflito foi gigantesca. De
repente, a França, um dos maiores países da Europa Ocidental, estava envolto
num banho de sangue sem precedentes. (grifo nosso).
76
pressões diversas sobre o setor produtivo, para manter perpétuo, suas regalias.
De outro lado, estavam os intelectuais, a burguesia, os produtores rurais, os
artesãos e os demais cidadãos, que lutavam pela liberdade da produção e
circulação das riquezas, oriundas principalmente das atividades agrícolas, e que
defendiam ainda, a diminuição da carga tributária, que segundo eles, permitiria o
desenvolvimento e a flexibilização do sistema de produção, em alta escala, na
economia.
Nesse país, um dos principais defensores dessa concepção, foi François
Quesnay.
François Quesnay, pai da Escola Fisiocrática, era filho de um proprietário de
terras e “treinado para ser físico, fez fortuna com sua habilidade para a Medicina e
a Cirurgia. Foi promovido a físico da corte de Luis XV e de Madame de
Pompadour”. (OSER & BLANCHFIELD, 1987:42).
As contribuições de Quesnay e da Escola Fisiocrática, eram as que mais se
aproximavam das idéias dos filósofos ingleses, e que muito contribuíram para o
surgimento da economia como ciência social, principalmente.
Nessa concepção, o principal fator responsável pelo surgimento da Economia
como ciência social, foi a descoberta do conceito de “produto líquido”,
desenvolvido por Quesnay, que observou sua ocorrência nas atividades agrícolas.
A noção da existência do produto líquido na agricultura foi adotado por Adam
Smith, pai da Escola Clássica, e, se transformou no principal pilar de suas idéias,
o que viabilizou definitivamente, o desenvolvimento de suas análises, sendo
aplicado exaustivamente por este último, como bastião de sua principal obra “A
Riqueza das Nações”, já com outra denominação: a de “excedente econômico”.
Assim, a geração do excedente econômico na Economia, que, segundo Smith,
ocorreria não só na agricultura, mas em todas as atividades produtivas, desde
que essas fossem realizadas pelo trabalho dispendido pelo trabalhador numa
atividade produtiva, era o principal combustível viabilizador do acúmulo de capital.
Acumulação de capital essa que, além de incentivada, deveria ser preservada e
ampliada, se constituindo, no principal agente promotor do desenvolvimento
econômico e enriquecimento das nações, de acordo com visão do mesmo Smith.
É bom ressalvar ainda que, por seu turno, a idéia de acumulação de capital, como
fator principal fomentador da formação da riqueza das nações e viabilizador de
seu crescimento e desenvolvimento econômico, foi emprestada por Smith, do
82
4 - A ESCOLA FISIOCRÁTICA.
total controle da Coroa que a mantinha, apenas e tão somente para financiar seus
interesses. Em virtude disso, o sentimento antimercantilista ganhava força em
toda a França.
Dentre os grupos revoltosos com esses absurdos, estavam os Fisiocratas.
A classe dos Fisiocratas era um grupo constituído de intelectuais e economistas
liberais ativistas, que se opunham às regalias existentes na França da época, e
ao comércio puro e simples de mercadorias, defendidos pela casta mercantil.
Esses economistas, tendo François Quesnay como seu principal expoente, se
constituíam num grupo de pensadores que conseguiram descrever, com muita
propriedade, o processo de produção como um sistema econômico simples,
organizado por classes sociais distintas (a dos produtores, a dos proprietários e a
classe estéril), interagindo, cada qual, com uma função definida, e tendo por
objetivo, de maneira bem refinada, defender seus interesses econômicos e
garantir seus “status quo” dentro da escala política, econômica e social.
O modelo econômico criado para explicar esse quadro, foi desenvolvido por
François Quesnay (1694 – 1774), considerado como o primeiro economista que
conseguiu descrever de maneira bem simples, como a riqueza de um país era
distribuída entre classes sociais distintas e interagindo no mercado, cada uma
com sua atividade específica. Esse modelo econômico, foi publicado em 1758, em
uma página de jornal, com o nome de Tableau Économique.
Além de médico renomado e filho de proprietário de terras, Quesnay era também,
como já afirmado em páginas anteriores, físico e cirurgião .
No seu sistema econômico (Tableau Économique), Quesnay, procurava
demonstrar que a riqueza gerada na economia, por intermédio do que ele chamou
de “produto líquido”, deveria ocorrer de maneira livre, entre todas as classes
sociais, da mesma forma como “o sangue circula pelas veias”.
Para Quesnay, o produto líquido era uma renda adicional que só poderia ser
obtida na agricultura, uma vez que, era apenas na atividade agrícola que se
observava um acréscimo natural na quantidade obtida de produtos agrícolas, que
se dava por intermédio do processo de plantio e das colheitas.
Dessa forma Quesnay procurava demonstrar que, era na agricultura que, em se
plantando, por exemplo, uma pequena quantidade de sementes, estas - por
intermédio do processo de multiplicação e reprodução natural das plantas -
84
PAREI AQUI
90
5 - A Escola Clássica
A obra que deu origem à Escola Clássica foi “A Riqueza das Nações”, de autoria
de Adam Smith, publicada pela primeira vez em 1776, na Inglaterra, coincidindo
com a 1ª Revolução Industrial, ocorrida também no mesmo país, no mesmo ano.
Essa obra se destacou pela sua concisão e pelo fato dela - seguindo os moldes
do Tableau Economiqué de François Quesnay - ter apresentado a Economia
funcionando como um processo sistematizado, coeso, que dividia a sociedade em
classes sociais e que procurava explicar, como a economia se inter-relacionava
com todas as classes dentro de um sistema econômico dinâmico amplo, flexível e
consistente.
Ao mesmo tempo, essa obra trazia em sua estruturação novos pressupostos que
balizavam o funcionamento do sistema econômico e que procurava demonstrar
de maneira objetiva, como a riqueza de um país era criada.
Dentre esses pressupostos básicos se destacavam: a teoria do valor trabalho; do
valor de troca; do valor de uso; a idéia da racionalidade do homem econômico
baseado no individualismo; a produção manufatureira como a principal atividade
econômica geradora da riqueza, que se daria por intermédio da teoria do valor
trabalho; a idéia de que uma nação só atingiria riqueza máxima se conseguisse
acumular capital em grande escala (teoria da acumulação de capital) que, por
conseguinte, só seria obtida através da produção de mercadorias; a concepção
do liberalismo econômico, baseado no automatismo das forças de mercado
denominado por Smith de mão invisível; a concepção da divisão do trabalho como
fator fundamental, para gerar o aumento da produtividade e da riqueza; a idéia do
salário de subsistência; etc.
Num contexto geral, eram esses os principais fundamentos que direcionavam
todo o raciocínio analítico de Adam Smith.
É bom antecipar ainda que, a teoria de Adam Smith foi influenciada
significativamente pelas idéias de William Petty, que foi o primeiro economista a
antever a importância da produção manufatureira para o desenvolvimento da
atividade econômica de um país.
Também, nas idéias de François Quesnay, que foi o primeiro economista a
desenvolver a teoria do produto líquido – principal contribuição filosófica que
91
Na ótica descrita por Marx acima, e bem explicitada por Bukharin, o processo de
centralização de capital, já em oposição à acumulação capitalista, propriamente
dita, provoca por intermédio da concorrência entre os próprios capitais, a
expulsão dos capitalistas menos abastados e sua transformação em meros
proletários, que irão engrossar o exército industrial de reserva (desempregados).
Esses capitalistas falidos, não tendo mercadoria para vender no mercado e
dispondo de sua própria força de trabalho, acaba por vender essa força aos
capitalistas remanescentes, se transformando em meros assalariados, o que
acaba por fazer aumentar a concorrência entre os próprios trabalhadores,
provocando a queda da taxa de salário da massa proletária como um todo.
Os desequilíbrios sociais decorrentes desse processo são gravíssimos, com
aumento da miséria, da prostituição, do roubo, dos seqüestros, do tráfico, entre
outros. Tal processo descrito por Marx em 1867, na sua obra “O Capital”, e
ratificada por Bukharin em sua obra “A Economia Mundial e o Imperialismo”
publicada pela primeira vez em 1915, é que se vivencia nos dias atuais. (o grifo é
nosso).
Para minimizar os impactos negativos decorrentes desse processo, as mega
corporações acabam por recorrer ao Estado, e ao estabelecimento de leis cada
vez mais severas, respaldadas pelas abstrações despóticas e jurássicas de
Augusto Conmte denominadas de “ordem e progresso”.
Aqui, novamente as leis aparecem como “cinto protetor” dos interesses
capitalistas. (o grifo é nosso).
Por último, dentre todos; o maior crítico do processo de acumulação de capital é o
Profeta Isaías, filho do Profeta Amós, quando este afirma:
Ai de vós os que ajuntais casa a casa, e ides acrescentando campo a campo até
chegar ao fim de todo o terreno! Acaso habitareis vós só no meio da terra? Nos
meus ouvidos estão estas coisas, diz o Senhor dos exércitos. Verdadeiramente que
99
muitas casas grandes e vistosas virão a ficar ermas sem habitador. Porque dez geiras
de vinhas darão apenas um barrilzinho e trinta alqueires de trigo semeado não darão
mais que três. (ISAÍAS. Cap. 05. Vers. 08 -10).
Uma que ele chamou de divisão social do trabalho, e outra, que o mesmo definiu
como divisão do trabalho na produção da manufatura.
Considerando apenas o trabalho, podemos chamar a separação da produção social
em seus grandes ramos, agricultura, indústria, etc., de divisão do trabalho em geral; a
diferenciação desses grandes ramos em espécies e variedades, de divisão do
trabalho em particular, e a divisão do trabalho numa oficina, de divisão do trabalho
individualizada, singularizada. (MARX, 1985, p. 402).
Parece banal, mas para entender com maior propriedade o que se passa no
contexto da economia política mundial atual, é preciso averiguar o critério adotado
por Marx para analisar o processo da divisão do trabalho analisando-o no
contexto da divisão social dentro do aspecto antropológico. Já a divisão do
processo na fabricação de manufatura, propriamente dita, será analisada na fase
posterior.
Fazendo uma projeção desse cenário descrito por Marx, para o comportamento
da Economia Mundial como um todo, podem-se diagnosticar as causas principais
que deram origem à divisão internacional da produção, que são explicadas, por
intermédio de estágios de desenvolvimento de cada nação.
Com o desenvolvimento e a intensificação da troca de mercadorias no cenário
internacional, ao longo do processo dialético, percebeu-se que, seguindo o
raciocínio de Marx, a relação de trocas obedeceu a um processo de gradações
paulatinas, ocorrendo primeiro entre as famílias, depois tribos e, finalmente entre
as nações.
Já foi visto em páginas anteriores, como se formaram as elites nacionalistas, dos
principais países da Europa, como: a Inglaterra, a França e a Alemanha, que se
desenvolveram, por intermédio da intensificação e diversificação das atividades
manufatureiras. A Itália, o Japão e os Estados Unidos se desenvolveram em
etapas posteriores, mas sempre obedecendo ao mesmo processo das demais
elites capitalistas, citadas acima.
Dentro desse processo foram se constituindo e formando nações, cada uma com
uma característica específica, que, para se formarem, dependeram e ainda
dependem das políticas de desenvolvimento e das estratégias econômicas
adotadas pelas suas elites, para se projetarem no cenário mundial.
Nesse cenário observou-se que, os países centrais, se formaram em torno dos
ideais defendidos pelas elites nacionalistas desses respectivos países tais, como:
a Inglaterra, a França, a Alemanha, a Itália, os Estados Unidos, o Canadá e o
Japão.
Esses países juntos, formam o que pode-se chamar de sete elites, ou sete
nações mais poderosas do mundo, formando o que se chama hoje de Grupo dos
Sete (G. 7). Acrescenta-se a esse número a Rússia, que é considerada como
potência política em virtude do seu potencial bélico, formando o Grupo dos Oito
ou (G. 8). No entanto, o mesmo não acontece no campo econômico. No campo
103
acumulação de capital.
O quê manteria a taxa de salário baixo?
- Segundo Smith, o que manteria a taxa de salário baixo seria a existência
de grande capacidade ociosa, ou seja, a existência de grande quantidade de
trabalhadores desempregados que, através da concorrência por novos empregos,
não ligariam para a quantidade de salário que recebessem, pois nesse momento,
o que estava em jogo, era a sua sobrevivência e não a quantidade de salário
pago.
Isso ocorria, segundo Smith, porque o trabalhador para sobreviver, não tem
com o quê participar do processo de produção senão com o seu trabalho.
Sendo assim, em situação de desespero eles se sujeitariam a trabalhar
pelo salário que lhes fosse pago.
Nem que fosse para comprar apenas o necessário para garantir a sua
sobrevivência.
Dessa análise é que surgiu a idéia de taxa de salário, ou seja; a taxa de
salário é determinada pelo mínimo necessário à subsistência do trabalhador.
Foi como disse Bernard de Mandeville lá no período mercantil, através dos
escritos de Oser e Blanchfield, conforme já foi demonstrado acima e voltamos a
lembrar a seguir:
Em uma Nação livre em que escravos são proibidos, a riqueza
mais certa consiste em uma multidão de pobres trabalhadores...
Eles devem ser mantidos sem morrer de fome, de forma que não
recebam nada que possam poupar... E do interesse de todas as
nações ricas que a maioria dos pobres nunca fique ociosa e ainda
gaste continuamente o que recebe”.
“Os pobres devem ser mantidos exclusivamente para o trabalho,
e é uma prudência aliviar suas necessidades, mas tolice curá-
los... Para tornar a sociedade feliz e o povo calmo sob as mais
precárias circunstâncias, é necessário que, além de pobres, uma
multidão deles seja estúpido.
Porém, de acordo com Smith, a taxa de salário não seria mantida baixa
sempre.
Haveria um momento em que, o aumento da produção geraria aumento da
demanda por trabalho.
Essa demanda adicional por trabalho, provocaria o aumento da oferta de
emprego e, conseqüentemente, esse fator causaria a diminuição da quantidade
de trabalhadores desempregados, elevando, em conseqüência disso, a taxa de
107
salário.
Como os trabalhadores gastam toda sua renda em consumo de
subsistência, havendo elevação da taxa de salário, essa situação, provocaria
aumento de consumo por parte da classe trabalhadora.
Esse aumento de consumo geraria uma situação otimista por parte da
classe trabalhadora e em conseqüência disso, a classe trabalhadora, por não ter
outra expectativa na vida, aumentaria seu número de filhos.
Novamente, no longo prazo, haveria um aumento da quantidade da oferta
de trabalho decorrente do aumento do número de filhos que se tornavam
trabalhadores desempregados. Esse aumento elevaria o nível de concorrência
entre a classe trabalhadora por novos empregos. Essa concorrência provocaria
novamente a queda da taxa de salário.
Assim, essa situação descrita por Smith se transformaria num processo
cíclico.
Resolvido o problema da acumulação, a próxima barreira a ser vencida pela
classe capitalista seria a ampliação do nível de produção.
Havendo aumento da produção, essa situação, provocaria aumento da
riqueza acumulada.
Quanto ao problema da distribuição; nessa época, pelo fato da Inglaterra
ser a maior potência, já detendo o controle de toda a tecnologia industrial utilizada
no processo de produção, contando ainda, com uma esquadra poderosa, em
condições de enfrentar, sobrepujar as esquadras de quaisquer países; na mesma
obra “A Riqueza das Nações”, Adam Smith defende as idéias liberais de François
Quesnay, no caso, o liberalismo econômico.
Segundo Smith, assim como Quesnay, a produção deveria circular
livremente, pois só assim a distribuição da riqueza estaria garantida. A produção e
a circulação da riqueza deveriam ser liberadas de quaisquer barreiras econômicas
ou políticas.
Não haveria problema de crises no sistema capitalista, pois, o mercado
tinha um dispositivo de auto-regulação.
Esse dispositivo seria caracterizado pela existência de uma “mão invisível”
que tenderia a ajustar o mercado sempre que houvesse um desequilíbrio
momentâneo no sistema de produção.
Não haveria também problema de elevação de preços, porque os preços
108
de outros países, uma vez que chega a produzir até 95% dos produtos que
necessita.
Esses outros 5% podem ser supridos com a utilização de recursos
alternativos.
As demais concepções econômicas podem ser consideradas mais como
cópias de teorias importadas, e que não se aplicam a este país, como bem aponta
Francisco Oliveira, em sua obra “Critica a Razão Dualista”.
113
“(...) pode-se dizer que praticamente todos os economistas que se ocuparam com
as ‘crises’ e ciclos econômicos (por exemplo, Lauderdale, Tugan-Baranowski,
Aftalion, Spiethoff, etc.), e ainda todos os marxistas, como Hilferding, Rosa
Luxemburgo, Bukharin, etc., realmente chegaram, num estágio ou noutro, a
acentuar a possibilidade e as conseqüências desastrosas de um hiato entre a
produção potencial e a demanda efetiva”.
Não obstante, todos esses autores tiveram muito pouco sucesso em sua época.
Em relação a eles, a atitude do saber econômico estabelecido sempre foi de
grande desrespeito, na crença de que suas teorias continham todo tipo de falhas
analíticas. As teorias de subconsumo eram encaradas simplesmente como más
teorias”.
para ele, a política salarial não tinha ligação direta com a redução da taxa de
lucro dos capitalistas.
Malthus, ainda defendia o fortalecimento do mercado interno, afirmando
que a distribuição de mercadorias dentro desse mercado daria a base para o
aumento da riqueza e do desenvolvimento de uma nação.
Considerava ainda que eram o nível de consumo conjugado com o nível
de produção, os pilares de desenvolvimento do sistema capitalista, uma vez que,
estando estas duas características do sistema associados, permitiriam que a
sociedade atingisse no menor tempo possível, a prosperidade social máxima.
Destacava ainda, a produtividade como fator gerador da produção a baixos
custos, permitindo a criação, de um excedente de bens, o que provocaria a
redução de preços e acessibilidade desses bens às classes de trabalhadores
com menor poder aquisitivo.
Em suas críticas à política de concentração de capital defendida pelos
clássicos, Malthus considerava que essa situação, além de inibir a demanda.
A inibição da demanda traria como conseqüência no longo prazo, redução
do nível de produção e da produtividade.
Se há redução do nível de produção e da produtividade, há como
conseqüência também a queda na oferta de emprego.
Assim, em se mantendo a política de concentração de capital de acordo
com a ótica dos clássicos, essa política, só faria aumentar o número de
trabalhadores desempregados que seriam sustentados por trabalhadores que
estivessem trabalhando.
A solução para tais problemas, segundo Malthus, seria a adoção de uma
política que tivesse como objetivo, a redivisão da propriedade da terra, o aumento
nas atividades de comércio e um acréscimo no emprego de trabalhadores
improdutivos.
Sugere ainda, uma adequação no nível de poupança para que a Economia
atingisse o mais alto ritmo de crescimento, como bem aponta Jorge Miglioli, nas
páginas 61 a 64, de sua obra Acumulação de Capital e Demanda Efetiva.
Em que pese essas propostas fossem bem fundamentadas, realistas e
dotadas de críticas bem consistentes, Pasinetti chegou a afirmar que:
120
“Ricardo não viu qualquer força nesses argumentos. Para ele, as poupanças
estavam associadas aos capitalistas e, portanto, significavam o mesmo que
acumulação de capital. Além disso, era mais fácil para ele apelar para a
autoridade do principal economista francês da época, Jean Baptiste Say, que
afirmou que qualquer produção gera sua própria demanda. A controvérsia
arrastou-se, e terminou numa disputa estéril sobre a quanto tempo o termo
estava em discussão. Ricardo e Malthus permaneceram, naturalmente, com suas
opiniões mas foram as teorias ricardianas analiticamente mais fortes que
conduziram a opinião profissional...”
A Escola Marxista teve origem através dos escritos de Karl Heinrich Marx,
filósofo, economista e advogado alemão descendente de uma família judia,
nascido em 1818 e falecido em 1883.
Sua principal obra no campo econômico foi “O Capital”.
O principal objetivo dessa obra era dar uma resposta crítica às análises
econômicas clássicas na visão de Smith, Say e David Ricardo.
O principal amigo de Marx foi Friedrich Engels que, quando da morte de
Marx, reuniu os manuscritos desse autor, em um novo volume de “O Capital”, na
sua versão IV.
Nessa obra, Marx, para responder às falhas analíticas dos clássicos,
desenvolveu suas principais contribuições à teoria econômica, até hoje
conhecida, através dos conceitos de mais valia absoluta, mais valia relativa,
composição orgânica do capital, a dialética e o papel do proletariado no processo
de acumulação de capital por parte do capitalismo.
Em suas análises Marx afirmou que as teorias capitalistas desenvolvidas
até então, não tinham consistência teórica e que as mesmas podiam ser
resumidas em um processo de exploração sobre a classe trabalhadora por
intermédio da apropriação do sobreproduto do trabalho gerado pelos proletários
através da mais valia.
Para fazer suas análises e chegar às suas conclusões, Marx se baseou
nas mesmas premissas estabelecidas por Adam Smith.
A base para o desenvolvimento de suas análises foi a teoria do valor
trabalho criado por Smith em sua obra “A Riqueza das Nações”.
A diferença básica entre a obra de Marx e a obra de Smith foi que Marx,
partindo dos mesmos pressupostos, chegou a conclusões contrárias às
concepções smithianas.
Foram as conclusões de Marx contrárias às concepções de Adam Smith e
seus discípulos que o levaram a publicar “O Capital”, a sua principal obra no
campo econômico em 1867.
As conclusões obtidas dos estudos das teorias econômicas influenciaram
Marx, significativamente em outros campos tanto filosóficos quanto político-
sociais.
122
A teoria clássica do salário considera uma relação direta entre preços dos
produtos e salários e, por conseguinte uma relação inversa entre os salários e os
preços das matérias-primas.
142
Essa relação, segundo visão clássica e neoclássica teria que ser mantida
mediante uma grande quantidade de trabalhadores desempregados.
Em existindo essa grande quantidade de trabalhadores desempregados
haveria uma maior demanda por emprego. Essa demanda adicional tenderia a
baixar a taxa de salário pago dentro do sistema capitalista.
Kalecki taxativamente afirma que essa situação necessariamente não
precisa ocorrer uma vez que o nível de investimento independe da questão de
salário pago dentro da economia.
Ademais, de acordo com Kalecki, a política salarial trata-se de uma política
de curto prazo, e o nível de investimento só ocorre no longo prazo.
O investimento uma vez realizado, independe da elevação ou queda da
taxa de salário pago dentro do sistema de produção. O que determina a taxa de
lucro do capitalista na realidade, segundo Kalecki, é o nível de investimento
realizado.
Maior sendo o investimento maior será a taxa de lucro. O
investimento depende ainda da condição psicológica do capitalista e da sua
análise em relação ao nível de demanda da economia e também da taxa de
juros do longo prazo.
A questão de salário nada tem a ver com o nível de investimento e muito
menos com a taxa de lucro do capitalista conforme foi demonstrado acima,
através dos estudos de Kalecki (18).
Outro problema demonstrado pelas análises clássicas está relacionado ao
fato de que para que haja investimento necessariamente tem que haver
acumulação de capital. A realidade nos mostra que isso necessariamente
também não precisa ocorrer.
A acumulação de capital é conseqüência do investimento e da sua
qualidade. O que determina uma maior ou menor acumulação de capital é o grau
de tecnologia e inovação embutida no investimento e não a magnitude de capital
acumulado e empregado no processo de produção.
Esse capital pode ser facilmente emprestado de terceiros e pago após a
realização dos investimentos efetuados pelo capitalista.
Logicamente ainda, o valor do empréstimo também já está embutido no
preço final da mercadoria, o que garante a margem de lucro do capitalista e o
nível de investimento dentro do sistema.
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Para citar como exemplo, o que permitiu a Portugal acumular capital foi o
seu pioneirismo na arte de navegação a longa distância e a aplicação conjugada
das tecnologias desenvolvidas na época, como o caso da utilização da pólvora,
da bússola, do astrolábio, da caravela e da organização das esquadras
portuguesas.
Praticamente por trás de todos os impérios formados ao longo da história
da humanidade, estão as largas utilizações de tecnologias e do seu emprego nas
ações militares e econômicas.
A magnitude de lucro está relacionada com a qualidade do investimento e
a utilização de produtos high tech e não com o acúmulo de capital.
A questão de acumulação de capital está mais relacionada com a questão
da avareza do que propriamente com o nível de investimento. Ademais, nem
sempre quem detém o controle dos meios de produção é que obterá a
capacidade de investimento e se tornará mais rico e sim quem detém o
conhecimento, o controle correto das etapas de produção, o talento, a
criatividade e as idéias.
A história nos mostra esse exemplo, através do que aconteceu com o
Império Romano, com a Nobreza no período feudal e talvez com a própria
burguesia como previu Marx. Estas riquezas é que permitem a realização de
altos investimentos dentro do capitalismo e também a obtenção do maior ou
menor grau de lucro dentro do processo de produção.
E essa riqueza só se obtém com investimento em educação, “que nenhum
governo pode deixar de realizar embora o possa a empresa privada”, conforme
enfatiza John Maynard Keynes.
No sistema de produção, praticamente a única ciência social que aplica
largamente as idéias defendidas pelos clássicos, além dos próprios clássicos,
são os segmentos tradicionais da administração, no caso, a corrente situacionista
desenvolvida por Winslow Taylor gerando um sistema de administração
altamente hierarquizado, inflexível, rígido, extremamente coercitivo, com um
organograma verticalizado ao extremo e marcado pela pressão do gerente sobre
a sua equipe.
Atualmente, essa visão está em processo de revisão, estando considerada
já ultrapassada para as modernas técnicas de administração, sendo substituídas
pela corrente universalista, que é caracterizada pela formação e senso de equipe,
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Referências bibliográficas.