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INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA

Alexandra Guedes Pinto


Professora Associada da FLUP
Membro do Conselho Científico do CLUP
mapinto@letras.up.pt

Material Pedagógico 1

VARIAÇÃO E MUDANÇA LINGUÍSTICA

3 universais linguísticos a considerar:


1. A linguagem humana materializa-se em línguas naturais diferentes,
dando origem à variação interlinguística;

2. Todas as línguas comportam variação interna, dando origem à variação


intralinguística;

3. Todas as línguas mudam no decurso do tempo, dando origem à


mudança linguística

Variação linguística

1. Fatores e tipos da variação


3 fatores originam 3 grandes tipos de diferenças internas nas línguas:

Espaço geográfico – variação geográfica ou diatópica

Estrato social – variação social ou diastrática

Situação, modalidades da comunicação e características dos indivíduos - variação


situacional ou diafásica.

1
Os apontamentos constantes neste guião correspondem apenas tópicos de aula que têm como única
intenção servir de síntese dos aspetos abordados nas aulas sobre Variação e Mudança linguística.
2. Variedades de língua
Os fatores da variação geram conjuntos de diferenças internas às línguas que se
designam de variedades de língua e que podem definir-se como:

Conjuntos de diferenças lexicais, sintáticas e fonéticas que se verificam no discurso dos


indivíduos pertencentes a uma mesma comunidade linguística e que possuem
diferentes atribuições funcionais.

(extraído de Juliette Garmadi – Introdução à Sociolinguística)

2.1 Variedade padrão, comum ou veicular

2.2 Variedade popular

2.3 Variedades regionais ou dialetais

2.4 Variedades parasitas: gírias; linguagens técnico-científicas; calão

2.1 Variedade padrão, comum ou veicular


A variedade veicular corresponde à necessidade de existir, no seio de toda a variação
linguística de uma comunidade, uma variedade que funcione ao nível da sociedade
global, garantindo a intercompreensão.

●Linguagem tida como a mais correta; linguagem de referência, caracterizada pela


homogeneidade e uniformidade;

● Linguagem comum, mais usual, próxima da norma;

● Linguagem difundida pelos meios de normalização linguística; atua como um modelo


para o qual se tende, funcionando como um contrapeso conservador e unificador.

2.2 Variedade popular


● Os seus utilizadores conservam-se geralmente fora do alcance dos instrumentos e
instituições de normalização (por exemplo, da escolarização);

● Os hábitos linguísticos dos grupos dominantes não asseguram funções de referência


nem a correção linguística é preocupação destes falantes;
● Estabelece-se e acentua-se, assim, a divergência entre a variedade que estes grupos
atualizam e a variedade normalizada;

● Por esse motivo, esta variedade, que não é codificada nem normalizada, patenteia
desvios em relação à norma;

● Desvios fonológicos / fonéticos: realizações fonéticas afastadas da norma;

● Desvios sintáticos: sintaxe simplificada; encadeamento sintático deficiente; uso de


conetores específicos;

● Desvios lexicais: uso de lexemas específicos, lexemas arcaizantes, expressões


proverbiais e idiomáticas pelo seu caráter expressivo, visualista, concretista;

2.3 Variedade regional


● Hábitos linguísticos peculiares de certas regiões;

● Hábitos linguísticos tendencialmente conservadores;

● Diferenciação sobretudo lexical e fonética;

● Divergências não relacionadas com incorreção.

2.4 Variedades parasitas.

Conjunto de variedades que se servem da estrutura da variedade veicular, padrão ou


da variedade popular e que apenas lhe introduzem inovações lexicais

● Calão: estatuto de marginalidade; identidade de grupo; coesão; defesa;


solidariedade; secretismo; expressividade; conotação pejorativa;

● Gíria: coesão; expressividade; identidade e afirmação do espírito de grupo;

● Linguagens técnico-científicas: rigor; cientificidade; léxico especializado.

Fontes bibliográficas:
Carvalho, Herculano de – “Individualidade e interindividualidade do saber linguístico” in Teoria
da Linguagem. Volume I, 6ª edição, Coimbra, Coimbra editora, 1983.
Cunha, Celso e Cintra, Lindley – Nova Gramática do Português Contemporâneo. Lisboa, Sá da
Costa, 1984.
Garmadi, Juliette – Introdução à Sociolinguística. Lisboa, Dom Quixote, 1983.
Mudança linguística

A variação linguística constitui um fenómeno universal e pressupõe a coexistência,


num mesmo estádio de língua, de formas linguísticas - de natureza
fonética/fonológica, morfológica, sintática, lexical - semanticamente equivalentes,
usadas alternativamente pelos falantes de uma comunidade linguística. Essas formas
alternativas recebem o nome de variantes linguísticas.

Mateus (2003: 34) refere que num mesmo sistema linguístico, há usos que coocorrem
e concorrem; ou seja, duas formas linguísticas, ambas aceites, estão em competição,
no sentido de que uma seja dominante sobre a outra. A forma linguística
predominante, com maior taxa de uso, é ou virá a ser a norma.

Exemplo de fenómenos linguísticos em variação (variável linguística) no PE atual:

● distribuição dos particípios duplos: tenho aceite todos os seus convites vs tenho aceitado
todos os seus convites (alternância entre as formas aceite / aceitado).

● queísmo: estou convencida que ele estuda vs estou convencida de que ele estuda (presença
ou ausência do de)

● Variantes linguísticas: diversas formas alternativas que configuram um fenómeno


variável – uma variável linguística (ou variável dependente);

● Variável linguística: fenómeno linguístico que manifesta variação num determinado


estádio de língua;

● Uma variável é concebida como dependente no sentido em que o emprego das


variantes não é aleatório, mas influenciado por grupos de fatores ou variáveis
independentes de natureza social ou estrutural. Assim, as variáveis independentes ou
grupos de fatores podem ser de natureza interna ou externa à língua e podem exercer
pressão sobre os usos, aumentando ou diminuindo a sua frequência de ocorrência.
● No conjunto de variáveis internas, encontram-se os fatores de natureza fonética e
fonológica, morfológica, sintática, semântica, lexical.

● No conjunto de variáveis externas, reúnem-se os fatores inerentes ao indivíduo


(etnia, sexo, idade), os fatores sociais (escolarização, rendimentos, profissão, classe
social), e os fatores contextuais (grau de formalidade e tensão discursiva).

● Um estudo da variação visa a descrição (estatisticamente fundamentada) de um


fenómeno variável, calculando a influência de cada fator, interno ou externo ao
sistema linguístico, na realização de uma ou de outra variante. Ao formalizar esse
cenário, estabelece-se a relação entre o processo de variação que se observa na
língua num determinado momento, ou seja, sincronicamente, com os processos de
mudança que acontecem na estrutura da língua ao longo do tempo, ou seja,
diacronicamente.

● Um fenómeno em variação numa comunidade linguística pode constituir uma


variação estável ou uma mudança em curso.

No primeiro caso, o quadro de variação tende a manter-se por um longo período de


tempo, não se verificando uma tendência de predominância de uma variante
linguística sobre a(s) outra(s).

No segundo caso, o processo de variação caminha para uma resolução em favor de


uma das variantes, que se deverá generalizar, tornando-se o seu uso categórico
dentro da comunidade linguística. Nesse quadro, a(s) outra(s) variante(s) tende(m) a
cair em desuso. Assim se dá a consumação de uma mudança linguística.

Fontes bibliográficas:
Mollica, Maria Cecília e Braga, Maria Luiza (orgs) Introdução à Sociolinguística – o tratamento
da variação. São Paulo: Contexto, 2003.
Lucchesi, Dante e Araújo, Silvana, A Teoria da Variação Linguística. UFBA, Projeto
Vertentes, 2012. http://www.vertentes.ufba.br/a-teoria-da-variacao-linguistica

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