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Exmo. Sr.

Doutor Juiz de direito da  VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL,


MUNICIPAL, REGISTROS PÚBLICOS da COMARCA DE  ____________.

_____ , pessoa jurídica de direito público interno, representado pela Procuradoria


Geral do Estado, com sede na Rua ……., local onde deverá receber intimações de
estilo, por seu procurador, in fine  firmado, nomeado e designado na forma da
lei , vem apresentar AÇÃO DEMOLITÓRIA em face de FULANO DE TAL,
brasileiro, pessoa física inscrita no CPF sob o nº XXX, com sede à Rua ……., s/n,
Bairro….., Cep. 00000-000, cidade ___, com substrato nas razões a seguir
expendidas.

DA DESNECESSIDADE DA AUDIÊNCIA DE   CONCILIAÇÃO/MEDIAÇÃO


PREVISTA NO ART. 319, VII DO CPC

Como será abaixo narrado nos autos, a parte autora tentou inúmeras
conciliações, mediante correspondências e trocas de telefones, porém as
mesmas restaram infrutíferas.

Por esses motivos, o autor entende ser desnecessária a designação da audiência


de mediação/conciliação prevista no art. 319, VII do CPC.

  DOS FATOS

No ano de ___, o ente público ambiental  , por meio de seu corpo técnico de
fiscais ambientais, vistoriou área na qual a parte ré iniciou projeto de
loteamento de terras, no Município de _____________, conforme documentos
anexos.

Notadamente, pelos documentos juntados aos autos, depreende-se que a parte


ré executou obra sem a devida autorização legal exigida pelo órgão responsável
pelo fornecimento da licença ambiental.

Como salientado pelos fiscais ambientais, a referida licença é necessária para


preservar o meio ambiente e áreas que integram o sistema de preservação
permanente, pois sem ela, haverá perda expressiva da preservação natural e
contínua do meio ambiente, causando danos e impactos sem precedentes.
Noutras palavras, a licença é o instrumento hábil para garantir que o particular
possa explorar área natural sem agredir o meio ambiente e afetar o bioma.

O processo de fiscalização n.º ____, transcreve em detalhes o fato ocorrido,


apontando a ausência da licença e os danos ambientais causados pela parte ré,
sendo esta notificada para reparar o dano, sob pena de multa. Nesse mesmo
ato, a obra (construção de Loteamento) foi embargada pela fiscalização pública,
oportunizando a parte ré prazo legal para oferecer defesa.

Após devidamente notificada do auto de infração, a parte ré quedou-se inerte,


sem qualquer manifestação e, ainda insistiu na construção do loteamento
irregular. Aliás, o aludido loteamento foi objeto de instauração de inquérito civil
ambiental deflagrado pelo Ministério Público Estadual.

A parte ré não somente quedou-se inerte como, em nova fiscalização no ano de


____, ampliou seus projetos de loteamentos irregulares, afetando ainda mais a
área de preservação ambiental.  Em suma, houve esgotamento de todos os
meios administrativos para que a parte ré procedesse com a adequada forma
de abertura de procedimento de regularização de imóvel (loteamento),
restando infrutífera a tentativa conciliatória e, assim, inexistindo outra saída a
não ser acionar o Poder Judiciário. 

Eis o escopo da lide. 

DO DIREITO

Com efeito, os artigos , da Lei Estadual n.º _ determinam que: “……………..”

Ao silenciar e ampliar sua obra invadindo a mata ciliar sem a devida Licença
Ambiental, a parte ré pratica infração ambiental grave, pois viola os Termos do
Embargo Ambiental acostado no processo administrativo, motivo pelo qual, o
Poder Judiciário, em atenção ao que discorre o artigo 225 da Constituição
Federal, deve determinar a demolição imediata do loteamento irregularmente
construído. Não se trata de mero capricho do órgão ambiental, mas de uma
precaução e necessidade essencial para manter a sobrevida da área de
preservação ambiental e proteção ao eco sistema. Observe ilustre julgador, sem
a efetiva demolição da obra, a área ambiental do entorno poderá ser extinta,
perdendo sua característica original, o que afetará a biodiversidade, além do
claro prejuízo para as atuais e futuras gerações.

Somado aos fatos já relatados, percebe-se que a parte ré é reincidente no ato


de degradação ao meio ambiente, suprimindo área de preservação permanente
sem qualquer informe as autoridades ambientais competentes, violando de
igual forma o artigo 7º, § 1º do Código Florestal (Lei Federal nº 12.651). Agiu
assim também, à revelia do órgão público responsável quanto à possibilidade
de edificar sem a devida licença ambiental. Em suma, todos os atos praticados
pela parte ré demonstram vultoso desrespeito às autoridades ambientais, em
especial, quando ciente da notificação sobre a invasão à mata preservada,
ampliando seu loteamento irregular.

Os fatos podem ser confirmados pelo rol de documentos juntados na peça


vestibular, apontando o local do dano, identificando a parte ré e descrevendo
em minúcias as fases sequenciais de evolução da obra. A melhor doutrina já se
posicionou sobre o tema, vejamos:

"Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. O direito ao


meio ambiente equilibrado é de cada um, como pessoa humana,
independentemente de sua nacionalidade, raça, sexo, idade, estado de saúde,
profissão, renda ou residência. (...) Por isso, o direito ao meio ambiente entra na
categoria de interesse difuso, não se esgotando numa só pessoa, mas se
espraiando para uma coletividade indeterminada." (MACHADO, Paulo Afonso
Leme. Direito ambiental brasileiro. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 116)

O Código Civil Brasileiro discorre acerca da possibilidade de demolição de obra


que prejudique o interesse social, leia-se meio ambiental saudável e preservado
para futuras gerações, in verbis:

“Art. 1.280. O proprietário ou o possuidor tem direito a exigir do dono do prédio


vizinho a demolição, ou a reparação deste, quando ameace ruína, bem como que
lhe preste caução pelo dano iminente.”

No caso em apreço, o proprietário da área preservada natural é a sociedade


como um todo. Não há dúvida, conforme amplamente demonstrado no
procedimento administrativo que instrui a inicial, de que houve lesão ao meio
ambiente, na medida em que a requerida descumpre o embargo da obra e,
sobretudo, amplia seu loteamento sem a devida licença ambiental.  A
jurisprudência pátria caminha nesse mesmo sentido, in verbis:

Apelação. Ação   demolitória.  Construção  em  área    de  preservação


permanente. Irregularidade   que   não   se   convalida. 1. O direito   de   edificar   é
relativo, não   havendo, por isso, direito adquirido à  construção  irregular dentro
de  área  de   preservação  ambiental. 2. A   matéria   concernente   ao   uso   e
ocupação   do solo possui natureza cogente e impositiva, subordinando os atos de
natureza particular e os fatos jurídicos, ainda que continuados por longo período.
3. Impossível reconhecer direito a edificações em local de  preservação  sob o
argumento de que deve a municipalidade garantir moradia aos cidadãos, bem
como pelo fato de ter permitido ocupação por longo período. 4. Apelo
provido.  TJ-RO - Apelação APL 00064376720118220007 RO 0006437-
67.2011.822.0007 (TJ-RO)  -  Data de publicação: 28/10/2015.

RECURSO    DE  APELAÇÃO  EM  AÇÃO    DEMOLITÓRIA. MEIO  AMBIENTE.


ADMINISTRATIVO. INTERVENÇÃO NÃO  PASSÍVEL DE REGULARIZAÇÃO.     
INEXISTÊNCIA DE ALVARÁ.  ÁREA  DE   PRESERVAÇÃO  PERMANENTE. 
CONSTRUÇÃO  DE RANCHO COM BANHEIRO.      Área    de      preservação    
permanente      em    que  se    constata      supressão de vegetação nativa, sem 
autorização  dos  órgãos  ambientais competentes,  bem  como   a 
impermeabilização  do    solo. Necessidade  de  cessar as atividades
degradadoras ao meio ambiente e demolição da  construção  existente no local.
Sentença mantida. Aplicação do art. 252 do Regimento Interno deste E. Tribunal
de Justiça. Recurso desprovido -  TJ-SP - Apelação APL 00020036420088260642
SP 0002003-64.2008.8.26.0642 (TJ-SP)  Data de publicação: 17/09/2015.

DEMOLITÓRIA  Construção  em  área  de  preservação  permanente  Impossibilidade


de regularização Sentença que reconheceu a possibilidade da Prefeitura demolir e
cobrar despesas correspondentes Multa cominatória desnecessária - Recursos não
providos. -  TJ-SP - Apelação APL 00112866020038260554 SP 0011286-
60.2003.8.26.0554 (TJ-SP)  -  Data de publicação: 13/03/2014.

DAS MEDIDAS ACAUTELATÓRIAS

Para que se evite o agravamento do dano ao Erário é fundamental uma


intervenção liminar do Juízo.

Afinal, já restou cabalmente demonstrado no processo administrativo nº ……,


que a  parte requerida cometeu grave dano ambiental, invadindo área
ambiental protegida por lei, motivo pelo qual, insiste na construção de seu
loteamento irregular, sem a Licença Ambiental exigida pelo órgão público
competente.

Com isso, torna-se imprescindível que esse MM. Juízo se digne determinar que
a parte ré, no prazo razoável de 30 (trinta) dias, proceda a obrigação de demolir
seu loteamento irregular, demolição esta que deve ser custeada pela própria
parte ré e, na hipótese de inércia contumaz dentro do trintídio, que o Poder
Público possa realizar a demolição informada, com posterior cobrança
destinada a parte requerida referente às despesas efetuadas.
Portanto, há dano ambiental e necessidade de urgente demolição da obra
(Loteamento Irregular), pois a parte ré além de permanecer inerte amplia sua
obra agravando a possibilidade da morte da área ambiental protegida.

Nestes termos, com o intuito de assegurar a integral reparação do dano ao


meio ambiente, também se faz necessário impor o bloqueio cautelar dos bens
da parte Ré e autorização para que, no prazo de 30 (trinta) dias, o Poder Público
proceda a imediata demolição da obra que não foi licenciada pelo órgão
ambiental.

Acerca de garantia do ressarcimento do dano, o artigo 942 do Código Civil


dispõe que os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de
outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado e, se tiver mais de um autor
a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação.

O conjunto da legislação citada, que se ajusta com perfeição ao caso, torna


indeclinável o dever de ressarcir o dano ambiental, ensejando a presença
do fumus boni iuris, e mais: quando a atuação ilegal, além do dano ao
patrimônio natural, pretende-se estancar futuras obras de loteamentos
irregulares – como ocorreu no caso concreto.

Por isso, a medida cautelar almejada mostra-se indispensável, considerando não


apenas o significativo estancamento da obra e recomposição dos prejuízos, mas
também a real possibilidade de dilapidação do patrimônio natural destinado às
gerações futuras e a consequente ineficácia do provimento jurisdicional
principal. O perigo da demora é presumido, inerente à própria relevância do
direito material violado.

PEDIDOS

Ante todos os fatos e o direito acima exposto, requer de Vossa Excelência:

1 - Deferir, inaudita altera pars e sem justificação prévia, medida acautelatória


liminar determinando-se a imediata autorização ao Poder Público para proceder
a demolição da edificação realizada pela parte ré (Loteamento Irregular
apontado no Processo Administrativo), caso o réu quede-se inerte no prazo de
30 (trinta) dias após notificação;

2 - O bloqueio de bens do requerido, até o limite de R$ VVVV (… reais),


determinando-se para efetivação da medida:

 2.a) Por meio do Sistema BACENJUD/TJES, a todas as instituições financeiras


sediadas no País, de forma automática, que procedam à indisponibilidade dos
valores creditados à conta da requerida, bem como dos valores mantidos, em
seu nome, em fundos de investimento de todo o gênero, até o valor acima
referido;

2.b) A expedição de ofício aos Cartórios de Registro de Imóveis dos Municípios


de ……………, noticiando a decretação de indisponibilidade de bens da requerida,
bem como requisitando informações sobre a existência de bens imóveis em seu
nome;

2.c) A expedição de ofício ao DETRAN, via sistema RENAJUD, noticiando a


decretação de indisponibilidade de bens da parte ré e determinando o bloqueio
de veículos registrados em nome desta; 

3 - E ainda, que esse MM. Juízo se digne determinar o embargo judicial do


direito de edificar no local apontado nos Autos de Infrações anexos nesse
petitório inaugural, sob pena de multa diária;

4- Proceda a intimação do ilustre representante do Ministério Público;

5 - Por fim, requer o recebimento da petição inicial e sucessiva determinação da


citação da parte ré para, caso queira, apresentar defesa no prazo legal sob pena
de revelia, devendo o pedido ser julgado procedente, condenando a parte
adversa à demolição de sua edificação que invade Área de Preservação
Permanente - APP, devendo ser recomposta integralmente o bioma e
ressarcimento integral do dano a ser apurado, correspondente às multas
infracionais de estampadas nos Autos de Infrações que encontram-se juntados
na presente ação, além de imputar o eventual custo que o Poder Público terá
para realizar a demolição da obra, com deslocamento de máquinas e retirada de
entulhos (trator, escavadeira, etc).

Que seja condenada a parte ré ao pagamento das custas, despesas processuais


e honorários advocatícios, na forma da lei.

Protesta e requer provar o alegado por todos os meios de prova em direito


permitidos e, se necessário for, a juntada posterior de documentos.

Dá-se à causa o valor de R$ …………,00 (………… reais), estimado para


recomposição integral do dano ambiental.

Termo em que, pede e espera deferimento.

Data e assinatura.
Data da conclusão/última revisão: 30/04/2020

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