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LONGA-METRAGEM DE FICÇÃO ​IGUARAGUÁ

V.4

SINOPSE:

Na praia da Redonda, localizada no município de Icapuí, litoral do Ceará. Aira (30), mulher
cis, negra, lésbica, trabalha com a reintegração de um peixe-boi ao mar e quer inaugurar
um centro de aclimatação de animais marinhos. Leonardo (33), homem cis, branco, quer
construir uma fazenda de camarões nessa mesma praia. Apesar das diferenças, ambos têm
em comum uma forte relação com Lúcia (60), mãe de Aira e funcionária doméstica de
Leonardo desde quando ele era um bebê. Em meio a essas disputas territoriais, coisas
estranhas acontecem na cidade. As misteriosas bruxas do mar, lenda fantástica daquele
litoral, começam a ajudar Aira na sua luta pela natureza.

ARGUMENTO:

Fim do dia na praia da Redonda, em Icapuí, litoral cearense. A praia está deserta. A
CRIANÇA MENINA, uma criança negra de 6 anos, nada desesperada sozinha no meio do
mar aberto. Não há nada e nem ninguém além da garota por ali, apenas uma imensidão
azul sufocante.

AIRA, negra, 30 anos e sua companheira ALICE, branca, 34 anos, brigam na casa delas.
Elas discutem. Aira se senta no sofá e bufa com raiva tentando se acalmar. Alice acusa Aira
de não dar a devida importância ao relacionamento delas e de deixar os cuidados com ela e
com a casa em detrimento do seu trabalho no Centro de Preservação. É a gota d'água.
Orgulhosa, Aira decide ir embora de casa, ela pega suas coisas e vai embora.

Criança menina continua nadando, ela está começando a se cansar, seu desespero só
aumenta. A garota começa e engolir água sem querer. Sons arrepiantes passam por ela.
Então, ela insiste em nadar mais.

Aira no seu escritório no Centro de Preservação de Animais Marinhos da Redonda. Ela


trabalha normalmente, muito guerreira, afrontosa e prática. Mas, ao seu redor, estão caixas
e objetos que remetem a sua “mudança repentina”. Ela recebe ligações do Leonardo, mas
as ignora. Uma reunião começa, alguns colegas perguntam se ela está bem, mas Aira não
se abala. Ela é importante ali e permanece firme. Aira é bióloga e está coordenando a
abertura do Centro de Aclimatação, local para onde levarão Iguaraguá, uma peixe-boi que
será reintegrada ao mar em breve. Nesta reunião, Aira, engenheiros e outros homens que
levam a obra junto dela conversam sobre algumas problemáticas, falta de mão de obra e
como principalmente, a construção da fazenda de camarões de Leonardo tem diminuído os
investimentos no Centro de Preservação. Estão enfrentando uma crise de recursos em um
momento importante devido a uma nova política que beneficia a atividade pesqueira na
região. Aira conduz a reunião de maneira firme e confiante. Ela afirma com muita certeza
que dará tudo certo. Um dos biólogos comenta que além disso, é necessário resolver a
questão do transmissor de monitoramento de Iguaraguá. Aira está concentrada na reunião,
mas seu telefone não pára de tocar. Contudo, ela não se abala e parece dar conta de tudo.

Fim do dia. Aira vai até a casa de LÚCIA sua mãe, 65 anos, com suas coisas. Antes de
entrar, ela percebe um carro estilo Hilux estacionado em frente à casa, então, para
imediatamente. Ela observa e vê pela janela que sua mãe está recebendo visitas. Ela ouve
Leonardo e Daniela jantando com ela, eles estão se divertindo. Aira olha para seu telefone,
vê as várias chamadas perdidas de Leonardo, homem cis branco, 33 anos. Ele e Daniela
são casados, ela tem 30 anos e é uma esposa exemplar. Ao ver que eles estão ali, ela se
desanima, desiste e vai embora.

Aira está na casa de PENÉLOPE, 30 anos, travesti, negra. Penélope também trabalha com
Aira, elas são amigas de infância. Ela agradece pela amiga ter recebido ela em casa. Elas
conversam sobre a vida, uma intimidade gostosa. Penélope apoia Aira num clima de
carinho e cumplicidade. Um indicativo de clima mais afetivo começa a aparecer, elas se
abraçam, mas Aira recebe uma mensagem de Alice. Alice quer conversar. Elas decidem se
encontrar.

Praia a noite. Aira e Alice conversam enquanto caminham pela beira-mar. A praia está
deserta, é muito escura e o mar parece imenso. Aira vê um corpo na areia ao longe, ela
corre preocupada até ele. Alice fica para trás sem entender o que está acontecendo. Aira se
aproxima do corpo e vê Criança menina desacordada com longos cabelos negros e crespos
enrolados em suas pernas. Aira observa o corpo assustada. De repente, a Criança menina
tosse espirrando água e acorda, ela começa a retirar cabelos de sua garganta enquanto
encara Aira. Aira fica perplexa. O clima é de tensão.

Imagens da praia escura a noite. Uma luz pisca ao longe no mar. O som da praia vai
mudando fazendo também a transição de uma cena de tensão para outra mais
contemplativa.

Amanhece e não é mais possível ver a luz que piscava no mar. Na areia, pescadores
empurram barcos para o mar, crianças brincam correndo na beira-mar. Uma senhora passa
pela praia vendendo doces. ALTEMAR, homem negro, 66 anos, pescador da comunidade,
limpa seu barco e tira tufos de cabelo do motor.

Aira está em uma reunião complicadíssima com engenheiros sobre os prazos finais para a
conclusão do Centro de Aclimatação. Os prazos estão chegando ao fim e as obras seguem
a todo vapor. Aira coordena a equipe e todos estão mais animados por estarem
conseguindo dar continuidade a tudo em meio às dificuldades.
A reunião acaba, alguns colegas e engenheiros saem para o hall, a porta da sala de
reuniões é aberta revelando Alice esperando por Aira no hall. Ela está desesperada, com os
olhos cheios de lágrimas. Aira vai em direção a Alice, mas um engenheiro a interrompe. Aira
dá atenção a ele. Alice fica chocada. O engenheiro pressiona Aira sobre a mão de obra da
construção. Alice vai embora.
Depois, na rua do Centro de Preservação, Aira e Alice conversam. Alice está muito nervosa,
chorando, diz que, naquela manhã, um turista desapareceu e a cidade inteira está
procurando por ele. Enquanto tenta acalmar Alice, Aira percebe que do outro lado da rua
está Leonardo conversando com os seus engenheiros, aquilo chama a sua atenção. Ela se
distrai e diz qualquer coisa a Alice para consolá-la. Mas Alice percebe e elas brigam de
novo. Aira não consegue disfarçar o incômodo em ver Leonardo conversando MUITO
amigavelmente com os engenheiros, aquilo incomoda ela mais que sua briga com a
namorada. Leonardo e Aira cruzam olhares, Leonardo se despede dos engenheiros e vai
falar com Aira. Leonardo chega cumprimentando Aira e já comentando que ela não foi na
casa de Lúcia na noite anterior jantar com eles. Alice ouve aquilo e fica chocada que Aira
não dormiu na casa da mãe. Indignada, ela comenta ironicamente ter ficado curiosa em
saber "onde e com quem" Aira passou a noite. Ela se despede deles e vai embora.
Leonardo faz uma brincadeira com Aira para cortar o climão e convida ela para ir jantar com
eles essa noite, faz uma chantagem emocional sobre Lucia.

É noite e todos estão jantando na simples sala de jantar da casa de Lúcia. Ela mora em
uma pequena casinha que fica aos fundos da mansão de Leonardo. Durante o jantar, Aira
mexe nos talheres mas não toca na comida. Leonardo tenta chamar atenção de Aira e
começa falar sobre seu retorno a cidade e a retomada dos negócios do pai. Emocionado,
Leonardo lembra da morte do pai e Lúcia o consola, dizendo que ele não está sozinho. Em
meio às lembranças de Leonardo, Aira vai ficando cada vez mais impaciente e irritada
enquanto num movimento de raiva ela começa pressionar o garfo e entortá-lo. Ela começa
cortar as cabeças dos camarões do prato, quase destruindo a comida e acaba se sujando.
Aira levanta da mesa e vai ao banheiro se limpar. Na casa objetos e fotos de família vão
despertando cada vez mais um estado de transe e mediunidade de Aira. No banheiro,
enquanto ouve Leonardo ao fundo, Aira vê algo estranho entrando no ralo e se assusta. A
partir daí um som de água no ouvido começa incomodar Aira. Na volta do banheiro Aira
está um pouco pálida, Lúcia comenta com Aira que sabe sobre Alice e insiste que Aira vá
morar com ela. O som da água se sobrepõe a voz de Lúcia. Aira se sente confusa e
incomodada com os sons e a insistência da mãe. No fim do jantar, Leonardo comenta com
Lúcia que irá fazer um almoço incrível na casa dele para ela. Aira sente raiva de Leonardo e
uma substância viscosa amarelada escorre de seu ouvido. O som bizarro de água para.
Quando o casal vai embora, Aira diz para sua mãe que irá morar com ela, mas avisa que
será sob a condição de Lúcia maneirar nos encontros com Leonardo. Ela o quer longe de
sua mãe.

Dia seguinte, na casa de Penelope, Aira está arrumando suas coisas. Penélope pergunta se
ela tem certeza que vai pra lá. Aira meio derrotada diz sim. Penélope mostra uma garrafa de
vinho e diz que elas precisam aproveitar a última noite como colegas de quarto. Elas
conversam sobre a vida, de repente estão conversando sobre trabalho. Sobre Iguaraguá e
seu transmissor de monitoramento que está quebrado. A conversa entre elas flui com muita
facilidade. É divertido de ver. Outros amigos chegam na casa com mais garrafas de bebida.
Eles se divertem e continuam num clima bom.

Leonardo e Daniela curtem a praia. Leonardo conversa com alguns pescadores enquanto
mostra sua prancha de sup. Daniela toma um drink enquanto se bronzeia. Daniela não
consegue ouvir o que Leonardo conversa com os pescadores, o som do mar é alto.

Enquanto isso, Aira e Penélope estão visitando Iguaraguá. Elas conversam perto do tanque
onde está a peixe-boi. Penélope anota dados em um tablet. Elas comentam que o turista
ainda não foi encontrado. Aira afirma que o pior ainda está por vir e que se preocupa com
sua mãe, ela diz que no fim vai ser bom passar um tempo morando junto da mãe. Penélope
apoia a amiga.

Primeira noite de Aira na casa de Lúcia. Elas jantam juntas. Lúcia diz que vai ajudar Aira
organizar as coisas. Leonardo liga para Lúcia que atende o telefone no meio do jantar. Aira
se irrita, termina de comer e sai da mesa. Quando Aira entra em seu antigo quarto que ao
longo do tempo virou um amontoado de coisas, ela vê a Criança menina deitada na cama,
com uma aparência horrível, febril. Aira leva um susto, fica com medo, volta para chamar
sua mãe, ninguém responde. Quando volta para seu quarto, não tem mais ninguém. Aira
abre a janela. Não sabe o que fazer, coloca o colchão no chão do quarto e dorme ali com
medo.

Na manhã seguinte, Penélope está numa encruzilhada com um tablet nas mãos a procura
de onde vem o sinal do transmissor de Iguaraguá, é uma busca interminável e muito
misteriosa.
Enquanto isso….
Escritório da mansão de Leonardo, Lucia faz a faxina enquanto ele abre documentos
enormes com plantas e maquetes, ele comenta orgulhoso sobre o avanço da construção
dos viveiros e como será a incrível fazenda de camarão, fala de seu pai. Lúcia conversa
com Leonardo sobre o pai dele. Mas, diferente do jantar, dessa vez Lucia tem um discurso
um pouco diferente sobre o pai de Leonardo. Ela fica atenta aos documentos, de forma
misteriosa, intrigada em saber mais em que ponto está a construção da fazenda. Daniela
entra no escritório e pergunta se Leonardo quer ajuda. Ela pede que Lúcia dê uma
organizada nos armários da cozinha.
Enquanto isso…
Aira se joga no mar, ela está com roupas de mergulho. Altemar está em um barco ali perto e
ele fica observando.
Enquanto isso…
Voltamos para Leonardo e Lúcia, eles conversam sobre o afogamento do pai de Leonardo,
o quanto o mar é perigoso e traiçoeiro, mas também pode ser justo.. um clima de suspense
é criado por Lúcia… ela está MUITO estranha. Leonardo fica apreensivo.
Enquanto isso…
Imagens da Aira mergulhando no mar. Imagens do fundo do mar.
Aira volta para a superfície. Aira e Altemar têm uma conversa misteriosa. Ele conta de
quando era jovem e o primeiro afogamento aconteceu ali. Foi com um amigo dele. Aira
ainda está dentro da água. Altemar conta alguma história de pescador. Ela pergunta de
onde vem a história dos peixes-bois e ele conta que os peixes estão ali há muito tempo e na
hora de culpar alguém pela morte, os pescadores culparam o peixe, criando a lenda de que
o peixe-boi abraça as pessoas as levando para o fundo do mar. Altemar conclui que alguns
moradores já haviam se encontrado com as bruxas, ele inclusive. Eles conversam sobre a
morte e sobre como aquele lugar já passou por tantas coisas. Ele fala do mito das Sirênias
e de como Lúcia é uma mulher importante no equílibrio da comunidade. Aira fica um pouco
desconfiada e desacreditada desse discurso.

Aira volta chega em casa e encontra Lúcia e Penélope conversando misteriosas. Ela se
surpreende com sua amiga já estar ali nesse clima de confidencialidade. Ela se arruma no
quarto enquanto escuta Lúcia e Penélope conversando e rindo. Aira e Penélope saem de
casa.
No centro de Aclimatação, Aira alimenta Iguaraguá enquanto conversa com Penélope.
Penélope conta que não está conseguindo entender o comportamento do transmissor, que
precisará de mais dias para investigar. Aira observa Iguaraguá e pergunta se a amiga
acredita no poder dos peixes bois de matar com um abraço. Aira está fascinada com isso.
Penélope reage dizendo confiar sim no poder das bruxas e faz insinuações sobre a relação
das bruxas com a comunidade local. Aira fica mais instigada com o assunto.

Durante a noite. A luz misteriosa pisca no mar. Aira está no seu quarto da casa de Lúcia.
Ela fuma um cigarro olhando a luz piscando no mar pela janela. A mãe entra no quarto e
pergunta porque o colchão está no chão. Aira ri dela mesma enquanto mãe e filha colocam
o colchão de volta na cama. Momento de aproximação entre as duas. Aira pergunta da
onde o Altemar inventa tanta história doida. Elas conversam sobre as bruxas do mar.
Enquanto Lúcia conta sobre as bruxas, vemos a Criança menina na praia à noite sentada
na beira do mar. Três SIRÊNIAS estão ao redor dela, são seres femininas negras e gordas,
com seus cabelos enormes e volumosos. As Sirênias chegam perto da criança mas ela não
se assusta. Elas fazem uma espécie de dança-ritual com a menina que a princípio não
entende, mas logo entra na roda e dança com as Sirênias.
Voltamos para o quarto de Aira. Ela e Lúcia continuam conversando. Aira pergunta se ela
acredita nisso. Lúcia assume outra postura em relação ao mito e ao mar. Ela diz para Aira
que “a vida não é útil” e que Aira precisa entender que as coisas tem outras camadas de
complexidade, que as coisas do mar são mais profundas e que os seres que vivem ali estão
mais ligados a elas do que Aira possa imaginar. Aira se surpreende com a conversa e com
a aproximação delas. Lúcia deixa Aira sozinha, ela vai fechar a janela e observa por uns
instantes a luz piscando no mar.
Vemos a casinha de Lucia, a janela de Aira se fechando a luz apagando.
Vemos a praia vazia, escura, as ondas devorando a areia. De repente, um homem adulto
anda em direção ao mar, ele parece hipnotizado. Ele caminha, sem parar para o mar, não
dá para saber quem é esse homem. Ouvimos a música das Sirênias. É o pai de Leonardo
que está em estado de transe.

No dia seguinte, em alto mar, Altemar, dirige uma lancha. Com ele, estão Daniela e
Leonardo. Os três conversam e se divertem até que a lancha colide com algo que vem do
fundo do mar, faz um barulho estranho e pára de funcionar. Daniela e Leonardo se
assustam. Daniela estava fazendo um vídeo pelo celular que cai no chão da lancha. Altemar
pede calma e entra no mar para ver o que houve. Na volta, com um tufo de cabelos pretos e
crespos na mão, tratando a situação com estranheza. Altemar levanta o motor da lancha e
começa a tirar mais cabelos ali de dentro. Daniela assustada observa a cena perguntando o
que está acontecendo. Altemar, misterioso, fala alguma coisa bem baixo. Daniela e
Leonardo não entendem, depois ele diz que está tudo bem e consegue fazer a lancha
funcionar. O passeio segue. Ao chegar de volta a cidade e descer da lancha, Daniela está
nervosa. Ela sai pra comprar água de coco. Na barraca de coco, Daniela precisa esperar o
assunto das atendentes finalizar ou entrar no assunto para ser notada. São duas mulheres
negras, gordas e debochadas. Elas falam do turista desaparecido provavelmente ter
morrido afogado e também falam sobre o abraço do peixe-boi. Daniela fica nervosa e as
interrompe. Enquanto paga, escuta as vendedoras contando do abraço do peixe-boi que
puxa pessoas pro fundo do mar. Daniela fica mais encabulada e assustada.
Enquanto isso, o evento de inauguração do Centro de Aclimatação acontece. Algumas
pessoas, biólogos, políticos e jornalistas locais e de fora estão ali registrando o evento. Aira
faz um discurso. Depois, ainda no evento, quando Aira tem um tempinho, Penelope pede
para falar com a amiga, ela está aflita. Penélope mostra em seu tablet para Aira que a
localização do transmissor de Iguaraguá está indicando o local exato da fazenda de
camarões de Leonardo. Elas se encaram assustadas.

Começo da noite, no quintal da casa de Leonardo estão ele, Daniela e Lucia conversando.
Leonardo água às plantas enquanto eles papeiam. Ele pergunta para Lúcia o que é aquele
pontinho piscando ao longe no mar, Lúcia diz que é para onde Aira levará Iguaraguá, o
centro de Aclimatação. Então, de um jeito meio bizarro, Lúcia comenta com eles que
encontraram o corpo do desaparecido. Ela fala sobre como o corpo estava, cheio de
hematomas, dá detalhes bizarros. Daniela fica perturbada. De repente, a mangueira que
Leonardo usa para aguar as plantas dá um solavanco e a água para. Ele tira um tufo de
cabelos pretos e crespos da mangueira com dificuldade. Daniela fica fora de si.

Na casa de Lúcia, Aira está em seu quarto se preparando para dormir, ela não se sente
bem, toma um remédio e deita na cama indisposta. Ela ouve um barulho vindo da sala.
Como a porta de seu quarto está aberta, ela chama por sua mãe, avisa que tá doente. Não
tem resposta, mas escuta novamente o barulho vindo da sala. Aira estranha, se levanta
curiosa. Da porta de seu quarto, ela vê a sala. A Criança menina está em pé no meio da
sala, fazendo uma dança estranha, ela cantarola a música das Sirênias. Aira leva um susto.
A Criança Menina se vira para olhar Aira, a encara. Com muito medo, Aira fecha a porta de
seu quarto e se tranca. Ela tenta se acalmar, talvez seja sua febre. Ela toma outro
comprimido do remédio e deita na cama para tentar dormir.

Na manhã seguinte, Aira e Lucia tomam café juntas. Aira questiona o que Lúcia foi fazer na
casa de Leonardo, Aira fala que precisou da mãe na noite anterior e ela não estava. Elas
brigam e discutem. Não conseguem se entender. Aira se sente fisicamente mal, não
entende o que está acontecendo com o seu corpo. Se entope de remédios. Lucia briga com
ela, diz que ela tem que aceitar seus processos e que deve descansar. Aira acha que a mãe
é louca. Diz que aquele é um dos dias mais importantes da vida dela. Fala que a mãe não
consegue entendê-la, joga na cara que a mãe apoia mais Leonardo e seu trabalho
assassino. Aira vai para o trabalho entupida de remédios e avisa para a mãe que não vai
voltar aquela noite.

Mais tarde, Leonardo está com sua equipe de engenheiros no estuário do manguezal
falando sobre a construção da fazenda de camarões. Ele mostra orgulhoso as plantas em
papel que eram de seu pai. O engenheiro chefe abre um sorriso estranho, diz que é uma
obra incrível. Leonardo fica meio desconcertado com a reação, mas tenta sempre continuar
cativante e amável. Os olhos dele brilham.
Iguaraguá nada sozinha no centro de aclimatação. Imagens da peixe-boi e do fundo do mar.
Fim de tarde, Aira está na casa de Penélope, elas brindam e comemoram o sucesso da
reintegração de Iguaraguá. É um jantar de comemoração. Um jantar bastante íntimo. Elas
se divertem muito. Elas transam.

Naquela mesma noite, Leonardo está deitado em uma rede sozinho do lado de fora da
casa. Leonardo percebe um vulto de longe e levanta-se para ver. Sai da casa em busca do
vulto. Venta forte na praia. Ele entra no mar vestido com a roupa, só tira a camiseta quando
as ondas batem em suas canelas. Quando ele se aproxima de onde as ondas quebram, as
Sirênias surgem na sua frente. São três mulheres negras e gordas. Estão nuas. São seres
mágicos do mar. Elas hipnotizam Leonardo com sua beleza e dizendo coisas que ele não
compreende. Ele volta do mar meio perdido, tonto.

No dia seguinte, Aira e Penélope tiram um dia juntas para se divertir. Elas passeiam por
uma região de mangue. Aira relembra sua infância naquele lugar. Sentadas numa pedra
perto de uma falésia elas conversam e fumam um baseado.
Aira e Penélope visitam Iguaraguá. Agora ela já está no mar. dentro do cativeiro. Elas estão
em cima da plataforma que balança um pouco.

Mais tarde, as duas passeiam de barco com Altemar no meio do mar. Eles passam por um
píer antigo, todo deteriorado em que duas crianças brincam sozinhas. Quando Aira olha
para o píer, sua expressão muda no mesmo instante. Ela fica séria e parece estar delirando.
Ela continua observando as crianças, que brincam se empurrando de uma maneira um
pouco violenta. Penélope fica preocupada com Aira, que ainda está em um transe bizarro,
Altemar acalma Penélope falando que vai dar tudo certo.
Iguaraguá nada sozinha dentro do centro de aclimatação.
Mais tarde, Aira e Penélope vão de moto até a fazenda de camarões de Leonardo. Aira
invade o local e retorna com uma mala preta na mão. Aira comenta sobre a construção dos
viveiros que está prestes a começar. Elas vão embora.

Iguaraguá no fundo do mar, fora do cativeiro.


No pier, as crianças continuam brincando. Uma delas é a Criança Menina. A outra é um
garotinho. O garotinho vira para a menina e diz que ela não é nada, tentando ofendê-la.
Criança menina responde “eu sou a verdadeira filha da Lucia”. O menino fica tão ofendido
que empurra Criança Menina do pier. Ela cai e se perde no mar. O menino se desespera,
não queria ter feito aquilo, ele grita por ela “Airaaa” “Airaaa”. É revelado que Criança menina
é Aira e o menino é Leonardo. Aira criança grita de volta por ajuda. Leonardo fica nervoso,
sai correndo para buscar ajuda.

Aira criança é levada pelas marés, tenta nadar sozinha. Cenas do começo do filme.
Iguaraguá continua nadando no fundo do mar. Anoitece...

Anoitece…. Aira na praia deserta, ela está de frente para o mar. As Sirênias surgem. Aira
abre a mala e retira um frasco de dentro com o couro da cabeça de Leonardo, seu cabelos,
é uma coisa escatológica. Aira Criança aparece do fundo do mar entre as Sirênias. Aira
adulta entrega para uma delas e pede que finalizam rapidamente o acordo. Aira criança se
arrasta para a beira do mar, seu corpo enrolado de cabelos, ela se deita exatamente na
posição em que estava na cena do começo do filme. As Sirênias entram no mar e
desaparecem.

Mais tarde, Daniela encontra o corpo de Leonardo no chão da casa de praia com a cabeça
escalpelada. Desesperada ela chama Lúcia. Não tem resposta. Desesperadamente grita
sem parar. Novamente sem respostas, Daniela sai atrás de ajuda pela cidade. Mas ninguém
responde por ela. Ela se perde no meio das ruas vazias.
Aira e Penélope dormem juntas de conchinha. Aira comenta com Penélope que sempre
soube que um peixe salvou sua vida, então ela beija a nuca de Penélope com carinho.
Enquanto isso, Lúcia e Altemar levam o corpo de Leonardo para o barco de Altemar, que
zarpa para o mar deixando Lucia na praia deserta. Lucia caminha pela beira da praia. Ela
encontra uma Sirênia. Elas se aproximam e se beijam. Lúcia diz que levou o pai e sua filha
levará o filho. A Sirênia agarra ela com mais desejo, Lúcia corresponde com tesão.
Elas começam uma transa delicada e estranha ali mesmo.

FIM

PERFIL DAS PERSONAGENS:

Sirênias​: Seres que vivem na praia da Redonda há muitos anos. Os cabelos das Sirênias
são enormes e volumosos e suas escamas extremamentes brilhantes e aparentemente
cortantes. Antigamente, quando os homens iam pescar e passavam dias em alto mar, as
Sirênias saíam do mar e vinham guardar a cidade e celebrar com as mulheres que ficavam
na Ilha. As Sirênias e as mulheres da pequena comunidade de Praia da Redonda,
construíram entre si uma espécie de relação mútua de companheirismo e permanência
naquele lugar. Umas guardam o mar, outras a praia. Na primeira noite que os pescadores
saíam, as mulheres começavam a se preparar, preparavam a casa e antes da lua nascer
iam até o estuário e entravam na água. Levavam as Sirenias para suas casas e numa
espécie de transe realizavam um ritual no qual elas transavam. Nesse momento, as
Sirênias se tornavam um corpo metade humano com um enorme rabo de peixe. Após a
transa, algumas mulheres engravidavam, mas todas perdiam o bebê. Antigamente, as
mulheres que não engravidavam eram visitadas pelas Sirênias eternamente e eram
mulheres que acabavam assumindo papéis de importância social e política na comunidade.
Os colonizadores foram chegando ali e as Sirênias, com ajuda de algumas mulheres, foram
impedindo que permanecessem. Hoje em dia, com tantos bares e pousadas, as Sirênias
viraram apenas um mito, uma lenda, mas há quem ainda se encontre com elas. Nas noites
mais vazias, em que a maré está alta, elas vão chegando mais perto da praia. Algumas
mulheres se preparam para recebê-las.
Para tomar e marcar o corpo dos humanos que vão agir por/com elas, as Sirênias
costumam visitar e proteger esses humanos desde crianças. E eles acabam criando um
forte vínculo com elas. Tudo começa com uma aproximação que pode ser ocasionada por
diversos motivos. A partir daí, febres, delírios e feridas surgem nos corpos dos humanos
marcados, essa doença é curada após longos banho de mar.
Aira é uma das marcadas pelas Sirênias, mas por conta de complicações em sua criação,
ela perdeu esse vínculo com as bruxas do mar. Quando criança, depois de um quase
afogamento, Aira foi salva por uma Sirênia. Ela adoeceu e foi iniciada, desenvolveu uma
forte paixão pelos seres marinhos a ponto de se tornar uma ativista ecológica, porém, ela
não se lembra direito do que viveu, então, quando adulta, as Sirênias passam a tentar
restabelecer uma conexão com ela.

Aira​: Mulher negra, cis, lésbica que nasceu e foi criada na Praia da Redonda. Aira foi
marcada pelas Sirênias e tem uma forte relação com este território e com as pessoas do
lugar. Ela se distancia das Sirenias e de toda mitologia, mas seu amor pelo mar e pelos
seres marinhos a levaram a se transformar numa ativista ambiental, bióloga que trabalha na
preservação da vida de animais em extinção, especificamente, o peixe-boi. A partir da morte
do pai de Leonardo, eles começam se distanciar. Antes muito amigos, começam se separar
e com o crescimento da garota, as questões de classe passam a pulsar e pautar a relação
deles. Aira se tornou uma mulher forte que carrega consigo a necessidade de trabalhar
muito e de tentar ajudar sua mãe financeiramente. A ambição de Aira a distancia também
da mãe, Dona Lúcia. A relação de Aira com o trabalho e com sua imagem transforma Aira
numa mulher que não está conseguindo dar muita importância às suas relações afetivas, o
que a faz estar vivendo o fim de um relacionamento com Alice. Os traumas e vivências de
Aira vão ser trabalhadas a medida que ela estabelece essa reconexão com as Sirênias e
com sua ancestralidade.

Leonardo​: Homem, branco, cisgenero, casado com Daniela. De família rica, ele nasceu na
Praia da Redonda, apesar de sua família não ser dali. Leonardo está dando continuidade
nos negócios do pai muito numa tentativa de também re-estabelecer uma conexão com
essa figura que ele tanto se espelha, mas que perdeu muito cedo. Leonardo é querido por
grande parte da comunidade local, por figurar muito uma noção de ser aquele que traz
progresso para a cidade. Ele é um cara extrovertido, inteligente e em muitos aspectos
generoso. Criou uma relação de amizade e afeto com Lúcia. Eles são muito parceiros.
Leonardo desenvolve esse empreendimento de degrada o ambiente marinho e em especial
os estuários que servem de berçário para os peixes-bois e isso tensiona mais ainda sua
relação com Aira. Ele introjetou desde pequeno uma suposta culpa de Aira na morte do seu
pai por ter sido ela, a pessoa a encontrar o pai morto, isso fez com a grande amizade entre
eles, foi se transformando em distância.

Lúcia​: Mulher negra, cisgênero, 65 anos, trabalhadora doméstica, nascida na Praia da


Redonda. Lúcia teve uma infância muito linda na praia, quando aquele lugar era ainda muito
pouco explorado. Isso fez com que Lúcia se tornasse uma pessoa muito simples e pouco
ambiciosa. Lúcia conhece as Sirênias e de certa forma, faz um jogo duplo, por saber que
Leonardo e seus negócios destroem a natureza. Apesar disso, por ter visto o menino nascer
e ter participado de sua criação, ela também acaba criando um laço de afeto com ele. Lúcia
respeita a filha, mas a relação das duas é cheia de tensões.

Penélope​: É Travesti, lésbica, negra e tem 32 anos. Penélope é uma profissional


reconhecida e estabelecida na área de tecnologia e é diretora da equipe técnica do centro
de preservação de animais marinhos. Ela nasceu na Praia da Redonda, mas passou um
tempo nos Estados Unidos estudando. Chefe do departamento de tecnologia já há alguns
anos, ela mantém uma relação de muito amor e pertencimento ao território da praia da
Redonda. Penélope tem uma relação misteriosa com Lúcia, o que gera desconfiança de
Aira. Logo em seguida a trama revela que Penélope também está envolvida com as
Sirênias e age como tutora da reconexão de Aira com as seres mitológicas. Durante a
narrativa, Penélope vive uma troca afetiva com Aira, sendo uma das pessoas mais próximos
de Aira durante o desenrolar da trama.

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