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ESTADO NA MODERNIDADE
INTRODUÇÃO: O PROJETO DA MODERNIDADE E OS DIREITOS
FUNDAMENTAIS
1
Sujeito: do ponto de vista da teoria do conhecimento, o sujeito é a consciência, atividade sensível e intelectual dotada
do poder de análise, síntese e representação. O sujeito se reconhece como diferente dos objetos; cria e descobre
significações, institui sentidos, elabora conceitos, idéias, juízos e teorias. É dotado da capacidade de conhecer-se a si
mesmo no ato do conhecimento, ou seja, é capaz de reflexão. É o entendimento propriamente dito.
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Disciplina: Fundamentos de Ciências Políticas – Professora: Odila Valle de Carvalho Oliveira
não se expõem aos adversários, pois não são chamados a expressar as próprias
opiniões. Na democracia, o risco da perseguição é grande, pelo motivo inverso.
Ao tratar, por outro lado, do tema da propriedade, o filósofo a considera direito
civil e não natural, porque no estado de natureza, no qual prevalece a lei do mais
forte, não há como preservá-la. O que existe é apenas posse temporária, precária,
que só se mantém enquanto o indivíduo tem forças para tal. Apenas a existência
do Estado e da lei civis garantirá a propriedade de modo permanente.
O jus-naturalismo moderno incorpora-se igualmente às doutrinas de tendência
individualista e liberal, ao enfatizar a necessidade de respeito por parte das
autoridades aos direitos naturais, que são declarados direitos inatos do indivíduo.
John Locke pensador fundamental do liberalismo, preocupado com os sérios
conflitos políticos e religiosos que marcam a história inglesa de seu tempo, busca
responder a uma questão central: como conciliar teoricamente a liberdade dos
cidadãos com a manutenção da ordem política?
Do mesmo modo como Hobbes, Locke considera o estado natural não apenas
como construção teórica. Em sua teoria, ele existiu e continua existindo. No
entanto, ao discorrer sobre esse estado, Locke não o considera uma situação de
violência, já que nele as pessoas são submetidas à lei da natureza, que é a
razão. Quem agride outro está indo contra as leis naturais, renunciando à razão e
dando aos outros o direito de castigá-lo. A luta, quando existe, não é de todos
contra todos, mas a dos seguidores da natureza contra os seus transgressores. O
problema é que, no estado natural, cada um é juiz em causa própria, o que
constitui motivo para desestabilizar as relações entre os homens. Tal
arbitrariedade individual é um dos motivos principais de as pessoas optarem pela
instituição de um Estado civil. Antes disso, sem restrições legais, o indivíduo é
livre no estado natural, ou seja, a liberdade individual é, para ele, direito
natural.
O ponto central sua tese contrária ao absolutismo está na forma como desenvolve
sua teoria de contrato social que, em seu entendimento, semelhante ao de
Hobbes, é o que cria e legitima o poder do Estado civil, mas que, diferentemente
da perspectiva do absolutista, é feito entre governados e governante(s), que se
constituem como partes do contrato. O governante não está, assim, acima do
acordo. Locke considera ainda que os direitos naturais dos homens não
desaparecem, quando esses consentem em instituir o corpo político. Ao contrário,
subsistem para limitar o poder confiado ao soberano, o que dá aos governados o
direito de se rebelarem quando os atos do governante não visarem o bem público.
O poder político tem origem parlamentar. Está baseado nas instituições políticas e
não na vontade arbitrária do governante. O legislativo é, portanto, o poder
supremo.
Um traço característico de seu pensamento é o que o estudioso canadense C. B.
Macpherson denominou “individualismo possessivo”, idéia segundo a qual “a
essência humana é ser livre da dependência das vontades alheias e a liberdade
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Segundo Rousseau, o contrato social tem por objetivo encontrar uma forma de
associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado com
toda a força comum, através da qual cada um, unindo-se a todos, só obedece a si
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mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes.2 Afirma ele que liberdade é
“a obediência à lei que nos prescrevemos”, querendo significar que, no âmbito
do Estado, os cidadãos, coletivamente, devem formular as leis. É dessa forma que
o filósofo, adota a perspectiva democrática de liberdade, entendida como
liberdade coletiva, o que permite concluir que, para ele, será livre e soberana a
nação na qual a coletividade for soberana, isto é, naquela em que prevalecer
a vontade geral.
Em relação à questão da propriedade, está claro que Rousseau não lhe atribui a
categoria de direito natural, tal como o direito à liberdade e à igualdade. A
tentativa de seu estabelecimento ocorre como um ato unilateral do primeiro
ocupante ao estabelecer a posse de determinada área de terra. Segundo afirma, o
primeiro que, tendo cercado um terreno, se lembrou de dizer „Isto é meu‟ e
encontrou pessoas bastante simples para acreditar nele, teria sido o verdadeiro
fundador da sociedade civil. Rousseau lamenta que não tivesse surgido outro
indivíduo para desmascarar o impostor, gritando a seus semelhantes que os frutos
são de todos e a terra é de ninguém. Se tal tivesse ocorrido, o gênero humano
teria sido poupado de um sem número de crimes, guerras, assassínios, misérias e
horrores. Refletindo sobre sua origem, Rousseau considera, assim, a propriedade
como degeneração do gênero humano ou do homem natural. Isso não significa,
contudo, que negue sua legitimidade, pois, como afirma, o contrato social e o
estabelecimento das leis tornam o direito de propriedade estável e legítimo.
Inexistente no estado de natureza, a propriedade é entendida por ele como
direito civil, só assegurado pela existência do Estado e da lei.
2
ROUSSEAU, Jean Jacques. Do Contrato Social – Livro Primeiro – Cap. VI- São Paulo: Nova Cultural,
1987.
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O Estado, através da lei e da força, tem o poder para dominar – exigir obediência –
e para reprimir – punir o que a lei defina como crime. Seu papel é a garantia da ordem
pública, tal como definida pelos proprietários privados e seus representantes.
Quanto ao poder executivo, em caso de monarquia, pode ser hereditário, mas o rei
está submetido às leis como os demais súditos. Em caso de democracia, será eleito por
voto censitário, isto é, são eleitores ou cidadãos plenos apenas os que possuem certo
nível de renda ou riqueza.
A Cidadania Liberal
A) AS TEORIAS SOCIALISTAS
(...) São três as principais correntes socialistas modernas: o socialismo utópico; o
anarquismo e o comunismo ou socialismo científico.
SOCIALISMO UTÓPICO
Essa corrente socialista vê a classe trabalhadora como despossuída, oprimida e geradora da
riqueza social, sem dela desfrutar. Para ela, os teóricos imaginam uma nova sociedade onde não
existam a propriedade privada, o lucro dos capitalistas, a exploração do trabalho e a desigualdade
econômica, social e política. Imaginam novas cidades, organizadas em grandes cooperativas
geridas pelos trabalhadores e nas quais haja escola para todos, liberdade de pensamento e de
expressão, igualdade de direitos sociais (moradia, alimentação, transporte, saúde), abundância e
felicidade.
As cidades são comunidades de pessoas livres e iguais que se autogovernam. Por serem
cidades perfeitas, que não existem em parte alguma, mas que serão criadas pela vontade livre dos
despossuídos, diz-se que são cidades utópicas e as teorias que as criaram são chamadas de
utopias. Os principais socialistas utópicos foram os franceses Saint-Simon, Fourier, Proudhon,
Louis Blanc e Blanqui, e o inglês Owen.
ANARQUISMO
O principal teórico dessa corrente foi o russo Mikhail Bakunin, inspirado nas idéias
socialistas de Proudhon. Seu ponto de partida é a crítica do individualismo burguês e do Estado
liberal, considerado autoritário e antinatural. Como Rousseau, os anarquistas acreditam na
liberdade natural e na bondade natural dos seres humanos e em sua capacidade para viverem
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Do ponto de vista das idéias, o panorama é efervescente: além das teorias liberais e
socialistas e da economia política (burguesa) – o teórico idealista alemão Georg Wilhelm
Friedrich Hegel (1770/1831) havia proposto uma filosofia política, a filosofia do direito. (...)
(...) Liberalismo político, liberalismo econômico e idealismo político hegeliano formam
o pano de fundo do pensamento de Marx, voltado para a compreensão do capitalismo e das lutas
proletárias.
Contra o liberalismo político, Marx mostrará que a propriedade privada não é um direito
natural e o Estado não é resultado de um contrato social. Contra a economia política (burguesa,
clássica), mostrará que a economia não é expressão de uma ordem natural racional. Contra Hegel,
mostrará que o Estado não é a idéia ou o espírito encarnados na realidade e que a história não é o
movimento da consciência e de suas idéias.
(...) Marx e Engels observaram que, a cada modo de produção, a consciência dos seres
humanos se transforma. Descobriram que essas transformações constituem a maneira como, em
cada época, a consciência interpreta, compreende e representa para si mesma o que se passa nas
condições materiais de produção e reprodução da existência. Por esse motivo, afirmaram que, ao
contrário do que se pensa, não são as idéias que movem a história, mas são as condições
históricas que produzem as idéias.
*CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia, Ed. Ática, São Paulo, 1995 – 3ª ed. (pp. 408-9)
** Idem (Texto selecionado, com algumas adaptações - pp. 409-422)
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Tradicionalmente, a democracia, como regime político, não era bem avaliada nem
pelos teóricos e filósofos, nem pelos homens “bem nascidos”, que consideravam perigoso o
governo do povo. Essa perspectiva se manteve até quase o final do século XIX. De fato, ainda
nessa época, os pensadores liberais – porta-vozes da visão de mundo da classe burguesa
dominante e formadores de opinião – continuavam a encarar esse regime com restrições, por
entenderem a democracia como prejudicial às liberdades individuais.
A partir, contudo, do último quarto do século XIX, por influência dos movimentos
sociais, que demonstravam o avanço das lutas dos trabalhadores, parte dos pensadores
burgueses introduz ideais democráticos em suas propostas, mostrando, de algum modo,
preocupação com o destino das massas oprimidas. (É o caso, por exemplo, do inglês John
Stuart Mill.) Além dos teóricos, também políticos acabarão aceitando a idéia de incorporar
reivindicações democráticas no Estado liberal.
Outro fato muito enfatizado por alguns e totalmente ignorado por outros é que a
democracia liberal e o capitalismo marcham juntos. A democracia liberal só existe em países
cujo sistema econômico é total ou predominantemente o da empresa capitalista e, com
poucas – e temporárias exceções – todos os países capitalistas contam com um regime de
governo liberal democrático. Como essa correspondência entre democracia liberal e
capitalismo não parece coincidência, é importante examiná-la mais profundamente.
Já nas nações lideradas pela União Soviética e nos países subdesenvolvidos que se
tornaram independentes no pós-segunda guerra, a democracia foi introduzida através de
revoluções contra a sociedade capitalista e o Estado liberal. Os movimentos políticos que
alcançaram o poder nesses países consideravam-se democráticos, recuperando o sentido
original da democracia de governo pelo e para o povo. Povo aqui entendido como as classes
até então oprimidas. Esse sentido foi posteriormente modificado, seguindo uma direção
diferente da verificada no ocidente. É que, enquanto esses movimentos democráticos estavam
no poder, a produtividade característica da tecnologia moderna aumentou de tal maneira que
passou a ser possível imaginar um futuro de abundância para todos. Assim a idéia de
democracia evoluiu, deixando o seu sentido de governo em favor das classes mais
desfavorecidas, para ganhar o significado de governo do povo como um todo,
desconsiderando toda idéia de classe.
Nesse tipo de regime, democracia é definida como “regime da lei e da ordem para a
garantia das liberdades individuais”, compreendendo-se a liberdade como sinônimo de
competição. Convém frisar que se trata de competição em dois sentidos: tanto a econômica,
relacionada à livre iniciativa, quanto a competição política entre partidos que disputam
eleições. A lei é identificada à potência jurídica para limitar o poder político e defender a
sociedade contra a tirania, garantindo governos escolhidos pela maioria. E a ordem é
identificada à potência do executivo e do judiciário para conter e limitar os conflitos sociais. Em
tal concepção, democracia é reduzida a “regime político eficaz, baseado na idéia de cidadania
organizada em partidos políticos, manifestando-se em processos eleitorais de escolha de
representantes; na rotatividade de governantes e em soluções técnicas – e não políticas –
para as questões sociais.” O problema é que tais soluções implicam a idéia de que quem
possui conhecimento está naturalmente dotado de poder de mando. Em função disso, a
política passa a ser considerada uma atividade reservada para administradores políticos e não
uma ação coletiva de todos os cidadãos que não conseguem vê-la senão como algo distante.
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“A democracia é, pois, formal, e não concreta”. (M. Chauí) Isto quer dizer, em outras palavras
que a democracia é aqui entendida apenas um de seus dois sentidos básicos. Abandona-se o
ideal em que um governo democrático deveria inspirar-se, que é o da igualdade, atendo-se,
sobretudo, à observância de regras para que o poder político seja distribuído entre a maior
parte dos cidadãos, ou seja, às regras do jogo.
liberdade de cada um – garantia nitidamente superior à vontade de outro indivíduo, erigido em rei.
É interessante aqui verificar a objeção do absolutista Hobbes a essa idéia.
Sem atribuir importância maior ao tema da liberdade, Hobbes o discute pelo ângulo do
indivíduo. Isso significa que, quando ele compara a liberdade de cada um num Estado democrático
e num monárquico, não está perguntando tanto como se expressa a voz dessa pessoa. (Essa é
uma preocupação democrática, republicana, neo-romana, que não chega a interessá-lo.) Importa-
lhe mais saber como a pessoa é afetada pelas decisões (e/ou perseguições) do soberano. Em
outras palavras: Hobbes dá pouquíssima atenção à preocupação central dos republicanos que
consiste em “eu, cidadão, influir nos assuntos públicos, através de minha voz na Assembléia”. Ele
descrê disso, porque desqualifica a discussão pública, que acontece em sua opinião por meio da
retórica, fonte de equívocos e manipulação.
Suponhamos que, por princípio, eu seja sempre aquele que sofre o peso do poder. Isso
ocorre, ou porque sou súdito de um rei que não me consulta, ou porque, numa assembléia (que,
por definição, comporta pelo menos três membros), eu, sendo um só, sou sempre minoria. A
pergunta de Hobbes é: em que regime padeço menos? (Ele não pergunta: em que regime me
expresso mais.) Padeço menos na monarquia, responde o filósofo. Porque nela, desde que eu leve
uma “retired life”, uma vida retraída ou em retiro, o rei nem pensará em mim, ao passo que, na
democracia, que convida os indivíduos a se manifestarem, posso ser facilmente perseguido pelo
partido vencedor (ao qual “de jure” nunca pertenço, porque, em princípio, sou sempre minoria).
O interessante, nesse jogo desconfiado, é o desprezo pela regra da maioria. É claro que
Hobbes a admite para a democracia, mas nega as bases pelas quais os democratas a exaltam.
A regra da maioria, tal como a conhecemos, vem dos colegiados clericais da Idade Média
que, para decidir em assuntos controversos, faziam prevalecer a vontade da “parte maior e mais
sadia” (‘sanior’) . Não bastava, pois, prevalecer a quantidade: era preciso alegar que ela tivesse
qualidade superior. Mas é daí que se vai acabar chegando à idéia de que a maioria represente o
todo, inclusive os derrotados, ou minoria.
O arremate desse processo está na “vontade geral” de Rousseau, descrita no livro 2º do
Contrato Social, como uma simples regra da maioria, mas que depois, no Livro 4º, é condicionada
por procedimentos (a inexistência de facções e a redução do papel enganador da oratória) que a
convertem quase em revelação da verdade. Deve-se observar que é exatamente essa relação
entre maioria e indivíduo – da ordem de representação ou, no caso de Rousseau, de revelação – o
que Hobbes nega.
Eis o ponto em que o absolutista Hobbes, tão associado ao autoritarismo em função de seu
Estado forte, fornece base ao liberalismo. Para ele existem fatores irredutíveis ao poder comum
(coletivo). No campo democrático, os radicais exigirão que o poder coletivo decida tudo, porque –
representando a maioria – representaria a todos.
A advertência hobbesiana é que, diante do risco de um poder controlar tudo, o decisivo é
uma postura defensiva do indivíduo. E essa, em sua opinião, funciona melhor na monarquia que na
democracia. Por extensão, melhor no conservadorismo do que nas democracias radicais ou
socialistas.
O que, para concluir, permite sugerir que – se a liberdade neo-romana lida com a construção
do social (com todos os riscos que tal construção comporta) – a liberdade dos liberais, como
aparece em Hobbes (seu precursor), talvez tenha mais a ver com a segurança do indivíduo do que
com sua livre iniciativa.
(Texto retirado – e adaptado – de resenha de Renato Janine Ribeiro sobre o livro citado de Quentin Skinner)
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Desta forma, o Estado socialista batendo às portas de boa parte dos Estados
europeus e com a incapacidade do modelo social-liberal de responder de maneira urgente
à crise social e econômica, o mundo assiste ao nascimento dos movimentos nacionalistas
na Europa, Ásia e América.
Não se pode dizer que o fascismo, assim como o nazismo, surge como uma forma
de se evitar o crescimento do socialismo na Europa, mas, sem dúvida, a sua ascensão
definitiva terá um fundamental empurrão do grande capital nacional na Itália, Alemanha e
outros países, evitando com isso que a revolução socialista se expandisse e
comprometesse os interesses deste capital. No livro de Leandro Konder, Introdução ao
Fascismo, o autor demonstra com clareza as razões pelas quais o grande capital alemão
e italiano percebem nos movimentos ultranacionalistas uma força capaz de comprometer
o movimento comunista nestes países e os financiam.
Os fascismos europeus assim como o nazismo tem em comum um discurso social,
a prática de uma economia dirigida voltada para a indústria bélica, a violência, sendo um
movimento anti-democrático, anti-socialista, anti-liberal, anti-comunista, anti-operariado,
ultra nacionalista e especialmente no caso alemão, anti-semita.
A capacidade do fascismo e do nazismo de reverter a penetração do movimento
socialista reside na sua forte base cultural na qual se funda o discurso nacionalista.
Resgatando elemento por sobre o qual se constrói o sentimento de pertinência a um
estado nacional, como o passado histórico comum, valores comuns, idioma comum e
projeto político comum, o fascismo nas suas variadas formas busca construir a unidade
nacional contra o estrangeiro que oprime, que é inferior, que impede o desenvolvimento
livre da nação, possibilitando com isso oferecer uma alternativa muito mais próxima da
realidade do povo, pois uma alternativa nacional, capaz de desmobilizar a proposta
internacionalista e nova luta de classes, presente no socialismo. Contra o
internacionalismo socialista construído a partir do objetivo comum de todos os
trabalhadores para eliminar o capital opressor, nada melhor que o discurso social
nacionalista contra o opressor estrangeiro. Note-se que a proposta fascista terá um forte
apelo na Europa, pois se funda em valores culturais fortemente enraizados, podendo
facilmente desmobilizar o internacionalismo que procura ainda construir uma
solidariedade e uma unidade em bases multinacionais.
Com força para barrar a expansão da revolução socialista, o fascismo (e o
nazismo) será a alternativa para o grande capital nacional, que financiará sua ascensão
ao poder em vários Estados europeus e, de maneira mais profunda, na Alemanha e Itália.
O Estado social fascista, produto dos interesses do grande capital nacional e da
crise que se abateu sobre alguns países europeus, será responsável pelo maior conflito
militar da história da humanidade e, após a segunda guerra mundial, com a derrota militar
da Alemanha, Itália e Japão, o mundo terá duas novas potências, sendo construído a
partir de então um mundo bipolar e a guerra-fria até 1989. Importante notar que entre
tantas derrotas, principalmente a da humanidade, os vencedores são aqueles que têm
suas reivindicações atendidas. Basta para isso lembrarmos que entre as sete grandes
economias do mundo encontram-se a Alemanha, a Itália e o Japão. O povo e os exércitos
desses países foram derrotados, mas o grande capital que financiou a alucinação fascista
foi vitorioso mais uma vez.
O período pós-guerra traz o renascimento do Estado Social, assim como a
expansão do Estado Socialista. O Estado Socialista representa um novo paradigma sem,
entretanto, existir uma ruptura com o capitalismo liberal. As Constituições socialistas
consagram uma economia socialista, garantindo a propriedade coletiva e estatal e
abolindo a propriedade privada dos meios de produção. Há uma clara ênfase nos direitos
econômicos e sociais e uma proposital limitação dos direitos individuais, pois o exercício
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seguido por todos os cidadãos. Os que não seguem o modelo posto são os excluídos, os
miseráveis, os loucos e os presos, marginais do sistema.
O papel do Direito, da Constituição é o de estabelecer as margens, os limites
desta sociedade e, embora estes limites sejam cada vez mais largos, eles continuam a
existir, como requisito e mesmo razão de ser do Estado.
Desta forma o Estado tem como finalidade importante a função de reagir e
conservar. Conservar o modelo de sociedade e reagir com sua força a qualquer tentativa
de mudança fora das permitidas pelo modelo posto. Mesmo com o atual enfraquecimento
do Estado nacional, este ainda é importante dentro do sistema globalizado para reagir a
qualquer tentativa de mudança fora dos limites estabelecidos, agora, pelo grande capital
transnacional globalizado, conservando desta forma o modelo existente e seus interesses
e sistema de privilégios.
No lugar deste Estado reacionário, nas suas formas liberal, socialista, social-
liberal, social-fascista e neoliberal devemos propor um Estado democrático onde a
Constituição nacional garanta os processos democráticos de constante mudança da
sociedade, com respeito aos direitos humanos universais não culturais, deixando que
cada município estabeleça na sua constituição de forma livre e democrática o seu próprio
modelo de sociedade, de economia, de repartição de riquezas e de convívio social, desde
que respeitados os processos democráticos da Constituição Nacional e que sejam
respeitados os princípios universais dos direitos humanos.
O caminho em direção ao novo poder das cidades, o poder local, hoje é sentido de
maneira inequívoca em todo o mundo. Os mecanismos, princípios, modificações
estruturais na administração municipal são estudados no nosso livro “Poder Municipal:
paradigmas para o Estado Constitucional brasileiro”, para o qual remetemos o leitor para
compreensão da alternativa democrática proposta.