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Jorge Amado
Resumo
Resumen
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Esse termo é utilizado por Alfredo Bosi, em História concisa da literatura brasileira (1975), para
designar os romances que professam uma ideologia partidária.
Neste trabalho, portanto, são estudados aspectos pouco conhecidos dos leitores,
isto é, uma fase em que o autor narra a história e a política da época de 1937 a 1940 por
meio da ficção; trazendo, assim, uma escritura da história “não-oficial” (DUARTE,
1996, p.211).
Essa definição de White traz à tona um dos principais eixos das relações entre
História e Literatura. White, inicialmente, apresenta em seu ensaio a reflexão de
Northrop Frye, que parte do entendimento de que o historiador trabalha indutivamente e
busca os fatos por meio de pesquisas e relatos da vida real, diferentemente do literato,
que narra a partir da sua imaginação. White complementa essa reflexão de Frye dizendo
que, mesmo com essa busca de fatos em lugares opostos, a estrutura da narrativa
histórica se assemelha à narrativa literária, pois ambas são concebidas a partir de uma
ordenação dos fatos e de uma seleção do tipo de enredo para que se tornem
compreensíveis ao leitor.
A partir dessas definições de White, pode-se dizer que Jorge Amado não muda
os fatos históricos, porém constrói uma narrativa escolhendo os fatos, ordenando-os,
destacando e ocultando outros, ou seja, cria uma história dentro de uma convenção
ficcional. Como mostra White (2001):
[...] toda narrativa não é simplesmente um registro do que aconteceu na
transição de um estado de coisas para outro, mas uma redescrição progressiva
de conjuntos de eventos de maneira a desmantelar uma estrutura codificada
num modo verbal no começo, a fim de justificar uma recodificação dele num
outro modo final. Nisto consiste o “ponto médio” de todas as narrativas
(p.115).
Dessa forma, entende-se que há uma convenção ao longo dos anos que deu um
status à narrativa histórica de representação do “real”, portanto de caráter verídico,
enquanto a narrativa literária assumiu seu estado de representação do imaginado, do
ficcional. Essa convenção é muito bem exposta por Walter Mignolo em seu ensaio de
1993, Lógica das diferenças e política das semelhanças da Literatura que parece
História ou Antropologia, e vice-versa, no qual o autor busca uma definição de
normas historiográficas e literárias. A linguagem é empregada de acordo com
as normas historiográficas (NH), ou literárias (NL), sempre que todo membro
de uma comunidade especializada (científica ou artística) CmE, ao realizar
uma ação lingüística, espera que os outros membros de CmE, assim como
também todo membro da comunidade lingüística Cm que conhece a língua e
as normas, reaja de acordo com a NL ou a NH e aceite: que o escritor ou
historiador opera dentro do contexto x de historiografia, ou y de literatura, ou
se opõe a eles de uma maneira que é incompreensível, porque ao opor-se,
invoca-as (p.124).
O primeiro tomo apresenta uma narração que se desenvolve nos anos de 1937 e
nos primeiros meses de 1938. São narrados os acontecimentos anteriores e posteriores
ao golpe de Estado de Getúlio Vargas. No segundo tomo prossegue a seqüência dos
fatos políticos, tais como o golpe dos políticos armandistas e integralistas contra o
governo de Getúlio e a prisão dos comunistas, abrangendo, dessa forma, os anos de
1938 e 39. No último tomo são narradas as torturas e prisões dos comunistas, bem como
dos julgamentos destes e de Luis Carlos Prestes, sendo esses momentos decorridos nos
anos de 1939 e 40. Nos três tomos aparece a seguinte epígrafe camoniana
Pode-se dizer que o cenário da narração ficcional é a História, bem como alguns
fatos que envolvem as personagens. O ficcional se desenvolve na construção das
personagens, nas ações e diálogos das mesmas, sendo alguns fatos também imaginados.
A partir dessa criação, percebem-se as estruturas narrativas criadas, que buscam
produzir um efeito de sentido de “verdade”.
Nota-se, portanto, que o autor busca em sua narrativa mostrar diversos olhares
sobre um mesmo fato histórico, porém, essas diferentes perspectivas passam
primeiramente pelo olhar do autor, o qual busca reafirmar na obra os ideais do Partido
Comunista Brasileiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2.ed. São Paulo: Cultrix, 1975.
p. 455-457.
MIGNOLO, Walter. Lógica das diferenças e política das semelhanças: da literatura que
parece história ou antropologia e vice-versa. In: Chiappini, L.; Aguiar, F. (org.).
Literatura e história na América Latina. São Paulo: Edusp, 1993. p. 115-134.
ROCHE, Jean. Jorge bem / mal Amado. 10.ed. São Paulo: Cultrix, 1995.