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Heric Santos Hossoé
Resumo
Abstract
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Doutorando em Políticas Públicas pela UFMA, trabalha na Universidade Federal do Maranhão (UFMA),
Email: hhossoe@gmail.com
1 – INTRODUÇÃO
Após o ápice do modelo de bem-estar social no final dos anos 60, alcançado
pelos países de capitalismo avançado, entendido também pelo conceito de “estado
máximo”, iniciou-se um recuo da participação do Estado na economia com o objetivo de
abrir mercado para a expansão do capitalismo, diminuir o déficit público, e
consequentemente uma diminuição da cobertura social nas garantias dos direitos adquiridos
pelos trabalhadores. Essa expansão do capital, condensada no termo globalização, passou
a impor uma certa postura padronizada aos países envolvidos em seu processo. A essa
postura pode-se atribuir uma série de pressupostos conhecidos como neoliberais, que
tornaram-se publicamente integrados às agendas nacionais de todos os países, como
preceitua Carlos Montaño (2002):
Definindo, portanto, que a falta de coesão social era o espaço preenchido pela
questão social presente na contradição da relação entre capital e trabalho, oriunda da
expansão do capitalismo. Entretanto, no contexto atual, a perca da centralidade do trabalho
no eixo da questão social faz surgir uma nova corrente teórica que coloca que essa
reconfiguração social representaria uma nova questão social, conforme afirma Robert Castel
(1997):
A nova questão social hoje parece ser o questionamento desta função integradora
do trabalho na sociedade”. Uma desmontagem desse sistema de proteção e
garantias que foram vinculadas ao emprego e uma desestabilização,
primordialmente na ordem do trabalho, que repercute como uma espécie de
choques em diferentes setores da vida social para além do mundo do trabalho
propriamente dito. (Castel, São Paulo, 1997, p. 165-166).
4 - CONCLUSÃO
Essa breve análise das relações entre os setores e a questão social, bem como
seus novos mecanismos de reprodução, dentre eles a responsabilidade social e o
desenvolvimento sustentável, se propôs a expor as estruturas de uma conjuntura arriscada
que prenuncia momentos mais instáveis na coesão social. Há um encadeamento lógico,
mas atemporal, onde a crise do modo de produção capitalista encontra a saída neoliberal,
esta por sua vez determina a instituição do estado mínimo, este deixa uma ausência social
inaceitável como legado, e que para justificar e tornar menos inaceitável canaliza subsídios
para a criação de um Terceiro Setor, socialmente legitimado pela difusão do conceito de
responsabilidade social que acaba por pressionar, pelas vias mercadológicas, as empresas
a adotarem como diferencial de mercado, estabilizando dessa forma os ânimos da
sociedade civil e fornecendo combustível ao agravamento da questão social. O que parece
não ser levado em conta nesse encadeamento lógico, sugerido pelas doutrinas neoliberais é
que no fim de seu percurso, com o agravamento da questão social, o empobrecimento da
população gera inevitavelmente uma diminuição do mercado com indicações de uma
provável outra crise que já não poderá mais sugar da sociedade civil as forças para sua
superação, dado o grau de achatamento da mesma. É sob essa via de raciocínio que pode-
se inferir que a oscilação do foco da difusão do conceito de responsabilidade social perante
a opinião pública pode ser na verdade ajustado para gerar a estabilidade apenas necessária
à reprodução do estado neoliberal.
Portanto, a aparência de boa ação da responsabilidade social oculta a
fragmentação do enfrentamento da questão social. Dessa forma a união coletiva para a
formação de uma força de solidariedade acaba por proporcionar um efeito contraditório, já
que a solidariedade pregada pelo conceito de responsabilidade social é na verdade uma
afirmação do individualismo onde cada indivíduo ao ser solidário através desses meios
contribui com sua parte não se importando se está colaborando para uma solução parcial ou
total, e se sua contribuição já foi ofertada, nada mais tem a ver com esses problemas, sendo
a soma dessas contribuições, por serem fragmentadas e difusas, apenas formadoras de
uma parcialidade na solução dos problemas sociais, ficando a totalidade prejudicada e
encoberta pelo efeito social da “atenuação aparente” da questão social.
Diante do exposto, fica justificada toda a abertura ofertada pelas doutrinas
neoliberais ao Terceiro Setor e à difusão do conceito de responsabilidade social, bem como
a distinção da dualidade social a que se propõe essa abertura. Não que uma sociedade
permeada pelo conceito de responsabilidade social seja apenas uma sociedade fadada à
exploração neoliberal e a proliferação desse conceito seja apenas instrumental desta, há
certamente inegáveis benefícios inclusos no fato de que, de uma forma ou de outra, as
pessoas acabam por se sensibilizar mais com as questões sociais e que essa sensibilidade
pode aguçar mais o envolvimento social e a cobrança de soluções para os problemas
sociais. De um lado a responsabilidade social pode ser aproveitada pelo neoliberalismo para
seus propósitos, mas por outro lado o fosso entre as expectativas de solução dos problemas
sociais e a insuficiência real dessa solução pode apontar para uma pressão social,
potencializada pela já adquirida consciência social, para a luta por soluções menos parciais
e mais efetivas.
REFERÊNCIAS