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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CAMPUS DE LARANJEIRAS
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

NATHAN FERREIRA BARRETO

UMA TRAJETÓRIA DE LUTA PELO DIREITO À CIDADE EM ARACAJU-SE:


ZONA DE EXPANSÃO OU ZONA DE EXCLUSÃO URBANA?

LARANJEIRAS - SE
MARÇO/2020
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CAMPUS DE LARANJEIRAS
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

NATHAN FERREIRA BARRETO

UMA TRAJETÓRIA DE LUTA PELO DIREITO À CIDADE EM ARACAJU-SE:


ZONA DE EXPANSÃO OU ZONA DE EXCLUSÃO URBANA?

Trabalho de conclusão de curso apresentado


ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Federal de Sergipe como
requisito para aprovação na disciplina de
Trabalho de Conclusão de Curso II.

Orientador(a): Prof.ª Dr. Sarah Lúcia Alves


França

LARANJEIRAS - SE
MARÇO/2020
NATHAN FERREIRA BARRETO

UMA TRAJETÓRIA DE LUTA PELO DIREITO À CIDADE EM ARACAJU-SE:


ZONA DE EXPANSÃO OU ZONA DE EXCLUSÃO URBANA?

Trabalho de conclusão de curso apresentado


ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Federal de Sergipe como
requisito para aprovação na disciplina de
Trabalho de Conclusão de Curso II.

Aprovado em: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA:

______________________________________________________________
Profª. Dra. Sarah Lúcia Alves França - Orientadora
Universidade Federal de Sergipe

______________________________________________________________
Profª. Dra. Raquel Kohler
Universidade Federal de Sergipe

______________________________________________________________
Arqª. Marianna Martins Albuquerque

Membro Avaliador Externo

______________________________________________________________
Cr. José Dias Firmo dos Santos

Membro Avaliador Extra


AGRADECIMENTOS

Após longos anos de aprendizagem e dificuldades, enfim concluo mais uma etapa da
minha vida. A realização deste trabalho, contou com ajuda de várias pessoas, as quais não
poderia deixar de agradecer.

Em primeiro lugar, agradeço a Deus que sempre esteve presente nos momentos mais
difíceis, dando-me forças para continuar mesmo quando achava que não conseguiria.

Aos meus pais, Marize e José Américo, que eu amo tanto e sem eles nada disso seria
possível. E a toda minha família, igualmente fundamentais em minha vida, e que de uma forma
ou de outra, deram também sua contribuição.

Agradeço a minha orientadora Sarah França, por ter passado um pouco do seu grande
conhecimento, especialmente da Zona de Expansão de Aracaju, sem sua ajuda este trabalho
não tomaria a forma que possui.

Aos membros da banca, agradeço por contribuírem com este trabalho com seu
conhecimento e sugestões.

A todos os amigos (as) que me ajudaram ao longo do curso, com os quais também
aprendi muito.

Aos líderes e membros das associações de moradores da Zona de Expansão de


Aracaju, que se dispuseram a responder ao questionário e, assim, contribuir com esta
pesquisa. Através deles, conseguir entender o verdadeiro significado do associativismo e da
mobilização social.

Enfim, a todos que me apoiaram e participaram, direta ou indiretamente, da edificação


deste trabalho, que jamais seria o mesmo se não houvesse a participação dessas inúmeras
pessoas. Muito obrigado!
RESUMO

A configuração dos espaços urbanos nas cidades brasileiras, especialmente nas de médio e
grande porte, seguem uma organização espacial a partir das condições socioeconômicas de
seus habitantes, onde o solo urbano transforma-se em mercadoria, pela ação do capital
imobiliário e conivência do Estado. Essa distribuição desigual da população agrava-se com
os conflitos urbanos, cujos desdobramentos implicam na perda da qualidade de vida. A
existência de inúmeros vazios urbanos em áreas consolidadas, que geram lacunas na
ocupação do solo e descontinuidade no sistema viário e na infraestrutura, contrapõe-se a
ocupações desordenadas, principalmente nas periferias, locais esses que, na maioria das
vezes, não apresentam nenhum tipo de infraestrutura para seus moradores. Em Aracaju, esse
processo acontece identicamente na Zona de Expansão Urbana de Aracaju (ZEU), que desde
década de 1980 vem passando por transformações em sua paisagem. A atuação do Estado
junto com o capital imobiliário, através da implantação de condomínios fechados, mansões de
veraneio e conjuntos populares, têm acentuado os conflitos sociais e a degradação ambiental,
através do desmonte de dunas e aterramento de mangues e lagoas de drenagem, pela
precariedade de infraestrutura, inexistência do sistema de drenagem e esgotamento sanitário,
além da falta de fiscalização pelos órgãos competentes. No meio de todo esse conflito, está
a população carente que convive diariamente com esses problemas, e que afetam
negativamente sua condição de vida. Estes são os mais prejudicados pela exploração do
capital imobiliário e pela degradação do meio ambiente, e tendem a lutar por seus direitos
garantidos pela Constituição Federal de 1988, que é viver em cidade justas e democráticas.
A mobilização e união dos moradores torna-se importante instrumento de resistência diante
todo esse panorama de descaso com a região. Assim, o presente trabalho tem por objetivo
analisar a luta pelo direito à cidade na Zona de Expansão Urbana de Aracaju, partindo da
atuação e reivindicação das associações de moradores em sua luta por melhores condições
de vida. Em um primeiro momento buscou-se compreender o conceito do Direito à Cidade em
seu caráter filosófico e jurídico. Posteriormente, procurou-se demonstrar a importância da luta
dos movimentos sociais pelos direitos urbanos. Em seguida, levantou-se informações sobre
o processo de urbanização de Aracaju e da sua Zona de Expansão, bem como dos problemas
decorrentes deste. Como o trabalho tem como foco estudar as Associação de Moradores
ativas de cada povoado/ bairro da ZEU, foi necessário a realização de uma pesquisa em
campo para localizar quais AMs ainda estavam ativas e atuantes em suas respectivas
comunidades. Após localizá-las propõe-se mostrar através de entrevistas com os alguns
membros e líderes das Associações de Moradores quais as principais demandas,
reivindicações e conquistas alcançadas pela atuação de suas entidades. Conforme foi
observado, as demandas pontuais reivindicadas pelas associações de moradores, de certa
forma, são solucionadas pelo Poder Público, enquanto as demandas estruturantes, aquelas
responsáveis por mudanças concretas no panorama da ZEU, ainda são pouco conquistadas.
Estas precisam de mais união e organização de todas as associações, e que o Poder Público
institucionalize canais de participação para que todos possam ter voz ativa na tomada de
decisão.

Palavras chaves: Direito à cidade, Movimentos Sociais, Zona de Expansão, Associações


de Moradores
LISTAS DE FIGURAS

Figura 1 - Fatores causadores dos conflitos urbanos ........................................................... 38


Figura 2 - Movimento Ocuppy Wall Street no parque Zuccotti em Nova Iorque ................... 41
Figura 3 - Vista aérea da área da Comunidade Vila Autódromo no Rio de Janeiro .............. 43
Figura 4 - Movimento de resistência popular #OcupeEstelita............................................... 44
Figura 5 - Proposta implantação do Parque Minhocão......................................................... 46
Figura 6 - Localização do Município de Aracaju ................................................................... 49
Figura 7 - Implantação do Conjunto Augusto Franco na década 80 ..................................... 50
Figura 8 - Localização dos Aglomerados subnormais na Região Metropolitana de Aracaju 53
Figura 9 - Recanto das Mangabeiras localizada na Zona de Expansão Urbana de Aracaju 54
Figura 10 - Discrepância entre o Bairro Jardins e Ocupação Socó do Pantanal .................. 55
Figura 11 - Mapa da Pobreza e Desigualdade Social no município de Aracaju.................... 57
Figura 12 - Domicílios com rede de esgoto irregular em Aracaju ......................................... 58
Figura 13 e 14 - Domicílios com coleta de lixo irregular e abastecimento de água irregular. 59
Figura 15 - Espacialização do Direito à Cidade em Aracaju ................................................. 60
Figura 16 - Localização Zona de Expansão Urbana de Aracaju........................................... 62
Figura 17 - Vista aérea do TECARMO ................................................................................. 63
Figura 18 - Foto Aérea Loteamento Aruana I e II na década de 1980 .................................. 64
Figura 19 e Figura 20 - Condomínios horizontais na ZEU .................................................... 66
Figura 21 - Casa com características rurais ......................................................................... 66
Figura 22 - Casa à venda em condomínio fechado na ZEU ................................................. 67
Figura 23 e 24 – Infraestrutura precária no entorno dos condomínios horizontais ............... 67
Figura 25 e 26 - Área de Interesse Ambiental (AIA) e Área de Interesse Urbanístico (AIU) . 68
Figura 27 - Condomínio vertical implantado na faixa litorânea na ZEU ................................ 69
Figura 28 e Figura 29 - Alagamentos na Zona de Expansão Urbana de Aracaju ................. 70
Figura 30 - Cordão dunar às margens da Rodovia José Sarney, próximo ao TECARMO .... 71
Figura 31 e Figura 32 - Aterramento das lagoas na Zona de Expansão.............................. 71
Figura 33 - Ocupação da ZEU antes 1980 até a década atual ............................................. 72
Figura 34 - Proposta urbanística para a Zona de Expansão Urbana de Aracaju .................. 73
Figura 35 - Sistema viário proposto para a Zona de Expansão Urbana de Aracaju ............. 74
Figura 36 - Transporte coletivo proposto para a Zona de Expansão Urbana de Aracaju...... 75
Figura 37 - Drenagem proposta para a Zona de Expansão Urbana de Aracaju ................... 75
Figura 38 - Zoneamento proposto para a Zona de Expansão Urbana de Aracaju ................ 76
Figura 39 - Proposta de desenvolvimento e conservação do meio ambiente para a Zona de
Expansão Urbana de Aracaju .............................................................................................. 77
Figura 40 - Audiência pública sobre o Plano Diretor na ZEU em julho de 2015 ................... 78
Figura 41 e 42 - PDDU de 2000 e sua proposta revisão em 2015 ....................................... 80
Figura 43 e Figura 44 - Quiosques na Praia da Aruanda na década de 1980 ...................... 82
Figura 45 e Figura 46 - Poluição da praia pela ausência de esgotamento sanitário ............. 84
Figura 47 - Demolição do bar do Nelson na Aruana ............................................................ 85
Figura 48 - Projeto de duplicação da Rodovia José Sarney em 1997 .................................. 86
Figura 49 - Localização Condomínio Wave.......................................................................... 87
Figura 50 - Etapas do Projeto de Macrodrenagem na ZEU .................................................. 89
Figura 51 e Figura 52 - Chuvas de inverno na Zona de Expansão....................................... 90
Figura 53 - Encarte publicitário do lançamento do condomínio Reserva do Aimoré ............. 91
Figura 54 – Área de atuação das Associações de Moradores estudadas ............................ 99
Figura 55 e 56 - Precariedade das vias no Povoado Areia Branca (ZEU) .......................... 108
Figura 57 - Condições da acessibilidade em algumas vias da ZEU ................................... 108
Figura 58 e 59 - Problemas na pavimentação das ruas na Zona de Expansão de Aracaju 109
Figura 60 - Transbordo ocasionado por problemas com a rede de esgoto......................... 110
Figura 61 - Ônibus quebrado no povoado Areia Branca (ZEU) .......................................... 111
Figura 62 - Faixa colocada no ponto ônibus na Zona de Expansão de Aracaju ................. 111
Figura 63 e 64 – Reportagens sobre as manifestações na ZEU ....................................... 113
Figura 65 e 66 – Mutirão de limpeza na Zona de Expansão Urbana de Aracaju ............... 116
Figura 67 - Tambor de lixo instalado pela Associação de Moradores ................................ 117
Figura 68 e 69 - Obras de recapeamento asfáltico na ZEU................................................ 117
Figura 70 e 71 - Obras de sinalização nas principais vias da região .................................. 118
Figura 72 - Reportagem sobre criação de novas linhas de ônibus ..................................... 119
Figura 73 - PMA condenada a executar serviços de iluminação pública ............................ 120
Figura 74 - Voluntários do Projeto Anjos do Rio às margens do Rio Vaza-Barris............... 121
Figura 75 - Todo o lixo recolhido pelo Projeto Anjos do Rio ............................................... 121
Figura 76 - Notícia sobre a determinação judicial na ZEU ................................................. 122
Figura 77 - Obras de pavimentação na região ................................................................... 123
Figura 78 - Ordem para construção das mil e cem moradias populares............................. 124
Figura 79 - Reunião da FAZE discutindo o impasse judicial da ZEU.................................. 125
Figura 80 - Reivindicação dos moradores pela criação de delegacia na ZEU .................... 126
LISTAS DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Proporção da população residente em aglomerados subnormais 1991/2010 ..... 51


Gráfico 2 - População residente em aglomerados subnormais e Municípios sergipanos até o
ano de 2010......................................................................................................................... 52
Gráfico 3 - Quantidade de Loteamentos Residenciais aprovados na ZEU entre 1970-2014 65
Gráfico 4 - Tempo de fundação das associações levantadas na ZEU ............................... 100
Gráfico 5 - Obstáculos ao associativismo na Zona de Expansão de Aracaju ..................... 101
Gráfico 6 - Fonte de renda para manutenção da entidade ................................................. 103
Gráfico 7 – Maiores problema da Zona de Expansão por seus moradores ........................ 107
Gráfico 8 - Entendimento do direito à cidade pelos moradores da ZEU ............................. 114

LISTAS DE QUADROS

Quadro 1 - Associações de moradores na Zona de Expansão Urbana de Aracaju .............. 96


Quadro 2 - Classificação das Associações de Moradores da ZEU....................................... 98
Quadro 3 - Classificação das demandas da Zona de Expansão Urbana de Aracaju .......... 115
LISTAS DE SIGLAS

AABB – Associação Atlética Banco do Brasil

ACDPM – Associação Comunitária de Desenvolvimento do Povoado Mosqueiro

ACMBDM – Associação Comunitária de Moradores do Bairro 17 de Março

ACP – Ação Civil Pública

ADBAMA – Associação de Donos de Bares e Moradores da Praia de Aruana

ADEMI – Associação dos Dirigentes das Empresas do Mercado Imobiliário

ADEMA – Administração Estadual do Meio Ambiente

ADCAR – Associação Desportiva, Cultural e Ambiental do Robalo

AIA – Área de Interesse Ambiental

AIU – Área de Interesse Urbanístico

AM – Associação de Moradores

AMAR – Associação de Moradores do Loteamento Aruana

ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres

APA – Área de Preservação Ambiental

APAPAB – Associação de Pescadores e Amigos do Povoado Areia Branca

APP – Área de Preservação Permanente

CAIXA – Caixa Econômica Federal

CNPJ – Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica

COHAB/SE – Companhia Estadual de Habitação

COMBAZE – Conselho da Associação dos Moradores da Zona de Expansão de Aracaju

CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente

DER – Departamento de Estradas e Rodagens de Sergipe

DESO – Companhia de Saneamento de Sergipe

DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes

EMSURB – Empresa Municipal de Serviços Urbanos de Aracaju

EMURB – Empresa Municipal de Urbanização de Aracaju

ENERGIPE – Empresa Energética de Sergipe

EIA – Estudo de Impacto Ambiental


IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INOCOOP – Instituto Nacional de Orientação às Cooperativas Habitacionais

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

JFSE – Justiça Federal de Sergipe

JLAA – Jaime Lerner Arquitetos Associados

MP/SE – Ministério Público do Estado de Sergipe

MPF – Ministério Público Federal

MST – Movimento Sem Terra

MSTT – Movimento dos Trabalhadores Sem Teto

ONU – Organização das Nações Unidas

OWS – Occupy Wall Street

PAR – Programa de Arrendamento Residencial

PDDU – Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Aracaju

PETROBRAS – Petróleo Brasileiro S/A

PMA – Prefeitura Municipal de Aracaju

PMCMV – Programa Minha Casa, Minha Vida

RIMA – Relatório de Impacto Ambiental

SEPLAN – Secretaria Municipal de Planejamento de Aracaju

TAC – Termo de Ajuste de Conduta

TECARMO – Terminal de Carmópolis

UPGN – Unidade de Produção de Gás Natural

ZAR – Zona de Adensamento Restrito

ZEU – Zona de Expansão Urbana


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 13
CAPÍTULO 1. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DO DIREITO À CIDADE .......... 18
1.1. O DIREITO À CIDADE E SUA DIMENSÃO POLÍTICA E FILOSÓFICA..................... 18
1.2. O DIREITO À CIDADE E SUA DIMENSÃO JURÍDICA .............................................. 27
CAPÍTULO 2. A LUTA PELO DIREITO À CIDADE: ATUAÇÃO DOS MOVIMENTOS
SOCIAIS NA CIDADE DEMOCRÁTICA .............................................................................. 33
2.1 A CIDADE DEMOCRÁTICA COMO UM IDEAL PARA A PARTICIPAÇÃO POPULAR
......................................................................................................................................... 33
2.2 OS MOVIMENTOS SOCIAIS E CONFLITOS URBANOS .......................................... 35
2.3 ATUAÇÕES DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA GARANTIA DOS DIREITOS
URBANOS ....................................................................................................................... 40
CAPÍTULO 3. DESIGUALDADES ESPACIAIS E CONFLITOS URBANOS: O DIREITO À
CIDADE NA CAPITAL SERGIPANA .................................................................................. 48
3.1 DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS E CONFLITOS URBANOS NA CAPITAL
SERGIPANA .................................................................................................................... 48
3.2. O DIREITO À CIDADE EM ARACAJU ...................................................................... 56
CAPÍTULO 4. ZONA DE EXPANSÃO URBANA DE ARACAJU: DOS SÍTIOS AOS
CONDOMÍNIOS, DA PAISAGEM NATURAL AOS CONFLITOS AMBIENTAIS ................. 61
4.1. A ZONA DE EXPANSÃO URBANA DE ARACAJU: UMA ÁREA DE
DESIGUALDADES SOCIOAMBIENTAIS ......................................................................... 62
4.2. CONFLITOS AMBIENTAIS NA ZONA DE EXPANSÃO URBANA: ENTRE
ALAGAMENTOS E ATERRAMENTOS ............................................................................ 69
4.3. A JUDICIALIZAÇÃO DOS CONFLITOS AMBIENTAIS: A LUTA PELO DIREITO À
CIDADE NA ZONA DE EXPANSÃO URBANA DE ARACAJU-SE.................................... 82
CAPÍTULO 5. CONQUISTAS URBANAS NA ZONA DE EXPANSÃO URBANA DE
ARACAJU: ATUAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS ...................................................... 94
5.1 OS MOVIMENTOS SOCIAIS CONTRA “A ZONA DE EXCLUSÃO” ........................... 95
5.1.1. Associações de Moradores na Zona de Expansão Urbana de Aracaju:
representações sociais e políticas? .............................................................................. 95
5.1.2. A percepção dos moradores em relação aos problemas da ZEU ...................... 106
5.2 CONQUISTAS URBANAS PELO DIREITO À CIDADE ............................................ 114
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................... 128
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................. 132
APÊNDICE I ...................................................................................................................... 138
APÊNDICE II ..................................................................................................................... 139
APÊNDICE III .................................................................................................................... 140
APÊNDICE IV .................................................................................................................... 141
APÊNDICE V ..................................................................................................................... 142
13

INTRODUÇÃO

O presente estudo é resultado de inquietações e indagações pessoais como morador


de um dos povoados da Zona de Expansão de Urbana (ZEU). A indignação veio da situação
de abandono, onde toda a área, do Bairro Aruana1 até o Mosqueiro apresenta sérios
problemas de infraestrutura e falta de serviços básicos para a população. Enquanto isso o
Poder público se exime em ofertar melhores condições de vida para os moradores da região.

A cidade deve ser entendida como um espaço que proporcione o desenvolvimento da


vida humana, onde as políticas públicas devem estar voltadas para garantir o bem-estar dos
cidadãos, mas na realidade, observa-se um ambiente marcado por desigualdades e
segregação. Dessa forma, a organização espacial ocorre a partir das condições
socioeconômicas de seus habitantes, onde o solo urbano se transforma em mercadoria, pela
ação do capital imobiliário e conivência do Estado.

Essa distribuição desigual da população no território urbano implica,


consequentemente, na perda da qualidade de vida. Como resultado desse processo, pode-se
citar os inúmeros de vazios urbanos, localizados em áreas urbana dotadas de infraestrutura
e equipamentos, que em busca da valorização, geram vazios na ocupação do solo e
descontinuidade do sistema viário e da infraestrutura, enquanto isso, regiões em precárias
condições de infraestrutura, localizadas na periferia da cidade, são ocupadas pela população
mais pobre.

Em Aracaju esse processo acontece de forma semelhante. A Zona de Expansão


Urbana (ZEU), localizada na porção sul do território, correspondendo aproximadamente 40%
do território da capital, passou a ser alvo da especulação e valorização fundiária, e dos
investimentos públicos do Estado iniciados a partir de 1982 (FRANÇA, 2011). A implantação
dos conjuntos habitacionais e residências de alto padrão, em contraste com casas de
características rurais, típicas dos povoados, acabam provocando desigualdades urbanas e
problemas socioambientais. De um lado, observa-se um pequeno grupo vivendo em
verdadeiras “bolhas”, dotada de todo tipo de serviços, saneamento básico e segurança 24
horas, e por outro, uma população que sofre pela falta deste.

Diante desse cenário, a população passa a reivindicar cidades mais justas, humanas
e democráticas, garantindo sua participação no planejamento local, o acesso à cidade, as
oportunidades e serviços e equipamentos urbanos, isto é, ao “direito à cidade”, conforme é

1Para este trabalho, foi considerada a Zona de Expansão Urbana de Aracaju composta pelos Bairros Aruana e 17
de Março, e pelos povoados Robalo, São José, Gameleira, Areia Branca, Matapoã e Mosqueiro.
14

defendido pela legislação brasileira, através da Constituição de 1988 e do Estatuto da Cidade


de 2001.

Mas o que seria o “direito à cidade” tanto reivindicado atualmente? Primeiramente, o


termo foi cunhado pelo filósofo marxista francês Henri Lefebvre em seu livro Le droit à la ville,
publicado em 1968. O direito à cidade idealizado por Lefebvre tem um caráter revolucionário
e utópico, ou seja, para o autor a crise da cidade é consequência do modelo capitalista de
produção, e sua superação, virá da revolução, não do proletariado, mas “pelas mãos” dos
grupos sociais excluídos.

Nesse caso, a revolução urbana de Lefebvre (2008) se dirige contra a mercantilização


do espaço urbano, fruto da atuação do capitalismo e conivência do Estado, e propõe a
substituição do valor de troca (ligado a reprodução do capital), pelo valor de uso (ligado a
reprodução de vida social). Então, o direito à cidade a ser garantido por essa revolução é o
direito de toda a população em participar da vida urbana e usufruir de todos os benefícios que
ela oferece

Recentemente, o conceito foi abordado pelo geógrafo britânico marxista David Harvey,
em seu livro Cidades Rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana, publicado em 2012,
e dedicou metade da obra ao tema. O direito à cidade sob à perspectiva de Harvey, é um
conceito ligado ao pensamento levefbreano. Harvey (2014) afirma que a retomada do direito
à cidade, está relacionado aos movimentos reivindicatórios, em busca por uma resposta
contra a atuação do capitalismo neoliberal que vem interferindo negativamente na qualidade
da vida da população.

Conforme Harvey (2014), o fenômeno da urbanização e o capitalismo, mantém uma


íntima relação, uma vez que o espaço urbano é responsável por absorver os excedentes
produzidos pelos capitalistas. Dessa forma, o autor afirma que atualmente as relações
urbanas estão cada vez mais ligada às necessidades de uma pequena elite política e
econômica que detém o poder de moldar a cidade para satisfazer seus interesses particulares.

Para contornar esse problema, Harvey (2014) defende um desenvolvimento urbano


em que todos tenham seus direitos resguardados, pois o direito à cidade não está ligado à
individualidade e sim, ao acesso coletivo dos recursos urbanos. Neste caso, somente com a
retomada da cidade pela população, cuja finalidade seja a gestão democrática do capital no
espaço urbano, permite vislumbrar possibilidades de mudança na realidade urbana.

Logo, a defesa é por um movimento anticapitalista, com a população no controle do


excedente produzido pelo capital, pois quem melhor que os grupos sociais excluídos para
desenvolver a administração da cidade, de forma justa e democrática, onde todos têm acesso
as qualidades que a vida urbana oferece (HARVEY, 2014).
15

Conforme é demonstrado por Harvey, o slogan do direito à cidade tem voltado à tona
novamente, agora atualizado para atender às necessidades de nossa época. Assim, segundo
Dias e Silva (2018), o conceito é potencializado e ganha ares revolucionário quando aliado à
atuação dos movimentos sociais urbanos. No Brasil, o conceito está sendo apropriado por
esses movimentos, conferindo-lhe dupla função (GOMES, 2018). A primeira será a de
reivindicar direitos sociais (moradia, transporte, trabalho, segurança, lazer, saneamento
básico etc.) e a segunda será afirmar a cidadania por meio da luta democrática.

A participação popular se torna ação fundamental na luta pelo direito à cidade, na


medida que pressiona o Poder Público para melhorar as condições de vida da população. No
caso da ZEU, diante da ineficácia do Poder Público em garantir melhorias para a região, a
população passa a reivindicar por seus direitos, a partir da mobilização dos mais prejudicados
(FRANÇA, 2011). Atualmente, utilizam esse direito para reivindicar pavimentação das ruas,
saneamento básico, acesso ao lazer, educação e saúde de qualidade, entre outros. Assim, a
população local tem percebido a importância da sua participação na garantia dos direitos
urbanos, e assim, vem surgindo os movimentos sociais e as associações de moradores que
buscam o bem-estar coletivo na cidade.

Nesse aspecto, França (2011) afirma que a ZEU se destaca pela atuação de alguns
movimentos sociais, como a Associação Desportiva, Cultural e Ambiental do Robalo
(ADCAR), Associação de Donos de Bares e Moradores da Praia de Aruanda (ADBAMA),
Associação dos Moradores do Aruanda (AMAR) e o Conselho das Associações dos Bairros
Aeroporto e Zona de Expansão Urbana de Aracaju (COMBAZE).

Portanto, a atuação desses movimentos é bastante relevante na luta contra a situação


de abandono da ZEU. Foram inúmeras ações realizadas, desde a conquista do plano de
elaboração da micro e macrodrenagem e o projeto de esgotamento sanitário da Zona de
Expansão Urbana de Aracaju, até ações mais pontuais, como solicitar melhorias na
iluminação pública, limpeza de praças, recapeamento asfáltico, entre outros. Exemplo de
união e organização da população residente na Zona de Expansão, que sofrem diariamente
com os problemas da ausência de infraestrutura.

O trabalho tem como objetivo geral analisar a participação popular na conquista do


direito à cidade, considerando a atuação das associações de moradores da Zona de
Expansão Urbana de Aracaju.

Como objetivos específicos, buscou-se inicialmente compreender questões


relacionada ao direito à cidade e a participação da população na efetivação desses direitos;
descrever o cenário da participação popular na Zona de Expansão Urbana de Aracaju;
destacar as reivindicações e conquistas resultado da atuação dos movimentos sociais na
Zona de Expansão Urbana de Aracaju.
16

Para isso, foi realizada uma revisão bibliográfica em autores que abordam o tema o
direito à cidade, destacando Lefebvre e Harvey. Em seguida, foram levantados autores
regionais que tratam sobre Zona de Expansão Urbana de Aracaju: Vera França (1999); Sarah
França (2005, 2011, 2019); Alessandra Santos (2016); Juliana Santos (2015); Lílian
Wanderley e Moacyr Wanderley (2003).

Por fim, foi realizado um estudo em campo, contendo a elaboração de entrevistas aos
presidentes e membros das associações de moradores, a fim de buscar maiores informações
sobre a associação, como por exemplo sua atuação, estruturação e reivindicação. Dessa
forma, as perguntas foram objetivas, sempre registrando as respostas do entrevistado. Os
encontros foram presenciais e individuais, envolvendo apenas o entrevistador e entrevistado
e com o registro de áudio, com permissão do participante, e assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.

Além das entrevistas, foram aplicados questionários online através da plataforma


Google Forms para os habitantes da ZEU. Esse questionário foi enviado por redes sociais
(Whatsapp e Facebook), no intuito de entender os conflitos, carências e a atuação das
associações de moradores na ZEU. As perguntas também foram objetivas e única escolha,
justamente para maximizar o tempo de respostas dos participantes.

O trabalho foi dividido em cinco capítulos. O primeiro capítulo intitulado


Considerações sobre o conceito do Direito à Cidade, aborda o tema direito à cidade, a partir
de duas concepções: o direito a cidade em seu teor político e filosófico, tendo como expoente
o pensamento de Lefebvre (2008) e de Harvey (2014), enquanto a segunda, parte do
entendimento do direito à cidade em seu sentido legal (jurídico), nesse caso, analisando a
constatação desse direito na Carta Mundial do Direito à cidade e no Brasil, através da
Constituição Federal de 1988, junto com o Estatuto da Cidade de 2001.

No segundo capítulo, A Luta pelo Direito à Cidade: atuação dos Movimentos Sociais
na Cidade Democrática, o debate é sobre a importância da participação popular no
planejamento da cidade para que a mesma seja um ambiente justo e democrático. Neste
capitulo foi constatado que embora a cidade seja marcada pela desigualdade e segregação
proveniente da relação capitalista que regem a produção do espaço urbano, a luta dos
movimentos sociais pelo direito à cidade pode reverter esse quadro, na medida em que
pressiona o Poder Público.

No terceiro capítulo, denominado Desigualdades Espaciais e Conflitos Urbanos: o


Direito à Cidade na Capital Sergipana, tem como foco os conflitos urbanos proveniente das
desigualdades socioespaciais em Aracaju. Nele foi relatado a segregação espacial entre a
população mais abastada, que moram em bairros dotados de toda uma rede de serviços e
infraestrutura, e por outro lado, existe a periferia, local ocupado pelas camadas mais carentes,
17

onde praticamente inexiste esses benefícios. Ao fim deste capítulo, buscou-se espacializar o
Direito à Cidade em Aracaju, explicando quais bairros possuem esse direito e quais não o
têm.

No quarto capítulo, Zona de Expansão Urbana de Aracaju: dos Sítios aos


Condôminos, da Paisagem Natural aos Conflitos Ambientais, aborda o histórico da ocupação
a partir do investimento público e privado, e os desdobramentos desse processo disperso,
excludente e degradante ao ecossistema litorâneo. Por ser uma área sensível do ponto de
vista ambiental, a ZEU apresentando ainda deficiência em infraestrutura básica, com o avanço
dos empreendimentos imobiliários nas últimas décadas, vem agravado s problemas
socioambientais na região. Por conta disso, a população mais prejudicada tem buscado
alternativas pra reverter esse quadro, seja através dos meios jurídicos ou pelo associativismo
de bairros.

No quinto e último capítulo, de título Conquistas Urbanas na Zona de Expansão


Urbana de Aracaju: Atuação dos Movimentos Sociais, será estudo a atuação dos movimentos
sociais e associação de moradores da ZEU, na busca pelo direito à cidade. Nele são
apresentados os resultados obtidos através da pesquisa de campo e do levantamento da
atuação dos movimentos sociais através dos relatos nas entrevistas e dos questionários. Com
essa análise, será possível compreender as reivindicações, os desafios e as conquistas dos
movimentos sociais pela luta do Direito à Cidade na Zona de Expansão Urbana de Aracaju.

Por fim, nas Considerações Finais, tratam das observações e reflexões gerais sobre
o objeto de estudo, a partir das informações coletadas in loco, bem como apontar possíveis
soluções e minimizar alguns dos problemas relatados neste trabalho.

Espera-se, com essas considerações, que a sociedade compreenda as razões que


motivaram este estudo, e que contribua para demonstrar a trajetória de conquistas dos
movimentos sociais na Zona de Expansão Urbana de Aracaju em sua luta por uma cidade
mais justa, conforme é assegurado pela Constituição brasileira.
18

CAPÍTULO 1

CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DO DIREITO À CIDADE

Neste capítulo são apresentadas as discussões acerca do conceito Direito à Cidade a


partir da leitura de Lefebvre (2008) e Harvey (2014), onde demonstraremos a produção
capitalista do espaço urbano, bem como os processos que essa atuação ocasiona
(desigualdade e segregação).

Além disso trataremos do conceito do Direito à Cidade em seu sentido jurídico,


incorporado na legislação brasileira (Constituição Federal de 1988 e Estatuto da Cidades de
2011) e mundial (Carta Mundial do Direito à Cidade). E assim, concluindo que o Direito à
Cidade nessa perceptiva, está relacionado ao acesso à moradia, aos serviços e infraestrutura
pública, a participação democrática no processo de desenvolvimento urbano, bem como uma
estratégia para amenizar as desigualdades urbanas ocasionadas pelo sistema capitalista.

1.1. O DIREITO À CIDADE E SUA DIMENSÃO POLÍTICA E FILOSÓFICA

É de suma importância, antes de adentrar sobre o direito à cidade, entender os


processos de industrialização e urbanização. Lefebvre (2008) ressalta que esses processos
geram a problemática urbana e caracteriza a sociedade moderna. Para o autor a cidade
preexiste ao processo de industrialização, sendo este “o motor das transformações da
sociedade”, pois traz consigo o processo de urbanização, com aumento da população urbana

2 HACKCITIES. Disponível em: <http://www.hackcities.com.br/Post/187/Direito-a-cidade>. Acesso em: 22 nov.


2019.
19

e decadência da área rural, desenvolvimento de novos centros, incremento de novas


atividades econômicas, isto é, uma nova forma de vida a partir da consolidação da indústria.

Lefebvre (2008) aponta que com o início da industrialização, a cidade perdeu seu valor
de uso (atrelado à reprodução da vida social) e passou a ter valor de troca (atrelado à
mercantilização do espaço). Nesse caso, observa-se que
A cidade e a realidade urbana dependem do valor de uso. O valor de troca e
a generalização da mercadoria pela industrialização tendem a destruir, ao
subordiná-las a si, a cidade e a realidade urbana, refúgios do valor de uso,
embriões de uma virtual predominância e de uma revalorização do uso.
(LEFEBVRE, 2008, p. 14)

Esta mudança só é possível, pois as transformações do espaço urbano são fruto das
relações sociais nele desenvolvidas, ou seja, a cidade é reflexo da sociedade, e ela muda,
sempre quando a sociedade em seu todo também muda. De fato, a
cidade sempre teve relações com a sociedade no seu conjunto, com sua
composição e seu funcionamento, com seus elementos constituintes (campo
e agricultura, poder ofensivo e defensivo, poderes políticos, Estados etc.),
com sua história. Portanto, ela muda quando muda a sociedade no seu
conjunto (LEFEBVRE, 2008, p. 51).

Assim, além das relações sociais, o espaço urbano é influenciado por processos
econômicos, políticos e culturais. A partir da industrialização, a sociedade é dividida em dois
grupos específicos; os que detém o poder e se apropriam do espaço e da riqueza gerada, e
aqueles subordinados a essa lógica (LEFEBVRE, 2008).

Embora Lefebvre (2008, p. 22) afirme que a vida na cidade se baseia na diversidade
e na coexistência dos diferentes grupos sociais, “a vida urbana pressupõe encontros,
confrontos das diferenças, conhecimentos e reconhecimentos recíprocos (inclusive no
confronto ideológico e político) dos modos de viver, dos ‘padrões’ que coexistem na Cidade”.
No entanto, para o autor, ao longo do século XIX, as cidades foram marcadas pela segregação
e por desigualdades.

A respeito disso, Lefebvre (2008) traz como exemplo a reforma urbanística promovida
em Paris, em 1848, pelo Barão Georges Haussmann, onde a população mais pobre foi
expulsa do centro da cidade para os subúrbios, destruindo-os da vida urbana (LEFEBVRE,
2008). Assim, a cidade moderna não possui mais característica de ser um espaço democrático
e de convivência dos diferentes grupos sociais, a cidade moderna é um espaço de exploração
e reprodução capitalista (LEFEBVRE, 2008).

A cidade moderna intensifica, organizando-a, a exploração de toda a


sociedade (não apenas da classe operária como também de outras classes
sociais não dominantes). Isto quer dizer que ela não é um lugar passivo da
produção ou da concentração dos capitais, mas sim que o urbano intervém
como tal na produção (nos meios de produção).
20

Tanto Lefebvre (2008) quanto Harvey (2014), afirmam que a problemática urbana
ocorre devido ao capital ter fácil acesso ao espaço urbano, bem como aos seus centros de
decisões. O excedente produzido pelo capital é reinvestido na cidade, com a construção de
empreendimentos, através da especulação imobiliária e financeirização do capital,
configurando assim, um espaço desigual, no qual a classe dominante explora espaço e os
citadinos, na busca de mais lucros (HARVEY, 2014).

Neste caso, a especulação imobiliária tem papel fundamental na transformação do


espaço urbano, ao atuar em função da crescente mercantilização do solo, e assim, as relações
de valor de troca prevalecem sobre as relações de valor de uso (LEFEBVRE, 2008).

Este processo de exploração destrói a ideia de cidade, apesar do urbano ainda


prevaleça (LEFEBVRE, 2008). Neste sentido, tem-se a primeira ideia de direito à cidade,
sendo impossível de concretizá-lo na atual sociedade capitalista, ou seja, só seria possível
apenas em um outro modelo, que não capitalista. Nas palavras do autor (p.117), “o direito à
cidade não pode ser concebido como um simples direito de visita ou de retorno às cidades
tradicionais. Só pode ser formulado como direito à vida urbana, transformada, renovada”.

Portanto, o direito à cidade é um manifesto em defesa ao “direito à liberdade, à


individualização na socialização, ao habitat e ao habitar. O direito à obra (à atividade
participante) e o direito à apropriação (bem distinto do direito à propriedade) estão implicados
no direito à cidade” (LEFEBVRE, 2008, p.134). O atual modelo capitalista de produção de
espaço urbano, acaba restringindo os benefícios da urbanização para uma pequena parcela
da população, no caso a classe dominante. Então, o direito à cidade vai se contrapor a lógica
de dominação capitalista, em que se prevaleça a apropriação justa e democrática do espaço
pelos cidadãos.

Para o mesmo autor, o


direito à cidade se manifesta como forma superior dos direitos: direito à
liberdade, à individualização na socialização, ao habitat e ao habitar. O direito
à obra (à atividade participante) e o direito à apropriação (bem distinto do
direito à propriedade) estão implicados no direito à cidade (p.134).

Afirmar este direito significa a possibilidade que cada indivíduo tem de habitar uma
cidade livre da dominação do capitalismo. Neste sentido, para Lefebvre (2008) a cidade não
pode ser simplesmente um “espaço material”, com valor monetário, mas sim um “espaço
social”, em que a vida quotidiana se desenvolva de forma saudável e igualitária.

Assim, conforme Lefebvre (2008), o habitar (urbano) não se resume ao habitat, embora
dependa deste para sua concretização. Enquanto o habitat sintetiza apenas ao aspecto
físico/espacial da morada; o habitar é uma atividade que implica o viver e participar da cidade.
Nas cidades contemporâneas vemos que o sentido de habitar está ligado apenas a qualidade
21

quantitativa (monetária), ou seja, quem pagar mais, pode ter o direito à qualidade de vida na
cidade.

Para reverter essa situação, Lefebvre (2008) afirma que apenas as classes sociais
excluídas, podem promover a revolução urbana que retorne a ideia de habitar, combatendo
as questões de segregação socioespacial e a exploração do capital. Isto é, promover uma
reforma urbana, de modo que a cidade volte a ser um espaço democrático.

Na cidade contemporânea, percebe-se que os cidadãos são como meros


espectadores dos processos de decisão urbana. Esse poder é controlado pelas elites políticas
e econômicas que produzem o espaço urbano de acordo com a suas vontades e aspirações.
O Estado é agente promotor e atua de forma conivente com o mercado imobiliário,
incentivando a segregação e a mercantilização do espaço urbano (PROENÇA, 2011).

Assim o direito à cidade defendido por Lefebvre (2008), vai contrapor esse processo.
A ideia é de uma outra cidade em que todos os habitantes pudessem usufruir dos benefícios
da vida urbana. Um espaço onde prevalecesse o valor de uso, de convívio, separados do
valor de troca, da mercantilização do espaço, construindo uma cidade com a população no
centro das decisões e sem a influência da lógica capitalista.

Portanto,
Apenas grupos, classes ou frações de classes sociais capazes de iniciativas
revolucionárias podem se encarregar das, e levar até a sua plena realização,
soluções para os problemas urbanos; com essas forças sociais e políticas, a
cidade renovada se tomará a obra (LEFEBVRE, 2008, p. 113).

Harvey (2014), ao analisar o reaparecimento, nas últimas décadas, da ideia do direito


à cidade, afirma que não se deve exclusivamente ao trabalho intelectual de Lefebvre, uma
vez que o que vem ocorrendo nas ruas é de uma escala de importância maior e está ligado
aos movimentos sociais urbanos.

Assim, Harvey (2014, p.13-14), afirma que a atuação desses movimentos, “não tem
nada a ver com o legado de Lefebvre, mas tudo a ver com as lutas que continuam a existir
acerca de quem vai configurar as características da vida urbana cotidiana”. Até porque seu
maior objetivo é buscar “algum tipo de resposta a um capitalismo internacional brutalmente
neoliberalizante que vem intensificando sua agressão às qualidades da vida cotidiana desde
os primeiros anos da década de 1990”.

Embora as forças que mobilizam a pauta desses grupos não sigam lealmente as ideias
de Lefebvre (2008), Harvey (2014, p.15) aponta uma certa similaridade em ambos, porque
para o autor, “as ideias de Lefebvre, como as deles, surgiram basicamente das ruas e bairros
de cidades doentes.” Portanto, para Harvey (2014) a ideia do direito à cidade na atualidade
22

“surge basicamente das ruas, dos bairros, como um grito de socorro e amparo de pessoas
oprimidas em tempos de desespero” (HARVEY, 2014, p.15).

O direito à cidade em uma sociedade capitalista, está cada vez restrito a quem tem
poder (influência sobre o território urbano). Assim, se os financistas e empreiteiros podem
reivindicá-lo, os sem-teto e os sans-papiers (imigrantes ilegais) também o podem. Mas para
esses grupos excluídos do “viver-urbano”, a garantia desse direito vem da luta para
materializá-lo (HARVEY, 2014).

Como é perceptível, a cidade tradicional foi morta pelo desenvolvimento capitalista


descontrolado. Vítima principalmente da necessidade interminável da acumulação de capital
capaz de financiar a expansão desordenada do crescimento urbano, independentemente de
suas consequências sociais, ambientais ou políticas (HARVEY, 2014, p. 20).

Nesse caso, o direito à cidade


consiste em imaginar e reconstituir um tipo totalmente novo de cidade a partir
do repulsivo caos de um desenfreado capital globalizante e urbanizador.
Contudo, isso não pode ocorrer sem a criação de um vigoroso movimento
anticapitalista cujo objetivo central seja a transformação da vida urbana do
nosso cotidiano (HARVEY, 2014, p. 20).

Essa tarefa não é fácil, pois a classe dominante é resistente e forte, e sua força
alienadora resulta na forte repressão, como o que ocorreu aos movimentos reivindicatórios de
Paris em 1981. A solução para Harvey (2014, p. 21), em criar um revolucionário movimento
anticapitalista, cujo intenção principal seja a transformação da vida urbana cotidiana, será
Somente quando a política se concentrar na produção e reprodução da vida
urbana como processo de trabalho essencial que dê origem a impulsos
revolucionários será possível concretizar lutas anticapitalistas capazes de
transformar radicalmente a vida cotidiana. Somente quando se entender que
os que constroem e mantêm a vida urbana têm uma exigência fundamental
sobre o que eles produziram, e que uma delas é o direito inalienável de criar
uma cidade mais em conformidade com seus verdadeiros desejos,
chegaremos a uma política do urbano que venha a fazer sentido.

Pode-se dizer que, de início, a luta pelo direito à cidade se apresenta como uma
intenção visionária, para só então transformá-la em aspectos práticos. Harvey (2014) afirma
que os grupos marginalizados lutam por algo que vá de encontro a seus desejos e
necessidades.

A fim de conceituar sua definição sobre o direito à cidade, Harvey (2014, p. 28) destaca
que o
tipo de cidade que queremos está relacionada a que tipo de pessoas que
queremos ser, que tipos de relações sociais buscamos, que relações com a
natureza nos satisfazem, que estilo de vida desejamos levar, quais são
nossos valores estéticos.
23

Assim, o direito à cidade é “muito mais do que um direito de acesso individual ou grupal
aos recursos que a cidade incorpora: é um direito de mudar e reinventar a cidade mais de
acordo com nossos mais profundos desejos” (HARVEY, 2014, p.28). Portanto,
Reivindicar o direito à cidade no sentido que aqui proponho equivale a
reivindicar algum tipo de poder configurador sobre os processos de
urbanização, sobre o modo como nossas cidades são feitas e refeitas, e
pressupõe fazê-lo de maneira radical e fundamental (HARVEY, 2014, p.30).

Para Harvey (2018, p.30), as cidades surgiram da concentração geográfica e social de


um excedente de produção e que a urbanização sempre foi um fenômeno de classe “uma vez
que os excedentes são extraídos de algum lugar ou alguém, enquanto o controle sobre seu
uso costuma permanecer na mão de poucos”. Sendo assim, o autor utiliza-se de Marx para
defender sua tese de que o capitalismo, em sua eterna busca de mais-valia (lucro), está
sempre produzindo excedentes de produção exigidos pela urbanização, ao mesmo tempo que
o capitalismo precisa da urbanização para absorver o excedente de produção que nunca deixa
de produzir.

Nesse caso, segundo Harvey (2018), surge uma ligação íntima entre o
desenvolvimento do capitalismo e a urbanização. Os capitalistas têm mais que o suficiente
tanto para reinvestir na expansão de seus negócios quanto para satisfazer seus prazeres e o
resultado do eterno reinvestimento é a expansão da produção de excedentes. A eterna
necessidade de encontrar esferas rentáveis para produção e absorção do excedente de
capital, uma vez que urbanização (assim como os gastos militares) têm papel importante na
absorção das “mercadorias excedentes que os capitalistas não param de produzir em sua
busca de mais-valia” (HARVEY, 2014, p.33).

Harvey (2014) cita como exemplo dois casos importantes da crise da urbanização em
decorrência do acúmulo do capital. O primeiro caso é na França em 1848, através de
investimentos em infraestruturas dentro e fora da França, incluindo a reconfiguração da
infraestrutura de Paris, concebidos por barão Haussmann. Isto é, Harvey afirma que a missão
de Haussmann foi a de resolver o problema do excedente resultado da industrialização
através da urbanização de Paris, que absorveu trabalho e o capital, gerando estabilidade
social e atendendo aos interesses políticos da classe burguesa.

O segundo caso é a estabilização dos Estados Unidos após a Segunda Guerra


Mundial, através da criação de autoestradas e transformações estruturais, com destaque para
a suburbanização e a reformulação da cidade de Nova York e toda sua região metropolitana,
concebidos por Robert Moses. Esse processo, determinou uma maneira de absorver a
24

produção excedente e, desse modo, resolver o problema da absorção dos excedentes de


capital (HARVEY, 2014). Assim,

a suburbanização (junto com a militarização) desempenhou um papel crucial


para ajudar a absorver o excedente nos anos do pós-guerra. Para tanto,
porém, pagou-se o preço de esvaziar o centro das cidades e privá-las de uma
base econômica sustentável, gerando a chamada "crise urbana" da década
de 1960, definida por revoltas de minorias prejudicadas (sobretudo os afro-
americanos) que viviam nos guetos no centro das cidades e às quais se
negava acesso à nova prosperidade (HARVEY, 2014, p.37).

Para Harvey (2014), o processo de urbanização desigual, marcado pela reprodução


capitalista no tecido, gera por um lado, a criação de um novo estilo de vida totalmente urbano,
vinculado ao consumo; e por outro, o aparecimento de movimentos revolucionários,
descontentes com a condução dessas novas ordens urbanas. Importante frisar que
A qualidade da vida urbana tomou-se uma mercadoria para os que têm
dinheiro, como aconteceu com a própria cidade em um mundo no qual o
consumismo, o turismo, as atividades culturais e baseadas no conhecimento
assim como o eterno recurso à economia do espetáculo, tornaram-se
aspectos fundamentais da economia política urbana (HARVEY, 2014, p.46).

Nesse sentido, Harvey (2014) afirma que estamos vivendo cada vez mais em cidades
divididas, fragmentadas e propensas a conflitos. Onde o individualismo e isolamento se
tornaram marca. “Nessas condições, os ideais de identidade urbana, cidadania e pertença,
de uma política urbana coerente, já ameaçados pelo mal-estar da ética neoliberal
individualista, tomam-se muito mais difíceis de manter” (HARVEY, 2014, p.49). Em contra
resposta a esse processo,
há todo tipo de movimentos sociais urbanos em evidência buscando superar
o isolamento e reconfigurar a cidade de modo que ela passe a apresentar
uma imagem social diferente daquela que lhe foi dada pelos poderes dos
empreiteiros apoiados pelas finanças, pelo capital empresarial e por um
aparato estatal que só parece conceber o mundo em termos de negócios e
empreendimentos.

Como dito, a urbanização tem desempenhado um papel crucial na absorção dos


excedentes de capital em escala cada vez maior, por meio de processos reestruturação
urbana (substituído o “velho” urbano pelo “novo”) e por formas predatórias (acumulação por
desapropriação) que implicam em deslocamento e desapropriação das massas urbanas de
todo e qualquer direito à cidade. Segundo Harvey (2014, p.60) isso termina periodicamente
em rebeliões, “como em 1871, em Paris, quando os desapropriados se uniram para reivindicar
a cidade que haviam perdido”.
25

Assim como, alguns movimentos sociais urbanos do final da década de 1960 pelo
mundo, que “procuraram definir um modo de vida urbana diferente daquele que lhes vinha
sendo imposto pelos empreiteiros capitalistas e pelo Estado. Para ele, esses diversos
movimentos de oposição deveriam se unir em torno da reivindicação do direito à cidade, tendo
como exigência, “maior controle democrático sobre a produção e o uso do excedente” pois
“uma vez que o processo de urbanização é um dos principais canais de uso, o direito à cidade
se configura pelo estabelecimento do controle democrático sobre a utilização dos excedentes
da urbanização” (HARVEY, 2014, p.61).

Ter um valor excedente não é algo ruim, pelo contrário como frisa Harvey (2014, p.61),
é necessário para a sobrevivência do capitalismo. Ao longo de sua história, o valor excedente
criado tem sido tributado pelo Estado e, nas fases social-democratas, essa proporção
aumentou significativamente. Porém, na fase neoliberal vem ocorrendo a privatização do
controle do valor excedente para impedir o aumento da parcela do Estado, aliado a criação
de novos modelos de governança que integram os interesses do Estado e das corporações
(capital) e que asseguram que o controle sobre o excedente por meio do Estado, favoreça o
capital e as classes dominantes na configuração do processo urbano.

Harvey (2014), afirma que “o aumento da parcela do excedente sob controle do Estado
só funcionará se o próprio Estado reformular-se e voltar a se colocar sob o controle
democrático do povo”, pois “cada vez mais, vemos que o direito à cidade vem caindo nas
mãos de interesses privados ou quase privados” (HARVEY, 2014, p.62). Assim, afirma que

O direito à cidade como hoje existe, como se constitui atualmente, encontra-


se muito mais estreitamente confinado, na maior parte dos casos, nas mãos
de uma pequena elite política e econômica com condições de moldar a cidade
cada vez mais segundo suas necessidades particulares e seus mais
profundos desejos (HARVEY, 2014, p. 63).

A solução encontrada pelo autor para reverter esse quadro, parte da necessidade dos
movimentos sociais de oposição a ótica dominante capitalista, adquira maior controle sobre a
produção e o uso dos excedentes, moldando e reinventando a cidade de acordo com seus
mais profundos desejos. Desse processo, ocorreu uma revolução urbana, pois quem controla
os meios de produção e uso excedente logo, controla as relações que rege o urbano. Diante
disso, observa-se que
A reprodução do capital passa por processos de urbanização de inúmeras
maneiras. Contudo, a urbanização do capital pressupõe a capacidade de o
poder de classe capitalista dominar o processo urbano. Isso implica a
dominação da classe capitalista não apenas sobre os aparelhos de Estado
(em particular, as instâncias do poder estatal que administram e governam as
condições sociais e infraestruturais nas estruturas territoriais), como também
sobre populações inteiras – seus estilos de vida, sua capacidade de trabalho,
seus valores culturais e políticos, suas visões de mundo. Não se chega
facilmente a esse nível de controle, se é que se chega. A cidade e o processo
26

urbano que a produz são, portanto, importantes esferas de luta política, social
e de classe (HARVEY, 2014, p.133)

Para Harvey (2014), os problemas gerados em decorrência da influência do capital


financeiro nos processos urbanos, ocasiona a perda da comunalidade urbana, refletindo em
uma cidade marcada pela

onda de privatizações, cercamentos, controles espaciais, policiamento e


vigilância na qualidade da vida urbana em geral e, em particular, na
potencialidade de se criar ou inibir novas formas de relações sociais (novos
bens com uns) em um processo urbano influenciado, quando não dominado,
por interesses de classe dos capitalistas (HARVEY, 2014, p. 134).

Assim, para Harvey (2014), o direito à cidade se torna um importante movimento de


luta em oposição aos efeitos da dominação capitalista na construção do espaço urbano. Isso
pode ser observado pelo histórico dos movimentos revolucionários em Paris, a partir de 1789
até a Comuna em 1871 e, posteriormente, em várias partes do mundo.

Para o autor, uns dos primeiros movimentos sociais que teve como plano de fundo o
conceito de direito a cidade sobre essa perspectiva revolucionária, ocorreu originariamente
no Brasil na década de 1990, e se espalhou por Zagreb, Hamburgo e Los Angeles (HAVEY,
2014, p. 244).

No entanto, como o próprio autor aponta, o primeiro passo para uma trajetória
revolucionária, consiste em reivindicar locais de moradias dignas e ambientes decentes,
desde que não fiquem restritas a este primeiro passo. Nesta perspectiva, aponta que “todos
aqueles cujo trabalho está envolvido em produzir e reproduzir a cidade têm um direito coletivo
não apenas àquilo que produzem, mas também o de decidir que tipo de urbanismo deve ser
produzido, onde e como” (HARVEY, 2014, p.245).

Sobre o direito à cidade, David Harvey (2014, p. 246-247) afirma que:


O direito à cidade não é um direito individual exclusivo, mas um direito coletivo
concentrando. Inclui não apenas os trabalhadores da construção, mas
também todos aqueles que facilitam a reprodução da vida cotidiana.

o direito à cidade deve ser entendido não como um direito ao que já existe,
mas como um direito de reconstruir e recriar a cidade como um corpo político
socialista com uma imagem totalmente distinta: que erradique a pobreza e a
desigualdade social e cure as feridas da desastrosa degradação ambiental.
Para que isso aconteça, a produção das formas destrutivas de urbanização
que facilitam a eterna acumulação de capital deve ser interrompida.

Para Harvey (2014), a organização das mobilizações na Bolívia, mais especificamente


nas cidades de Cochabamba e El Alto, se caracterizam com exitosos movimentos
anticapitalistas. Nesse sentido, as lutas de El Alto, como em
27

qualquer movimento anticapitalista deslanchado ao longo de sucessivas


rebeliões urbanas precisa ser consolidado a certa altura dos acontecimentos,
em um nível muito mais alto de generalidade, a fim de que tudo não retroceda,
no nível do Estado, a um reformismo parlamentar e constitucional que pode
fazer pouco mais do que reconstituir o liberalismo nos interstícios de um
prolongado domínio imperialista (HARVEY, 2014, p. 268-269).

Portanto, Harvey garante que

a única forma de estabelecer regras gerais para, digamos, a redistribuição da


riqueza entre os municípios seria estabelecida ou por consenso democrático
(que, como a experiência histórica nos ensina, é muito difícil de ser alcançado
de modo voluntário ou informal), ou por cidadãos como sujeitos democráticos,
dotados de poder decisório em diferentes níveis dentro de uma estrutura de
governança hierárquica (HARVEY, 2014, p. 270).

A contribuição de Lefebvre (2008) e Harvey (2014), sobre o Direito à Cidade é


importantíssima. Ambos estabelecem que esse é um Direito de todos, independentemente de
sua condição econômica ou social, pois conforme Lefebvre (2008), o Direito à Cidade é um
direito baseado nas pessoas, e na dignidade da condição humana. Seu ponto de partida dá-
se pela resistência aos chamados “projetos urbanísticos estruturantes” que visavam apenas
a reprodução do capital no espaço urbano.

Essa nova realidade possibilitou a segregação das pessoas mais desfavorecidas


economicamente, marcando a cidade pela divisão por classes sociais em que os mais
abastados têm condições de permanecer no centro, onde em tese, os serviços e
equipamentos públicos são mais acessíveis, enquanto os mais desfavorecidos, são forçados
a ocuparem os espaços menos valorizados na cidade, onde os serviços e equipamentos
públicos são precários ou inexistem e assim, são destituídos do Direito à Cidade.

1.2. O DIREITO À CIDADE E SUA DIMENSÃO JURÍDICA

As formulações do conceito direito à cidade por seu viés político e filosófico tanto por
parte de Lefebvre e Harvey, não foram o suficiente para conter o avanço do capital sobre as
cidades. A sociedade capitalista está cada vez mais desigual, onde apenas as pequenas elites
que detém poder têm direito realmente à cidade. Dito isso, é necessário atualizar o conceito,
moldando-o à nossa realidade política e econômica e deixando seu lado utópico.
O fato é que o conceito de ‘direito à cidade’ de Henri Lefebvre foi muito mais
uma plataforma político-filosófica e não explorava diretamente como, ou em
que medida, a ordem legal que determinava o padrão excludente de
desenvolvimento urbano. Aos argumentos sociopolíticos de Lefebvre, deve
ser acrescentada uma outra linha, ou seja, argumentos jurídicos que nos
permitam construir uma crítica à ordem legal não apenas na perspectiva de
valores sociopolíticos ou humanitários, mas desde dentro da própria ordem
legal (TRINDADE, 2012 apud FERNANDES, 2007, p. 208).
28

Nesse caso, afirmando uma perspectiva mais jurídica, mas sem se afastar do sentido
filosófico, o direito à cidade relaciona-se, assim, aos desejos da população que mora, trabalha,
sobrevive, produz no espaço urbano. Ele deve ser garantido por processos de participação,
pelas experiências e práticas espontâneas vivenciadas na cidade. Portanto, trata-se de um
direito com reflexos jurídicos, destacando assim o direito à gestão democrática da cidade e à
participação popular (GUIMARÃES, 2017).

Um passo fundamental na construção do direito à cidade foi à elaboração da Carta


Mundial pelo Direito à Cidade, assinada no Fórum Social Mundial de Porto Alegre3 em 2005.
Para isso, contou com a mobilização e articulação dos movimentos populares, organizações
não governamentais, fóruns e redes nacionais e internacionais da sociedade civil,
comprometidas com as lutas sociais por cidades justas, democráticas, humanas e
sustentáveis.

Sobre a Carta, Fittipaldi (2006, p. 104-105) assegura que


Em sua redação, o direito à cidade é representado pelo usufruto igualitário da
cidade, entendendo-a como um direito coletivo. Além disso a Carta Mundial
do Direito à Cidade materializa a luta dos movimentos sociais pelo
reconhecimento dos direitos dos habitantes da cidade, inserindo-a dentre as
formas de realização dos demais direitos humanos já reconhecidos.

Concorda-se com Fittipaldi (2006), quando essa afirma que esses direitos, constituem
um “feixe” de direitos fundamentais para a materialização da dignidade da pessoa humana,
assim como concebido em nossa Constituição Federal. Ao analisar a Carta Mundial, destaca-
se o art. IV da mesma, que assegura que as cidades devem se comprometem à produção
social do habitat e da habitação;
As cidades devem estabelecer mecanismos institucionais e desenvolver os
instrumentos jurídicos, financeiros, administrativos, programáticos, fiscais,
tecnológicos e de capacitação necessários para apoiar as diversas
modalidades de produção social do habitat e da habitação, com especial
atenção aos processos autogestionários, tanto individuais e familiares quanto
coletivamente organizados (ONU, 2005, p.4).

A partir desse pressuposto, o art. V obriga a adoção do princípio da função social da


propriedade pública e privada para a realização dos interesses sociais, culturais e ambientais.

3 Segundo França e Cavalcante (2017), a elaboração da Carta Mundial à Cidade foi antecipada por algumas
atividades preparatórias, tais como: Fórum Internacional sobre Meio Ambiente, Pobreza e Direito à Cidade (1992);
Carta Europeia das Mulheres na Cidade (1995); Tratado sobre questão urbana “Por Cidades, Vilas, Povoados
Justos, Democráticos e Sustentáveis” (ECO 92); Conferência Global sobre os Assentamentos Humanos das
Nações Unidas, Habitat II, (1996); Assembleia Mundial de Moradores (2000); Carta Europeia para a Salvaguarda
dos Direitos do Homem na Cidade (2000); e depois de treze anos de tramitação, o Estatuto da Cidade brasileiro
(Lei Federal nº. 10.257/2001).
29

1. As cidades devem desenvolver um planejamento, regulação e gestão


urbano-ambiental que garantam o equilíbrio entre o desenvolvimento urbano
e a proteção do patrimônio natural, histórico, arquitetônico, cultural e artístico;
que impeça a segregação e a exclusão territorial; que priorize a produção
social do hábitat e a função social da cidade e da propriedade. Para tanto, as
cidades devem adotar medidas que conduzam a uma cidade integrada e
equitativa.
2. O Planejamento da cidade e os programas e projetos setoriais deverão
integrar o tema da seguridade urbana como um atributo do espaço público
(ONU, 2005, p.4)

Além disso, o art. XII obriga o Poder Público a garantir o acesso equitativo de todos
aos serviços públicos
1. As cidades devem garantir a todos(as) os(as) cidadãos(ãs) o acesso
permanente aos serviços públicos de água potável, saneamento, coleta de
lixo, fontes de energia e telecomunicações, assim como aos equipamentos
de saúde, educação e recreação, em co-responsabilidade com outros
organismos públicos ou privados de acordo com o marco jurídico do direito
internacional e de cada país.
2. As cidades devem garantir – ainda quando se tenha privatizado a gestão
dos serviços públicos anteriormente à subscrição dessa Carta – tarifas sociais
acessíveis e a prestação de um serviço adequado a todos, especialmente
para as pessoas e grupos vulneráveis ou desempregados.
3. As cidades se comprometem a garantir que os serviços públicos dependam
do nível administrativo mais próximo da população com a participação
dos(as) cidadãos(ãs) na sua gestão e fiscalização. Estes devem ter um
regime jurídico de bens públicos, impedindo sua privatização.
4. As cidades estabelecerão sistemas de controle social da qualidade dos
serviços das empresas prestadoras de serviços, públicas ou privadas, em
especial em relação ao controle de qualidade, à determinação das tarifas e a
atenção ao público (ONU, 2005, p.5-6).

Por fim, o art. XIV aborda o direito à moradia, e no seu item 3° “as cidades devem
garantir a todos os grupos vulneráveis prioridade nas leis, políticas e programas de habitação
e assegurar financiamento e serviços destinados à infância e à velhice.” O art. XVI, que na
tutela do direito ao meio ambiente prioriza uma ação preventiva por parte do Estado.

1. As cidades devem adotar medidas de prevenção frente à contaminação e


ocupação desordenada do território e das áreas de proteção ambiental,
incluindo a economia energética, a gestão e a reutilização dos resíduos,
reciclagem, recuperação de vertentes e ampliação e proteção dos espaços
verdes.
2. As cidades devem respeitar o patrimônio natural, histórico, arquitetônico,
cultural e artístico e promover a recuperação e revitalização das áreas
degradadas e dos equipamentos urbanos (ONU, 2005, p.6)).

Segundo Alfonsin et. al (2017), ao analisar retrospectivamente a Carta Mundial,


caracteriza a sua força simbólica, pois serve de base e contêm diretrizes a serem adotadas
pelos países do mundo na positivação do direito à cidade. Atualmente, o Equador prevê o
30

direito à cidade em sua Constituição Federal e a cidade do México, uma das grandes
metrópoles das Américas, incluiu o direito à cidade na sua Constituição após um longo debate,
conduzido com grande participação popular.

Outro documento específico de grande importância no estudo do direito à moradia e


do direito à cidade é a Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos
(HABITAT). De acordo com Sanches, Miaki e Junior (2017), a Conferência HABITAT I
realizada em Vancouver em 1976, foi considerada como a primeira grande reunião
internacional, partindo do reconhecimento à necessidade de se discutir os processos de
desenvolvimento urbano em curso.

Vinte anos depois, em 1996, ocorreu a Conferência HABITAT II em Istambul,


reafirmando os compromissos assumidos anteriormente e adotando um plano de ação global,
conhecido como a Agenda Habitat, cuja principal iniciativa era o tratamento em precária
situação ocasionada por desastres naturais, guerras civis e conflitos urbanos. A sua atuação
inicial havia sido focada na necessidade de promover condições mínimas de moradia para as
pessoas refugiadas e desabrigadas (FITTIPALDI, 2006).

Em 2016 ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre Habitação e


Desenvolvimento Urbano Sustentável (HABITAT III), em Quito no Equador. Após muito debate
entre as organizações e governos presentes, resultou a aprovação da Nova Agenda Urbana
(2016), que teve, primeira vez na história, o Direito à Cidade incluído em documento oficial,
podendo ser definido como o:
Ideal de uma cidade para todos, referindo-nos à igualdade no uso e no
desfrute das cidades e dos assentamentos humanos, e buscando promover
a integração e garantir que todos os habitantes, tanto das gerações presentes
como das futuras, sem discriminação de nenhum tipo, possam criar cidades
e assentamentos humanos justos, seguros, saudáveis, acessíveis, resilientes
e sustentáveis, e habitá-los, com a finalidade de promover a prosperidade e
a qualidade de vida para todos. (tradução: SANCHES, MIAKI, JUNIOR,
2017).

À medida em que o processo de urbanização se intensifica, os conflitos urbanos se


destacam. Nesse caso, direito à cidade passa a configurar como um dos temas centrais de
discussão no cenário internacional, influenciando diretamente na construção e na formação
de políticas públicas dos países democráticos. No Brasil, a crescente movimentação social
em torno do direito à moradia e da reforma urbana já era percebido desde a década de 1980
com atuação dos movimentos sociais. Foi através da promulgação da Constituição de 1988,
que se instaurou uma nova ordem jurídica no país, materializando alguns dispositivos que
demonstraram a preocupação com o desenvolvimento urbano até então em curso
(SANCHES, MIAKI, JUNIOR, 2017).
31

No ordenamento jurídico brasileiro, o direito à cidade, é assegurado afirmado no texto


constitucional, oriundo das lutas dos movimentos sociais que, na década de 1970, retomaram
a postura reivindicatória deflagrada antes ditadura militar (DIAS, SILVA, 2018). Durante a
elaboração da Constituinte de 1988, os movimentos sociais rearticularam suas forças, criando
o Movimento Nacional pela Reforma Urbana (MNRU), reunindo movimentos populares,
associações e entidades profissionais (arquitetos, sanitaristas, assistentes sociais), entidades
sindicais, acadêmicas e integrantes da igreja católica (TRINDADE, 2012).

O MNRU, apresentou uma emenda constitucional de iniciativa popular, subscrita por


cerca de 130 mil eleitores em todo o Brasil, denominada Emenda Popular de Reforma4
Urbana, contendo reivindicações ligadas especialmente aos movimentos populares de
moradia, transporte, saneamento etc. (TRINDADE, 2012). Entretanto, para o autor, essa foi a
primeira vez na história constitucional brasileira, que continha um capítulo específico sobre
política urbana, localizado nos artigos 182 e 183.

Concordando com Trindade (2012), Cafrune (2016) afirma que o MNRU foi
protagonista na inclusão do capítulo sobre a Política Urbana na Constituição de 1988,
atribuindo para os municípios (governo local) a aprovação do plano de desenvolvimento
urbano e nele estabelecer os instrumentos para efetivar as funções sociais da cidade, como
o usucapião de imóvel urbano e o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios5.

A mobilização pela regulamentação dos dispositivos constitucionais e da efetivação


das funções sociais da cidade, persistiu por aproximadamente 11 anos, já que o projeto de lei
foi protocolado em 1990 e a lei do Estatuto da Cidade (lei 10.257/01) foi promulgada apenas
em 2001 (ALFONSIN et. al, 2017).

Segundo Guimarães (2017), a criação do Estatuto da Cidade representou talvez o


maior avanço em relação ao texto constitucional, consagrando como uma das diretrizes gerais
da política urbana pela “garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito
à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e
aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações” (artigo
2º, caput e inciso I).

4O texto final dos trabalhos da Constituinte, embora tenha representado uma vitória do MNRU, não agradou ao
movimento (DIAS, 2018). Trindade (2012) afirma que em razão da resistência das forças políticas conservadoras,
a proposta desse movimento não foi incorporada em sua totalidade, ficando na realidade muito aquém do
esperado.
5 Nesse caso, foi incluído a possibilidade de o governo local exigir o uso de imóveis inativos e autuar os
proprietários pelo seu descumprimento. Além disso, foi adicionado uma modalidade de usucapião por meio da
qual, a propriedade é adquirida pelo possuidor que utilizar um imóvel privado para fins de moradia por 5 anos
ininterruptos. Mesmo assim, no entendimento de parte dos movimentos sociais, era necessário naquele momento,
lutar pela regulamentação desses artigos constitucionais com o intuito de avançar na construção de uma legislação
mais específica para a política urbana (TRINDADE, 2012).
32

O Estatuto da Cidade, além de regulamentar o capítulo da Constituição relativo à


política urbana, veio também afirmar a importância da gestão democrática das cidades como
mecanismo da efetivação do princípio da dignidade humana e como instrumento importante
de cidadania, a partir da participação coletiva da população na tomada de decisões. Desse
modo, visa reverter à situação de desigualdade vivenciada na maioria das metrópoles
brasileiras, em que grande parte dos habitantes permanece excluídos da infraestrutura e dos
serviços públicos (GUIMARÃES, ARAÚJO, 2018).

É notável que o rápido e desgovernado crescimento da população urbana trouxe


inúmeros problemas às cidades. Especialmente na América Latina, o crescimento do número
de assentamentos irregulares e outras formas precárias de moradia, fruto da segregação
socioespacial e da produção capitalista do espaço, evidenciam o caos experimentado
diariamente pelos cidadãos, principalmente no que diz respeito à falta de acesso aos serviços
públicos (GUIMARÃES, ARAÚJO, 2018).

Conforme demonstra Cafrune (2016), mesmo com a institucionalização das políticas


urbanas com participação social, como previsto no Estatuto da Cidade, pouco se traduziu em
transformações urbanas capazes de reverter os processos de urbanização dominantes.
Diante essa desordem instaurada nas cidades, surgiu a necessidade de pensar métodos e
táticas estratégias e inovadoras para o planejamento urbano.

Para Amanajás e Klug (2018, p. 32),


O descolamento entre o processo de construção do espaço urbano e as
necessidades das pessoas (ROLNIK, 2016) ou, ainda, as novas demandas
por cidade (MARICATO, 2016) ou a reivindicação do exercício do direito à
cidade (CAFRUNE, 2016) podem ser explicações para os movimentos que
aconteceram no Brasil, a partir de 2013.

Assim, Cafrune (2016) destaca que as cidades brasileiras passaram a ser palco das
manifestações populares em busca pelos mais variados direitos urbanos, dentre os quais se
destacam: os comitês populares da copa; as jornadas de junho; o movimento Ocupe Estelita;
e os rolezinhos nos shoppings. Segundo a autor,” essas expressões de luta urbana são
representativas do período e compartilham entre si a perspectiva do direito à cidade como
direito de viver, usar e produzir o espaço urbano” (CAFRUNE, 2016, p. 196).
33

CAPÍTULO 2

A LUTA PELO DIREITO À CIDADE: ATUAÇÃO DOS MOVIMENTOS


SOCIAIS NA CIDADE DEMOCRÁTICA

Neste capítulo iremos apresentar a importância da participação popular na construção


de uma cidade mais justa e democrática. Assim, defenderemos que os grupos mais
vulneráveis, ou seja, aqueles excluídos do Direito à Cidade devem ter participação mais ativa
na tomada de decisões no planejamento da cidade.

Posteriormente, são definidos o que são movimentos sociais, fazendo um breve


histórico no Brasil, desde a luta contra à Ditadura Militar até os dias atuais. Trataremos ainda
sobre os conflitos urbanos, quem são os causadores, bem como a atuação dos movimentos
sociais em solucionar os conflitos.

Para que no último item deste capítulo, possamos exemplificar alguns movimentos
sociais que lutam contra todo o tipo de desigualdade. Esses movimentos lutam por cidades
mais justas e democráticas, contrapondo-se aos interesses capitalistas no espaço urbano.

2.1 A CIDADE DEMOCRÁTICA COMO UM IDEAL PARA A PARTICIPAÇÃO


POPULAR

Nas últimas décadas, o espaço urbano tem se revelado de grande importância para a
luta dos movimentos sociais, pois ao se expandir, acaba empurrando a população mais
desfavorecidas para as áreas periféricas, destituídas de serviços, de infraestrutura urbana e
de equipamentos coletivos. Dito isso, observa-se que as cidades brasileiras têm se

6 AGENCIABRASIL. Disponível em: < http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-04/movimentos-sociais-


fazem-manifestacao-por-moradias-no-centro-do-rio>. Acesso em: 22 nov. 2019.
34

configurado como espaço de grande segregação socioespacial (GUIMARÃES, 2015). Para a


autora
a dinâmica de produção e reprodução do espaço urbano não pode ser
pensada longe de sua intrínseca relação com os processos de acumulação
capitalista e de exploração da força de trabalho, assim como também tal
reflexão não pode estar apartada das lutas e resistências populares
engendradas nesse contexto (GUIMARÃES, 2015, p. 722).

Diante disso, Catalão, Magrini e Lindo (2019, p. 203), afirma que a produção do espaço
urbano ocorre a partir de várias ações, entre o “Estado e iniciativa privada, interesses coletivos
e interesses individuais, grupos de cidadãos com maiores recursos para acessar
determinados serviços e outros praticamente à margem do processo”. Os autores destacam
que essas contradições tensionam e dinamizam as cidades, “numa relação de forças em que
prevalecem, ao que tudo indica, os interesses diretos daqueles que detêm poder econômico
e político e desejam mantê-lo” (CATALÃO, MAGRINI, LINDO, 2019, p. 203).

A cidade, entendida como um espaço urbano que priorize a convivência social e o


desenvolvimento das atividades humanas (REIS, VENÂNCIO, 2018 apud FIORILLO, 2013),
necessita cada vez mais, de mecanismos capazes de promover uma reconstrução da
sociedade através da ação dos atores sociais, pois estes serão os responsáveis pela
construção de uma sociedade justa e sustentável. É nesse sentido que o fortalecimento da
participação popular na gestão da cidade, aliado, à garantia efetiva dos direitos fundamentais
da dignidade humana, previstos na Constituição Federal, induz à reconstrução de uma
sociedade mais justa, visando o bem-estar de todos, ou seja, a cidade ideal almejada pelos
cidadãos (REIS, VENÂNCIO, 2018).

A participação popular, no que diz respeito à gestão do espaço urbano, mostra-se


indispensável no direcionamento da atuação do Poder Público frente as reivindicações sociais
dos cidadãos. Na atualidade, diante dos problemas urbanos causados pela atuação do Estado
liberal, a participação popular desempenha papel fundamental no resgate ao exercício
fiscalizador desta atuação, através da mobilização dos grupos sociais excluídos da vida
urbana, em participar e intervir na tomada de decisões e assim possibilitar a concretização de
seus interesses (REIS, VENÂNCIO, 2018 apud MENCIO, 2007). Portanto, para concretização
dessas reivindicações só é possível se
O Estado assegurar a elaboração e o aperfeiçoamento de mecanismos que
sejam hábeis a fomentar a participação popular no bojo dos Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, assegurando maior controle social sobre
as atividades desenvolvidas pelo Poder Público em nome do interesse
coletivo (ALBUQUERQUE, 2015 apud SARLET e FENSTERSEIFER, 2014,
p. 48-49).
35

O direito à participação popular no desenvolvimento de cidades justa e igualitárias


estão asseguradas na constituição Federal. Porém, sem a sua garantia, todo o processo
democrático, ou seja, o espírito da Carta Magna de 1988 perderá seu sentido
(ALBUQUERQUE, 2015 apud BONAVIDES, 2001). Isso parte da compreensão do direito à
participação como algo ligado à dignidade humana, ou seja, um conjunto de direitos
relacionados à cidadania. Portanto, se constitui como um direito muito superior ao ato votar
em eleições, tampouco ao simples exercício da democracia direta, como é o caso de
plebiscitos, referendos e iniciativas legislativa populares (ALBUQUERQUE, 2015 apud
SARLET, FENSTERSEIFER, 2014).

A participação se constitui como importante dispositivo na garantia do direito à cidade


mais justas e igualitárias, pois, a partir dela, é possível a realização da dignidade da pessoa
humana (ALBUQUERQUE, 2015). Para isso, é necessário que as políticas públicas de
planejamento urbano, de caráter apenas tecnicista, sejam compartilhadas entre o Estado e os
atores sociais, a fim de dar maior legitimidade às decisões públicas, pois agora estas
possuirão o aval da comunidade. Além disto, a participação é essencial em trazer ao debate
público novas possibilidades para solucionar as desigualdades socioespaciais, uma vez que
nem sempre chegam ao conhecimento da administração pública. Pois, a partir do momento
em que os grupos excluídos, passam a ter voz na elaboração/construção da cidade, tendem
a romper com a desigualdade urbana existente (SILVEIRA, GRASSI, 2015).

A população descontente com situação em que se encontra, esquecida pelo Poder


Público e excluída dos direitos urbanos, estão reivindicando mudanças sociais. Para isso,
lutam pela construção de um espaço local onde seja possível a sua participação nos
processos decisórios e na efetivação das políticas públicas garantidoras dos direitos
fundamentais (SILVEIRA, GRASSI, 2015 apud COSTA, REIS, 2010). A legitimidade da sua
atuação, parte do próprio povo, que se une em um movimento de participação coletiva, que
permite que sejam parte atuante nas decisões políticas e ambientais, com possibilidades de
se chegar um denominador comum que vai orientar as políticas públicas. Para que a
participação popular seja efetiva e consciente é necessário que a população se apresente
bem informada e com senso crítico em relação às informações que lhes serão apresentados,
atentos, portanto, às expectativas socioambientais de toda a população (REIS, VENÂNCIO,
2018).

2.2 OS MOVIMENTOS SOCIAIS E CONFLITOS URBANOS

Para Gohn (2000), os movimentos sociais são


36

ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais


pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas
demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil. Suas
ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas
em situações de conflitos, litígios e disputas. As ações desenvolvem um
processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva ao
movimento, a partir de interesses em comum. Esta identidade decorre da
força do princípio da solidariedade e é construída a partir da base referencial
de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo (GOHN, 2000, p.
13).

Na América Latina e em especial no Brasil, os movimentos sociais populares


ganharam força e notoriedade ao final dos anos 1970 e parte da década de 1980, diante de
seu posicionamento em oposição ao regime militar (GOHN, 2000).

A Era Vargas (1930-1945) e a Ditadura Militar (1964-1985), foram fundamentais para


impulsionar o processo de industrialização e urbanização, que alterou o perfil da economia e
da classe trabalhadora brasileira. O Brasil deixa de ser um país predominantemente agrícola,
e torna-se industrial e urbano, com a crescente migração e, assim, consolidação da classe
trabalhadora urbana (FERRAZ, 2019 apud SADER, 1995).

A década de 1970, se caracteriza-se pela estagnação da economia, o desemprego, a


deterioração dos salários e das condições de vida nas cidades contribuiu para estimular o
surgimento de organizações operárias de oposição às direções sindicais durante a ditadura e
organizações populares de luta contra a precariedade dos serviços urbanos, como transporte,
saúde e educação nas periferias das grandes cidades (FERRAZ, 2019).
O ano de 1984 foi um marco na história sociopolítica do Brasil com o movimento Diretas
Já. Segundo Gohn (2000), esse movimento marcou fim do regime militar. Embora as eleições
diretas para presidente da República só vieram a acontecer em 1989, mas entre 1984 e 1988
o país se mobilizou por uma nova Constituição. Os movimentos sociais que emergiram na
cena política, desde o final dos anos 70, conseguiram inscrever em leis, várias reivindicações,
que foram adotadas na nova Constituição. Foram conquistas sociais de trabalhadores,
mulheres, índios, etc. (GOHN, 2000).
Esse ciclo de lutas operárias e populares que se inicia nos anos 1970 se encerrará nos
anos 1990 quando a adesão ao neoliberalismo pelos governos brasileiros afetará
profundamente a nossa economia (FERRAZ, 2019). Desemprego, reformas, reestruturações
no mercado de trabalho, flexibilização dos contratos etc. passaram a ser a temática desse
novo cenário de crise. Os sindicatos dos trabalhadores se enfraqueceram, o número de
pessoas a atuar na economia informal multiplica-se. Os sindicatos passam a lutar contra as
políticas de exclusão social do governo; muda-se a pauta das reivindicações dos
trabalhadores: a luta é para manter o emprego e não por melhores salários ou condições de
trabalho, como anteriormente (GOHN, 2000).
37

Com isso, os movimentos sociais populares urbanos se desarticulam, e a luta social


no campo se acentua. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), criado nos
anos 80, ganha as manchetes da mídia e torna-se o principal agente do conflito social do país
(GOHN, 2000).

O ano de 2000 marca o retomo dos movimentos sociais à cena política nacional.
Apesar de quase uma década de desmobilização dos movimentos populares urbanos, eles
iniciam lenta retomada, incorporando a experiência adquirida via a participação nos
conselhos, fóruns e outras formas mais ou menos institucionalizadas de participação (GOHN,
2000).

Atualmente, os movimentos sociais são organizados de forma coletiva,


descentralizada e em defesa dos direitos da população negra, das mulheres e da população
LGBT, cuja principal característica tem sido o uso das redes sociais (facebook, twitter,
instagram, whatsapp) como formas de comunicação, articulação e divulgação das ideias e
bandeiras dos movimento (FERRAZ, 2019 apud SCHERER-WARREN, 2008, 2014).

Dito isso, conclui-se que, em um quadro de deterioração da economia e das condições


de vida e trabalho, a população mais desfavorecida se articula e se mobiliza, e luta contra as
desigualdades e execuções sociais, ou seja, por melhores condições de vida, ainda que sem
uma direção ou projeto político bem definido (CABRAL, SÁ, 2009; FERRAZ, 2019).
Toda essa luta e mobilização ocorre na cidade, que cada vez mais se torna um espaço
desigual e excludente. Para Viana (2016), a cidade é, ao mesmo tempo, um espaço físico (um
lugar com localização e características específicas) é um espaço social (um lugar onde as
relações sociais se estabelecem). Assim, podemos definir a cidade como um espaço marcado
por relações sociais (classes, relações de produção e distribuição), divisão do trabalho e
controle sobre o meio ambiente, ou seja, um espaço de dominação de classe.
Além de ser um espaço marcado por uma divisão social do trabalho (produção,
distribuição, consumo, moradia, lazer), também é caracterizada pela “centralização e
hierarquia espacial ou através de policentrismo e periferias difusas” (VIANA, 2016 p. 111), isto
é, pelo centro e as periferias em volta, assim com bairros nobres e bairros carentes. Nesse
sentido, a cidade se caracteriza com um espaço propício a conflitos urbanos. Os problemas
envolvendo a locomoção no espaço urbano, transporte coletivo, violência, déficit habitacional,
segregação espacial, intervenção estatal, degradação ambiental continuam existindo e
gerando inúmeros conflitos sociais.
No espaço urbano, a população mais desfavorecida, em grande parte, vive em lugares
com as piores condições urbana, excluídas do acesso aos bens coletivos, etc. Assim, a
população descontente com a de abandono em que se encontram, parte para luta, se unindo
38

em movimentos reivindicatórios, em busca de melhoria no espaço urbano, melhorias essas


que podem ser em saúde, moradia, lazer, trabalho, transporte coletivo, etc.

A exigência de bens coletivos (equipamentos, estrutura, etc.), a ocupação de prédios,


terrenos, etc., a reivindicação de transporte coletivo melhor e mais barato, segurança urbana,
etc., vai de encontro contra os interesses da classe capitalista. Essas ações e reivindicações
dos movimentos sociais colocam em questão a gestão do espaço urbano por parte do Estado,
questionando a propriedade de determinados bens imóveis, exigindo mais gastos do Estado
na parte social e, consequentemente, menor lucro para o capital privado que explora serviços
urbanos como habitação, transporte coletivo, saúde, etc. (VIANA, 2016).

Em uma sociedade cada vez mais capitalista, onde o Estado ao invés de estar a favor
dos interesses coletivo, serve apenas para reafirmar a lógica excludente e perversa do capital.
Nesse caso, os movimentos sociais lutam contra essa lógica, direcionando ao Estado toda
sua crítica. De modo que se o Estado permanecesse neutro, visado o “bem público”,
consequentemente as demandas dos movimentos populares não significaria conflito de
classes (VIANA, 2016).

Porém, o aparato estatal está a serviço do capital, pois cria condições propícias para
reprodução e acumulação das relações de produção capitalistas, bem como exercendo a
repressão social sobre os movimentos sociais, entre outras ações. Dessa forma, as políticas
estatais são no sentido de reproduzir as condições de reprodução do capital e assim,
causando diversos conflitos urbanos (Figura 1).

Figura 1 - Fatores causadores dos conflitos urbanos

Fonte: VIANA, 2016. Adaptado pelo autor, 2019


39

No Brasil, o processo é idêntico, pois a sociedade brasileira ainda é marcada pela


exclusão social, por isso, os movimentos sociais encontram dificuldades em superar os
problemas urbanos. Portanto, para solucionar esses problemas, só seria possível a partir da
participação desses agentes junto aos poderes Legislativo e Executivo, e assim, contemplar
tanto os problemas urbanos quanto as diretrizes para uma política pública que permitisse a
melhoria da qualidade da cidade (SILVA, 2006).

Nesse caso, os movimentos sociais vêm atuando junto com o Ministério Público na
busca por diminuir os problemas causados pelos conflitos urbanos, ou seja, almejam a
harmonização ou conciliação entre as partes divergentes. Instrumentos como a Ação Civil
Pública (Lei 7347) e a Ação Popular (Lei 4717), além de serem instrumentos legais em prol
do interesse coletivo, ampliam a ação popular na luta por cidade mais justa e sustentáveis.
Portanto, tratar-se de instrumentos relacionados a cidadania, tanto a Ação Civil Pública quanto
a Ação Popular são utilizados timidamente pela sociedade civil (ALCANTARA, 2010).

O Ministério Público, utiliza amplamente a Ação Civil Pública na resolução dos conflitos
urbanos. Alcantara (2010), afirma que o MP possui como função principal, além de fiscalizar
a lei e promover a justiça, defender os direitos massificados da sociedade, em uma função
preventiva e repressiva.

O Ministério Público, dispondo de uma série de instrumentos de atuação,


pode figurar tanto como “demandista”, atuando frente ao Poder Judiciário que
se incumbe da resolução dos conflitos, através da Ação Civil Pública, do
Inquérito Civil e Criminal por. ex.; ou assumir um papel “resolutivo”, lançando
mão dos procedimentos administrativos e firmando Termos de Ajustamento
de Conduta, e a partir daí, resolvendo os embates (ALCANTARA, 2010, p.
1812).

Para Alcantara (2010), a resolução de conflitos através de Termos de Ajustamento de


Condutas (TAC) pelo Ministério Público ou Termos de Compromisso (legitimados para alguns
órgãos públicos) se dá mediante um compromisso firmado para “ajustar” a conduta do agente
que está em desacordo com a lei. Conforme o autor, esses instrumentos extrajudiciais, acaba
sendo eficaz, na medida em que possibilita que os conflitos que sejam de interesse da
coletividade sejam resolvidos de forma mais ágil. Entretanto, eles apresentam inúmeras
deficiências em função do não cumprimento dos acordos firmados, principalmente devido à
ausência ou insuficiência de fiscalização.

Devido à autonomia substancial do Ministério Público, existe a possibilidade de os


acordos serem negociados visando atender interesses particulares (elite econômica), isto é,
eliminando os interesses coletivos e possibilitando o desenvolvimento de atividades lesivas a
população e ao meio ambiente, com o aval do MP, mediante certas concessões
(ALCANTARA, 2010).
40

Portanto, para que os movimentos sociais concretizem seus direitos, é necessário que
o Ministério Público esteja isento de influências políticas e econômicas, assim como os
Termos de Ajustamento de Condutas, que ao invés de diminuir efetivamente os possíveis
conflitos ambientais, pode legitimar possíveis práticas excludentes (ALCANTARA, 2010).

2.3 ATUAÇÕES DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA GARANTIA DOS DIREITOS


URBANOS

Segundo Dias e Silva (2018), os movimentos sociais são formados em torno de


objetivos e causas comuns, sendo em sua maioria associadas a questões sociais, políticas,
econômicas e/ou culturais. Assim, os movimentos sociais são

esforços persistentes e intencionais para promover ou obstruir mudanças


jurídicas e sociais de longo alcance, basicamente fora dos canais
institucionais normais sancionados pelas autoridades, que buscam persuadir
os demais cidadãos da necessidade de mudança/manutenção do “status quo”
(DIAS, SILVA, 2018 apud JASPER, 2016, p. 23).

Os movimentos sociais, são de grande contribuição, ajudando a transformar a


realidade social, mobilizando a sociedade a partir de protestos, ou práticas de pressão contra
as mais diversas formas excludentes de poder. Nesse sentido, podemos destacar os
movimentos atuantes nos Estados Unidos, ocorridos na década de 60, pelos direitos civis e
contra a guerra do Vietnã, ou os diversos movimentos atuantes no Brasil contra a ditadura
militar, iniciada em 1964. Nos dias atuais, a atuação dos movimentos sociais, se distingue do
passado, pelas novas formas de organização e pelo uso da internet, ampliando a participação
popular no meio político (DIAS, SILVA, 2018).

Nas últimas décadas, o espaço urbano brasileiro foi palco de diversas manifestações.
Esses movimentos reivindicaram entre outras coisas, por moradia e pela transformação do
espaço urbano. O crescimento desenfreado das grandes cidades brasileiras, em decorrência
da migração da população campesina, fez surgir diversas realidades caóticas nas metrópoles.
Nesse caso, atuação dos movimentos sociais urbanos, são de grande valia na reivindicação
pelo Direito à Cidade, pois surgem contestando a relação de poder dentro do planejamento
urbano brasileiro, responsável por deixar milhões de pessoas em condições precárias, ou, até
mesmo, sem moradia (DIAS, SILVA, 2018).

Nesse sentido, Dias & Silva (2018) destacam a atuação da União Nacional por Moradia
Popular (UNMP) e do Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM), que surgiram no final
da década de 80, com o objetivo de contestar a lógica excludente de nossas cidades. Os
autores ainda destacam o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que através de
41

ações reivindicatórias, busca pressionar o poder público e chamar a atenção de toda a


sociedade ao problema urbano, a fim de que o acesso à moradia digna não seja mais
compreendido como mercadoria, mas como direito fundamental, como determina a
Constituição Federal (DIAS, SILVA, 2018).

Vale destacar que os efeitos negativos decorrente da urbanização desigual e


segregadora, não se resume apenas a realidade brasileira, atinge ao mesmo tempo países
desenvolvidos e subdesenvolvidos. Nesse sentido, a temática urbana e, sobretudo, o direito
à cidade, ganham destaque mundial nesta década, mais precisamente em 2011, quando o
centro financeiro de Manhattan, nos Estados Unidos, foi tomado por manifestante que lutavam
contra a desigualdade econômica e os efeitos da crise financeira e que ficou conhecido por
Occupy Wall Street. Conforme Dias e Silva (2018, p.6), esses protestos “conseguiram trazer
uma nova perspectiva de relacionamento entre o cidadão e a cidade, além da concepção de
uma nova sociedade, com a prioridade do valor de uso sobre o de troca, conforme os termos
lefebvrianos”.

Os manifestantes do Occupy Wall Street (OWS), se concentraram no parque Zuccotti,


em Nova Iorque (Figura 2), em meio ao maior centro financeiro do mundo e denunciavam a
perversidade do sistema econômico e, ao mesmo tempo, reivindicavam o direito ao espaço
público (DIAS, SILVA, 2018). Influenciados pelo movimento espanhol “15M” (também
conhecido como “Indignados”) e dos protestos que abalaram o mundo na Primavera Árabe,
os manifestantes se organizavam de maneira descentralizada, através de assembleias,
utilizando o espaço urbano como estratégia de luta e como palco do florescimento de uma
democracia participativa.

Figura 2 - Movimento Ocuppy Wall Street no parque Zuccotti em Nova Iorque

Fonte: CURTIS BUNN, 20157

7
BUNN, Curtis. Movimento Ocuppy Wall Street, no parque Zuccotti (Manhattan, NY). Disponível em:
<https://atlantablackstar.com/2015/02/02/lessons-for-black-protesters-7-things-that-will-blow-your-mind-about-
how-the-occupy-wall-street-movement-was-crushed/>. Acesso em: 25 ago. 2019
42

Nesse caso, ao utilizar a estratégia de “ocupar” o espaço público, o movimento acabou


repercutindo em diversas cidades dos Estados Unidos até chegar o mundo. Embora suas
reivindicações não tenham sido totalmente atendidas, devido os vários tipos de demandas do
movimento, o OWS obteve uma série de pequenas vitórias, em especial, mostrar a sociedade
a importância da participação na construção da cidade (DIAS, SILVA, 2018).

Conforme Dias e Silva (2018, p. 6),


A possibilidade de uma sociedade com maior participação do cidadão na
gestão da coisa pública, objetivo de diversos dos movimentos sociais
urbanos, permite que a cidade se transforme no local de realização do ser
humano, assegurando o bem-estar coletivo e o florescimento de uma
urbanização que privilegia as pessoas.

No Brasil, diversos movimentos sociais brasileiros agitaram a vida pública do país,


colocando o bem-estar coletivo acima dos interesses econômicos. Além das demandas típicas
por moradia digna, esses grupos também “reivindicam a cidade como espaço de realização
do ser humano, baseada na plena sociabilidade entre seus habitantes, isto é, a materialização
do direito à cidade, que não se encerra obviamente no acesso à moradia digna” (DIAS, SILVA,
2018, p. 7).

Nesse sentido, convém destacar a atuação da comunidade da Vila Autódromo (Figura


3), no Rio de Janeiro, que devido a sua posição privilegiada, sempre foi alvo constante do
setor imobiliário, e consequentemente, ser removida. Após anos de disputa entre os
moradores e a prefeitura, em 2005 foi aprovada a lei complementar 74/2005, que transforma
a comunidade em Área Especial de Interesse Social. Só que anos depois, o fantasma da
remoção reaparece, quando o Rio de Janeiro passa a sediar as Olimpíadas de 2016. O plano
da Prefeitura previa a demolição do antigo autódromo de Jacarepaguá para construção do
Parque Olímpico, uma série de obras públicas em seu entorno e a remoção completa da Vila
Autódromo (ZEITUNE et. al, 2016).
43

Figura 3 - Vista aérea da área da Comunidade Vila Autódromo no Rio de Janeiro

Fonte: O GLOBO, 20158

No primeiro semestre de 2013, os moradores da Vila Autódromo em conjunto com uma


equipe técnica da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), apresentaram o Plano Popular de Urbanização, uma alternativa ao plano
do governo municipal para que a comunidade não precisasse ser removida. Ainda em 2013,
após apresentaram a última versão do plano diretor, as negociações foram rompidas e o
governo municipal passou a negociar individualmente com os moradores. Segundo Zeitune
et. al (2016), os moradores foram coagidos a aceitar a indenização da prefeitura, com o
pretexto de que as famílias deveriam sair senão iriam perder tudo. Com essa pressão, as
pessoas acabaram cedendo e abandonando o lugar e suas casas demolidas. Os que ficaram
passam a viver em um insuportável cenário de guerra, ao mesmo tempo que eram forçados
a fazer o mesmo (ZEITUNE et. al, 2016).

Atualmente, cerca de 20 famílias resistem contra a remoção e permanecem na


comunidade devido a um acordo firmado entre a prefeitura e intermediado pela Defensoria
Pública. Nesse acordo, o município se comprometeu a construir novas residências; um
espaço sociocultural, que serviria de sede para a associação de moradores, além de outros
equipamentos que seriam construídos imediatamente após o término da construção das
unidades residenciais. Só que infelizmente nada foi feito até agora (GRINBERG, 2019).

Assim como no exemplo da comunidade Vila Autódromo, outros movimentos


brasileiros também se organizam em razão do direito à cidade, buscando criar uma nova
perspectiva para a vida urbana. Nesse sentido, Dias e Silva (2018, p. 7), afirmam que a
apropriação e transformação democrática do espaço pelos habitantes da
cidade, assim como a garantia e acesso aos direitos básicos para uma vida

8 O GLOBO. Vista aérea da área da Comunidade Vila Autódromo, Rio de Janeiro. Disponível em: <
https://oglobo.globo.com/rio/com-remocoes-vila-autodromo-encolhe-83-em-dois-anos-17872872>. Acesso em: 12
nov. 2019.
44

digna, é potencializada pela atuação dos movimentos sociais, indispensáveis


para a vida pública e para a materialização do direito à cidade.

Porém, no espaço urbano é comum a existência de projetos que prometem mudar


radicalmente a paisagem urbana e trazer o “novo”. Foi assim que o Rio de Janeiro recebeu o
Museu do Amanhã e assim aconteceria em Recife, com o grandioso projeto do “Novo Recife”,
com cerca de 12 torres para uso residencial, escritórios e serviços de altíssimo padrão, no
Cais José Estelita, às margens do rio Capibaribe. O terreno, inserido em uma área bastante
valorizada de Recife, com mais de 100 mil metros quadrados que pertencia à Rede Ferroviária
Federal (RFFSA). Com a extinção da RFFSA, o imenso terreno foi incorporado ao patrimônio
da União, tornando-se um importante imóvel público na região central de Recife. Em 2008 foi
leiloado e arrematado pelo Consórcio Novo Recife, formado por grandes construtoras do país
(CARVALHO, 2019).

De início, a mobilização contra a implantação do empreendimento, partiu de diversos


ativistas que questionaram o leilão e o valor pago pelos arrematantes, além de debaterem
alternativas para o Cais José Estelita. O movimento toma proporções ainda maiores, após o
envolvimento da população recifense na luta pelo bem-estar coletivo e assim deu-se início as
ocupações do Cais, o “#OcupeEstelita” (Figura 4). O movimento surge a partir da organização
descentralizada e apartidária. A área foi ocupada por centenas de cidadãos, que puderam
compartilhar cultura e conhecimento em uma grande festa pelo direito à cidade (DIAS e
SILVA, 2018).

Figura 4 - Movimento de resistência popular #OcupeEstelita

Fonte: KEILA VIEIRA,20129

9VIEIRA, Keila. Movimento de resistência popular #OcupeEstelita. Disponível em:


< https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/14.167/5193>. Acesso em: 25 ago. 2019
45

Apesar disso, o projeto foi aprovado no Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU),


órgão municipal responsável por gerir a questão urbana de Recife, em uma sessão repleta de
polêmicas e controvérsias, no final de 2012. No entanto, a discussão não ficou apenas nas
ruas, chegou no Ministério Público e por uma série de ações judiciais questionando uma série
de irregularidades, como a não intervenção de órgãos técnicos, tais como o IPHAN, ANTT e
DNIT, e a ausência de estudo de impacto de vizinhança e de impacto ambiental, embargou a
obra (DIAS, SILVA, 2018).

Meses depois, o empreendimento obteve a licença para construção expedida em


tempo recorde, antes mesmo do término dos estudos realizados pelo IPHAN. E na mesma
noite, inicia-se a derrubada das antigas estruturas do Cais. Contudo, a demolição foi freada
pela ação organizada de membros do movimento Direitos Urbanos e da população em geral
(DIAS, SILVA, 2018).

A partir da ideia da cidade como espaço social e de convivência, o Movimento


#OcupeEstelita (MOE) se fortalecia cada dia mais. Contando com o apoio e incentivo de
diversos atores, o movimento buscava ideais em torno de um bem coletivo. Assim, o
movimento ganhava vida própria, estabelecendo-se como um novo personagem na política
recifense, com grande influência das redes sociais, e suas principais decisões eram adotadas
por assembleias, em uma verdadeira experiência de democracia direta. Além de ser um
movimento de resistência, o MOE fez florescer uma nova realidade cultural na cidade de
Recife. Isto porque a ocupação era acompanhada de diversas atividades culturais,
intervenções artísticas e circenses, oficinas, shows de importantes nomes da música popular
brasileira, responsáveis por levar milhares de pessoas ao local (DIAS, SILVA, 2018).

No entanto, após decisão judicial, o Tribunal de Justiça de Pernambuco determinou a


reintegração de posse do imóvel, facultando o uso da força policial caso fosse necessário. Os
movimentos ainda ocuparam as imediações do cais e a prefeitura em sinal de protesto. Desde
então, o Movimento #OcupeEstelita segue na luta pela concretização do direito à cidade em
Recife. Após idas e vindas, entre a ação do MPF e a pressão do MOE, o projeto segue parado
até, com estudos do IPHAN sobre o sítio arqueológico em que o Cais está localizado (DIAS,
SILVA, 2018).

A exemplo do projeto Novo Recife, o centro da cidade de São Paulo (Figura 5), também
está inserido nesse contexto de “modernização” do espaço urbano, isto é, a chamada
revitalização. Construído apenas para o fluxo de automóveis, o Minhocão, ao longo dos
últimos anos passou por diversas transformações em seu uso. Até que em 2014, com o Plano
Diretor Estratégico, a prefeitura de São Paulo propõe sua demolição e transformação em
parque. Dois anos depois, o até então prefeito da cidade, Fernando Haddad sanciona a lei
que cria o “Parque Minhocão”. Para Schiller e Caldeira (2017), essa lei não determinou
46

nenhum tipo de requalificação do entorno, nem tampouco transformou a via oficialmente em


parque, apenas sinalizando a vontade do poder público de eventualmente efetiva-lo.

Figura 5 - Proposta implantação do Parque Minhocão

Fonte: PREFEITURA DE SÃO PAULO, 201910

A partir dessa indecisão, alguns grupos se destacam no debate em propor um novo


uso ao elevado. Assim, o Movimento Desmonte do Minhocão (MDM) e a Associação Amigos
do Parque Minhocão defende, entre outras coisas, sua demolição, entendo-o como símbolo
político da ditadura e da hegemonia do automóvel, além dos problemas de insalubridade e
degradação associados à estrutura. Já aqueles que pedem sua total transformação em
parque argumentam que há uma carência de espaços públicos de lazer no Centro da cidade
e que as pessoas já usam o local como um parque (SCHILLER & CALDEIRA, 2017).

Os argumentos dos movimentos tanto pró-desmonte quanto pró-parque são válidos,


porém é necessário reconhecer que a requalificação do Minhocão será mais uma estratégia
do capital financeiro em transformar o centro da cidade. Segundo Carvalho (2019), os centros
de quase todas as capitais brasileiras deixaram de despertar interesse para as elites
econômicas e se configuraram como importantes espaços populares, onde os mais
desfavorecidos moram ou desenvolvem atividades econômicas de subsistência. No caso do
entorno do Minhocão, os prejuízos são tantos que o baixo preço do aluguel permitiu que
trabalhadores de baixa renda pudessem residir no Centro. Nesse sentido, o ressurgimento do
interesse imobiliário no local, fará com que grande parte dessa população sejam forçadas a
se mudar para a periferia (CARVALHO, 2019).

10PREFEITURA DE SÃO PAULO. Proposta implantação do Parque Minhocão. Disponível em:


< https://www.seesp.org.br/site/index.php/comunicacao/noticias/item/18058-prefeitura-anuncia-inicio-do-parque-
minhocao>. Acesso em: 12 nov. 2019
47

A verdade é que se o projeto ocorrer dessa forma, não irá resolver nenhum dos
problemas decorrentes da existência do Elevado, muito pelo contrário, trará ainda mais. É
necessário antes de tudo, eliminar qualquer influência do capital imobiliário, pensar para onde
irão os moradores que vivem a quase 50 anos lá, assim como os pequenos comerciantes e
moradores de rua (PEREZ, 2019). Só o tempo dirá se novas manifestações populares
eclodirão contra a implantação do parque Minhocão, resistindo com a exploração imobiliária
e lutando por cidade mais justas.
48

11

CAPÍTULO 3

DESIGUALDADES ESPACIAIS E CONFLITOS URBANOS: O DIREITO


À CIDADE NA CAPITAL SERGIPANA

Neste capítulo são apresentados os conflitos urbanos na capital sergipana, que geram
uma série de desigualdades e segregação espacial. Além disso será feito um breve histórico
da formação do espaço urbano de Aracaju, focando nas disparidades entre a zona sul, que
de certa forma o “direito à cidade” é efetivado e a zona norte, que é desprovida deste direito.

Em um segundo momento, será abordada a Zona de Expansão Urbana de Aracaju,


entendendo-a como um espaço como sérios problemas de infraestrutura. Uma região
marcada pela influência do capital imobiliário, que agride negativamente tanto o seu espaço
físico (meio ambiente), como a população ali residente. Diante disso, a ZEU se caracteriza
pela ação de alguns movimentos sociais que lutam para reverter esse panorama de
desigualdades.

3.1 DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS E CONFLITOS URBANOS NA CAPITAL


SERGIPANA

Aracaju, capital do estado de Sergipe, está localizada na região nordeste do Brasil,


entre os estados da Bahia e Alagoas (Figura 6). Segundo estimativas do IBGE (2019), conta
com 657.013 habitantes e uma área de aproximadamente 182 km², que ocupa 0,79% do
território sergipano. É cortada e margeada pelo Oceano Atlântico, rio Sergipe, Vaza Barris,
canal Santa Maria, do Sal, Poxim e Pitanga.

11INFONET. Disponível em: < https://infonet.com.br/noticias/cidade/mais-de-mil-casas-devem-ser-construidas-na-


invasao-das-mangabeiras/>. Acesso em: 22 nov. 2019
49

Figura 6 - Localização do Município de Aracaju

Fonte: ANDRADE, 2015

Antes de estudar Aracaju, é necessário entender que, assim como em quase todas as
capitais brasileiras, funciona como espaço de reprodução das desigualdades. É nítida a
“oposição” entre bairros de classe média e a periferia. Ocupações irregulares se proliferam a
cada ano na capital, populações vivendo em precárias condições de moradia (quando têm),
sem saneamento básico, vias pavimentadas, água tratada entre outros. Por outro lado, existe
uma classe social que tem condições de pagar por todos esses benefícios, e vivem em bairros
valorizados que detém infraestrutura e serviços de qualidade.

Segundo França (2019), nos últimos cinquenta anos, Aracaju passou por uma intensa
urbanização, que apoiada pela migração campo/cidade, acabou agravando o panorama
habitacional e de desigualdade socioespacial. Nessa época, a cidade recebeu um fluxo cada
vez maior de migrantes de baixa renda, vindos de municípios do interior do Estado (FRANÇA,
1999). Essa população se instalou em bairros mais periféricos, onde o solo urbano era mais
barato e, portanto, mais distante do centro da cidade, que naquele momento, era área mais
elitizada, dotada de infraestrutura urbana e com terrenos a preços inacessíveis a grupos de
menor renda. É nesse contexto que a produção do espaço urbano, marcada pela segregação
socioespacial, se conformou em Aracaju (SILVA, 2009).

Posteriormente, Aracaju cresceu em todas as direções, tanto em expansão horizontal,


se espalhando para os municípios vizinhos e formando novos bairros, como através da
verticalização, símbolo de status para a classe mais abastada, que originalmente vivia nas
áreas centrais. Com esse crescimento, a segregação socioespacial se acentuou, com a
formação de novas periferias acompanhada pelo surgimento de vilas, ocupações irregulares
e casas inapropriadas destinadas a abrigar a população mais pobre. Observa-se também,
50

uma intensa degradação ambiental provocada pelos aterros e ocupações subnormais já que
a cidade foi construída e cresceu em uma região litorânea e de fragilidade ambiental (SOUZA,
2009).

Visando suprir as demandas habitacionais, o Estado através da COHAB (Companhia


Nacional de Habitação Popular) e da INOOCOP/BASE (Instituto Nacional de Cooperativas
Habitacionais), iniciou a construção de conjuntos habitacionais a partir da década de 1970
(FRANÇA, 1999). Ainda segundo a autora, esses empreendimentos foram responsáveis pela
expansão e dispersão da cidade, através da construção de grandes conjuntos habitacionais
distantes da área central de Aracaju (Figura 7) e também em cidades vizinhas, como foi o
caso de Nossa Senhora do Socorro, São Cristóvão e Barra dos Coqueiros.

Figura 7 - Implantação do Conjunto Augusto Franco na década 80

Fonte: SEPLAN in NOGUEIRA, 2004

A esperança de ganhar uma casa própria, acabou atraindo as pessoas pela


expectativa em aliar habitação e emprego, mas a realidade foi outra, pois na maioria dos
casos, esses empreendimentos foram implantados em regiões distantes do centro urbano e
sem nenhuma infraestrutura, causando diversos problemas para os moradores (FRANÇA,
1999). Entretanto, haviam os não contemplados que, sem lugar pra morar, ocuparam terrenos
vazios, loteamentos clandestinos e irregulares, ou seja, locais sem qualquer oferta de
infraestrutura (FRANÇA, 2019). Dessa forma, França (1999) afirma que essa política
habitacional, foi bastante benéfica para a indústria da construção civil e aos proprietários
fundiários, que tiveram suas terras valorizadas pela infraestrutura implantada pelo Estado.

Nos últimos anos, diante do recuo das políticas habitacionais do Estado, fez com que
o quadro de exclusão social e de miséria piorasse, e assim, observa-se uma “crescente
ocupação informal convertida em loteamentos precários, como os bairros Olaria, São
51

Conrado, América, Santos Dumont, Coroa do Meio, Coqueiral, Santa Maria, agravando
também o cenário de dispersão e fragmentação urbana” (FRANÇA, REZENDE, 2016, p.2).

Essa realidade pode ser comprovada a partir das informações do Censo Demográfico
do IBGE (2010). Ao comparar com os dados do IPEA (1991 e 2000), revela-se que a
proporção da população residente em aglomerados subnormais12 em Aracaju, mais que
triplicou durante os anos de 1991 a 2010. Nesse período, a população residente passou da
proporção de 2,4% para 10,8 % (Gráfico 1).

Gráfico 1 - Proporção da população residente em aglomerados subnormais 1991/2010

Fonte: IPEA, 1991 e 2000; IBGE, 2010. Elaborado pelo autor, 2019

Para se ter uma ideia, a quantidade de pessoas vivendo em situação de


vulnerabilidade em Aracaju é maior que o número de habitantes de 69 municípios sergipanos,
ou seja, apenas seis municípios do estado têm população maior que a residente em
aglomerados subnormais em Aracaju. Ao analisar esse panorama, Menezes e Santos (2012)
afirmam ser possível questionar a efetividade das políticas habitacionais em Aracaju, pois
conforme os dados levantados é possível observar que a situação habitacional na capital pode
ser considerada no mínimo, preocupante (Gráfico 2).

12 Segundo o IBGE, Aglomerado Subnormal é uma forma de ocupação irregular de terrenos de propriedade alheia
– públicos ou privados – para fins de habitação em áreas urbanas e, em geral, caracterizados por um padrão
urbanístico irregular, carência de serviços públicos essenciais e localização em áreas restritas à ocupação.
Também podem ser conhecidos como favelas, invasões, grotas, baixadas, comunidades, vilas, ressacas,
loteamentos irregulares, mocambos e palafitas, entre outros.
52

Gráfico 2 - População residente em aglomerados subnormais e Municípios sergipanos até o


ano de 2010

Fonte: IBGE, 2010. Elaborado pelo autor, 2019

Esses espaços são verdadeiros redutos de pobreza e segregação, e se caracterizam


por diversos problemas, tais como infraestrutura e serviços, o que demonstram uma total
ineficácia do Poder Público em atender as demandas básicas da população que vivem nessas
áreas. Entre os principais aspectos pode-se citar a segregação socioeconômica que abrange
entre outros, problemas relacionados à renda, moradia, transporte, saúde, educação e a
socioambiental que se relaciona a questões como saneamento, poluição em geral,
infraestrutura, destinação do lixo, etc. (MENEZES, SANTOS, 2012).

Ao espacializar esses dados, percebe-se que em Aracaju, esses aglomerados


subnormais estão localizados principalmente na região norte/noroeste, além de alguns bairros
da zona sul, como o Santa Maria, São Conrado, Aeroporto e Zona de Expansão Urbana de
Aracaju. É uma concentração bastante periférica, que extrapola os limites municipais,
alcançando Nossa Senhora do Socorro, São Cristóvão e Barra dos Coqueiros (Figura 8).

Segundo levantamentos do IBGE em 2010, os bairros mais populosos da capital são


o Santa Maria, seguido por São Conrado, Santos Dumont, Cidade Nova e 18 do Forte,
enquanto os que mais cresceram em população são o Porto Dantas, Soledade e o Jardim
Centenário, justamente áreas carentes em infraestrutura e serviços.
53

Figura 8 - Localização dos Aglomerados subnormais na Região Metropolitana de Aracaju

Fonte: OBSERVATÓRIO DE SERGIPE, 201213

Portanto, nota-se que a ocupação espacial em Aracaju é marcada por um processo de


periferização em contradição a ocupação centro-sul, que apresenta considerável oferta em
infraestrutura. Segundo Santos (2017, p.150), isso representa um exemplo claro “de
segregação induzida e planejada da população pobre, por parte do poder público e do próprio
capital, que determina onde o pobre deve morar”.

Vale destacar que após a realização desse levantamento por parte do IBGE (2010),
Aracaju ainda continuou recebendo novos Aglomerados Subnormais, como foi o caso da
Comunidade Recanto das Mangabeiras (Figura 9), localizada na Zona de Expansão Urbana
de Aracaju, cuja ocupação ocorreu em 2013, dois anos após a implantação do bairro 17 de
Março.

13OBSERVATÓRIO DE SERGIPE. Localização dos Aglomerados subnormais na Região Metropolitana de


Aracaju. Disponível em: < https://observatoriose.wordpress.com/2012/01/04/consideracoes-sobre-os-
aglomerados-subnormais-em-sergipe-segundo-os-resultados-do-censo-demografico-2010/ >. Acesso em: 14
dez. 2019
54

Figura 9 - Recanto das Mangabeiras localizada na Zona de Expansão Urbana de Aracaju

Fonte: JORNALDODIASE, 201914

No outro extremo desse processo, existem bairros como Jardins e 13 de julho, áreas
ocupadas pela classe mais alta de Aracaju. Esses bairros apresentam disponibilidade de
serviços e infraestrutura, fazendo com que sejam procurados tanto por empresários,
proprietários de terra e empresas imobiliárias. A construção e instalação de vários pontos
comerciais, estrutura para moradia e proximidades com os Shoppings, impulsionam, ainda
mais, a valorização do espaço construído, o aumento da especulação imobiliária e o crescente
impacto ambiental, sobretudo próximo ao Rio assim como seu enobrecimento (MACHADO,
2010).

Nesses bairros, a infraestrutura urbana é mais adequada: as ruas são pavimentadas,


as praças arborizadas, serviços de lazer, de saúde (clínicas especializadas), bancos e caixas
eletrônicos, transporte público constante, etc. Ao comparar o espaço construído desses
bairros com outros locais da zona oeste/norte, e até mesmo aos que existem ao seu redor, a
discrepância é considerável (MACHADO, 2010) (Figura 10).

14JORNALDODIASE. Recanto das Mangabeiras, localizado na Zona Expansão Urbana de Aracaju. Disponível
em: < https://observatoriose.wordpress.com/2012/01/04/consideracoes-sobre-os-aglomerados-subnormais-em-
sergipe-segundo-os-resultados-do-censo-demografico-2010/ >. Acesso em: 29 de fev. 2020
55

Figura 10 - Discrepância entre o Bairro Jardins e Ocupação Socó do Pantanal

Fonte: GOOGLE EARTH, 2019. Elaborado pelo autor, 2019

Segundo Machado (2010), o bairro Jardins, assim como a 13 de Julho e proximidades,


são bairros em que a classe média, em nome da segurança, moram em condomínios verticais
fechados, com segurança 24 horas e com toda infraestrutura necessária para o bem-estar de
seus moradores. Esses condomínios reforçam a ideia de exclusividade e isolamento,
tornando-se um clube fechado onde o acesso das pessoas é “filtrado” por suas condições
socioeconômicas.

Na Zona de Expansão, o processo é idêntico e esse assunto será abordado


posteriormente, mas é importante destacar a similaridade entre o processo de segregação do
Bairro Jardins e ZEU. Segundo França (2011), as primeiras ocupações dos lotes da ZEU foi
pensando pra ser “casas de veraneio”. Porém, em um segundo momento, o marketing
imobiliário fez crescer condomínios residenciais fechados, em que a maioria deles são
cercados por muros e cercas elétricas.

Assim como os condomínios dos bairros centro/sul da capital, a dinâmica de exclusão


também foi reproduzida na ZEU. A exclusividade em morar nesses condomínios fechados,
com segurança, distante do caos urbanos, próximos a natureza e pela homogeneidade social,
potencializou a especulação imobiliária na região. Como resultado, observa-se uma grande
expansão em uma região sem ser dotada de serviços básicos como drenagem, esgotamento
sanitário e equipamentos urbanos (FRANÇA, 2011).

Dessa forma, a ocupação desenfreada atingiu sobretudo, a população mais carente e


os nativos da região. Eles sofrem pelas enchentes causadas pelo aterramento das lagoas de
drenagem, convivem com lama e poeira, pela falta de pavimentação das ruas, bem como pela
carência dos serviços básicos, com posto de saúde, escolas, creches, transporte público
56

acessível, etc. Além deste, sofre também o meio ambiente, pela sua degradação em função
da atuação do capital imobiliário.

Estes problemas comprometem a qualidade de vida e o direito à cidade e atingem


fortemente em áreas marcada pela segregação socioespacial, como os bairros da zona
norte/noroeste e a ZEU. São espaços caracterizados pela separação entre grupos sociais
(ricos e pobres) e disparidade residencial entre eles. Logo, a produção do espaço urbano
segue a lógica capitalista que transforma o direito à cidade e à moradia em mercadorias e não
como bens e serviços indispensáveis à dignidade humana, gerando por consequência a
exclusão da população carente que acaba ocupando áreas menos valorizadas e com sérios
problemas em infraestrutura.

3.2. O DIREITO À CIDADE EM ARACAJU

Para definir quais bairros de Aracaju possuem ou não direito à cidade efetivado, levou-
se em consideração os estudos desenvolvidos pelo Observatório Social, cujo objetivo consiste
em apresentar uma caracterização socioeconômica do território aracajuano, baseada nos
dados do Censo Demográfico do IBGE. Parâmetros como: pobreza, desigualdade e condição
de habitação da população, são informações relevantes sobre as realidades socioeconômicas
de Aracaju (OBSERVATÓRIO, 2019).

O primeiro mapa apresentado, foi baseado no recorte de rendimento domiciliar per


capita. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS),
famílias com renda média per capita de R$ 70,00 estão em situação de extrema pobreza e
R$ 140,00 de pobreza (OBSERVATÓRIO, 2019).

As áreas mais claras do mapa representam os locais onde os rendimentos médios dos
moradores são mais altos, com destaque para os bairros Grageru, Jardins, Salgado Filho e
13 de Julho. Na porção norte da capital, estão localizados os bairros com os mais baixos
rendimentos, representados em marrom (Figura 11).

A desigualdade de rendimentos ainda é marcante na capital, quando comparamos o


bairro Jardins, onde o rendimento médio de seus moradores era de R$ 6.925,13, enquanto
no Japãozinho, tinha uma média de R$515,07, ou seja, quase 13 vezes menor
(OBSERVATÓRIO, 2019).
57

Figura 11 - Mapa da Pobreza e Desigualdade Social no município de Aracaju

Fonte: OBSERVATÓRIO, 2019

Conforme pode-se observar, a periferização da pobreza é marcante em Aracaju,


enquanto os espaços centrais, supervalorizados monetariamente devido à grande oferta de
serviços e infraestrutura, expulsam aqueles que não possuem condições de morar nesses
locais e que, consequentemente, buscam novos áreas para construir suas habitações. Nesses
espaços, o direito à cidade é aplicado apenas para aqueles que podem pagar por ele.

Em Aracaju, esses bairros estão localizados na região centro-sul, onde encontra-se


características que elevam o bem-estar do seu morador. No outro extremo desse
processo, os espaços destinados para população excluída, são aqueles afastados dos centros
urbanos, ocupando áreas de preservação ambiental, sempre em precárias condições de
habitação. Aqui, o direito à cidade é totalmente descumprido.
58

Os bairros onde é direito à cidade é praticamente inexistente, estão localizados na


periferia da cidade, principalmente na Zona Norte, com destaque aos bairros Japãozinho,
Porto Dantas e Soledade e o Santa Maria, já na Zona Sul da capital. A condição de pobreza
ali instaurada, gera graves problemas relacionados à habitação e às condições de vida da
população, que sofre com a falta de infraestrutura e serviços públicos.

Além da pobreza e da desigualdade, outros fatores contribuem para a retirada do


direito à cidade nessas comunidades. Os problemas socioambientais, advindos
principalmente, pela deficiência no saneamento básico e drenagem pluvial, aliado ao descarte
irregular do esgoto sanitário, são responsáveis por diversos problemas de saúde em seus
moradores.

Segundo informações do Observatório de Aracaju (2019), as piores situações estão


localizadas nos bairros Santa Maria, Farolândia e Zona de Expansão Urbana de Aracaju, onde
esta última apresenta 82% dos seus domicílios com esgotamento irregular. Entretanto, bairros
como Porto Dantas, Aeroporto, Jabotiana, Bugio, Soledade e Japãozinho por se tratarem de
territórios próximos a áreas com necessidade de conservação ambiental, possuem valores
absolutos expressivos (Figura 12) (OBSERVATÓRIO, 2019).

Figura 12 - Domicílios com rede de esgoto irregular em Aracaju

Fonte: OBSERVATÓRIO, 2019


59

Além disso, a coleta de lixo (Figura 13) e abastecimento de água irregular (Figura 14),
comprometam a perda da qualidade de vida de seus moradores e consequentemente ao
direito à cidade.

Em Aracaju, as localidades com maiores índices de domicílios com coleta irregular,


localiza-se na porção sul, com destaque para o Bairro Santa Maria e Zona de Expansão.
Enquanto na porção Norte, bairros como Santos Dumont, Lamarão, Soledade, Japãozinho e
Porto Dantas, apresentaram uma quantidade expressiva de domicílios nesta situação,
principalmente por se tratarem de localidades próximas a Áreas de Preservação Permanente.
(OBSERVATÓRIO, 2019).

Em relação as formas de abastecimento de água nos domicílios de Aracaju, as piores


situações estavam nos bairros Santa Maria e a Zona de Expansão, este último apresenta os
maiores índices. Destaque também para os bairros Aeroporto e Coroa do Meio, localizados
na Zona Sul da capital, e os bairros Santos Dumont e Industrial na região norte, que
apresentam domicílios com abastecimento irregular (OBSERVATÓRIO, 2019).

Figura 13 e 14 - Domicílios com coleta de lixo irregular e abastecimento de água irregular

Fonte: OBSERVATÓRIO, 2019


60

No meio-termo, encontra-se os bairros onde o direito à cidade é parcialmente aplicado.


Nesse caso, embora não apresentem condições precárias para seus moradores, ainda
possuem problemas relacionados à conflitos ambientais, em função da atuação do capital
imobiliário e incapacidade em dispor de infraestrutura básica em algumas localidades. Assim,
muitos desses bairros estão mais pra ter seu direito à cidade negado do que para ser
efetivado.

A partir das análises desses mapas, foi possível espacializar o direito à cidade em
Aracaju (Figura 15), no qual encontra-se dessa forma:

Figura 15 - Espacialização do Direito à Cidade em Aracaju

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados obtidos no Observatório Social, 2019
61

15

CAPÍTULO 4

ZONA DE EXPANSÃO URBANA DE ARACAJU: DOS SÍTIOS AOS


CONDOMÍNIOS, DA PAISAGEM NATURAL AOS CONFLITOS
AMBIENTAIS

Neste capitulo é estudado a Zona de Expansão Urbana de Aracaju, uma região que
se caracteriza por uma ocupação a partir de ações contraditórias, executadas pelo poder
público e pelo privado de forma dispersa e excludente, causando problemas para a população
residente e ao ecossistema litorâneo.

Posteriormente, são apresentados os problemas ambientais ocasionado pelo avanço


dos empreendimentos imobiliários, que nas últimas décadas, vem agravado graves problemas
socioambientais na região. Observou-se que, algumas ações de inciativa Pública, foram
propostas a fim de reverter o panorama da ZEU. Dessa forma, são abordados algumas delas,
como as Diretrizes de ocupação urbana do Mosqueiro de Jaime Lerner Arquitetos Associados
Ltda (JLAA) 2014 e a Proposta de revisão do PDDU 2015.

Por fim, veremos que a intermediação do Ministério Público Federal (MPF) nas
reivindicações dos movimentos sociais presentes na ZEU, mostrou-se de extrema
importância. Sendo assim, nos últimos anos, diversos acordos firmados entre o MPF e o
Estado, através da assinatura de Termos de Ajuste de Conduta e de Ações Civis Públicas, foi
responsável pela resolução do Processo da Praia de Aruana e da Macrodrenagem.

15DESTAQUENOTICIAS. Disponível em: <https://www.destaquenoticias.com.br/stf-suspende-cobranca-de-iptu-


na-zona-de-expansao/>. Acesso em: 29 fev. 2020
62

4.1. A ZONA DE EXPANSÃO URBANA DE ARACAJU: UMA ÁREA DE


DESIGUALDADES SOCIOAMBIENTAIS

Delimitada a leste pelo Oceano Atlântico, ao sul pelo canal Santa Maria e o rio Vaza
Barris, a norte pelo Bairro Aeroporto e Atalaia e a oeste pelo município de São Cristóvão, a
Zona de Expansão Urbana de Aracaju ocupa uma área de 63 km² que corresponde
aproximadamente 40% do território municipal aracajuano (Figura 16).

Figura 16 - Localização Zona de Expansão Urbana de Aracaju

Fonte: SOUZA, 2016. Editado pelo autor, 2020.

Para este trabalho, foi considerada a Zona de Expansão Urbana de Aracaju composta
pelo loteamento Aruana16 e pelos povoados Robalo, São José, Gameleira, Areia Branca,

16 Tramita na Câmara de Vereadores de Aracaju o Projeto de Lei (PL) nº134/2018, cujo texto propõe a criação, de
forma oficial, do Bairro Aruana, localizado na Zona de Expansão da capital sergipana.
63

Matapoã e Mosqueiro, bem como o Bairro 17 de Março, sancionado pela Lei n°4.024 de 15
de abril de 2011. A região se caracteriza por sua distância ao centro de Aracaju, população
residente de 27.899 habitantes (IBGE, 2010), ampla diversidade ambiental, além da
especulação e valorização imobiliária pela presença de condomínios fechados verticais e
horizontais.

A recente ocupação desta região, a partir do início da década de 80, vem modificando
a paisagem, antes rural, onde viviam pescadores, agricultores e outros trabalhadores. A Lei
de Delimitação de Bairros n° 873/1982, foi determinante para a transformação da região, pois
nela ficou estabelecido uma nova delimitação para os bairros de Aracaju, redefinido sua área
rural como uma Zona de Expansão Urbana de Aracaju. A partir de então, o município torna-
se 100% urbano (FRANÇA, 2011).

Segundo França (2011), até meados de 1960, o acesso à região era restrito e se
estabelecia ou por navegação fluvial pelo Canal de Santa Maria, por animais ou a pé, ou
utilizando a faixa da areia da praia quando a maré estava baixa. É a partir da construção da
sede do Terminal de Carmópolis (TECARMO) (Figura 17), em 1967 e depois da Unidade de
Produção de Gás Natural (UPGN), que o acesso aos bairros de Aracaju até esses pontos
localizados à norte da ZEU foi facilitado.

Figura 17 - Vista aérea do TECARMO

Fonte: PETROBRAS17

Nos anos 1980, o Estado interviu na região e realizou a abertura da Rodovia dos
Náufragos e posteriormente, a construção da Rodovia José Sarney, facilitando o seu acesso.
A proximidade com as praias, articulada com uma série de outros fatores tornou a área
elitizada. Desse modo, a ZEU passou a ser loteada e vendida para camadas de alto poder

17 PETROBRAS. Vista aérea do TECARMO. Disponível em: < http://www.petrobras.com.br/pt/nossas-


atividades/principais-operacoes/terminais-e-oleodutos/terminal-aracaju.htm>. Acesso em: 25 dez. 2019.
64

aquisitivo. Em um primeiro momento, esses lotes foram utilizados como “casas de veraneio”,
isto é, uma residência secundária, que funcionava para momentos de lazer, descanso e férias.
Só a partir de 2000 houve de fato apropriação da área como local de moradia (FRANÇA,
2011).

O parcelamento do solo levou a instalação dos primeiros loteamentos na ZEU ainda


em 1979, como foi o caso do “Aruana I e II” (Figura 18), somando 1.400 lotes de 600 m². No
mesmo ano, surge o Loteamento “Morada do Mar”, localizado distante do primeiro, indicando
assim, o início de uma urbanização dispersa. Em seguida, instalaram-se os Loteamentos
“Praia do Refúgio” (1980), “Canto do Mar” e “Estrada do Sol” (1981), fomentando a
proliferação de empreendimentos, sem que houvesse, por parte do município, implantação de
infraestrutura capaz de oferecer condições a esses moradores (FRANÇA, 2011).

Figura 18 - Foto Aérea Loteamento Aruana I e II na década de 1980

Fonte: FRANÇA, 2011

Na segunda metade de 1980, o parcelamento do solo se direcionou ao sul da ZEU,


adentrando-se também nos povoados, como em Areia Branca com os Loteamentos “Jardim
Sarutaiá” e “Parque Arilândia”. No final dessa década, os Loteamentos “Morada do Vaza
Barris” e “Recanto das Andorinhas” surgiram, às margens do Rio Vaza Barris, no Povoado
Matapoã. Essa expansão só foi possível com a implantação das redes de energia elétrica e
telefone que incentivou o surgimento de novos empreendimentos a partir de 2000, dobrando
a quantidade implantada na década anterior (Gráfico 3) (FRANÇA, 2011).
65

Gráfico 3 - Quantidade de Loteamentos Residenciais aprovados na ZEU entre 1970-2014

Fonte: FRANÇA, 2019. Editado pelo autor, 2019

Nesse gráfico, observa-se que o “boom imobiliário” na capital sergipana se direcionou


para a ZEU a partir dos anos 2000, e teve como atrativos: baixo valor das terras; proximidade
a praia e à outras paisagens naturais que atraíram novos proprietários de maior renda e
concentração de terra na mão de poucos (FRANÇA, 2011). Esse contexto favoreceu a
elitização da região e gerou a expulsão da população nativa (pescadores e agricultores), em
substituição por residências mais sofisticadas, concentradas, na faixa litorânea e as margens
do Rio Vaza Barris (SANTOS, 2015).

A implantação desses empreendimentos imobiliários ocasionou o deslocamento da


população mais abastada para a ZEU e a consequente especulação. A garantia em morar
distante do caos urbano, em um local com segurança e pela homogeneidade social, garantiu
a procura por esse novo estilo de moradia (Figura 19 e 20). Segundo França (2005), todos
estes esforços publicitários visou a especulação imobiliária na ZEU, que paradoxalmente se
expandiu mesmo sem ser dotada ainda de condições adequadas de serviços básicos como
drenagem, esgotamento sanitário e equipamentos urbanos e assim, trazendo grandes
problemas a população e ao meio ambiente.
66

Figura 19 e Figura 20 - Condomínios horizontais na ZEU

Fonte: Próprio autor, 2020

Essa segregação é visível na diferenciação das tipologias habitacionais na ZEU, pois


de um lado, as residências localizadas nos povoados, que tem “características rurais e
precária condição de acessibilidade e infraestrutura. As ruas internas, além de não apresentar
um traçado regular, em sua maioria, não são pavimentadas, dificultando a mobilidade dos
moradores” (Figura 21) (FRANÇA, 2011, p. 74).

Figura 21 - Casa com características rurais

Fonte: Próprio autor, 2019

Por outro lado, a classe mais abastada “mantêm suas grandes e luxuosas mansões
de veraneio na região do Matapuã, às margens do Rio Vaza Barris. Essas residências,
algumas construídas em sítios, outras em condomínios, beneficiando-se da beleza da
paisagem e do meio ambiente” (Figura 22) (FRANÇA, 2011, p. 75).
67

Figura 22 - Casa à venda em condomínio fechado na ZEU

Fonte: VIVAREAL, 202018

Esses condomínios horizontais fechados à disponibilidade de toda uma infraestrutura,


como pavimentação, iluminação, saneamento básico, segurança, e em alguns casos até
mesmo espaços para atividade físicas e lazer. Em contrapartida, o Poder Público, na maioria
das vezes, não consegue viabilizar no entorno de alguns condomínios, assim como em toda
a Zona de Urbana Expansão, uma oferta decente de serviços e de infraestrutura para a
comunidade local (SOUZA, 2016). Portanto, serviços como, esgotamento sanitário e
drenagem urbana, são carências que comprometem a qualidade de vida de seus moradores.
A existência de muitas ruas sem pavimentação dificulta a mobilidade, ocasionando problemas
para população (Figuras 23 e 24).

Figura 23 e 24 – Infraestrutura precária no entorno dos condomínios horizontais

Fonte: Próprio autor, 2020

18 VIVAREAL. Casa à venda em condomínio fechado na ZEU. Disponível em: <


https://www.vivareal.com.br/imovel/casa-de-condominio-4-quartos-zona-de-expansao-mosqueiro-bairros-aracaju-
com-garagem-245m2-venda-RS1300000-id-72135340/>. Acesso em: 11 mar. 2020.
68

A construção desses empreendimentos habitacionais tem agravado o panorama


ambiental, devido ao adensamento proposto e acabou favorecendo
o surgimento dos confrontos socioambientais, como a ausência da rede de
macrodrenagem, extremamente necessária, sobretudo na porção norte, onde
os efeitos são mais fortes, devido ao crescente adensamento e à largura e
profundidade dos charcos naturais (FRANÇA, 2011, p. 161).

É evidente que a ZEU é uma região de fragilidade ambiental, afinal a mesma se


encontra, conforme o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Aracaju (PDDU), em uma
ZAR (Zona de Adensamento Restrito) (Figura 41), uma vez que apresenta padrão disperso e
descontínuo, e acentuado déficit ou ausência de infraestrutura e serviços urbanos,
restringindo o atendimento da demanda populacional existente.

O PDDU ainda regulamenta a ZEU como Área de Diretrizes Especiais de Interesse


Ambiental (AIA) (Figura 25) devido à presença de dunas, lagoas e restingas, constituindo
Áreas de Proteção e de Preservação Ambiental (APP). Além disso, a faixa litorânea em toda
extensão do Oceano Atlântico recebe a classificação de Área de Interesse Urbanístico (AIU)
(Figura 26).

Figura 25 e 26 - Área de Interesse Ambiental (AIA) e Área de Interesse Urbanístico (AIU)

Fonte: FRANÇA, 2011


69

Apesar do Plano Diretor determinar uma Política Ambiental para toda a Aracaju,
determinando a preservação dos biomas locais, isso não impediu a ocupação desenfreada da
área, sobretudo no desmonte de dunas, aterramento de pequenos charcos e/ou lagoas de
drenagem, bem como a degradação dos manguezais (FRANÇA, 2011; SANTOS, 2015).

4.2. CONFLITOS AMBIENTAIS NA ZONA DE EXPANSÃO URBANA: ENTRE


ALAGAMENTOS E ATERRAMENTOS

Durante anos, a dinâmica urbana e ambiental na região, caracterizada pela construção


dos condomínios fechados e a exploração e degradação dos recursos naturais, tem
provocado conflitos ambientais, em função da ZEU ser uma área ambientalmente frágil. A
presença de dunas, restingas, manguezais, falta de infraestrutura, aliado a ineficiente
fiscalização e aprovação para construções dos condomínios fechados (Figura 27), tem
impactado e comprometido as condições ambientais da Zona de Expansão (VILAR, VIEIRA
2014).

Figura 27 - Condomínio vertical implantado na faixa litorânea na ZEU

Fonte: GOOGLE EARTH, 2019

A ZEU ainda continua sendo um espaço marcado por problemas socioambientais, em


função da ausência de uma rede de saneamento e drenagem capaz de atender às
necessidades dos moradores, tanto os antigos quanto os novos, que ainda sofrem com
inundações e com a falta de acesso a serviços públicos (SANTOS, 2017). Isso ocorre porque
a Zona de Expansão Urbana de Aracaju, se constitui em um
“terraço marinho holocênico com elevada permoporosidade, cordões
litorâneos (...) faixas alagadas paralelas ao mar, naturalmente descontínuas
ou interrompidas por aterros, desnível topográfico entre 2 a 6 metros, fora as
70

dunas, fluxo predominantemente subterrâneo e aquífero aflorante no inverno


(WANDERLEY, WANDERLEY, 2003, p. 2).

Além disso, destaca-se ainda a presença de manguezais, entre o rio Vaza Barris e o
Canal do Santa Maria. Por conta da inexistência de cursos d’água superficiais (fora os canais
de mangues e os rios Vaza Barris e Santa Maria), a drenagem na região é feita pela infiltração
e pela evaporação. Nos últimos anos, a crescente impermeabilização pelas edificações e vias
de acesso e aterramento das lagoas de drenagem, ocasionou a diminuição da área de
infiltração, colapsando o regime de drenagem natural e assim, causando inundações e
alagamento (Figura 28 e 29) (WANDERLEY, WANDERLEY, 2003).

Figura 28 e Figura 29 - Alagamentos na Zona de Expansão Urbana de Aracaju

Fonte: JORNALDODIA, 201419

As enchentes causam sérios problemas no âmbito econômico, sociais e na saúde


pública. Essas situações de risco, ocasionados pelas inundações, têm ocorrido
constantemente no dia a dia dos moradores da região, trazendo danos materiais e prejuízos
às famílias que perdem suas casas (FRANÇA, 2011).

As dunas são as que mais sofrem devido à especulação imobiliária no litoral. Na ZEU,
está situada principalmente nos terrenos do NUCAT/Petrobrás (Figura 30), no Loteamento
Aruana e nas proximidades do rio Vaza Barris (FRANÇA, 2011). Essas áreas são protegidas
por três parques ecológicos: Aruana, Mosqueiro e Farol do Mosqueiro, definidos pelo Plano
Diretor como Área de Proteção Ambiental (APA) e por anos, foram alvo de disputas judiciais
e de perícia ambiental para avaliar as possibilidades para sua ocupação (SOUZA, 2016).

19 JORNALDODIA. Alagamentos na Zona de Expansão de Aracaju. Disponível em: <


http://www.jornaldodiase.com.br/noticias_ler.php?id=11574>. Acesso em: 26 dez. 2019.
71

Figura 30 - Cordão dunar às margens da Rodovia José Sarney, próximo ao TECARMO

Fonte: FRANÇA, 2011

O ecossistema de manguezal situa-se nas margens do rio Vaza Barris e do canal de


Santa Maria. Eles têm sofrido com sua degradação e encontrado dificuldades de manter sua
preservação ambiental prevista na legislação vigente, cuja recomendação é que não seja de
forma alguma ocupada, por ser extremamente frágil (FRANÇA, 2011).

As lagoas de drenagem são outros importantes elementos naturais presente na região,


que devido a sua fragilidade ambiental, necessitam de um planejamento pautado no uso e
ocupação da área, a fim de preservar sua drenagem natural (FRANÇA, 2011). Nos últimos
anos, os aterramentos feitos nas áreas alagadas têm potencializado os problemas naturais já
existentes (Figuras 31 e 32).

Figura 31 e Figura 32 - Aterramento das lagoas na Zona de Expansão

Fonte: ADCARROBALO, 201120

Segundo França (2011), a ocupação desordenada da ZEU é marcada por uma


dinâmica conflitante, onde Estado é o responsável pela transformação do espaço, por meio

20 ADCARROBALO. Aterramento das lagoas na Zona de Expansão. Disponível em: <


http://adcarrobalo.blogspot.com/2011/01/fotos-de-aterro-de-lagoa-no-robalo.html>. Acesso em: 23 nov. 2019.
72

da aplicação de legislações contraditórias, projetos e intervenções urbanas, com a


implantação das rodovias, avenidas, orlas, pontes e conjuntos habitacionais, em um espaço
carente e desigual, com sérios problemas de esgotamento sanitário e a drenagem pluvial. Ao
mesmo tempo, o mercado imobiliário influencia as políticas municipais, ditando sua atuação
de modo a atender seus anseios, e assim, tornando-a cheias de brechas que permitem uma
série de parcelamentos e ocupações que impactam de forma negativa, o espaço da ZEU.

Nas últimas décadas, a ZEU vem passando por um processo de ocupação, embora
dispersa. A porção Norte foi a primeira a receber empreendimentos imobiliários e por isso é
bem adensada. Além desta, uma outra área bastante ocupada está ao Sul, entre os povoados
Areia Branca e Mosqueiro. Com avanço sobre a paisagem natural, tem-se uma crescente
redução e degradação do meio ambiente (Figura 33).

Figura 33 - Ocupação da ZEU antes 1980 até a década atual

Fonte: OLIVEIRA, ANDRADE, 2012. Adaptado pelo autor, 2019

No atual ritmo de crescimento, vários ecossistemas poderiam desaparecer


completamente com a construções de novos empreendimentos imobiliários. Apesar da zona
73

litorânea da ZEU está inserida em uma Área de Proteção Ambiental (APA) e contar com
alguns instrumentos de planejamento como Planos de Intervenção das Orlas Marítimas e
Conselho Gestor, os processos de degradação, iniciados antes da criação desses recursos,
estão sendo intensificados, o que compromete a manutenção dos ecossistemas naturais
(SANTOS, 2016).

Por conta disso, hoje se observa sérios prejuízos socioambientais pelas ocupações
irregulares em áreas de lagoas de drenagem pluviais, causando alagamento e danos
materiais provocados no período das chuvas. Nesse sentido, França (2011, p. 144), alerta
que a degradação desses “espaços vazios e a sua substituição por condomínios luxuosos ou
mesmo, conjuntos habitacionais, demonstram que a “cidade parece estar fechando os olhos
para a degradação dos recursos naturais como aterramento das lagoas, destruição de dunas
e devastação dos manguezais”.

Atualmente, as licenças para as novas construções na localidade estão suspensas por


conta uma decisão judicial ocorrida em 2009. Esse bloqueio parcial foi fundamental para
reduzir o ritmo de lançamento de condomínios habitacionais na região, pois conforme França
(2011), o Plano Diretor de Aracaju (2000), tem indicie bastante permissíveis para a região,
permitindo brechas e facilitando atuação do capital imobiliário.

A fim de tentar reverter as transformações que vem ocorrendo na paisagem da ZEU,


o Poder Público, apresentou no ano de 2014, um projeto urbanístico, intitulado “Diretrizes de
Ocupação Urbana do Mosqueiro – Relatório 4 – Propostas Finais”, elaborado por Jaime Lerner
Arquitetos Associados Ltda (JLAA), sob contratação da EMURB/PMA (Figura 34). Por já ter
trabalhado na elaboração do projeto urbanístico do bairro Coroa do Meio na década
de 1990, a empresa teve o aval da prefeitura e elaborou um plano para uma área importante
e valorizada da capital (MOTA, 2017).

Figura 34 - Proposta urbanística para a Zona de Expansão Urbana de Aracaju

Fonte: JLAA, 2014


74

A partir de uma análise socioambiental da Zona de Expansão Urbana de Aracaju, a


proposta urbanística do escritório, está alicerçada em cinco eixos estruturantes, sendo eles:
sistema viário (Figura 35), transporte (Figura 36), drenagem (Figura 37), uso e ocupação do
solo (Figura 38), e meio ambiente (Figura 39).

Para o sistema viário, o relatório propõe uma organização pautada em dois eixos
principais, o eixo longitudinal, paralela à atual Rodovia dos Náufragos e ligaria toda a ZEU, e
eixos transversais, que ligaria o interior a região litorânea (praias), além das vias coletoras.
As ciclovias estariam localizadas tanto nas principais vias como junto aos parques e áreas
verdes e ao longo de vias que guardam um potencial turístico e de lazer como a Rodovia José
Sarney.

Figura 35 - Sistema viário proposto para a Zona de Expansão Urbana de Aracaju

Fonte: JLAA, 2014

Ao transporte coletivo, o plano prevê o uso do BRT (Bus Rapid Transit), ao longo do
eixo longitudinal, que concentra alta densidade populacional. Além deste, prevê ainda
implantação de um terminal de integração junto a um dos eixos transversais, na região central
do Mosqueiro. Caso seja necessário, poderão ser previstas outros terminais de integração,
preferencialmente localizados junto às interseções do eixo longitudinal com os eixos
transversais.
75

Figura 36 - Transporte coletivo proposto para a Zona de Expansão Urbana de Aracaju

Fonte: JLAA, 2014

No tocante a drenagem, maior problema da região, o plano apresenta uma serie de


soluções no âmbito da micro e macro drenagens propondo duas medidas básicas: captação
e escoamento eficientes através de galerias e o transporte e desaguamento seguro das
águas. Nessa proposta, os lançamentos de águas pluviais seriam direcionados ao Canal do
Santa Maria, objetivando um menor impacto. De certo modo, o plano prioriza a abertura de
novos canais de macrodrenagem, localizados majoritariamente ao longo do eixo viário
longitudinal e nos corpos lacustres, alargados e modificados para recepção do fluxo pluvial,
além do aproveitamento de áreas naturalmente alagadas (MOTA, 2017).

Figura 37 - Drenagem proposta para a Zona de Expansão Urbana de Aracaju

Fonte: JLAA, 2014


76

Em relação ao uso e ocupação do solo, o projeto sugere o zoneamento em : zona de


indução à ocupação, setor que compreende a rodovia dos Náufragos e o canal Santa Maria;
zona de ocupação restrita, setor que compreende a rodovia dos Náufragos e a rodovia José
Sarney; zona de ocupação controlada, basicamente as área de apicuns; zona de interesse
ambiental, as áreas de mangue e pequenas extensões de campos de dunas; zona especial,
abrange áreas institucionais e outras de uso específico, como o TECARMO/PETROBRAS; e
zona eixo dos náufragos, área que margeia a rodovia.

Além do zoneamento, o plano prevê a criação de setores: o estrutural, ao longo da via


principal, para o qual se propõe a maior densidade de ocupação e aparatos turísticos; setor
polos, setor de habitação de interesse social; setor de uso especial; setor dos parques
lacustres; e setor de parques ecológicos compostos pelas áreas de preservação permanente.

De acordo com o relatório, esta proposição foi alicerçada na busca pela


sustentabilidade ambiental, social e econômica da Zona de Expansão (MOTA, 2017).

Figura 38 - Zoneamento proposto para a Zona de Expansão Urbana de Aracaju

Fonte: JLAA, 2014

As propostas relacionadas conservação ambiental e desenvolvimento da região,


sugere essencialmente à criação de parques ecológicos: Parque do Farol, na foz do rio Vaza-
Barris, que receberia intervenções paisagísticas a fim de propiciar o uso turístico; Parque São
José, nas margens do canal do Santa Maria, destinado ao uso público, com quiosques,
equipamentos esportivos etc.; Atracadouro Público, também canal Santa Maria, destinado à
utilização do rio para esporte e turismo náutico; e os campo de dunas, sem maiores
intervenções (MOTA, 2017).
77

Figura 39 - Proposta de desenvolvimento e conservação do meio ambiente para a Zona de


Expansão Urbana de Aracaju

Fonte: JLAA, 2014

As principais proposta apresentada no relatório são:

“A definição de uma estrutura de crescimento urbano para essa área do


município;
A articulação entre as localidades e empreendimentos existentes e previstos;
A proposição de um sistema de mobilidade, envolvendo tanto a definição do
sistema viário básico como a previsão de uma futura rede de transporte
coletivo de passageiros, prevendo a integração entre as diversas
modalidades possíveis;
A proteção do meio ambiente e das comunidades existentes;
A valorização da orla marítima e do entorno do estuário dos rios Vaza Barris
e Santa Maria;
A harmonização do desenho de ocupação urbana com as principais diretrizes
de macrodrenagem;
A proposição de alternativas para as áreas de proteção e/ou de grande
fragilidade ambiental, especialmente as áreas alagadiças e onde há formação
de dunas” (DIRETRIZES DE OCUPAÇÃO URBANA DO MOSQUEIRO,
2014).

Para Mota (2017), o principal empecilho para a realização da proposta é o seu elevado
custo, já que prevê a total remodelação da Zona de Urbana Expansão de Aracaju, além da
instalação do projeto de macrodrenagem.

Ao tecer comentários sobre a proposta urbanística, Mota (2017, p. 300), argumenta


que as proposições para o uso e ocupação do solo, são bastante contraditórias, uma vez que
a plano prevê um “elevado adensamento populacional para uma área que é de adensamento
restrito, de acordo com PDDU (...) a supressão dos cordões litorâneos; a redução drástica do
78

número de lagoas; o isolamento completo e redução dos campos de dunas; e o pequeno


número de áreas verdes”.

Outro ponto da proposta a se destacar é seu plano de ocupação. Embora pouca


adensada, com pouco mais de 28 mil habitantes, a ZEU é uma região conflituosa e desigual.
Nesse sentido, o relatório fez uma projeção populacional para área, utilizando parâmetros
para o cálculo de densidade, o estudo afirma que a ZEU, em um cenário adotando os
parâmetros urbanísticos máximos de ocupação do solo, segundo o projeto, estima-se que a
mesma possa comportar cerca de 560 mil habitantes (MOTA, 2017).

Portanto, a exacerbada ocupação na ZEU, como visto anteriormente, teria


consequências negativas tanto para a população como ao meio ambiente. Uma proposta
urbanística coesa para a região, parte da ocupação planejada, conforme é proposto na revisão
do PDDU de Aracaju.

Desde de 2015, o atual Plano Diretor de Aracaju (PDDU 2000) está em processo
revisão. Questão como: infraestrutura, patrimônio público, turismo, meio ambiente, mobilidade
urbana, uso e ocupação do solo e a Zona de Expansão Urbana de Aracaju, são alguns dos
principais pontos a serem repensados para o plano (PMA/SEPLOG, 2015). Durante o período
de debates, ocorreram várias audiências públicas em alguns bairros (Figura 40), e contou com
a presença da equipe técnica da prefeitura, formada por arquitetos, engenheiros entre outros,
onde os temas foram levantados pelos especialistas a fim de criar um espaço de diálogo para
que a comunidade pudesse apresentar suas demandas.

Figura 40 - Audiência pública sobre o Plano Diretor na ZEU em julho de 2015

Fonte: PREFEITURA DE ARACAJU, 201521

21PREFEITURA DE ARACAJU. Audiência pública sobre o Plano Diretor na ZEU em julho de 2015. Disponível
em:< https://www.aracaju.se.gov.br/index.php?act=leitura&codigo=65708>. Acesso em: 19 nov. 2019
79

Os problemas apontados pela equipe técnica da prefeitura na ZEU, parte do avanço


dos condomínios horizontais fechados sobre áreas de riscos e fragilidade ambiental. Embora
o atual PDDU, classifique-a como Zona de Adensamento Restrito, o mesmo apresenta índices
de uso e ocupação elevados, desconsiderando a deficiência do saneamento básico e a
variedade de elementos ambientais, como lagoas de drenagem e dunas (FRANÇA, 2018).

Nesse sentido, o atual processo de revisão Plano Diretor de Aracaju, é mais rigoroso
na questão ambiental, quando comparado ao plano em vigência. Áreas de Interesse
Ambiental, como as dunas, lagoas e restingas, pelo novo Plano, fica impedido qualquer tipo
de alteração de sua composição física. A Lei vigente atual (PDDU 2000) permite que dunas
de até dez metros fossem desmontadas, causando sérios problemas socioambientais na
região nas últimas décadas.
§ 2º - Para fins desta lei, consideram-se áreas de preservação de que trata
o “caput” deste artigo:
I- mangues;
II – dunas acima de 10,00m; (LEI COMPLEMENTAR Nº 42/2000)

Assim, a nova revisão do PDDU, pretende estabelecer que dunas, indiferente da


localização e da altimetria, sejam preservadas e intocadas.
Art. 52. Para efeitos de restrição de ocupação, as áreas de dunas que
classificam-se em “non aedificand” são:
(...)
III-dunas, independentemente da localização e topografia, como
fixadoras de vegetação de restinga (ANTEPROJETO DE LEI
COMPLEMENTAR, 2015)

A nova proposta também prevê um novo macrozoneamento para alguns bairros de


Aracaju. As zonas são definidas conforme a infraestrutura, condições ambientais e morfologia
existente, são elas: Zona de Adensamento Preferencial (ZAP), Zona de Adensamento Básico
(ZAB), Zona de Adensamento Controlado (ZAC) e Zona de Adensamento Restrito (ZAR)
(Figura 42).
80

Figura 41 e 42 - PDDU de 2000 e sua proposta revisão em 2015

Fonte: FRANÇA, 2011 e PMA/SEPLOG, 2015

Parte da ZEU ainda encontra-se predominantemente em uma ZAR (Zona de


Adensamento Restrito), mas seus limites foram alterados. Áreas que atualmente abrange os
bairros Aruana e 17 de março, passariam a fazer parte da Zona de Adensamento Controlado
(ZAC), em consonância com sua infraestrutura e condições ambientais. Enquanto a região
litorânea, por conta da presença de dunas, lagoas de drenagem e restingas, se constituem
em Áreas de Interesse Ambiental (AIA) (PMA/SEPLOG, 2015).

Como já é sabido, os condomínios fechados implantados na ZEU foram responsáveis


por diversas alterações em sua paisagem natural. Por conta disso, na revisão do PDDE
(2015), são apresentados algumas restrições quanto a: largura máxima da gleba, que não
pode ultrapassar 150 metros; permeabilidade de muros = 75% vazado; doação de áreas
públicas externas ao empreendimento = 15% da área total; e a implantação de condomínios
não poderá implicar em obstáculo para a continuidade do sistema viário. Quanto ao
parcelamento do solo, não será permitido em terrenos situados nas Áreas de Interesse
Ambiental (PMA/SEPLOG, 2015).

Embora o estudo se encontre finalizado pela equipe técnica, a proposta de revisão do


Plano Diretor de Aracaju ainda não foi apresentada a Câmara de Vereadores e até hoje, não
81

foi votada. Enquanto isso, Aracaju continua fragilmente regida por um Plano Diretor (2000),
que já deveria estar na sua segunda revisão, pois conforme prazo estabelecido pelo Estatuto
da Cidades, deveria ocorrer de 5 a 10 anos (FRANÇA, 2018).

A Zona de Expansão Urbana de Aracaju clama por mudanças. Durante anos ela ficou
refém da ação do capital imobiliário e a conivência do poder público, transformando sua
paisagem e expulsando a população nativa, em função do avanço dos condomínios privados.
O novo Plano Diretor, deve ser mais restritivo, priorizando uma ocupação mais cuidadosa e
que leve em consideração os anseios daqueles que convivem diariamente com seus
problemas (SOUZA, 2016).

Como é perceptível, a ZEU se caracteriza por sua elevada fragilidade ambiental. Para
França (2011), a presença fragmentada dos condomínios fechados, permitida pelos
órgãos responsáveis, tem trazido sérios transtornos à população. A permissividade do Plano
Diretor, entre outras leis, tem prejudicado a vida da população local, devido a não
implementação de algumas diretrizes, principalmente referente à macrodrenagem (FRANÇA,
2011).

Para os moradores dos condomínios fechados, construídos nesse território, essas


dificuldades são superadas pelo status de se morar em uma região privilegiada, tranquila e
segura, onde esses empreendimentos são dotados de toda infraestrutura interna necessária,
nem mesmo com a distância de acesso e de locomoção, já que a maioria dos moradores,
possui carro próprio como forma principal de deslocamento, sendo motivados principalmente,
pelo isolamento e a distância dos problemas e do caos urbanos (FRANÇA, 2005 apud
LOUREIRO, 1983). Nesse caso, os problemas se invertem, e interferem negativamente na
vida da população nativa.

Desse modo, a população mais prejudicada com a construção desses


empreendimentos, passam a pressionar o Poder Público em busca de uma solução. As
cobranças para resolução dos graves problemas urbanos são intensas, sobretudo aos
entraves ambientais. Assim, alguns movimentos sociais criados nos últimos vinte anos na
Zona de Expansão, tem denunciado os crimes ambientais, monitoramento ação dos agentes
imobiliários e no combate à degradação ambiental (FRANÇA, 2011).

Essa mobilização popular ocorre devido aos vários conflitos existentes na ZEU.
Segundo França e Rezende (2013), às reivindicações partem da forma como vem ocorrendo
o parcelamento da terra, em função dos interesses do mercado imobiliário. A atuação dos
movimentos sociais tem sido de grande valia para a conquista de projetos e ações na área, a
partir de uma série de acordos firmados entre o Ministério Público Federal e o Estado, através
da assinatura de Termos de Ajuste de Conduta e de Ações Civis Públicas, na condução e
resolução dos conflitos sociais (FRANÇA, 2011).
82

Esses dois instrumentos jurídicos se constituem em acordos que permitem uma


solução negociada. Dessa forma, os agentes responsáveis pelos danos se comprometem a
reparar/ solucionar as irregularidades em prazo determinado, especialmente a ocupação
indevida de espaços públicos ou privados e principalmente, em áreas de preservação
ambiental (FRANÇA e REZENDE, 2013).

4.3. A JUDICIALIZAÇÃO DOS CONFLITOS AMBIENTAIS: A LUTA PELO DIREITO


À CIDADE NA ZONA DE EXPANSÃO URBANA DE ARACAJU-SE

Processo Praia de Aruana

A abertura da Rodovia José Sarney, que aliada a ocupação invasiva e irregular de


quiosques/bares para fins comerciais na Praia de Aruana, definida como Área de Preservação
Ambiental e terreno da União, desencadeou num processo judicial que tramitou entre os
órgãos Federais e Estaduais, de 1995 até 2011 (FRANÇA, 2011; FONSECA, 2017).

As primeiras ocupações da Praia da Aruana surgiram no início da década de 80, após


o surgimento do loteamento com mesmo nome. Eram quiosques simples construídas em
madeira, cobertas por palhas de coqueiro, pertencentes a pescadores e agricultores das
redondezas que durante a semana guardavam os seus equipamentos de pesca e nos finais
de semana e feriados ofereciam aos banhistas frutos, peixes e crustáceos (Figura 43 e 44)
(FONSECA, 2017).

Figura 43 e Figura 44 - Quiosques na Praia da Aruanda na década de 1980

Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE ARACAJU, 2003 in FONSECA, 2017

O problema é que esses bares foram instalados em terrenos da Marinha, na faixa


litorânea da Praia de Aruana, sendo considerados pela Constituição de 1988 como bens da
83

União (FONSECA, 2017). Segundo França (2011), a Prefeitura de Aracaju realizou em 1995,
um estudo mais detalhado e contabilizou um total de 64 edificações nesta faixa litorânea, com
usos diversos: misto, residencial e comercial. Porém essas construções foram apontadas
como ilegal, pois não possuíam autorização que permitisse a ocupação da área de praia,
classificada como bem de uso comum do povo, que não pode ser atribuído a uso particular
(FONSECA, 2017).

Os conflitos na região vão se acirrar a partir da abertura da Rodovia José Sarney em


1998. Para a execução da obra, o Departamento de Estradas e Rodagens (DER/SE), precisou
indenizar vários bares que tinham sido atingidos em parte pela construção da via. A maioria
deles investiu o valor da indenização recebida para melhorar suas edificações. No entanto,
em maio do ano seguinte, os donos dos bares receberam uma notificação da Empresa
Municipal de Serviços Urbanos (EMSURB), de demolição dos seus bares, suspendendo
qualquer ação na área, através de Ação Cautelar da Justiça do Estado de Sergipe (FRANÇA,
2011).

No final de 1999, a Associação dos Moradores do Aruana (AMAR), descontentes com


a ocupação descontrolada da praia, deu início à Campanha SOSAruana Urgente. A ação
contou com o apoio do Ministério Público Federal e resultou em um TAC entre Ministério
Público Federal e Estadual, AMAR, Associação de Donos de Bares e Moradores da Praia de
Aruana (ABDMA), Prefeitura, Administração Estadual do Meio Ambiente (ADEMA),
ENERGIPE, Polícia Ambiental, dando prazo de 90 dias aos barraqueiros para se adaptarem
às exigências, como o não uso de sons e festas noturnas e a não utilização das barracas para
fins residenciais (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 1999 apud FRANÇA, 2011).

Diante disso, em janeiro de 2000, foi assinado um TAC no Ministério Público Federal
entre a ADBAMA e os donos dos bares, e determinava que os estabelecimentos que não
apresentassem o registro de ocupação perante a União, a Prefeitura e de licença ambiental
da ADEMA, deveriam desocupar o local espontaneamente (MINISTÉRIO PÚBLICO
FEDERAL, 1999 apud FRANÇA, 2011).

Segundo França (2011), a grande maioria dos bares ali estabelecidos, não possuía
nenhum registro de ocupação que legitimar-se sua permanência, tampouco qualquer título
que lhes concedesse posse ou propriedade. Além disso, verificou-se que os barracos
desobedeciam a alguns aspectos urbanísticos, a exemplo do desrespeito à faixa de domínio
da rodovia, ligação clandestina de energia, ausência de rede de água e esgoto, entre outros
(Figura 45 e 46) (FRANÇA, 2011).
84

Figura 45 e Figura 46 - Poluição da praia pela ausência de esgotamento sanitário

Fonte: INFONET, 201022

Após um longo período de disputas judiciais e da falta de uma solução concreta, foi
assinado, em abril de 2004, outro Termo de Ajustamento de Conduta, agora entre Ministério
Público Federal, Prefeitura e os proprietários, que obrigou o órgão municipal, a efetuar, com
recursos próprios, um projeto de construção e padronização das edificações e seu entorno.
Esse convênio criou o Projeto de Reurbanização da Orla de Aruana (FRANÇA, 2011).

Com a assinatura deste Termo de Ajustamento de Conduta, os donos dos bares se


comprometeram a demolir voluntariamente seus estabelecimentos, para que fossem
construídos dezessete novos quiosques sob a forma de concessão durante dez anos. Após
esse prazo, o próprio concessionário demoliria seus estabelecimentos e replantar a área com
vegetação nativa. No entanto, a questão do tratamento do esgoto sanitário não pôde ser
resolvido e se tornou um grande empecilho nessa nova proposta, por não permitir que os
efluentes sejam jogados no mar (FRANÇA, 2011).

Apenas em 2007, foi apresentado e aprovado um novo Projeto pela Prefeitura, sem
utilização de banheiros, decorrente também, à assinatura de um TAC entre o Ministério
Público Estadual e a ADEMA em 2006, que não autoriza qualquer tipo de infiltração no solo,
pelo sistema de esgoto, em toda ZEU (FRANÇA, 2011).

E assim, perante ao não cumprimento dos Termos de Ajuste de Conduta pelos órgãos
responsáveis e pelos comerciantes, ocorreu em meados 2008, as primeiras demolição
voluntária dos bares da Praia da Aruanda, através de determinação da Justiça Federal, e os

22 INFONET. Poluição da praia pela ausência de esgotamento sanitário. Disponível em:


<https://infonet.com.br/blogs/ainda-a-zona-de-expansao-poluicao-e-praias/>. Acesso em: 19 nov. 2019
85

antigos bares foram demolidos, para que se iniciasse as obras da nova Orla (Figura 47)
(JUSTIÇA FEDERAL DO ESTADO DE SERGIPE, 2008 apud FRANÇA, 2011).

Figura 47 - Demolição do bar do Nelson na Aruana

Fonte: INFONET, 201023

Uma outra consequência da abertura da Rodovia José Sarney diz respeito a questão
ambiental. Em 1997, a Associação de Donos de Bares e Moradores da Praia de Aruana
(ADBAMA), enviou um ofício à Prefeitura, Governo, Assembleia Legislativa, Câmara de
Vereadores, Ministério Público, PETROBRAS, IBAMA, ADEMA, veículos de comunicação,
entre outros, informando que a região estava sendo alvo de especulação imobiliária e que o
projeto de duplicação da Rodovia dos Náufragos havia sido reformulado, partindo da Praia de
Atalaia passando pela Aruana até a praia José Sarney (ADBAMA,1997 apud FONSECA,
2017).

Mesmo com os questionamentos feitos pela ADBAMA ou de qualquer licenciamento


ambiental, o DER/SE, deu início às obras (FONSECA, 2017). Ainda segundo a autora, mesmo
o projeto de construção da rodovia atravessando, em toda sua extensão, terras da União
Federal e áreas de preservação permanente, em nenhum momento, os órgãos responsáveis
(IBAMA, ADEMA, DER/SE e EMURB) pelo desenvolvimento do processo demonstrou
preocupação quanto à integridade do seu patrimônio (Figura 48).

23INFONET. Demolição de bares na Praia de Aruanda. Disponível em:


<https://infonet.com.br/noticias/cidade/justica-derruba-tres-bares-na-aruana/>. Acesso em 19 nov. 2019.
86

Figura 48 - Projeto de duplicação da Rodovia José Sarney em 1997

Fonte: FONSECA, 2017

Naquele ano, o Ministério Público Federal, protocolou uma Ação Civil Pública em
defesa do meio ambiente e o patrimônio público federal contra o DER/SE; União Federal;
IBAMA; ADEMA e Estado de Sergipe (BRASIL, 2003 apud FONSECA, 2017). Após solicitação
do MPF, técnicos do IBAMA afirmaram que as dunas existentes na área em que a rodovia
estava sendo construída eram representativas, fixadas por cobertura vegetal e encontrava-se
em área de preservação permanente (Lei Federal 4.771/65, art. 3°, incisos b e c; Lei Federal
7.661/88, art. 6°e resoluções do CONAMA 04/85 e 04/93), fato este que haveria necessidade
de elaboração do EIA - RIMA24 (FONSECA, 2017).

Após estudos, ficou constatado que a construção da Rodovia atingiria uma área
ambientalmente frágil com a presença de ecossistema costeiro de restinga e cordões dunares,
onde previa corte de algumas dunas. Sendo assim, o IBAMA recomendou uma alteração de
traçado da pista, mas nenhum critério científico foi utilizado. Portanto, nenhuma proteção
ambiental foi garantida (BRASIL, 2003 apud FONSECA, 2017).

Segundo Fonseca (2017), a obra foi realizada sem EIA-RIMA, a autorização para a
construção e licença pela ADEMA só foi concedida em fevereiro de 1998, mas, no entanto, as
obras começaram muito antes. Ainda segundo a autora, a realização de estudo de impacto
ambiental realizadas pelo DER/SE antes do início das obras, certamente indicaria em um
traçado diferente para a pista, minimizando os inúmeros danos ambientais causados. Mas,
para esse ajuste, implicaria em um aumento considerável do valor da obra (BRASIL, 2003
apud FONSECA, 2017).

24 O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) são documentos
técnicos multidisciplinares com objetivo de realizar avaliação ampla e completa dos impactos ambientais
significativos e indicar as medidas mitigadoras correspondentes.
87

Ainda na região litorânea da ZEU, a construção do Condomínio Wave (Figura 49),


levou a outro embate jurídico. Por estar em área de preservação permanente (dunas) e em
zona costeira, o MPF no ano de 1999, proferiu uma Ação Civil Pública contra sua construção.
Foi constatado que ADEMA não solicitou a realização de Estudo de Impacto Ambiental - EIA
(obrigatório para construção de empreendimentos em áreas de preservação permanente) e
também, o IBAMA autorizou supressão de vegetação e descumpriu normas vigentes
(FRANÇA, 2011).

Figura 49 - Localização Condomínio Wave

Fonte: GOOGLE EARTH, 2019. Elaborado pelo Autor, 2019.

Mesmo de forma liminar, o Ministério Público Federal pede suspensão das licenças de
construção do condomínio e paralisação das obras, solicitando que esses dois órgãos fiquem
impedidos de licenciar quaisquer atividades em zonas costeiras e Mata Atlântica, sem o
correspondente estudo (FRANÇA, 2011).

Após um longo impasse, ficou decidido que o empreendimento não integra área de
preservação permanente. Quanto referente as dunas,
uma sentença final da Justiça Federal sugere que a cada pedido de
autorização de novos empreendimentos imobiliários, o IBAMA deve apontar
quais as dunas com dimensão menor que 2,5m de altura em relação ao greide
da Rodovia José Sarney que tem importância ambiental, podendo autorizar
ou não a demolição (FRANÇA, 2011, p.155).

Processo de Macrodrenagem

Em função da degradação da ZEU pela a ação humana, através do aterramento das


lagoas de drenagem, aliado à falta de infraestrutura urbana, vem ocasionando uma série de
problemas e alagamentos na região. A exploração do espaço pelo capital imobiliário, com a
88

construção de condomínios fechados em áreas de preservação ambiental e sem a


fiscalização pelos órgãos públicos, tem feito os moradores locais principalmente, na porção
norte da ZEU sofrer as consequências (FRANÇA, 2011).

Segundo França (2011), as primeiras ações extrajudiciais do Ministério Público


Federal e Ministério Público Estadual, pela inexistência de um sistema de coleta de esgoto
sanitário na região, vem desde 2005. Em junho de 2007, o Ministério Público Estadual,
através de um Termo de Ajuste de Conduta, obrigou a Secretaria Municipal de Planejamento
(SEPLAN) e a EMURB, elaborar um Estudo Técnico da 1° Bacia de Macrodrenagem, num
prazo de 180 dias, que passaria pela aprovação da ADEMA e à análise do Ministério Público,
onde seriam estabelecidas condições para o licenciamento de empreendimentos imobiliários
na Zona de Expansão Urbana de Aracaju (FRANÇA, 2011).

Esse estudo tem por objetivo identificar todos os recursos hídricos presentes na região,
as bacias de contribuição independentes, levando em consideração o relevo e topografia,
constando as ocupações, dunas, lagoas, rios, mangues, áreas reservadas e linhas
preferenciais de escoamento dos canais de macrodrenagem, além de sistema viário
(FRANÇA, 2011). Dessa forma, o esboço prévio do estudo dividiu o projeto em duas etapas
(Figura 50), conforme definição do TAC assinado em junho de 2007:

a) 1°Etapa: corresponde a região crítica da Zona de Expansão que já sofreu ocupação


considerável por empreendimentos imobiliários, sobretudo financiados pelo Poder Público.
Compreende a região da Aruana e dos conjuntos e loteamentos do Programa de
Arrendamento Residencial (PAR), cuja ocupação encontra-se adensada.

b) 2° Etapa: abrange a área entre o Rio Santa Maria e os limites com o município de
São Cristóvão, correspondente ao bairro Santa Maria (antiga Terra Dura). Segundo França
(2011), desde 2004 o bairro vem recebendo investimentos do Governo Federal, Petrobras,
Banco Mundial, além da Prefeitura Municipal de Aracaju com a implantação de casas
populares e melhoria de infraestrutura, mudando o velho cenário de extremo bolsão de miséria
e pobreza.
89

Figura 50 - Etapas do Projeto de Macrodrenagem na ZEU

Fonte: FRANÇA, 2011

Em 2009, graves enchentes ocasionadas pelas chuvas de maio deste ano, causou
grandes estragos em diversos pontos, principalmente nos mais adensados (Figuras 51 e 52).
Com isso, o MPF convocou empresas da construção civil, CAIXA, Prefeitura, DESO,
PETROBRAS, ADEMA, e a União para intervir na área. Por meio de uma Ação Civil Pública,
assinada em junho de 2009, a Justiça Federal determinou bloqueio temporário de
licenciamento, construção e inauguração de quaisquer empreendimentos (FRANÇA, 2011).
90

Figura 51 e Figura 52 - Chuvas de inverno na Zona de Expansão

Fonte: INFONET, 200925

Essa ACP determinou que tanto a Prefeitura e a EMURB ficam proibidas de expedir
HABITE-SE, alvarás de construção ou quaisquer outros atos administrativos para uso e
ocupação do solo, assim como a ADEMA não poderá conceder licenciamento ambiental
relativos à Zona de Expansão. Para a DESO foi solicitado que se inicie imediatamente os
estudos para viabilizar a implantação de uma rede de esgotamento sanitário para a Zona de
Expansão, e à Caixa e à União determinou-se que não sejam inaugurados empreendimento
habitacionais na região (FRANÇA, 2011; SOUZA, 2016).

A EMURB ainda ficou responsável por apresentar um cronograma de execução do


projeto já existente para a Área I, que vai do Aeroporto até a AABB e o cronograma de
elaboração e execução do projeto para a Área II, da AABB até o Mosqueiro, e também resolver
prioritariamente, os problemas referentes aos alagamentos, principalmente nos conjuntos
Brisa Mar, Beira Mar, Costa do Sol, Aquarius, Costa Nova, Horto do Carvalho, Águas Belas e
Mirassol (FRANÇA, 2011).

Desde 2009, após o bloqueio temporário de expedição de alvarás de licenciamento, o


número de construção de empreendimentos imobiliários na Zona de Expansão Urbana de
Aracaju sofre redução. Entretanto, em audiência pública, em setembro deste ano, o Ministério
Público Federal liberou a construção de alguns empreendimentos cujo o pedido de alvará
tenham sido protocolados antes de 12/06/2009, desde que estejam de acordo com a
solicitação do TAC, isto é, uma rede interna de drenagem interligada à macrodrenagem
existente da área, bem como rede de esgoto utilizando o sistema DAFA (Digestor Anaeróbio
de Fluxo Ascendente) com filtro. Fica liberados também empreendimentos comerciais com

25INFONET. Chuvas de inverno na Zona de Expansão. Disponível em:


<https://infonet.com.br/noticias/cidade/zona-de-expansao-mpf-se-processa-uniao-estado-municipio-de-aracaju/>
Acesso em: 24 dez. 2019
91

baixa geração de dejetos, sem a necessidade de implantação do sistema acima (JUSTIÇA


FEDERAL DO ESTADO DE SERGIPE, 2009 apud FRANÇA, 2011).

Entre os anos 2011 e 2014, seis empreendimentos conseguiram o licenciamento para


construção após autorização da justiça, dentre eles, Reserva Aruana, Reserva Aimoré (Figura
53), Atlantic Blue (FRANÇA, 2019).

Figura 53 - Encarte publicitário do lançamento do condomínio Reserva do Aimoré

Fonte: IMOVELNOVOTUDO, 201926

A mais recente decisão judicial referente ao sistema de Macrodrenagem da ZEU,


ocorreu em outubro de 2019, onde a juíza titular da 1ª Vara Federal da Justiça Federal em
Sergipe (JFSE), Telma Maria Santos Machado, determinou que União, Caixa Econômica
Federal, Estado de Sergipe, ADEMA, DESO, Prefeitura de Aracaju, EMURB e PETROBRAS,
solucionem, inclusive suportando os ônus financeiros, os problemas de drenagem e
esgotamento sanitário da Zona de Expansão Urbana de Aracaju, oriundos do desequilíbrio
ambiental causado pela ocupação mal planejada (INFONET, 2019).

Ação atende em partes os pedidos formulados nos autos da Ação Civil Pública (ACP)
n.0002637-41.2009.4.05.8500, ajuizada pelo Ministério Público Federal (MPF), em
litisconsórcio ativo com o Ministério Público do Estado de Sergipe (MP/SE) e Conselho das
Associações de Moradores dos Bairros Aeroporto e Zona de Expansão Urbana de Aracaju
(COMBAZE) (NE NOTÍCIAS, 2019).

26
IMOVELNOVOTUDO. Encarte publicitário do condomínio Reserva do Aimoré. Disponível em:
<http://www.imovelnovotudonovo.com.br/empreendimento_reserva_aimore.html>. Acesso em: 24 dez. 2019.
92

Nessa ação ficou determinado a implantação e execução, em um prazo de oito anos,


de um sistema de macrodrenagem na região e de obras de saneamento básico, com rede
coletora e tratamento de esgotos, evitando a contaminação dos corpos hídricos, ficando
proibida a utilização de fossas sépticas e sumidouros. Além disso, os requeridos também não
devem licenciar novos empreendimentos ou atividades na região enquanto não estiver em
operação o referido sistema, compatível com as características da área, além de repararem o
dano moral coletivo causado (NE NOTÍCIAS, 2019).

A sentença também determinou que os órgãos reparem os danos causados. União,


Estado e Município de Aracaju deverão pagar R$ 200 mil; EMURB, DESO e ADEMA foram
multados em R$ 100 mil; enquanto a Caixa e PETROBRAS deverão pagar R$ 60 mil. Os
valores serão revertidos para obras voltadas à proteção do meio ambiente e a saúde da
população na Zona de Expansão (INFONET, 2019).

A área delimitada na ação abrangeu toda a região sul do Município de Aracaju, a partir
das avenidas Sen. Júlio César Leite e Heráclito Rollemberg até o Mosqueiro (Rio Vaza Barris),
que tem por características ser uma área ambientalmente frágil, que demanda atenção
especial e cuidado. Assim, diante da deficiente infraestrutura urbana, especialmente pela falta
de um sistema de drenagem e de rede coletora de esgoto adequado, aliado a intensa
ocupação da ZEU tem gerado grave impacto negativo ao meio ambiente e para a população
ali residente (NE NOTÍCIAS, 2019).

Como podemos notar, a Zona de Expansão Urbana de Aracaju é um espaço marcado


por conflitos e segregação. Essa produção desigual do território é fruto da grande quantidade
de lotes ociosos, visando sua valorização e pela intensa construção de condomínios fechados
e casas de alto padrão pela iniciativa privada, além da proliferação de empreendimentos do
PAR e PMCMV (SANTOS, 2017).

O Estado e o capital imobiliário são os responsáveis por intensificar a separação


socioespacial do espaço da ZEU. Uma separação marcada pela desigualdade entre as
populações que habitam esse território. Essa desigualdade se expressa na separação das
condições de vida dos habitantes dos condomínios fechados e dos moradores dos povoados,
bem como a expulsão dos moradores nativos das áreas bem localizadas e valorizadas pelo
capital imobiliário e sua substituição por residências destinadas à classe média alta (SANTOS,
2017).

Para Santos (2017, p. 324), as desigualdades entre os moradores da ZEU ocorrem,


primeiramente “partindo da própria condição de classe, separação imposta pelo capital e
Estado, que determinam formas diferenciadas de acesso às cidades, condições desiguais de
acesso a diferentes serviços públicos”.
93

Essas desigualdades são perceptíveis, particularmente pela classe pobre, e vai se


reproduzindo, socioespacialmente, pela ocupação de áreas sem estruturas, com ausência ou
deficiência de serviços públicos básicos, como saúde, educação, saneamento, segurança e
lazer. Problemas esses, visíveis não só na ZEU, mas em quase toda a Aracaju, e se
apresentam de forma cotidiana na vida de grande parte da população que vive em áreas
marcadas pela segregação socioespacial e que, ao longo do tempo, descontentes com a
situação de abandono, lutam por melhores condições de vida, isto é, pelo direito à cidade
(SANTOS, 2017).

França (2011) exemplifica bem esse panorama, quando afirma que diante a omissão
do Governo em garantir
à implantação de infraestrutura para atender à demanda populacional,
concentrando-se apenas na construção de unidades habitacionais. (...) os
moradores, através das suas reivindicações devidamente respaldadas na
Constituição Federal de 1988, como o direito à cidade e a função social da
propriedade (artigos n°182 e 183), buscam na justiça a consolidação desses,
com a ajuda do Ministério Público. É uma nova forma de conquistar seu
espaço na cidade democrática (FRANÇA, 2011, p.131)
94

27

CAPÍTULO 5

CONQUISTAS URBANAS NA ZONA DE EXPANSÃO URBANA DE ARACAJU:


ATUAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

A luta pelo direito à cidade traz a necessidade de se enfrentar as desigualdades


sociais. Nesse sentido, a participação popular no processo de decisão do planejamento
urbano se faz indispensável, em cidades que almejam a melhor distribuição dos serviços e
resolução dos conflitos urbanos (FRANÇA, 2011).

A ZEU se caracteriza por conflitos socioambientais, principalmente pela ausência de


ações públicas de planejamento urbano, visando amenizar os problemas ocasionados pela
ocupação dispersa. Além disso, a ZEU é algo de disputa de interesses divergentes, pois para
França (2011), de um lado existem aqueles que causam os problemas e, de outro, os que se
sentem prejudicados e partem para o enfrentamento. Assim, a região é marcada pela
presença de alguns movimentos sociais (associativos de bairros), que lutam para que seus
problemas sejam resolvidos ou amenizados.

Portanto, neste capítulo estão apresentados os resultados da pesquisa sobre a


atuação de algumas associações de moradores da Zona de Expansão Urbana de Aracaju. No
primeiro momento, foram apresentados dados gerais das associações de moradores
existentes na ZEU, através das informações obtidas na Receita Federal, comparando-as com
o levantamento em campo, – entrevistas realizadas individualmente com os presidentes e
membros das associações de moradores, além da aplicação de um questionário. Enquanto

27 EXPRESSAOSERGIPANA. Disponível em: <


https://expressaosergipana.wordpress.com/2016/04/21/moradores-do-povoado-areia-branca-na-zona-de-
expansao-fazem-nova-manifestacao/> Acesso em: 22 nov. 2019
95

no segundo, foram demonstradas as conquistas advindas da atuação das associações de


moradores na região.

5.1 OS MOVIMENTOS SOCIAIS CONTRA “A ZONA DE EXCLUSÃO”

Como visto no decorrer do Capítulo 2, os movimentos sociais são ações coletivas que
possuem caráter político e/ou cultural. São formas de organizações da população que se
estruturam e partem para a luta contra as desigualdades sociais, ou seja, lutam por melhores
condições de vida.

Nesse contexto de participação e união em defesa de interesses e objetivos comuns,


estão as chamadas associações de moradores (AMs). Segundo Pozzer (2010), as
associações apresentam-se, principalmente, no contexto local, isto é, a partir da integração
entre pessoas que convivem umas com as outras.

Deste modo,
a participação em grupos sociais locais, como grupos de mães, associações
de bairro e grupos de igreja. Essas formas de participação têm em comum
um escopo mais limitado em suas demandas (...) não são necessariamente
vinculadas a assuntos políticos; são muito mais voltadas para problemas do
dia-a-dia do que para grandes debates nacionais e servem principalmente
para formar uma rede de proteção e conforto a seus membros em relação
aos acontecimentos cotidiano (RENNÓ, 2003; p.72).

Assim, as associações de moradores atuam em defesa dos interesses da população


da localidade que representa, reivindicando melhorias no transporte público, infraestrutura,
escolas, creche, posto de saúde, segurança, etc.

5.1.1. Associações de Moradores na Zona de Expansão Urbana de Aracaju:


representações sociais e políticas?

Para realizar o levantamento das associações de moradores existentes na Zona de


Expansão Urbana de Aracaju foram utilizados dados obtidos a partir do Registro Civil de
Pessoa Jurídica (CNPJ), consultado no site da Receita Federal. Essas informações
permitiram não só o nome e o CNPJ das associações registradas como também as suas datas
de fundação e endereço, além do nome de seus respectivos presidentes.

Em um primeiro momento houve uma tentativa frustrada de realizar tal levantamento


através da Prefeitura Municipal (Secretaria de Estado da Inclusão, Assistência Social e do
Trabalho), porém, não se obteve êxito justamente pela dificuldade de disposição de tais
informações por ela. Esse levantamento limita-se apenas a associações de moradores com
96

registro oficial em cartório, não abrangendo assim possíveis associações de moradores


informais que se organizam e se reúnem, mas que não dispõem de registro.

De acordo com dados da Receita Federal, em janeiro de 2020 havia na Zona de


Expansão de Aracaju, um total de 4 associações de moradores com registro ativo, 9 inaptos
e 8 baixados28. Dentre esses números, encontram-se além de associações de moradores,
associações de pescadores e associações culturais e esportivas (Quadro 1).

Quadro 1 - Associações de moradores na Zona de Expansão Urbana de Aracaju

Razão Social Tipo Situação Abertura Fechamento

Associação dos Moradores e Associações de Baixada 25/11/1987 09/02/2015


Amigos do Povoado defesa de
Mosqueiro – AMAM direitos

Associação de Moradores e Associações de Baixada 06/07/1988 31/12/2008


Amigos do Povoado Areia defesa de
Branca direitos

Associação dos Moradores e Associações de Baixada 29/09/1989 31/12/2008


Amigos dos Povoados defesa de
Robalo e São José – direitos
AMARSJ

Associação de Donos de Profissionais Baixada 26/10/1995 31/12/2008


Bares e Moradores da Praia
de Aruanda – ADBAMA

Associação de Profissionais Baixada 25/05/1999 31/12/2008


Desenvolvimento da Pesca
do Povoado Mosqueiro e
Adjacências – ADPPMA

Associação de Moradores e Associações de Baixada 07/06/2000 09/02/2015


Amigos do Loteamento defesa de
Aquarius direitos

Associação de Moradores do Associações de Baixada 05/10/2005 09/02/2015


Residencial Brisa Mar defesa de
direitos

28 Notou-se que algumas das associações de moradores levantadas possuíam seu CNPJ baixado, que significa
que a entidade deixou de entregar suas obrigações contábeis à Receita Federal por mais de cinco anos, ou pode
indicar que o responsável pela mesma solicitou a baixa aos órgãos competentes. Enquanto não solucionar suas
pendências com a Receita Federal (pagamento de multas), a associação continua com seu CNPJ baixado. Em
muitos casos, a inviabilidade de pagar essas multas, faz que com seja mais simples a fundação de outra entidade.
97

Associação de Moradores do Associações de Baixada 05/07/2006 21/11/2018


Residencial Águas Belas defesa de
direitos
Associação dos Moradores Associações de Inapta 15/09/1989 -
de Robalo – AMOR defesa de
direitos
Associação Comunitária Associações de Inapta 05/03/1999 -
Nossa Senhora Aparecida defesa de
direitos
Associação Comunitária de Associações de Inapta 17/05/2001 -
Desenvolvimento do defesa de
Povoado Mosqueiro – direitos
ACDPM

Conselho das Associações Associações de Inapta 24/08/2007 -


dos Bairros Aeroporto e Zona defesa de
de Expansão de Aracaju – direitos
COMBAZE

Associação do Residencial Associações de Inapta 17/02/2009 -


Porto Sul defesa de
direitos
Associação dos Moradores e Associações de Inapta 30/01/2010 -
Arrendatários dos defesa de
Residenciais Costa Nova – direitos
AMARES

Associação de Proprietários Associações Inapta 04/02/2010 -


e Moradores dos ligadas à arte,
Loteamentos Jatiuca & cultura, esporte
Jardim Costa Mar – e recreação.
ASPROMJACMAR

Associação dos Pescadores Profissionais Inapta 11/07/2012 -


Pôr do Sol do Mosqueiro

Associação dos Pescadores Profissionais Ativa 29/01/2007 -


e Amigos do Povoado Areia
Branca – APAPAB

Associação Desportiva, Associações Ativa 15/05/2009 -


Cultural e Ambiental do ligadas à arte,
Robalo – ADCAR cultura, esporte
e recreação.
Associação Comunitária de Associações de Ativa 28/08/2013 -
Moradores do Bairro 17 de defesa de
Março – ACMBDM direitos
98

Associação de Moradores Associações de Ativa 02/06/2016 -


Mãos Amigas do Povoado defesa de
São José direitos

Fonte: RECEITA FEDERAL, 2020. Organizado pelo autor, 2020

Segundo Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), da Receita


Federal, grande parte das associações de moradores da Zona de Expansão Urbana de
Aracaju formalizadas encontram-se no grupo de “atividades de desenvolvimento e defesa de
direitos”. Além desta, existem aquelas destinadas a “atividades de organizações associativas
ligadas à cultura e à arte” e “atividades associativas profissionais”, que somam um total de 21
associações (Quadro 2).

Quadro 2 - Classificação das Associações de Moradores da ZEU

Tipo de associação Descrição Qtde.

Associações de Associações que criadas para atuar em causas de caráter


defesa de direitos social, tais como a defesa dos direitos humanos, defesa do 15
meio ambiente, defesa das minorias étnicas, etc.
Profissionais Associações constituídas em relação a uma profissão,
área técnica ou área de saber e prática profissional, tais
como as associações médicas, de advogados, de 4
contadores, de engenheiros, de arquitetos, de
economistas, etc.

Associações ligadas à Associações com objetivos dominantes nas áreas culturais


arte, cultura, esporte e artísticas, como: clubes literários, de cinema e de
e recreação. fotografia; associações de música, de arte; e as demais
organizações associativas ligadas à cultura e à arte, como 2
as de artesanato, de colecionadores, carnavalescas, etc.

Fonte: RECEITA FEDERAL, 2020. Organizado pelo autor, 2020

Para este estudo, foram selecionadas as associações de moradores que se propõem


a atuar em todo o território de seu respectivo bairro/comunidade. Também foi levado em
consideração, associações formalizadas, isto é, com estatuto social e CNPJ válido.

Devido aos vários condomínios e loteamentos, principalmente da porção Norte da


ZEU, é comum a existência de associações de moradores que reúnem apenas os habitantes
desses empreendimentos. Nesse caso, essas AMs não foram consideradas devido a
99

particularidade de sua atuação, pois representa apenas uma pequena parte de moradores da
região, sem representatividade no todo.

Assim, as AMs estudadas nesta pesquisa são: Associação Comunitária de Moradores


do Bairro 17 de Março – ACMBDM; Associação Desportiva, Cultural e Ambiental do Robalo –
ADCAR; Associação de Moradores Mãos Amigas do Povoado São José; Associação dos
Pescadores e Amigos do Povoado Areia Branca – APAPAB; Associação Comunitária de
Desenvolvimento do Povoado Mosqueiro – ACDPM; e Conselho das Associações dos Bairros
Aeroporto e Zona de Expansão Urbana de Aracaju – COMBAZE. Essas duas últimas embora
estejam com a situação na Receita Federal inapta, por conta de sua importância e
representação na ZEU merecem destaque, e, portanto, serão objetos de estudo (Figura 54).

Figura 54 – Área de atuação das Associações de Moradores estudadas

Fonte: GOOGLE EARTH, 2020. Elaborado pelo autor, 2020


100

Após selecionar quais associações de moradores seriam estudadas, foi estabelecido


contato com os presidentes e membros das diretorias, sondando a disponibilidade para a
realização de entrevistas (APÊNDICE I e II). A partir desses dados, foi possível obter
informações sobre as associações, desde seu contexto de criação, organização, participação,
reivindicações e conquistas para comunidade.

Dado o sigilo em que as informações são apresentadas, os membros das associações


participantes serão identificados de forma genérica como “entrevistado”. Todas as entrevistas
realizadas foram devidamente transcritas, sempre mediante prévio estabelecimento de Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido.

Os primeiros levantamentos foram essenciais para se obter informações quanto ao


tempo de existência das associações moradores na ZEU. Esses dados comprovam que as
AMs estudadas são relativamente novas, sendo que metade delas possuem pouco mais de
10 anos de fundação (Gráfico 4).

Gráfico 4 - Tempo de fundação das associações levantadas na ZEU

17%
33% Menos de 10 anos
Mais de 10 anos
Mais de 15 anos
50%

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados obtidos no questionário, 2020

Por outro lado, partindo de um contexto mais geral, observa-se a existência de um


associativismo com relativa antiguidade. Esse fato pode ser consultado no Quadro 1, onde
percebe-se que as primeiras associações de moradores na ZEU, embora não mais atuantes,
foram fundadas final da década 1980 e estavam localizadas nos povoados com ocupação
mais tradicional:
(...) os moradores dos povoados Robalo, São José, Gameleira, Areia Branca,
Matapoã e Mosqueiro, tem uma história de associação, uma coisa mais
anterior, acho que lá para os anos 80 e 90, existia uma só associação que
representava todos os povoados da Zona de Expansão. Daí depois vieram
mais entidades da região do Aruana, até por conta do crescimento
(ENTREVISTADO).
101

Talvez umas das dificuldades na investigação das associações moradores na região


se refere à instabilidade no funcionamento dessas entidades, pois a grande maioria não conta
com fontes de recursos ou possuem algumas pendências com a Receita Federal. Desse
modo, tendem a uma atuação alternando em períodos de maior atuação e períodos de baixa
atuação, chegando em alguns casos, à desativação da entidade, conforme pode ser
observado na Quadro 1:
(...) porque já passamos tempos com a Associação abandonada e nada foi
feito (pra melhorar a comunidade) (ENTREVISTADO).

Conforme pode ser observado por meio dos questionários, os principais desafios para
a atuação das AMs na Zona de Expansão estão, em primeiro lugar, é a falta de recursos
próprios no custeio das dispensas mensais, aliado a dificuldade de fidelização dos associados
pagantes, depois está a falta de uma sede própria, pois esta dificulta a atuação da AMs seja
através de eventos e atividades para a comunidade, e posteriormente estão; a falta de
participação dos moradores, dificuldade de atendimento do Poder Público e a falta de
reconhecimento da população (Gráfico 5).

Gráfico 5 - Obstáculos ao associativismo na Zona de Expansão de Aracaju

Falta de recursos

13%
Falta de participação dos
31% moradores
19% Falta de sede própria

Dificuldade no atendimento do
12% Poder Público
25%
Falta de reconhecimento da
população

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados obtidos no questionário, 2020

Para existirem formal e juridicamente, as associações de moradores devem possuir


atas de fundação, de reuniões e de eleições, tudo isso registrado no Cartório de Registro de
Pessoas Jurídicas. Além disso, devem estar inscritas no Cadastro Nacional de Pessoas
Jurídicas e declarar anualmente isenção de Imposto de Renda à Receita Federal.

Os dados disponíveis na Receita Federal mostram que 67% das associações de


moradores estudadas estão formal e juridicamente regularizadas, enquanto que, 33% delas
102

possuem alguma irregularidade, em decorrência de alguma pendência documental com a


Receita Federal.

A dificuldade em manter as associações moradores regulares junto aos Órgãos


Públicos, foi fator responsável pela desativação de várias outras entidades na ZEU. A não
realização de eleições aliada a ausência de recursos financeiros para pagar as pendências
judiciais estão entre os casos mais relatados pelos entrevistados:
(...) as outras Associações elas tinham um saldo devedor de 14 mil reais.
Então, diante disso a comunidade (...) não poderia receber esse benefício,
por conta desse saldo negativo. A gente achou por bem, criar uma nova
Associação, ou seja, uma Associação limpa, legalizada com toda a
documentação. Antes dessa, existiram várias. As outras Associações, em
três em três anos, tinham eleições, mas aí o presidente ganhava a eleição,
mas ele ficava com a Associação praticamente morta, porque ele não ia
ganhar nenhum benefício por conta desse saldo negativo de todas as outras
Associações (ENTREVISTADO).

Assim, as entrevistas mostram uma crescente preocupação dos associados com a


questão da regularidade de suas entidades:
Se hoje você não estiver com a Associação legalizada, com tudo em dia,
todas as contas pagas e não estiver tudo okay, praticamente você não tem
uma Associação. Você vai ter uma Associação, mas de fachada. Para o povo
você tem uma Associação, mas para os Órgãos, você não tem. Você não tem
força nenhuma, é como não tivesse documento (ENTREVISTADO).

As AMs que possuem alguma irregularidade com a Receita Federal, e muitos casos,
encontram problemas como o de não poderem se beneficiar de convênios com entidades
públicas e/ou privadas. Também, por não serem legalizadas, podem encontrar dificuldades
no relacionamento com os Órgãos Públicos:

Sempre chegava nos Órgãos competentes e eles diziam: Cadê a


Associação? Qual Associação você é? Então nós nunca resolvíamos os
problemas. Hoje está mais fácil porque a gente tem o nome da Associação.
É difícil resolver? Ainda é, mas facilita um pouco! (ENTREVISTADO).

Outro ponto observado a partir dos dados dos questionários, é que metade das
associações pesquisadas não possuem recursos próprios (Gráfico 6).
103

Gráfico 6 - Fonte de renda para manutenção da entidade

17% Não possui recursos

Mensalidade dos associados


50%
33% Doações de voluntários/
diretores

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados obtidos no questionário, 2020

Nas entrevistas, a falta de recursos foi um dos pontos constantemente relatado pelos
associados. A dificuldade em ser obter recursos para o custeio das despesas mensais, bem
como a fidelização entre os associados nos pagamentos das mensalidades são umas das
dificuldades presentes entre as associações estudadas:
As maiores dificuldades é a falta de recursos, porque tudo gera um gasto
(ENTREVISTADO).

o que acontece é que na comunidade, em atividade financeira a gente ainda


não exerce e os associados que foram cadastrados uma vez, no momento
ainda não estão colaborando. Então a gente não tem nenhum recurso interno
(ENTREVISTADO).

Existe algumas entidades onde os associados pagam um pequeno valor em


mensalidade ou oferecem outro tipo de ajuda. Em muitos casos, esta mensalidade possibilita
a associação, além de arcar com as despesas, oferecer outros serviços para a comunidade,
como atividades esportivas, recreativas ou eventuais festas:
Os sócios eles pagam 10 reais mensalmente para ter os benéficos e também
eles fazem doações de mão de obra. Agora recentemente um morador se
ofereceu a assentar o piso do salão da sede da associação. Esses 10 reais
são para pagar as contas, o que sobra a gente vê a necessidade e aplica
(ENTREVISTADO).

Em contrapartida, existe AMs que atuam basicamente a partir de recursos


disponibilizados por voluntários ou pelos seus próprios membros. Essa forma de arrecadação
torna-se um grande empecilho, uma vez que as entidades dependem da contribuição dos
104

voluntários, reduzindo sua capacidade de atuação na medida em que as mesmas dispõem de


poucos recursos para arcar com os custos mensais:
(...) a nossa arrecadação é feita através voluntários e de campanha que a
gente faz periodicamente com os comerciantes da região (ENTREVISTADO).

(...) a renda própria da associação são taxas sociais, de contribuição, que os


diretores fazem a instituição para que nós possamos arcar com as despesas
mensais, que é o aluguel, água, energia, internet, material de limpeza e que
é essencial para qualquer instituição, para que nós possamos manter nossa
instituição aberta, para poder atender a comunidade nas suas reivindicações
(ENTREVISTADO).

Dessa forma, observa-se que é um número relativamente pequeno de entidades que


encontra em seus associados uma fonte de recursos permanente essencial para sua atuação.
Um outro ponto relatado nas entrevistas e que dificulta a atuação das associações de
moradores pela falta de uma sede própria:
Essa sede é uma sede provisória, ela é alugada, ela não é própria ainda, nós
estamos trabalhando junto aos Órgãos (...) pra a gente construir a nossa
própria sede, que é um sonho de todos os diretores e moradores da
comunidade (ENTREVISTADO).

Em alguns casos, a conquista de uma sede própria, segundo relatado nas entrevistas,
trará bastante benefícios para a comunidade:
Com a sede, a gente pode trazer cursos para os jovens, cursos para terceira
idade, que a gente precisa, para não ficar em casa, sem fazer nada, atividade
física, tudo isso trazer pra dentro da Associação; por isso hoje a gente almeja
muito essa sede para a associação; para reuniões, que a gente não tem um
lugar, daí tem que estar alugando espaço e a gente não tem recursos para
isso. Então a gente precisa muito desse espaço (ENTREVISTADO).

De acordo com os dados obtido nos questionários, observa-se que 67% das
associações de moradores da Zona de Expansão não possuem sede própria. Nesse caso, as
reuniões aconteciam, tradicionalmente, na casa de algum integrante da associação
(geralmente o Presidente), ou em instituições que cediam espaço para a realização das
reuniões ou outras atividades realizadas pelas AMs. Além disso, falta de uma sede eleva
ainda mais as despesas mensais com o pagamento do aluguel:
A questão é, não temos um espaço, pois atualmente dependemos do posto
de saúde, da igreja, de escola para fazer essas atividades
(ENTREVISTADO).

Observou-se que as entidades que contavam com a sede própria, indicava uma maior
capacidade de mobilização dos moradores, seja em participação nas reuniões, eventos
comemorativos, atividades culturais e esportivas e cursos, pois como a sede, a entidade é
105

reconhecida e buscada pelos moradores quando estes presenciam com determinados


problemas na comunidade.

Quanto a participação da população nas atividades realizadas pela AMs, revela-se que
em algumas entidades, poucos moradores participam regularmente das reuniões, embora
muitos cobrem pela solução dos problemas:
Nós fazemos reuniões, mas infelizmente a comunidade não comparece em
massa. Você faz uma reunião nessa comunidade aqui (...) infelizmente, no
dia da reunião não comparece todos, a parte mínima comparece. Então a
gente fica sem força, porque a comunidade tem que participar, tem que ser
participativa de tudo que acontece dentro do bairro. Às vezes eu quero
comunicar o que eu fiz no mês, mas infelizmente a comunidade não dá a
prioridade as coisas, só querem reivindicar, mas contribuir, zero
(ENTREVISTADO).

Para entender melhor quais as causas da baixa participação da população nas


entidades pesquisadas, assim foi realizado um questionário aplicado aos moradores da
região. A primeira pergunta buscou averiguar se a população tinha conhecimento sobre a
existência de alguma associação de moradores em sua comunidade.

Com os resultados pode-se observar que 63% da população têm conhecimento sobre
a existência, enquanto que apenas 37% dos entrevistados mostraram não ter conhecimento
sobre o assunto.

Verificou-se que mais da metade dos entrevistados conhece a existência de alguma


associação de moradores em sua comunidade. Mas quando perguntado se o entrevistado já
havia se interessado em participar de algum movimento ou associação de moradores, o
resultado mostra-se um pouco desanimador.

Nas respostas obtidas, verificou-se que a maioria absoluta da população (61%) não
possui interesse algum, enquanto que 39% das pessoas entrevistas demonstraram algum
interesse em participar da associação de moradores de sua comunidade.

Uma das causas pode estar relacionada à porcentagem de apenas 37% dos
entrevistados reconhecer a existência de alguma AM’s em sua comunidade ou não são
informados sobre onde as reuniões que acontecem. Dessa forma talvez explique tamanho
desinteresse da população. Pode-se também considerar, a falta de tempo ou porque alguns
realmente não têm interesse em participar.

Quando perguntado se a atuação das associações de moradores contribui para a


melhoria na região. Nas respostas obtidas, verificou-se que a maioria absoluta
da população (87%), consideram as associações de moradores como indispensáveis na luta
por melhores condições urbanas na comunidade.
106

Dessa forma, observa-se que normalmente as pessoas esperam das associações de


moradores contribuição/solução frente aos problemas apresentados pela comunidade,
embora muitos não queiram assumir funções na condução das entidades.

Toda a questão burocrática, relacionamento e negociação com os Órgãos Públicos,


contribuem para o afastamento da população. Muito se deve porque, as reivindicações
apresentadas pelas associações de moradores, parte dos gestores públicos para soluciona-
las. Portanto, quando as reivindicações não são resolvidas, a população tende a se engajar
menos nas atividades das AMs, o que na prática deveria ocorrer o contrário.

Essa dependência do Poder Público foi apontada pelos entrevistados com sendo uma
das dificuldades na atuação dos AMs nas comunidades:
(...) você também não tem um respaldo dos Órgãos públicos, porque quando
você leva um documento, você quer uma resposta, quer debater junto a
Prefeitura, e a gente que mora convive com essa situação. Então é isso que
faz com que a gente desista, tem hora que cansa, a gente passa semanas,
meses em casa só pensando e não dar nenhum prazer, porque não tem
nenhum retorno do Poder Executivo (ENTREVISTADO).

5.1.2. Percepção dos moradores em relação aos problemas da ZEU

Durante o levantamento em campo, foi realizado questionários envolvendo habitantes


da ZEU com intuito de obter maior conhecimento e observar suas percepções aos problemas
da região. É importante salientar que 123 moradores se dispuseram a responder o
questionário, e por ter sido realizado online, houve uma concentração das repostas no
Povoado Areia Branca e na Aruana, seguido pelo Mosqueiro e Robalo. Os outros povoados
contaram com pouco mais de 5% de participação nas respostas de seus moradores.

Dos entrevistados, 62% são residentes da região há mais de 10 anos, o que


demostram que muitos desses são nativos ou moradores há um bom tempo. Portanto,
conhecem bem as particularidades e os problemas da ZEU.

Posteriormente, perguntou-se quais seriam estes problemas, e os moradores


revelaram através dos dados que a insatisfação é com todos os setores: saneamento,
transporte público, segurança, pavimentação, falta de serviços públicos, entre outros
(APÊNDICE III). Necessidades básicas de uma cidade, que não estão presentes nesta região,
e que infelizmente tem afetado muito a suas vidas (Gráfico 7).
107

Gráfico 7 – Maiores problema da Zona de Expansão por seus moradores

Quant. de respostas
10

75

56

71

66

62

69

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Outros Precariedade transporte público


Tempo gasto locomoção Inseguraça
Falta de oferta de equipamentos público Falta de esgotamento sanitário
Falta de pavimentação das ruas

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados obtidos no questionário, 2020

Como era esperado, os principais problemas apontados pela população referem-se a


precariedade da infraestrutura urbana da ZEU, como a rede de esgotamento sanitário (15%),
pavimentação das ruas (17%), transporte coletivo (18%) e tempo gasto para deslocamento
(14%), serviços urbanos (16%), segurança (17%), e outros (0,3%).

A existência de várias vias sem pavimentação, acabam ocasionando problemas para


população relacionados à mobilidade e acessibilidade. A região é marcada pela existência de
ruas despavimentadas, sendo a grande maioria em terra batida (piçarra) e que, em época de
chuva, a população convive com os constantes alagamentos e no verão com a poeira,
dificultando a locomoção de pedestres e veículos e causando transtornos a vida dos que
moram ou transitam na área (Figuras 55 e 56).
Aqui, como em toda a Zona de Expansão, no verão é poeira, no inverno é
lama (ENTREVISTADO).

Aqui basta sonhar que vai chover que já fica alagado e cheio de lama
(MORADOR)29.

29Relatos retirados da página do Facebook do membro de uma das Associação de Moradores da Zona de
Expansão de Aracaju, contendo relatos e indignações dos moradores.
108

Figura 55 e 56 - Precariedade das vias no Povoado Areia Branca (ZEU)

Fonte: MARCOS ANDRÉ, 2018.

Além disso, poucas são as ruas que possuem acessibilidade adequada. As melhores
situações estão presentes principalmente na Aruanda e no 17 de março, enquanto nos
povoados praticamente inexistem. Observa-se que no geral, a grande maioria das vias possui
passeios estreitos e/ou descontínuos, com presença de obstáculos (construções), enquanto
outras sequer teriam espaço para calçadas (Figura 57).

Figura 57 - Condições da acessibilidade em algumas vias da ZEU

Fonte: MARCOS ANDRÉ, 2018

Nos últimos meses a Administração Pública vem realizando obras de pavimentação


asfáltica em algumas localizadas, principalmente em vias principais onde o transporte público
circula. O projeto prevê a pavimentação das ruas com o asfalto extraído das obras de
recapeamento de algumas avenidas da Capital. Mas o que viram a trazer melhorias para os
moradores, acabou no fim, causando ainda mais transtornos.
109

Conforme depoimentos dos moradores, a obra não surtiu efeito esperado, apenas
postergou os problemas (Figura 58 e 59):
(...) aí é um paliativo não uma grande obra, o asfalto é igual pisará, toda solta,
isso aí não é obra definitiva (MORADOR).

Figura 58 e 59 - Problemas na pavimentação das ruas na Zona de Expansão de Aracaju

Fonte: MARCOS ANDRÉ, 2018.

Apontado em 15% nos relatos dos moradores, a falta da rede de esgotamento sanitário
e drenagem urbana são carências que comprometem a qualidade de vida da população.
Embora esteja sendo implantada na porção Norte da ZEU, é ausente em todas as outras
localidades. Nas outras áreas, o descarte dos efluentes é realizado por fossas sépticas e
sumidouros. Ainda que seja indicada para locais onde não existe um sistema de esgotamento
sanitário, essa solução traz consigo um outro problema que é poluição do lençol freático, além
do risco a saúde pública, pois uma boa parcela da população ainda é abastecida por poços
artesianos.

Locais como a Aruana e 17 de Março, além do bairro Aeroporto, vem nos últimos anos
recebendo obras de esgotamento sanitário, mas com a ausência de tratamento adequado e
a falta de manutenção preventiva na rede de esgoto, está causando inúmeros episódios de
obstrução e inundações, por problemas na excussão por parte da DESO, fazendo com que o
esgoto retorne para as casas e vias (Figura 60):
Não basta a rede passar em sua porta, a rede tem que estar ativa, para
quando o consumidor fizer a ligação, o esgoto possa ser devidamente
captado e tratado (MORADOR) 29
110

Figura 60 - Transbordo ocasionado por problemas com a rede de esgoto

Fonte: FANF1, 201930

A precariedade do transporte público e o tempo gasto para locomoção em virtude dos


poucos ônibus que circulam nessa região é responsável por 22% das reclamações dos
moradores da ZEU. Na região do Robalo, São José, Areia Branca, Mosqueiro e adjacências,
apenas as linhas Circular Praias 1 e 2, Mosqueiro/Centro e São José/Zona Sul são
responsáveis pelo transporte da população desses povoados. Sendo que, somente a linha
Mosqueiro/Centro vai até o centro, enquanto os demais param no Terminal da Zona Sul,
obrigando os passageiros pegar outros ônibus até chegar aos seus destinos.

Além disso, à população sofre com espera nos pontos de ônibus ou no terminal, onde
é comum ficar por mais de uma hora aguardando um transporte, e quando chegam estão
lotados. Independente se é horário de pico ou não, a situação se mantém igual, enquanto que
no fim de semana demora ainda mais:
(...) você chega no terminal daquele (Terminal da Atalaia), 18h30 pras 19h,
pra voltar pro bairro é uma dificuldade, e aqui no Mosqueiro é de manhã pra
ir trabalhar, você passa 40 minutos, 1 hora pra pegar um ônibus
(ENTREVISTADO).

Para piorar, a frota de ônibus disponíveis nessas localidades, são compostas por
ônibus antigos, em péssimo estado de conservação e que constantemente apresentam
problemas mecânicos. Portanto, é comum no dia a dia dessa população, ao ir trabalhar, ficar
pelo caminho em decorrência da quebra do ônibus (Figura 61).

30FANF1. Transbordo ocasionado por problemas com a rede de esgoto. Disponível em:
<https://fanf1.com.br/conselho-comunitario-apela-a-deso-para-que-resolva-logo-situacao-do-esgoto-da-zona-de-
expansao/> Acesso em: 26 fev. 2020.
111

Figura 61 - Ônibus quebrado no povoado Areia Branca (ZEU)

Fonte: MARCOS ANDRE, 2018.

Uma outra reclamação recorrente diz respeito à falta de segurança no local, onde é
comum a ocorrência de “arrastão” dentro dos ônibus ou no ponto de espera. Dessa forma a
população fica cada vez mais apreensiva com a falta de segurança. Essa situação se mantém
a bastante tempo. Em 2014, os moradores do Conjunto Brisa Mar, localizados na Zona de
Expansão Urbana de Aracaju, colocou em um ponto de ônibus na Avenida Melício Machado,
uma faixa alertando a população e protestando contra os constantes assaltos que ocorre na
região (Figura 62).

Figura 62 - Faixa colocada no ponto ônibus na Zona de Expansão de Aracaju

Fonte: G1. SERGIPE, 201431

31G1. SERGIPE. Faixa colocada no ponto ônibus na Zona de Expansão de Aracaju. Disponível em:
<http://g1.globo.com/se/sergipe/noticia/2014/12/faixa-e-colocada-em-abrigo-de-onibus-avisando-que-local-e-
ponto-de-assalto.html> Acesso em: 26 fev. 2020.
112

Nota-se que o sentimento de insegurança representa 17% das respostas no


questionário, por conta da violência e do clima de terror instalado em toda região da Zona de
Expansão em Aracaju, pois os indicies de assaltos e arrombamentos são frequentes,
enquanto que a presença da polícia não é registrada com a mesma intensidade pela
população:
Pela segunda vez só esse ano o colégio localizado no povoado Areia Branca
Zona de Expansão de Aracaju foi arrombado, (...) o povoado em si vem
passando por vários roubos de casa, chácara e sítio, pedimos a SSP que
tome providências (MORADOR).

Segundo relatos dos moradores, a falta de policiamento também é determinante para o


aumento da criminalidade, e aliado a presença de ruas sem iluminação pública potencializa a ação
dos criminosos, pois após o entardecer a população evitar ficar nas ruas e os passageiros que
descem dos ônibus passam momentos de terror, onde muitos deixaram de andar com seus
celulares. Portanto, eles pedem a realização de blitz constantes e, principalmente, abordagem
a pessoas com motos e/ou atitudes suspeitas.

Além da falta de policiamento, a qualidade de serviços e equipamentos presentes


na região são insuficientes ou inexistem. Não existem áreas públicas de lazer dentro da
comunidade, as poucas praças que existem estão abandonadas, são pouco arborizadas e
sem nenhum mobiliário urbano:
Falta tudo aqui os jovens, não têm nenhuma alternativa de lazer, nem
oportunidade de participar de projeto social proveniente do município, não
existe pavimentação ou saneamento básico (MORADOR).

Locais como Aruana e o bairro 17 Março apresentam situação razoáveis, onde os


serviços disponíveis satisfazem à necessidade de alguns moradores. Enquanto que, nos
povoados Robalo, São José, Areia Branca, Gameleira, Matapoã e Mosqueiro, os
equipamentos públicos, como escola, creche e posto de saúde, são insuficientes para o
atendimento de toda a região. Cada povoado da Zona de Expansão Urbana de Aracaju, possui
ao menos uma escola destinada ao ensino público, creches inexistem, enquanto que postos
de saúde existem três, um localizado no Robalo, que atende desde a Aruana até o Povoado
São José, e mais dois outros, um no Povoado Areia Branca e outro no Mosqueiro.

No sentido de conhecer o quanto esses problemas influenciam negativamente no


quotidiano dos moradores da Zona de Expansão Urbana de Aracaju, a seguinte pergunta foi
feita: “Em algum momento, você pensou em se mudar por conta desses problemas?” A
resposta obtida mostra que 68% dos entrevistados já pensaram em mudar.

Em seguida perguntou: “Pra você, a prefeitura de Aracaju tem desenvolvido


políticas públicas que solucionam os problemas da Zona de Expansão?”. Nesse caso,
113

aproximadamente 71% dos entrevistados têm uma percepção que a Prefeitura não vem
realizados projetos a fim de solucionar os problemas da região.

Então, por conta da incapacidade do Poder Público em garantir melhores


condições de vida para essa população, eles tendem a se manifestar e reivindicar o direito
à cidade justas e democráticas, isto é, lutam pelo direito à cidade (Figura 63 e 64).

Figura 63 e 64 – Reportagens sobre as manifestações na ZEU

Fonte: INFONET, 2013; EXPRESSAOSERGIPANA, 201632. Editado pelo autor, 2020.

No sentido de conhecer o entendimento da população sobre o direito à cidade,


foram feitas as seguintes perguntas:

1) Você sabe ou já ouviu falar sobre o Direito à Cidade?

2) Pra você, o que mais define Direito à Cidade?

Os resultados obtidos na primeira pergunta mostram 43% dos entrevistados que


responderam à pergunta, sabem ou já ouviram falar sobre o que é o direito à cidade. Já a
segunda pergunta, embora alguns dos entrevistados não saibam o que é direito à cidade,
mostra-se que 60% acreditam que a afirmativa que mais o define é: “Viver em uma cidade

32 INFONET; EXPRESSAOSERGIPANA. Manifestações na Zona de Expansão de Aracaju. Disponível em:<


https://infonet.com.br/noticias/politica/moradores-fecham-a-rodovia-dos-naufragos/>;
<https://expressaosergipana.com.br/moradores-da-zona-de-expansao-de-aracaju-descomemoram-o-aniversario-
da-capital/>. Acesso em: 11 de fev. 2020
114

com transporte público acessível e eficiente, saúde, educação e lazer de qualidade” (Gráfico
8).

Gráfico 8 - Entendimento do direito à cidade pelos moradores da ZEU

O direito de ter uma casa

O direito de viver em uma cidade justa


14% 2% 14% e democrática

10% Viver em uma cidade com transporte


público acessível e eficiente, saúde,
educação e lazer de qualidade
Poder participar da gestão e
60% planejamento da cidade

O direito de viver e usufruir dos


benefícios que a vida urbana
proporciona

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados obtidos no questionário

Isso demonstra que, embora a população são saiba a definição exata do conceito
direito à cidade, eles compreendem que a cidade ideal para reprodução da qualidade de vida
humana, é aquela onde os serviços (saúde, educação, lazer, transporte) são acessíveis a
todos, independentemente de sua condição financeira.

5.2 CONQUISTAS URBANAS PELO DIREITO À CIDADE

Neste tópico serão descritas algumas das conquistas advindas pela atuação das
Associações de Moradores, a partir do relato dos presidentes e membros dessas entidades.
As AMs são indispensáveis na luta pelos direitos urbanos em uma região cada vez mais
abandonada pelo Poder Público. Em cada parte da ZEU, existe uma AMs com atuação firme,
fiscalizando e cobrando aos Órgãos Públicos melhoria para a comunidade que representa.
Sendo assim, sem a atuação delas, os problemas dificilmente seriam solucionados:
É importante a existência de uma instituição de classe no bairro, porque todas
às demandas que estavam faltando no bairro, se não tivesse uma instituição
com documentos, com abaixo-assinados, reconhecida como utilidade
pública, tudo isso aí, as demandas podem vir, mas vai demorar, faz de conta
que não existe uma comunidade sem uma associação (ENTREVISTADO).

Segundo Silveira (1998), a motivação para a criação de uma AMs está quase sempre
relacionada a carência de equipamento e serviços urbanos para a reprodução social, e essa
115

motivação para sua criação, que faz com que os moradores de uma mesma comunidade se
mobilizem e se organizem em torno desse projeto social.

Guardada suas particularidades econômicas e estruturais, as Associações de


Moradores na Zona de Expansão Urbana de Aracaju, possuem em comum as mesmas
demandas, pois os problemas são semelhantes. Embora nos últimos anos a Administração
tenha investido principalmente na porção norte da ZEU, a implantação de rede de esgoto,
drenagem pluvial e pavimentação das ruas, nos povoados, a precariedade desses serviços é
idêntica.

Dessa forma, as demandas reivindicadas pelas AMs, foram divididas em: demandas
pontuais e demandas estruturantes. As demandas pontuais são aquelas que são
reivindicadas por meio de ofícios e/ou abaixo-assinados, onde já existe uma estrutura, só é
preciso melhorar o cumprimento desses direitos, enquanto as demandas estruturantes,
cobram dos Órgãos Públicos a criação de infraestrutura para servir a população de maneira
definitiva e mais satisfatória, onda maioria das vezes, necessitam de intervenção jurídica pra
disponibiliza-los. Dito isso, as demandas na Zona de Expansão Urbana de Aracaju,
apresentam-se da seguinte forma (Quadro 3):

Quadro 3 - Classificação das demandas da Zona de Expansão Urbana de Aracaju

Demandas Pontuais Demandas Estruturantes


Implantação da Rede de Esgoto e Drenagem
Limpeza dos Espaços Públicos
Pluvial
Obras de Recapeamento Asfáltico e
Pavimentação das Ruas
Sinalização
Transporte Público Moradia Popular
Iluminação das Ruas Manutenção da ZEU em Aracaju e
Ações Ambientais Segurança Pública

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados obtidos no questionário, 2020

Para que essas demandas sejam solucionadas pelo Órgão Competentes, as


Associações de Moradores, como entidade organizada, devem providenciar ofícios a serem
entre as autoridades, contendo suas reivindicações:
Eu faço os ofícios, falando do que a gente está precisando, por exemplo: a
Prefeitura, eu faço os ofícios falando que a gente está precisando de
paliativos das ruas. Demora um pouco por conta da demanda de toda
Aracaju, por que só não existe o povoado São José, até porque existe outros
lugares pra prefeitura atender. Então eu fico cobrando e quando chega a vez
do povoado, a Prefeitura vem aqui e tende (ENTREVISTADO).
116

Portanto, as ações de melhorias para a comunidade, descritas a seguir, compreende


um trabalho de cooperação entre a Prefeitura e todos os Órgãos Públicos e a ação das
Associações de Moradores da Zona de Expansão Urbana de Aracaju.

Limpeza dos Espaços Públicos

Atendendo aos pedidos das AMs da ZEU, a Prefeitura de Aracaju, junto com EMSURB,
vem realizando alguns serviços de limpeza, como podagem, varrição, capinagem,
recolhimento de lixo e entulho e pintura de meio-fio. Além disso, também vem realizando ação
de fiscalização nos terrenos baldios, como medida protetiva para os casos de dengue e outros
tipos de doenças (Figura 65 e 66).

Figura 65 e 66 – Mutirão de limpeza na Zona de Expansão Urbana de Aracaju

Fonte: MARCOS ANDRÉ, 2019

Algumas AMs desenvolvem medidas de conscientização ambiental com seus


moradores para manter a comunidade onde vivem limpa. Por ser uma região ambientalmente
frágil, a ZEU requer atenção e engajamento da população afim de preservar seus biomas
naturais. Dessa forma, o destino correto do lixo, torna-se ação importante nesse processo.

Só agora, a população está criando essa cultura de preservação, mas infelizmente


nem todos à possuem. A ação das Associações de Moradores, tem colaborado com a causa,
tanto sinalizando as necessidades de suas comunidades, como agindo fiscalizando os
problemas que atingem toda a região da cidade, principalmente, no tocante ao descarte
irregular de entulho (Figura 67):

(...) conseguimos os tambores, que é espalhado por todo o povoado


justamente pra população despejar seus lixos no lugar adequado
(ENTREVISTADO).
117

Figura 67 - Tambor de lixo instalado pela Associação de Moradores

Fonte: Próprio autor, 2020

Obras de Recapeamento Asfáltico e Sinalização

A partir da reivindicação das Associações de Moradores da ZEU, a Administração


Pública junto a EMURB, vem realizando obras de melhoramento nas principais vias da região.
Quase sempre, após períodos chuvosos que atinge a capital, é necessária a intervenção. A
revitalização trará muitos benefícios àqueles que trafegam pela região, além de prevenir os
acidentes (Figura 68 e 69).

Figura 68 e 69 - Obras de recapeamento asfáltico na ZEU

Fonte: MARCOS ANDRÉ, 2019

Outra ação que visa proporcionar mais segurança à população, é a revitalização da


sinalização horizontal nas ruas da região. O trabalho é necessário porque a maior parte da
sinalização fica desgastada por causa dos efeitos naturais e da falta de manutenção. Nesse
caso, são priorizadas as faixas localizadas em áreas estratégicas, de maior circulação ou
118

próximas as escolas, além de outros locais apontados pelas associações de moradores


(Figura 70 e 71).

Figura 70 e 71 - Obras de sinalização nas principais vias da região

Fonte: MARCOS ANDRÉ, 2019

Transporte Público

A população usuária do transporte público na Zona de Expansão Urbana de Aracaju,


sofrem diariamente com a precariedade desse serviço e vem pleiteando melhorias. As
Associações de Moradores tornam-se importante agente em defesa dessa reivindicação, uma
vez que cobram da Prefeitura de Aracaju e da Superintendência Municipal de Transportes e
Trânsito (SMTT), criação e adequação de roteiro de algumas linhas de ônibus que circulam
na região:
Melhoria no transporte público, a gente lutou muito, e graças a Deus
conseguiu trazer uma melhoria e inclusive colocando outros horários que não
existiam. Tem horários que o ônibus ele sai do terminal (Atalaia), vem até o
povoado São José e daqui mesmo ele volta para o terminal
(ENTREVISTADO).

A Prefeitura ao lado da SMTT, vem tentando atender à solicitação das AMs, através
da ampliação ao atendimento à população. A alteração mais recente, ocorrida em 2020, duas
novas linhas foram criadas, causando a alterações em três já existentes e fazendo o trajeto
no Loteamento Aruana de forma mais rápida e direta (Figura 72).
119

Figura 72 - Reportagem sobre criação de novas linhas de ônibus

Fonte: INFONET, 202033

Em entrevista ao site G1.SE34, o diretor de transportes públicos da SMTT, comentou


que, “(...) essa foi uma solicitação da associação de moradores e do conselho dos Bairros
Aeroporto e Zona de Expansão Aracaju. O pedido veio deles. Analisamos com os nossos
técnicos e decidimos pela operacionalização”.

Iluminação das Ruas

Outro problema que a população residente na ZEU sofre diariamente, está relacionado
a deficiência do serviço de iluminação pública em algumas localidades, problema esse que já
perdura há bastante tempo:
Atualmente nós temos muitas ruas às escuras. Às vezes a prefeitura vê, mas
faz vistas grossas. Pedidos nós já temos, por via ofício, para colocar postes,
braços com lâmpadas, porque 18% tem só os postes, não tem as luminárias.
Então nós já reivindicamos isso (ENTREVISTADO).

A reclamação dos moradores parte dos constantes assaltos que ocorrem na região,
devido à falta de iluminação nas ruas, vias, e praças públicas. Dessa forma, as associações
de Moradores e o COMBAZE, insatisfeitos com o serviço prestado, solicitaram ao MPE a
resolução deste problema. Em 2014, o MPE ajuizou uma Ação Civil Pública, com pedido
liminar, contra o município de Aracaju e a EMURB, para corrigir os problemas de iluminação
que atinge toda a região (Figura 73).

33 INFONET. Reportagem sobre criação de novas linhas de ônibus na ZEU. Disponível em: <
https://infonet.com.br/noticias/cidade/prefeitura-cria-duas-novas-linhas-de-onibus-para-a-zona-de-expansao/>.
Acesso em: 3 de mar. 2020
34 G1.SE. Disponível em: < http://g1.globo.com/se/sergipe/noticia/2015/07/linha-de-onibus-aeroporto-bairro-

industrial-muda-de-nome-e-itinerario.html>. Acesso em: 3 de mar. 2020


120

Figura 73 - PMA condenada a executar serviços de iluminação pública

Fonte: A8SE, 201735

Na liminar, fica estabelecido que a EMURB, em um prazo de até 60 dias, apresentasse


um projeto de iluminação da área, como também foi estabelecido um prazo de 30 dias para a
realização completa da manutenção, com reposição de lâmpadas, transformadores e demais
itens necessários na Rota de Fuga. Além disso, fica decidido que todo valor da Contribuição
de Iluminação Pública (CIP), recolhida na Zona de Expansão Urbana de Aracaju, seja
depositado em conta judicial que deverá ser investido em melhorias no sistema de iluminação
pública da própria região (A8SE, 2017).

Apesar da decisão judicial, a PMA e a EMURB vêm efetuando apenas manutenção


pontuais em áreas de maior movimentação, enquanto o restante continua com iluminação
pública precária.

Ações Ambientais

Visando a preservação ambiental, moradores e pescadores, do qual também


participam alguns membros da Associação de Moradores do Povoado Areia Branca, realizam
pelo menos uma vez por mês, a limpeza em parte do Rio Vaza-Barris e no Canal Santa Maria,
onde recolhem grande quantidade de lixo, principalmente plástico.

O Projeto, segundo o morador e membro da Associação Moradores, chama-se Anjos


do Rio, criando por um morador aposentado não residente na comunidade, mas que foi
replicado por eles. Depois de percebem o quanto a poluição do Rio influenciava em suas
vidas, a necessidade de se preservar começou a despertar neles.

35 A8SE. PMA condenada a executar serviços de iluminação pública. Disponível em: <
https://a8se.com/sergipe/noticia/2017/12/130396-justica-condena-a-pma-a-prestar-servico-de-iluminacao-na-
zona-de-expansao.html>. Acesso em: 04 mar. 2020
121

Eu como morador daqui, nunca pensei que aqui no nosso estuário, tinha tanto
lixo como eu vi. Eu estou desde início no projeto, como voluntário. De quatro
anos pra cá, a gente já tirou quase 5 mil toneladas, vai desde solado de
sapato, chinelo, bota, pneu de carro, pneu de caminhão, geladeira, freezer,
caixa d’água (ENTREVISTADO).

Em dias oficiais, partem dezenas de voluntários, em várias canoas (Figura 72). Eles
recolhem o lixo das margens do rio e/ou presos ao mangue, e assim acabam criando uma
cultura de preservação em seus participantes:
Mesmo não sendo um dia oficial do projeto, você acaba se envolvendo para
sempre, porque toda vez que eu vou pescar, quando vejo uma garrafinha, um
negócio, recolho e coloco no barco, porque quando chego em casa, coloco
num túnel (lixo). Daí dentro de você, acaba criando essa mania, esse negócio,
e também proteger o rio (ENTREVISTADO).

Figura 74 - Voluntários do Projeto Anjos do Rio às margens do Rio Vaza-Barris

Fonte: MARCOS ANDRÉ, 2018

A grande quantidade de lixo serve para mostrar e conscientizar toda população sobre
a importância de se preservar meio ambiente (Figura 75).

Figura 75 - Todo o lixo recolhido pelo Projeto Anjos do Rio

Fonte: MARCOS ANDRÉ, 2018


122

Implantação da Rede de Esgoto e Drenagem Pluvial

A falta de uma rede de esgoto e da macrodrenagem, atingiu durante anos todos os


moradores da ZEU. A partir dos anos 2000, com a implantação dos Conjuntos habitacionais
do PAR localizados na Zona Norte da ZEU, a população moradora desses empreendimentos
começou a identificar que a região apresentava seríssimos problemas em infraestrutura,
sobretudo pela falta de esgotamento sanitário e da macrodrenagem. A inexistência dessa
infraestrutura, que aliada a explosão imobiliária, onde naquela época vários empreendimentos
estavam sendo entregues, causou uma estagnação no sistema natural de drenagem na
região, resultando em grandes alagamentos, como o ocorrido no ano de 2009 (Figura 51 e
52)

A partir dessa situação extrema, a união dos moradores e das lideranças comunitárias,
junto ao Ministério Público Federal, foi essencial na luta por seus direitos. A atuação da Justiça
Federal foi determinante para o desfecho positivo ao caso, priorizando o benefício dos
moradores. O Governo Federal também entendeu que precisava intervir na região, para que
aquela população não sofresse tanto.

Ainda em 2009, houve uma ação civil pública determinando suspensão de novas obras
para a Zona de Expansão até que os problemas da macrodrenagem e esgotamento sanitário
fossem resolvidos. Em 2019, 10 anos depois, saiu a sentença, um relatório complexo,
contendo quase 800 páginas, consolidando o pedido das Associações de Moradores, e
reconhecendo que não era nada mais que o justo e necessário (Figura 76).

Figura 76 - Notícia sobre a determinação judicial na ZEU

Fonte: IMPRENSA1, 201936

36 IMPRENSA1. Notícia sobre a determinação judicial na ZEU. Disponível em: <


https://www.imprensa1.com/justica-federal-determina-implantacao-de-rede-de-drenagem-e-esgotamento-
sanitario-na-zona-de-expansao-da-capital-i1.html>. Acesso em: 04 mar. 2020
123

Nesse entremeio, a atuação das Associações de Moradores foi determinante, ao


cobrar dos Órgãos Públicos a construção do canal do Beira Mar, além de outros canais de
macrodrenagem. Por outro lado, a região que compreende o Robalo até o Mosqueiro, precisa
avançar muito, pois essas regiões não possuem a macrodrenagem e nem esgotamento
sanitário, e por conta disso, apresentam sérios problemas. É uma região onde grande parte
das vias são estreitas e sem pavimentação, e onde a macrodrenagem é muito complexa, além
da própria população que, sem orientação devida, acabam fazendo o aterramento de lagoas
de drenagem e várzeas, potencializando ainda mais os problemas.

Por isso, a realização de um projeto socioambiental, frisando a orientação e


conscientização da população, mostrando o quanto é importante o respeito ao meio ambiente.

Pavimentação das Ruas

Por conta dessa decisão judicial, antes de qualquer intervenção, é necessário primeiro
obras de esgotamento sanitário e drenagem pluvial no restante da ZEU. Dessa forma, a
Administração Pública vem realizando apenas obras paliativas de calçamento das ruas, onde
são reutilizados de formas sustentável o asfalto fresado (reciclado) de outras áreas da cidade
(Figura 77).

Figura 77 - Obras de pavimentação na região

Fonte: PREFEITURA DE ARACAJU, 2020

As Associações de Moradores vêm reivindicando obras definitivas para solucionar os


problemas, melhorando a mobilidade e respeitando o meio ambiente. Na mais recente
reivindicação, nas obras de pavimentação do anel viário do Povoado Areia Branca e Robalo,
vem seguindo esse modelo, e desagradando os moradores, que esperavam pela solução
definitiva dos problemas, conforme pode ser observado a seguir:
124

Em 2014 nós entramos como uma ação no Ministério Público, que ainda está
rolando, pelo anel viário, mais aí vieram com o asfalto reciclado, já ajuda, não
é um asfalto que deveria ser colocado nessa região, e ainda mais, era pra
vim com a drenagem das chuvas, porque hoje a Zona de Expansão ela
cresceu, está se expandindo de uma maneira que a Prefeitura em si parece
que não está dando conta da situação. Então se você coloca só asfalto, sem
colocar uma drenagem, você acaba alagando os terrenos que tem. Lugares
que tem sítios, a água escorre, mas hoje poucos sítios existem. Por isso, só
o asfalto não adianta, não é o suficiente. A pavimentação tem que vim como
saneamento básico, com drenagem, o esgotamento sanitário. É um complexo
de coisas, não é só o asfalto, porque a agente acaba vendo, como já vê, umas
casas alagadas em algumas regiões mais baixas, devido a falta do
escoamento das águas (ENTREVISTADO).

Moradia Popular

Hoje, no 17 de Março, encontra-se a única ocupação irregular da Zona de Expansão


Urbana de Aracaju, chamada Recanto das Mangabeiras. A população ali residente, mora em
barracos de madeira, sujeitos a ação do clima, sem saneamento básico ou qualquer tipo
infraestrutura. Recentemente, a Prefeitura de Aracaju cadastrou as mais de mil e cem famílias,
que não possuíam moradia própria e viviam em situação de risco há quase quatro anos.

As Associações de Moradores da região tiveram papel importante ao acompanhar de


perto a situação da ocupação, levando a demanda dos moradores junto aos Órgãos Públicos
para que os problemas pudessem ser solucionados, beneficiando toda comunidade. Dessa
forma, a Prefeitura de Aracaju se comprometeu a urbanizar o local e construir as mil e cem
residências populares, dando uma vida digna para essas pessoas (Figura 78).

Figura 78 - Ordem para construção das mil e cem moradias populares

Fonte: INFONET, 201937

37 INFONET. Ordem para construção das mil e cem moradias populares. Disponível em:
<https://infonet.com.br/noticias/cidade/residencial-das-mangabeiras-deve-ser-construido-em-ate-dois-anos/>.
Acesso em: 04 mar. 2020.
125

Manutenção da ZEU em Aracaju e Segurança Pública

Em 2013, o Tribunal Regional Federal (TRF) da 5° Região, determinou que a Zona de


Expansão Urbana de Aracaju, passaria a pertencer ao município de São Cristóvão, decisão
essa que desagradou boa parte dos moradores, que já sofrem com a falta de serviços públicos
eficientes e estavam preocupados se São Cristóvão realmente dispõe de recursos para
atender as demandas da região, por isso pedem sua manutenção em Aracaju.

A região sempre pertenceu a São Cristóvão, porém uma emenda da Constituição


Estadual modificou os limites entre Aracaju e São Cristóvão, colocando os povoados
Mosqueiro, Areia Branca, São José, Robalo e Terra Dura (atual bairro Santa Maria), no
território de Aracaju. Nessa decisão, o TRF teria considerado inconstitucional essa emenda,
e assim, tornou inválida a transferência destes povoados de São Cristóvão para Aracaju.

Para encaminhar os debates sobre esse impasse judicial, os moradores da ZEU


criaram uma frente chamada Frente Ampla em Defesa da Zona de Expansão para Aracaju
(FAZE), onde tinha a função de unir a população de todas as comunidades, discutir sobre a
questão dos limites entre Aracaju e São Cristóvão e também da insegurança. As reuniões
aconteceram na Escola Municipal Florentino Menezes, localizada no Povoado Areia Branca,
que na ocasião, contou com ampla participação dos moradores e das autoridades (Figura 79).

Figura 79 - Reunião da FAZE discutindo o impasse judicial da ZEU

Fonte: MINUTOSERGIPE, 201338

A partir dessas reuniões, ocorreu novos desdobramentos e novas sugestões, entre


elas, reivindicar na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal, em seções espaciais,
expondo os problemas do impasse. Depois, a Ordem dos Advogados do Brasil

38 MINUTOSERGIPE. Reunião da FAZE discutindo o empasse judicial da ZEU. Disponível em: <
https://minutosergipe.com.br/?p=2158>. Acesso em: 05 mar. 2020
126

(OAB/SE), intermediou em favor dos moradores e ingressou com um recurso junto ao


Supremo Tribunal Federal (STF), defendendo a manutenção da Zona de Expansão em
Aracaju.

Já na questão sobre a segurança pública, após as reuniões, realizou-se uma série de


encaminhamentos, como audiências na Secretaria de Segurança Pública, na Polícia Militar
(PM) e na Guarda Municipal. Umas das pautas levantadas pela FAZE, propõe a criação de
uma Delegacia Metropolitana na Zona de Expansão, já que a localizada no conjunto Augusto
Franco, atende a muitas regiões como Atalaia, Coroa do Meio e Farolândia (Figura 80).

Figura 80 - Reivindicação dos moradores pela criação de delegacia na ZEU

Fonte: F5NEWS, 201439

Além disso, os moradores pediram a transferência da sede do 1º Batalhão da Polícia


Militar para a região, a fim de aproximar a PM da população e aumentar a presença efetiva
da Guarda Municipal, principalmente nos locais públicos como escolas e na Orla Pôr do Sol.
Dessa forma, segundo um líder comunitário da região, “o policiamento melhorou
momentaneamente, mesmo que não tenha sido como a gente esperava” (ENTREVISTADO).

Assim, conclui-se que a luta das associações de moradores por reivindicações, mesmo
que pontuais, ou seja, aquelas que buscam a solução das necessidades mais imediatas,
possui uma importante relevância na busca pelo direito à cidade. Na ZEU, observa-se que,
embora estejam voltados ao contexto local, as ações reivindicatórias das associações de
moradores estão fundamentadas em atos coletivos que lutam por interesses comuns. Esses
interesses são responsáveis por beneficiar, não só os moradores que participam da
associação, mas toda a comunidade.

Essas ações coletivas partem do envolvimento da comunidade na luta por melhores


condições de vida. Mesmo que sejam ações pontuais e imediatas em seus objetivos de lutas,
a importância da atuação das AMs na Zona de Expansão Urbana de Aracaju é percebida na

39 F5NEWS. Reivindicação dos moradores pela criação de delegacia na ZEU. Disponível em: <
https://www.f5news.com.br/cotidiano/moradores-pedem-criacao-de-delegacia-metropolitana-na-zona-de-
expansao_15975/>. Acesso em: 05 mar. 2020
127

fala de alguns de seus membros: “não tenho dúvidas que as associações, mesmo com todas
as dificuldades, (...) elas são fundamentais para que a Zona de Expansão possa conseguir
melhorias para sua população” (ENTREVISTADO).

Embora nas demandas pontuais, as AMs tenham encontrados respostas satisfatórias


dos Órgão Público para suas reivindicações, são as demandas estruturantes, as mais
necessárias para mudar o panorama da região, e conforme pode-se observar, precisa
melhorar ainda mais. Na luta por essas demandas, as associações de moradores têm
encontrado grandes aliados, no caso o Ministério Público e a Justiça.

A falta da solução do Poder Público as reivindicações mais estruturantes, fez com que
o MPF intermediasse no caso da Zona de Expansão Urbana de Aracaju. Nos últimos anos,
ocorreu assinaturas de várias Ações Civis Públicas e/ou Termos de Ajuste de Conduta,
obrigando os Órgãos Públicos a responder por todos os danos ambientais ocasionados pela
implantação dos empreendimentos imobiliários e ofertar serviços e infraestrutura decentes
para todos os moradores da região.

Desde 2009, por conta da morosidade na implantação de infraestrutura, por parte do


Poder Público, foi decretado em toda a ZEU o bloqueio na emissão de novas licenças para
construção, até que os problemas de saneamento ambiental fossem solucionados. Embora
um pouco tardia, essa decisão judicial foi essencial para conter o avanço do capital imobiliário
e reduzir o impacto ao meio ambiente.

Portanto, a atuação das associações de moradores, apoiadas pelo Ministério Público


e a Justiça tem sido de grande valia nas conquistas socioambientais da ZEU. Há muito ainda
a ser feito, mas é o primeiro passo para garantir e incentivar a participação população na
tomada de decisão.
128

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista o objetivo do trabalho que se desenvolveu a partir da análise da


participação popular na conquista do direito à cidade, considerando a atuação das
associações de moradores da Zona de Expansão Urbana de Aracaju, busca-se agora reforçar
algumas constatações já enfatizadas no decorrer deste trabalho.

Verificou-se que o direito à cidade, desde sua concepção original, cunhada por
Lefebvre (2008) ou em seu contemporâneo David Harvey (2014), serve a todos,
independentemente de sua condição socioeconômica. O direito à cidade está relacionado à
capacidade de superar as relações sociais formadas no sistema capitalista, onde o espaço
urbano transforma-se em mercadoria, e propõe sua substituição por relações que privilegie a
cidade como um local de encontro e coexistência.

Observou-se também que ambos vão se opor aos chamados “projetos urbanísticos
estruturantes”, pois buscam apenas a reprodução do capital no espaço urbano. Esse novo
processo possibilitou a segregação das classes sociais e dividindo a cidade entre aqueles que
têm condições de morar no centro, onde em tese os serviços e a infraestrutura são mais
acessíveis, enquanto a população mais carente, são forçadas a ocuparem os espaços mais
desvalorizados, em precárias condições de vida, e assim, destituídos do direito à cidade.

Em Aracaju não é diferente. Sua ocupação espacial é marcada por um processo de


periferização em oposição à sua ocupação centro-sul, onde esta apresenta oferta de serviços
e infraestrutura que atende satisfatoriamente seus moradores. Diante disso, bairros como
Jardins, 13 de Julho e proximidades, são áreas valorizadas pelo capital imobiliário e
procuradas pela elite econômica aracajuana, que em nome da segurança, moram em
condomínios verticais fechados, que atende ao bem-estar de seus moradores. Esses
condomínios reforçam a ideia de exclusividade e isolamento, acirrando ainda mais na
exclusão social.

No outro extremo, estão os bairros localizados na periferia da capital, principalmente


na Zona Norte, como os bairros Japãozinho, Porto Dantas e Soledade e o Santa Maria, na
Zona Sul da capital. A condição de pobreza ali instaurada gera graves problemas relacionados
à habitação e às condições de vida da população, que sofre com a falta de infraestrutura e
serviços públicos. Aqui o direito à cidade é inexistente.

Observou-se que, nos últimos anos, o legado do direito à cidade desenvolvido por
Lefebvre (2008) e Harvey (2014), tem voltado à tona novamente, agora atualizado e
aperfeiçoado às necessidades de nossa época, quando aliado à atuação dos movimentos
sociais urbanos. O conceito está sendo apropriado por esses movimentos, conferindo-lhe
129

dupla função, a primeira que é reivindicar direitos sociais, como moradia digna, melhores
condições no transporte público, saúde, segurança, etc., e a segunda que é afirmar a
cidadania por meio da luta democrática.

Após realizar o estudo bibliográfico e contextualizar toda a problemática, o trabalho


concentrou-se ao estudo Zona de Expansão Urbana de Aracaju. Vimos que, nas últimas
décadas, a área tem sido alvo do mercado imobiliário através da implantação de
empreendimentos habitacionais destinados à classe média e alta aracajuana, que permitida
pelos Órgãos Públicos, tem trazido sérios transtornos à população, principalmente os nativos
e os mais carentes.

A região apresenta-se com sérios problemas de infraestrutura e serviços públicos,


como a falta de saneamento básico. Por outro, a legislação vigente define índicies
urbanísticos incompatíveis com a real situação da ZEU, e como resultado tem-se a
degradação do meio ambiente, desmontes das dunas e aterramento das lagoas de
drenagens, várzeas e mangues, traduzindo em alagamentos e inundações, e assim,
prejudicando a vida da população e consequentemente a perda do direito à cidade.

Em meio a essas tensões, estão os moradores que sentem-se abandonadas pelo


Poder Público e cobram melhorias para a região. Eles se organizam e reivindicam por
saneamento básico, drenagem pluvial, pavimentação das ruas, entre outros, e que vem se
concretizado por meio da atuação do Ministério Público Federal. Assim, a população tem
percebido a importância da sua participação na luta por seus direitos, conforme é garantido
pela Constituição Federal.

Segundo França (2011), a ZEU se destaca pela atuação de alguns movimentos, como
a Associação Desportiva, Cultural e Ambiental do Robalo (ADCAR), Associação de Donos de
Bares e Moradores da Praia de Aruanda (ADBAMA), Associação dos Moradores do Aruanda
(AMAR) e o Conselho das Associações dos Bairros Aeroporto e Zona de Expansão de Aracaju
(COMBAZE).

Durante o levantamento, observou-se que algumas dessas entidades não estavam


mais atuantes, e isso representou uma das maiores dificuldades ao realizar este trabalho.
Somando a isso, verificou-se que as poucas informações disponibilizadas nos Órgãos
Públicos estão incompletas e defasadas. Verificou-se também, que as associações de
moradores não possuíam canais de comunicações abertos na internet ou um perfil nas redes
sociais. A falta dessas informações vem dificultando o reconhecimento da população com as
entidades.

Ao estudar as Associações de Moradores da ZEU, constatamos a sua dificuldade em


manter regular seu registro junto à Receita Federal. Das vinte e uma entidades reconhecidas
130

durante o levantamento, apenas quatro delas possuíam requisitos legais para existência
formal. A principal dificuldade está relacionada, sobretudo por não terem condições
financeiras para arcar com os altos custos cartoriais. Essa irregularidade, embora não impeça
de representar suas respectivas comunidades frente ao Poder Público, encontra-se
adversidade quando a formalidade jurídica é solicitada.

Em relação à estrutura e funcionamento das associações de moradores, verificou-se


que poucas delas apresentam um espaço físico adequado para a realização de suas
atividades. A grande maioria não possui sequer um espaço próprio, e quando o tem é alugado,
gerando mais despesas. Observou-se também, que falta de recursos para o custeio das
despesas mensais, vem sendo um fator limitador para atuação dessas entidades.

Outra característica identificada nas associações pesquisadas é a dificuldade da


população em se engajar junto a luta desses movimentos. Embora reconheçam a importância
das associações na luta pelos direitos coletivos, a população de modo geral, tende a ser
imediatista e individuais a solução dos problemas. Dessa forma, mesmo percebendo que
estão abandonados frente às políticas públicas e que pouco está sendo feito para melhorar
sua condição de vida, os moradores perdem a oportunidade de fazer a diferença ao relutar
em participar do projeto social desenvolvido nessas entidades.

Conforme foi relatado, a atuação das associações de moradores é indispensável na


luta pelo direito à cidade, pois trouxe grandes mudanças e melhorias para a região. Embora
algumas dessas demandas são ações mais pontuais e locais, mas quando reproduzidas em
maior frequência poderão resultar em melhorias muito significativas para a qualidade de vida,
como foi no Processo da Macrodrenagem e do Esgotamento Sanitário.

O que se observa é que os moradores da Zona de Expansão pedem apenas o que é


seu por direito, o que é instruído na Constituição Federal. Falta agora o Poder Público
proporcionar uma infraestrutura básica a toda população, respeitando as particularidades
ambientais da região.

Uma grande dificuldade constatada em algumas associações estudadas, está no


relacionamento com a Gestão Pública. Os diálogos são substituídos pela pressão exercida
por parte das entidades. Portanto, considera-se que as relações entre as associações de
moradores da ZEU com o Poder Público precisam ser fortalecidas.

É necessário que se institucionalize canais de comunicação entre as associações e a


Administração Pública, a fim de acompanhar e ouvir as questões levantadas por essas
entidades e que as mesmas possam ter voz ativa na tomada de decisões. Hoje, observa-se
uma inversão de valores, onde as reivindicações muitas vezes não são ouvidas ou ficam à
espera da boa vontade da Gestão Pública.
131

Nesse processo, a atuação do Ministério Público e Justiça Federal ao lado das


associações de moradores tem desempenhado papel fundamental na luta pelo direito à
cidade. Possivelmente, sem a intervenção do MPF muitas demandas não seriam ouvidas e/ou
solucionadas. Por ser um Órgão com capacidade jurídica, ele apresenta-se como uma
possibilidade para superar os entraves burocráticos que comprometem a atuação das
associações de moradores, uma vez que vai defender o interesse comum, respeitando as
particularidades ambientais da região.

Além de manter a presença constante do MPF na ZEU, acompanhando a efetivação


de todos os direitos, que muitas vezes são renegados na região, propõem-se a criação, ou
melhor, que seja cumprido o Grupo de Estudo Ambiental (GEA), para a Zona de Expansão
Urbana de Aracaju. O GEA tem por objetivo avaliar os índices urbanísticos propostos para a
ZEU, e a partir de estudos científicos aprofundados, propor regulamentação específica e/ou
sua revisão através de leis (ARACAJU, 2000).

Dessa forma, a atuação do GEA, com as associações de moradores e com referência


jurídica do MPF, seria de grande ajuda na mudança do panorama atual da ZEU. Talvez o
maior problema da região é congregar ocupação e preservação do meio ambiente, uma vez
que só a presença do homem, já interfere e muito no meio ambiente. Portanto, a união desses
grupos teria como intuito estudar e discutir em toda ZEU, condições para que essa ocupação
não impacte tanto o meio ambiente, preservando o que ainda resta das dunas, lagoas de
drenagem e mangues, e assim, crescer e desenvolver ordenadamente.
132

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138

APÊNDICE I

PESQUISA DE CAMPO - ROTEIRO DE ENTREVISTAS


ROTEIRO 1
ENTREVISTA COM LÍDERES DAS ASSOCIAÇÕES DE MORADORES DA ZEU

1- Quando e porque a Associação de Moradores foi fundada?


2- Atualmente, quais são os principais objetivos da associação?
3- Como a associação é organizada? Dispõe de recursos próprios? Dispõe de sede própria?
4- Quantas pessoas são integrantes e atuantes? Qual é o perfil desses participantes? Todos
são moradores?
5- Há reuniões da associação? Caso sim, qual a periodicidade dessas? Quais principais
temas são discutidos?
6- A associação de moradores conhece ou participa de alguma instância política no
planejamento urbano do município?
7- O que você entende por direito à cidade e à moradia? Isso é defendido e discutido na
associação de moradores?
8- Quais as principais conquistas alcançadas pela associação no tocante ao direito à cidade
e à moradia junto ao poder público nos últimos 20 anos?
9- Quais as principais demandas da comunidade que a associação reivindica atualmente?
10- Você considera a associação indispensável na conquista dos direitos urbanos na ZEU?
139

APÊNDICE II

PESQUISA DE CAMPO - ROTEIRO DE ENTREVISTAS


ROTEIRO 2
ENTREVISTA COM MEMBROS DAS ASSOCIAÇÕES DE MORADORES DA ZEU

1- Há quanto tempo você reside na ZEU? Há quanto tempo participa da associação de


moradores?
2- Qual a sua participação na associação? O que te motiva a fazer parte dela?
3- Pra você, quais as maiores dificuldades em ser membro da associação de moradores?
4- A sua participação na associação de moradores contribui para a melhoria da ZEU? Por
quê?
5- Como você observa a relação entre os moradores e a prefeitura? Há uma atenção da
prefeitura para atender ou discutir as demandas da associação?
6- Você conhece ou participa de alguma instância política no planejamento urbano do
município? Já participou de algum outro movimento ou encontro para discutir questões da
cidade? Caso sim, qual foi esse? Como foi essa experiência?
7- O que você entende por direito à cidade e à moradia? Isso é defendido e discutido na
associação de moradores?
8- Em sua opinião, quais as principais conquistas alcançadas pela associação no tocante ao
direito à cidade e à moradia junto ao poder público nos últimos 20 anos?
9- Quais as principais demandas da área que a associação reivindica atualmente?
10- Você considera a associação indispensável na conquista dos direitos urbanos na ZEU?
11- Você pretende continuar sendo membro da associação? Quais suas expectativas para o
futuro da associação?
140

APÊNDICE III

PESQUISA DE CAMPO - ROTEIRO DE ENTREVISTAS


ROTEIRO 3
QUESTIONÁRIOS APLICADOS AOS MORADORES DA ZONA DE EXPANSÃO URBANA
DE ARACAJU

1 - Em qual localidade da Zona de Expansão você mora?


2 - Há quanto tempo você reside na Zona de Expansão?
3 - Pra você, quais os principais problemas em se morar na Zona de Expansão?
4 - Em algum momento você pensou em se mudar por conta desses problemas?
5 - Pra você, a prefeitura tem desenvolvido políticas públicas que solucionam os problemas
da Zona de Expansão?
6 - Você conhece ou já ouviu falar de alguma associação de moradores presente em sua
comunidade?
7 - Você já se interessou em participar de algum movimento ou associação de moradores?
8 - Você acredita que a atuação das associações de moradores contribui para a melhoria da
região?
9 - Você sabe ou já ouviu falar sobre o Direito à Cidade?
10 - Pra você, o que mais define Direito à Cidade?
141

APÊNDICE IV

PESQUISA DE CAMPO - ROTEIRO DE ENTREVISTAS


ROTEIRO 4
ENTREVISTA COM PRESIDENTE DO FÓRUM DA GRANDE ARACAJU

1-Você participa ou já participou de alguma associação de moradores?


2- Atualmente, qual sua atuação na Zona de Expansão?
3- Quando e porque o Fórum em Defesa da Grande Aracaju foi fundado?
4- Como é a atuação do Fórum em Defesa da Grande Aracaju? Houve atuação na ZEU?
5- Pra você, porque a Zona de Expansão é uma região tão conflituosa e desigual?
6- Quem são os causadores desse problema?
7- Como você avalia a atuação das associações de moradores na tentativa de reverter essa
situação?
8 – Além das associações de moradores, o MPF tem atuando na ZEU a fim de minimizar os
diversos problemas. Qual é a importância do MPF para a ZEU?
9- O que você entende por direito à cidade e à moradia? Isso é defendido e discutido na
associação no Fórum?
10- Você considera a associação indispensável na conquista dos direitos urbanos na ZEU?
142

APÊNDICE V

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Declaro que, por meio deste termo, que concordei em participar, como voluntário, da pesquisa
de Trabalho de Conclusão de Curso intitulado: UMA TRAJETÓRIA DE LUTA PELO DIREITO
À CIDADE: ZONA DE EXPANSÃO OU ZONA DE EXCLUSÃO? , do aluno Nathan Ferreira
Barreto, matrícula_______________ , do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal de Sergipe/Campus Laranjeiras, orientado pela professora Dra. Sarah Lúcia Alves
França.

Eu______________________________, Identidade _______________________,


CPF:___________________ afirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem
nenhum pagamento ou qualquer outro ônibus, e com a finalidade exclusiva de colaborar com
o sucesso da pesquisa. Fui informado dos objetivos estritamente acadêmicos da pesquisa e
autorizo a utilização da minha entrevista, concedida dia __________, gravada e transcrita,
preservando o anonimato dos participantes, assegurando assim minha privacidade. Caso eu
tenha interesse, posso solicitar uma cópia da transcrição da entrevista.

______________________________________________________
Assinatura do participante

______________________________________________________
Assinatura do pesquisador

Aracaju (SE), _____ de _____________ de 201_______.

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