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CAMPUS DE LARANJEIRAS
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
LARANJEIRAS - SE
MARÇO/2020
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CAMPUS DE LARANJEIRAS
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
LARANJEIRAS - SE
MARÇO/2020
NATHAN FERREIRA BARRETO
BANCA EXAMINADORA:
______________________________________________________________
Profª. Dra. Sarah Lúcia Alves França - Orientadora
Universidade Federal de Sergipe
______________________________________________________________
Profª. Dra. Raquel Kohler
Universidade Federal de Sergipe
______________________________________________________________
Arqª. Marianna Martins Albuquerque
______________________________________________________________
Cr. José Dias Firmo dos Santos
Após longos anos de aprendizagem e dificuldades, enfim concluo mais uma etapa da
minha vida. A realização deste trabalho, contou com ajuda de várias pessoas, as quais não
poderia deixar de agradecer.
Em primeiro lugar, agradeço a Deus que sempre esteve presente nos momentos mais
difíceis, dando-me forças para continuar mesmo quando achava que não conseguiria.
Aos meus pais, Marize e José Américo, que eu amo tanto e sem eles nada disso seria
possível. E a toda minha família, igualmente fundamentais em minha vida, e que de uma forma
ou de outra, deram também sua contribuição.
Agradeço a minha orientadora Sarah França, por ter passado um pouco do seu grande
conhecimento, especialmente da Zona de Expansão de Aracaju, sem sua ajuda este trabalho
não tomaria a forma que possui.
Aos membros da banca, agradeço por contribuírem com este trabalho com seu
conhecimento e sugestões.
A todos os amigos (as) que me ajudaram ao longo do curso, com os quais também
aprendi muito.
A configuração dos espaços urbanos nas cidades brasileiras, especialmente nas de médio e
grande porte, seguem uma organização espacial a partir das condições socioeconômicas de
seus habitantes, onde o solo urbano transforma-se em mercadoria, pela ação do capital
imobiliário e conivência do Estado. Essa distribuição desigual da população agrava-se com
os conflitos urbanos, cujos desdobramentos implicam na perda da qualidade de vida. A
existência de inúmeros vazios urbanos em áreas consolidadas, que geram lacunas na
ocupação do solo e descontinuidade no sistema viário e na infraestrutura, contrapõe-se a
ocupações desordenadas, principalmente nas periferias, locais esses que, na maioria das
vezes, não apresentam nenhum tipo de infraestrutura para seus moradores. Em Aracaju, esse
processo acontece identicamente na Zona de Expansão Urbana de Aracaju (ZEU), que desde
década de 1980 vem passando por transformações em sua paisagem. A atuação do Estado
junto com o capital imobiliário, através da implantação de condomínios fechados, mansões de
veraneio e conjuntos populares, têm acentuado os conflitos sociais e a degradação ambiental,
através do desmonte de dunas e aterramento de mangues e lagoas de drenagem, pela
precariedade de infraestrutura, inexistência do sistema de drenagem e esgotamento sanitário,
além da falta de fiscalização pelos órgãos competentes. No meio de todo esse conflito, está
a população carente que convive diariamente com esses problemas, e que afetam
negativamente sua condição de vida. Estes são os mais prejudicados pela exploração do
capital imobiliário e pela degradação do meio ambiente, e tendem a lutar por seus direitos
garantidos pela Constituição Federal de 1988, que é viver em cidade justas e democráticas.
A mobilização e união dos moradores torna-se importante instrumento de resistência diante
todo esse panorama de descaso com a região. Assim, o presente trabalho tem por objetivo
analisar a luta pelo direito à cidade na Zona de Expansão Urbana de Aracaju, partindo da
atuação e reivindicação das associações de moradores em sua luta por melhores condições
de vida. Em um primeiro momento buscou-se compreender o conceito do Direito à Cidade em
seu caráter filosófico e jurídico. Posteriormente, procurou-se demonstrar a importância da luta
dos movimentos sociais pelos direitos urbanos. Em seguida, levantou-se informações sobre
o processo de urbanização de Aracaju e da sua Zona de Expansão, bem como dos problemas
decorrentes deste. Como o trabalho tem como foco estudar as Associação de Moradores
ativas de cada povoado/ bairro da ZEU, foi necessário a realização de uma pesquisa em
campo para localizar quais AMs ainda estavam ativas e atuantes em suas respectivas
comunidades. Após localizá-las propõe-se mostrar através de entrevistas com os alguns
membros e líderes das Associações de Moradores quais as principais demandas,
reivindicações e conquistas alcançadas pela atuação de suas entidades. Conforme foi
observado, as demandas pontuais reivindicadas pelas associações de moradores, de certa
forma, são solucionadas pelo Poder Público, enquanto as demandas estruturantes, aquelas
responsáveis por mudanças concretas no panorama da ZEU, ainda são pouco conquistadas.
Estas precisam de mais união e organização de todas as associações, e que o Poder Público
institucionalize canais de participação para que todos possam ter voz ativa na tomada de
decisão.
LISTAS DE QUADROS
AM – Associação de Moradores
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 13
CAPÍTULO 1. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DO DIREITO À CIDADE .......... 18
1.1. O DIREITO À CIDADE E SUA DIMENSÃO POLÍTICA E FILOSÓFICA..................... 18
1.2. O DIREITO À CIDADE E SUA DIMENSÃO JURÍDICA .............................................. 27
CAPÍTULO 2. A LUTA PELO DIREITO À CIDADE: ATUAÇÃO DOS MOVIMENTOS
SOCIAIS NA CIDADE DEMOCRÁTICA .............................................................................. 33
2.1 A CIDADE DEMOCRÁTICA COMO UM IDEAL PARA A PARTICIPAÇÃO POPULAR
......................................................................................................................................... 33
2.2 OS MOVIMENTOS SOCIAIS E CONFLITOS URBANOS .......................................... 35
2.3 ATUAÇÕES DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA GARANTIA DOS DIREITOS
URBANOS ....................................................................................................................... 40
CAPÍTULO 3. DESIGUALDADES ESPACIAIS E CONFLITOS URBANOS: O DIREITO À
CIDADE NA CAPITAL SERGIPANA .................................................................................. 48
3.1 DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS E CONFLITOS URBANOS NA CAPITAL
SERGIPANA .................................................................................................................... 48
3.2. O DIREITO À CIDADE EM ARACAJU ...................................................................... 56
CAPÍTULO 4. ZONA DE EXPANSÃO URBANA DE ARACAJU: DOS SÍTIOS AOS
CONDOMÍNIOS, DA PAISAGEM NATURAL AOS CONFLITOS AMBIENTAIS ................. 61
4.1. A ZONA DE EXPANSÃO URBANA DE ARACAJU: UMA ÁREA DE
DESIGUALDADES SOCIOAMBIENTAIS ......................................................................... 62
4.2. CONFLITOS AMBIENTAIS NA ZONA DE EXPANSÃO URBANA: ENTRE
ALAGAMENTOS E ATERRAMENTOS ............................................................................ 69
4.3. A JUDICIALIZAÇÃO DOS CONFLITOS AMBIENTAIS: A LUTA PELO DIREITO À
CIDADE NA ZONA DE EXPANSÃO URBANA DE ARACAJU-SE.................................... 82
CAPÍTULO 5. CONQUISTAS URBANAS NA ZONA DE EXPANSÃO URBANA DE
ARACAJU: ATUAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS ...................................................... 94
5.1 OS MOVIMENTOS SOCIAIS CONTRA “A ZONA DE EXCLUSÃO” ........................... 95
5.1.1. Associações de Moradores na Zona de Expansão Urbana de Aracaju:
representações sociais e políticas? .............................................................................. 95
5.1.2. A percepção dos moradores em relação aos problemas da ZEU ...................... 106
5.2 CONQUISTAS URBANAS PELO DIREITO À CIDADE ............................................ 114
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................... 128
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................. 132
APÊNDICE I ...................................................................................................................... 138
APÊNDICE II ..................................................................................................................... 139
APÊNDICE III .................................................................................................................... 140
APÊNDICE IV .................................................................................................................... 141
APÊNDICE V ..................................................................................................................... 142
13
INTRODUÇÃO
Diante desse cenário, a população passa a reivindicar cidades mais justas, humanas
e democráticas, garantindo sua participação no planejamento local, o acesso à cidade, as
oportunidades e serviços e equipamentos urbanos, isto é, ao “direito à cidade”, conforme é
1Para este trabalho, foi considerada a Zona de Expansão Urbana de Aracaju composta pelos Bairros Aruana e 17
de Março, e pelos povoados Robalo, São José, Gameleira, Areia Branca, Matapoã e Mosqueiro.
14
Recentemente, o conceito foi abordado pelo geógrafo britânico marxista David Harvey,
em seu livro Cidades Rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana, publicado em 2012,
e dedicou metade da obra ao tema. O direito à cidade sob à perspectiva de Harvey, é um
conceito ligado ao pensamento levefbreano. Harvey (2014) afirma que a retomada do direito
à cidade, está relacionado aos movimentos reivindicatórios, em busca por uma resposta
contra a atuação do capitalismo neoliberal que vem interferindo negativamente na qualidade
da vida da população.
Conforme é demonstrado por Harvey, o slogan do direito à cidade tem voltado à tona
novamente, agora atualizado para atender às necessidades de nossa época. Assim, segundo
Dias e Silva (2018), o conceito é potencializado e ganha ares revolucionário quando aliado à
atuação dos movimentos sociais urbanos. No Brasil, o conceito está sendo apropriado por
esses movimentos, conferindo-lhe dupla função (GOMES, 2018). A primeira será a de
reivindicar direitos sociais (moradia, transporte, trabalho, segurança, lazer, saneamento
básico etc.) e a segunda será afirmar a cidadania por meio da luta democrática.
Nesse aspecto, França (2011) afirma que a ZEU se destaca pela atuação de alguns
movimentos sociais, como a Associação Desportiva, Cultural e Ambiental do Robalo
(ADCAR), Associação de Donos de Bares e Moradores da Praia de Aruanda (ADBAMA),
Associação dos Moradores do Aruanda (AMAR) e o Conselho das Associações dos Bairros
Aeroporto e Zona de Expansão Urbana de Aracaju (COMBAZE).
Para isso, foi realizada uma revisão bibliográfica em autores que abordam o tema o
direito à cidade, destacando Lefebvre e Harvey. Em seguida, foram levantados autores
regionais que tratam sobre Zona de Expansão Urbana de Aracaju: Vera França (1999); Sarah
França (2005, 2011, 2019); Alessandra Santos (2016); Juliana Santos (2015); Lílian
Wanderley e Moacyr Wanderley (2003).
Por fim, foi realizado um estudo em campo, contendo a elaboração de entrevistas aos
presidentes e membros das associações de moradores, a fim de buscar maiores informações
sobre a associação, como por exemplo sua atuação, estruturação e reivindicação. Dessa
forma, as perguntas foram objetivas, sempre registrando as respostas do entrevistado. Os
encontros foram presenciais e individuais, envolvendo apenas o entrevistador e entrevistado
e com o registro de áudio, com permissão do participante, e assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
No segundo capítulo, A Luta pelo Direito à Cidade: atuação dos Movimentos Sociais
na Cidade Democrática, o debate é sobre a importância da participação popular no
planejamento da cidade para que a mesma seja um ambiente justo e democrático. Neste
capitulo foi constatado que embora a cidade seja marcada pela desigualdade e segregação
proveniente da relação capitalista que regem a produção do espaço urbano, a luta dos
movimentos sociais pelo direito à cidade pode reverter esse quadro, na medida em que
pressiona o Poder Público.
onde praticamente inexiste esses benefícios. Ao fim deste capítulo, buscou-se espacializar o
Direito à Cidade em Aracaju, explicando quais bairros possuem esse direito e quais não o
têm.
Por fim, nas Considerações Finais, tratam das observações e reflexões gerais sobre
o objeto de estudo, a partir das informações coletadas in loco, bem como apontar possíveis
soluções e minimizar alguns dos problemas relatados neste trabalho.
CAPÍTULO 1
Lefebvre (2008) aponta que com o início da industrialização, a cidade perdeu seu valor
de uso (atrelado à reprodução da vida social) e passou a ter valor de troca (atrelado à
mercantilização do espaço). Nesse caso, observa-se que
A cidade e a realidade urbana dependem do valor de uso. O valor de troca e
a generalização da mercadoria pela industrialização tendem a destruir, ao
subordiná-las a si, a cidade e a realidade urbana, refúgios do valor de uso,
embriões de uma virtual predominância e de uma revalorização do uso.
(LEFEBVRE, 2008, p. 14)
Esta mudança só é possível, pois as transformações do espaço urbano são fruto das
relações sociais nele desenvolvidas, ou seja, a cidade é reflexo da sociedade, e ela muda,
sempre quando a sociedade em seu todo também muda. De fato, a
cidade sempre teve relações com a sociedade no seu conjunto, com sua
composição e seu funcionamento, com seus elementos constituintes (campo
e agricultura, poder ofensivo e defensivo, poderes políticos, Estados etc.),
com sua história. Portanto, ela muda quando muda a sociedade no seu
conjunto (LEFEBVRE, 2008, p. 51).
Assim, além das relações sociais, o espaço urbano é influenciado por processos
econômicos, políticos e culturais. A partir da industrialização, a sociedade é dividida em dois
grupos específicos; os que detém o poder e se apropriam do espaço e da riqueza gerada, e
aqueles subordinados a essa lógica (LEFEBVRE, 2008).
Embora Lefebvre (2008, p. 22) afirme que a vida na cidade se baseia na diversidade
e na coexistência dos diferentes grupos sociais, “a vida urbana pressupõe encontros,
confrontos das diferenças, conhecimentos e reconhecimentos recíprocos (inclusive no
confronto ideológico e político) dos modos de viver, dos ‘padrões’ que coexistem na Cidade”.
No entanto, para o autor, ao longo do século XIX, as cidades foram marcadas pela segregação
e por desigualdades.
A respeito disso, Lefebvre (2008) traz como exemplo a reforma urbanística promovida
em Paris, em 1848, pelo Barão Georges Haussmann, onde a população mais pobre foi
expulsa do centro da cidade para os subúrbios, destruindo-os da vida urbana (LEFEBVRE,
2008). Assim, a cidade moderna não possui mais característica de ser um espaço democrático
e de convivência dos diferentes grupos sociais, a cidade moderna é um espaço de exploração
e reprodução capitalista (LEFEBVRE, 2008).
Tanto Lefebvre (2008) quanto Harvey (2014), afirmam que a problemática urbana
ocorre devido ao capital ter fácil acesso ao espaço urbano, bem como aos seus centros de
decisões. O excedente produzido pelo capital é reinvestido na cidade, com a construção de
empreendimentos, através da especulação imobiliária e financeirização do capital,
configurando assim, um espaço desigual, no qual a classe dominante explora espaço e os
citadinos, na busca de mais lucros (HARVEY, 2014).
Afirmar este direito significa a possibilidade que cada indivíduo tem de habitar uma
cidade livre da dominação do capitalismo. Neste sentido, para Lefebvre (2008) a cidade não
pode ser simplesmente um “espaço material”, com valor monetário, mas sim um “espaço
social”, em que a vida quotidiana se desenvolva de forma saudável e igualitária.
Assim, conforme Lefebvre (2008), o habitar (urbano) não se resume ao habitat, embora
dependa deste para sua concretização. Enquanto o habitat sintetiza apenas ao aspecto
físico/espacial da morada; o habitar é uma atividade que implica o viver e participar da cidade.
Nas cidades contemporâneas vemos que o sentido de habitar está ligado apenas a qualidade
21
quantitativa (monetária), ou seja, quem pagar mais, pode ter o direito à qualidade de vida na
cidade.
Para reverter essa situação, Lefebvre (2008) afirma que apenas as classes sociais
excluídas, podem promover a revolução urbana que retorne a ideia de habitar, combatendo
as questões de segregação socioespacial e a exploração do capital. Isto é, promover uma
reforma urbana, de modo que a cidade volte a ser um espaço democrático.
Assim o direito à cidade defendido por Lefebvre (2008), vai contrapor esse processo.
A ideia é de uma outra cidade em que todos os habitantes pudessem usufruir dos benefícios
da vida urbana. Um espaço onde prevalecesse o valor de uso, de convívio, separados do
valor de troca, da mercantilização do espaço, construindo uma cidade com a população no
centro das decisões e sem a influência da lógica capitalista.
Portanto,
Apenas grupos, classes ou frações de classes sociais capazes de iniciativas
revolucionárias podem se encarregar das, e levar até a sua plena realização,
soluções para os problemas urbanos; com essas forças sociais e políticas, a
cidade renovada se tomará a obra (LEFEBVRE, 2008, p. 113).
Assim, Harvey (2014, p.13-14), afirma que a atuação desses movimentos, “não tem
nada a ver com o legado de Lefebvre, mas tudo a ver com as lutas que continuam a existir
acerca de quem vai configurar as características da vida urbana cotidiana”. Até porque seu
maior objetivo é buscar “algum tipo de resposta a um capitalismo internacional brutalmente
neoliberalizante que vem intensificando sua agressão às qualidades da vida cotidiana desde
os primeiros anos da década de 1990”.
Embora as forças que mobilizam a pauta desses grupos não sigam lealmente as ideias
de Lefebvre (2008), Harvey (2014, p.15) aponta uma certa similaridade em ambos, porque
para o autor, “as ideias de Lefebvre, como as deles, surgiram basicamente das ruas e bairros
de cidades doentes.” Portanto, para Harvey (2014) a ideia do direito à cidade na atualidade
22
“surge basicamente das ruas, dos bairros, como um grito de socorro e amparo de pessoas
oprimidas em tempos de desespero” (HARVEY, 2014, p.15).
O direito à cidade em uma sociedade capitalista, está cada vez restrito a quem tem
poder (influência sobre o território urbano). Assim, se os financistas e empreiteiros podem
reivindicá-lo, os sem-teto e os sans-papiers (imigrantes ilegais) também o podem. Mas para
esses grupos excluídos do “viver-urbano”, a garantia desse direito vem da luta para
materializá-lo (HARVEY, 2014).
Essa tarefa não é fácil, pois a classe dominante é resistente e forte, e sua força
alienadora resulta na forte repressão, como o que ocorreu aos movimentos reivindicatórios de
Paris em 1981. A solução para Harvey (2014, p. 21), em criar um revolucionário movimento
anticapitalista, cujo intenção principal seja a transformação da vida urbana cotidiana, será
Somente quando a política se concentrar na produção e reprodução da vida
urbana como processo de trabalho essencial que dê origem a impulsos
revolucionários será possível concretizar lutas anticapitalistas capazes de
transformar radicalmente a vida cotidiana. Somente quando se entender que
os que constroem e mantêm a vida urbana têm uma exigência fundamental
sobre o que eles produziram, e que uma delas é o direito inalienável de criar
uma cidade mais em conformidade com seus verdadeiros desejos,
chegaremos a uma política do urbano que venha a fazer sentido.
Pode-se dizer que, de início, a luta pelo direito à cidade se apresenta como uma
intenção visionária, para só então transformá-la em aspectos práticos. Harvey (2014) afirma
que os grupos marginalizados lutam por algo que vá de encontro a seus desejos e
necessidades.
A fim de conceituar sua definição sobre o direito à cidade, Harvey (2014, p. 28) destaca
que o
tipo de cidade que queremos está relacionada a que tipo de pessoas que
queremos ser, que tipos de relações sociais buscamos, que relações com a
natureza nos satisfazem, que estilo de vida desejamos levar, quais são
nossos valores estéticos.
23
Assim, o direito à cidade é “muito mais do que um direito de acesso individual ou grupal
aos recursos que a cidade incorpora: é um direito de mudar e reinventar a cidade mais de
acordo com nossos mais profundos desejos” (HARVEY, 2014, p.28). Portanto,
Reivindicar o direito à cidade no sentido que aqui proponho equivale a
reivindicar algum tipo de poder configurador sobre os processos de
urbanização, sobre o modo como nossas cidades são feitas e refeitas, e
pressupõe fazê-lo de maneira radical e fundamental (HARVEY, 2014, p.30).
Nesse caso, segundo Harvey (2018), surge uma ligação íntima entre o
desenvolvimento do capitalismo e a urbanização. Os capitalistas têm mais que o suficiente
tanto para reinvestir na expansão de seus negócios quanto para satisfazer seus prazeres e o
resultado do eterno reinvestimento é a expansão da produção de excedentes. A eterna
necessidade de encontrar esferas rentáveis para produção e absorção do excedente de
capital, uma vez que urbanização (assim como os gastos militares) têm papel importante na
absorção das “mercadorias excedentes que os capitalistas não param de produzir em sua
busca de mais-valia” (HARVEY, 2014, p.33).
Harvey (2014) cita como exemplo dois casos importantes da crise da urbanização em
decorrência do acúmulo do capital. O primeiro caso é na França em 1848, através de
investimentos em infraestruturas dentro e fora da França, incluindo a reconfiguração da
infraestrutura de Paris, concebidos por barão Haussmann. Isto é, Harvey afirma que a missão
de Haussmann foi a de resolver o problema do excedente resultado da industrialização
através da urbanização de Paris, que absorveu trabalho e o capital, gerando estabilidade
social e atendendo aos interesses políticos da classe burguesa.
Nesse sentido, Harvey (2014) afirma que estamos vivendo cada vez mais em cidades
divididas, fragmentadas e propensas a conflitos. Onde o individualismo e isolamento se
tornaram marca. “Nessas condições, os ideais de identidade urbana, cidadania e pertença,
de uma política urbana coerente, já ameaçados pelo mal-estar da ética neoliberal
individualista, tomam-se muito mais difíceis de manter” (HARVEY, 2014, p.49). Em contra
resposta a esse processo,
há todo tipo de movimentos sociais urbanos em evidência buscando superar
o isolamento e reconfigurar a cidade de modo que ela passe a apresentar
uma imagem social diferente daquela que lhe foi dada pelos poderes dos
empreiteiros apoiados pelas finanças, pelo capital empresarial e por um
aparato estatal que só parece conceber o mundo em termos de negócios e
empreendimentos.
Assim como, alguns movimentos sociais urbanos do final da década de 1960 pelo
mundo, que “procuraram definir um modo de vida urbana diferente daquele que lhes vinha
sendo imposto pelos empreiteiros capitalistas e pelo Estado. Para ele, esses diversos
movimentos de oposição deveriam se unir em torno da reivindicação do direito à cidade, tendo
como exigência, “maior controle democrático sobre a produção e o uso do excedente” pois
“uma vez que o processo de urbanização é um dos principais canais de uso, o direito à cidade
se configura pelo estabelecimento do controle democrático sobre a utilização dos excedentes
da urbanização” (HARVEY, 2014, p.61).
Ter um valor excedente não é algo ruim, pelo contrário como frisa Harvey (2014, p.61),
é necessário para a sobrevivência do capitalismo. Ao longo de sua história, o valor excedente
criado tem sido tributado pelo Estado e, nas fases social-democratas, essa proporção
aumentou significativamente. Porém, na fase neoliberal vem ocorrendo a privatização do
controle do valor excedente para impedir o aumento da parcela do Estado, aliado a criação
de novos modelos de governança que integram os interesses do Estado e das corporações
(capital) e que asseguram que o controle sobre o excedente por meio do Estado, favoreça o
capital e as classes dominantes na configuração do processo urbano.
Harvey (2014), afirma que “o aumento da parcela do excedente sob controle do Estado
só funcionará se o próprio Estado reformular-se e voltar a se colocar sob o controle
democrático do povo”, pois “cada vez mais, vemos que o direito à cidade vem caindo nas
mãos de interesses privados ou quase privados” (HARVEY, 2014, p.62). Assim, afirma que
A solução encontrada pelo autor para reverter esse quadro, parte da necessidade dos
movimentos sociais de oposição a ótica dominante capitalista, adquira maior controle sobre a
produção e o uso dos excedentes, moldando e reinventando a cidade de acordo com seus
mais profundos desejos. Desse processo, ocorreu uma revolução urbana, pois quem controla
os meios de produção e uso excedente logo, controla as relações que rege o urbano. Diante
disso, observa-se que
A reprodução do capital passa por processos de urbanização de inúmeras
maneiras. Contudo, a urbanização do capital pressupõe a capacidade de o
poder de classe capitalista dominar o processo urbano. Isso implica a
dominação da classe capitalista não apenas sobre os aparelhos de Estado
(em particular, as instâncias do poder estatal que administram e governam as
condições sociais e infraestruturais nas estruturas territoriais), como também
sobre populações inteiras – seus estilos de vida, sua capacidade de trabalho,
seus valores culturais e políticos, suas visões de mundo. Não se chega
facilmente a esse nível de controle, se é que se chega. A cidade e o processo
26
urbano que a produz são, portanto, importantes esferas de luta política, social
e de classe (HARVEY, 2014, p.133)
Para o autor, uns dos primeiros movimentos sociais que teve como plano de fundo o
conceito de direito a cidade sobre essa perspectiva revolucionária, ocorreu originariamente
no Brasil na década de 1990, e se espalhou por Zagreb, Hamburgo e Los Angeles (HAVEY,
2014, p. 244).
No entanto, como o próprio autor aponta, o primeiro passo para uma trajetória
revolucionária, consiste em reivindicar locais de moradias dignas e ambientes decentes,
desde que não fiquem restritas a este primeiro passo. Nesta perspectiva, aponta que “todos
aqueles cujo trabalho está envolvido em produzir e reproduzir a cidade têm um direito coletivo
não apenas àquilo que produzem, mas também o de decidir que tipo de urbanismo deve ser
produzido, onde e como” (HARVEY, 2014, p.245).
o direito à cidade deve ser entendido não como um direito ao que já existe,
mas como um direito de reconstruir e recriar a cidade como um corpo político
socialista com uma imagem totalmente distinta: que erradique a pobreza e a
desigualdade social e cure as feridas da desastrosa degradação ambiental.
Para que isso aconteça, a produção das formas destrutivas de urbanização
que facilitam a eterna acumulação de capital deve ser interrompida.
As formulações do conceito direito à cidade por seu viés político e filosófico tanto por
parte de Lefebvre e Harvey, não foram o suficiente para conter o avanço do capital sobre as
cidades. A sociedade capitalista está cada vez mais desigual, onde apenas as pequenas elites
que detém poder têm direito realmente à cidade. Dito isso, é necessário atualizar o conceito,
moldando-o à nossa realidade política e econômica e deixando seu lado utópico.
O fato é que o conceito de ‘direito à cidade’ de Henri Lefebvre foi muito mais
uma plataforma político-filosófica e não explorava diretamente como, ou em
que medida, a ordem legal que determinava o padrão excludente de
desenvolvimento urbano. Aos argumentos sociopolíticos de Lefebvre, deve
ser acrescentada uma outra linha, ou seja, argumentos jurídicos que nos
permitam construir uma crítica à ordem legal não apenas na perspectiva de
valores sociopolíticos ou humanitários, mas desde dentro da própria ordem
legal (TRINDADE, 2012 apud FERNANDES, 2007, p. 208).
28
Nesse caso, afirmando uma perspectiva mais jurídica, mas sem se afastar do sentido
filosófico, o direito à cidade relaciona-se, assim, aos desejos da população que mora, trabalha,
sobrevive, produz no espaço urbano. Ele deve ser garantido por processos de participação,
pelas experiências e práticas espontâneas vivenciadas na cidade. Portanto, trata-se de um
direito com reflexos jurídicos, destacando assim o direito à gestão democrática da cidade e à
participação popular (GUIMARÃES, 2017).
Concorda-se com Fittipaldi (2006), quando essa afirma que esses direitos, constituem
um “feixe” de direitos fundamentais para a materialização da dignidade da pessoa humana,
assim como concebido em nossa Constituição Federal. Ao analisar a Carta Mundial, destaca-
se o art. IV da mesma, que assegura que as cidades devem se comprometem à produção
social do habitat e da habitação;
As cidades devem estabelecer mecanismos institucionais e desenvolver os
instrumentos jurídicos, financeiros, administrativos, programáticos, fiscais,
tecnológicos e de capacitação necessários para apoiar as diversas
modalidades de produção social do habitat e da habitação, com especial
atenção aos processos autogestionários, tanto individuais e familiares quanto
coletivamente organizados (ONU, 2005, p.4).
3 Segundo França e Cavalcante (2017), a elaboração da Carta Mundial à Cidade foi antecipada por algumas
atividades preparatórias, tais como: Fórum Internacional sobre Meio Ambiente, Pobreza e Direito à Cidade (1992);
Carta Europeia das Mulheres na Cidade (1995); Tratado sobre questão urbana “Por Cidades, Vilas, Povoados
Justos, Democráticos e Sustentáveis” (ECO 92); Conferência Global sobre os Assentamentos Humanos das
Nações Unidas, Habitat II, (1996); Assembleia Mundial de Moradores (2000); Carta Europeia para a Salvaguarda
dos Direitos do Homem na Cidade (2000); e depois de treze anos de tramitação, o Estatuto da Cidade brasileiro
(Lei Federal nº. 10.257/2001).
29
Além disso, o art. XII obriga o Poder Público a garantir o acesso equitativo de todos
aos serviços públicos
1. As cidades devem garantir a todos(as) os(as) cidadãos(ãs) o acesso
permanente aos serviços públicos de água potável, saneamento, coleta de
lixo, fontes de energia e telecomunicações, assim como aos equipamentos
de saúde, educação e recreação, em co-responsabilidade com outros
organismos públicos ou privados de acordo com o marco jurídico do direito
internacional e de cada país.
2. As cidades devem garantir – ainda quando se tenha privatizado a gestão
dos serviços públicos anteriormente à subscrição dessa Carta – tarifas sociais
acessíveis e a prestação de um serviço adequado a todos, especialmente
para as pessoas e grupos vulneráveis ou desempregados.
3. As cidades se comprometem a garantir que os serviços públicos dependam
do nível administrativo mais próximo da população com a participação
dos(as) cidadãos(ãs) na sua gestão e fiscalização. Estes devem ter um
regime jurídico de bens públicos, impedindo sua privatização.
4. As cidades estabelecerão sistemas de controle social da qualidade dos
serviços das empresas prestadoras de serviços, públicas ou privadas, em
especial em relação ao controle de qualidade, à determinação das tarifas e a
atenção ao público (ONU, 2005, p.5-6).
Por fim, o art. XIV aborda o direito à moradia, e no seu item 3° “as cidades devem
garantir a todos os grupos vulneráveis prioridade nas leis, políticas e programas de habitação
e assegurar financiamento e serviços destinados à infância e à velhice.” O art. XVI, que na
tutela do direito ao meio ambiente prioriza uma ação preventiva por parte do Estado.
direito à cidade em sua Constituição Federal e a cidade do México, uma das grandes
metrópoles das Américas, incluiu o direito à cidade na sua Constituição após um longo debate,
conduzido com grande participação popular.
Concordando com Trindade (2012), Cafrune (2016) afirma que o MNRU foi
protagonista na inclusão do capítulo sobre a Política Urbana na Constituição de 1988,
atribuindo para os municípios (governo local) a aprovação do plano de desenvolvimento
urbano e nele estabelecer os instrumentos para efetivar as funções sociais da cidade, como
o usucapião de imóvel urbano e o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios5.
4O texto final dos trabalhos da Constituinte, embora tenha representado uma vitória do MNRU, não agradou ao
movimento (DIAS, 2018). Trindade (2012) afirma que em razão da resistência das forças políticas conservadoras,
a proposta desse movimento não foi incorporada em sua totalidade, ficando na realidade muito aquém do
esperado.
5 Nesse caso, foi incluído a possibilidade de o governo local exigir o uso de imóveis inativos e autuar os
proprietários pelo seu descumprimento. Além disso, foi adicionado uma modalidade de usucapião por meio da
qual, a propriedade é adquirida pelo possuidor que utilizar um imóvel privado para fins de moradia por 5 anos
ininterruptos. Mesmo assim, no entendimento de parte dos movimentos sociais, era necessário naquele momento,
lutar pela regulamentação desses artigos constitucionais com o intuito de avançar na construção de uma legislação
mais específica para a política urbana (TRINDADE, 2012).
32
Assim, Cafrune (2016) destaca que as cidades brasileiras passaram a ser palco das
manifestações populares em busca pelos mais variados direitos urbanos, dentre os quais se
destacam: os comitês populares da copa; as jornadas de junho; o movimento Ocupe Estelita;
e os rolezinhos nos shoppings. Segundo a autor,” essas expressões de luta urbana são
representativas do período e compartilham entre si a perspectiva do direito à cidade como
direito de viver, usar e produzir o espaço urbano” (CAFRUNE, 2016, p. 196).
33
CAPÍTULO 2
Para que no último item deste capítulo, possamos exemplificar alguns movimentos
sociais que lutam contra todo o tipo de desigualdade. Esses movimentos lutam por cidades
mais justas e democráticas, contrapondo-se aos interesses capitalistas no espaço urbano.
Nas últimas décadas, o espaço urbano tem se revelado de grande importância para a
luta dos movimentos sociais, pois ao se expandir, acaba empurrando a população mais
desfavorecidas para as áreas periféricas, destituídas de serviços, de infraestrutura urbana e
de equipamentos coletivos. Dito isso, observa-se que as cidades brasileiras têm se
Diante disso, Catalão, Magrini e Lindo (2019, p. 203), afirma que a produção do espaço
urbano ocorre a partir de várias ações, entre o “Estado e iniciativa privada, interesses coletivos
e interesses individuais, grupos de cidadãos com maiores recursos para acessar
determinados serviços e outros praticamente à margem do processo”. Os autores destacam
que essas contradições tensionam e dinamizam as cidades, “numa relação de forças em que
prevalecem, ao que tudo indica, os interesses diretos daqueles que detêm poder econômico
e político e desejam mantê-lo” (CATALÃO, MAGRINI, LINDO, 2019, p. 203).
O ano de 2000 marca o retomo dos movimentos sociais à cena política nacional.
Apesar de quase uma década de desmobilização dos movimentos populares urbanos, eles
iniciam lenta retomada, incorporando a experiência adquirida via a participação nos
conselhos, fóruns e outras formas mais ou menos institucionalizadas de participação (GOHN,
2000).
Em uma sociedade cada vez mais capitalista, onde o Estado ao invés de estar a favor
dos interesses coletivo, serve apenas para reafirmar a lógica excludente e perversa do capital.
Nesse caso, os movimentos sociais lutam contra essa lógica, direcionando ao Estado toda
sua crítica. De modo que se o Estado permanecesse neutro, visado o “bem público”,
consequentemente as demandas dos movimentos populares não significaria conflito de
classes (VIANA, 2016).
Porém, o aparato estatal está a serviço do capital, pois cria condições propícias para
reprodução e acumulação das relações de produção capitalistas, bem como exercendo a
repressão social sobre os movimentos sociais, entre outras ações. Dessa forma, as políticas
estatais são no sentido de reproduzir as condições de reprodução do capital e assim,
causando diversos conflitos urbanos (Figura 1).
Nesse caso, os movimentos sociais vêm atuando junto com o Ministério Público na
busca por diminuir os problemas causados pelos conflitos urbanos, ou seja, almejam a
harmonização ou conciliação entre as partes divergentes. Instrumentos como a Ação Civil
Pública (Lei 7347) e a Ação Popular (Lei 4717), além de serem instrumentos legais em prol
do interesse coletivo, ampliam a ação popular na luta por cidade mais justa e sustentáveis.
Portanto, tratar-se de instrumentos relacionados a cidadania, tanto a Ação Civil Pública quanto
a Ação Popular são utilizados timidamente pela sociedade civil (ALCANTARA, 2010).
O Ministério Público, utiliza amplamente a Ação Civil Pública na resolução dos conflitos
urbanos. Alcantara (2010), afirma que o MP possui como função principal, além de fiscalizar
a lei e promover a justiça, defender os direitos massificados da sociedade, em uma função
preventiva e repressiva.
Portanto, para que os movimentos sociais concretizem seus direitos, é necessário que
o Ministério Público esteja isento de influências políticas e econômicas, assim como os
Termos de Ajustamento de Condutas, que ao invés de diminuir efetivamente os possíveis
conflitos ambientais, pode legitimar possíveis práticas excludentes (ALCANTARA, 2010).
Nas últimas décadas, o espaço urbano brasileiro foi palco de diversas manifestações.
Esses movimentos reivindicaram entre outras coisas, por moradia e pela transformação do
espaço urbano. O crescimento desenfreado das grandes cidades brasileiras, em decorrência
da migração da população campesina, fez surgir diversas realidades caóticas nas metrópoles.
Nesse caso, atuação dos movimentos sociais urbanos, são de grande valia na reivindicação
pelo Direito à Cidade, pois surgem contestando a relação de poder dentro do planejamento
urbano brasileiro, responsável por deixar milhões de pessoas em condições precárias, ou, até
mesmo, sem moradia (DIAS, SILVA, 2018).
Nesse sentido, Dias & Silva (2018) destacam a atuação da União Nacional por Moradia
Popular (UNMP) e do Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM), que surgiram no final
da década de 80, com o objetivo de contestar a lógica excludente de nossas cidades. Os
autores ainda destacam o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que através de
41
7
BUNN, Curtis. Movimento Ocuppy Wall Street, no parque Zuccotti (Manhattan, NY). Disponível em:
<https://atlantablackstar.com/2015/02/02/lessons-for-black-protesters-7-things-that-will-blow-your-mind-about-
how-the-occupy-wall-street-movement-was-crushed/>. Acesso em: 25 ago. 2019
42
8 O GLOBO. Vista aérea da área da Comunidade Vila Autódromo, Rio de Janeiro. Disponível em: <
https://oglobo.globo.com/rio/com-remocoes-vila-autodromo-encolhe-83-em-dois-anos-17872872>. Acesso em: 12
nov. 2019.
44
A exemplo do projeto Novo Recife, o centro da cidade de São Paulo (Figura 5), também
está inserido nesse contexto de “modernização” do espaço urbano, isto é, a chamada
revitalização. Construído apenas para o fluxo de automóveis, o Minhocão, ao longo dos
últimos anos passou por diversas transformações em seu uso. Até que em 2014, com o Plano
Diretor Estratégico, a prefeitura de São Paulo propõe sua demolição e transformação em
parque. Dois anos depois, o até então prefeito da cidade, Fernando Haddad sanciona a lei
que cria o “Parque Minhocão”. Para Schiller e Caldeira (2017), essa lei não determinou
46
A verdade é que se o projeto ocorrer dessa forma, não irá resolver nenhum dos
problemas decorrentes da existência do Elevado, muito pelo contrário, trará ainda mais. É
necessário antes de tudo, eliminar qualquer influência do capital imobiliário, pensar para onde
irão os moradores que vivem a quase 50 anos lá, assim como os pequenos comerciantes e
moradores de rua (PEREZ, 2019). Só o tempo dirá se novas manifestações populares
eclodirão contra a implantação do parque Minhocão, resistindo com a exploração imobiliária
e lutando por cidade mais justas.
48
11
CAPÍTULO 3
Neste capítulo são apresentados os conflitos urbanos na capital sergipana, que geram
uma série de desigualdades e segregação espacial. Além disso será feito um breve histórico
da formação do espaço urbano de Aracaju, focando nas disparidades entre a zona sul, que
de certa forma o “direito à cidade” é efetivado e a zona norte, que é desprovida deste direito.
Antes de estudar Aracaju, é necessário entender que, assim como em quase todas as
capitais brasileiras, funciona como espaço de reprodução das desigualdades. É nítida a
“oposição” entre bairros de classe média e a periferia. Ocupações irregulares se proliferam a
cada ano na capital, populações vivendo em precárias condições de moradia (quando têm),
sem saneamento básico, vias pavimentadas, água tratada entre outros. Por outro lado, existe
uma classe social que tem condições de pagar por todos esses benefícios, e vivem em bairros
valorizados que detém infraestrutura e serviços de qualidade.
Segundo França (2019), nos últimos cinquenta anos, Aracaju passou por uma intensa
urbanização, que apoiada pela migração campo/cidade, acabou agravando o panorama
habitacional e de desigualdade socioespacial. Nessa época, a cidade recebeu um fluxo cada
vez maior de migrantes de baixa renda, vindos de municípios do interior do Estado (FRANÇA,
1999). Essa população se instalou em bairros mais periféricos, onde o solo urbano era mais
barato e, portanto, mais distante do centro da cidade, que naquele momento, era área mais
elitizada, dotada de infraestrutura urbana e com terrenos a preços inacessíveis a grupos de
menor renda. É nesse contexto que a produção do espaço urbano, marcada pela segregação
socioespacial, se conformou em Aracaju (SILVA, 2009).
uma intensa degradação ambiental provocada pelos aterros e ocupações subnormais já que
a cidade foi construída e cresceu em uma região litorânea e de fragilidade ambiental (SOUZA,
2009).
Nos últimos anos, diante do recuo das políticas habitacionais do Estado, fez com que
o quadro de exclusão social e de miséria piorasse, e assim, observa-se uma “crescente
ocupação informal convertida em loteamentos precários, como os bairros Olaria, São
51
Conrado, América, Santos Dumont, Coroa do Meio, Coqueiral, Santa Maria, agravando
também o cenário de dispersão e fragmentação urbana” (FRANÇA, REZENDE, 2016, p.2).
Essa realidade pode ser comprovada a partir das informações do Censo Demográfico
do IBGE (2010). Ao comparar com os dados do IPEA (1991 e 2000), revela-se que a
proporção da população residente em aglomerados subnormais12 em Aracaju, mais que
triplicou durante os anos de 1991 a 2010. Nesse período, a população residente passou da
proporção de 2,4% para 10,8 % (Gráfico 1).
Fonte: IPEA, 1991 e 2000; IBGE, 2010. Elaborado pelo autor, 2019
12 Segundo o IBGE, Aglomerado Subnormal é uma forma de ocupação irregular de terrenos de propriedade alheia
– públicos ou privados – para fins de habitação em áreas urbanas e, em geral, caracterizados por um padrão
urbanístico irregular, carência de serviços públicos essenciais e localização em áreas restritas à ocupação.
Também podem ser conhecidos como favelas, invasões, grotas, baixadas, comunidades, vilas, ressacas,
loteamentos irregulares, mocambos e palafitas, entre outros.
52
Vale destacar que após a realização desse levantamento por parte do IBGE (2010),
Aracaju ainda continuou recebendo novos Aglomerados Subnormais, como foi o caso da
Comunidade Recanto das Mangabeiras (Figura 9), localizada na Zona de Expansão Urbana
de Aracaju, cuja ocupação ocorreu em 2013, dois anos após a implantação do bairro 17 de
Março.
No outro extremo desse processo, existem bairros como Jardins e 13 de julho, áreas
ocupadas pela classe mais alta de Aracaju. Esses bairros apresentam disponibilidade de
serviços e infraestrutura, fazendo com que sejam procurados tanto por empresários,
proprietários de terra e empresas imobiliárias. A construção e instalação de vários pontos
comerciais, estrutura para moradia e proximidades com os Shoppings, impulsionam, ainda
mais, a valorização do espaço construído, o aumento da especulação imobiliária e o crescente
impacto ambiental, sobretudo próximo ao Rio assim como seu enobrecimento (MACHADO,
2010).
14JORNALDODIASE. Recanto das Mangabeiras, localizado na Zona Expansão Urbana de Aracaju. Disponível
em: < https://observatoriose.wordpress.com/2012/01/04/consideracoes-sobre-os-aglomerados-subnormais-em-
sergipe-segundo-os-resultados-do-censo-demografico-2010/ >. Acesso em: 29 de fev. 2020
55
acessível, etc. Além deste, sofre também o meio ambiente, pela sua degradação em função
da atuação do capital imobiliário.
Para definir quais bairros de Aracaju possuem ou não direito à cidade efetivado, levou-
se em consideração os estudos desenvolvidos pelo Observatório Social, cujo objetivo consiste
em apresentar uma caracterização socioeconômica do território aracajuano, baseada nos
dados do Censo Demográfico do IBGE. Parâmetros como: pobreza, desigualdade e condição
de habitação da população, são informações relevantes sobre as realidades socioeconômicas
de Aracaju (OBSERVATÓRIO, 2019).
As áreas mais claras do mapa representam os locais onde os rendimentos médios dos
moradores são mais altos, com destaque para os bairros Grageru, Jardins, Salgado Filho e
13 de Julho. Na porção norte da capital, estão localizados os bairros com os mais baixos
rendimentos, representados em marrom (Figura 11).
Além disso, a coleta de lixo (Figura 13) e abastecimento de água irregular (Figura 14),
comprometam a perda da qualidade de vida de seus moradores e consequentemente ao
direito à cidade.
A partir das análises desses mapas, foi possível espacializar o direito à cidade em
Aracaju (Figura 15), no qual encontra-se dessa forma:
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados obtidos no Observatório Social, 2019
61
15
CAPÍTULO 4
Neste capitulo é estudado a Zona de Expansão Urbana de Aracaju, uma região que
se caracteriza por uma ocupação a partir de ações contraditórias, executadas pelo poder
público e pelo privado de forma dispersa e excludente, causando problemas para a população
residente e ao ecossistema litorâneo.
Por fim, veremos que a intermediação do Ministério Público Federal (MPF) nas
reivindicações dos movimentos sociais presentes na ZEU, mostrou-se de extrema
importância. Sendo assim, nos últimos anos, diversos acordos firmados entre o MPF e o
Estado, através da assinatura de Termos de Ajuste de Conduta e de Ações Civis Públicas, foi
responsável pela resolução do Processo da Praia de Aruana e da Macrodrenagem.
Delimitada a leste pelo Oceano Atlântico, ao sul pelo canal Santa Maria e o rio Vaza
Barris, a norte pelo Bairro Aeroporto e Atalaia e a oeste pelo município de São Cristóvão, a
Zona de Expansão Urbana de Aracaju ocupa uma área de 63 km² que corresponde
aproximadamente 40% do território municipal aracajuano (Figura 16).
Para este trabalho, foi considerada a Zona de Expansão Urbana de Aracaju composta
pelo loteamento Aruana16 e pelos povoados Robalo, São José, Gameleira, Areia Branca,
16 Tramita na Câmara de Vereadores de Aracaju o Projeto de Lei (PL) nº134/2018, cujo texto propõe a criação, de
forma oficial, do Bairro Aruana, localizado na Zona de Expansão da capital sergipana.
63
Matapoã e Mosqueiro, bem como o Bairro 17 de Março, sancionado pela Lei n°4.024 de 15
de abril de 2011. A região se caracteriza por sua distância ao centro de Aracaju, população
residente de 27.899 habitantes (IBGE, 2010), ampla diversidade ambiental, além da
especulação e valorização imobiliária pela presença de condomínios fechados verticais e
horizontais.
A recente ocupação desta região, a partir do início da década de 80, vem modificando
a paisagem, antes rural, onde viviam pescadores, agricultores e outros trabalhadores. A Lei
de Delimitação de Bairros n° 873/1982, foi determinante para a transformação da região, pois
nela ficou estabelecido uma nova delimitação para os bairros de Aracaju, redefinido sua área
rural como uma Zona de Expansão Urbana de Aracaju. A partir de então, o município torna-
se 100% urbano (FRANÇA, 2011).
Segundo França (2011), até meados de 1960, o acesso à região era restrito e se
estabelecia ou por navegação fluvial pelo Canal de Santa Maria, por animais ou a pé, ou
utilizando a faixa da areia da praia quando a maré estava baixa. É a partir da construção da
sede do Terminal de Carmópolis (TECARMO) (Figura 17), em 1967 e depois da Unidade de
Produção de Gás Natural (UPGN), que o acesso aos bairros de Aracaju até esses pontos
localizados à norte da ZEU foi facilitado.
Fonte: PETROBRAS17
Nos anos 1980, o Estado interviu na região e realizou a abertura da Rodovia dos
Náufragos e posteriormente, a construção da Rodovia José Sarney, facilitando o seu acesso.
A proximidade com as praias, articulada com uma série de outros fatores tornou a área
elitizada. Desse modo, a ZEU passou a ser loteada e vendida para camadas de alto poder
aquisitivo. Em um primeiro momento, esses lotes foram utilizados como “casas de veraneio”,
isto é, uma residência secundária, que funcionava para momentos de lazer, descanso e férias.
Só a partir de 2000 houve de fato apropriação da área como local de moradia (FRANÇA,
2011).
Por outro lado, a classe mais abastada “mantêm suas grandes e luxuosas mansões
de veraneio na região do Matapuã, às margens do Rio Vaza Barris. Essas residências,
algumas construídas em sítios, outras em condomínios, beneficiando-se da beleza da
paisagem e do meio ambiente” (Figura 22) (FRANÇA, 2011, p. 75).
67
Apesar do Plano Diretor determinar uma Política Ambiental para toda a Aracaju,
determinando a preservação dos biomas locais, isso não impediu a ocupação desenfreada da
área, sobretudo no desmonte de dunas, aterramento de pequenos charcos e/ou lagoas de
drenagem, bem como a degradação dos manguezais (FRANÇA, 2011; SANTOS, 2015).
Além disso, destaca-se ainda a presença de manguezais, entre o rio Vaza Barris e o
Canal do Santa Maria. Por conta da inexistência de cursos d’água superficiais (fora os canais
de mangues e os rios Vaza Barris e Santa Maria), a drenagem na região é feita pela infiltração
e pela evaporação. Nos últimos anos, a crescente impermeabilização pelas edificações e vias
de acesso e aterramento das lagoas de drenagem, ocasionou a diminuição da área de
infiltração, colapsando o regime de drenagem natural e assim, causando inundações e
alagamento (Figura 28 e 29) (WANDERLEY, WANDERLEY, 2003).
As dunas são as que mais sofrem devido à especulação imobiliária no litoral. Na ZEU,
está situada principalmente nos terrenos do NUCAT/Petrobrás (Figura 30), no Loteamento
Aruana e nas proximidades do rio Vaza Barris (FRANÇA, 2011). Essas áreas são protegidas
por três parques ecológicos: Aruana, Mosqueiro e Farol do Mosqueiro, definidos pelo Plano
Diretor como Área de Proteção Ambiental (APA) e por anos, foram alvo de disputas judiciais
e de perícia ambiental para avaliar as possibilidades para sua ocupação (SOUZA, 2016).
Nas últimas décadas, a ZEU vem passando por um processo de ocupação, embora
dispersa. A porção Norte foi a primeira a receber empreendimentos imobiliários e por isso é
bem adensada. Além desta, uma outra área bastante ocupada está ao Sul, entre os povoados
Areia Branca e Mosqueiro. Com avanço sobre a paisagem natural, tem-se uma crescente
redução e degradação do meio ambiente (Figura 33).
litorânea da ZEU está inserida em uma Área de Proteção Ambiental (APA) e contar com
alguns instrumentos de planejamento como Planos de Intervenção das Orlas Marítimas e
Conselho Gestor, os processos de degradação, iniciados antes da criação desses recursos,
estão sendo intensificados, o que compromete a manutenção dos ecossistemas naturais
(SANTOS, 2016).
Por conta disso, hoje se observa sérios prejuízos socioambientais pelas ocupações
irregulares em áreas de lagoas de drenagem pluviais, causando alagamento e danos
materiais provocados no período das chuvas. Nesse sentido, França (2011, p. 144), alerta
que a degradação desses “espaços vazios e a sua substituição por condomínios luxuosos ou
mesmo, conjuntos habitacionais, demonstram que a “cidade parece estar fechando os olhos
para a degradação dos recursos naturais como aterramento das lagoas, destruição de dunas
e devastação dos manguezais”.
Para o sistema viário, o relatório propõe uma organização pautada em dois eixos
principais, o eixo longitudinal, paralela à atual Rodovia dos Náufragos e ligaria toda a ZEU, e
eixos transversais, que ligaria o interior a região litorânea (praias), além das vias coletoras.
As ciclovias estariam localizadas tanto nas principais vias como junto aos parques e áreas
verdes e ao longo de vias que guardam um potencial turístico e de lazer como a Rodovia José
Sarney.
Ao transporte coletivo, o plano prevê o uso do BRT (Bus Rapid Transit), ao longo do
eixo longitudinal, que concentra alta densidade populacional. Além deste, prevê ainda
implantação de um terminal de integração junto a um dos eixos transversais, na região central
do Mosqueiro. Caso seja necessário, poderão ser previstas outros terminais de integração,
preferencialmente localizados junto às interseções do eixo longitudinal com os eixos
transversais.
75
Para Mota (2017), o principal empecilho para a realização da proposta é o seu elevado
custo, já que prevê a total remodelação da Zona de Urbana Expansão de Aracaju, além da
instalação do projeto de macrodrenagem.
Desde de 2015, o atual Plano Diretor de Aracaju (PDDU 2000) está em processo
revisão. Questão como: infraestrutura, patrimônio público, turismo, meio ambiente, mobilidade
urbana, uso e ocupação do solo e a Zona de Expansão Urbana de Aracaju, são alguns dos
principais pontos a serem repensados para o plano (PMA/SEPLOG, 2015). Durante o período
de debates, ocorreram várias audiências públicas em alguns bairros (Figura 40), e contou com
a presença da equipe técnica da prefeitura, formada por arquitetos, engenheiros entre outros,
onde os temas foram levantados pelos especialistas a fim de criar um espaço de diálogo para
que a comunidade pudesse apresentar suas demandas.
21PREFEITURA DE ARACAJU. Audiência pública sobre o Plano Diretor na ZEU em julho de 2015. Disponível
em:< https://www.aracaju.se.gov.br/index.php?act=leitura&codigo=65708>. Acesso em: 19 nov. 2019
79
Nesse sentido, o atual processo de revisão Plano Diretor de Aracaju, é mais rigoroso
na questão ambiental, quando comparado ao plano em vigência. Áreas de Interesse
Ambiental, como as dunas, lagoas e restingas, pelo novo Plano, fica impedido qualquer tipo
de alteração de sua composição física. A Lei vigente atual (PDDU 2000) permite que dunas
de até dez metros fossem desmontadas, causando sérios problemas socioambientais na
região nas últimas décadas.
§ 2º - Para fins desta lei, consideram-se áreas de preservação de que trata
o “caput” deste artigo:
I- mangues;
II – dunas acima de 10,00m; (LEI COMPLEMENTAR Nº 42/2000)
foi votada. Enquanto isso, Aracaju continua fragilmente regida por um Plano Diretor (2000),
que já deveria estar na sua segunda revisão, pois conforme prazo estabelecido pelo Estatuto
da Cidades, deveria ocorrer de 5 a 10 anos (FRANÇA, 2018).
A Zona de Expansão Urbana de Aracaju clama por mudanças. Durante anos ela ficou
refém da ação do capital imobiliário e a conivência do poder público, transformando sua
paisagem e expulsando a população nativa, em função do avanço dos condomínios privados.
O novo Plano Diretor, deve ser mais restritivo, priorizando uma ocupação mais cuidadosa e
que leve em consideração os anseios daqueles que convivem diariamente com seus
problemas (SOUZA, 2016).
Como é perceptível, a ZEU se caracteriza por sua elevada fragilidade ambiental. Para
França (2011), a presença fragmentada dos condomínios fechados, permitida pelos
órgãos responsáveis, tem trazido sérios transtornos à população. A permissividade do Plano
Diretor, entre outras leis, tem prejudicado a vida da população local, devido a não
implementação de algumas diretrizes, principalmente referente à macrodrenagem (FRANÇA,
2011).
Essa mobilização popular ocorre devido aos vários conflitos existentes na ZEU.
Segundo França e Rezende (2013), às reivindicações partem da forma como vem ocorrendo
o parcelamento da terra, em função dos interesses do mercado imobiliário. A atuação dos
movimentos sociais tem sido de grande valia para a conquista de projetos e ações na área, a
partir de uma série de acordos firmados entre o Ministério Público Federal e o Estado, através
da assinatura de Termos de Ajuste de Conduta e de Ações Civis Públicas, na condução e
resolução dos conflitos sociais (FRANÇA, 2011).
82
União (FONSECA, 2017). Segundo França (2011), a Prefeitura de Aracaju realizou em 1995,
um estudo mais detalhado e contabilizou um total de 64 edificações nesta faixa litorânea, com
usos diversos: misto, residencial e comercial. Porém essas construções foram apontadas
como ilegal, pois não possuíam autorização que permitisse a ocupação da área de praia,
classificada como bem de uso comum do povo, que não pode ser atribuído a uso particular
(FONSECA, 2017).
Diante disso, em janeiro de 2000, foi assinado um TAC no Ministério Público Federal
entre a ADBAMA e os donos dos bares, e determinava que os estabelecimentos que não
apresentassem o registro de ocupação perante a União, a Prefeitura e de licença ambiental
da ADEMA, deveriam desocupar o local espontaneamente (MINISTÉRIO PÚBLICO
FEDERAL, 1999 apud FRANÇA, 2011).
Segundo França (2011), a grande maioria dos bares ali estabelecidos, não possuía
nenhum registro de ocupação que legitimar-se sua permanência, tampouco qualquer título
que lhes concedesse posse ou propriedade. Além disso, verificou-se que os barracos
desobedeciam a alguns aspectos urbanísticos, a exemplo do desrespeito à faixa de domínio
da rodovia, ligação clandestina de energia, ausência de rede de água e esgoto, entre outros
(Figura 45 e 46) (FRANÇA, 2011).
84
Após um longo período de disputas judiciais e da falta de uma solução concreta, foi
assinado, em abril de 2004, outro Termo de Ajustamento de Conduta, agora entre Ministério
Público Federal, Prefeitura e os proprietários, que obrigou o órgão municipal, a efetuar, com
recursos próprios, um projeto de construção e padronização das edificações e seu entorno.
Esse convênio criou o Projeto de Reurbanização da Orla de Aruana (FRANÇA, 2011).
Apenas em 2007, foi apresentado e aprovado um novo Projeto pela Prefeitura, sem
utilização de banheiros, decorrente também, à assinatura de um TAC entre o Ministério
Público Estadual e a ADEMA em 2006, que não autoriza qualquer tipo de infiltração no solo,
pelo sistema de esgoto, em toda ZEU (FRANÇA, 2011).
E assim, perante ao não cumprimento dos Termos de Ajuste de Conduta pelos órgãos
responsáveis e pelos comerciantes, ocorreu em meados 2008, as primeiras demolição
voluntária dos bares da Praia da Aruanda, através de determinação da Justiça Federal, e os
antigos bares foram demolidos, para que se iniciasse as obras da nova Orla (Figura 47)
(JUSTIÇA FEDERAL DO ESTADO DE SERGIPE, 2008 apud FRANÇA, 2011).
Uma outra consequência da abertura da Rodovia José Sarney diz respeito a questão
ambiental. Em 1997, a Associação de Donos de Bares e Moradores da Praia de Aruana
(ADBAMA), enviou um ofício à Prefeitura, Governo, Assembleia Legislativa, Câmara de
Vereadores, Ministério Público, PETROBRAS, IBAMA, ADEMA, veículos de comunicação,
entre outros, informando que a região estava sendo alvo de especulação imobiliária e que o
projeto de duplicação da Rodovia dos Náufragos havia sido reformulado, partindo da Praia de
Atalaia passando pela Aruana até a praia José Sarney (ADBAMA,1997 apud FONSECA,
2017).
Naquele ano, o Ministério Público Federal, protocolou uma Ação Civil Pública em
defesa do meio ambiente e o patrimônio público federal contra o DER/SE; União Federal;
IBAMA; ADEMA e Estado de Sergipe (BRASIL, 2003 apud FONSECA, 2017). Após solicitação
do MPF, técnicos do IBAMA afirmaram que as dunas existentes na área em que a rodovia
estava sendo construída eram representativas, fixadas por cobertura vegetal e encontrava-se
em área de preservação permanente (Lei Federal 4.771/65, art. 3°, incisos b e c; Lei Federal
7.661/88, art. 6°e resoluções do CONAMA 04/85 e 04/93), fato este que haveria necessidade
de elaboração do EIA - RIMA24 (FONSECA, 2017).
Após estudos, ficou constatado que a construção da Rodovia atingiria uma área
ambientalmente frágil com a presença de ecossistema costeiro de restinga e cordões dunares,
onde previa corte de algumas dunas. Sendo assim, o IBAMA recomendou uma alteração de
traçado da pista, mas nenhum critério científico foi utilizado. Portanto, nenhuma proteção
ambiental foi garantida (BRASIL, 2003 apud FONSECA, 2017).
Segundo Fonseca (2017), a obra foi realizada sem EIA-RIMA, a autorização para a
construção e licença pela ADEMA só foi concedida em fevereiro de 1998, mas, no entanto, as
obras começaram muito antes. Ainda segundo a autora, a realização de estudo de impacto
ambiental realizadas pelo DER/SE antes do início das obras, certamente indicaria em um
traçado diferente para a pista, minimizando os inúmeros danos ambientais causados. Mas,
para esse ajuste, implicaria em um aumento considerável do valor da obra (BRASIL, 2003
apud FONSECA, 2017).
24 O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) são documentos
técnicos multidisciplinares com objetivo de realizar avaliação ampla e completa dos impactos ambientais
significativos e indicar as medidas mitigadoras correspondentes.
87
Mesmo de forma liminar, o Ministério Público Federal pede suspensão das licenças de
construção do condomínio e paralisação das obras, solicitando que esses dois órgãos fiquem
impedidos de licenciar quaisquer atividades em zonas costeiras e Mata Atlântica, sem o
correspondente estudo (FRANÇA, 2011).
Após um longo impasse, ficou decidido que o empreendimento não integra área de
preservação permanente. Quanto referente as dunas,
uma sentença final da Justiça Federal sugere que a cada pedido de
autorização de novos empreendimentos imobiliários, o IBAMA deve apontar
quais as dunas com dimensão menor que 2,5m de altura em relação ao greide
da Rodovia José Sarney que tem importância ambiental, podendo autorizar
ou não a demolição (FRANÇA, 2011, p.155).
Processo de Macrodrenagem
Esse estudo tem por objetivo identificar todos os recursos hídricos presentes na região,
as bacias de contribuição independentes, levando em consideração o relevo e topografia,
constando as ocupações, dunas, lagoas, rios, mangues, áreas reservadas e linhas
preferenciais de escoamento dos canais de macrodrenagem, além de sistema viário
(FRANÇA, 2011). Dessa forma, o esboço prévio do estudo dividiu o projeto em duas etapas
(Figura 50), conforme definição do TAC assinado em junho de 2007:
b) 2° Etapa: abrange a área entre o Rio Santa Maria e os limites com o município de
São Cristóvão, correspondente ao bairro Santa Maria (antiga Terra Dura). Segundo França
(2011), desde 2004 o bairro vem recebendo investimentos do Governo Federal, Petrobras,
Banco Mundial, além da Prefeitura Municipal de Aracaju com a implantação de casas
populares e melhoria de infraestrutura, mudando o velho cenário de extremo bolsão de miséria
e pobreza.
89
Em 2009, graves enchentes ocasionadas pelas chuvas de maio deste ano, causou
grandes estragos em diversos pontos, principalmente nos mais adensados (Figuras 51 e 52).
Com isso, o MPF convocou empresas da construção civil, CAIXA, Prefeitura, DESO,
PETROBRAS, ADEMA, e a União para intervir na área. Por meio de uma Ação Civil Pública,
assinada em junho de 2009, a Justiça Federal determinou bloqueio temporário de
licenciamento, construção e inauguração de quaisquer empreendimentos (FRANÇA, 2011).
90
Essa ACP determinou que tanto a Prefeitura e a EMURB ficam proibidas de expedir
HABITE-SE, alvarás de construção ou quaisquer outros atos administrativos para uso e
ocupação do solo, assim como a ADEMA não poderá conceder licenciamento ambiental
relativos à Zona de Expansão. Para a DESO foi solicitado que se inicie imediatamente os
estudos para viabilizar a implantação de uma rede de esgotamento sanitário para a Zona de
Expansão, e à Caixa e à União determinou-se que não sejam inaugurados empreendimento
habitacionais na região (FRANÇA, 2011; SOUZA, 2016).
Ação atende em partes os pedidos formulados nos autos da Ação Civil Pública (ACP)
n.0002637-41.2009.4.05.8500, ajuizada pelo Ministério Público Federal (MPF), em
litisconsórcio ativo com o Ministério Público do Estado de Sergipe (MP/SE) e Conselho das
Associações de Moradores dos Bairros Aeroporto e Zona de Expansão Urbana de Aracaju
(COMBAZE) (NE NOTÍCIAS, 2019).
26
IMOVELNOVOTUDO. Encarte publicitário do condomínio Reserva do Aimoré. Disponível em:
<http://www.imovelnovotudonovo.com.br/empreendimento_reserva_aimore.html>. Acesso em: 24 dez. 2019.
92
A área delimitada na ação abrangeu toda a região sul do Município de Aracaju, a partir
das avenidas Sen. Júlio César Leite e Heráclito Rollemberg até o Mosqueiro (Rio Vaza Barris),
que tem por características ser uma área ambientalmente frágil, que demanda atenção
especial e cuidado. Assim, diante da deficiente infraestrutura urbana, especialmente pela falta
de um sistema de drenagem e de rede coletora de esgoto adequado, aliado a intensa
ocupação da ZEU tem gerado grave impacto negativo ao meio ambiente e para a população
ali residente (NE NOTÍCIAS, 2019).
França (2011) exemplifica bem esse panorama, quando afirma que diante a omissão
do Governo em garantir
à implantação de infraestrutura para atender à demanda populacional,
concentrando-se apenas na construção de unidades habitacionais. (...) os
moradores, através das suas reivindicações devidamente respaldadas na
Constituição Federal de 1988, como o direito à cidade e a função social da
propriedade (artigos n°182 e 183), buscam na justiça a consolidação desses,
com a ajuda do Ministério Público. É uma nova forma de conquistar seu
espaço na cidade democrática (FRANÇA, 2011, p.131)
94
27
CAPÍTULO 5
Como visto no decorrer do Capítulo 2, os movimentos sociais são ações coletivas que
possuem caráter político e/ou cultural. São formas de organizações da população que se
estruturam e partem para a luta contra as desigualdades sociais, ou seja, lutam por melhores
condições de vida.
Deste modo,
a participação em grupos sociais locais, como grupos de mães, associações
de bairro e grupos de igreja. Essas formas de participação têm em comum
um escopo mais limitado em suas demandas (...) não são necessariamente
vinculadas a assuntos políticos; são muito mais voltadas para problemas do
dia-a-dia do que para grandes debates nacionais e servem principalmente
para formar uma rede de proteção e conforto a seus membros em relação
aos acontecimentos cotidiano (RENNÓ, 2003; p.72).
28 Notou-se que algumas das associações de moradores levantadas possuíam seu CNPJ baixado, que significa
que a entidade deixou de entregar suas obrigações contábeis à Receita Federal por mais de cinco anos, ou pode
indicar que o responsável pela mesma solicitou a baixa aos órgãos competentes. Enquanto não solucionar suas
pendências com a Receita Federal (pagamento de multas), a associação continua com seu CNPJ baixado. Em
muitos casos, a inviabilidade de pagar essas multas, faz que com seja mais simples a fundação de outra entidade.
97
particularidade de sua atuação, pois representa apenas uma pequena parte de moradores da
região, sem representatividade no todo.
17%
33% Menos de 10 anos
Mais de 10 anos
Mais de 15 anos
50%
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados obtidos no questionário, 2020
Conforme pode ser observado por meio dos questionários, os principais desafios para
a atuação das AMs na Zona de Expansão estão, em primeiro lugar, é a falta de recursos
próprios no custeio das dispensas mensais, aliado a dificuldade de fidelização dos associados
pagantes, depois está a falta de uma sede própria, pois esta dificulta a atuação da AMs seja
através de eventos e atividades para a comunidade, e posteriormente estão; a falta de
participação dos moradores, dificuldade de atendimento do Poder Público e a falta de
reconhecimento da população (Gráfico 5).
Falta de recursos
13%
Falta de participação dos
31% moradores
19% Falta de sede própria
Dificuldade no atendimento do
12% Poder Público
25%
Falta de reconhecimento da
população
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados obtidos no questionário, 2020
As AMs que possuem alguma irregularidade com a Receita Federal, e muitos casos,
encontram problemas como o de não poderem se beneficiar de convênios com entidades
públicas e/ou privadas. Também, por não serem legalizadas, podem encontrar dificuldades
no relacionamento com os Órgãos Públicos:
Outro ponto observado a partir dos dados dos questionários, é que metade das
associações pesquisadas não possuem recursos próprios (Gráfico 6).
103
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados obtidos no questionário, 2020
Nas entrevistas, a falta de recursos foi um dos pontos constantemente relatado pelos
associados. A dificuldade em ser obter recursos para o custeio das despesas mensais, bem
como a fidelização entre os associados nos pagamentos das mensalidades são umas das
dificuldades presentes entre as associações estudadas:
As maiores dificuldades é a falta de recursos, porque tudo gera um gasto
(ENTREVISTADO).
Em alguns casos, a conquista de uma sede própria, segundo relatado nas entrevistas,
trará bastante benefícios para a comunidade:
Com a sede, a gente pode trazer cursos para os jovens, cursos para terceira
idade, que a gente precisa, para não ficar em casa, sem fazer nada, atividade
física, tudo isso trazer pra dentro da Associação; por isso hoje a gente almeja
muito essa sede para a associação; para reuniões, que a gente não tem um
lugar, daí tem que estar alugando espaço e a gente não tem recursos para
isso. Então a gente precisa muito desse espaço (ENTREVISTADO).
De acordo com os dados obtido nos questionários, observa-se que 67% das
associações de moradores da Zona de Expansão não possuem sede própria. Nesse caso, as
reuniões aconteciam, tradicionalmente, na casa de algum integrante da associação
(geralmente o Presidente), ou em instituições que cediam espaço para a realização das
reuniões ou outras atividades realizadas pelas AMs. Além disso, falta de uma sede eleva
ainda mais as despesas mensais com o pagamento do aluguel:
A questão é, não temos um espaço, pois atualmente dependemos do posto
de saúde, da igreja, de escola para fazer essas atividades
(ENTREVISTADO).
Observou-se que as entidades que contavam com a sede própria, indicava uma maior
capacidade de mobilização dos moradores, seja em participação nas reuniões, eventos
comemorativos, atividades culturais e esportivas e cursos, pois como a sede, a entidade é
105
Quanto a participação da população nas atividades realizadas pela AMs, revela-se que
em algumas entidades, poucos moradores participam regularmente das reuniões, embora
muitos cobrem pela solução dos problemas:
Nós fazemos reuniões, mas infelizmente a comunidade não comparece em
massa. Você faz uma reunião nessa comunidade aqui (...) infelizmente, no
dia da reunião não comparece todos, a parte mínima comparece. Então a
gente fica sem força, porque a comunidade tem que participar, tem que ser
participativa de tudo que acontece dentro do bairro. Às vezes eu quero
comunicar o que eu fiz no mês, mas infelizmente a comunidade não dá a
prioridade as coisas, só querem reivindicar, mas contribuir, zero
(ENTREVISTADO).
Com os resultados pode-se observar que 63% da população têm conhecimento sobre
a existência, enquanto que apenas 37% dos entrevistados mostraram não ter conhecimento
sobre o assunto.
Nas respostas obtidas, verificou-se que a maioria absoluta da população (61%) não
possui interesse algum, enquanto que 39% das pessoas entrevistas demonstraram algum
interesse em participar da associação de moradores de sua comunidade.
Uma das causas pode estar relacionada à porcentagem de apenas 37% dos
entrevistados reconhecer a existência de alguma AM’s em sua comunidade ou não são
informados sobre onde as reuniões que acontecem. Dessa forma talvez explique tamanho
desinteresse da população. Pode-se também considerar, a falta de tempo ou porque alguns
realmente não têm interesse em participar.
Essa dependência do Poder Público foi apontada pelos entrevistados com sendo uma
das dificuldades na atuação dos AMs nas comunidades:
(...) você também não tem um respaldo dos Órgãos públicos, porque quando
você leva um documento, você quer uma resposta, quer debater junto a
Prefeitura, e a gente que mora convive com essa situação. Então é isso que
faz com que a gente desista, tem hora que cansa, a gente passa semanas,
meses em casa só pensando e não dar nenhum prazer, porque não tem
nenhum retorno do Poder Executivo (ENTREVISTADO).
Quant. de respostas
10
75
56
71
66
62
69
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados obtidos no questionário, 2020
Aqui basta sonhar que vai chover que já fica alagado e cheio de lama
(MORADOR)29.
29Relatos retirados da página do Facebook do membro de uma das Associação de Moradores da Zona de
Expansão de Aracaju, contendo relatos e indignações dos moradores.
108
Além disso, poucas são as ruas que possuem acessibilidade adequada. As melhores
situações estão presentes principalmente na Aruanda e no 17 de março, enquanto nos
povoados praticamente inexistem. Observa-se que no geral, a grande maioria das vias possui
passeios estreitos e/ou descontínuos, com presença de obstáculos (construções), enquanto
outras sequer teriam espaço para calçadas (Figura 57).
Conforme depoimentos dos moradores, a obra não surtiu efeito esperado, apenas
postergou os problemas (Figura 58 e 59):
(...) aí é um paliativo não uma grande obra, o asfalto é igual pisará, toda solta,
isso aí não é obra definitiva (MORADOR).
Apontado em 15% nos relatos dos moradores, a falta da rede de esgotamento sanitário
e drenagem urbana são carências que comprometem a qualidade de vida da população.
Embora esteja sendo implantada na porção Norte da ZEU, é ausente em todas as outras
localidades. Nas outras áreas, o descarte dos efluentes é realizado por fossas sépticas e
sumidouros. Ainda que seja indicada para locais onde não existe um sistema de esgotamento
sanitário, essa solução traz consigo um outro problema que é poluição do lençol freático, além
do risco a saúde pública, pois uma boa parcela da população ainda é abastecida por poços
artesianos.
Locais como a Aruana e 17 de Março, além do bairro Aeroporto, vem nos últimos anos
recebendo obras de esgotamento sanitário, mas com a ausência de tratamento adequado e
a falta de manutenção preventiva na rede de esgoto, está causando inúmeros episódios de
obstrução e inundações, por problemas na excussão por parte da DESO, fazendo com que o
esgoto retorne para as casas e vias (Figura 60):
Não basta a rede passar em sua porta, a rede tem que estar ativa, para
quando o consumidor fizer a ligação, o esgoto possa ser devidamente
captado e tratado (MORADOR) 29
110
Além disso, à população sofre com espera nos pontos de ônibus ou no terminal, onde
é comum ficar por mais de uma hora aguardando um transporte, e quando chegam estão
lotados. Independente se é horário de pico ou não, a situação se mantém igual, enquanto que
no fim de semana demora ainda mais:
(...) você chega no terminal daquele (Terminal da Atalaia), 18h30 pras 19h,
pra voltar pro bairro é uma dificuldade, e aqui no Mosqueiro é de manhã pra
ir trabalhar, você passa 40 minutos, 1 hora pra pegar um ônibus
(ENTREVISTADO).
Para piorar, a frota de ônibus disponíveis nessas localidades, são compostas por
ônibus antigos, em péssimo estado de conservação e que constantemente apresentam
problemas mecânicos. Portanto, é comum no dia a dia dessa população, ao ir trabalhar, ficar
pelo caminho em decorrência da quebra do ônibus (Figura 61).
30FANF1. Transbordo ocasionado por problemas com a rede de esgoto. Disponível em:
<https://fanf1.com.br/conselho-comunitario-apela-a-deso-para-que-resolva-logo-situacao-do-esgoto-da-zona-de-
expansao/> Acesso em: 26 fev. 2020.
111
Uma outra reclamação recorrente diz respeito à falta de segurança no local, onde é
comum a ocorrência de “arrastão” dentro dos ônibus ou no ponto de espera. Dessa forma a
população fica cada vez mais apreensiva com a falta de segurança. Essa situação se mantém
a bastante tempo. Em 2014, os moradores do Conjunto Brisa Mar, localizados na Zona de
Expansão Urbana de Aracaju, colocou em um ponto de ônibus na Avenida Melício Machado,
uma faixa alertando a população e protestando contra os constantes assaltos que ocorre na
região (Figura 62).
31G1. SERGIPE. Faixa colocada no ponto ônibus na Zona de Expansão de Aracaju. Disponível em:
<http://g1.globo.com/se/sergipe/noticia/2014/12/faixa-e-colocada-em-abrigo-de-onibus-avisando-que-local-e-
ponto-de-assalto.html> Acesso em: 26 fev. 2020.
112
aproximadamente 71% dos entrevistados têm uma percepção que a Prefeitura não vem
realizados projetos a fim de solucionar os problemas da região.
com transporte público acessível e eficiente, saúde, educação e lazer de qualidade” (Gráfico
8).
Isso demonstra que, embora a população são saiba a definição exata do conceito
direito à cidade, eles compreendem que a cidade ideal para reprodução da qualidade de vida
humana, é aquela onde os serviços (saúde, educação, lazer, transporte) são acessíveis a
todos, independentemente de sua condição financeira.
Neste tópico serão descritas algumas das conquistas advindas pela atuação das
Associações de Moradores, a partir do relato dos presidentes e membros dessas entidades.
As AMs são indispensáveis na luta pelos direitos urbanos em uma região cada vez mais
abandonada pelo Poder Público. Em cada parte da ZEU, existe uma AMs com atuação firme,
fiscalizando e cobrando aos Órgãos Públicos melhoria para a comunidade que representa.
Sendo assim, sem a atuação delas, os problemas dificilmente seriam solucionados:
É importante a existência de uma instituição de classe no bairro, porque todas
às demandas que estavam faltando no bairro, se não tivesse uma instituição
com documentos, com abaixo-assinados, reconhecida como utilidade
pública, tudo isso aí, as demandas podem vir, mas vai demorar, faz de conta
que não existe uma comunidade sem uma associação (ENTREVISTADO).
Segundo Silveira (1998), a motivação para a criação de uma AMs está quase sempre
relacionada a carência de equipamento e serviços urbanos para a reprodução social, e essa
115
motivação para sua criação, que faz com que os moradores de uma mesma comunidade se
mobilizem e se organizem em torno desse projeto social.
Dessa forma, as demandas reivindicadas pelas AMs, foram divididas em: demandas
pontuais e demandas estruturantes. As demandas pontuais são aquelas que são
reivindicadas por meio de ofícios e/ou abaixo-assinados, onde já existe uma estrutura, só é
preciso melhorar o cumprimento desses direitos, enquanto as demandas estruturantes,
cobram dos Órgãos Públicos a criação de infraestrutura para servir a população de maneira
definitiva e mais satisfatória, onda maioria das vezes, necessitam de intervenção jurídica pra
disponibiliza-los. Dito isso, as demandas na Zona de Expansão Urbana de Aracaju,
apresentam-se da seguinte forma (Quadro 3):
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados obtidos no questionário, 2020
Atendendo aos pedidos das AMs da ZEU, a Prefeitura de Aracaju, junto com EMSURB,
vem realizando alguns serviços de limpeza, como podagem, varrição, capinagem,
recolhimento de lixo e entulho e pintura de meio-fio. Além disso, também vem realizando ação
de fiscalização nos terrenos baldios, como medida protetiva para os casos de dengue e outros
tipos de doenças (Figura 65 e 66).
Transporte Público
A Prefeitura ao lado da SMTT, vem tentando atender à solicitação das AMs, através
da ampliação ao atendimento à população. A alteração mais recente, ocorrida em 2020, duas
novas linhas foram criadas, causando a alterações em três já existentes e fazendo o trajeto
no Loteamento Aruana de forma mais rápida e direta (Figura 72).
119
Outro problema que a população residente na ZEU sofre diariamente, está relacionado
a deficiência do serviço de iluminação pública em algumas localidades, problema esse que já
perdura há bastante tempo:
Atualmente nós temos muitas ruas às escuras. Às vezes a prefeitura vê, mas
faz vistas grossas. Pedidos nós já temos, por via ofício, para colocar postes,
braços com lâmpadas, porque 18% tem só os postes, não tem as luminárias.
Então nós já reivindicamos isso (ENTREVISTADO).
A reclamação dos moradores parte dos constantes assaltos que ocorrem na região,
devido à falta de iluminação nas ruas, vias, e praças públicas. Dessa forma, as associações
de Moradores e o COMBAZE, insatisfeitos com o serviço prestado, solicitaram ao MPE a
resolução deste problema. Em 2014, o MPE ajuizou uma Ação Civil Pública, com pedido
liminar, contra o município de Aracaju e a EMURB, para corrigir os problemas de iluminação
que atinge toda a região (Figura 73).
33 INFONET. Reportagem sobre criação de novas linhas de ônibus na ZEU. Disponível em: <
https://infonet.com.br/noticias/cidade/prefeitura-cria-duas-novas-linhas-de-onibus-para-a-zona-de-expansao/>.
Acesso em: 3 de mar. 2020
34 G1.SE. Disponível em: < http://g1.globo.com/se/sergipe/noticia/2015/07/linha-de-onibus-aeroporto-bairro-
Ações Ambientais
35 A8SE. PMA condenada a executar serviços de iluminação pública. Disponível em: <
https://a8se.com/sergipe/noticia/2017/12/130396-justica-condena-a-pma-a-prestar-servico-de-iluminacao-na-
zona-de-expansao.html>. Acesso em: 04 mar. 2020
121
Eu como morador daqui, nunca pensei que aqui no nosso estuário, tinha tanto
lixo como eu vi. Eu estou desde início no projeto, como voluntário. De quatro
anos pra cá, a gente já tirou quase 5 mil toneladas, vai desde solado de
sapato, chinelo, bota, pneu de carro, pneu de caminhão, geladeira, freezer,
caixa d’água (ENTREVISTADO).
Em dias oficiais, partem dezenas de voluntários, em várias canoas (Figura 72). Eles
recolhem o lixo das margens do rio e/ou presos ao mangue, e assim acabam criando uma
cultura de preservação em seus participantes:
Mesmo não sendo um dia oficial do projeto, você acaba se envolvendo para
sempre, porque toda vez que eu vou pescar, quando vejo uma garrafinha, um
negócio, recolho e coloco no barco, porque quando chego em casa, coloco
num túnel (lixo). Daí dentro de você, acaba criando essa mania, esse negócio,
e também proteger o rio (ENTREVISTADO).
A grande quantidade de lixo serve para mostrar e conscientizar toda população sobre
a importância de se preservar meio ambiente (Figura 75).
A partir dessa situação extrema, a união dos moradores e das lideranças comunitárias,
junto ao Ministério Público Federal, foi essencial na luta por seus direitos. A atuação da Justiça
Federal foi determinante para o desfecho positivo ao caso, priorizando o benefício dos
moradores. O Governo Federal também entendeu que precisava intervir na região, para que
aquela população não sofresse tanto.
Ainda em 2009, houve uma ação civil pública determinando suspensão de novas obras
para a Zona de Expansão até que os problemas da macrodrenagem e esgotamento sanitário
fossem resolvidos. Em 2019, 10 anos depois, saiu a sentença, um relatório complexo,
contendo quase 800 páginas, consolidando o pedido das Associações de Moradores, e
reconhecendo que não era nada mais que o justo e necessário (Figura 76).
Por conta dessa decisão judicial, antes de qualquer intervenção, é necessário primeiro
obras de esgotamento sanitário e drenagem pluvial no restante da ZEU. Dessa forma, a
Administração Pública vem realizando apenas obras paliativas de calçamento das ruas, onde
são reutilizados de formas sustentável o asfalto fresado (reciclado) de outras áreas da cidade
(Figura 77).
Em 2014 nós entramos como uma ação no Ministério Público, que ainda está
rolando, pelo anel viário, mais aí vieram com o asfalto reciclado, já ajuda, não
é um asfalto que deveria ser colocado nessa região, e ainda mais, era pra
vim com a drenagem das chuvas, porque hoje a Zona de Expansão ela
cresceu, está se expandindo de uma maneira que a Prefeitura em si parece
que não está dando conta da situação. Então se você coloca só asfalto, sem
colocar uma drenagem, você acaba alagando os terrenos que tem. Lugares
que tem sítios, a água escorre, mas hoje poucos sítios existem. Por isso, só
o asfalto não adianta, não é o suficiente. A pavimentação tem que vim como
saneamento básico, com drenagem, o esgotamento sanitário. É um complexo
de coisas, não é só o asfalto, porque a agente acaba vendo, como já vê, umas
casas alagadas em algumas regiões mais baixas, devido a falta do
escoamento das águas (ENTREVISTADO).
Moradia Popular
37 INFONET. Ordem para construção das mil e cem moradias populares. Disponível em:
<https://infonet.com.br/noticias/cidade/residencial-das-mangabeiras-deve-ser-construido-em-ate-dois-anos/>.
Acesso em: 04 mar. 2020.
125
38 MINUTOSERGIPE. Reunião da FAZE discutindo o empasse judicial da ZEU. Disponível em: <
https://minutosergipe.com.br/?p=2158>. Acesso em: 05 mar. 2020
126
Assim, conclui-se que a luta das associações de moradores por reivindicações, mesmo
que pontuais, ou seja, aquelas que buscam a solução das necessidades mais imediatas,
possui uma importante relevância na busca pelo direito à cidade. Na ZEU, observa-se que,
embora estejam voltados ao contexto local, as ações reivindicatórias das associações de
moradores estão fundamentadas em atos coletivos que lutam por interesses comuns. Esses
interesses são responsáveis por beneficiar, não só os moradores que participam da
associação, mas toda a comunidade.
39 F5NEWS. Reivindicação dos moradores pela criação de delegacia na ZEU. Disponível em: <
https://www.f5news.com.br/cotidiano/moradores-pedem-criacao-de-delegacia-metropolitana-na-zona-de-
expansao_15975/>. Acesso em: 05 mar. 2020
127
fala de alguns de seus membros: “não tenho dúvidas que as associações, mesmo com todas
as dificuldades, (...) elas são fundamentais para que a Zona de Expansão possa conseguir
melhorias para sua população” (ENTREVISTADO).
A falta da solução do Poder Público as reivindicações mais estruturantes, fez com que
o MPF intermediasse no caso da Zona de Expansão Urbana de Aracaju. Nos últimos anos,
ocorreu assinaturas de várias Ações Civis Públicas e/ou Termos de Ajuste de Conduta,
obrigando os Órgãos Públicos a responder por todos os danos ambientais ocasionados pela
implantação dos empreendimentos imobiliários e ofertar serviços e infraestrutura decentes
para todos os moradores da região.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificou-se que o direito à cidade, desde sua concepção original, cunhada por
Lefebvre (2008) ou em seu contemporâneo David Harvey (2014), serve a todos,
independentemente de sua condição socioeconômica. O direito à cidade está relacionado à
capacidade de superar as relações sociais formadas no sistema capitalista, onde o espaço
urbano transforma-se em mercadoria, e propõe sua substituição por relações que privilegie a
cidade como um local de encontro e coexistência.
Observou-se também que ambos vão se opor aos chamados “projetos urbanísticos
estruturantes”, pois buscam apenas a reprodução do capital no espaço urbano. Esse novo
processo possibilitou a segregação das classes sociais e dividindo a cidade entre aqueles que
têm condições de morar no centro, onde em tese os serviços e a infraestrutura são mais
acessíveis, enquanto a população mais carente, são forçadas a ocuparem os espaços mais
desvalorizados, em precárias condições de vida, e assim, destituídos do direito à cidade.
Observou-se que, nos últimos anos, o legado do direito à cidade desenvolvido por
Lefebvre (2008) e Harvey (2014), tem voltado à tona novamente, agora atualizado e
aperfeiçoado às necessidades de nossa época, quando aliado à atuação dos movimentos
sociais urbanos. O conceito está sendo apropriado por esses movimentos, conferindo-lhe
129
dupla função, a primeira que é reivindicar direitos sociais, como moradia digna, melhores
condições no transporte público, saúde, segurança, etc., e a segunda que é afirmar a
cidadania por meio da luta democrática.
Segundo França (2011), a ZEU se destaca pela atuação de alguns movimentos, como
a Associação Desportiva, Cultural e Ambiental do Robalo (ADCAR), Associação de Donos de
Bares e Moradores da Praia de Aruanda (ADBAMA), Associação dos Moradores do Aruanda
(AMAR) e o Conselho das Associações dos Bairros Aeroporto e Zona de Expansão de Aracaju
(COMBAZE).
durante o levantamento, apenas quatro delas possuíam requisitos legais para existência
formal. A principal dificuldade está relacionada, sobretudo por não terem condições
financeiras para arcar com os altos custos cartoriais. Essa irregularidade, embora não impeça
de representar suas respectivas comunidades frente ao Poder Público, encontra-se
adversidade quando a formalidade jurídica é solicitada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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agenda urbana – Habitat III. Revista de Direito da Cidade, Rio de Janeiro, v. 9, n. 3, p. 1214-
1246, 2017. Disponível em:< https://www.e-
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APÊNDICE I
APÊNDICE II
APÊNDICE III
APÊNDICE IV
APÊNDICE V
Declaro que, por meio deste termo, que concordei em participar, como voluntário, da pesquisa
de Trabalho de Conclusão de Curso intitulado: UMA TRAJETÓRIA DE LUTA PELO DIREITO
À CIDADE: ZONA DE EXPANSÃO OU ZONA DE EXCLUSÃO? , do aluno Nathan Ferreira
Barreto, matrícula_______________ , do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal de Sergipe/Campus Laranjeiras, orientado pela professora Dra. Sarah Lúcia Alves
França.
______________________________________________________
Assinatura do participante
______________________________________________________
Assinatura do pesquisador