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CRIME, OPORTUNIDADE

E VITIMIZAÇÃO

Cláudio Beato F.
Betânia Totino Peixoto
Mônica Viegas Andrade

Introdução de crimes recai nos vários fatores que afetam a es-


colha por parte dos indivíduos, como predisposi-
Tema ainda inexplorado na literatura sobre ções pessoais, forças socializantes da família, dos
crime e violência no Brasil, o ambiente de opor- pares e da escola, reforços proporcionados pela
tunidades para a ocorrência de delitos tem reve- comunidade e, ainda,arranjos institucionais de di-
lado uma notável capacidade explicativa na litera- versas naturezas. Do ponto de vista da formulação
tura criminológica internacional. A dinâmica de de políticas públicas, esse tipo de resultado pode
fatores ambientais na distribuição de crimes em ser irrelevante, uma vez que aponta para fatores
espaços urbanos tem sido cada vez mais utilizada que não estão sob o controle do Estado ou onde a
para a discussão dos componentes racionais da intervenção estatal pode não ser desejável. Outros
atividade criminosa, assim como para o desenvol- fatores estão num plano no qual o Estado tem mui-
to pouco a fazer (Wilson, 1983). Não se pode obri-
vimento de estratégias de prevenção situacional
gar os pais a amarem os filhos, comunidades a su-
(Newman et al., 1997; Clarke, 1997; Clarke e Fel-
pervisionarem seus adolescentes ou proibir jovens
son, 1993).
de desenvolverem certas atividades e comporta-
No contexto brasileiro, isso é uma inovação
mentos de risco.
conceitual e teórica. Na perspectiva criminológica
Existem algumas vantagens em conceber cri-
tradicional, a ênfase na explicação da distribuição
mes não como resultado de disposições sociológi-
cas e psicologicamente determinadas, mas de de-
Artigo recebido em setembro/2003 cisões e escolhas individuais. Dos determinantes
Aprovado em março/2004 sociais do comportamento de criminosos, partimos

RBCS Vol. 19 nº. 55 junho/2004


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para a análise de crimes e das condições em que ambiental” (Jeffery, 1971). A idéia de espaço defen-
eles ocorrem. O que se pretende é descobrir os sivo relaciona-se a soluções arquitetônicas de recu-
processos de tomadas de decisão por parte dos cri- peração de moradias públicas nos Estados Unidos,
minosos. Quais são os mecanismos cognitivos em obrigando seus moradores a exercer seus naturais
ação? Como eles justificam suas condutas? Quais in- instintos de “territorialidade”. Este instinto é perdi-
formações são relevantes para a ação criminosa? do quando se constroem grandes prédios de habi-
(Clarke e Cornish, 1985). tação coletiva, em que os moradores mal se conhe-
cem, e onde existe uma variedade enorme de
acessos não supervisionados que facilitam a ativi-
Contexto teórico da discussão dade de predadores. A idéia é reduzir esse anoni-
mato não apenas pelo incremento da vigilância na-
O impacto das teorias ecológicas dos anos de tural, mas também diminuindo as vias de escape
1930 e 1940 sobre a teoria das oportunidades tem para potenciais ofensores.
sido ressaltado pelos modernos comentaristas da Outra estratégia é denominada Teoria das
teoria criminológica (Bursick e Grasmick, 1993). Abordagens de Atividades Rotineiras (Cohen e Fel-
Desde então, a teoria social se preocupa com as- son, 1979), que busca explicar a evolução das taxas
pectos de natureza ecológica e ambiental na deter- de crime não por meio das características dos crimi-
minação de fenômenos sociais tais como o da cri- nosos, mas das circunstâncias em que os crimes
minalidade (Park e Burguess, 1924; Hawley, 1944; ocorrem. Para que um ato predatório ocorra é ne-
Shaw e MacKay, 1942). A mútua dependência en- cessário que haja uma convergência no tempo e no
tre grupos funcionalmente distintos que formam espaço de três elementos: ofensor motivado, que
relacionamentos simbióticos, assim como as de- por alguma razão esteja predisposto a cometer um
mandas sobre o ambiente que marcam organiza- crime; alvo disponível, objeto ou pessoa que possa
ções comensalistas, fornecem as bases para a ser atacado; e ausência de guardiões, que são ca-
compreensão da interação entre predadores e víti- pazes de prevenir violações.
mas no mercado de atividades criminosas. Nas pa- Trata-se de um modelo bastante econômico
lavras de Felson: no que diz respeito aos elementos utilizados. Con-
tudo, a própria definição desses elementos guarda
Um novo padrão de criminalidade surge com o muitas sutilezas. Embora esteja se tratando de uma
crescimento das cidades, com ofensores predató- abordagem preocupada com as características am-
rios ocultos na multidão, que atacam e, então, se bientais nas quais ocorrem os crimes predatórios,
escondem novamente para não serem presos.
ela ainda mantém algumas ressonâncias na crimi-
Vendas ilegais e consumo, assim como brigas po-
nologia mais tradicional ao enfatizar a motivação
dem sobreviver mais facilmente dentro de um
ambiente urbano (1994, p. 49). dos ofensores como um dos elementos centrais. A
origem dessa motivação, entretanto, é deixada em
Jacobs (1961) destacava os ecossistemas ur- aberto. O segundo aspecto é que a ação predatória
banos compostos por processos físicos, econômi- dirige-se a “alvos”, ou seja, pessoas ou objetos em
cos e éticos, em que a diversidade e a interdepen- dada posição no tempo e no espaço. Isto termina
dência cumpririam a função de revitalização e por retirar o aspecto moral que a palavra vítima car-
controle. O problema da segurança nas grandes ci- rega consigo: um alvo define-se como coisas que
dades estaria diretamente relacionado ao enfraque- tem algum valor, além de algumas propriedades
cimento dos mecanismos habituais de controle que o tornam adequado à ação predatória:
exercidos naturalmente pelas pessoas que vivem
[...] adequabilidade provavelmente reflete tais coi-
nos espaços urbanos. A partir daí, perspectivas de sas como valor (o desejo material ou simbólica de
intervenção ambiental passaram a incorporar con- uma propriedade pessoa ou propriedade para os
ceitos como o de “espaço defensivo” (Newman, ofensores), visibilidade física, acesso e a inércia
1972) ou de “prevenção de crime através do design de um alvo para o tratamento ilegal pelos ofenso-
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res incluindo o tamanho, peso, portabilidade ou divíduos influencia suas probabilidades de vitimi-
características de trancamento da propriedade que zação (Hindelang, 1978). As diferenças de “estilos
inibem sua remoção e a capacidade das vítimas de vida” afetam o montante de tempo alocado a
pessoais a resistirem aos ataques com ou sem ar-
cada uma dessas atividades e, conseqüentemente,
mas (Cohen e Felson, 1979, p. 591).
a exposições a situações de risco de vitimização.
Neste artigo trataremos especificamente da
Finalmente, os guardiões não se referem ape-
teoria das oportunidades avaliada a partir de da-
nas às organizações do sistema de justiça criminal,
dos de pesquisa de vitimização realizada em Belo
tal como concebido pela criminologia mais tradi-
Horizonte (Crisp, 2002). A utilização desse tipo de
cional. Isso significa que os mecanismos de contro-
dados tem algumas implicações que merecem ser
le social informais são igualmente críticos na ocor-
ressaltadas. Em primeiro lugar, salienta-se que as
rência de delitos. Nas palavras de Clarke e Felson:
taxas de vitimização são distintas nos diferentes
grupos e segmentos sociais. Isso significa que não
Realmente, as pessoas mais aptas para prevenir
crimes não são os policiais (que raramente estão nos deteremos em elementos mais locais e de vi-
por perto para descobrir os crimes no ato), mas zinhança em que as vitimizações ocorrem (Bursick
antes os vizinhos, os amigos, os parentes, os tran- e Grasmick, 1993), embora o questionário utiliza-
seuntes ou o proprietário do objeto visado. Note do nos permita fazer avaliações de alguns fatores
que a ausência de um guardião adequado é cru- físicos e ambientais que colaboram para as ocor-
cial. Definir um elemento-chave como ausência rências. Em particular, observaremos a influência
antes do que presença é claramente um princípio de variáveis de desordem e incivilidade (Kelling e
fundamental na despersonalização e na despsico-
Colles, 1996). Na verdade, a plena investigação de
logização no estudo do crime. Certos tipos de pes-
soas são mais prováveis de estar ausentes do que fatores de ordem ecológica nos levaria ao desen-
outras, mas o fato de uma ausência ser enfatizada volvimento de uma “ecometria”, em que instru-
é mais um lembrete de que o movimento das en- mentos específicos poderiam ser desenvolvidos
tidades físicas no tempo e no espaço é central para avaliar processos físicos e ambientais, assim
para esta abordagem (Clarke e Felson, 1993, p. 3). como processos de supervisão e controle que con-
tribuem para a incidência de crimes (Sampson e
Cohen e Felson mostram como característi- Radenbush, 1997).
cas – local de residência dos ofensores e das víti- Em segundo lugar, não trataremos de “crime”
mas, relacionamento entre ofensores e vítimas, lo- de uma maneira genérica, mas das condições de
cal dos contactos, idade das vítimas ou o número incidência de determinados tipos de crime. A de-
de adultos em uma casa e horário de ocorrência, nominação “crime” implica fenômenos muito dis-
entre outras – estão relacionadas à incidência de tintos: “roubar uma revista em quadrinhos, esmur-
crimes. Assim, o aumento de arrombamentos resi- rar um colega, sonegar impostos, assassinar a
denciais liga-se a mudanças na estrutura de em- esposa, roubar um banco, corromper políticos, se-
pregos na sociedade norte-americana, de tal ma- qüestrar aviões – esses e inumeráveis outros atos
neira que um número maior de pessoas (incluindo são crimes” (Wilson e Herrenstein, 1985, p. 21). Ex-
mulheres) abandona os lares, deixando-os à mer- ploraremos aqui especificamente os correlatos de
cê das atividades predatórias. crimes, como furto, roubo e agressão, efetivados
A idéia um tanto óbvia de que ofensores e ví- ou não.
timas devem convergir no tempo e no espaço deu Uma abordagem da criminalidade toma a ví-
origem a estudos que visam a identificar as dinâmi- tima como objeto de estudo, buscando investigar
cas pelas quais os indivíduos proporcionam opor- como o estilo de vida do indivíduo e as oportuni-
tunidades para vitimização. Esse tipo de aborda- dades geradas por ele influenciam a probabilida-
gem usa dados de pesquisas de vitimização para de de vitimização. Esse enfoque é baseado nas
compreender as diversas maneiras pelas quais a teorias de “estilo de vida” (life-style models) e
alocação de atividades de trabalho e lazer pelos in- “oportunidades” (opportunity models), utilizadas
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em estudos de vitimização, como, por exemplo, Isso acontece porque a influência de cada fator na
de Cohen, Kluegel e Land (1981). Fatores que determinação do crime é diferente, dependendo
mais influenciam o risco de vitimização dos indi- do tipo de delito. Por exemplo, no caso de homi-
víduos são: exposição, proximidade da vítima ao cídios em Belo Horizonte a proximidade geográ-
agressor, capacidade de proteção, atrativos das ví- fica entre a vítima e o agressor é um fator crucial
timas e natureza dos delitos. A exposição é defi- (Beato, 2003).
nida pela quantidade de tempo que os indivíduos Este artigo baseia-se nos modelos de estilo
freqüentam locais públicos, estabelecendo conta- vida e de oportunidades, por meio dos quais pro-
tos e interações sociais. O estilo de vida de cada curamos descrever o perfil da vítima de crimes no
indivíduo determina em que intensidade os de- município de Belo Horizonte, ou seja, suas carac-
mais fatores estão presentes na sua vida. Assim, terísticas, condição socioeconômica, hábitos, ca-
determina em que medida os indivíduos se ex- racterísticas familiares e características dos locais
põem ao freqüentar lugares públicos, qual a sua onde vivem. A pesquisa foi realizada com base no
capacidade de proteção, seus atrativos e a proxi- cálculo da probabilidade de vitimização, de acor-
midade com os agressores. do com as características do indivíduo.
A proximidade da vítima ao agressor diz res-
peito à freqüência de contatos sociais estabeleci-
da entre ambos, o que depende do local de resi- Metodologia
dência, das características socioeconômicas e dos
atributos de idade e sexo, assim como da proxi- a. Dados
midade de interesses culturais. Indivíduos com a Os dados utilizados neste trabalho provêm
mesma idade costumam freqüentar os mesmos da Pesquisa de Vitimização realizada pelo Centro
ambientes nas atividades de lazer. de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública
A capacidade de proteção está relacionada ao (Crisp), entre fevereiro e março de 2002. Esse tipo
estilo de vida das vítimas. Indivíduos que têm maior de pesquisa contém informações sobre os aconte-
capacidade de se resguardar, evitando contato com cimentos criminais sofridos pelos indivíduos, so-
possíveis agressores, têm menor probabilidade de bre a quantidade e o tipo de perda incorrida e as
serem vitimados. Por exemplo, indivíduos que an- características dos criminosos. Além disso, englo-
dam de carro em vez de ônibus têm maior capaci- ba informações sobre as características socioeco-
dade de proteção porque diminuem a possibilida- nômicas, os hábitos e as características de resi-
de de contato com os agressores. Do mesmo modo, dência e vizinhança dos indivíduos.
aqueles que contratam segurança privada dimi- A pesquisa de vitimização realizada em Belo
nuem a probabilidade de serem vítimas de crime. Horizonte considera as seguintes categorias de
As vítimas tornam-se ainda mais atrativas crime: furtos (ato de apropriação de bens alheios
quando oferecem menor possibilidade de resis- sem que a vítima perceba a apropriação na hora
tência ou proporcionam maior retorno esperado da efetivação do ato); roubos (ato de apropriação
do crime. Os indivíduos que oferecem menor de bens alheios em que a vítima percebe a apro-
possibilidade de resistência, provavelmente, rea- priação na hora da efetivação do ato); tentativa de
gem com pouca intensidade, o que representa roubo (quando o indivíduo é vítima de roubo,
menor risco de aprisionamento para o agressor. mas consegue evitar a consumação do mesmo);
Aqueles que proporcionam maior retorno espera- roubo em residência (ato de apropriação de bens
do do crime têm maior probabilidade de serem alheios que estejam dentro da residência da víti-
vitimados, uma vez que, por um mesmo risco de ma, estando ela presente ou não); tentativa de
aprisionamento, o criminoso pode ganhar mais. roubo em residência (quando o indivíduo é víti-
A natureza do delito é importante para de- ma de roubo na residência em que, por algum
terminar em que proporção cada fator exposto motivo, não consegue ser efetivado); agressão
acima influencia a probabilidade de vitimização. (ato de ferir outrem com ou sem uso de armas);
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tentativa de agressão (quando o indivíduo é víti- Foram consideradas independentes as variá-


ma de agressão, mas não é ferido).1 veis de características dos indivíduos, de caracte-
O objetivo deste trabalho é, portanto, identi- rísticas da residência e da vizinhança, dos hábitos
pessoais, e para o Modelo de roubo em residên-
ficar, por intermédio da estimação de modelos eco-
cia, as variáveis de equipamentos de segurança
nométricos, o perfil das vitimas no município de
das residências.
Belo Horizonte, no ano de 2002. A fim de avançar-
mos no entendimento da criminalidade, analisa- b. Variáveis de características pessoais
mos cada categoria de crime separadamente (furto, Sexo; cor; idade; estado civil; condição na ati-
roubo, roubo a mão armada e agressão). Em segui- vidade econômica;3 escolaridade; e renda familiar.
da, fizemos uma agregação, partindo de crimes de
menor periculosidade para os de maior periculosi- c. Variáveis de características da residência
Número de moradores da residência; e con-
dade, até que todos os crimes com motivação
dição da residência.
econômica (furto, roubo, roubo a mão armada)
estivessem agregados. Ao trabalharmos separada- d. Variáveis de característica da vizinhança
mente com cada tipo de crime, flexibilizamos a hi- Prédios abandonados – variável construída
pótese de que o perfil das vítimas de todos os cri- como dummy para a existência de prédios aban-
mes com motivação econômica seja o mesmo. Por donados na vizinhança; e tiro, variável dummy
exemplo, permitimos a diferenciação entre o per- para existência de barulho de tiro na vizinhança.
fil das vítimas de furto e de roubo a mão armada.
e. Variáveis dos hábitos pessoais
É nesse sentido também que consideramos as
Transporte público, variável dummy para o
combinações das tentativas e o crime efetivamen-
uso freqüente de transporte público; e horário
te sofrido com a hipótese de que as características que mais freqüenta/anda na rua – variável cons-
que influenciam a probabilidade de ser vitimado truída como dummy para identificar se o indiví-
sejam as mesmas que influenciam a probabilidade duo anda mais na rua de noite ou de dia.
de sofrer uma tentativa de vitimização.2
Os modelos serão estimados considerando f. Variáveis de segurança residencial
as categorias de agregação dos crimes apresenta- Este é um grupo de variáveis específicas do
Modelo de roubo em residência, as quais refletem
da na Tabela 1. A primeira coluna indica a nume-
o sistema de segurança existente. Seu efeito é am-
ração dos modelos e a segunda coluna indica o bíguo, pois pode ocorrer um problema de endo-
tipo de crime que será analisado, ou seja, a variá- geneidade, isto é, as residências possuem mais
vel dependente. equipamentos pelo fato de ter sofrido mais rou-
bos. Se esse problema não ocorrer, esperamos
Tabela 1 que residências com mais equipamentos de segu-
Tipos de Modelos rança tenham menor probabilidade de sofrer rou-
bo, pois a segurança aqui aumenta o risco de o
MODELO TIPO DE CRIME criminoso ser capturado. As variáveis são: presen-
Modelo 1 Furto ça de grades nas janelas; presença de tranca extra
Modelo 2 Roubo nas portas; olho mágico; interfone; existência de
Modelo 3 Roubo e/ou tentativa de roubo cão; alarme; câmera de vídeo; vigia desarmado ou
Modelo 4 Furto e/ou tentativa de roubo e/ou roubo porteiro; vigia armado; muro com caco de vidro;
Modelo 5 Agressão muro com cerca elétrica; muro com mais de 2 me-
Modelo 6 Agressão e/ou tentativa de agressão tros; muro com menos de 2 metros; existência
Modelo 7 Roubo em residência apenas de grade; e não possuir muro nem grade.
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Tabela 2
Número e Proporção das Vítimas de Crime
VARIÁVEIS DE CRIMES NÚMERO DE VÍTIMAS PROPORÇÃO DA
NA AMOSTRA AMOSTRA VITIMADA (%)
Total de crimes 876 22,40
Furto 545 13,92
Roubo 347 8,86
Tentativa de roubo 264 6,74
Roubo em residência 209 5,34
Tentativa de roubo em residência 217 5,54
Agressão 126 3,21
Tentativa de agressão 143 3,65
Roubo ou tentativa de roubo 543 13,87
Roubo ou tentativa de roubo ou furto 946 24,16
Tentativa de roubo em residência ou roubo em residência 395 10,09
Tentativa de agressão ou agressão 251 6,41

Fonte: Pesquisa de vitimização realizada pelo Crisp em fevereiro/março de 2001.

Método de estimação As demais variáveis são mostradas na Tabela


3, onde se relacionam com os delitos analisados.
A variável dependente assume valores zero A incidência de furto é maior entre as mulheres
ou um. Neste caso em específico, aplicamos os (14,6%), enquanto a incidência de roubo é maior
valores tendo como variáveis dependentes os cri- entre os homens (9,6% dos homens em contrapo-
mes apresentados na Tabela 1. Em todos os casos sição a 8,4% das mulheres). A cor parece ser fator
as respostas dos indivíduos são “sim, foi vítima do determinante quando se considera furto e roubo,
crime ou da tentativa do crime” ou “não foi víti- pois estes incidem em uma proporção maior em
ma do crime ou da tentativa do crime”. brancos, 15,1% e 10,5%, enquanto em não brancos
esta proporção cai para 12,9% e 7,3%, respectiva-
mente. No caso da agressão, esse quadro se inver-
Análise descritiva te – os não brancos são mais vitimados (4,1% dos
não brancos em contraposição a 2,4% dos bran-
A incidência de vitimas na amostra varia bas- cos). Esses resultados podem sugerir que talvez o
tante conforme o tipo de crime considerado. O fur- problema de exclusão social dos não brancos seja
to foi o crime de maior incidência (13,92% na amos- determinante da vitimização.
tra), seguido do roubo (8,86%), roubo em residência Com relação à idade, o grupo de 13 a 24
(5,34%) e agressão (3,21%). As tentativas de come- anos é o de maior incidência tanto de furto como
ter os crimes incidem quase sempre na mesma pro- de roubo. Isto pode estar acontecendo devido aos
porção que os mesmos. No total da amostra, 22,4% fatores “exposição”, “menor capacidade de prote-
dos indivíduos relataram ter sofrido algum tipo de ção” e “proximidade entre vítima e agressor”. In-
crime.4 Na Tabela 2 mostramos, além da incidência divíduos mais jovens em sua maioria são solteiros,
dos crimes considerados, as combinações das víti- freqüentam mais lugares públicos sem se preocu-
mas de crimes com as vítimas de tentativas dos mes- par muito com sua própria proteção. A proporção
mos, por acreditar que as características que levam de agredidos na amostra vai diminuindo à medi-
os indivíduos a serem vitimados e a sofrerem tenta- da que consideramos as faixas etárias mais eleva-
tivas de crimes são as mesmas. das, o que pode estar indicando a relação desse
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Tabela 3
Tipos de Crimes Versus Características das Vítimas

Fonte: Pesquisa de vitimização realizada pelo Crisp em fevereiro/março de 2002.


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tipo de crime com o fator exposição. Quanto ao tendem a passar menos tempo com suas famílias.
estado civil, a maior incidência de furto e roubo Talvez a agressão aconteça com mais freqüência
estão entre os indivíduos solteiros e os separados. entre os solteiros pelo mesmo motivo.
Por exemplo, no caso de furto, do total de soltei- Indivíduos que trabalham são vitimas prefe-
ros, 15,8% foram vitimados, e dos separados, renciais de todos os tipos de crime. No caso de
14,5%. Esses indivíduos estão mais expostos, pois roubo e furto, uma possível explicação é o fato de

Tabela 4
Roubo em Residência Versus Variáveis de Controle

Fonte: Pesquisa de vitimização realizada pelo Crisp em fevereiro/março de 2002.


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serem mais atrativos, pois proporcionam maior re- reflete a importância de fatores relacionados à de-
torno esperado do crime. No caso de agressão, a sordem e à ausência de controle e supervisão, que
explicação pode residir no fato de estarem mais caracterizariam a ausência de mecanismos de efi-
expostos, uma vez que transitam mais em locais cácia coletiva (Sampson e Raudenbush, 1997).
públicos, e manterem maior proximidade com pos- A incidência de roubos em residência não
síveis agressores, pois seu círculo social é maior. acontece de maneira regular nas demais variáveis,
Os furtos e os roubos incidem mais em indi- não permitindo especulações sobre as tendências
víduos com nível superior e nos três grupos de nesta área. Assim, foi feita uma análise em que se
renda familiar mais elevada, mostrando a impor- considerou as variáveis que retratam a segurança
tância do fator atratividade.5 Indivíduos com nível da residência. A Tabela 4 mostra que o roubo em
superior são mais bem educados e provavelmente residência para alguns tipos de equipamento de
auferem mais rendas do que os demais grupos de segurança ocorre com mais freqüência quando a
escolaridade. Indivíduos com altas rendas são mais residência não os possui e, para outros equipa-
atrativos, pois exibem um maior retorno esperado mentos, ocorre com mais freqüência quando a re-
do crime. Em contrapartida, a agressão incide mais sidência os possui. Isto pode estar retratando o
em indivíduos menos escolarizados e nos três me- fato de que muitas vezes os indivíduos adotam o
nores grupos de renda, indicando a importância da uso de equipamento de segurança após terem so-
capacidade de proteção e do efeito socializador da frido crimes.
educação. A utilização de medidas de autoproteção re-
ferem-se às percepções de riscos e ao medo da
Com relação aos hábitos, indivíduos que an-
população, o que gera um conjunto de medidas
dam de coletivo e sobretudo à noite apresentam
de natureza reativa ou pró-ativas em relação aos
maior incidência de todos os tipos de crime. Em
equipamentos de segurança. É interessante notar
coletivos os indivíduos têm menor capacidade de
na Tabela 4 como as medidas pró-ativas de segu-
proteção se comparados aos que circulam de car-
rança, características de prédios e condomínios re-
ro, uma vez que estes têm menos contato com
sidenciais, tais como porteiros, interfones e olhos
desconhecidos e, ao mesmo tempo, estão mais
mágicos, são as únicas que apresentam taxas me-
protegidos no interior de seus veículos. Além dis-
nores de vitimização. Medidas reativas traduzem
so, ao andarem de transporte público, os indiví-
os signos da insegurança e do medo, explorados
duos se expõem mais, aumentando as oportunida-
pela indústria de segurança privada e de tecnolo-
des de se tornarem vítimas. Os indivíduos que gias de proteção, e que resultam em sua maioria
andam mais a noite são vítimas preferenciais, tal- de experiências de vitimização anteriores.
vez porque apresentem menor risco de aprisiona-
mento para o criminoso dada a menor incidência
de testemunhas nas ruas nesse período. Análise dos Modelos
Quanto às características da residência e da
vizinhança, indivíduos que vivem em residências Na Tabela 5, reportamos o resultado para
invadidas têm maior probabilidade de sofrerem cada modelo estimado.6 O Modelo 1 tem como
agressão, furto e roubo em residência. Esse resul- variável independente o furto. No Modelo 2, a va-
tado reflete o fato de que desses indivíduos têm riável independente é o roubo, e no Modelo 3 é
baixa escolaridade, no caso da agressão, e pouca a acumulação do roubo e/ou tentativa de roubo.
capacidade de proteção, nos outros dois casos. A A junção de furto e/ou tentativa de roubo e/ou
pouca capacidade de proteção provém da não le- roubo é reportada no Modelo 4. A agressão é re-
gitimação do direito de propriedade. Com relação portada no Modelo 5 e, por fim, a combinação
ao barulho de tiros, indivíduos que moram em re- entre agressão e tentativa de agressão é reportada
giões onde isso ocorre sofrem com maior freqüên- no Modelo 6. Todos esses modelos foram estima-
cia todos os tipos de crimes considerados, o que dos com duas especificações diferentes, a primei-
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Tabela 5
Resultados das Estimações dos Modelos de Furto, Roubo e Agressão

Nota: Os asteriscos indicam o nível de significância: ***1%; **5%; *10%.


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ra que considera as faixas de renda como variável furto 2, esta probabilidade é de 27%). Tiros são si-
explicativa e a segunda que usa a variável condi- nais de desordem e desorganização social, já que
ção da residência como proxy de riqueza. Como revelam uma deficiência de eficácia coletiva, ou de
já explicitado anteriormente, essa proxy justifica- capacidade de controle e supervisão por parte dos
se pelo fato de normalmente os indivíduos sub- moradores de uma vizinhança, o que termina por
reportarem sua renda. se traduzir em maior desordem e criminalidade
(Sampson e Raudenbush, 1997). Indivíduos que re-
sidem em locais onde existem prédios abandona-
Modelo 1 dos têm probabilidade de vitimização 43% maior
dos não residentes nestes locais (no Modelo de fur-
O furto é definido como o ato de apropria- to 2, é 42% maior).
ção de bens alheios sem que a vítima o perceba No Modelo de furto 1, os grupos de renda
na hora da efetivação do mesmo, que pode ocor- não foram significativos. No Modelo de furto 2, a
rer na casa ou no trabalho da vítima. Os fatores variável “tipo de residência” foi significativa, de
“exposição” e “proximidade entre vítima e agres- forma que indivíduos residentes em casa própria
sor” foram de fundamental importância para a de- têm probabilidade 19% menor de ser vítimas do
terminação da probabilidade de vitimização. que indivíduos residentes em casa alugada. Este
O fator exposição foi confirmado pelo mo- resultado sugere que os criminosos, ao construir
delo. Quem usa freqüentemente transporte públi- suas expectativas sobre o retorno esperado do cri-
co tem probabilidade 39% maior do que os não me, não levam em conta a condição da residência
usuários (no Modelo de furto 2, esta probabilida- (muitas vezes desconhecida por eles), mas os lo-
de foi de 38%). Além disso, quem trabalha tem cais onde elas se encontram (bairros de classe alta,
probabilidade de ser vitimado 41% maior do que média ou baixa).
os não trabalhadores (no Modelo de furto 2, esta As demais variáveis não se mostraram signi-
probabilidade é de 37%). Ao andarem de coletivo ficativas apesar de o sinal da maioria ocorrer
e trabalharem os indivíduos estão mais expostos, como o esperado. Assim, homens apresentaram
pois freqüentam mais lugares públicos e têm mais menores probabilidades de serem vítimas de fur-
contato com pessoas desconhecidas. Trabalho to por causa de sua maior capacidade de reação.
significa ausência de casa e de vigilância sobre o A variável cor não foi significativa, como era es-
que ali ocorre. Cohen e Felson (1979) mostraram perado, sugerindo que ela não influi na probabi-
como mudanças na estrutura de trabalho da so- lidade de ser furtado; os casados e separados têm
ciedade norte-americana acarretaram um maior uma probabilidade menor de serem vítimas de
tempo de ausência das pessoas em suas residên- furto do que os solteiros, por estar menos expos-
cias, com o conseqüente aumento de arromba- tos em virtude de seu estilo de vida.
mento de casas.
A atratividade dos indivíduos na determina-
ção da probabilidade de vitimização foi também Modelo 2, Modelo 3 e Modelo 4
confirmada pelo resultado encontrado no Modelo
de furto 2, em que indivíduos com ensino supe- Nesta seção apresentamos os resultados dos
rior têm probabilidade de ser furtados 78% maior modelos de roubo, da acumulação “roubo com
dos que têm somente o ensino fundamental. No tentativas de roubo” e “vítimas de furto com as de
Modelo de furto 1, o coeficiente para esta variá- roubo e tentativa de roubo”. Como já menciona-
vel não se mostrou significativo apesar do seu si- do anteriormente, trabalhamos dessa forma para
nal confirmar o resultado já citado.7 flexibilizar a hipótese de que a probabilidade de
Indivíduos que escutam barulho de tiro perto vitimização dependa das mesmas características
da vizinhança têm probabilidade de vitimização em todos os tipos de crime. Por outro lado, esti-
26% maior dos que não escutam (no Modelo de mamos o modelo com a acumulação de todos os
84 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 19 Nº. 55

crimes, a fim de comparar os resultados com a li- lam dentro de automóveis, longe do contato com
teratura internacional, usualmente apresentados os criminosos ou, simplesmente, não circulam
em forma de crimes com motivação econômica. muito em lugares públicos, se protegendo em
O roubo é definido como ato de apropriação suas casas. Assim, os resultados encontrados para
de bens alheios em que a vítima percebe a apro- a variável “transporte público” confirmam tam-
priação na hora da efetivação do ato. A diferença bém a importância deste fator na determinação da
para a tentativa de roubo é que nesta o criminoso probabilidade de vitimização.
não consegue efetivar o ato de apropriação. Em A atratividade da vítima foi captada pela va-
ambos os casos, todos os quatro fatores que deter- riável de educação em todos os modelos. Por
minam a vitimização (exposição, capacidade de exemplo, no caso do Modelo de roubo 2, indiví-
proteção, atrativos e proximidade da vítima com o duos com segundo grau têm probabilidade de vi-
agressor) foram fundamentais para estabelecer sua timização 60% maior e, com nível superior, 104%
maior do que indivíduos com primário. Quanto
probabilidade, assim como a probabilidade de in-
maior a escolaridade, mais inserido o indivíduo
teração ofensor/vítima/vigilância, que é um aspec-
está no mercado de trabalho, maior o seu salário
to central na interação agente/vítima no tempo e
e, portanto, maior o retorno esperado do crime
no espaço.
para o criminoso. Esses resultados são similares
A exposição do indivíduo foi confirmada
aos encontrados na literatura internacional. No
como um importante componente na determina-
Modelo 4, a atratividade foi também confirmada
ção da probabilidade de vitimização nos três mo-
pela variável trabalho. Indivíduos que trabalham
delos, a partir da variável “transporte público”. No
têm probabilidade de vitimização 20% maior do
caso de roubo, os indivíduos que usam freqüen- que os não trabalhadores. Além de exibirem um
temente transporte público têm probabilidade retorno esperado maior para o criminoso, esses in-
30% maior dos que não usam (no Modelo de rou- divíduos circulam mais em lugares públicos, estan-
bo 2, em que a proxy de riqueza é usada no lu- do, então, mais expostos. Os mesmo resultados
gar dos grupos de renda, esta probabilidade é foram também encontrados para o Rio de Janeiro
37% maior). No caso do Modelo 3 e do Modelo 4, e São Paulo, por Araújo JR. & Fajnzylber (2001) e
esta probabilidade foi de 31% e 40%, respectiva- para a Região Metropolitana de Lima, por Eyza-
mente (em Tentativa de roubo 2 (Troubo2) e Fur- guirre e Puga (2001).
to, tentativa de roubo 2 (Ftroubo 2), a probabili- Os coeficientes das variáveis “existência de
dade foi de 35 e 43%, respectivamente). No caso prédios abandonados” e “barulho de tiros” indica-
do Modelo 4, revelou-se a importância do fator ram que indivíduos residentes nessas vizinhanças
“exposição”, pois o resultado indica que indiví- têm probabilidade de vitimização maior do que os
duos casados têm a probabilidade de vitimização não residentes. Por exemplo, para o Modelo ten-
19% menor do que solteiros. Nos demais mode- tativa de roubo 1, caso o indivíduo resida em vizi-
los, o coeficiente não se mostrou significativo, nhança que têm prédios abandonados, a probabi-
apesar de o resultado ir de encontro ao do Mode- lidade de vitimização é 54% maior, e, se residem
lo 4. Indivíduos casados passam mais tempo com em vizinhança onde se escuta barulho de tiro, a
suas famílias e, portanto, se expõem menos em probabilidade é 30% maior. Novamente aqui te-
lugares públicos e têm menos contato com desco- mos a importância dos fatores relacionados à de-
nhecidos do que indivíduos solteiros. Dessa for- sordem e à incivilidade (Kelling e Coles, 1996).
ma, estão menos expostos e têm probabilidade de Nos três modelos, quando usada a variável
vitimização menor. Resultados similares foram en- “proxy de riqueza”, a segregação racial se faz sentir
contrados para ambas as variáveis por Eyzaguirre pela maior probabilidade de os indivíduos brancos
e Puga (2001) na Região Metropolitana de Lima. serem vítimas dos crimes. Por exemplo, no caso do
Com relação à capacidade de proteção, indi- Modelo roubo 2, a probabilidade de vitimização
víduos que não usam transportes públicos exibem dos brancos é 29% maior do que os não brancos.
maior capacidade de se protegerem, pois circu- Esses resultados podem estar confirmando a hipó-
CRIME, OPORTUNIDADE E VITIMIZAÇÃO 85

tese de que indivíduos brancos têm mais acesso à Ainda em relação à exposição, indivíduos
educação, o que lhes aufere rendas mais elevadas, que trabalham têm probabilidade de ser vitimados
tornando-os mais atrativos do que os não brancos. por agressão maior do que os não trabalhadores.
Para o Modelo tagre 1, a probabilidade aumenta
em 42%. Nos demais modelos, esta variável não
Modelo 5 e Modelo 6 foi significativa, porém seu sinal corroborou o re-
sultado encontrado. Indivíduos que trabalham ten-
Um dos testes cruciais para a teoria das opor- dem não só a uma maior exposição, porque fre-
tunidades diz respeito aos conflitos interpessoais, qüentam mais lugares públicos, como também a
em que as motivações não são de natureza econô- estar mais próximos dos agressores, pois circulam
mica. Trata-se de conflitos de natureza expressiva por uma maior malha social. No Modelo agressão
que, entretanto, guardam as dimensões de um 1, a probabilidade de ser vitimado é 38% menor
comportamento racional. Oportunidades e intera- para indivíduos que circulam mais durante o dia,
ções espaço/tempo também parecem ser compo- uma vez que o estilo de vida de quem costuma
nentes importantes para esse tipo de delito. andar à noite é mais vulnerável à ação de preda-
Os modelos para agressão foram também es- dores. Dados de ocorrências policiais mostram um
timados utilizando ora grupos de renda, ora a padrão temporal muito claro, no qual os crimes in-
proxy de riqueza (condição na residência). Além terpessoais se concentram nos períodos noturnos
e nos finais de semana (Beato et al., 2002).
disso, foram estimados dois modelos para agres-
A capacidade de proteção pode ser avaliada
são, um que tem como variável dependente os in-
em termos de renda, no sentido de que indivíduos
divíduos que sofreram agressão (Modelo 5) e ou-
de maior renda conseguem se expor menos. O fato
tro, os indivíduos que sofreram agressão e/ou
de possuírem carro, por exemplo, diminui bastante
tentativa de agressão. Os resultados foram simila-
o contato com possíveis agressores. Além disso, se
res no sentido de que as características individuais
pensarmos no vínculo já comentado entre renda
que determinam a probabilidade de vitimização
elevada e maior nível de escolaridade, a probabili-
estão presentes em todos os modelos.
dade de ser vítima de agressão nesse caso é menor
Com relação ao fator exposição, indivíduos
em virtude do efeito “civilizador” da educação. No
mais velhos têm a probabilidade de sofrer agres-
Modelo 5, quem tem renda maior do que dezesseis
são menor do que os mais jovens. Por exemplo,
salários mínimos apresenta chance de ser vítima
o Modelo Tentativa de agressão 1 (Tagre 1) indi- 80% menor em comparação àqueles com renda
ca que indivíduos de 35 a 44 anos de idade têm menor do que um salário mínimo. No Modelo 6,
probabilidade de sofrer agressão 63% menor, e, apesar das variáveis não serem significativas, uma
entre indivíduos com 45 anos ou mais, esta pro- vez que consideramos os grupos de maior renda, a
babilidade é 79% menor do que entre indivíduos probabilidade de vitimização vai diminuindo. Se
de 13 a 18 anos de idade. Os mais velhos tendem considerarmos os modelos em que a proxy de ren-
a se expor menos, pois passam grande parte do da foi utilizada, temos que indivíduos que moram
seu tempo cuidando de suas famílias. em contra- em residências invadidas (mais pobres) têm proba-
partida, a tendência entre os mais jovens é uma bilidade de serem agredidos 276% maior do que in-
maior exposição – aumenta o consumo de álcool divíduos que residem em casas alugadas (Modelo
e a freqüência em lugares de vida noturna. Dessa 5). No Modelo 6, esta probabilidade passa para
forma, como grande parte das agressões estão re- 281%, enquanto indivíduos que moram em residên-
lacionadas à ingestão de álcool e a brigas entre cias próprias têm probabilidade de serem vitimados
gangues, os mais jovens têm maior probabilidade 28% menor em relação aos que pagam aluguel.
de sofrer esse tipo de crime. Esse mesmo resulta- As variáveis dos coeficientes que não foram
do também foi mostrado, por Eyzaguirre e Puga reportados na tabela foram excluídas do modelo
(2001), para a Região Metropolitana de Lima. por não apresentarem nem uma “falha” do evento.
86 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 19 Nº. 55

Conclusão escuta barulho de tiros. Para os crimes de agres-


são, a idade passa a ser relevante, ou seja, os jo-
Esta pesquisa estabeleceu um teste empírico a vens são vítimas mais prováveis desse tipo de cri-
uma teoria raramente utilizada no contexto brasilei- me. Além disso, a probabilidade de ser agredido
ro, o que acreditamos ser importante. Teorias de é maior quando se transita em lugares públicos à
oportunidade ainda não foram testadas no Brasil em noite ou se reside em locais onde se escuta baru-
virtude da ausência não só de dados que permitam lho de tiro, como já comentado.
esse tipo de análise, mas também de enfoques teó- Observamos também aspectos relacionados
ricos preocupados com o contexto de ocorrência de à influência de variáveis como “desordem” e “inci-
crimes. Outros estudos mostraram a importância da vilidade” (Kelling e Coles, 1996). Os coeficientes
análise de oportunidades no âmbito municipal (Bea- das variáveis “existência de prédios abandonados”
to, 2000). Assim, a estrutura urbana municipal seria e “barulho de tiros” indicaram a chance de ser ví-
um dos elementos da estrutura de oportunidades tima é maior para aqueles que residem nesse tipo
que levam à ocorrência de crimes. Os resultados são de vizinhança. Por exemplo, para o Modelo trou-
bastante relevantes, pois conseguem explicar as va- bo 1, caso o indivíduo resida em vizinhança que
riações regionais na distribuição de distintos tipos de possui prédios abandonados, a probabilidade de
crime. Este estudo, por sua vez, buscou realizar essa vitimização é 54% maior, e se reside em vizinhan-
modalidade de análise na esfera individual por meio ça onde se escuta barulho de tiro, a probabilidade
da utilização de informações oriundas de uma pes- é 30% maior.
quisa em torno da vitimização. Com relação à capacidade de proteção, indi-
As implicações disso para o desenvolvimen- víduos que não usam transportes públicos exibem
to de programas e projetos em políticas públicas maior capacidade de se protegerem, pois andam
são, a nosso ver, de extrema importância. Em pri- em seus carros longe do contato com os crimino-
meiro lugar, ressalta como as taxas de vitimização sos ou simplesmente não circulam muito em lu-
são distintas nos diferentes grupos e segmentos gares públicos se protegendo em suas casas.
sociais, o que mostra o quanto. Isso significa que Do ponto de vista teórico e conceitual, as teo-
estratégias focalizadas de ação devem ponderar rias de “estilo de vida” e “oportunidades” foram
resultados tais como os que foram expostos, a fim corroboradas pelos modelos, confirmando que a
de lograr um maior grau de efetividade. Com re- probabilidade de vitimização depende em grande
lação ao fator “exposição”, por exemplo, indiví- parte da exposição e da atratividade do indivíduo,
duos mais velhos têm probabilidade de sofrer além da capacidade de proteção e da proximidade
agressão menor do que os mais jovens – o Mode- entre vítima e agressor. Por outro lado, depende
lo Tagre1 indicou, como vimos, que entre 35 a 44 também da natureza do delito a ser considerado,
anos de idade a probabilidade de sofrer agressão indicando que vítimas de crimes com e sem moti-
é 63% menor, com 45 anos ou mais a probabili- vação econômica têm características e hábitos dife-
dade cai para 79% em relação à faixa etária de 13 rentes. Esse enfoque baseou-se nas teorias de “es-
a 18 anos. Para os crimes motivados economica- tilo de vida” (life-style models) e “oportunidades”
mente (furto, roubo e tentativa de roubo), os atri- (opportunity models), utilizadas em estudos de viti-
butos pessoais, exceto escolaridade e condição na mização, como o de Cohen, Kluegel e Land (1981).
atividade econômica, não são muito significativos. Reiterando, os fatores que mais influenciam o ris-
A probabilidade de vitimização está mais ligada co de vitimização são: exposição, proximidade da
aos hábitos e às características da vizinhança. As- vítima ao agressor, capacidade de proteção, atrati-
sim, pessoas que transitam em locais públicos, em vos das vítimas e natureza dos delitos. A exposição
horários de maior fluxo e à noite são vítimas mais é definida pelo tempo em que os indivíduos per-
prováveis de crimes motivados economicamente. manecem em locais públicos, estabelecendo conta-
O mesmo acontece se residem em locais onde tos e interações sociais. O estilo de vida determina
existem muitos prédios abandonados e onde se em que intensidade os demais fatores estão pre-
CRIME, OPORTUNIDADE E VITIMIZAÇÃO 87

sentes em sua vida. Assim, estabelece em que me- BIBLIOGRAFIA


dida os indivíduos se expõem ao freqüentar luga-
res públicos, qual a sua capacidade de proteção, ARAÚJO JR., Ari Francisco. & FAJNZYLBER, Pa-
seus atrativos e a proximidade com os agressores. blo. (2001), Violência e criminalidade.
Belo Horizonte, Cedeplar (mimeo.).

NOTAS BEATO F., Claudio C. (2000), “Determining factors


of criminality in Minas Gerais”. Brazi-
1 Essas informações referem-se às seguintes questões: lian Review of Social Sciences, 1: 159-
se o indivíduo foi vítima de furto ou não no último 173, São Paulo.
ano; se o indivíduo foi vítima de roubo ou não no
último ano; se o indivíduo foi vítima de tentativa de _________. (2003), “Programa de controle de ho-
roubo ou não no último ano; se o indivíduo foi víti- micídios”. Trabalho apresentado no se-
ma de roubo em sua residência ou não no último minário Preventing and Responding to
ano; se o indivíduo foi vítima de tentativa de roubo Urban Crime and Violence in the Latin
a residência ou não no último ano; se o indivíduo foi America and Caribbean Region: The
vítima de agressão ou não no último ano; se o indi-
Role of Municipal Governments and Lo-
víduo foi vítima de tentativa de agressão ou não no
último ano. cal Communities, Washington, DC,
World Bank, 30 abr.-1ºmaio.
2 Para comparar os resultados, podemos entender
como crimes com e sem motivação econômica os BEATO F., Cláudio C. et al. (2002), Atlas da crimi-
Modelos 4 e 6, respectivamente. nalidade em Belo Horizonte. Crisp/UFMG
3 A pesquisa de vitimização não tem uma definição (mimeo.).
rígida de desemprego; o indivíduo é quem define
BURSIK, Robert J. & GRASMICK, Harold G.
seu grupo.
(1993), Neighborhoods and crime. San
4 Carneiro e Fajnzylber (2001) mostraram que na Re- Francisco CA, Lexington Books.
gião Metropolitana do Rio de Janeiro entre o ano de
1995 e 1996 a incidência de vítimas na população CARNEIRO, L. P. & FAJNZYLBER, P. (2001), “La
foi de 21,9% e na Região Metropolitana de São Pau- criminalidad em regiones metropolita-
lo foi de 7,1%. Segundo Eyzaguirre e Puga (2001), nas de Rio de Janeiro y São Paulo: fac-
na Região Metropolitana de Lima, no Peru, 26% dos
tores determinantes de la victimación e
entrevistados foram vítimas de algum tipo de crime.
Na Região Metropolitana de El Salvador o número política pública”, in P. Fajnzylber; D. Le-
foi de 25,7%, como relatado por Cruz, Arguello e derman e N. Loayza (eds.), Crimen y
González (2001). violencia en América Latina, Bogo-
5 Os pesquisadores brasileiros já se detiveram exaus- tá/Washington, Alfaomega/Banco Mun-
tivamente na investigação acerca da relação entre dial, pp. 197-235.
educação e renda. É consenso na literatura econô-
CLARKE, Ronald (ed.). (1997), Situational crime
mica brasileira a correlação positiva entre esses dois
fatores. Lau et al. (1996) estimam que, com um ano prevention. Albany, NY, Harrow and
a mais de escolaridade, a força de trabalho no Bra- Heston, Publishers.
sil aumentaria em 20% a renda per capita.
CLARKE, Ronal & CORNISH, Derek. (1985), “Mo-
6 Não reportamos os resultados dos modelos para deling offenders, decisions: a frame-
roubo em residência, pois não apresentaram resul- work for research and policy”, in Mi-
tados satisfatórios.
chael Tonry e Norval Morris, Crime and
7 O fato de não ser significativo deve-se, talvez, à in- justice: an annual review of research,
clusão das faixas de renda no Modelo furto1. Chicago, The University of Chicago
Press, pp. 147-187.
88 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 19 Nº. 55

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CRIME, OPORTUNIDADE E VITIMIZAÇÃO 89

Anexo 1: O valor do efeito parcial depende das de-


especificação do modelo utilizado mais variáveis. Portanto, apresentamos os resulta-
dos na forma da razão entre os efeitos parciais.
O Modelo Logit (cf. Wooldridge, 2001) apre- Para variáveis contínuas xh e xj a razão do efeito
senta a seguinte especificação: parcial é constante e dada pela razão dos coefi-
cientes correspondentes:
(1)

onde: P representa a probabilidade de ocorrência


do evento de crime; X é a matriz das covariadas;
b é o vetor de coeficientes; e é uma função de Por exemplo, se a razão de chance estimada
densidade de probabilidade acumulada que assu- para uma variável contínua é igual a 0,7, isso im-
me valores entre zero e um. plica que a probabilidade de ser vitimado diminui
Estimamos o Modelo Logit com auxilio de em 30% quando aumentamos em uma unidade o
variável latente, onde: valor dessa variável.
No caso das variáveis explicativas binárias o
efeito parcial provém de mudanças de xk de zero
para um, mantendo todas as demais variáveis fi-
xas, sendo simplesmente:
onde: é independente de x e simétrica a zero.
Assim:

Observe-se que, novamente, o valor do efei-


to parcial depende das demais variáveis, portanto
Como no Modelo Logit, tem uma distribui- apresentamos os resultados na forma da razão de
ção logística padronizada: chances entre o grupo em questão e o grupo de
referência. Assim, quando o coeficiente da razão
de chance (OR) é maior que um significa que o
grupo em questão tem probabilidade de ser viti-
mado (OR - 1) vezes maior que o grupo de refe-
onde: X’ é a matriz de variáveis independentes rência. E quando a razão de chance (OR) é me-
transposta. nor que um significa que o grupo em questão tem
probabilidade (1 - OR) vezes menor que o grupo
Por meio de transformação exponencial ob- de referência. Por exemplo, se o coeficiente for
temos: igual a 1,50, isso significa que, nesse grupo, a pro-
babilidade de ser vitimado é 50% maior do que a
probabilidade do grupo de referência.
+e

Neste modelo, ␤ não mede o efeito marginal


de X sobre Y, ao contrário, mede o efeito parcial,
que no caso das variáveis explicativas contínuas*
é dado por:

* “Número de moradores” é a única variável contínua


presente nos modelos.
RESUMOS / ABSTRACTS / RÉSUMÉS

CRIME, OPORTUNIDADE CRIME, OPPORTUNITY, AND CRIME, OPPORTUNITÉ ET


E VITIMIZAÇÃO VICTIMIZATION VICTIMISATION

Cláudio Beato F., Betânia Totino Pei- Cláudio Beato F., Betânia Totino Pei- Cláudio Beato F., Betânia Totino Pei-
xoto e Mônica Viegas Andrade xoto and Mônica Viegas Andrade xoto et Mônica Viegas Andrade

Palavras-chaves Key words Mots-clés


Vitimização; Crime; Teoria das opor- Victimization; Crime; Opportunity Victimisation; Crime; Théorie des
tunidades; Estatísticas; Belo Hori- theory; Statistics; Belo Horizonte. opportunités; Statistiques; Belo Ho-
zonte. rizonte.
In this paper we investigate the profi-
Este trabalho tem como objetivo des- le of victims of property and personal Ce travail a pour but de décrire le
crever o perfil das vítimas de furto, crimes in the city of Belo Horizonte, profil des victimes de vol, de vol ag-
roubo e agressão física no município Brazil. The considered characteristics gravé et d’agressions physiques dans
de Belo Horizonte, considerando of the victims were the personal attri- la commune de Belo Horizonte, sui-
suas características, condição socioe- butes, socioeconomic conditions, vant leurs caractéristiques, leur con-
conômica, hábitos, características fa- daily habits, family aspects, and envi- dition socio-économique, leur mode
miliares e características dos locais ronment characteristics. The estima- de vie, leurs caractéristiques familia-
onde vivem. Utilizamos como méto- tion method used is the Logit Model, les et locales. Nous avons, pour cela,
do de investigação o modelo Logit, which estimates the victimization employé en tant que méthode d’in-
que permite calcular a probabilidade probability. For that we used indivi- vestigation, le modèle Logit, qui per-
de vitimização, utilizando dados indi- dual data of the Victimization Re- met de calculer la probabilité de vic-
viduais da Pesquisa de Vitimização, search realized by the Institute of Cri- timisation en utilisant des données
coordenada pelo Centro de Estudos minality and Public Security (Crisp) individuelles de la Recherche de Vic-
de Criminalidade e Segurança Públi- between February and March of timisation, cordonnée par le Centre
ca (Crisp), entre fevereiro e março de 2002. The results suggest that perso- d’Études et de Sécurité Publique
2002. Os resultados sugerem que nal attributes aren’t really important (Crisp), entre les mois de février et
para os crimes motivados economi- to explain the profile of victims of de mars 2002. Les résultats suggèrent
camente (furto, roubo e tentativa de property crimes. On the other hand, que, pour les crimes avec une moti-
roubo) os atributos pessoais, exceto for personal crimes, age is funda- vation économique (vol, vol aggravé
escolaridade e condição na atividade mental. Youngsters are more proba- et tentative de vol), les attributs per-
econômica, não são muito importan- ble of being victims of this kind of sonnels, excepté la scolarité et la
tes. Em contrapartida, para os crimes crime than older people. Furthermo- condition dans l’activité économi-
de agressão, a idade passa a ser rele- re, the probability of being aggressed que, ne sont pas très importants.
vante – indivíduos mais jovens são is higher if the subjects walk at night Néanmoins, pour les crimes d’agres-
vítimas mais prováveis desse tipo de in public ways or live in places whe- sion, l’âge devient important – les in-
crime. Além disso, a probabilidade re gunshot sound is heard. Environ- dividus plus jeunes sont les victimes
de ser agredido é maior se os indiví- mental characteristics and opportuni- les plus probables de ce genre de
duos transitam em lugares públicos à ties seem to be crucial for the crime. Par ailleurs, la probabilité
noite ou residem em locais onde se occurrence of these kinds of crimes. d’être agressé est plus importante si
escuta barulho de tiro. Características les individus circulent par des lieux
ambientais e de oportunidades pare- publics le soir ou résident dans des
cem ser mais decisivas para a ocor- endroits où l’on peut entendre le
rência desses tipos de crimes. bruit de tirs. Les caractéristiques en-
vironnementales et d’opportunités
deviennent plus décisives pour l’oc-
currence de ces types de crimes.

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