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Este livro se baseia tanto na abordagem neomarxista


quanto na foucaultiana do neoliberalismo, e também expan-
de ambas para saldar sua negligência mútua do aspecto
moral do projeto neoliberal. Não trata essas duas aborda-
gens como opostas ou redutíveis à compreensão materialista
versus ideacional do poder e da mudança histórica, mas as
emprega por apresentarem diferentes dimensões das trans-
formações neoliberais que têm ocorrido em todo o mundo nas
^últimas quatro décadas. A abordagem neomarxista tende a
se concentrar nas instituições, políticas, relações e efeitos
econômicos, negligenciando os efeitos de longo alcance do
DEMOCRACIA, IGUALDADE E O SOCIAL
neoliberalismo como forma de governar a razão política e a
produção de sujeitos. A abordagem foucaultiana enfoca os
A palavra "democracia" deriva de termos gregos antigos,
princípios que orientam, orquestram e relacionam o Estado,
demos (o povo) e kratos (poder ou governo). Em contraste
a sociedade e os sujeitos, e acima de tudo, o novo registro
com a oligarquia, monarquia, aristocracia, plutocracia,
de valor e valores do neoliberalismo, mas pouco atenta aos
tirania e governo colonial, democracia significa os arranjos
novos e espetaculares poderes do capital global que o neo-
políticos por meio dos quais um povo governa a si mesmo.
i^liberalismo anuncia e edifica. Aquela coloca o neoliberalis-
A igualdade política é a base da democracia. Todo o resto
mo como o que inaugura um novo capítulo do capitalismo e
é opcional - das constituições à liberdade pessoal, de deter-
gera novas forças, contradições e crises. Esta revela como
minadas formas econômicas às instituições políticas espe-
governos, sujeitos e subjetividades são transformados pela
cíficas. Somente a igualdade política assegura que a com-
remodelação neoliberal da razão liberal; considera o neolibe-
posição e o exercício do poder político sejam autorizados
ralismo como revelador de como o capitalismo não é singular
pelo todo e sejam de responsabilidade do todo. Quando a
e não segue sua própria lógica, mas é sempre organizado
igualdade política está ausente, seja por exclusões ou pri-
por formas de racionalidade política. Ambas as abordagens
vilégios políticos explícitos, pelas disparidades sociais ou
contribuem para a compreensão das características do neo-
econômicas extremas, pelo acesso desigual ou controlado
liberalismo realmente existente e de nossa atual conjuntu-
ao conhecimento, ou pela manipulação do sistema eleitoral,
ra. Dito isso, este livro está preocupado principalmente em
o poder será inevitavelmente exercido por e para uma parte,
repensar os elementos e efeitos da racionalidade neoliberal
em vez do todo. Q demos deixa de governar.
e em ampliar nossa compreensão dessa racionalidade para
contemplar seu ataque multifacetado à democracia e sua pro-
moção da moralidade tradicional em detrimento da justiça
social legislada. Há uma polêmica entre os intelectuais de hoje em torno do
significado de demos para os atenienses antigos. Cf., p. ex.,
Tosiah Ober, "The Original Meaning of Democracy" e a crítica
de Daniela Cammack a Ober em "The Dêmos in Dêmokratia .
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A importância da igualdade política para a democracia


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saber, a de que ele aja deliberadamente para reduzir as desi-


é a razão pela qual Rousseau insistiu que as diferenças de gualdades de poder entre os cidadãos. Só então é possível
poder em um povo democrata não devem "ser tão grandes se aproximar da igualdade política; só então a vida política
que possam ser exercidas como violência" e que ninguém poderia servir ao todo, ao invés de à elite.^ Para enfatizar seu
pode "ser tão rico que possa comprar outro nem tão pobre argumento sobre a paradoxal exigência democrática de que
que seja obrigado a se vender".^ O argumento de Rousseau os Estados construam a igualdade política, Wolin cita com
é que, mais do que uma questão de injustiça ou sofrimen- aprovação a crítica de Marx à Filosofia do Direito de Hegel:
to, a sistematização da violência ou da miséria coletiva leva "É evidente que todas as formas" do Estado moderno "tomam
ao fim da democracia. A importância da igualdade política a democracia como sua verdade, e por essa razão são falsas
para a democracia é a razão pela qual Alexis de Tocqueville na medida em que não são democracia".® Wolin assume que
identificou a emergência moderna da democracia como "uma
Marx quer dizer que a legitimidade do Estado moderno está
revolução na matéria da sociedade" - uma transformação
assentada na reivindicação do governar para o bem de toda
social que destruiu as posições hierárquicas, ou o que ele
a sociedade, para prover o bem comum, em vez de ser o ins-
chamou de "desigualdade de condições".^ A importância da
trumento das elites. Ele considera que Marx reconhece que
igualdade política para a democracia é também a razão pela
a democracia é "um tipo distinto de associação que visa o
qual os antigos democratas atenienses, mais sábios acerca
bem de todos" e que "depende das contribuições, sacrifícios
do tema do poder do que a maioria dos modernos, identifica-
e lealdade de todos".® Ao mesmo tempo, Wolin caracteriza
ram os três pilares da democracia: a isegoria, o direito igual
a exigência de que o Estado empregue seu próprio poder
de cada cidadão de falar e ser ouvido pela assembleia em
para produzir uma cidadania democrática como algo que se |
assuntos de política pública; a isonomia, igualdade sob a lei;
move contra o curso natural do poder politico.' Esse curso
^- e isopoliteia, votos igualmente ponderados e igual oportuni-
natural, como deixou claro Tocqueville ao discutir a questão,
dade de assumir cargos políticos. Os atenienses podem ter
vai na direção da concentração e da centralização; o poder
valorizado a liberdade, mas entenderam que a democracia
político e especialmente o poder do Estado não se diluem
^ s t á ancorada na igualdade.
naturalmente ao se disseminar, mesmo que um governo efe-
Segundo o critério da igualdade política, aquilo que se tivo possa operar por esses mesmos meios.
costuma chamar, de modo variado, de democracias liberais,
burguesas ou capitalistas nunca foram democracias plenas, 4 Sheldon Wolin, Fugitive Democracy and Other Essays.
e quaisquer que sejam suas disposições democráticas, elas 5 Id., "Democracy and the Political," in Fugitive Democracy, p.
vêm sendo constantemente enfraquecidas nas últimas déca- 247. Wolin usa Marx para afirmar que a legitimidade do Esta-
das. De fato, como seria sequer possível garantir a igualdade do moderno repousa na pretensão de governar pelo bem de
política em grandes Estados-nação com economias capitalis- toda a sociedade, para entregar o bem comum, em vez de ser
tas? Sheldon Wolin afirma que cultivar a democracia em tais o instrumento das elites. De Hegel, Marx aceita a aspiração
ou a concepção do Estado moderno ser "universal" e depois
circunstâncias implica uma demanda específica ao Estado, a
revela a famosa "revolução na vida material" que deve ocorrer
para que tal aspiração se realize.
2 Jean-Jacques Rousseau, The Social Contract, L. 2, cap 1 1 , p. 96. i. Ibid., p. 247.
3 Alexis de Tocqueville, Democracy in America, pp. 2-7. 7 hoc. cit.
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A democracia, então, é o mais fraco dos trigêmeos em mesmo que votem.'" Em suma, uma orientação no sentido
guerra nascidos no início da modernidade europeia, ao lado da democracia no contexto de Estados-nação e capitalismo
dos Estados-nação e do capitalismo." De acordo com Wolin, requer apoio estatal para promover bens públicos, que vão
algo como um Estado democrático não existe, já que os Esta- desde cuidados com a saúde até a educação de quahdade,
dos seqüestram, institucionalizam e exercem o "poder exce- redistribuições econômicas e profilaxias vigorosas contra a
dente" [surpluspower] gerado pelo povo; a democracia sempre corrupção pela riqueza. Para a democracia prevalecer, não se"
j i v e em lugares que não o Estado, mesmo nas democracias.® deve permitir que nem os próprios mercados e nem os vence-
O capitalismo democratizado é também um oximoro, e demo- dores em seu âmbito governem; ambos devem ser contidos no
cratas radicais têm boas razões para promover formas eco- interesse da igualdade política, o fundamento da democracia.
nômicas alternativas. Dito isto, o capitalismo pode ser modu- Para deixar claro, a alegação não é de que as democracias
lado em direções mais ou menos democráticas, e os Estados devam lidar com o que, desde o século xix, foi chamado de "a
podem fazer mais ou menos para nutrir ou anular a igualdade questão social", que se refere à questão de saber se e como
{ política da qual depende a democracia. deve-se mitigar o empobrecimento de muitos, inerente ao capi-
O que, além de louvores gerais, promove e protege a igual- tahsmo na medida em que gera riqueza sem precedentes para
dade política nesse contexto? Ações estatais afirmativas para poucos. "A questão social" tende a ser enquadrada em termos
garantir condições adequadas de existência (renda, moradia, de compaixão pelos pobres, justiça ou preocupação com a con-
saúde) são cruciais para prevenir a privação de direitos devido vulsão social. O ponto aqui é outro, a saber, que a democracia
ao desespero. É vital também o apoio do Estado ao acesso à exige esforços explícitos para criar um povo capaz de se enga-
educação cívica de qualidade, ao voto e ao exercício de cargos jar em formas modestas de autogoverno [self-rule], esforços que
para aqueles que, de outra forma, seriam efetivamente impe- se dirigem às formas pelas quais as desigualdades sociais e
didos de compartilhar o poder político. A democracia também econômicas comprometem a igualdade política.
exige vigilância constante para impedir que a riqueza con-
centrada assuma o controle das alavancas do poder político.
A riqueza - corporativa, consolidada ou individual - nunca 10 Embora frequentemente reflexivos, esses esforços às vezes
deixará de tentar alcançar essas alavancas e, uma vez que as tomam forma como o tipo de projetos cuidadosamente ela-

tenha agarrado significativamente, não há limite para suas borados por James Buchanan, os irmãos Koch e o Instituto
Cato, segundo os quais o objetivo deliberado é substituir a
práticas em benefício próprio, que podem incluir esforços para
democracia por um governo de brancos ricos e capturar insti-
impedir que as pessoas comuns, os pobres e os historicamente
tuições políticas e o discurso político para este fim. Cf Nancy
marginalizadas participem de reivindicações políticas e até MacLean, Democracy in Chains: The Deep History of the Radical
Right's Stealth Plan for America. A manipulação das zonas dis-
tritais de voto e a supressão de eleitores tornaram-se táticas
abertas e diretas para o Partido Republicano nos últimos anos
8 Sobre os tempos atuais, Wolin diz que "a contenção da demo- e foram vividamente expostas nas eleições de meio de man-
cracia política está [...] intimamente conectada ao ânimo
dato em 2 0 1 8 . Cf S a s c h a Meinrath, " T w o Big Problems with
contra a social-democracia". Cf. "Preface". In: Fugitive Demo-
American Voting that Have Nothing to Do with Russian Hac-
cracy, p. IX.
king" e German Lopez, "Voter Suppression Really May Have
9 Loc. cit. Made the Difference for Republicans in Georgia".
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A democracia também exige um cultivo robusto da socie- social" [social justice warriors ou siws] por minar a liberdade
dade como o local em que experimentamos um destino com uma agenda tirânica de igualdade social, de direitos
comum em meio às nossas diferenças e distâncias. Situado civis, de ação afirmativa e até mesmo de educação pública.
conceituai e praticamente entre o Estado e a vida pessoal, O neoliberalismo tinha o franco objetivo de desmantelar
o social é o local em que cidadãos de origens e recursos o Estado social, seja privatizando-o (a revolução Reagan-
amplamente desiguais são potencialmente reunidos e pen- -Thatcher), seja delegando suas tarefas (a "Grande Sociedade"
sados como um conjunto. É o local em que somos admitidos do Reino Unido e os "mil pontos de luz" de Bush), seja elimi-
como cidadãos com direitos políticos [enfranchised] e reu- nando completamente tudo o que resta de bem-estar social
nidos politicamente (não meramente cuidados) por meio ou " d e s c o n s t r u i n d o o Estado administrativo" (o objetivo de
da provisão de bens públicos, e em que as desigualdades Steve Bannon para a presidência de Trump). Em cada caso,
historicamente produzidas se manifestam como acesso, voz não é apenas a regulação e a redistribuição sociais que são
e tratamento políticos diferenciados, bem como o local em rejeitadas como interferência inapropriada nos mercados ou
que essas desigualdades podem ser parcialmente corrigidas. como assaltos à liberdade. A dependência da democracia em
A justiça social é o antídoto essencial para as estratificações, relação à igualdade política também é alijada."
exclusões, abjeções e desigualdades outrora despolitizadas O ataque neoliberaí ao social, que e s t a m o ^ j e r e s ^ a
que servem ao privatismo liberal nas ordens capitalistas e examinaLmais^^ para gerar uma cul
é, em si mesma, uma réplica modesta à impossibilidade da tllí^^^idemocrática desde baixo, ao mesmo temoo em aue
democracia direta em grandes Estados-nação ou em seus constrói_e legitima formas antidemocrática^devod.,^s^l
sucessores pós-nacionais, como a União Europeia. Mais do d S d r ^ ^ ^ A s m e r g i a entre os dois é profunda: uma cidada-
que uma convicção ideológica, a justiça social — a modula- nia cada vez mais não democrática e antidemocrática está
ção dos poderes do capitalismo, colonialismo, raça, gênero mais e mais disposta a autorizar um Estado crescentemente
e outros — é tudo o que se põe entre manter a promessa antidemocrático. À medida que o ataque ao social derrota a
(sempre não cumprida) da democracia e o abandono genera- compreensão democrática de sociedade zelada por um povo
lizado dessa promessa. O social é o local em que somos mais caracterizado pela diversidade e habilitado a governar a si
do que indivíduos ou famílias, mais do que produtores, con- de forma igualitária e compartilhada, a política se torna
sumidores ou investidores econômicos e mais do que meros um campo de posicionamento extremo e intransigente, e a
membros da nação. liberdade se torna um direito de apropriação, ruptura e atéV
É sintomático que são precisamente a existência da socie- mesmo destruição do social - seu inimigo declarado. í
dade e a ideia do social - sua inteligibilidade, seu refúgio O assalto à sociedade e à justiça social nas décadas
de poderes estratificantes e, acima de tudo, sua adequação neoliberais é mais comumente identificado no projeto de
como um local de justiça e do bem comum — o que o neo- desmantelar e depreciar o Estado social em nome de indi-
liberalismo se propôs a destruir conceituai, normativa e víduos livres e responsibilizáveis. Ele atingiu um crescendo
praticamente. Denunciada como um termo sem sentido por institucionalizado no regime de Trump, no qual os órgãos
Hayek e notoriamente declarada inexistente por Thatcher
'|\("não existe tal coisa..."), "sociedade" é um termo pejorativo 11 Wolfgang Streeck chama isso de deseconomicizar a democra-
^ara a direita hoje, que denuncia os "guerreiros da justiça cia. Cf Wolfgang Streeck, Buying Time.
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governamentais destinados a conduzir o bem-estar social A SOCIEDADE DEVE SER D E S M A N T E L A D A


nos domínios da saúde, serviço social, educação, moradia,
trabalho, desenvolvimento urbano e meio ambiente são De todos os intelectuais neoliberais, foi Friedrich Hayek
chefiados por pessoas comprometidas com a comercializa- quem criticou de forma mais sistemática a noção de social e
ção ou eliminação desses bens, e não com sua proteção ou de sociedade e ofereceu a crítica mais sólida da social-demo-
administração/^ E há também o Office ofAmerican Innovation cracia. A hostilidade de Hayek em relação ao social é sobre-
[Escritório para a Inovação Americana], recém-criado pelo determinada, poder-se-ia dizer até mesmo exacerbada, na
regime e liderado pelo genro de Trump, Jared Kushner. A medida em que busca fundamentos epistemológicos, ontoló-
/apresentação do escritório feita pela Casa Branca como uma gicos, políticos, econômicos e até mesmo morais. Ele consi-
//"equipe da SWAT destinada a consertar o governo por meio de dera a própria noção de social falsa e perigosa, sem sentido e
I idéias oriundas dos negócios" capturou nesta única frase o oca, destrutiva e desonesta, uma "fraude semântica". A preo-
deslocamento do governo democrático pelo policiamento e cupação com o social é a assinatura de todas as tentativas
pela gestão, juntamente com a desintegração da sociedade mal concebidas de controle da existência coletiva, o símbolo
em unidades de produção e consumo." Assumindo a nova da tirania. Hayek considera a "sociedade" uma "frase impro-
posição, Kushner disse: "O governo deveria ser administra- visada", a "nova deidade à qual nos queixamos [...] se não _
do como uma grande empresa americana. Nossa esperança satisfizer as expectativas que criou".^® Na melhor das hipó-
é que possamos alcançar sucesso e eficiência para nossos teses, diz ele, o termo carrega a nostalgia de mundos antigos ^
clientes, que são os cidadãos"." No entanto, são as empresas, de associações pequenas e íntimas e pressupõe falsamente 1
e não os clientes, que buscam "sucesso e eficiência" - os "uma busca comum de fins compartilhados". Na pior, é um
clientes são os destinatários de suas estratégias de marke- disfarce para o poder coercitivo do governo." A justiça social
ting e de relações públicas. Assim, mais do que simplesmen- é uma "miragem" e a atração por ela é "a mais grave ameaça j
te revelar sua falta de conhecimento e experiência política e à maioria dos outros valores de uma civilização livre"."
sua incapacidade de entender a democracia, Kushner pode
Como a sociedade e a justiça social podem ser todas essas
ter confessado inconscientemente que quando o governo
coisas? E qual é a raiz principal da hostilidade de Hayek
é administrado como um negócio, especialmente os tipos
em relação à sociedade e à justiça social? A primeira pista
de negócios pertencentes a seu pai e a seu sogro, os cida-
repousa na frustração de Hayek com a ambiguidade do
dãos-clientes tornam-se seus objetos de lucro desprotegidos,
significado moderno de "sociedade". O fato de que a pala-
exploráveis e manipuláveis.
vra denota tantos tipos diferentes de conexões humanas
"sugere falsamente que todos esses sistemas são do mesmo
tipo", e Hayek vê mais do que mero desleixo no deslizamento
12 Trump assim expHcou afavelmente a seus partidários por
semântico da sociedade de pequenos grupos seletos para
que ele colocou uma "pessoa rica no comando da economia" e
povoou seu gabinete com ultrarricos, transformando a pluto-
cracia numa forma política de senso comum, e não subversiva. 15 Friedrich Hayek, Law, Legislation, and Liberty, vol. 2: The Mira-
13 Ashley Parker; Philip Rucker, "Trump Taps Kushner to Lead ge of Social Justice, p. 69.
a SWAT Team to Fix Government with Business Ideas". 16 Id., The Fatal Conceit: The Errors of Socialism, pp. 1 1 2 - 1 3 .
14 Ibid. 17 Id., Law, Legislation, and Liberty, vol. 2, pp. 66-68.
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Estados-nação/» Notando que a origem latina do termo estendido e poder coercitivo), coisas que só podem ser valori-
[societas, de soctus] implica um par ou companheiro que se
zadas por indivíduos ou grupos." Personificação e animismo^
conhece pessoalmente, Hayek detecta um romance perigo-
também levam à crença de que a sociedade é mais do que
so com um passado perdido em seu uso contemporâneo, no
os efeitos de processos espontâneos e que pode portanto
qual o termo "sociedade" é inadequadamente usado para
ser manipulada ou mobilizada como um todo; esta é a base
denotar uma cooperação humana impessoal, não inten-
do totalitarismo." E levam à crença de que a sociedade é o
cional e não planejada em larga escala. Ainterdegendên-
produto de um projeto [design], passível de substituição por
cia complexa na modernidade, afirma Hayek, não surge do
outro mais racional, um projeto que obstrui as tradições e
sentimento c o m u n u j ^ a busca comum organizada, mas de
liberdades evoluídas, que são a verdadeira base da ordem,
indivíduos Que segúeni regras de conduta que emananTd^
da inovação e do progresso.^^
mercados e das tradições morais."» Chamar isso de "socie-
Acima de tudo, personificação e animismo falsos caracte-
dade" eqüivale a misturar erroneamente "formações com-
rizam erroneamente a sociedade como um palco da justiça.
pletamente diferentes como a companhia [companionship]
Se a sociedade é imaginada como algo que existe ã parte dos
de indivíduos em constante contato pessoal e a estrutura
indivíduos, e se sua ordem é pensada como o efeito de uma
formada por milhões que estão conectados apenas por sinais
construção deliberada, segue-se que ela deve ser projetada
resultantes de cadeias de troca longas e infinitamente rami-
com a idéia de justiça em mente. Isso abre a porta para uma
ficadas".^" Mais do que meramente errada, no entanto, essa
intervenção estatal ilimitada tanto nos mercados quanto nos
mistura revela o "desejo oculto" de defensores da justiça ou
do planejamento sociais de modelar ordens modernas com códigos morais, a qual, argumenta Hayek, tem "uma tendên-
base em uma noção intencional e organizada do bem - o cia peculiar de autoaceleração":
estofo do totalitarismo.
Quanto m a i s se vê que a posição de indivíduos ou g r u p o s tor-
HayêFvIsIúmbi^uma segunda ilusão perigosa na idéia na-se dependente de a ç õ e s do governo, m a i s eles insistirão
e na idealização da sociedade. Esse conceito, diz Hayek, é em que os g o v e r n o s v i s e m a l g u m e s q u e m a r e c o n h e c í v e l de
baseado numa falsa personificação de uma coleção de indiví- j u s t i ç a distributiva; e quanto m a i s os g o v e r n o s t e n t a m rea-
duos e num falso animismo segundo o qual "o que foi trazido lizar a l g u m p a d r ã o preconcebido de distribuição desejável,
pelos processos impessoais e espontâneos da ordem amplia- m a i s eles devem sujeitar a posição dos diferentes indivíduos
da" é imaginado como "o resultado da criação humana deli- e grupos ao seu controle. Enquanto a crença na "justiça social"
berada"." Tanto a personificação como o animismo geram a g o v e r n a r a ação política, esse processo deverá se a p r o x i m a r
ilusão de que certas coisas são "valiosas para a sociedade" e m a i s e m a i s de u m sistema totalitário.^®
devem ser fomentadas pelo Estado (legitimando seu alcance

22 Id., Law, Legislation, and Liberty, vol. 2, pp. 76-78.


18 Id., The Fatal Conceit, p. 1 1 2 .
23 Id., The Fatal Conceit, p. 1 1 3 .
19 Id., Law, Legislation, and Liberty, vol. 2, p. 67.
24 Hayek atribui cada uma dessas crenças a Marx, o que é uma
20 Id., The Fatal Conceit, p. 1 1 3 .
leitura equivocada da teoria de Marx do poder social, da his-
21 Id., Law, Legislation, and Liberty, vol. 2, pp. 75-76. The Fatal Con-
tória e mesmo das possibilidades do comunismo.
ceit, p. 116.
25 Id., Law, Legislation, and Liberty, vol. 2, p. 68.

II
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A alternativa de Hayek ao planejamento ou à justiça O mercado e a moral, para Hayek, também revelam a^
administrados pelo Estado não é, como se diz comumente, verdadeira natureza da justiça - sua preocupação exclu
o capitalismo de livre mercado. Em vez disso, como o capí- giva com a conduta, e não com efeitos ou resultadosJXjüs-
tulo 3 elaborará mais detalhadamente, a moral e o mercado tiça se refere apenas a princípios corretos, aplicados uni-
juntos geram a conduta evoluída e d i s c i ^ ^ ^ ^ r a "criar ê versalmente, e não a condições ou ao estado das coisas."«
sustentar nrdem ampliada". A conduta evoluída "encontra- A justiça também não tem nada a ver com recompensar o
-se entre o instinto e a razão" e não pode ser submetida à jus- esforço ou os merecedores. Hayek considera equivocados
tificativa racional, mesmo que possa ser reconstruída racio- até mesmo os utilitaristas a esse respeito, especialmente
nalmente.^« Embora possamos articular retrospectivamente John Stuart Mill, a quem critica por ter escrito que uma
a função tanto do mercado quanto da moral, eles não são o "sociedade" justa "deveria tratar igualmente bem todos os
produto de um projeto funcionalista; de fato, seu surgimento que merecem o mesmo dela".'" O mais significativo é que
evolutivo e sua operação rudimentar são fundamentais para ele ataque Horatio Alger por ter popularizado a idéia de que
Hayek: "Se parássemos de fazer tudo aquilo cuja razão não a melhor defesa do capitalismo é sua recompensa para os
conhecemos, ou para o que não podemos fornecer uma jus- que trabalham arduamente." Na verdade, declara Hayek
tificativa [...] provavelmente logo estaríamos mortos"." repetidamente, os mercados re^gmpgnsamjiontrihmSQesT
O mercado e a moral, jgortanto, não são nem nrimnatíveis nada mais." Tais contribuições, como riqueza ou inovação,
com nem opostos à^azãjo, não são racionais nem irracionais. podem ouTnão ser fruto de grande esforço e, inversamente,
Eles perduram e são válidos porque surgem "espontanea- trabalhos longos e intensos podem trazer pouco." Hayek
mente", evoluem e se adaptam "organicamente", unem os sabe que isso pode ser decepcionante, mas alega que não é
seres humanos independentemente das intenções e esta- injusto - a mistura de um com o outro é o grande erro dos
belecem regras de conduta sem depender da coerção ou social-democratas.
/_^2unição estatais. Tanto o mercado quanto a tradição moral Os sistemas morais tradicionais assemelham-se aos mer-
geram uma ordem dinâmica, e não estática, e criam novos 'cados de muitas maneiras, acrescenta Hayek, especialmente
"poderes humanos que de outra forma não existiriam".^« ao estabelecerem uma ordem desprovida de projeto prévio e j
Ambos propagam uma conduta propícia [felicüous] em gran- ^ao situarem a in^^tina nas reerac; não nos resultados, h s tra-
des populações sem depender dos excessos da intenção
dições morais geram um "sistema herdado de valor", que é
humana ou das falácias da razão humana e sem empregar
os poderes do Estado. 29 pp. 31-36.
30 p. 63.
31 p. 74-
32 A disparidade entre contribuições e recompensas é inevitável
26 Na verdade, nenhum código moral pode ser submetido à jus- e inevitavelmente desapontadora, mas não injusta. Cf lá., The
tificativa racional porque ele evolui e traz consigo significa- Fatal Conceit, p. 1 1 8 .
dos e valores que estão para além do alcance da intencionali-
33 Hayek reconhece que a inveja e a f r u s t r a ç ã o resultantes
dade e da compreensão. Cf. Ibid., pp. 68-70.
podem gerar atitudes anticapitalistas, mas essas atitudes não
27 p. 68.
compreendem o modo como o capitalismo funciona e o que é
28 p. 79.
ajustiça. C/: ibid., p. 199-
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"um dispositivo para lidar com nossa ignorância constitucio- moralmente correto ou que t r a b a l h a a r d u a m e n t e pode não
nal", uma ignorância que abrange tanto a vasta incognosci- ser r e c o m p e n s a d o por s u a virtude p a r a então declarar que
bihdade do mundo quanto todas as consequências de nos-
'a d e s i g u a l d a d e é e s s e n c i a l p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o " e q u e " a
sas ações.- Se soubéssemos tudo, se pudéssemos antecipar
evolução não pode ser justa" no sentido popular da palavra.'«
todos os efeitos da ação e concordar "quanto à importância
A verdadeira justiça e x ^ e que as r e g r a s d o j o g o sejam conhe-
relativa dos [...] fins", diz Hayek, "não haveria necessidade de
cidas e aplicadas universalmente, m a s todo loeo tem vence-
regras", incluindo as da conduta moral.^^ As regras morais
d o r e s e p e r d e d o r e s , e a c i v i l i z a ç ã o ^ ã o p o d e e v o l u i r s e m dei-
são. então, valores definitivos, não ooraue r^^iih^^^^T^T;;;^,
x a r p a r a t r a s os eieitos üa í r a a u e z a e do fracasso, b e m ^ o m o
ma dos fatos . dos fins não c o m p ^ I h a d o s
descreve o "jogo" que fará avançar a
mas Doraue fornecem códiRos p_ara a a ç ã o a d e í p ^ í ^ ^ ^ e
civilização, satisfará necessidades [ujants], dispersará infor-
problema - elas são um tipo peculiar de deferência â incog-
noscibilidade. Como tal, no entanto, elas só podem orientar a mações, terá a liberdade [íiberty] como característica e que
conduta moral; não podem por si mesmas gerar uma ordem será totalmente "não projetado", ao mesmo tempo que pode
moral. Da mesma forma que o esforço pode não condizer com ser aperfeiçoado:
sua recompensa no domínio econômico, "a conduta moral
Ele procede, c o m o todos os jogos, de acordo c o m r e g r a s que
nao gratificará necessariamente os desejos morais" por cer-
g u i a m a s a ç õ e s de p a r t i c i p a n t e s individuais cujos objetivos,
tos resultados.3« Isso pode parecer lamentavelmente injusto
habilidades e conhecimentos são diferentes, com a conse-
e ate mesmo não razoável, assim como perder repetidamen-
quência de que o resultado será imprevisível e que h a v e r á
te em um jogo de azar.
r e g u l a r m e n t e v e n c e d o r e s e p e r d e d o r e s . C o m o e m u m jogo,
- "Compreensivelmente, nós detestamos resultados moral- e m b o r a e s t e j a m o s c e r t o s e m i n s i s t i r q u e ele s e j a j u s t o e q u e
I mente cegos", escreve Hayek sobre arranjos morais e econô- n i n g u é m t r a p a c e i e , s e r i a a b s u r d o e x i g i r q u e os r e s u l t a d o s
micos gerados por uma ordem espontânea e protegidos da p a r a os diferentes jogadores sejam justos. Eles serão n e c e s s a - g « /
interferência política, mas eles são a dura verdade da histó- riamente determinados em parte pela habilidade e em parte
ria humana livre e progressiva em um mundo onde somos pelajorte.^®
Ignorantes demais para planejar resultados coletivos pre-
l^isíveis ou estar de acordo acerca de valores comuns Além Agora estamos em condições de entender o que Hayek
disso, "a tentativa infrutífera de tornar justa uma situação considera tão perigoso nos "guerreiros da justiça social" que
CUJO resultado, por sua natureza, não pode ser determinado recriariam o mundo de acordo com um plano racional ou
por aquilo que ninguém sabe ou pode saber, apenas preju- com um grande cálculo moral. Eles recorrem à "ilusão fatal"
dica o funcionamento do próprio processo-.^«- E então Hayek da sociedade e ao princípio equivocado da igualdade para
passa rapidamente pela alegação de que o indivíduo atacar os piiai:es_gênieos da civilização: a moralidade tradi- >
clonal e mercados competitivos. Eles são animados por uma
34 Id., Law, Legislation, and Liberty, vol. 2, p p . 5 0 8 . forma de primitivismo social e intelectual que imagina um
35 Ibid., p. 8 .
36 Id., The Fatal Conceit, p. 74.
37 Loc. cit. 38 Ibid., pp. 74 e 1 1 8 .
39 Id., Law, Legislation, and Liberty, vol. 2, p. 7 1 -
34 T 49

diretor por trás de "todos os processos de auto-ordenação" versão do que os ordoliberais chamaram de "desmassifica-
e não têm maturidade para compreender a evolução histó- ção", escorando os indivíduos e famílias contra as forças do
riça.e a cooperação social que excedem a intencionalidade capitalismo que os ameaçam.
do projeto.^" São igualmente pueris ao demandar igualdade Esse último giro, pouco familiar especialmente para os
nos resultados. E ^ submetem inadequadamente^a mora- americanos, requer uma breve elaboração. O ordoliberalis-
lidade a padrões racionais e associam iustica no mercado mo, conhecido por suas raízes na Escola de Friburgo, apre-
moral a resultados, e não a regras. Eles intervêm nos
sentava um construtivismo mais manifesto - do Estado, da
mercados de maneiras que prejudicam a inovação, o desen-
economia e do sujeito - do que qualquer outra variedade de
volvimento e a ordem espontânea." Mais do que meramente
neoliberalismo. A desmassificação estava entre esses proje-
desorientada, a justiça social ataca a justiça, a liberdade e
tos construtivistas: o objetivo era contrapor-se ao processo,
o desenvolvimento civilizacional garantidos pelo mercado e
considerado pelos ordoliberais como sendo inerente ao capi-
pela moral. Se a crença na direção social e política da socie-
talismo, por meio do qual se engendra uma população que
dade é o que nos leva por esse caminho, então a sociedade
mais e mais pensa e age como massa. Eles denominavam
deve ser desmantelada.
esse processo "proletarização", aceitando grande parte da
No neoliberalismo realmente existente, esse desmante- análise histórica de Marx, mas se opondo aos seus valores
lamento ocorre em muitas frentes. Epistemologicamente, o e esperanças políticos; viam o capitalismo como gerador de
desmantelamento da sociedade envolve a negação de sua uma força social desindividualizada e até mesmo dester-
existência, como Thatcher fez nos anos 1980, ou a rejeição ritorializada, propensa a se revoltar contra ele brandindo
da preocupação com a desigualdade como "política da inve- demandas por um Estado social ou uma revolução socialista.
ja", uma linha que o candidato ã presidência Mitt Romney A desmassificação ordoliberal visava combater a^prol^ari-
adotou 30 anos depois e agora é uma réplica cotidiana con- zação por meio da empreendedoriza^ãoJlogoTda reindivi-
tra propostas de taxação da riqueza.^^ Politicamente, envol- dualizãçaoj aos t r ã b i i l i i ^ r e s , por um lado, e da realocacão
ve o desmantelamento ou a privatização do Estado social - dos trabalhadores em práticas de autoprovisão famniai:..por
seguridade social, educação, parques, saúde e serviços de outro. O reenraizamento e a autoprovisão, como Wilhelm
todos os tipos. Legalmente, envolve o manejo de reivindi- ¥ ö p k e se referia a estas práticas e às políticas que as via-
cações de liberdade para contestar a igualdade e o secu- bilizaram, desenvolveriam um novo "quadro antropológico"
larismo, bem como as proteções ambientais, de saúde, de para tornar os trabalhadores "mais resilientes em face das
segurança, laborais e ao consumidor. E t i g a m e n j p envolve recessões econômicas"." "Ancorados na comunidade e na
a contestação da justiça social por meio da autoridade natu- família", eles seriam capazes de resistir ao que o colega de
ral dos valores tradicionais. Culturalmente, implica uma Röpke, Alexander Rüstow, chamou de "fria sociedade" do

40 Md., pp. 62-63.


41 "A curiosa tarefa da economia é demonstrar aos homens o
pouco que eles realmente sabem sobre o que eles imaginam
43 Wilhelm Röpke, The Moral Foundation of Civil Society, p. 32. Cit.
que podem projetar". Id., The Fatal Conceit, p. 76.
in: Werner Bonefeld, "Human Economy and Social Policy: On
42 Michael White, "Nick Clegg's 'Politics of Envy': A Brief History". Ordo-Liberalism and Political Authority", p. 114-
34 T 50

preço econômico e da competitividade dos fatores." Essa Arrendando quartos no Airbnb, dirigindo para o Lyft )u
âncora também impediria que os trabalhadores "se tornas- Uber, trabalhando para o Task Rabbit como freelancers,
sem presa da mania proletária que demanda 'o fruto podre compartilhando bicicletas, ferramentas e carros ou simples-
do Estado de bem-estar'".^® mente gerenciando uma variedade de fontes de renda de
, No final do século xx, a "desmassificação" foi substitui- tempo parcial e de curto prazo ("bicos"), indivíduos e famí-
í da pela "empreendedorização" neoliberal e pela "capitaliza- lias visam sobreviver aos cortes e às recessões econômicos.
í ção humana" dos sujeitos, ao passo que reformas políticas Em terceiro lugar, enquanto os investimentos sociais na
visavam transferir quase tudo o que era proporcionado pelo educação, habitação, saúde, cuidado infantil e seguridade
Estado social para os indivíduos e famílias, fortalecendo-os social são reduzidos, delega-se novamente à família a tare-
ao longo do caminho.^® Três coisas importantes decorrem fa de prover para todos os tipos de dependentes - jovens,
dessas estratégias. Primeiramente, a emoreendedorizacão - velhos, enfermos, desempregados, estudantes endividados y
ou o que os franceses e britânicos chamaram de "respon- ou adultos deprimidos ou viciados.^"
sabilização" - produz um suieito aue Founault denominou Dessas três maneiras, o neoliberalismo não só trouxe o
"uma multidão de emnresas" ou o j u e Michel Feher chama de capitalismo de volta do abismo quando este estava em crise
um "portfolio de autoinvestimentos" concebido para manter nos anos 1970, como também salvou tanto o sujeito quanto
ou incrementar o va^lorjo capital humano.^' Esse portfolio a família das forças em desintegração da modernidade tar-
inclui o cuidado com os filhos, educação, saúde, aparência e dia. De fato, dentre as realizações neoliberaigjnais im^res
a provisão para a velhice. Em segundo lugar - substituindo sionantes estão o desmantelamento epistemológico^ políti
as estratégias pastorais de Röpke para construir resiliên- côTeconômico e cultural da sociedade rie massa^em capital]
cia, segundo as quais os lares urbanos plantariam hortas e humano e unidades familiares econômico-morai.sjuntamen-^
criariam galinhas - , os trabalhadores desproletarizados e tè"conrõ^sRate"tântÔTrcrindiví3uõ q ^ n t o ^ ^ f a m í ^ n o
dessindicalizados de hoje entram na economia do "compar-
rncmentoêxatõ^ sua aparente extinção. Desnaturalizadas
tilhamento" e da terceirização, na qual transformam suas
até seu núcleo, as versões neoliberais das unidades indivi-
posses, tempo, conexões e eus em fontes de capitalização.
duais e familiares podem acabar se mostrando mais fortes
do que quaisquer iterações anteriores.
44 Alexander Rüstow, Die Religion der Marktwirtschaft, p. 65. Id.,
Freiheit und Herrschaft: Eine Kritik der Zivilisation, p. 365, cit.
in: Bonefeld, "Human Economy and Social Policy", p. 1 1 4 . Cf tb. H A Y E K HOJE: A L I B E R D A D E E O S O C I A L
Rüstowf, "Social Policy or Vitalpolitik". In: The Birth of Auste-
rity: German Ordoliberalism and Contemporary Neoliberalism,
Se a crítica de Hayek à justiça social era iconoclasta nas
pp. 1 6 3 - 7 5 .
décadas do pós-guerra, hoje em dia tornou-se o senso
45 Werner Bonefeld, "Human Economy and Social Policy", p. 1 1 4 .
comum de um conservadorismo neoliberal robusto. Em abril
46 Mglinda Cooper chama isto de retorno da Lei dos Pobres bri-
tânica. Cf Family Values: Between Neoliberalism and the New
Social Conservatism, capítulo 3. 48 Melinda Cooper, Family Values. Cf tb. Janet Halley; Libby Adler,
47 Michel Feher, Rated Agency, pp. 1 8 0 - 8 1 . Cf tb. Id., "Self-Appre- "You Play, You Pay: Feminists and Child Support Enforcement
ciation; or. The Aspirations of Human Capital", pp. 27-28. in the U.S.". In: Governance Feminism: Notes from the Field.

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