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FAZENDA PÚBLICA-SP.
em face do ESTADO DE SÃO PAULO, pessoa jurídica de direito pú blico interno, com sede
no Palácio do Governo, à Av. Morumbi, 4.500, Sã o Paulo/SP, CEP: 05698-900, a ser citado
na pessoa do Procurador Geral do Estado Dr. Elival da Silva Ramos, à Rua Pamplona, 227,
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17º andar, Jardim Paulista, Sã o Paulo/SP, CEP: 01405-902, pelos motivos de fato e de
direito abaixo expostos.
DOS FATOS
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Ao chegar à Delegacia de Polícia, o requerente pediu para
falar com a Autoridade Policial, que, de forma grosseira, mandou que este se calasse. XXX,
entã o, foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para realizaçã o de exames, sendo
liberado apó s a lavratura de termo circunstanciado, em que figura como autor do crime de
desacato, e assinatura do termo de compromisso.
No dia seguinte, irresignado com aquela situaçã o, XXXX
dirigiu-se à Corregedoria da Polícia Militar, a fim de denunciar os policiais agressores. O
requerente, no local, conseguiu reconhecer um dos policiais por foto, descrevendo-os de
maneira detalhada em seu depoimento. Apó s ser ouvido, foi encaminhado para o HGE para
a realizaçã o de exames.
Para finalizar a situaçã o de abusos pelos agentes do Estado,
foi imputado o delito de desacato ao requerente. Em juízo, a transaçã o penal pelo
representante do Ministério Pú blico, mediante o cumprimento de serviços à comunidade.
Tal proposta foi aceita pelo requerente, tendo em vista os riscos de um processo penal,
que o poderia condenar injustamente, uma vez que, desde o início da confusã o, vá rias
arbitrariedades foram cometidas por agentes estatais, transformando-o de vítima em
autor de crime. Também houve a instauraçã o de procedimento investigató rio pela
Corregedoria da Polícia Militar, bem como Inquérito Policial Militar (a fim de averiguar
possível crime militar), e posterior arquivamento do procedimento investigató rio pela
Justiça Militar.
Diante das alegaçõ es, foi instaurado o Procedimento
Administrativo XXXX, para melhor avaliar as circunstâ ncias do caso, que, em razã o de suas
peculiaridades, insere-se no conjunto das atribuiçõ es institucionais deste Nú cleo. Afinal, o
artigo 4º da Lei Complementar XXXX, com a redaçã o que lhe foi dada pela Lei
Complementar Federal 132/2009, ao elencar as atribuiçõ es institucionais da Defensoria
Pú blica, refere-se expressamente à atuaçã o na preservaçã o e reparaçã o dos direitos de
pessoas vítimas de tortura, abusos sexuais, discriminaçã o ou qualquer outra forma de
opressã o ou violência (inciso XVIII). Bem como, em seu Regimento Interno, é atribuído ao
Nú cleo (artigo 2º, incisos II, XVI e XVII) o recebimento de representaçõ es que contenham
denú ncias de violaçõ es de direitos humanos e a tomada de providências, inclusive em
âmbito judicial, para a tutela de direitos e interesses individuais, coletivos e difusos.
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No caso presente, foram apresentados como elementos
probató rios – constantes dos autos do P.A. XXXX (doc. XX) - o Laudo pericial de exame de
Constatação de Lesão Corporal, expedido pelo IML – Instituto Médico Legal, referente ao
Termo Circunstanciado nº XXX/XXXX, do XXº Distrito Policial do XXX, (doc. XX);
procedimento instaurado junto à Corregedoria da Polícia Militar – Registro de Denú ncia nº
CorregPM XXX/XXX/XXXX em que foi colhido depoimento do Sr. XXX e constatado, por
meio do Laudo de Exame de Corpo de Delito Nº XXX, “Esquimose violacia de um por um
centímetro no nariz, ferida corto contusa de aproximadamente meio centímetro na região
vestibular da mucosa oral à esquerda, esquimose hiperemica de aproximadamente meio por
dois centímetros na face posterior do punho direto”, dando origem à instauraçã o de
Inquérito Policial Militar (Portaria de IPM nº XXXX) – doc. XXX; Decisã o do CNMP referente
ao processo CNMP n. XXXXX (Reclamaçã o Disciplinar), em que se relata o reconhecimento
de infraçã o disciplinar dos policias militares: “Não é demais dizer que o membro do
Ministério Público oficiante perante a Xª Auditoria da Justiça Militar entendeu que o fato
constituía infração disciplinar e o Poder Judiciário se rendeu ao mesmo entendimento”
(doc. XX); decisã o da Corregedoria Geral de Justiça referente ao processo n. XXX – Comarca
de Sã o Paulo, em que na fundamentaçã o da decisã o informa que “o arquivamento
desclassificou o delito de lesão corporal levíssima para infração disciplinar, pois que
utilizada força desnecessária para a realização da prisão” (doc. XX).
As graves agressõ es físicas e psíquicas a que esteve o autor submetido
constituem, em tese, crimes comuns de tortura e abuso de autoridade.
Assim, como era de dever, e tendo em vista que os fatos narrados por
XXX passaram ao largo de qualquer investigaçã o por parte da polícia judiciá ria, assim
como passaram ao largo da atençã o do Sistema de Justiça comum.
Tendo procurado a Defensoria Pú blica do Estado de Sã o Paulo, o
interessado, por este meio, requereu a instauraçã o de inquérito policial para a apuraçã o
dos fatos.
Seguindo as leis processuais comuns, mais especificamente o artigo 5º
do Có digo de Processo Penal, optou-se por instar o MM. Juízo do Departamento de
Inquéritos Policiais (DIPO) para que o inquérito fosse instaurado, imaginando-se tratar de
providência simples, irrefutá vel e necessá ria.
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Ao invés de determinar a pronta instauraçã o do Inquérito, o d. juízo
entendeu por abrir vistas ao Ministério Pú blico, o qual, para grande surpresa, apó s pedir
algumas có pias à Justiça Militar, mesmo nã o tendo acesso à integralidade das
investigaçõ es do inquérito policial militar, requereu o arquivamento do expediente
uma vez que já havia sido instaurado Inquérito Policial Militar para a apuração do
ocorrido; na visã o da d. Promotora oficiante, tendo a Justiça Militar determinado o
arquivamento da investigação por ausência de irregularidade na conduta dos
policiais, não haveria porque a Justiça Comum requisitar a investigação de tais fatos.
Franqueada a palavra à Defensoria, foi feita longa e fundada explanaçã o
no sentido da independência entre a Justiça Comum e a Justiça Militar, recordando-
se que tortura e abuso de autoridade são crimes que só podem ser apurados,
investigados e punidos pela Justiça Comum Estadual, sendo certo que o objeto da
investigação que ocorrera na Corregedoria da Justiça Militar dizia respeito tão
somente ao crime militar previsto no artigo 209 do Código Penal Militar. Foi
inclusive trazido à baila direito sumulado pelo Eg. Superior Tribunal de Justiça no
sentido da independência das Justiças (Súmula 90) e da competência exclusiva da
Justiça para processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que
praticado em serviço (Sú mula 172).
Mesmo assim, a d. autoridade entendeu por acolher a manifestaçã o de
arquivamento do parquet e assim se recusou a determinar a abertura de inquérito policial
comum tendo em vista, uma vez que os fatos já teriam sido “...apurados nos respectivos
autos do inquérito policial militar, manifestando-se o titular da ação penal pelo
arquivamento do feito, o qual foi homologado pela Justiça Militar. Nem mesmo há de
se cogitar de que os delitos de tortura e abuso de autoridade nã o foram devidamente
apurados pela Justiça Militar em razã o de sua incompetência, pois os fatos em si foram
analisados concluindo-se pela ocorrência de exclusã o de ilicitude” (fls. XX do
procedimento iniciado pela notitia criminis).
Desta maneira, e por discordar da r. decisã o, nã o restou outra
alternativa senã o o acesso ao Eg. Tribunal em busca da reversã o da decisã o, através do
mandado de segurança. Argumentou-se que os crimes de tortura e de abuso de autoridade
nã o podem ser processados e julgados pela Justiça Militar, pois nã o sã o crimes militares,
nem pró prios – aqueles previstos no Có digo Penal Militar (CPM) e nã o existentes, ou
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formulados de maneira diversa, na legislaçã o penal comum -, nem impró prios – aqueles
previstos de maneira idêntica no CPM e na legislaçã o penal comum.
De maneira exaustiva, colocou-se a seguinte questã o: se a competência
para processar e julgar os crimes de tortura e abuso de autoridade pertence à Justiça
Comum, é a Polícia Judiciá ria que tem atribuiçã o para a investigaçã o criminal, mesmo que,
ao final desta, se constate nã o terem existido referidos crimes. “Dizer que tais crimes sã o
de incumbência da Justiça Comum significa dizer que cabe ao Sistema de Justiça Comum o
dever de investigar, processar e julgar. Nã o é dado ‘delegar’ uma parte de seu dever, ou
referendar o que foi feito por quem é absolutamente incompetente para tanto e o faz sob
outras regras. Fazer isso é deixar de cumprir com seu dever, é submeter-se a outra
jurisdiçã o que nã o lhe é superior” (fls. XXX do procedimento iniciado pela notitia criminis).
Em seguida, o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Sã o Paulo (XXª
Câ mara de Direito Criminal – Rel. XXX) denegou a ordem, entendendo nã o haver direito
líquido e certo do impetrante em recorrer da decisã o do juízo a quo, uma vez que “[...] se
contra o pedido de arquivamento do inquérito o ofendido nã o pode insurgir-se, muito
menos o poderá em se tratando de mera notitia criminis – e nã o apresentada à polícia, mas
a quem competia, mais tarde, avaliar o resultado da investigaçã o” (fls. XX do procedimento
iniciado pela notitia criminis).
I. DO DIREITO
1
Aliá s, note-se que o crime de desacato nã o está em consonância com o atual ordenamento jurídico
brasileiro, sendo incompatível com o art. 13 da Convençã o Americana de Direitos Humanos (5ª
SUBSEÇÃ O JUDICIÁ RIA DO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL – 1 ª Vara Federal de Ponta Porã -
Açã o Penal - Processo nº0000951-45.2013.403.6005).
.
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§ 3º Se resulta lesã o corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é
de reclusã o de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusã o é de oito a
dezesseis anos.
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
I - se o crime é cometido por agente público;
(...)
Nã o é demais ressaltar que a ilegalidade, inicialmente perpetrada
pelos policiais militares, foi chancelada por diversos outros agentes estatais, como o
Delegado de Polícia, que se eximiu do seu dever de, tendo notícia de possível infraçã o
penal, colher todas as provas que serviriam para o esclarecimento do fato e suas
circunstâ ncias (art. 6º, III, do Có digo de Processo Penal), bem como o Ministério Pú blico e
o Poder Judiciá rio, que, ao terem notícia dos crimes cometidos pelos agentes estatais,
deixaram de determinar a mera investigaçã o dos crimes. O cidadã o, ao alegar ter direitos
bá sicos violados, tem o direito bá sico a que ocorra a devida apuraçã o dos fatos.
Conforme elucida a jurisprudência da Corte Europeia de Direitos
Humanos, já consolidada no que concerne ao crime de tortura e à sua repressã o, a
caracterizaçã o deste crime, em diferenciaçã o ao de lesã o corporal, envolve um nível
determinado de severidade da agressã o, o qual, por sua vez, é relativo e considera as
circunstâ ncias do caso, a duraçã o do tratamento, seus efeitos físicos e psicoló gicos, o sexo
e a idade da vítima2.
Nã o restam dú vidas acerca da gravidade do ato e de sua
repercussã o, tampouco da situaçã o de vulnerabilidade em que se encontrava XXX diante
de seu agressor: uma autoridade armada.
O artigo 1º da Convençã o das Naçõ es Unidas contra a tortura e
outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos e degradantes de 1948 (CAT), já ratificada
pelo Brasil e, portanto, incorporada ao arcabouço jurídico pá trio, estabelece uma definiçã o
internacionalmente aceita dos atos que constituem “tortura”. Embora seja mais restrita
que a tipificada no Brasil, a disposiçã o nos serve, por demonstrar que o caso presente se
situa naquilo que se chama zona de certeza da norma: é um caso típico das prá ticas que se
quer abolir.
2
Corte Europeia de Direitos Humanos. Caso Tekin v. Turkey, julgamento de 09 de junho de 1998,
pp. 1517-18, §§ 52 e 53.
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Artigo 1º - Para fins da presente Convençã o, o termo tortura" designa
qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou
mentais, sã o infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter,
dela ou de terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la
por ato que ela ou terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita
de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras
pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de
qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos sã o infligidos por
um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções
públicas, ou por sua instigaçã o, ou com o seu consentimento ou
aquiescência. Nã o se considerará como tortura as dores ou sofrimentos
que sejam consequência unicamente de sançõ es legítimas, ou que sejam
inerentes a tais sançõ es ou delas decorram.
Artigo l
Os Estados Partes obrigam-se a prevenir e a punir a tortura, nos
termos desta Convençã o.
Artigo 6
Artigo 8
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Os Estados Partes assegurarã o a qualquer pessoa que denunciar
haver sido submetida a tortura, no â mbito de sua jurisdiçã o, o
direito de que o caso seja examinado de maneira imparcial.
Quando houver denú ncia ou razã o fundada para supor que haja
sido cometido ato de tortura no â mbito de sua jurisdiçã o, os
Estados Partes garantirão que suas autoridades procederão
de ofício e imediatamente à realização de uma investigação
sobre o caso e iniciarão, se for cabível, o respectivo processo
penal.
Assim sendo, é esta introduçã o para dar nome aos fatos por que se
pede reparaçã o e para trazer à tona o compromisso assumido pelo Brasil, no que concerne
à sua aboliçã o. Um compromisso, aliá s, que revela o reconhecimento de sua ilicitude, de
sua imoralidade, de sua incompatibilidade com um Estado Democrá tico de Direito – o que
levou também à sua tipificaçã o como crime contra a humanidade no Estatuto de Roma
(artigo 7º, letra f). Isso posto, decorre que reparar a vítima de uma tal violaçã o - tendo o
Estado a ela dado causa, por meio de um de seus agentes – é um ó bvio imperativo da
coerência.
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Observe-se que, conforme obrigaçã o internacional do Brasil
decorrente da CONVENÇÃ O INTERAMERICANA PARA PREVENIR E PUNIR A TORTURA, o
Estado deveria proceder “de ofício e imediatamente à realizaçã o de uma investigaçã o
sobre o caso” e daí iniciar, se cabível, o respectivo processo penal (artigo 8º). Mas isto nã o
ocorreu, daí o interessado ter procurado assistência jurídica da Defensoria Pú blica para
fazê-lo.
A justificativa dada pelo Juiz de Direito foi a seguinte: os fatos já
foram apurados pelo sistema de justiça militar, portanto nã o há mais necessidade de
novas investigaçõ es.
Ocorre que os crimes de tortura e abuso de autoridade devem
ser processados e julgados pela Justiça Comum, desta forma a Polícia Judiciária é
quem possui atribuição para investigação de autoria e materialidade dos referidos
delitos.
A Justiça Militar é aquela prevista para processamento e
julgamento dos crimes militares, somente. Sua estrutura, ritos e tipos penais sã o
completamente diferentes da estrutura, ritos e tipos penais da Justiça Comum. Por terem
objetos e leis distintas, sã o independentes e nã o se comunicam.
A Constituiçã o Federal nã o trouxe a definiçã o de “crime militar”,
embora por diversas vezes mencione o termo. Foi o Có digo Penal Militar – Decreto-Lei nº
1.001/69, que se incumbiu da missã o, em seu artigo 9º.
Segundo o dispositivo, há uma divisã o entre os crimes
propriamente militares (inciso I) e os impropriamente militares (incisos II e III). Os
primeiros sã o aqueles previstos no Có digo Penal Militar e previstos de maneira diversa ou
nã o previstos na legislaçã o comum. Os segundos sã o aqueles previstos de maneira
idêntico no CPM e na legislaçã o comum, mas praticado em algumas situaçõ es específicas.
O crime de tortura, assim como o crime de abuso de
autoridade, portanto, não são crimes militares, nem próprios, nem impróprios, pois
não previstos no Código Penal Militar, seja com a mesma tipificação da legislação
comum, seja com tipificação diversa.
Assim, de acordo com a legislaçã o atual, presentes na prá tica do
ilícito as elementares do tipo penal "tortura" – ou eventualmente de abuso de autoridade,
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ainda que cometido o crime por militar em serviço, contra civil, nã o será o crime
considerado crime militar.
Tais crimes nã o sã o previstos no Có digo Penal Militar, e, portanto,
devem ser apurados pela Justiça Comum Estadual, nã o sendo possível considerar que a
Justiça Militar já o fez. Dizer que tais crimes sã o de incumbência da Justiça Comum
significa dizer que cabe ao Sistema de Justiça Comum o dever de investigar, processar e
julgar.
Nã o é dado à polícia judiciá ria “delegar” uma parte de seu dever,
ou referendar o que foi feito por quem é absolutamente incompetente para tanto e o faz
sob outras regras. Fazer isso é deixar de cumprir com seu dever, é submeter-se a outra
jurisdiçã o (competência).
Tampouco é possível fazer um paralelo com o instituto da “prova
emprestrada”, existente no processo civil: o material de inquérito é colhido de maneira
inquisitiva, sem as garantias do contraditó rio e da ampla defesa. Assim, nã o é dado à
Justiça Comum “aproveitar” a conclusã o e o material colhido pela Justiça Militar na íntegra,
dispensando totalmente apuraçã o pró pria, conduzida sob o crivo da legislaçã o comum.
No mais, o que restou apurado pela Corregedoria da Polícia
Militar foi apenas o crime de lesã o corporal leve, este sim previsto no artigo 209 do Có digo
Penal Militar. No entanto, os fatos narrados na peça inaugural do procedimento
(notitia criminis) dizem respeito a crimes simultâneos a este e dele diversos em
suas elementares, tipificados tão somente na Justiça Comum, devendo por esta serem
apurados. E nem mesmo é possível falar em bis in idem, muito menos em coisa julgada
nestes casos. Mesmo tendo sido o foco completamente diferente, a Justiça Comum decidiu
por nã o realizar a apuraçã o dos fatos sob a égide da Lei Comum.
Assim, era indubitá vel a competência da Justiça comum estadual,
eis que inexiste, no caso concreto, crime militar. Em consonâ ncia com este entendimento,
seguem as Sú mulas 90 e 172 do Superior Tribunal de Justiça:
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“Súmula 172: Compete à Justiça Comum processar e
julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda
que praticado em serviço.”
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NO CODIGO PENAL MILITAR. - DIVERSIDADE DE
JURISDIÇÃ O INFORMADA PELA REGRA DO ART. 79, I, DO
CODIGO DE PROCESSO PENAL.- JURISPRUDENCIA DO STJ
(SUMULA 172). - CONFLITO CONHECIDO.” (CC 3.782/MG,
Rel. Ministro WILLIAM PATTERSON, TERCEIRA SEÇÃ O,
julgado em 28/05/1997)
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MILITARES. ELEMENTOS INDICIÁ RIOS COMPATÍVEL, EM
TESE, COM OS DELITOS DE TORTURA, PORQUANTO
APARENTE CONSTRANGIMENTO COM O INTUITO DE
OBTER INFORMAÇÃ O, E O DE ABUSO DE AUTORIDADE.
PRÁ TICAS DELITIVAS DE COMPETÊ NCIA DA JUSTIÇA
COMUM. AFASTADA, ASSIM, A COMPETÊ NCIA DA JUSTIÇA
CASTRENSE E TAMBÉ M DO JUÍZO SUSCITADO (JUIZADO
ESPECIAL CRIMINAL), ESTE Ú LTIMO, EM RAZÃ O DA SOMA
DAS PENAS MÁ XIMAS COMINADAS SER SUPERIOR AO
MONTANTE PREVISTO PARA CONFIGURAÇÃ O DE CRIME
DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO. DETERMINAÇÃ O, DE
OFÍCIO, DE COMPETÊ NCIA DO JUÍZO COMUM PARA O
PROCESSAMENTO DO FEITO. NECESSIDADE, CONTUDO,
DE MODIFICAÇÃ O DA DEFINIÇÃ O JURÍDICA DA CONDUTA,
EM DECORRÊ NCIA DE ELEMENTOS DE FATOS NÃ O
CONTIDOS NA PEÇA VESTIBULAR. HIPÓ TESE
EXCEPCIONAL NA QUAL O MAGISTRADO ESTÁ
AUTORIZADO A ULTRAPASSAR O JUÍZO DE
ADMISSIBILIDADE NA PRESENTE FASE PROCESSUAL, UMA
VEZ QUE ABRANGE QUESTÃ O DE FIXAÇÃ O DA
COMPETÊ NCIA. CONFLITO PROCEDENTE. Verificada a
existência de elementos indiciá rios capazes de justificar a
persecuçã o criminal no que concerne aos delitos de tortura
e abuso de autoridade, nã o cabe à Justiça Militar o processo
e julgamento do feito, porquanto ambas as prá ticas
delitivas sã o de competência da Justiça Comum. (TJ-SC - CJ:
20130558116 SC 2013.055811-6 (Acó rdã o), Relator: Paulo
Roberto Sartorato, Data de Julgamento: 17/11/2014,
Primeira Câ mara Criminal Julgado, ).
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eles em tese perpetrado, os quais, de qualquer forma, sequer foram foco da investigaçã o
militar.
Tampouco se pode esquecer que a conduçã o do Inquérito Policial
Militar e a colheita de provas naquela seara sã o regidas pelas regras do Có digo de
Processo Penal Militar (Decreto- Lei 1.002, de 21/10/69), diploma que nã o prevê em
específico, por exemplo, a identificaçã o de testemunhas oculares, a oitiva do ofendido,
reproduçã o simulada dos fatos, todas providências indispensá veis na conduçã o de
Inquérito Policial Comum, regido pelo Có digo de Processo Penal (artigo 6º).
A propó sito, no IPM é revelado que no local estava acontecendo uma
festa, que havia mais de 30 (trinta) testemunhas das agressões sofridas pela vítima
(fls. 86 dos autos), e, ao que consta, não foi realizada a diligência, habitual na polícia
judiciária e prevista no Código de Processo Penal, de localização de todas ou grande
parte dessas testemunhas oculares, que, na narrativa, abundavam. Nã o se olvide que
a d. autoridade ora apontada como coatora chegou à conclusã o de que a investigaçã o na
seara militar fora “exaustiva” sem sequer ter acesso à integralidade do Inquérito Policial
Militar (o expediente do DIPO é aqui juntado na íntegra, em sequencia numérica de folhas,
para permitir essa conclusã o – DOC. XX).
O interessante (e espantoso) do que aqui se constata é que, sem sequer
saber ao certo como foram conduzidas as investigaçõ es na seara militar, a conclusã o de
existência de excludente de ilicitude na conduta do Policiais tidos como violadores da lei,
tirada pela Justiça Castrense, foi referendada pela Justiça Comum.
Nã o se quer dizer aqui que Justiça Militar e a Justiça Comum nã o podem
chegar coincidentemente a uma mesma conclusã o: apenas quer-se dizer que isso pode
acontecer TÃ O SOMENTE apó s percurso independente de investigaçã o de cada qual em
sua pró pria esfera, através de suas regras específicas e ú nicas. É teratoló gico imaginar a
Justiça Militar abrindo mã o de providências investigativas conforme seu rito pró prio
porque a Justiça Comum já chegou a um termo e conclusã o finais; da mesma forma, é
teratoló gico permitir que a Justiça Comum rasgue os diplomas investigativos da lei civil e
simplesmente referende os trabalhos da Justiça Militar sem proceder a seu pró prio e
independente trabalho investigativo. As jurisdiçõ es sã o independentes e incomunicá veis,
posto que atravessadas por ritos distintos e objetos diversos.
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Assim fazendo, devida vênia, delegando e terceirizando à Justiça
incompetente e regida por outras regras o seu dever, atingiu-se um dos caros pilares de
sustentaçã o do Estado de Direito, que veda a denegaçã o de jurisdiçã o, sedimentando que o
Poder Judiciá rio é inafastá vel, assim como é garantido o acesso à Justiça (CF. artigo 5,
XXXV).
Mas nã o é só . A um só tempo, quando o Sistema de Justiça Comum nega
o que lhe era de dever, delegando à Justiça incompetente a tarefa de fazê-lo, fere-se
também a garantia do juiz natural, insculpida no artigo 5º, LIII, da Constituiçã o Federal.
No mais, os princípios, regras e a jurisprudência que permeiam a Justiça
Castrense sã o bastante distintos daqueles que permeiam a Justiça Comum. Assim, se na
Justiça Castrense, como foi dito na promoçã o de arquivamento deste caso naquela seara, a
palavra da vítima em crimes que envolvem agentes do Estado nã o adquire muita
relevâ ncia, “restando isolada nos autos”, na Justiça Comum, a palavra da vítima em crimes
de tortura ou mesmo de abuso de autoridade assumem papel de singular relevâ ncia, já que
normalmente sã o praticados em locais restritos à vítima e aos executores, e por isso acaba
servindo de base para a condenaçã o, quando acrescentada a outros elementos de
convicçã o. Neste sentido, posicionam-se os julgados abaixo:
“APELAÇÃ O CRIMINAL - TORTURA - RECURSOS
DEFENSIVOS - NEGATIVA DE AUTORIA - PALAVRA DA
VÍTIMA EM CONSONÂ NCIA COM O CONJUNTO
PROBATÓ RIO - LAUDO PERICIAL COMPROBATÓ RIO DAS
LESÕ ES - RECURSOS CONHECIDOS - PROVIDO UM E
PARCIALMENTE PROVIDO OUTRO. Nos crimes de tortura,
que guardam em sua essência a clandestinidade, sobretudo
quando praticados por policiais, a palavra da vítima assume
especial relevâ ncia, principalmente em consonâ ncia com os
demais elementos probató rios amealhados nos autos.
Adotando-se o conceito de autoridade como elemento
normativo do tipo, previsto no art. 5.º, da Lei n.º
4.898/1965, a aplicaçã o à espécie da majorante de pena
(""se o crime é cometido por agente pú blico""),
estabelecida no art. 1.º, § 4.º, inc. II, da Lei n.º 9.455/1997,
constitui evidente ""bis in idem""na valoraçã o da condiçã o
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pessoal do sujeito ativo, e que deve ser afastado. Conquanto
a absolviçã o realmente nã o atenda o interesse da
coletividade, uma condenaçã o que nã o se baseia em provas
concretas, estremes de dú vida e produzidas sob o crivo do
contraditó rio também nã o pode ocorrer, sob pena de se
cometer um erro judiciá rio, que repugna a toda sociedade.
V.V.P. APELAÇÃ O CRIMINAL - TORTURA - RECURSOS
DEFENSIVOS - AUSÊ NCIA DE ELEMENTOS APTOS A
FUNDAR A CONDENAÇÃ O - INEXISTÊ NCIA DE PROVAS DA
EXISTÊ NCIA DO FATO - NEGATIVA DE AUTORIA -
IMPROCEDÊ NCIA - LAUDO PERICIAL COMPROVADOR DA
EXISTÊ NCIA DE LESÕ ES - PALAVRA DA VÍTIMA FIRME E
COERENTE, CORROBORADA POR PROVA TESTEMUNHAL -
RECURSOS CONHECIDOS E IMPROVIDOS. Nos crimes de
tortura, que guardam em sua essência a clandestinidade,
má xime quando perpetrados por policiais, a palavra da
vítima há de ser vista com especial valoraçã o,
especialmente se condizente com prova pericial e
depoimento de testemunha que acompanhou seu martírio
posterior à violência. Precedentes.” (Apelaçã o Criminal
1.0024.01.038678-7/001, Relator(a): Des.(a) Má rcia
Milanez , Relator(a) para o acó rdã o: Des.(a) Sérgio Braga ,
1ª CÂ MARA CRIMINAL, julgamento em 23/08/2005)
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Relator(a): Des.(a) Roney Oliveira , 2ª CÂ MARA CRIMINAL,
julgamento em 13/04/2000)
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culpa – razã o por que é indiferente para o provimento desta que nã o tenham sido
identificados os policiais envolvidos na investigaçã o militar, nem haja sentença transitada
em julgado em sede criminal. A Constituiçã o Federal é clara ao plasmar a
responsabilizaçã o estatal objetiva, sem perquiriçõ es sobre o animus estatal ou de seus
agentes.
No plano da responsabilidade objetiva do direito brasileiro, o dano
ressarcível tanto resulta de um ato doloso ou culposo do agente
público como, também, de ato que, embora não culposo ou
revelador de falha da máquina administrativa ou do serviço, tenha-
se caracterizado como injusto para o particular, como lesivo ao seu
direito subjetivo.8
8
Cahali, Yussef Said. Responsabilidade civil do Estado. 3. Ed. Sã o Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2007.
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Aliá s, quanto à possível contestaçã o das abundantes provas coligidas,
tem-se, também advindo da jurisprudência da Corte Europeia de Direitos Humanos, que a
presunçã o de inocência do agente nã o exime o Estado de reparar o dano causado. O
Estado, naquela Corte, e de maneira progressiva também em outras jurisdiçõ es, é visto,
por força dos tratados assinados e do compromisso assumido contra a tortura, como
titular do dever de apontar causas plausíveis para as lesõ es sofridas no período em que
uma pessoa permaneça sob sua guarda e responsabilidade. Nesse sentido, o excerto
abaixo, reafirma que havendo indícios de tortura e maus-tratos cabe à s autoridades
pú blicas oferecer explicaçã o alternativa e convincente. Em esta nã o havendo, prevalece a
versã o do ofendido.9
Por exemplo, a Corte Europeia de Direitos Humanos tem afirmado que
‘quando um indivíduo é levado em custódia em boas condições de
saúde, mas se encontra ferido no momento da liberação, é
incumbência do Estado oferecer uma explicação plausível sobre a
causa dos ferimentos’. A presunçã o que as lesõ es sofridas por um
detento sã o resultado de tortura ou outra forma proibida de maus tratos
pode ser afastada se existe uma explicaçã o alternativa plausível, mas
cabe à s autoridades e aos supostos perpetradores demonstrarem de
forma convincente que as alegaçõ es sã o infundadas.10
9
Corte Europeia de Direitos Humanos. Caso Ribitsch v. Á ustria, julgamento de 04 de dezembro de
1995, §34: “Nã o se contesta que as lesõ es Sr. Ribitsch foram causadas durante o período de
detençã o, que era de todo o modo ilegal, sob custó dia da polícia, mantido sob seu controle. A
absolviçã o do policial Markl no processo penal num tribunal vinculado ao princípio da presunçã o
de inocência nã o absolve a Á ustria da sua responsabilidade no â mbito da Convençã o. O Governo,
portanto, era obrigado a fornecer uma explicaçã o plausível de como os ferimentos do recorrente
foram causados. Mas o Governo nã o fez mais do que se referir ao resultado do processo penal
interno, onde o alto padrã o de prova necessá ria para assegurar uma condenaçã o penal nã o foi
encontrado para ter sido satisfeita. (...) Com base em todo o material apresentado, o Tribunal
conclui nã o ter o Governo provado satisfatoriamente que as lesõ es do peticioná rio nã o foram
causadas - inteiramente, principalmente, ou em parte - pelo tratamento que ele sofreu enquanto
estava sob custó dia policial”.
10
FOLEY, Conor. Protegendo os brasileiros contra a tortura: Um manual para Juízes, Promotores,
Defensores Pú blicos e Advogados, 1ª ed., Brasília: IBAHRI, Ministério das Relaçõ es Exteriores
Britâ nico e Embaixada Britânica no Brasil, 2011, p. 76.
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desnecessá rio ou nã o autorizado legalmente. Excluída a descriminante quanto a esse
resultado, responderá o agente por crime doloso pelo evento causado no excesso. Assim,
aquele que, podendo apenas ferir, mata a vítima, responderá por homicídio; o que podia
evitar a agressã o através das vias de fato e causou lesã o responderá por esta”.11 Ora, se,
nesse caso, foi inicialmente legítima a abordagem, logo deixou de sê-lo por obra da
intimidaçã o consciente e desejada, assim como nã o poderiam deixar de serem os socos,
xingamentos e perguntas agressivas, que tiveram como vítima um cidadã o desarmado.
Trata-se, sim, conforme a narraçã o do caso, de excesso doloso no
cumprimento do dever legal – ainda que nã o seja possível a identificaçã o do indivíduo que
o praticou. Os policiais extrapolaram os limites de uma açã o regular, como evidencia o
texto da Lei nº 4.898/65, acima referido, e alcançaram um resultado absolutamente
antijurídico e desnecessá rio.
Está evidenciado, portanto, que é dever do Estado indenizar o
requerente pelos prejuízos, de ordem moral, causados pelos policiais militares que agiram
em seu nome.
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direito claro, diante de uma autoridade nã o razoá vel. Aliá s, seus efeitos perduram, na
sensaçã o de injustiça e vulnerabilidade.
(...) todo fato resultante de um ato contrá rio ao Direito, que afete de
alguma forma a integridade psíquica do indivíduo, provocando-lhe a
infelicidade, transitória ou não no tempo, no plano jurídico, é um
dano moral puro. É certo que os exemplos mais comuns de dano moral
puro sã o identificados pela dor ou sofrimento experimentado pelo
indivíduo. Assim, são os decorrentes da perda de um ente querido,
da mutilação, da lesão física, da desonra, da humilhação, da
depressão, da angústia.12
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exercício da atividade policial militar que extrapola o estrito
cumprimento do dever legal e envereda para o campo da ilicitude e do
abuso de autoridade. Vítima submetida a agressõ es físicas significativas,
a sério constrangimento e grave humilhaçã o em local pú blico. DANOS
MORAIS "IN RE IPSA". Independem de prova os danos morais no
contexto verificado nos autos, eis que se tem por caracterizados "in re
ipsa", pois a vítima sofreu inequívoca violaçã o a sua integridade
corporal. ARBITRAMENTO DO "QUANTUM" INDENIZATÓ RIO. Montante
da indenizaçã o arbitrado em atençã o aos critérios de proporcionalidade
e razoabilidade, bem assim à s peculiaridades do caso concreto.
CONSECTÁ RIOS LEGAIS. APLICAÇÃ O DA LEI Nº 11.960/09. A Segunda
Seçã o do e. Superior Tribunal de Justiça, apreciando o tema sob a
sistemá tica do artigo 543-C do CPC (no REsp Nº 1.270.439/PR),
estabeleceu critérios para correçã o das condenaçõ es impostas à Fazenda
Pú blica, apó s a entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009, procurando
compatibilizá -los com o entendimento adotado pelo STF ao julgar a ADI
nº 4.537-DF. Em vista disso, passa-se a aplicar o IPCA, como critério de
correçã o monetá ria a incidir sobre o principal da condenaçã o. No tocante
aos juros de mora, considerando que a declaraçã o de
inconstitucionalidade pelo Excelso Pretó rio, por arrastamento, em
relaçã o ao art. 5º daquele diploma legal, ficou restrita à correçã o
monetá ria, permanece a incidência dos juros aplicados à caderneta de
poupança, nos termos do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com redaçã o dada
pela Lei nº 11.960/09. APELO PROVIDO EM PARTE. (Apelaçã o Cível Nº
70058417353, Nona Câ mara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Miguel  ngelo da Silva, Julgado em 27/08/2014) (TJ-RS - AC:
70058417353 RS, Relator: Miguel  ngelo da Silva, Data de Julgamento:
27/08/2014, Nona Câ mara Cível, Data de Publicaçã o: Diá rio da Justiça do
dia 01/09/2014)
13
BITTAR, Carlos Alberto. Reparação civil por danos morais: a questão da fixação do valor. Tribuna
da Magistratura: Informativo da Associaçã o Paulista de Magistrados - Caderno de Doutrina, Sã o
Paulo, jul. 1996, p. 35.
14
Disponível em: < http://www.planejamento.sp.gov.br/noti_anexo/files/Lei_14925_de_28-12-
12.pdf >.
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O combate à tortura exige que magistrados e promotores manejem com
destreza tanto o escudo quanto a espada da lei. O escudo que eles devem
proporcionar consiste em respeitar as salvaguardas nacionais e
internacionais destinadas a proteger as pessoas que se encontram nas
mã os dos responsá veis pela aplicaçã o da lei, de modo a impedir que elas
sejam submetidas a tortura e a maus tratos semelhantes e proibidos. A
espada que eles devem brandir consiste em responsabilizar aqueles que
perpetram tais atos pela violaçã o da lei.15
Posto isso, é a presente açã o indenizató ria para requerer que seja
paga quantia nã o inferior a 200 salá rios mínimos paulistas em indenizaçã o pelos danos
infligidos a XXX por policiais militares deste Estado.
15
FOLEY, Conor. Protegendo os brasileiros contra a tortura: Um manual para Juízes, Promotores,
Defensores Públicos e Advogados, 1ª ed., Brasília: IBAHRI, Ministério das Relaçõ es Exteriores
Britâ nico e Embaixada Britânica no Brasil, 2011.
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II. PEDIDOS
Por todo o exposto, requer o autor:
a. A concessã o dos benefícios da Justiça Gratuita, tendo em vista a
declaraçã o de situaçã o financeira anexa, nos termos do art. 3º da
Lei 1.060/50;
b. A citaçã o do réu, na pessoa do Procurador Geral do Estado de Sã o
Paulo, para, querendo, apresentar contestaçã o no prazo legal;
c. O julgamento totalmente procedente da açã o para que seja o réu
condenado ao pagamento do equivalente a 200 salá rios mínimos,
como forma de reparaçã o dos danos morais sofridos;
d. A condenaçã o do réu nas verbas de sucumbências;
e. A intimaçã o pessoal da Defensoria Pú blica de todos os atos do
processo, bem como a observâ ncia da contagem em dobro de
todos os atos processuais, com fundamento no art. 128, inciso I, da
Lei Complementar Federal 80/94;
f. Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em
direito admitidos, notadamente provas documentais, oitiva de
testemunhas, as quais serã o arroladas no prazo do artigo 407 do
Có digo de Processo Civil.
g. A juntada dos documentos que acompanham esta inicial.
Sã o Paulo, data.
Defensor(a) Pú blico(a)
Unidade de XXXXXXXXXXX
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