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EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUIZA DE DIREITO GLAUCIA


FERNANDES PAIVA, DA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SÃO SEBASTIÃO/SP

INQUÉRITO POLICIAL Nº 2251289-39/2019

CESAR EDUARDO FERREIRA, policial militar, Comandante do 20º Batalhão de


Polícia Militar do Interior, sediado na Avenida Brasil, nº 1001, Bairro Sumaré,
Caraguatatuba/SP, CEP 11661-200, onde recebe intimações, vem respeitosamente perante a alta
presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 5º, LXVIII, da Constituição Federal,
impetrar ordem de

HABEAS CORPUS

Para trancamento e consequente encerramento do Inquérito Policial nº 2251289-


39/2019 e remessa dos autos originais para o 20º Batalhão de Policia Militar do Interior,
instaurado em desfavor do 1º Tenente PM RODOLFO DE OLIVEIRA QUIRINO, Policial
Militar, Brasileiro, casado, Registro Estatístico nº 130891-2, cédula de Identidade nº 43372056-
6 SSP/SP, residente e domiciliado na Avenida Brasil, nº 1001, Bairro Sumaré, Caraguatatuba/SP,
CEP 11661-200, e do Soldado PM FABIO JOSÉ TONDA, Policial Militar, Brasileiro, casado,
Registro Estatístico nº 139302-2, cédula de identidade nº 33181496 SSP/SP, residente e
domiciliado na Avenida Brasil, nº 1001, Bairro Sumaré, Caraguatatuba/SP, CEP 11661-200,
tendo como autoridade Coatora o Exmo. Sr. Delegado de Polícia JOSÉ VINCIPROVA
SOBRINHO, da Delegacia Seccional de São Sebastião/SP, pelos fatos e fundamentos a seguir:
DOS FATOS
Tendo chegado ao conhecimento deste Comandante de Batalhão a instauração
de Inquérito Policial em desfavor de Policiais Militares, subordinados a este, instaurado por
Autoridade de Polícia Judiciária Comum com o objetivo de apurar crimes, in thesis, cometido no
curso de atuação como Autoridade de Polícia Judiciária Militar por delegação, detalhadamente,
crimes previstos nos art. 347 (Fraude Processual), art. 328 (Usurpação de Função Pública) e art.
319 (Prevaricação), todos do Código Penal Brasileiro, instauração esta que se mostra descabida,
pois atenta diretamente contra o correto funcionamento de uma Instituição constitucionalmente
instituída com suas atribuições devidamente definidas na Constituição Federal e Lei
infraconstitucionais.
Tal Inquérito Policial foi instaurado com base em flagrante ilegalidade do ato
e permeado de Abuso de Poder, resultando em um iminente constrangimento ilegal à liberdade
de locomoção dos investigados, além de atentar contra prerrogativas funcionais e institucionais
legalmente dotadas.
A atribuição de Polícia Judiciária Militar está definida no art. 144, §4º da
Constituição Federal de 1988 “Às Polícias Civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira,
incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração
de infrações penais, exceto as militares” (grifo nosso), combinado com os arts. 6º, 7º e 8º do
Código de Processo Penal Militar, onde está definido que a apuração das infrações penais
militares praticadas por policiais e bombeiros militares reger-se-á pelas regras descritas no
Decreto Lei nº 1002/69, Código de Processo Penal Militar.
O Decreto-Lei nº 1001/69 (Código Penal Militar) define em seu art. 9º
“Consideram-se crimes militares, em tempo de paz”, e em seus incisos e parágrafos especifica as
situações em que se enquadram tais crimes, considerando, para o caso concreto ora refutado, o
inciso II “os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando
praticados”, alínea c “por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de
natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar
contra militar da reserva, ou reformado, ou civil” (grifo nosso) conforme o mandamento
sedimentado no art. 5º, LXI da Constituição Federal.
A Lei nº 13.491/17 realizou uma importante alteração legislativa ampliando a
abrangência da Lei Penal Militar de modo a abarcar todos os crimes existentes na legislação
penal brasileira, com a única exceção dos crimes dolosos contra vida de civil, desde que
praticados por agente nas condições do art. 9º do Código Penal Militar; desta forma, não há que
se falar em apuração de crimes militares por parte da Polícia Civil, cabendo exclusivamente à
Polícia Militar, ressalvada a competência do Ministério Público, por meio da Autoridade de
Polícia Judiciária Militar devidamente constituída, tal apuração.
Na Polícia Militar do Estado de São Paulo esta atuação, na apuração de Crimes
Militares, está devidamente sedimentada com normas e regulamentos internos, todos amparados
no arcabouço jurídico que trata do assunto, estabelecendo de forma indubitável as funções
específicas de cada ator no momento da eclosão de algum delito militar, sempre com o fito de
dar uma pronta resposta à sociedade que outorga à Instituição a legitimidade do uso da força,
visando sempre, coibir e reprimir quaisquer desvios no uso dessa força, seja na modalidade de
abuso, na omissão ou mesmo no desvio da finalidade. Todos os atos de Polícia Judiciária Militar,
praticados na Polícia Militar do Estado de São Paulo, são constantemente fiscalizados pelo órgão
correcional, Corregedoria da Polícia Militar do Estado de São Paulo, pelo Tribunal de Justiça
Militar do Estado de São Paulo (TJM/SP) e pelo Ministério Público do Estado de São Paulo que
atua naquele Órgão Jurisdicional.
Quanto aos fatos objeto da contrariedade suscitada pelo Sindicato dos
Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, que ensejou a instauração do presente Inquérito
Policial por parte do Delegado Seccional de São Sebastião, trata-se de ocorrência de flagrante de
tráfico de entorpecentes em que, na ocasião, um policial militar (1º Tenente PM Rodolfo de
Oliveira Quirino) quando da tentativa de imobilização para detenção e submissão à Lei Penal de
um infrator da lei, entrou em luta corporal com Adonai Bispo dos Santos, vindo ambos a cair por
alguns metros uma escadaria ali existente e, em determinado momento, Adonai terminou por
ficar sobre o corpo do 1º Tenente PM Quirino, procurando subtrair-lhe a arma de fogo; o policial
militar, ao perceber a iminência da perda de sua arma de fogo para o indivíduo, efetuou um
disparo de arma de fogo visando cessar a injusta agressão, assumindo o risco do resultado lesivo
à integridade física do indivíduo, fato este que acabou ocorrendo, não havendo até o momento
vislumbre do ânimus necandi presente na ação do policial militar, pois pela dinâmica dos fatos
não se verifica a realização da visada e o “engajamento no alvo” na busca de órgãos vitais para
fazer cessar a injusta agressão.
Na ocasião foi realizada a tentativa de acionamento de socorro especializado
(SAMU) para a prestação do devido atendimento médico-hospitalar para o indivíduo lesionado,
sendo certo que não havia viatura disponível para a prestação do socorro imediato e, visando a
preservação da integridade física de Adonai, o policial militar realizou o socorro em sua própria
viatura, seguindo os mandamentos legais vigentes, porém providenciando a imediata preservação
do local de crime por meio de apoio de outras viaturas policiais, local este que foi devidamente
periciado por Perito da Superintendência de Polícia Técnico-Científica, sendo acionado o Oficial
designado por esta Autoridade de Polícia Judiciária Militar para a imediata verificação dos fatos
e adoção das medidas apuratórias competentes;
Foram adotadas pelo Oficial na função de Plantão de Polícia Judiciária Militar
todas as medidas preliminares ao Inquérito Policial Militar, previstas no art. 12 do Código de
Processo Penal Militar, sendo certo que, a ocorrência ora averiguada foi caracterizada pela
Autoridade Policial Judiciária Militar presente no local como Lesão Corporal Dolosa (art. 209
do Código Penal Militar), sendo instaurado o competente Inquérito Policial Militar para apuração
dos fatos, nos termos do art. 10, ‘b’ do Código de Processo Penal Militar.
Cabe apontarmos as ilegalidades presentes na instauração do Inquérito
Policial nº 2251289-39, referente ao Boletim de Ocorrência nº 2617, de 22 de agosto de 2019:
O procedimento apuratório instaurado pela Autoridade de Policia Civil para
verificar supostos crimes de Fraude Processual, Prevaricação e Usurpação de Função Pública, é
flagrantemente ilegal, pois o Delegado de Polícia não tem competência legal para apuração dos
crimes tendo em vista que a Constituição Federal determina que a Policia Civil não pode
investigar crimes militares, e no caso em tela, os crimes em tese praticados foram cometidos por
policiais militares de serviço, sendo de natureza militar, pois se amoldam perfeitamente no art.
9, inciso II, alínea ‘c’ (“Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:” “ II – os
crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados:” “c) por
militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em
formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou
reformado, ou civil;”) (grifo nosso). Acreditamos que, devido à legislação castrense ser de pouco
conhecimento dos operadores do direito, o Delegado de Polícia Civil desconhece tal
particularidade e erroneamente pretende apurar a conduta dos Policiais Militares em serviço, o
que resultaria em demanda de esforços humanos e materiais desnecessários e improdutivos,
colidindo frontalmente com o princípio da eficiência que rege a Administração Pública (art. 37
CF/88); neste caso o Delegado claramente não possui competência legal para tal ato o que
caracteriza Abuso de Poder, e, consequentemente, suscetível da impetração de Habeas Corpus.
A Lei nº 4.898/65 suscita a possibilidade até mesmo, s.m.j., de eventual crime
de Abuso de Autoridade, por parte do Delegado de Polícia, senão vejamos:
“Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:

a) à liberdade de locomoção;
(...)
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.
O Delegado de Polícia ao instaurar procedimento investigatório em desfavor
dos Policiais Militares que fazem parte da ocorrência e, porventura, da Autoridade de Polícia
Judiciária Militar, choca-se com a alínea ‘j’ do referido diploma legal, pois já foi demonstrado o
embasamento legal para a atuação da Polícia Militar na apuração dos fatos.
Cabe salientar que o procedimento correto que deveria ser adotado pela Polícia
Civil ao receber solicitação do Sindicato dos Delegados para averiguação de crimes praticados
por policiais militares de serviço, deve ser encaminhar a denúncia para a Polícia Militar para que
adote as providências apuratórias cabíveis e remeta para as autoridades competentes, caso
verifique a existência de alguma irregularidade, seja criminal ou administrativa.

Relevamos ainda que dos fatos ocorridos na data de 13 de agosto de 2019 onde
um policial militar efetuou um disparo de arma de fogo contra um civil, vindo a lesioná-lo, sem,
contudo, causar sua morte, pois o civil passou por cirurgia e já se encontra detido no Centro de
Detenção Provisória, ocorreu unicamente uma divergência hermenêutica entre a Polícia Militar
e a Polícia Civil sobre a tipificação do mesmo fato, divergência esta que em nada prejudica a
elucidação dos fatos para que o Ministério Público aprecie e adote as providências necessárias;
ao analisar racionalmente os fatos, a primeira autoridade policial a chegar ao local requisitou o
Instituto de Criminalística para periciar o local e procedeu na apreensão dos objetos, sendo certo
que os atos adotados pela outra Autoridade Policial Civil seriam os mesmos e o resultado também
o será e estará a disposição das 02 (duas) Polícias para elucidação dos fatos e finalização de seus
respectivos Inquéritos Policiais. O que é inconcebível é procurar criminalizar as atividades de
Polícia Judiciária Militar e seu entendimento acerca dos fatos, pois resultaria no crime de
hermenêutica, o que seria um ataque às Prerrogativas Legais, Institucionais e Funcionais, criando
uma insegurança jurídica enorme na atuação de todos os Operadores do Direito, além de um
retrocesso no desenvolvimento do Direito que está em constante aperfeiçoamento graças a
debates jurídicos, análises e mudança de jurisprudência, contribuindo, em última análise, para a
proteção e defesa de todo ambiente democrático. Com isso procuramos deixar claro que este
impetramento de Habeas Corpus em nada procura questionar o entendimento do Delegado que
tipificou os fatos do dia 13 de agosto de 2019 como tentativa de homicídio (BOPC nº 2517/19),
assim como não é possível que ele questione a tipificação dada pela Autoridade de Policia
Judiciária Militar de Lesão Corporal Dolosa (Inquérito Policial Militar 012/103/19), o que
vislumbramos é a flagrante ilegalidade e abuso de poder do Inquérito Policial nº 2251289-
39, advindo da instauração do BOPC nº 2617/19 que pretende apurar supostos crimes militares
efetuados por policiais militares de serviço acerca dos fatos registrados no BOPC nº 2517/19 e
não tem nenhuma correlação com crimes dolosos contra a vida de civil, ainda que na forma
tentada, praticados pelos policiais militares.
Diante da obviedade de ausência de resultado útil ao processo penal, não se
justifica a movimentação da máquina estatal, uma vez que a apuração dos supostos ilícitos, desde
o início é nula de pleno direito, trazendo o inquérito policial apenas uma única e nefasta
consequência, qual seja o constrangimento aos pacientes deste remédio jurídico.
Após elucidação de todos os detalhes dos fatos ora ocorridos, bem como das
ponderações acerca das imputações criminais indevidamente apuradas por Delegado de Polícia
Civil, venho solicitar a Vossa Excelência o que segue:
a) Provimento em caráter liminar do presente Habeas Corpus na sua forma
preventiva, haja vista o perigo iminente de lesão à liberdade de locomoção ilegalmente
provocada por Autoridade não competente para tal;
b) Trancamento imediato, e consequente encerramento, do Inquérito
Policial nº 2251289-39, referente ao Boletim de Ocorrência nº 2617/19, em obediência ao artigo
647, c.c. artigo 648, I, III, VI do Código de Processo Penal, uma vez que falta justa causa para o
prosseguimento da persecução penal, que será certamente nulo, o qual apura o cometimento dos
crimes de Usurpação de Função Pública, Fraude Processual e Prevaricação, constando como
autores o 1º Tenente PM Rodolfo de Oliveira Quirino e Soldado PM Fabio José Tonda, Policiais
Militares que participaram da ocorrência de flagrante, haja vista toda a sustentação exposta na
presente documentação;
c) Remessa para o 20º Batalhão de Polícia Militar do Interior dos autos
originais de quaisquer apurações que estejam em andamento na Polícia Civil do Estado de
São Paulo acerca do solicitado na alínea ‘b’, para que as apurações apropriadas sejam adotadas
por Autoridade competente e remetidas para os órgãos e Instituições pertinentes.
Na oportunidade renovo meus protestos de elevada estima e distinta
consideração.
Caraguatatuba, 11 de setembro de 2019.

CESAR EDUARDO FERREIRA


Ten Cel PM Comandante do 20º BPM/I

ANEXOS:
a) Cópia do IPM 20 BPM/I nº 012/103/19;
b) Cópia da Portaria do Inquérito Policial n° 2251289-39;
c) Cópia do BOPM nº 10693/2019;
d) Cópia do BOPC nº 2517/2019;
e) Cópia do Laudo Pericial nº 316.946/2019;
f) Termo de Declaração do 1º Ten PM 130891-2 Rodolfo de Oliveira Quirino;
g) Termo de Declaração do Sd PM 139302-2 Fabio José Tonda;
h) Termo de Declaração do Sd PM André Luiz Correa Ribeiro;
i) Croqui do Local da Ocorrência;
j) Auto de Exibição e Apreensão;
k) Ficha de atendimento ambulatorial do 1º Ten PM 130891-2 Rodolfo de Oliveira
Quirino;
l) Resenha de Informações de Ocorrências Graves;
m) Informe de Alta Hospitalar do Sr. ADONAI BISPO DOS SANTOS;

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“Nós, Policiais Militares, sob a proteção de Deus, estamos compromissados com a Defesa da Vida, da Integridade Física e da Dignidade da Pessoa Humana”.

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