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INQUÉRITO POLICIAL

MILITAR

CURSO DE FORMAÇÃO DE SARGENTOS CBMSC

Ten Cel BM Maico Francisco de Alcântara


REFERÊNCIAS

⚫Decreto-Lei Nr 1.002/1969 - CPPM;

⚫Manual de orientações básicas para Inquérito


Policial Militar no CBMSC.
Crime Militar

Crime Militar Próprio: previsão somente no CPM e praticado por


militar;

Crime militar impróprio – crime impropriamente militar é aquele que


está previsto tanto no CPM, como na legislação penal comum;

Crimes militares por extensão, que estão previstos fora do CPM, ou


seja, exclusivamente na legislação penal comum, mas que se
caracterizam como de natureza militar pelas hipóteses do inciso II do
art. 9º do CPM. (Lei 13.491/17);

Civil só pode ser julgado pela Justiça Militar da União por crime
praticado contra militar federal ou contra o patrimônio militar federal.
Crime Militar

Em 2017, a publicação da Lei 13.491, alterou o


art. 9º do Código Penal Militar;
Assim, além dos crimes própria e
impropriamente militares, abarcados pela
classificação tradicional, passaram ao rol dos
crimes militares (por extensão) os previstos no
Código Penal comum e legislação extravagante,
desde que a situação fática esteja compreendida
pelo elencado no art. 9º, II do CPM
Crime militar
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo
de paz:
I - os crimes de que trata este Código, quando
definidos de modo diverso na lei penal comum, ou
nela não previstos, qualquer que seja o agente,
salvo disposição especial;
II – os crimes previstos neste Código e os
previstos na legislação penal, quando praticados:
(Redação dada pela Lei nº 13.491, de 2017)
a) por militar em situação de atividade ou
assemelhado, contra militar na mesma situação
ou assemelhado;
Crime militar
b) por militar em situação de atividade ou
assemelhado, em lugar sujeito à administração
militar, contra militar da reserva, ou reformado,
ou assemelhado, ou civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão da
função, em comissão de natureza militar, ou em
formatura, ainda que fora do lugar sujeito à
administração militar contra militar da reserva,
ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº
9.299, de 8.8.1996)
Crime militar

d) por militar durante o período de manobras ou


exercício, contra militar da reserva, ou reformado,
ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou
assemelhado, contra o patrimônio sob a
administração militar, ou a ordem administrativa
militar;
Crime militar

Assim, tipos penais previstos no CP ou na


legislação extravagante, se praticados em local
sujeito à administração militar (art. 9º, alínea
“b”, CPM), ou se em serviço ou em razão da
função (art. 9º II, alínea “c “do CPM), são
militares, sendo da Justiça Militar a competência
para julgamento e processamento dos mesmos
Sigilo do IPM

O sigilo no inquérito é indispensável ao êxito das investigações com o


objetivo de não prejudicar as diligências delas decorrentes, em busca da
verdade. Tal sigilo, no entanto, não abrange o advogado por força do
inciso XIV, do art. 7º ,da Lei nº 8906/94, Estatuto da Ordem dos
Advogados do Brasil.

Em regra têm direito a acesso à investigação e por conseguinte aos


autos: a autoridade originária, o Encarregado e o Escrivão, assim como o
Ministério Público e o Magistrado atuante na Vara de Direito Militar
IPM (CPPM)

Art. 9º O inquérito policial militar é a


apuração sumária de fato, que, nos termos
legais, configure crime militar, e de sua
autoria. Tem o caráter de instrução
provisória, cuja finalidade precípua é a de
ministrar elementos necessários à
propositura da ação penal.
INSTAURAÇÃO DO IPM

Art. 10. O inquérito é iniciado mediante


portaria:
a) de ofício, pela autoridade militar em cujo âmbito
de jurisdição ou comando haja ocorrido a infração
penal, atendida a hierarquia do infrator;
b) por determinação ou delegação da autoridade
militar superior, que, em caso de urgência, poderá ser
feita por via telegráfica ou radiotelefônica e
confirmada, posteriormente, por ofício;
INSTAURAÇÃO DO IPM

c) em virtude de requisição do Ministério Público;


d) por decisão do Superior Tribunal Militar, nos
termos do art. 25;
e) a requerimento da parte ofendida ou de quem
legalmente a represente, ou em virtude de
representação devidamente autorizada de quem
tenha conhecimento de infração penal, cuja
repressão caiba à Justiça Militar;
f) quando, de sindicância feita em âmbito de
jurisdição militar, resulte indício da existência de
infração penal militar.
ENCARREGADO DO IPM

Art. 15. Será encarregado do inquérito, sempre


que possível, oficial de posto não inferior ao de
capitão ou capitão-tenente; e, em se tratando
de infração penal contra a segurança nacional,
sê-lo-á, sempre que possível, oficial superior,
atendida, em cada caso, a sua hierarquia, se
oficial o indiciado.
PROVIDÊNCIAS ANTES DO IPM

Art. 10 § 2º O aguardamento da delegação não


obsta que o oficial responsável por comando,
direção ou chefia, ou aquele que o substitua ou
esteja de dia, de serviço ou de quarto, tome ou
determine que sejam tomadas imediatamente as
providências cabíveis, previstas no art. 12, uma
vez que tenha conhecimento de infração penal
que lhe incumba reprimir ou evitar.
Medidas preliminares ao inquérito
Art. 12. Logo que tiver conhecimento da prática de
infração penal militar, verificável na ocasião, a
autoridade a que se refere o § 2º do art. 10 deverá, se
possível:
a) dirigir-se ao local, providenciando para que se não
alterem o estado e a situação das coisas, enquanto
necessário;
b) apreender os instrumentos e todos os objetos que
tenham relação com o fato;
c) efetuar a prisão do infrator, observado o disposto
no art. 244;
d) colher todas as provas que sirvam para o
esclarecimento do fato e suas circunstâncias.
ESCRIVÃO

Art. 11. A designação de escrivão para o


inquérito caberá ao respectivo encarregado,
se não tiver sido feita pela autoridade que lhe
deu delegação para aquele fim, recaindo em
segundo ou primeiro-tenente, se o indiciado
for oficial, e em sargento, subtenente ou
suboficial, nos demais casos.
COMPROMISSO LEGAL

Parágrafo único. O escrivão prestará


compromisso de manter o sigilo do inquérito e
de cumprir fielmente as determinações deste
Código, no exercício da função.
Formação do inquérito

Art. 13. O encarregado do inquérito deverá, para a


formação deste:
a) tomar as medidas previstas no art. 12, se ainda não
o tiverem sido;
b) ouvir o ofendido;
c) ouvir as testemunhas;
d) ouvir o indiciado;
e) proceder a reconhecimento de pessoas e coisas, e
acareações;
f) determinar, se for o caso, que se proceda a exame
de corpo de delito e a quaisquer outros exames e
perícias;
Formação do inquérito

g) determinar a avaliação e identificação da coisa


subtraída, desviada, destruída ou danificada, ou da
qual houve indébita apropriação;
h) proceder a buscas e apreensões, nos termos dos
arts. 172 a 184 e 185 a 189;
i) tomar as medidas necessárias destinadas à
proteção de testemunhas, peritos ou do ofendido,
quando coagidos ou ameaçados de coação que lhes
tolha a liberdade de depor, ou a independência para a
realização de perícias ou exames.
Reconstituição

Parágrafo único. Para verificar a possibilidade


de haver sido a infração praticada de
determinado modo, o encarregado do
inquérito poderá proceder à reprodução
simulada dos fatos, desde que esta não
contrarie a moralidade ou a ordem pública,
nem atente contra a hierarquia ou a disciplina
militar.
Oitiva de Testemunhas e do Indiciado

Art. 19. As testemunhas e o indiciado, exceto


caso de urgência inadiável, que constará da
respectiva assentada, devem ser ouvidos durante
o dia, em período que medeie entre as sete e as
dezoito horas.

1º O escrivão lavrará assentada do dia e hora do


início das inquirições ou depoimentos; e, da
mesma forma, do seu encerramento ou
interrupções, no final daquele período.
2º A testemunha não será inquirida por mais de
quatro horas consecutivas, sendo-lhe facultado o
descanso de meia hora, sempre que tiver de
prestar declarações além daquele termo. O
depoimento que não ficar concluído às dezoito
horas será encerrado, para prosseguir no dia
seguinte, em hora determinada pelo encarregado
do inquérito.
3º Não sendo útil o dia seguinte, a inquirição
poderá ser adiada para o primeiro dia que o for,
salvo caso de urgência.
Oitiva de Testemunhas e do Indiciado

No caso de recusa de testemunha em


comparecer, o Encarregado fará nova notificação
à testemunha, ressaltando as consequências
legais da desobediência. Caso, ainda assim, a
testemunha não compareça, o Encarregado
oficiará ao MPM ou ao Juiz da Justiça Militar,
participando o ocorrido e solicitando
providências para a oitiva.
Prazo do IPM

Art 20. O inquérito deverá terminar dentro em


vinte dias, se o indiciado estiver preso, contado
esse prazo a partir do dia em que se executar a
ordem de prisão; ou no prazo de quarenta dias,
quando o indiciado estiver solto, contados a
partir da data em que se instaurar o inquérito.
Depoimento do ofendido

o CPPM não exige que o ofendido preste o compromisso de


dizer a verdade, portanto não é obrigada a dizer a verdade,
podendo inclusive se calar. Por outro lado, caso impute fato
criminoso a alguém que sabe inocente, poderá responder
penalmente por isso.
Não obrigatoriedade de depor

Podem eximir-se da obrigação de depor: o ascendente, o descendente, o afim


em linha reta, o cônjuge, convivente ou similar, e o irmão de acusado, o filho
adotivo, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a
prova do fato e de suas circunstâncias, quando, se ouvidos, não prestarão
compromisso e o farão na qualidade de informantes – portanto, seus
depoimentos devem ser analisados com cautela.

São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou


profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte
interessada, quiserem dar o seu testemunho.

Não prestam compromisso de dizer a verdade os doentes ou deficientes


mentais e os menores de 14 anos, que funcionarão como informantes.
Reunião e ordem das peças de inquérito

Art. 21. Todas as peças do inquérito serão, por


ordem cronológica, reunidas num só processo,
com as folhas numeradas e rubricadas, pelo
escrivão.

Juntada de Documento
De cada documento anexado, a que precederá
despacho do encarregado do inquérito, o
escrivão lavrará o respectivo termo,
mencionando a data.
RELATÓRIO

Art. 22. O inquérito será encerrado com


minucioso relatório, em que o seu encarregado
mencionará as diligências feitas, as pessoas
ouvidas e os resultados obtidos, com indicação
do dia, hora e lugar onde ocorreu o fato
delituoso. Em conclusão, dirá se há infração
disciplinar a punir ou indício de crime,
pronunciando-se, neste último caso,
justificadamente, sobre a conveniência da prisão
preventiva do indiciado, nos termos legais.
SOLUÇÃO

§ 1º No caso de ter sido delegada a atribuição para a


abertura do inquérito, o seu encarregado enviá-lo-á à
autoridade de que recebeu a delegação, para que lhe
homologue ou não a solução, aplique penalidades, no
caso de ter sido apurada infração disciplinar, ou
determine novas diligências, se as julgar necessárias.

Avocação
§ 2º Discordando da solução dada ao inquérito, a
autoridade que o delegou poderá avocá-lo e dar
solução diferente.
Arquivamento de inquérito - Proibição

Art. 24. A autoridade militar não poderá mandar arquivar autos de inquérito,
embora conclusivo da inexistência de crime ou de inimputabilidade do indiciado.

Quando o IPM contar com mais de 200 folhas, será dividido por TOMOS, não
podendo cada um deles ultrapassar esse número de páginas, exceto se prejudicar a
leitura de algum documento, por exemplo, ao particionar um depoimento. A
numeração de cada TOMO constará da capa.
Instauração de novo inquérito

Art. 25. O arquivamento de inquérito não obsta a


instauração de outro, se novas provas aparecerem
em relação ao fato, ao indiciado ou a terceira
pessoa, ressalvados o caso julgado e os casos de
extinção da punibilidade.
Dispensa de inquérito

Art. 28. O inquérito poderá ser dispensado, sem


prejuízo de diligência requisitada pelo Ministério
Público:
a) quando o fato e sua autoria já estiverem
esclarecidos por documentos ou outras provas
materiais;
b) nos crimes contra a honra, quando
decorrerem de escrito ou publicação, cujo autor
esteja identificado;
c) nos crimes previstos nos artigos 341 e 349 do
Código Penal Militar.
Ordem das Peças no IPM

1. Autuação – são autuados no processo todos os


itens em ordem cronológica.
2. Portaria do Encarregado.
3. Portaria do delegante - Delegação de poderes.
4. Documento(s) que noticia(m) o fato.
5. Designação do escrivão
6. Termo de compromisso do escrivão ( o escrivão e
o encarregado assinam).
7. Certidão - certifica que foram providenciadas as
medidas constantes em Portaria.
Ordem das Peças no IPM

8. Conclusão - que poderá ser junto da certidão,


conclui as ordens dadas até então. E vai para o
encarregado que despachará novas ordens.
9. Despacho – ordens para que o escrivão
providencie determinados documentos, ou que
venha a indiciar determinado militar, etc.
10. Recebimento – o escrivão recebe os autos do
encarregado com as novas ordens... e deve ainda
certificar que tudo foi providenciado conforme
ordens.
Ordem das Peças no IPM

11. Conclusão e mais o art. 22 do CPPM.


12. Relatório - neste o encarregado dá sua
conclusão
13. Remessa ( art. 23 CPPM). (Modelo)
14. Solução do IPM( art. 22 §1º CPPM) –
manifestação do Cmt – autoridade judiciária.
Deverá a autoridade delegante ou originária,
remeter o relatório do Encarregado e sua Solução à
Corregedoria Geral do CBMSC.
Atuação do escrivão

O primeiro ato do escrivão, após o compromisso,


será efetuar a autuação dos documentos que lhe
foram entregues pelo Encarregado de IPM .
Após cada “Despacho” do Encarregado do IPM o
escrivão dará cumprimento ao mesmo e, logo após,
lavrará uma “Certidão”
na qual definirá, perfeitamente, a maneira como
foram cumpridas as determinações do encarregado
ou justificará as razões que o impediram de
cumpri-las, juntando aos autos o resultado das
diligências efetuadas.
Atuaçã do escrivão

Entregará os autos ao Encarregado, mediante a


lavratura de “Termo de Conclusão” devendo adotar
este procedimento nas demais situações em que
vier a restituir os autos ao encarregado.

Conclusão é o termo mediante o qual o escrivão


submete o IPM ao exame e despacho do
Encarregado.
Atuaçã do escrivão

Sempre que o escrivão receber os autos do


encarregado, lavrará “Termo de Recebimento”

Todas as peças do IPM serão, por ordem


cronológica reunidas, formando autos. Todas as
folhas juntadas aos autos deverão ser rubricadas e
numeradas pelo escrivão.
Atuaçã do escrivão

Consequentemente, a movimentação do IPM se


dará da seguinte forma:

1. Despacho do Encarregado do IPM,


determinando providências ao escrivão;
2. Recebimento dos autos pelo Escrivão;
3. Cumprimento do determinado, com lavratura de
Certidão a respeito;
4. Juntada aos autos do resultado das diligências
efetuadas;
5. Conclusão ao Encarregado de IPM
Conceitos dos termos

Despacho é a determinação feita pelo Encarregado


ao escrivão do IPM, para que algo seja
providenciado.

Recebimento é a certificação do escrivão de que


recebeu os autos do encarregado para cumprir
despacho.

Certidão é a certificação do escrivão de que o


despacho foi cumprido.
Conceitos dos termos

Juntada é o termo que registra a anexação ao IPM,


mediante prévio despacho do Encarregado, de
qualquer documento ou papel que interesse à
prova.

Conclusão é o termo que registra que o escrivão


concluiu o determinado pelo despacho e fez
juntada aos autos, devolvendo os autos ao
Encarregado.
Ordem das Oitivas

O Encarregado deverá, preferencialmente, ouvir


a(s) testemunha(s), em seguida, o(s) ofendido(s),
e, por último, o(s) indiciado(s)

Esta ordem poderá ser alterada analisando-se a


necessidade de cada caso concreto, inclusive na
necessidade de não se perder oportunidade,
disponibilidade ou informação relevante. Havendo
necessidade de esclarecimento de qualquer fato, as
pessoas anteriormente mencionadas poderão ser
ouvidas quantas vezes se fizerem necessárias
Termos das oitivas

O ofendido será ouvido em “Termo de Inquirição”

As testemunhas em “Termo de Inquirição”


TERMO DE INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHA
COMPROMISSADA e TERMO DE INQUIRIÇÃO
DE TESTEMUNHA NÃO COMPROMISSADA);

O indiciado em “Termo de qualificação e


Interrogatório”
Carta Precatória

As testemunhas, os indiciados ou os ofendidos que


se encontrarem em cidade diferente da qual foi
instaurado o IPM, deverão ser ouvido(s), por meio
de “Carta Precatória” encaminhada à autoridade
militar, sediada no local onde se encontre servindo
ou residindo, no caso de civil ou militar da reserva.
Carta Precatória

A autoridade recebedora da precatória despachará,


em continuação a mesma, determinando o seu
cumprimento, designando os elementos
necessários, e providenciará a sua restituição, com
a maior brevidade possível, atentando sempre para
os prazos de conclusão do IPM.
Confissão

A confissão não supre a necessidade da realização


do exame de corpo de delito nas infrações que
deixem vestígios, nem importa na dispensa de
outras diligências, as quais sirvam para elucidar o
fato. Segundo o art. 5º, LVI, da CF, são
inadmissíveis as provas obtidas por meios ilícitos.
Acareação

Sempre que houver divergência em declarações


sobre fatos ou circunstâncias relevantes entre
indiciados, testemunhas, indiciados e
testemunhas, indiciado ou testemunha e a pessoa
do ofendido ou entre pessoas ofendidas, será
cabível a acareação
Generalidades

Súmula 172 do STJ: compete à justiça comum processar e julgar


militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em
serviço;

Contravenções penais: Justiça Militar só julga crimes.

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