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Cessação do fogo

No dia 7 de maio do ano da cessação do fogo, na época em que os ataques aéreos à ilha principal atingiram o seu
clímax, a Europa assistiu à rendição incondicional da Alemanha. Enfim, aquela guerra em grande escala chegou
ao seu término. A atenção do mundo voltou imediatamente a concentrar-se da Europa ao Japão.
Somente o Japão continuou a lutar contra todo o mundo. Na luta contra o Japão, entretanto o adversário principal
foi como sempre, o americano. O Estado Maior das Forças Americanas estava então preparando sucessiva e
firmemente o plano de invasão à ilha principal como solução final para terminar a guerra. Esse plano era uma
operação invasão em larga escala, com um desembarque em outono, na costa sul de Kyushu, em novembro de
1945, e outro na planície de Kantô, na primavera do ano seguinte, em 1946,
Para isso, chegaram a pensar que precisariam uma força de um grande exército de 5 milhões de soldados, devido
ao conhecimento prévio da tenaz resistência dos soldados japoneses experimentados em iwojima e Oki" nawa.
Para realizar esse plano precisavam transportar todos os soldados e oficiais que lutaram nos campos de batalha da
Europa até o fim da guerra, para o extremo oriente. Além disso, estavam cientes de que haveria mais

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de meio milhão de mortos e feridos nas duas operações de desembarque.
Após a morte súbita do Presidente Roosevelt em 12 de abril de 1945. a cooperação das Forças Aliadas não podia
continuar como antes, especialmente entre os Estados Unidos e a União Soviética. O novo Presidente Harry
Truman, logo após a cessação da guerra contra a Alemanha, percebeu tão cedo os sintomas da "guerra fria" entre
os Estados Unidos e a União Soviética. Os Três Grandes das Forças Aliadas, Roosevelt, Churchil e Sta!in,
haviam concluído na negociação de Yalta em fevereiro daquele ano que, conforme a sugestão de Roosevelt.
depois aprovada pêlos demais, a União Soviética participaria na luta contra o Japão, dois ou três meses após a
rendição da Alemanha. Truman e seus assessores diretos queriam terminar a guerra contra o Japão somente entre
eles mesmos. Não desejaram portanto a participação da Rússia na guerra no momento em que ela estava para
terminar. Queriam evitar a expansão das forças soviéticas depois da guerra- O seu ideal era terminar a guerra
contra o Japão, antes da participação dos russos. Os americanos começaram a apressar o encerramento da guerra.
Os tiranos, quer sejam de uma família, de um pais ou do mundo, não passam, enfim, de seres humanos. Então,
como podem eles pensar que o mundo pode pertencer a alguém que querem dominar?
O Japão desejava negociar com as Forças Aliadas para tratar da paz somente através da mediação da União
Soviética. Entretanto, a U R S S que procurava ganhar o tempo nessa guerra mostra-se naturalmente indiferente
nessa diplomacia. O governo japonês não percebia essa situação nem por sonho. Apesar disso, no dia 5 de maio,
a U R. S-S. veio a comunicar a não prorrogação do Tratado de Não-Agressão Russo-Japonesa, O gabinete

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Koisso que não possuía nenhum plano a esse respeito, dissolveu-se. O gabinete Suzuki que o sucedeu, mudou
desesperadamente a atitude para negociar a paz em virtude da situação desesperadora na cúpula belicisla. Foi
decidido o envio da delegação especial para a UR S,S-, durante a reunião da cúpula dos orientadores da guerra
que durou 3 dias, desde o dia 11 de maio. Foi escolhido para delegado, o príncipe Fuminaro Konoe. Entretanto, as
autoridades da União Soviética não se interessaram com essa proposta e os dias passados foram se acumulando
sem resultado, apesar das tentativas desesperadoras.
No momento em que a sorte de um país se esgota, mesmo os estadistas ilustres e comandantes famosos perdem a
sorte conjuntamente. Nestas condições eles não podem encontrar a visão inteligente e a convicção, e não
conseguem mais adotar as medidas promissórias. Melhor seria dito que a sorte do país desaparece por causa do
esgotamento da sorte dos seus dirigentes. Este princípio é verdadeiro tanto para um país como para uma família.
O governo japonês estava tentando levar as negociações diplomáticas tolamente, sem analisar as posições dos
movimentos das Forças Aliadas.
As circunstâncias da Segunda Guerra eram diferentes daquelas da Guerra Russo-Japonesa e em tais situações,
todo o plano para as negociações de paz cairiam no fracasso- Isto porque as negociações foram conduzidas
exclusivamente pêlos governantes e pêlos oficiais das altas patentes, sem nenhuma participação da camada civil.
Desapareceram totalmente os movimentos preparatórios para a paz que deveriam surgir dos meios populares ou
dos seus representantes. As opressões do Governo Militar chegaram a tal ponto de sufocar a opinião pública,
Em todas as épocas, indiscutivelmente, a diplomacia

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vem sendo conduzida pêlos altos dirigentes e vem merecendo como missão importante para o intercâmbio e a
confraternização dos povos. Todos os dirigentes nunca devem esquecer que a diplomacia criada naturalmente
pelas nações é a mais segura como a corrente mais resistente, mais valorosa e mais duradoura.
Até hoje, nunca houve um governo ou um líder que fosse perdurar sem dar atenções ao seu povo.
Toda e qualquer declaração do Quartel General Japonês era de natureza depreciativa para a sua nação. Vieram
aguardando o "Vento Divino" clamando a "Indes-trutibilidade de Terra Divina" e ao chegar às vésperas do
término da guerra não havia outra alternativa senão anunciar histericamente a "Batalha Decisiva na Ilha
Principal". ou "Suicídio Honroso de Cem Milhões".
Por outro lado, lançava secretamente suas mãos a um fio de esperança, numa negociação de paz inoportuna por
intermédio da União Soviética. Esse plano de guerra, de iludir o povo levou conseqüentemente à auto--prisão e
ao suicídio.
Nos momentos desesperadores foram anunciadas as Declarações de Potsdam em nome dos Estados Unidos, da
Inglaterra e da China. A Rússia não estava incluída por não ter participado na guerra contra o Japão.
A rendição Incondicional era um modo único e exclusivo de fazer terminar a guerra por parte das Forças Aliadas,
Novamente, na declaração de Postdam foi exigida a Rendição Incondicional às Forças Japonesas.
Os sete artigos contidos na Declaração, demonstravam claramente os objetivos fundamentais referentes à
destruição do militarismo, a ocupação da ilha principal do Japão, a devolução dos territórios ocupados por agres-
são, a punição dos criminosos de guerra, a liberdade de palavras, de ideologia e religião, o respeito aos direitos
fundamentais dos homens, e a destruição completa das

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indústrias de produção que poderiam contribuir para o possível rearmamento. Concluía que enquanto não se
aceitasse esta proposta não havei ia outra alternativa senão esperar a destruição final e completa.
O Governo Japonês ficou perturbado com o conteúdo da Declaração e seus líderes ficaram tão aterrorizados que
não sabiam mais o que fazer, aceitar ou não. Então, aqueles lideres favoráveis a um acordo com a Rússia
resolveram aguardar mais um pouco até à chegada do resultado das negociações. Enquanto isso, uma empresa
jornalística resolvia publicar a Declaração de Potsdam captada do exterior por radiotelegrama ao jornal, ainda
que os textos fossem incompletos. Obviamente, a nação entrou em comoção ao ler aquela notícia. A autoridade
militar exigiu do Primeiro Ministro Suzuki, a sua opinião sobre aquilo.
O Primeiro Ministro anunciou numa entrevista com os jornalistas que ... "o Governo não considera que isso
tenha qualquer valor importante. Somente nos manteremos em silencio, sem comentários. Estamos unicamente
levando avante para completar a guerra".
Esta entrevista informal apareceu nos jornais de 30 de julho e ao mesmo tempo desta noticia espalhou-se por
transmissão a rádio para o todo mundo.
O silêncio sem comentário do Governo Japonês perante a Declaração de Potsdam foi interpretado como rejeição,
por parte das Forças Aliadas. Era natural que aquilo tivesse acontecido. Entretanto, muitos daqueles dirigentes
participantes do Governo, que vinham procurando uma oportunidade para a conclusão final da guerra, sofreram
amargamente. O Governo militar, com as faculdades já descontroladas, tinham perdido até a disposição de
analisar e compreender serenamente a realidade da Declaração de Potsdam.
Eles estavam desesperadamente ocupados na con-

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servaçao das suas posições e na manutenção das aparências honrosas- Se alguém dissesse que a sua filosofia
orientadora era desagregação e destruição, ninguém podia negar isso. Não somente eles, e mais do que eles, a
vida diária do povo achava-se há muito tempo numa situação desagregadora e aniquiladora.
Apesar das épocas diferentes, a classe dos dirigentes deve sempre conservar uma consciência sólida, na res-
ponsabilidade para conduzir o público em geral, a ponto de Jamais desviar o seu porvir da paz e da felicidade.
Uma vez, em face a uma decisão, nessas circunstâncias, devem concentrar todos os seus esforços e lutar
seriamente, mesmo com risco de suas próprias vidas.
Em conclusão, todas as deliberações tomadas com base no pensamento do público em geral conduzem às
decisões precisas.
Como era de se esperar, os ataques aéreos das Forças Americanas aumentaram de repente em grandes
escalas.
Em 30 de julho, 340 Fortalezas Voadoras B-29 atacaram todo o território japonês com exceção de Hokkaido.
No dia seguinte 700 aviões bombardearam toda vasta área de Kantô por três vezes, chegando até ao distrito de
Yamanashi.
Jopsei Toda jamais entrou no abrigo anti-aéreo, por mais que se anunciasse a sirene de alerta. Mesmo que a
sua família recomendasse que deveria defender-se no abrigo sempre que a sirene anunciava o ataque aéreo. Ele
permanecia firmemente sem procurar abrigo. Não porque ele tivesse uma coragem de ferro, mas porque ele
tinha uma forte convicção de que nenhuma bomba poderia levá-lo à mo-te, um homem que tinha o firme
propósito de cump''1. uma nobre missão. Entretanto, não contradizia o convite da família para ir ao abrigo.
Parecia que ele permanecia indiferente sob a cena da guerra.

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Não obstante, com as pessoas que o procuravam, ele mantinha palestras de uma diversidade de assuntos, seja
sobre a vida diária, sobre a situação do momento, ou sobre a guerra. Como sempre, conversava serena e humo-
risticamente, no seu estilo próprio. Entretanto, sentia em si mesmo o aproximar de um momento decisivo.
No dia 3 de agosto, um número elevado de 600 aviões B-29 bombardearam as regiões industrializadas de
Tsu-rumi e Kawasaki. Além disso, estenderam os seus ataques, dividindo a sua frota em direção a Mito, Hatioji e
Tatikawa. No mesmo dia, até a região remota de Toyama foi atingida e a cidade transformou-se em fogo, em vir-
tude do bombardeio. No dia 6 de agosto, 400 aviões B-29 destruíram, sem nenhum impedimento, a cidade de
Maebuti em Kantô, Nishinomiya em Kansai e bombardearam livremente todo o resto do Japão.
Justamente, nesse dia, pela manhã, surgiu um temível cataclisma. Foi a primeira explosão da bomba atómica na
história da humanidade. Na hora em que apenas dois aviões B-29 sobrevoavam o céu de Hiroshima, no momento
em que se viu um pára-quedas flutuar no ar. Hiroshima transformou-se numa devastação total.
Esta única bomba fez com que surgisse no meio dos habitantes civis não combatentes, os 200 mil mortos e
feridos. Quem mais se surpreendeu foi o Quartel General Japonês. Esta surpresa penetrou como um jato de água
no ouvido de alguém que estivesse dormindo distraida-mente. Não conseguiu compreender o que era esta bomba
tão potente. Somente foi anunciado: "O inimigo lançou um novo tipo de bomba sobre Hiroshima.
A Defesa Aérea do Quartel General anunciou as medidas defensivas contra aquele novo tipo de bomba, com a
seguinte orientação; "Vestir roupas brancas e abrigar--se nas cavernas ou túneis".

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Essa era a cultura cientifica representativa da inteligência máxima do Estado Maior.


Numerosos cientistas de física voaram de Tóquio para Hiroshima e após as suas investigações, concluíram o
resultado, anunciando que era a primeira bomba atómica resultante da fissão nuclear.
Sabe-se que, entretanto, nem o Governo e nem o Conselho Superior de Guerra deram muita atenção ao
relatório científico desta investigação.
O Japão foi o primeiro país que recebeu o batismo de fogo da pólvora das armas de ataques dos mongóis
numa invasão há 700 anos no tempo de Nitiren Daisho-nin. Agora, novamente, o Japão foi o primeiro país do
mundo que recebeu um novo oatismo da bomba atómica, Pensando nesta infeliz determinação do destino, é o
povo japonês quem mais deve estar convicto de assumir a grandiosa missão de construir a paz mundial.
A partir desse dia, os diversos jornais começaram a publicar comentários sobre a Declaração do Potsdam nos
seus editoriais. Isto surgiu porque o público em geral. ao adquirir gradualmente a consciência da noticia, começou
a inclinar a sua atenção ao conteúdo da Declaração.
O lançamento da bomba atómica, ordenado pelo Presidente Truman, deve ter sido motivado para apressar a
cessação do fogo, Mas, em tese, não foi exclusivamente para a realização da paz. Ele sabia perfeitamente que a
derrota do Japão era apenas uma questão de tempo. Desejava impedir o direito de manifestação pela Rússia na
cessação das hostilidades. Em outras palavras, ele queria a vitória sem a participação da União Soviética. Para
tanto, ele foi obrigado a apressar-se o possível, para terminar logo a guerra.
Os Estados Unidos, na véspera da abertura da Conferência dos Três órandes em Potsdam, ou seja, em 16 de
Julho, obtiveram êxito na experimentação da bomba

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atómica. "A bomba atómica era a melhor arma para impressionai a Rússia e forçar o Japão à rendição incondi-
cional, tal como uma pedra única abatesse dois pássaros ao mesmo tempo. A explosão nuclear em Hiroshima, não
somente veio encerrar a segunda guerra mundial, como também pode-se dizer que foi um estrondo que veio anun-
ciar a abertura da cortina do palco da guerra fria entre os Estados Unidos e a União Soviética. Conseqüente-
mente, todos os sacrifícios caíram sobre a raça japonesa.
O Governo Militar, ignorante no conhecimento cientifico, não percebeu a situação em que seu país foi colo-
cado no cenário mundial, após a explosão atómica em Hiroshima.
O Presidente Truman. no dia da explosão, fez um pronunciamento ao mundo pelo rádio:
— Nós gastamos dois milhões de dólares no maior jogo científico da história — e vencemos. Agora nós es-
tamos preparados para obliterar mais rápida e comple-tamente toda empresa produtora do Japão instalada em
qualquer cidade. - . se não aceitar agora os nossos termos, poderão esperar a chuva de ruínas nunca vistas até
agora, caindo do céu sobre a terra.
Era uma expressão tipicamente americana. Os lideres japoneses devem ter ouvido essa declaração pela
rádio-difusào que esclareceu a natureza exata de como era aquela bomba.
A população ficou atemorizada pelo horror de Hiro-shima, vendo este panorama infernal que não podia
imaginar que fosse coisa deste mundo. Vozes de lamento e de ódio ouviam-se em todos os recantos.
Entretanto, como é possível que a inteligência do Governo fosse interpretar apenas como ameaça, e per-
manecer em silêncio?
Aconteça o que acontecer, jamais deverá ocorrer a guerra na face da terra!

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Enquanto os Estados Unidos ajuntaram o que havia de melhor e chegaram a empregar a bomba atómica, o Governo Militar Japonês
incentivava as lutas com as lanças de bambu, louvando apenas o espírito japonês destemido pela morte (Yamato-Damashii) e assim
desprezou a ciência, desacatando a coisa mais importante. Apesar de que esta guerra fosse uma fatalidade para o Japão, ninguém podia
deixar de se lamentar, pelo baixo conteúdo da orientação ideológica a ponto de chegar a desprezar o senso de humanismo e de
racionalidade. Além disso, ninguém podia deixar de ridicularizar tal falta de habilidade.
O seu inimigo, Estados Unidos da América, aplicou medidas eminentemente racionais, com as suas orientações filosóficas baseadas no
pragmatismo de John De-wey. Mesmo considerando somente este fato, poder-se-ia compreender claramente que a Grande Filosofia da
Valorização conjunta da Matéria e do Espírito (Shiki--Shin-Funi) é o principio ideológico que contém a orientação mais genuína e mais
correia, e possuidor de uma compreensão em toda profundidade do humanismo, sem deixar uma falha sequer.
A segunda bomba atómica explodiu sobre a cidade de Nagasaki, no dia 9 de agosto- Lá também foi visto o aniquilamento instantâneo de
cem mil mortos e feridos. Mesmo com as bombas atómicas, o comando Japonês não podia decidir sobre a rendição.
Antes do amanhecer desse dia 9, a Rússia declarou guerra e invadiu a Manchúria. O Exército Imperial de Kantô, situado naquela região
desmoronou-se rapidamente diante desta circunstância, por não- possuir nenhum plano estratégico definido.
O militarismo japonês que não temeu a bomba atómica devido à sua ignorância da ciência, perdeu enfim, a sua cor de tanto susto, ao
tomar conhecimento da ines"

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perada e repentina participação dos russos na guerra. Então, às 10,30 horas desse mesmo dia foi convocada uma reunião do Conselho
Supremo de Orientação da Guerra.
A entrada dos russos na guerra, realmente causou um choque muito sério para o Governo, principalmente para as autoridades militares.
Assim, tudo foi em vào-Aquela única rota de esperança da negociação da paz desapareceu. Apesar disso, o Governo Militar continuou
anunciando a "batalha decisiva na Ilha Principal" até o fim. Este plano também perdeu o seu significado porque na sua elaboração não
contava desde o inicio com a participação da Rússia- Este plano tinha por base o pacto de não agressão Russo-Japonesa. Agora, diante
da participação da Rússia na guerra, nada mais se podia fazer.
Já não havia mais outro meio a não ser a aceitação da rendição incondicional. Nesta reunião do Conselho, foram estudados pela primeira
vez, e minunciosamente os artigos da Declaração de Potsdam. As autoridades do Governo e os militares confrontaram-se com as
divergências. O Ministro das Relações Exteriores por outro lado, insistiu na sua ideia de defender a garantia da posição do Imperador em
troca da aceitação da rendição.
De um lado, o Ministro da Guerra e o General Chefe do Estado Maior insistiram em acrescentar mais itens como: o desarmamento
independente, punição dos criminosos de guerra pelo próprio Japão e limitação sobre a ocupação das Forças Aliadas. A Conferência
repetiu-se por duas vezes. Finalmente, na Conferência com a presença do Imperador, a altas horas da noite, às 23,50 horas, chegaram à
conclusão final de aprovação da proposta do Ministro do Exterior, ou seja, a condição única de preservar a posição do Imperador.
O dia 9 de agosto foi o dia mais trágico para o Japão. Pela manhã, ainda escura, teve a notícia da participação

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da Rússia na guerra; às 11 horas, presenciou a explosão da segunda bomba atómica em Nagasaki e a altas horas
da noite decidiu sobre a primeira rendição do Japão às outras potências. Foi o dia da decisão do destino do Japão.
Disse uma pessoa, com lamentos: "Não há sanações piores do que a derrota para a vida cie uma pessoa ou de
um pais. üe maneira alguma deverá provocar uma guerra que resulte numa derrota".
No dia 10 de agosto, às 6,45 horas da manhã, o Japão anunciou a aceitação da Declaração de Potsdam. pela
rádio-difusão exterior, através üa mediação de um país neutro.
Declarou a aceitação com a seguinte condição para a rendição: "Sob o reconhecimento de nào alterar a
Magna Autoridade do Imperador para dirigir a nação". Esta noticia entretanto, não foi comunicada à nação,
Nos jornais do dia seguinte, 11 de agosto, apenas apareceram publicações em forma de entrevista com o
diretor do Departamento de Informações, nos seguintes termos: ". . .o Governo, desde o inicio vem se
es.orçando da melhor maneira possível na conservação da soberania nacional e de cem milhões de cidadãos, e
espero que tenha a paciência de suportar todas as espécies de dificuldades".
Mas, na mesma página havia uma proclamação veemente do Ministro da Guerra sob o título de Aviso a
todos os Generais e Spidados" a seguinte declaração:
".. . chegamos finalmente a este estágio e nada temos a dizer. Somente devemos lutar até o final desta guerra
sagrada, defendendo esta ilha divina, mesmo que precisemos mastigar a grama, morder a terra ou tombar sobre o
campo; acredito certamente que tenhamos a vida contra a morte".
Lendo estas duas noticias contraditórias ao mesmo

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tempo, a nação ficou perturbada de nào poder entender o que isto vinha a significar.
Somente não podiam deixar de perceber intuitivamente, a aproximação de uma situação toda especial.
Realmente, o Japão entrou numa violenta comoção sem precedentes na sua história.
Indiscutivelmente, foi a pior crise. Em tal circunstância aqueles que vinham lutando estavam prestes a desa-
parecer, uns pela morte, outros pelo destino ignorado e assim, eles caminhavam como num sonho que se despede.
Não somente esta crise, mas uma outra catástrofe mais séria, aguardava-se a qualquer momento, ao Japão e ao
mundo.
Devemos impedir terminantemente o aparecimento sucessivos destes sonhos horríveis. Ao mesmo tempo, todos
os lideres responsáveis pelo mundo, devem lançar a dedicação com toda sua devoção, a fim de criar uma história
de civilização, exatamente como um sonho pacífico.
No dia 12 de agosto, às 0,45 horas, o radio captou a resposta das Nações Aliadas contra a proposta do Japão- A
resposta foi declarada em nome do Secretário do Estado dos Estados Unidos, Byrnes, com a seguinte mensagem:
"No momento da rendição, o poder de conduzir o país. ora dirigido pelo Imperador e Governo Japonês, passará a
ser subordinado ao Supremo Comando das Forças Afiadas. O propósito último do sistema governamental do
Japão deverá ser determinado pelo desejo voluntário do povo japonês' . Portanto, aqueia condição proposta pelo
Japão foi rejeitada sem nenhuma referência a respeito da posição do Imperador.
Sucederam-se intensos debates em torno desta resposta na Conferência do Gabinete do dia 12, Este assunto
continuou sendo debatido intensamente sem solução,

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até o dia seguinte, mesmo após ter sido encaminhado ao
Conselho Supremo.
O motivo do intenso debate girava em torno, desde o início, da "defesa da estrutura nacional". Os partidários
favoráveis à rendição incondicional insistiam na possibilidade de conservar a "Estrutura Nacional" enquanto que a
outra parte favorável à luta até o fim, opunha-se insistindo na impossibilidade de conservar a "Estrutura
Nacional".
As interpretações da "Estrutura Nacional" foram diferentes para cada um dos opositores. Uns interpretavam como
sendo o Sistema Imperial sob a soberania do Imperador; outros, mais extremistas, clamavam ser uma ordem
direta do Imperador; e outros ainda, tomaram a ideologia básica de endeusamento do Imperador, contida na Cons-
tituição de Meiji.
Após as discussões violentas, a interpretação prática foi afinal atribuída à politica nacional e decidiram que
a defesa da mesma poderia significar o desejo último da Nação, ou seja, a Conservação da Família Imperial,
longe do conceito político.
Em conclusão, ambos os lados Já não podiam mais deixar de reconhecer que a guerra estava na fase final.
No dia 14 de agosto, na última reunião imperial, foi decidida a rendição incondicional sob a decisão forma)
do Imperador.
Todo argumento deixou de ter o seu valor significativo quando a situação chegou a esse estado de coisas.
Todavia, deveria ter como uma medida estratégica, um plano prévio de cessação da guerra imediatamente após a
queda de Singapura. Além disso, o país precisava de Hderes excelentes como o famoso Ministro das Relações
Exteriores do Japão na era de Meiji, o Chanceler Jutaro Komura que, empenhando em seu valor humano, dedi-

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cou-se ao serviço da Pátria em sacrifício da sua vida, A ausência de valores humanos foi realmente lamentável.
Ao mesmo tempo, a rivalidade entre o Exército e a Marinha causaram atitudes deprimentes. Disse um oficial do
Exército: "Os nossos inimigos são os Estados Unidos da América e a Marinha Imperial". Podia-se dizer que,
desde o inicio não havia união entre eles e assim, por si próprio criaram causas para a derrota.
No mesmo dia, às 11 horas foi proclamado finalmente, o Edital Imperial de aceitação da rendição incondicional
de acordo com a Declaração de Potsdam.
Nesse dia, também surgiu um esquadrão de numerosos aviões com bases em cerca de dez porta-aviões e
sobrevoou os mares próximos de Kantô, como se estivesse aguardando ansiosamente a resposta. Além disso,
mais 600 bombardeios vieram atacar separadamente.
No dia 15 de agosto, pela manhã, surgiu uma visita na casa de Jossei Toda.
Chamava-se Kurikawa, seu amigo, conhecidos há muito tempo e relacionado aos seus negócios. Possuía uma
loja na rua principal, mas por causa do controle dos negócios, o seu comércio estava parado. Toda estava
decidido a alugar esse local para estabelecer o escritório de seu novo negócio.
Kurikawa, abrindo energicamente a porta da entrada, disse em altas vozes, entrando subitamente na sala de visita:
— Bom dia. Finalmente, Já se acabou.
— Bom dia. Veio tão cedo, hoje, Sr. Kurikawa! Ikue estava preparando a refeição matinal.
— Por acaso a Sra. ouviu a noticia no rádio?
— Não.
— Então ainda não sabe? O rádio da manhã estava dizendo que haverá importante pronunciamento do Impe-
rador hoje ao meio dia.

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— O que será então?
— Finalmente, está tudo acabado. Percebendo as vozes das conversações entre Kuri-kawa e Ikue, Toda desceu do seu quarto.
— Sr. Kurikawa, como conseguiu chegar tão cedo assim?
— Não poderia estar dormindo. Enfim a guerra terminou. O Imperador enviará mensagem pelo rádio ao meio dia.
Em seguida, disse a Toda em voz baixa.
— ... afinal, parece que é mesmo a rendição incondicional. Ontem, a altas horas da noite, um repórter conhecido veio ao meu encontro.
— Sim? Toda teve um instante de seriedade perante a informação de Kurikawa.
— Mas, Sr. Kurikawa, como o Sr. pode permanecer contente?
— Por que não? Agora nós estamos livres.
— Quem?
— Nós, a nação.
Diante da derrota, uns pareciam estar contentes, outros, preocupados, enfim, as atitudes eram diversas. Não poderia encontrar
pessoas contentes suportando sempre os bombardeios e a escassez de mantimentos. O desejo mais premente provenientes de todos
instintivamente era o anseio de viver absolutamente feliz, pacifica e alegremente.
— Sinceramente, sofri muito pelo B-29 e pela prisão do Sr., disse Kurikawa, encolhendo os ombros. Em seguida os três riram em altas
vozes.
Após então, Kurikawa permaneceu pensativo e indagou a Toda com atitude contemplativa.
— O que poderá acontecer se vier a rendição incondicional?

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— Se a guerra acabou em derrota, terá, daqui para a frente, muitas dificuldades.
— Oh não! Mais sacrifícios daqui para frente?
— É a punição geral. Uma punição geral para todo o Japão. Enfim, chegou a era em que vai necessitar do Ensino do Verdadeiro
Budismo de Mappo. Chegou a hora de brilhar realmente a Profunda Filosofia de Nitiren Daishonin.
— Nós seremos salvos?
— É a vitória ou a derrota. É a atuação da fé na luta
pela vida. Disse Toda. prendendo a voz. mas com toda
energia.
Kurikawa retirou-se com feição de insatisfação. Ao terminar a refeição e o Gongyo, Toda trocou de
roupa.
— Irei ao escritório. Se alguém vier, peço enviar para lá. A batalha já começou, — dizendo assim à sua esposa, ele saiu no meio
dos raios quentes do sol de verão.
A nação, em sua maioria, uma vez isolada e incomunicável com o resto do mundo, não podia saber sobre todos os pormenores
dos acontecimentos do término da guerra. Somente foi informado de que haveria um pronunciamento importante do Imperador ao meio
dia de 15 de agosto. Ficaram na expectativa do seu encorajamento para a batalha decisiva que estava para vir finalmente. Entretanto,
ouvindo a voz solene e grave do Imperador, Imediatamente compreenderam, apesar do seu pronunciamento em japonês clássico e
difícil de entender. Assim, mesmo através da frase: "Suportar o que é difícil de suportar", eles compreenderam pelas próprias intui-ções,
que a guerra acabara em derrota.
O início da guerra foi uma surpresa, como um jato de água no ouvido de um ser adormecido. Assim também, a cortina da cessação
do fogo desceu de repente diante
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da nação. Em ambas as ocasiões, as surpresas ocorreram em nome do Imperador.
Nesse dia, todo o Japão foi favorecido por um lindo dia do céu azul sem uma nuvem sequer. No calor do verão, ao meio dia, o Japão foi
dominado por um silêncio absoluto, como se estivesse voltado para a era da sua antiguidade. Parecia que os raios brilhantes do sol
provenientes do límpido céu azul estavam paralizando tudo.
Inicialmente, todos permaneceram em silêncio. A seguir, muitos choraram de emoção, enquanto outros não puderam conter os suspiros
de tristeza.
Pode-se dizer que estas lágrimas surgiram como o resultado de choque de encontro repentino com este real acontecimento da derrota,
sem aviso prévio, para aqueles que vinham suportando a longa vida de paciência, pagando todos os tipos de sacrificios, confiando
apenas na certeza da vitória final.
Em seguida, eles foram silenciosamente se afastando diante dos rádios. Os sentimentos de ira pelo desespero inconformável e do alivio
da libertação da guerra, vinham a penetrar profundamente no coração destas pessoas. Não somente a tristeza, nem apenas a alegria
dominaram os seus sentimentos. Era como se estivessem agarrando a um vácuo iluminado obscuramente.
Toda voltou para casa ao anoitecer.
Apesar de aproximar-se a noite, já não havia mais necessidade para estender a cortina escura. As janelas das casas e todos os quartos
começaram a mostrar claramente a luz elétrica. Após muitos anos, chegaram a conseguir uma noite clara. As pessoas em seus lares
reuniam-se ao redor da mesa dirigindo-se ao jantar sob luzes ofuscantes. Em seus arredores também permaneciam clarões festivos, ainda
que no coração destas pessoas tivesse o pesado sentimento de derrota.
Já não eram mais necessários ouvir os alarmes anti"
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aéreos e nem ruído peculiar do bombardeio B-29 voando a grandes altitudes. Foi realmente uma sensação inacreditável. Aquele continuo
horror e insegurança deixavam finalmente este país. Isto aconteceu realmente.
Após terminar indiferentemente o seu jantar, Toda dirigiu-se à sua mesa do quarto de cima. Ele começou a escrever algo a lápis,
sobre o papel branco, apagou com a borracha e escreveu de novo. Era o esquema de anúncio, sobre o Curso por Correspondência que
iria publicar no jornal dentro em breve. Dobrando-o delicadamente, deitou-se em seguida.
As palavras gloriosas de Risho-Ankoku-Ron* haviam se impregnado na mente de Toda. Surgiu, então, de repente, a lembrança de
um parágrafo contido na "Resposta ao Sr. Yassaburo". Levantou-se, pegou o Goshò em suas mãos e abriu esta página:
— Assim, os bonzos do Japão de hoje são maus elementos, piores do que Diaba-Datta e Kugyari--Sonja. Seus seguidores veneram-nos e
oferecem donativos e conseqüentemente, surgem a olhos vistos neste país a transformação em inferno sem fim, causando a fome intensa,
a epidemia e sofrimentos sem precedentes para os seus habitantes. Não somente isso, o país também será invadido pela nação
estrangeira. É a advertência divina de Bonten, Taishaku. Niti e Gatten e outros.
Somente Nitiren compreendeu isto e no infcio preocupava-se se devia dizer ou não, enfim, se isto é verdade, o que posso fazer, . .? É a
profecia escrita por Nitiren Daishonin há mais de 700 anos. Agora realiza exatamente isso, sem nada diferir das palavras da profecia.

Risho-Ankoku-Ron ' Tese de pacificação da Terra com o estabelecimento do Verdadeiro Budismo.

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O pais foi destruído. A construção é o resuitado de um acúmulo precioso de sangue e de suor das gerações da sua nacionalidade através
dos tempos. Em oposição, a destruição é a sua transformação em cinzas num instante apenas. Agora, aqui foi destruída a história de três
mil anos de civilização do Japão.
Quão rigorosa foi a exatidâo da realização da profecia de Nitiren Daishonin. Para que jamais repita esta tragédia no futuro, nós e os
dirigentes da sociedade precisamos lembrar sempre este sagrado ensinamento, respeitando sempre, sem jamais esquecer, conservando-o
vivamente, seguindo-o rigorosamente — deixando de lado os sentimentos mesquinhos, os pensamentos contraditórios e as atitudes
arrogantes,
A época já chegou, de acordo com o principio de "após o surgimento de grandes infelicidades vem a chegada de grande sorte".
Jossei Toda percebia intensamente em todo o seu corpo, com toda a sua convicção, a sensação da chegada do momento da propagação
da Suprema Doutrina do Budismo. Então, logicamente deve ser uma verdade necessária, o poder de conduzir todo povo infeliz ao outro
lado, à praia da felicidade absoluta.
Após 700 anos, desde o falecimento de Nitiren Daishonin. quem reconheceu realmente esta verdade? Talvez não tenha havido uma
pessoa que chegasse a formular isto como uma teoria ou como uma ideologia.
Mas, quem foi levado a reconhecer esta verdade? Além disso, quem não poderia deixar de compreendê-la? Quem deveria ser esta
pessoa? Quem poderia ser?
Jossei Toda, na sua contemplação, fazia o seu corpo tremer de emoção.
Realmente, chegou o momento. Se deixar escapar esta oportunidade, não virá outra. Não se deve deixar

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passar este momento oportuno. Todas as condições para o pacifismo que é o Kossen-rufu estavam preparadas.
Toda lançou um olhar para fora da janela. As janelas das casas pareciam abertas mostrando a claridade. Ele foi
junto à janela e respirou profundamente o ar.
O poderio total do Japão no final da guerra calculava--se em 7 200 000 soldados, incluindo o exército e a ma-
rinha. tanto dentro como fora do pais. Na Guerra do Pacífico tiveram 1 .'854 000 mortos entre o exército e a
marinha desde 1941 excluindo as vitimas da Guerra da China. Tiveram mais de 678 000 feridos e desaparecidos.
Em suma, incluindo os civis convocados, foram mobilizados mais de dez milhões de pessoas para a guerra. Isto
equivale a um quarto de toda a população masculina do Japão daquela época. Em média cada duas famílias
enviaram um soldado para a guerra. Este cálculo foi quase idêntico da Alemanha Nazista. Assim, o Japão teve a
sua mobilização sem precedentes desde o início da sua história.
Além disso, incluindo vítimas dos bombardeios das explosões atómicas, das guerras de Okinawa e Manchuria, o
Japão perdeu três milhões de preciosas vidas entre os militares e civis. Aproximadamente, o povo perdeu um
parente próximo na proporção de um para cada cinco famílias. A diferença é bem contrastante comparando-se
com a Guerra Russo-Japonesa que teve cem mil mortos.
Isto mostra o balanço total do prejuízo da vida nacional- Aqueles que conseguiram sobreviver com muitos
sacrifícios, tiveram que sustentar daí para diante, as consequências sérias dos danos pesados.
Mais de 3.100 000 casas foram queimadas, destruídas ou desapropriadas. Aproximadamente 15 milhões de
pessoas foram desabrigadas. Três milhões de pessoas perderam os seus negócios ou empregos, Três milhões e
quinhentos mil estudantes estavam sendo levados a

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serviços de guerra. Três milhões de moças tiveram que deixar os seus lares para trabalhar nas fábricas ou nos
campos.
Realmente, foi uma extensa mobilização total do país. sem nenhum proveito.
Apesar de o povo japonês ter o desejo de acompanhar as ocorrências da guerra, não podia saber a realidade dos
fatos, visto que eles estavam sendo completamente isolados das noticias dos acontecimentos. Nestas circuns-
tâncias, um dia, subitamente foram levados a ouvir a notícia: "a guerra acabou em derrota". Receberam o impacto
intensamente chocante. Ao mesmo tempo, as preocupações foram aumentando cada vez mais com as novas
eventualidades previstas pela ocupação estrangeira.
Até o dia 15 de agosto, o "Black-out"' ainda não havia sido suspenso. Entretanto, as casas já começavam a
acender as luzes. A alegria pela paz não poderia nascer, sinceramente, desta forma. Foram demasiadamente sa-
crificados, embora se houvesse dito que a guerra já terminara. Este dia marca no espírito de cada cidadão, o inicio
para uma nova luta. Surgem inicialmente o descrédito às autoridades. Uns transformaram-se em fatalistas,
enquanto outros decidiram-se pela morte em fidelidade à sua convicção.
Ao cair da tarde do dia 15 começaram a aparecer pessoas formando grupo de dois a três na praça em frente
ao Palácio Imperial e permaneceram sentadas reveren-ciosamente sobre os pedregulhos brancos. Nessa noite, o
Ministro da Guerra Anami suicidou-se. Suicidaram-se nu dia 22, o Marechal Suguiyama e sua esposa e no dia 24,
o General Seiti Tanaka, também se suicidou. Na Ma-

Blackolit * Apagar todas as luzes para não mostrar o alvo para Ot bombardeios.

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rinha, o Vice-Almírante Takijiro Onichi. vice-chefe do Estado Maior da Marinha também se suicidou no dia 16.
Surgiram também os suicidas entre oficiais técnicos e de enfermagem. No balanço da cessação do fogo enu-
merou-se 527 pessoas o total de suicidas, entre o Exército e a Marinha, levados pelo senso de responsabilidade da
derrota.
Independente dos militares, surgiram também nas massas os suicídios coletivos dos extremistas da direita. Pode-
se dizer que eles foram induzidos a escolher o suicídio pela triste desilusão pela sua convicção e do seu
idealismo.
Os 10 membros do "Pró Imperador e Fora os Estrangeiros" ao ouvir a decisão da cessação do fogo, atacaram a
residência do Ministro do Interior Koiti Kido na madrugada do dia 15- Não conseguindo assassina-lo, formaram o
posto de resistência no Monte Alago, em Tiba. desde o cia 16 até o dia 22 e convocaram os adepto', de todo o
pais para realizar o objetivo de "restauração ' de seu propósito, aproveitando o momento confusional,
assassinando os principais ministros responsáveis pela derrota. No dia 22, ao perceber o ataque das policias, estas
dez pessoas formaram um circulo e suicidaram-se apressadamente com a granada que eles possuíam.
No dia 23 de agosto, às 11 hs. aproximadamente, os 13 membros da "Sociedade Brilhante" reuniram-se num
pinheral perto da ponte de fwaida, em frente ao Palácio Imperial e todos suicidaram-se ao mesmo tempo, olhando
em direçáo ao Palácio.
De maneira semelhante, 14 membros da Escola Daitô suicidaram-se no campo de treinamento do quartel de
Yoyogui em 25 de agosto às 3 hs., com as faces voltadas para o Templo do Imperador Meiji.
A conduta e a ideologia dos extremistas da direita foram todos baseados no Xintoísmo. Todos crentes do

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Xintoísmo, seguidores do "Caminho de Kannagara" Eles foram aproveitados peto Governo Militar. Lamentavel-
mente eles deram suas vidas pelo Xintoísmo, Com a própria mone á frente, eles advertiram às autoridades, a res-
ponsabilidade da derrota.
Protestaram assim, veemente, contra aquelas autoridades que pregaram, "o povo todo tem a culpa da derrota" ou
"a confissão em massa de cem milhões de cidadãos."
Como se pode admitir que a culpa é a mesma entre a autoridade absolula e o povo indefeso? Assim, eles se
revoltaram. Procuraram assassinar as autoridades principais, mas naquele momento, também eles foram obrigados
a reconhecer a derrota do pais e ao mesmo tempo a sua ideologia. Indignados, eles escolheram a morte como um
protesto mais veemente contra as autoridades da época.
Não há coisa n-ials temerosa do que uma ideologia. Uma pequena amostra de pensamento tão trivial pode levar
tantas pessoas à morte! Podem dar suas vidas por essa causa. O homem é um ser vivo desta natureza, isto é uma
verdade. Entretanto, o que mais devemos temer é a ignorância completa dos nomens, alheios â verdade ou à
falsidade do seu pensamento. Em outras palavras, é a força maldosa da ideologia que não tem a razão de existir,
não tem o seu mérito de valor como filosofia Além disso, diante do furacão, isso desaparece facilmente, em vão.
O Xintoísmo que teve o papel de guia ideológica na guerra, fez transparecer, sem nada esconder, a sua completa
falta de força e que fez chegar, finalmente, o pais a este resultado tão dramático.
As informações decepcionantes desta natureza chegavam uma após outra aos ouvidos de Toda- Ele retietiu
novamente, sobre a importância da atuaçáo da fé:

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— Seja quem for, quando acredita numa doutrina falsa, cai radicalmente na infelicidade. Não somente uma
pessoa, como também uma associação, uma sociedade, uma nação, todos enfim sem nenhuma diferença.
A coisa mais detestável deste mundo é crer certamente numa falsidade. Isto não tem relação nenhuma, quer se
trate de pessoas dotadas de conduta exemplar ou de um esforço admirável. Não poderia deixar de colher senão a
infelicidade se o culto em que confia é falso ou anti-cientifico. É uma realidade, sem nenhuma dúvida,
Uns acreditam na filosofia especifica, ou na ciência. na religião, na Pátria, na sociedade, nos pais, nos amigos, ou
então na própria convicção, na medicina, na técnica enfim, todos acreditam em algo. A açào humana. nunca terá
o seu passo inicia) sem que se acredite em alguma coisa.
Além disso, mesmo aqueles que se orgulham em dizer que sào ateus, agem inconscientemente, acreditando em
algo também. Toda conduta humana pode ser considerada como acúmulo de ações baseadas na fé.
Neste sentido, a fé religiosa não pode ser considerada tão longe da vida diária. Sua prática náo deve ser um
privilégio de um grupo especial de pessoas. O importante é o grau de profundidade do reconhecimento da própria
fé. As pessoas deste mundo, entretanto, não procuram fazer objeções sob todos os ângulos, se aquilo em que
acreditam é absolutamente certo ou não. Permanecem totalmente indiferentes diante da questão do certo e do
errado ou da verdade e da falsidade. Aqui existe a origem da infelicidade, tão difícil de salvar.
Então, o que vem a ser esta coisa existente neste mundo que se pode afirmar seguramente que é uma verdade
absoluta? Existe alguém que nunca trai por mais que se confie e que não se deixe arrepender depois? Será que
existe isso? Ou não existe?

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Todn percebeu isso claramente:
— Existe. Eu sei. A isto, Nitiren Daishonin deixou claramente revendo de maneira mais objetiva na Sua Doutrina, (É o Dai-Gohonzon).
Mas, as pessoas não procuram saber, deixaram passar 700 anos. Agora, após uma experiência dramática, a humanidade chegará a com-
preender um dia e deverá acreditar. No momento, dentro do sofrimento da derrota sem precedentes, nas profundezas da infelicidade,
sou o único no mundo que conheço esta verdade. Há mais alguém que a conhece? Não, ninguém conhece isso.
Jossei Toda não tinha um companheiro sequer para contar. O que havia era a devastação do país e mais do que isso, a existência de
uma temfvel invasão que era a de degeneração do espírito humano em todo o país. Tudo o que via e ouvia enfim, fazia aumentar cada
vez mais a solidão do seu espírito.
Seu corpo transpirava com o calor, embora sentisse frio suor nos momentos de profunda meditação.
Os aspectos mais diversos dos acontecimentos, imediatamente após a rendição, iluminavam-se, minuciosamente, na sua mente atenta,
como a cena das loucuras teatrais.
A vontade de anunciar a propagação do Verdadeiro Budismo, como urro do leão diante da planície, esta vontade irresistível, ele
precisava conter forçosamente, por saber que precisava aguardar o tempo.
Deve-se aguardar o tempo ou criar o mesmo com esforço próprio? Ele ponderou calmamente.
Devo criar um novo e verdadeiro companheiro. Após então, criar mais um e depois um outro. Assim estaria chamando o tempo.
Agora, talvez seja mais penoso criar um verdadeiro companheiro do que instruir milhões de companheiros no futuro na chegada do
tempo. Não devo ser apressado.

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Toda compreendeu que aqui estava uma séria dificuldade que deveria enfrentar direta e imediatamente.
— Somente Nitiren, inicialmente pronunciou Nam-myono-rengue-kyo, e isso foi transmitido e recitado por duas, três e cem pessoas e
assim sucessivamente. Isto acontecerá também no futuro. Não será isto, a missão de Jiyu? Além disso, o fato de que toda a nação
japonesa irá recitar Nam-myoho-rengue-kyo na época do Kossen-rufu será de tanta certeza como escolher a terra para alvo.
Não houve necessidade de lembrar-se as frases do Shoho-Jisso-Sho. O próprio Nitiren Daishonin iniciou com esta dificuldades para
criar um discípulo verdadeiro.
Ele compreendeu claramente o íntimo de Nitiren Daishonin, quando estabeleceu o Verdadeiro Budismo de Mappo, aos 32 anos. em 28
de abril de 1253.
Exatamente como profetizara; "Isto acontecerá também no futuro". Nitiren Daishonin não teria escrito para Jossei Toda,, há 700 anos
atrás? Agora, o país fora devastado e as condições para a Paz Mundial ou Kossen-rufu estavam maduras.
Se a "Missão de Jiyu" é uma realidade, deveriam surgir agora, os companheiros do Kossen-rufu. A visão do Buda é imensurável.
Não adiantaria agora anunciar em altas vozes "a uma, duas, três. .. ou a cem pessoas, pois, as vozes desapareceriam nas planícies levadas
pelo vento. Entretanto. o que se deve fazer diante do povo que sofre incessantemente como se estivesse no inferno, na imensurável an-
gústia em consequência da derrota? Meditou profundamente. Salvar um por um, todos os sofredores. Embora levasse tempo, deveria
salvar encontrando-se diretamente

Jryó • Missionários da p«.

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em eles. Estava convicto de que assim estaria provando a realização da profecia: "Isto acontecerá também no futuro".
Jossei Toda tornou-se um homem muito ocupado desde o dia da cessação do fogo. Diariamente frequentava o seu escritório
alugado em Kamiósaki.
Em poucos dias conseguiu arrumar auxiliares para o seu escritório. Entretanto, Sumida, que era o mais dedicado e dotado de mais
senso de responsabilidade dentre os seus auxiliares mais antigos, mesmo no tempo em que ele estava na prisão, não compareceu, e nem
fez comunicação alguma. Habilidoso como era, deveria ter analisado o futuro da saúde precária de Toda e das dificuldades do seu
negócio. Apesar da sua tranquilidade habitual, Toda ficou indignado, particularmente com a atitude dele. Francamente, era uma reação
de tristeza em consequência da traição do seu melhor discípulo nos negócios e em quem mais confiou os cuidados do seu negócio
durante a sua ausência. Como é tão mutável e ao mesmo tempo temível a consciência humana! Nesse momento ele compreendeu que as
relações humanas fora da fé no Budismo, não são legítimas como ouro verdadeiro, mas sim, de ferro ou chumbo.
O velho Okumura e as moças escriturárias estavam defronte das mesas antigas. Era um escritório solitário para aqueles que
conheceram a extensão dos negócios de Toda nos dias anteriores à prisão.
Assim mesmo, ele estava animado. Não se podia dizer que estava sadio ainda que sua saúde estivesse suficientemente recuperada.
Sofria também de nevralgia e parecia claudicar com as suas pernas. Apesar do acúmulo de diversas inconveniências, o seu negócio
começou a movimentar-se, alheio às confusões da época.
Após completado os preparativos, iniciou as ativida-des do seu negócio no dia 20 de agosto. Foi no 5.° dia

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apôs o téimino da guerra e 49 dias após a sua libertação da pnsáo-
No dia 24 de agosto, o "Blackout" que vinha sendo vigorado há anos, fora totalmente cancelado
Surgiu um anuncio no Jornal Assahi, no dia 23 de agosto Todos os jornais daquele época continham apenas duas
páginas. O único anúncio no canto da página era de Nihon-Shogakkan. Não havia outro. Percebia-se filas de
letras maiúsculas anunciando: "Como estudar. aprender e resolver as matérias da '\.a, 2a e 3a série do Ginásio,
Matemática e Física (por correspondência)". A seguir vinham informações em letras minúsculas: "A explanação
dos assuntos principais de Matemática e de Física serão enviados em separatas duas vezes por mês e os exames de
aproveitamento serão leitos mensalmente por testes. Se colecionarem as separatas das explanações da matéria
poderão formar um livro indispensável para a consulta O curso será completado em seis meses. 25 ienes por grau
em 6 meses. Pagamento antecipado. Os interessados serão limitados devido à escassez de material. Não há livros
básicos ou de consulta."
Um aviso rústico desta natureza, mostra muito bem o reflexo da escassez de papel daquela época.
Não havia papéis suficientes para enviar informações ou regulamentos do curso. A dificuldade de arrumar papel
naquela época estava completamente fora da imaginação atua).
Por outro lado, a época era difícil também para o lado dos alunos, mesmo na aquisição de um livro de texto-Nesta
frase: "Se colecionarem as explanações poderão formar um livro de orientação indispensável..." Aqui estava
contido o segredo da forte convicção na "Orientação Racional da Matemática."
Toda conhecia muito bem a' sede de estudo que

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havia na mente da Juventude, ou melhor, poderia dizer que a ta! avidez já estava segura em suas mãos.
Passaram-se um, dois e três dias. As reaçoes do anúncio foram aparecendo com o passar dos dias. Dia-
riamente começaram a aparecer 30 a 50 pedidos por correspondência no seu escritório pela manhã. O atendimento
dos pedidos e o envio dos materiais foram sendo cac'a vez mais intensos. O escritório tornou-se radiante. Á tarde,
chegava até ao estado confusional de tanta ati-vidade.
Fumando um cigarro, disse Toda aos seus auxiliares:
— O que acham vocês, quando o nosso movimento chegar a 10 mil ienes diários, vamos todos comemorar o
sucesso com o apetitoso Sukiyaki?.
Os auxiliares ouviram com embaraços. Era uma notícia agradável, mas não se podia imaginar quando nessa
época, tão cedo, chegaria esse dia. Toda queria trazer a alegria aos seus empregados.
O melhor empresário é um financista que sempre conserva o senso de humanidade nas relações de seu trabalho,
no período de construção, como é o caso. Pode-se dizer que, é um vitorioso como homem e um perfeito
realizado.
— ótímo! Sukiyaki é formidável.
Espontâneo como sempre, Okumura manifestou imediatamente a sua aprovação. Parecia até estar se recordando
do gosto de Sukiyaki. Era o sabor que já havia sido esquecido. Não somente eles, a maioria do povo já havia
esquecido há muito tempo. Agora, o prazer de saborear Sukiyaki possuía força atrativa mais do que a própria
renda de 10 mil ienes por dia. Em seguida Okumura fez uma sugestão com a.atitude engolindo a saliva condi-
cionadamente reftetida.
— O Senhor não acha? Já que o escritório foi inau-
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gurado e que conseguimos iniciar o negócio favoravelmente, não poderíamos festejar aqui com Sukiyaki, cele-
brando previamente o nosso sucesso?
Toda começou a rir. A seguir, todos começaram a rir. Okumura percebeu que faltava mais uma insistência:
— O Senhor não conhece a sorte da primeira bom-bada de água? Festejando previamente, sinto que logo virá com
certeza, o dia do rendimento de 10 mil ienes. Não acha assim?
— O senhor Okumura hoje está falando muito bem! Respondeu Toda, todo sorridente.
Toda permanecia sempre atento e apesar destas palestras, possuía inteira convicção no sucesso do seu negócio
para o futuro.
— Espere um pouco, por favor. Não seja tão afobado.
Okumura ficou um pouco decepcionado— Um pedido vale 25 ienes, dez valem 250 ienes, cem pedidos valem
2.500 ienes e assim o sabor do Sukiyaki foi desaparecendo.
Naqueles dias agonizantes foi marcada a data da Ocupação pelas Forças Aliadas. Logo em seguida foi
cancelada e alterada.
Enquanto isso, o povo movimentava-se desesperada-mente, em comoções intensas, às vésperas da Ocupação.
Não podia imaginar como seriam realmente as Forças de Ocupação. Os boatos espalhavam-se como ondas. Dois
milhões e oitocentos mil cidadãos de Tóquio podiam somente permanecer aterrorizados.
Além de tudo isso, milhões de soldados começaram a repatriar. As estações de Shinagawa, Ueno e Shinjuku
estavam repletas de soldados desmobilizados, cada um carregando os utensílios de guerra embrulhados nos res-
pectivos cobertores e pacotes mais volumosos sobre os ombros. Locomotivas repletas de gentes, bondes super-

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-lotados, e assim, começaram a surgir a confusão e a desordem em todos os lugares.
O escritório de Nihon-Shogakkan, apesar de pequeno, tinha o ambiente tão claro e cheio de vida que parecia um canto do outro
mundo.
Transparecia uma sensação de alívio indescritível nas fisionomias das pessoas do escritório, sempre que Toda comparecia ao local- Lá
fora era uma tempestade. Enquanto permaneciam no escritório apertado, esqueciam-se das fortes ventanias e chuvas. Era um local de
trabalho mais tranquilo e mais feliz do que qualquer outro lugar, mais do que o próprio lar, mais do que a própria cidade.
O que é mais necessário é a convicção de um líder. As pessoas são extremamente delicadas. É necessário refletir seriamente, que a
convicção e o desejo forte de um responsável influi tanto no sucesso do trabalho e como na sociedade.
Surpreendentemente, em menos de cinco dias chegou aquele dia desejado, desde a noite quando Toda falara sobre Sukiyaki.
Nessa manhã, o carteiro deixou um pacote pesado com numerosas cartas amarradas com cordão. Foi até penoso estampar o carimbo de
recebimento em todas essas cartas. Era sete a oito vezes mais que o movimento dos dias habituais. De fato, era um acontecimento
inacreditável a todos. Começaram chegar de Hokkaido. Tohoku, Kansai e Kyushu.
— Olhem, já tem 450. Ainda tem mais! — uma jovem auxiliar levantou a voz surpreendentemente.
Todos ficaram tão surpresos que permaneceram sem fala durante um certo tempo.
— Que surpresa! Okumura dirigiu a Toda com voz de admiração.
— Senhor, hoje ultrapassou 10 mit ienes.
— Ah, ah, ah... Toda riu.

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— Okumura, você precisa procurar uma grande quantidade de carne. Coisa ainda mais difícil do que dez mi)
ienes é encontrar tanta carne!
— Deixe isso comigo. Enfrentarei esse trabalho penoso com todo o meu afinco.
Okumura, que se aproximava dos sessenta, "batia no peito" com a disposição feliz.
Toda acrescentou:
— Peço também o saké. Duas ou três garrafas, dos bons...
Nessa época tão crítica, não se podia encontrar um restaurante aberto para fornecer os materiais para fazer
Sukiyaki.
Jossei Toda, antes de encontrar-se com o seu mestre de toda a sua vida, denominava-se Jogai (literalmente
significa fora do castelo). Fora do castelo ele viveu livremente e procurou com toda a devoção ao seu verdadeiro
mestre para segui-lo eternamente. Agora, depois que o mestre o deixara, permaneceu o desejo ardente dentro da
magnitude da sua atitude "a sua convicção da reconstrução da Soka-Gakkal", de sucede' a decisão do seu mestre,
mesmo estando no pequeno local de trabalho.
Levado pela sua decisão de promover a obra do Kossen-rufu, e como o seu comandante geral resolveu trocar o
seu nome para Jossei (Literalmente significa sábio do castelo).
— Peço a todos reunirem-se hoje à noite em minha casa. O senhor Kurikawa também. Vamos terminar cedo o
serviço para podermos comemorar o sucesso.
_ Okumura levantou-se com entusiasmo para fazer as compras. Toda acrescentou como se estivesse correndo
atrás dele-
— Isso mesmo! Por favor, traga doces e frutas. Peço não esquecer também das bebidas para as senhoras.

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Apesar de parecer um homem de génio expansivo, Toda possuía a delicadeza de voltar a atenção aos por-
menores.
Toda voltou para casa à tarde, trazendo junto os seus convidados. O proprietário do escritório, o senhor
Kuri-kawa, por estar ausente por motivo de negócio, fora comunicado através de recado.
Okumura estava no auge da intensa atividade na ajuda à Sra. Ikue. Foi escolhido o quarto de cima para o
loca! da comemoração. Quando tudo estava preparado, todos aqueles que estavam conversando na sala de visita
subiram para o quarto de cima. A época ainda estava quente. O cheiro da carne estimulava o apetite que há
muito tempo deixara de ter esta oportunidade. Ouvia-se o borbulhar da fervura da carne dentro da panela sobre o
fogo.
Toda pegou o cálice, mas disse a Ikue:
— Vamos trocar pelo copo?
Surgiu uma cor amarela dourada. Atravessando o seu olhar através do copo, perguntou Toda a Okumura:
— Este sakè é de ótima qualidade. Onde você conseguiu achar este artigo tão fino?
— É delicioso não é? O resto é segredo — assim dizendo, orgulhosamente Okumura pegou o Suklyaki, todo
sorridente.
— Cada homem tem o seu talento excepcional! Vamos dar uma Distinção da Ordem de Serviço pela efici-
ência do trabalho de hoje à noite. Parabéns Okumura! — disse Toda olhando Okumura afetuosamente.
— Congratulações, senhor Toda! Desta vez o negócio foi um sucesso.
Quando Okumura disse isso, todos que estavam ao redor da mesa possuíam o mesmo pensamento.
A essa hora abriu-se o portão de entrada e alguém chamou. Era o proprietário do escritório, o senhor Kuri-
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kawa- Logo que fora convidado a entrar no quarto, disse
alegremente em alta voz:
— Como é formidável, senhor Toda!
— Antes de mais nada, vamos tomar um aperitivo. Aceitando o convite, tomou assento à mesa.
— Tenho dado muito trabalho ao senhor mas agora parece que tudo corre bem; — disse Toda, derramando o
saké no cálice de Kurikawa.
— É uma surpresa assustadora* Realmente foi maravilhoso! — disse Kurikawa, olhando para todos os par-
ticipantes, não podendo conter a tamanha admiração.
— O sucesso é a luta de vida ou morte do comandante Okumura na caça dos géneros alimentícios. Estava
contemplando, profundamente, admirado pela existência de qualidades excepcionais para cada pessoa.
A essas palavras de Toda. Okumura discordou, negando com os movimentos da sua cabeça.
— O jantar está formidável! Mais do que isso, o que me surpreendeu mais, foi a renda de dez mil ienes,
quando ouvi essa notícia através da sua esposa. Foi um sucesso surpreendente! Conseguir isso na época em que o
destino do país está seriamente abalado!
— Senhor Kurikawa, por acaso teria inveja de mim?
— É claro. Perfeitamente invejável. O material é o papel. É barato. E isso vem render dez mil ienes? É como
se estivesse colhendo o bolo que está caindo da prateleira. Não haveria um que deixasse de invejar!
— Por mais que invejasse, ninguém poderia imitar isso. — Todo sorridente, disse Toda despejando calma-
mente o sakê no seu copo.
— Sim. Pode ser que isso seja verdade, mas, confesso a minha admiração pela previsão do senhor Toda em achar
o ponto chave do sucesso!
Há limite na habilidade do homem. A sorte ou a falta de sorte é também a importante chave do sucesso ou do

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fracasso. Nem todos os homens de visão conseguem obter sucessos. Há casos em que os homens que parecem
pouco Intefigentes, conseguem realizar grandes sucessos inesperadamente. São fenómenos comuns da vida que
ocorrem na sociedade em geral em nosso mundo humano, complexo e delicado.
O sorriso desapareceu da face de Toda, quando disse o seguinte:
— O que vocês todos acham sobre o resultado de hoje? É o benefício merecido pela luta de dois anos de prisão,
sofrendo e arriscando a vida contra a morte por causa do Hokekyo. Não foi apenas o talento. É o Beneficio
Divino. O Gohonzon é realmente maravilhoso!
Seus olhos brilhavam como raios e os lábios cerrados faziam-no parecer nobre.

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