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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA - CCT


PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DA UECE – ProPGeo
DISCIPLINA: COLÓQUIOS TEMÁTICOS EM GEOGRAFIA

MESTRANDO: GABRIEL DE SOUSA ARAÚJO


PROFESSORA: DENISE CRISTINA BOMTEMPO

RESENHA CRÍTICA

O terceiro encontro da disciplina de Colóquios temáticos se constituiu pela


sugestão de leituras e um debate coletivo, em que nos períodos manhã e tarde do dia
28/10/2021 foram apresentadas as teses – defendidas na Universidade Estadual Paulista
(UNESP) pelos professores Lindberg do Nascimento Junior e Guilherme dos Santos
Claudino – além de demais estudos que serão mencionados a seguir.
O texto intitulado “Índice de vulnerabilidade social e desastres naturais para
áreas urbanas” de autoria de Lindberg Nascimento trabalhou o recorte espacial da
cidade de Santos e identificou as vulnerabilidades no perfil de jovens alfabetizadas de
cor parda, residentes em domicílios improvisados e sem rendimento. O estudo tem o
objetivo de contribuir para o debate geográfico sobre a estrutura e os processos que
organizam a vulnerabilidade por meio de aspectos conceituais e estruturadores de
índice, além de pontuar discussões acerca das variáveis quantitativas e qualitativas.
São explanadas plataformas de coleta de dados, em especial na seção dos
microdados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com o recorte
temporal do Censo demográfico de 2010. Os censos permitem compreender a variância
da vulnerabilidade, aspectos e reflexões nas áreas urbanas em estudos comparativos.
Como metodologia adotada, detalha-se a compreensão dos riscos climáticos pelo
índice de vulnerabilidade social em recortes geográficos comparados (SoVI). Este
modelo permite associar as variáveis sociais e demográficas, que auxiliam nas
orientações e decisões políticas de defesa e proteção civil, baseado nos recortes
territoriais de municípios para escalas nacionais e regionais, além de setores censitários
para a análise das bacias hidrográficas (NASCIMENTO JUNIOR, 2018, 2020).
Foram selecionadas 117 (cento e dezessete) variáveis, e em seguida agrupadas
em duas dimensões: criticidade e suporte e, por fim se reduziram em 77(setenta e sete)
variáveis, no conjunto total dos dados, o que permite afirmar que os procedimentos
estatísticos submeteram os componentes à padronização dos valores para se encontrar a
variância em cálculos estatísticos. Um deles, a multicolinearidade permite correlacionar
as variáveis dependentes e independentes nos gráficos pela aproximação dos pontos à
reta.
As explanações acerca da finalidade, das potencialidades e possibilidades
vinculados ao SoVI também são apresentadas no estudo. Afinal, segundo Nascimento
Junior (2020), o estudo tem base de adaptação do modelo estatístico utilizado em Cutter
(2003). Assim, o texto é organizado em tópicos metodológicos e de análise dos
componentes vulneráveis.
Para compreensão da vulnerabilidade é evidenciado que a leitura geográfica por
meio de índices numéricos (métricas) – variância, medidas gráficas e cartográficas –
como parâmetros de espacialização dos riscos, já que os estes últimos só existem em
razão da vulnerabilidade, que têm processos espaciais estruturadores: a desigualdade e a
segregação.
Tais elementos contribuem para a apreensão da forma, do conteúdo da cidade de
Santos que são decorrentes do processo histórico de urbanização no Brasil e afetam o
clima urbano e os aspectos populacionais evidenciados em análise. Afinal, na
explanação das ideias, nos componentes de identificação da vulnerabilidade social e nas
figuras mostradas em tela, a relação sociedade – natureza é afirmada, uma vez que os
parâmetros sociais e ambientais são inerentes às condições de moradia, repercutidas
pela desigualdade social e racial, pelo gênero e pelo rendimento.
Esses componentes permitem avaliar populações residentes em Santos e
descontinuidades entre as infraestruturas das moradias e condições socioeconômicas, o
que corresponde a dialética na construção histórica e material da cidade de Santos, as
contradições e a segregação socioespacial existente. O caminho do método, a
explanação dos modelos positivistas e análise comparativa construíram reflexões acerca
da migração.
Outra variável explicitada no texto é a migração e que é retrato do clima, a
exemplo da migração sazonal e na escala interna do Brasil também justificam a
movimentação campo-cidade. Com foco na produção do espaço urbano, a migração
campo-cidade está articulada na leitura da vulnerabilidade socioespacial. Explicitam a
verticalidade predial e por sua vez, a formação das favelas no Brasil.
Compreendemos que a discussão da Geografia do movimento por meio da
coexistência é resultante do método escolhido para compreender a realidade. Assim,
discutimos no encontro a articulação do clima com a chegada e os fluxos da migração
recente, as atividades econômicas que se materializam nas cidades. Para com isso
pensarmos as problemáticas em países distintos, o caso da Itália e Brasil, e a influência
do fator econômico como perfil e motivação, além da instabilidade climática para
compreender os impactos decorrentes da vulnerabilidade.
O que reforça a seletividade dos lugares, as contradições que se revelam no
espaço geográfico do sistema de objetos e ações presente na fala do professor Lindberg,
que nos orientou a desvendar o que está escondido, com vistas à por em questão no
debate, a oferta dos riscos pela cidade.
Também são discutidas nos textos as funções da cidade e o desenvolvimento
urbano como produto decorrente da cristalização da urbanização desigual. Isso significa
em pensar as desigualdades espaciais no território e por vulnerabilidade, que na cidade
de Santos se apresentam regionalizadas. As áreas norte e noroeste acabam por serem
afetadas pelo turismo e os processos de turistificação para o entendimento da
contradição, do desigual e do espetacularizado.
Em recortes espaciais distintos, apresentados no debate, além do território
nacional, o professor Lindberg Nascimento explanou áreas costeiras passíveis à
vulnerabilidade para compreender a tese das vulnerabilidades em cidades costeiras do
mundo tropical em Santos (Brasil), Maputo (Moçambique), Brisbane (Austrália).
Notamos que as explanações tem articulação de trajetória na escrita de textos como a
tese e estudos advindos dela. Essa apreensão de ambientes distintos, com latitudes
semelhantes aponta que, seja pela homogeneização, heterogeneização ou diferenciação,
nos estudos climáticos por intermédio de elemento unificador.
Para a análise geográfica do clima e das implicações dos riscos, a
vulnerabilidade em áreas do Hemisfério Sul é evidenciada e reflete as transformações
urbanas associadas ao clima refletido nas problemáticas sociais (NASCIMENTO
JUNIOR, 2018). Para a compreensão da vulnerabilidade social, os dados populacionais
retratam a realidade, embora que se necessite da organização de um novo censo para
atualização dos dados, e que como já mencionado em tela se articula a política de direito
à cidade e que possibilitem problematizar as estruturas internas.
No encontro da disciplina de Colóquios Temáticos, o professor Lindberg
Nascimento contribuiu para a formação dos discentes de mestrado e doutorado ao
realizar reflexões sobre o método, a metodologia e a Geografia. Afinal, a construção do
conhecimento geográfico se pauta pelos encaminhamentos do método (CLAUDINO;
SPOSITO, 2020). O caminho do método é inerente à discussão apresentada pelo
professor Guilherme Claudino, em fala e na composição dos estudos sugeridos.
Portanto, em ambos os materiais, o método e a metodologia são elementos que
embasam os objetivos articulados à discussão teórica do objeto de investigação.
A discussão do método também permite explicar a construção da ciência, das
problemáticas, que movem o fazer científico. Como reflexão foi abordada que a
construção de novas questões para pensar o período atual: qual Geografia fazemos? Para
quem? Essas indagações também são realizadas para pensar metodologias e
possibilidades de um programa de pesquisa (CLAUDINO, 2019).
Nesse sentido, tivemos em tela, a participação do professor Guilherme que
proporcionou o debate a respeito do método, da construção do saber pela tese
apresentada “Raízes e constelações do saber geográfico acadêmico brasileiro: o
conhecer e o pensar na condição de nervuras”.
No texto, existe a organização de capítulos que permitiram compreender o
pensamento, o conhecimento geográfico e a Geografia do conhecimento, a formação da
Geografia brasileira composta pelas raízes, enfatizadas como ato político, ao se
apresentarem na versão final da tese sete teóricos, embora que se optou na escolha de
quatro. Tais raízes são identificadas pelo termo primário de cada autor. Para Claudino
(2019) as raízes não dão conta do que se produz na Geografia dia a dia, por isso a
necessidade de propor outras categorias de análise.
De acordo com Claudino (2019) também se faz o debate pelas constelações, as
ramificações advindas das raízes geográficas brasileiras. As raízes são propulsoras do
que se chamou das constelações dos geógrafos. Essa correlação apresentada – raízes e
constelações – permite evidenciar o conteúdo das nervuras que revela as singularidades
e os possíveis rompimentos entre orientadores e orientandos na Geografia brasileira.
Em síntese, apresentou-se um debate histórico e epistemológico da Geografia
brasileira vinculado aos Programas de Geografia no Brasil, temas e projetos das raízes
às constelações e nervuras. De acordo com o professor Guilherme Claudino, essas três
categorias, e em conformidade ao método, são sincrônicas, pois formam o que se
denominou de raízes constelatórias do saber (CLAUDINO, 2019). Essas categorias são
defendidas a fim de compreender a linha temporal da construção da ciência geográfica
brasileira e para, sobretudo responder: e o que é a Geografia hoje? Também contribuiu
com múltiplas inquietações: é possível falar de uma Geografia brasileira?
Esse questionamento perpassa a explanação realizada que objetivou
compreender o pensamento geográfico, o conhecimento e se vincula às inquietações do
professor Lindberg Nascimento, quando nos coloca para pensar em novas proposições,
a busca do novo, muitas vezes entendidas pelas nervuras – tensões vinculadas à
construção da Geografia, das escolas das correntes, dos paradigmas e das crises
advindas dele.
Também são colocadas perspectivas da consciência das escolhas, em que as
quebras permitem justificar as alterações dos compromissos profissionais, com vistas à
formulação de novos questionamentos, das respostas às perguntas, uma vez que nos
entendemos nessa rede que se fortalece a cada dia que é a Geografia. Essa contribuição
se articula ao crescimento dos Programas de Pós-Graduação no Brasil, pela
multiplicação dos grupos de pesquisa e das temáticas que a Geografia se debruça na
compreensão da realidade – a Geografia combativa.
Contudo, existe um impasse que é a política atual, do Brasil que vivemos das
impossibilidades e desacordos com a ciência brasileira. O debate da manhã se enriquece
com a explanação da tarde e vice-versa, pois nos lança às problemáticas políticas, de
pesquisa e de vida.

REFERÊNCIAS
CLAUDINO, Guilherme dos Santos. Raízes e Constelações do Saber Geográfico
Acadêmico Brasileiro: O conhecer e o pensar na condição de nervuras /Guilherme dos
Santos Claudino. Tese de Doutorado em Geografia – Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Presidente Prudente, 2019. 601 f.
https://repositorio.unesp.br/handle/11449/192153.

CUTTER, S. L; BORUFF, J.; SHIRLEY, W. Social vulnerability to environmental


hazards. Social Science Quarterly,v. 84, n. 2, p. 242-261, 2003.

NASCIMENTO JUNIOR, Lindberg. Clima urbano, risco e vulnerabilidade em


cidades costeiras do mundo tropical: estudo comparado entre Santos (Brasil), Maputo
(Moçambique) e Brisbane (Austrália). 180f. Tese de Doutorado em Geografia –
Universidade Estadual Paulista (UNESP), São Paulo, 2018.
https://repositorio.unesp.br/handle/11449/154130?show=full.

NASCIMENTO JUNIOR, Lindberg; SANT’ANNA NETO, João Lima. Índice de


vulnerabilidade social e desastres naturais para áreas urbanas. Rev. Geociênc. Nordeste,
Caicó, v. 6, n. 2, (Jul-Dez) p. 65-72, 2020.
https://periodicos.ufrn.br/revistadoregne/article/view/19280/13119.

SPOSITO, Eliseu Savério; CLAUDINO, Guilherme dos Santos (Org). Teorias na


Geografia: avaliação crítica do pensamento geográfico. Rio de Janeiro, RJ:
Consequência Editora, 2020.

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