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Losurdo, Domenico. Marx e o Balanço Histórico Do Século XX
Losurdo, Domenico. Marx e o Balanço Histórico Do Século XX
do século 20
Domenico Losurdo
Marx e o balanço histórico do século 20
Diotima
Questões de filosofia e política
Copyright ©2012
Domenico Losurdo
Domenico Losurdo
Tradução:
Bernardo Joffily e Maria Lucília Ruy
São Paulo
Edição 1 (2015)
Primeira reimpressão (2020)
Título original: Marx e il bilancio storico del Novecento
Copyright: Domenico Losurdo
Todos os direitos em língua portuguesa, para o Brasil, reservados à Fundação Maurício Grabois
CDD 335.4
Catalogação na Publicação: Eliane M. S. Jovanovich CRB 9/1250
CONSELHO CURADOR
Rosanita Campos
CONSELHO FISCAL
Pedro de Oliveira
• CONSELHO EDITORAL
Ana Maria Prestes Augusto Cesar Buonicore (in memorian) Cláudio Gonzalez
Fábio Palácio de Azevedo Fernando Garcia de Faria João Quartim de Moraes
Júlio Vellozo Manuela D’Ávila Mariana de Rossi Venturini Nereide Saviani
Nilson Araújo Osvaldo Bertolino
Sumário
9 Apresentação
O Comunismo e a construção da humanidade, do século 20 ao 21
João Quartim de Moraes
15 Fontes e agradecimentos
18 Advertência
PRIMEIRA PARTE
19
Tradição liberal e “bárbara discriminação entre as criaturas humanas”
21 I. Marx, a democracia e a construção histórica do conceito universal de homem
44 II. Tradição liberal, liberdade e lógica excludente
SEGUNDA PARTE
63 “‘Bárbara’ discriminação entre as criaturas humanas” e a Primeira Guerra do Golfo
65 III. Do intervencionismo colonial ao “intervencionismo democrático”.
102 IV. Tradição liberal, colonialismo e batismo de fogo da esquerda “reformista”
TERCEIRA PARTE
115 Marx e a história do século 20
117 V. Marx e a história do totalitarismo
138 VI. Democracia socialista ou extinção do Estado? O dilema da Revolução de Outubro
164 VII. Marx, a questão nacional e colonial e o “socialismo real”
188 VIII. Depois do dilúvio: o mítico retorno a Marx
216 IX. Filosofia da história contramoral?
QUARTA PARTE
241
Globalização e marxismo
243 X. Globalização, conflito social e conflitos geopolíticos
259 XI. Marxismo e populismo na leitura do processo de globalização
281 Notas
Apresentação
C
om reconhecida maestria dialética, Domenico Losurdo põe em
evidência, nos onze ensaios aqui reunidos, os limites que o libe-
ralismo impôs à construção histórica do conceito universal de
homem, mostrando com irretorquível argumentação, sempre
baseada na análise escrupulosa dos textos e dos fatos, quem são os verda-
deiros e quem são os falsos amigos da humanidade. Com efeito, ninguém
melhor do que ele desmistifica a pretensão do bloco liberal-imperialista en-
couraçado na Otan de falar em nome da “comunidade internacional”, da
“democracia” e dos “direitos humanos”.
Nem por isso deixa de ser importante analisar a doutrina liberal, a
começar de seu princípio original: a inviolabilidade da esfera privada, ga-
rantida pela limitação do poder que a sociedade e o Estado exercem sobre
o indivíduo. As liberdades que essa doutrina sustenta e preconiza são pois
essencialmente negativas: declaram o que não pode ser feito contra as leis
e contra os indivíduos. Elas são também chamadas “formais”, porque não
levam em conta o conteúdo concreto das condições sociais de existência.
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Apresentação
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tratadas como carne para canhão, “se atolaram no pântano europeu, lama-
cento e sangrento” (a frase é de Lênin) dos campos de batalha da Europa e
do Médio Oriente. Cerca de 9 milhões de mortos e de 30 milhões de feridos
pagaram o preço da luta entre as grandes potências europeias pela hege-
monia econômica e militar.
Um dos episódios mais atrozes dessa chacina em escala continental
foi a “batalha imunda” do Chemin des Dames, perto de Craonne (a expres-
são é de Gilles Lapouge, correspondente na França do jornal O Estado de
São Paulo):
“O Chemin des Dames foi duas vezes infame. Em primeiro lugar,
por causa da demência vaidosa do general Nivelle, que lançou ondas de
soldados contra as implacáveis posições alemãs, provocando em 15 dias de
60 mil a 70 mil mortes. Inutilmente. Esses soldados, esgotados por três anos
de guerra, doentes, vivendo como ratos na lama das trincheiras, feridos,
desprezados por seus chefes, revoltaram-se (...) Segunda ignomínia: (...) O
general Pétain pôs então ordem nas fileiras do Exército e acabou com os
motins. Como? Mandando fuzilar 49 soldados»1.
Há ainda uma terceira infâmia que Losurdo já havia assinalado em
outro livro seu: o uso não somente de seus próprios povos, mas também
das populações coloniais africanas e asiáticas como carne para canhão. Infâ-
mia na infâmia, em vez de manifestar gratidão a esses homens arrancados
de suas terras natais para serem alvos da metralha, da artilharia e dos gases
tóxicos, o filósofo liberal Benedetto Croce lamentou que a França tivesse
festejado “selvagens bárbaros, senegaleses e gurkas indianos que pisavam
sua doce terra”2.
John Locke, o grande patriarca do liberalismo, teria porém dado ra-
zão a Croce e consortes. Com efeito, como também lembra Losurdo, o pen-
sador inglês sustenta que “a conservação do exército e, com ele, do Estado
1 LAPOUGE, G. “Jospin arrasa hipocrisia francesa de 80 anos”. In: O Estado de S. Paulo de 8-11-1998, p. A29.
Vale lembrar que, em 1940, o mesmo Pétain capitulou diante da Alemanha e se tornou chefe de um governo
fantoche a serviço do III Reich hitleriano.
2 Ver LOSURDO, D. O liberalismo entre civilização e barbárie. São Paulo: Anita Garibaldi, 2006, p. 33, que re-
mete a CROCE, B. Frammenti di etica (1922). In: Etica e politica (1930), reedição: Bari, Laterza, 1967, p.143.
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Apresentação
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3 Losurdo cita aqui CARR, E. H. A History of Soviet Russia. The Bolshevik Revolution 1917-1923, tradução
italiana, p. 128.
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Fontes e agradecimentos
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Fontes e agradecimentos
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Advertência
Relação das siglas usadas no texto:
MEW = K. Marx-F. Engels, Werke (Obras), Dietz, Berlim, 1955 segs. No que
toca à tradução italiana, empregamos livremente aquela da edição das
Opere complete (Obras Completas) de Marx e Engels, em vias de publicação
pela Editori Riuniti, e também a de K. Marx-F. Engels, India Cina Russia.
Le premesse per tre rivoluzioni (Índia, China, Rússia. As premissas de três re-
voluções), organizada por B. Maffi, Il Saggiatore, Milão, 1976; quanto aos
artigos sobre a questão colonial publicados em inglês, tivemos presente o
texto original de AVINERI, S. Avineri (org.). Karl Marx on Colonialism and
Modernization (Karl Marx sobre colonialismo e modernização), Doubleday,
Nova Iorque, 1968.
Q = A. Gramsci, Quaderni del carcere (Cadernos do cárcere), edição crítica or-
ganizada por V. Gerratana, Einaudi, Turim, 1975; NM = A. Gramsci, Il nos-
tro Marx 1918-1919 (O nosso Marx, 1918-1919), organizada por S. Caprio-
glio, Einaudi, Turim, 1984; ON = A. Gramsci, L’Ordine Nuovo 1919-1920
(A Nova Ordem), organizado por V. Gerratana e A. A. Santucci, Einaudi,
Turim, 1987.
Loc = V. I. Lenin, Opere complete (Obras completas), Editori Riuniti, Roma,
1955 segs.
L = V. I. Lenin, Opere scelte (Obras escolhidas), Editori Riuniti, Roma, 1968.
StA = N. Bakunin, Stato e anarchia e altri scritti (Estado e anarquia e outros
escritos), Feltrinelli, Milão, 1968; B = Staatlichkeit und Anarchie und andere
Schriften (Estado e anarquia e outros escritos), organizado por H. Stuke, Ul-
lstein, Frankfurt, Main-Berlim-Viena, 1981.
Em todos os textos citados, o itálico foi livremente mantido, excluído ou
modificado conforme as exigências de grifo decorrentes da exposição.
Não se assinalaram as mudanças eventualmente introduzidas nessas tra-
duções para o italiano que foram utilizadas.
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Primeira parte
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Primeira parte - Tradição liberal e “bárbara discriminação entre as criaturas humanas”
I
Marx, a democracia e a construção histórica
do conceito universal de homem
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Primeira parte - Tradição liberal e “bárbara discriminação entre as criaturas humanas”
Porém, Hayek, com inegável rigor e coerência, encara com mal disfar-
çada desconfiança um autor como Rawls10. Nem os Estados Unidos estão
imunes àquela contaminação socialista do Ocidente que o teórico neolibe-
ral não se cansa de denunciar. Ou melhor, mesmo naquele país manifes-
tou-se o funesto hábito, mais tarde difundido também na Europa, de usar
o termo “liberal” para designar “aspirações de natureza essencialmente so-
cialista”11. Convém aqui dar a palavra a um autor que, em contraste, Hayek
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cita sem restrições em sua apologia da “grande sociedade”, como ele a de-
nomina, ou “sociedade aberta”, para retomar a expressão de Karl Popper12.
Pois bem, mesmo neste último autor podemos ler:
“Ainda que o Estado proteja os seus cidadãos de serem asse-
diados pela violência física (como ocorre, em princípio, sob um ca-
pitalismo desenfreado), ele pode frustrar os nossos intentos se não
consegue protegê-los do abuso do poder econômico. Em um Esta-
do de tal gênero, o economicamente forte está livre para assediar
outro que seja economicamente fraco e privá-lo de sua liberdade.
Em tais circunstâncias, a liberdade econômica sem limites pode
ser autodestrutiva da mesma forma que a liberdade física sem li-
mites, e o poder econômico pode ser quase tão perigoso como a
violência física; pois aqueles que possuem um excedente de ali-
mentos podem, sem usar a violência, forçar aqueles que estejam
na penúria a uma servidão ‘livremente’ aceita”13.
Pouco importa que Popper classifique Marx entre os “falsos profetas”.
Nesta passagem, ele termina por deduzir a crítica de fundo do liberalismo:
não existe apenas uma coação física, há também uma coação econômica; o
domínio econômico e o monopólio ou o controle dos “recursos” permite
que se “assediem” aqueles que são privados de tais recursos e vivem em
condições de absoluta precariedade econômica; estes últimos podem ser
juridicamente livres, mas no entanto acham-se essencialmente privados
de liberdade e reduzidos à “servidão”. Mesmo no plano terminológico as
consonâncias são evidentes: a “servidão” de que fala Popper faz pensar na
“escravidão assalariada” que Marx menciona a propósito da condição ope-
rária de seu tempo. Como está claro, as opções políticas dos dois autores
são muito diversas; e, no entanto, na configuração do nexo entre economia
e política, o denunciador do “falso profeta” continua em débito com este
último. Repassemos àquela que pode ser considerada a crítica fundamen-
tal de Marx à sociedade burguesa originada da Revolução Francesa. Esta
“completou a transformação das classes políticas em sociais, ou seja, fez das
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uma redistribuição da renda em favor das classes mais pobres” para denun-
ciar a crise do liberalismo e a intolerável contaminação socialista sofrida pela
mesma sociedade ocidental15. Por outro lado, a acentuação do nexo entre
liberdade e condições materiais de vida é um ponto isolado em Popper, e
uma admissão involuntária da vitalidade do ensinamento de Marx: se tivesse
levado esse nexo realmente a sério, o teórico da sociedade aberta não teria
procedido a uma leitura tão maniqueísta da história do século 20 e não teria
investido com tanta violência contra os intelectuais que, esquecidos de que
“tudo andava bem no Ocidente”, se entregaram a um “grande estardalhaço”
e a “imprecações” totalmente fora de lugar no âmbito da “nossa sociedade”,
da “nossa civilização”, do “nosso belo mundo”16.
Hayek mostra-se mais rigoroso que Popper: para ele, não é fácil conci-
liar a denúncia de Marx como “inimigo” da “sociedade aberta” com o reco-
nhecimento explícito de um débito contraído pela mesmíssima “sociedade
aberta” em relação ao Manifesto do Partido Comunista! Contudo, Hayek in-
clui, na conta do socialismo e do “abandono dos princípios liberais” inclu-
sive “a decisão de tornar monopólio estatal toda a esfera da seguridade so-
cial”17, para não falar, enfim, do papel dos sindicatos, que para ele solapam
pela raiz o sistema liberal, ao eliminarem a “determinação concorrencial
dos preços” da força de trabalho e destruírem aquela parcela fundamental
da “economia de mercado” que é o “mercado de trabalho concorrencial”18.
Pode-se até defender, como Ralf Dahrendorf, um “novo liberalismo”: a
passagem do “velho” ao “novo” nada teve de indolor, pelo contrário, pres-
supõe gigantescas lutas político-sociais e a assimilação, não espontânea,
mas imposta pelos fatos, de elementos centrais do ensinamento de Marx e
de outros autores malditos pela tradição liberal. Quando o sociólogo anglo-
-alemão fala de “direitos sociais”, já retoma uma categoria por Hayek rotu-
lada de contaminada pelo socialismo e o marxismo. E quando Dahrendorf
denuncia no desemprego e na miséria uma ameaça e até uma supressão
dos “direitos civis”19, é claro que tira proveito do ensinamento marxiano,
por vezes até no plano da terminologia:
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trata de uma tese que, para ser formulada, não esperou a formação de uma
sociedade capitalista desenvolvida. “A felicidade à qual o homem está des-
tinado não é senão aquela proporcionada por sua própria força”, ou seja,
sua capacidade – assim se exprimia Wilhelm Von Humboldt24, já no fim do
século 18, em uma Alemanha ainda fundamentalmente aquém do capitalis-
mo. É um pouco a “teodiceia da felicidade” de que fala Max Weber:
“Os dominadores, os possuidores, os vencedores, os sãos”,
em síntese, “o homem feliz raramente se contenta pelo simples
fato de possuir a própria felicidade. Ele necessita também ter direi-
to a tal felicidade. Quer ser convencido de ‘merecê-la’ e sobretudo
de merecê-la em relação aos outros. E quer portanto ser também
autorizado a crer que os menos afortunados, que não possuem
semelhante sorte, receberam equitativamente apenas aquilo que
lhes cabe. A felicidade quer ser ‘legítima’”25.
Deste ponto de vista, um elemento implícita ou declaradamente social-
darwinista atravessa a tradição liberal: dado que a miséria não coloca pro-
priamente em causa a ordem social existente, os pobres são os fracassados,
aqueles que, por sua preguiça ou incapacidade, sofreram um revés ou der-
rota no âmbito daquela imparcial “luta pela existência”, da qual fala o libe-
ral Herbert Spencer (cf. mais adiante, cap. VI, 8), antes mesmo de Darwin.
Acha-se em Hayek uma versão mais adocicada da teodiceia da felici-
dade. É verdade que este último considera inaceitável qualquer ideia de
justiça baseada em “uma proporção entre recompensa e mérito moral”. En-
cara a ideologia meritocrática menos como consagração das relações sociais
existentes e mais como um possível elemento de desorientação e distúrbio.
Longe disso, dado que o mérito não é objetivamente mensurável e seria
arbitrário ou despótico pretender retribuí-lo com base na opinião subjetiva
que se tenha sobre o mérito próprio e alheio, só resta a Hayek substituir a
categoria de mérito pela de valor (econômico): “É bom que os indivíduos
usufruam de vantagens proporcionais aos benefícios que seus semelhan-
tes obtêm de suas atividades”26. Porém esse ajustamento de categorias não
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to, por vias tortuosas, abriu seu caminho, por exemplo, na Constituição da
República Italiana.
Por certo, não se verificou no Ocidente a radical socialização dos meios
de produção prevista e desejada por Marx; pelo contrário, um processo de
reprivatização está em curso na Europa Oriental, enquanto dúvidas e relu-
tâncias, inclusive profundas, se manifestam nos próprios países que, de um
ou outro modo, ainda continuam perfilados ao “socialismo”. Resta o fato
de que a relação entre economia e política, a própria concepção da liberda-
de, revela-se profundamente transformada, inclusive no Ocidente – pelo
ensinamento de Marx.
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4. A lógica da exclusão
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Segunda parte
“‘Bárbara’ discriminação
entre as criaturas humanas”
e a Primeira Guerra do Golfo
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III
Do intervencionismo colonial ao
“intervencionismo democrático”
1. Um silêncio revelador
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Segunda parte - “‘Bárbara’ discriminação entre as criaturas humanas” e a Primeira Guerra do Golfo
apresente alguma dissonância, dado que ocorre em uma região onde “Is-
rael anexou de fato a Cisjordânia, a faixa de Gaza, um pedaço da Síria e um
pedaço do Líbano”, observa um jornalista (Bertrando Valli, em La Repubbli-
ca, de 5-6 de agosto de 1990) que nem por isso pretende renunciar a dar sua
corajosa contribuição ao desenvolvimento do rito purificatório em questão.
Este último ocorre sob a direção de um país que só recentemente re-
nunciou à invasão do Panamá e à longa e sangrenta guerra não declarada
contra a Nicarágua sandinista; de um país que se apresta a dar uma salutar
lição ao regime de Saddam Hussein tirando partido das experiências acu-
muladas em guerras “de baixa intensidade” como as travadas “na Libéria,
Panamá, Granada” (Luigi Caligaris no Corriere della Sera de 8 de agosto) e,
para além disso, recorrendo aos terríveis “B52, os bombardeiros que per-
maneceram inativos desde as guerras na Indochina” (Bernardo Valli, em La
Repubblica, 7 de agosto). Mas, pelo que parece, trata-se de particularidades
desprezíveis, e ninguém parece querer colocar seriamente em discussão o
direito de Bush de vestir as roupas de “um Deus armado, um Deus vinga-
dor” (Ennio Caretto, em La Repubblica, 9 de agosto).
No entanto, apesar da cortina de fumaça que sai desse rito purificató-
rio, o que realmente está em jogo acaba emergindo nas correspondências
e nos editoriais dos mesmos jornalistas e órgãos de imprensa bajuladores:
trata-se de uma oil war, de uma guerra pelo petróleo, de um confronto Nor-
te-Sul: “Bush só pretende parar quando Saddam Hussein tenha sido elimi-
nado, e quando o controle do petróleo esteja novamente nas mãos da frente
filo-ocidental” (Ennio Caretto, em La Repubblica, 9 de agosto). Não se trata
apenas disso, mas também de impedir uma alta do preço dessa matéria pri-
ma fundamental, o petróleo, e de bloquear qualquer mudança nos termos
de intercâmbio em favor do Sul. Como então se admirar se as massas deser-
dadas, os palestinos, a OLP, olham para o Iraque com interesse e simpatia,
embora sem se identificarem com o regime atualmente no poder?
É um fato que deveria fornecer material para reflexão inclusive à es-
querda no Ocidente. Por mais duro que possa ser o julgamento sobre Sa-
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ddam Hussein e sua política internacional, não se pode passar por cima
do contexto objetivo da atual crise. Em um livro recente, René Dumont,
ao denunciar a constante “degradação dos termos de troca” em prejuízo
do Sul, recordou uma avaliação feita a tal propósito pela FAO: “O baratea-
mento mais prolongado e mais forte dos produtos básicos, há 30 anos nessa
região, iniciou-se em novembro de 1980. Em 1982 estes preços, em valores
reais, estavam no nível mais baixo desde 1945.”
A verdade é que na Inglaterra o Partido Trabalhista passou a concor-
rer com o governo conservador em belicosidade, a ponto de desbancar a
senhora Margaret Thatcher. Teria feito melhor em calar-se, ao menos para
evitar que reaflorasse a lembrança da postura do primeiro governo traba-
lhista da história da Inglaterra que, em 1924, após proclamar-se “orgulhoso
e cioso zelador do império”, vangloriou-se também de seu suposto espírito
humanitário por ter recorrido, na repressão à revolta das tribos iraquianas,
não a tropas terrestres, mas a bombardeios aéreos, que no entanto eram
anunciados previamente, não se sabe bem se para alertar uma população
em grande parte analfabeta ou se para melhor aterrorizá-la (R. Miliband, Il
laburismo (O trabalhismo), Roma, Editori Riuniti, 1968, p. 126-7).
Fariam bem, então, em abandonar suas ingênuas transfigurações aque-
les que veem na adesão à Internacional Socialista uma espécie de retorno
do pecador e do herege ao seio da Santa Madre Igreja, fora da qual nulla
salus (não há salvação).
Uma reflexão autocrítica sobre sua história é necessária para todas as
forças da esquerda. E isto vale igualmente para a socialdemocracia, se pre-
tende se libertar do componente menos nobre da sua tradição, do apoio
“patriótico” ao massacre imperialista da Primeira Guerra Mundial, ao pe-
sado engajamento na aventura colonial de Suez, enfim, ao desconcertante
comportamento assumido pelo Partido Trabalhista inglês atualmente. O
mínimo que se pode dizer é que, na atual crise internacional, uma esquerda
digna deste nome não deve se deixar contaminar pela vaga do chauvinismo
“ocidental”, que está subindo atualmente.
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lhor garante a liberdade e que se elevou, quaisquer que possam ter sido os
seus erros no passado, a um grau de consciência e moralidade internacional
que nenhum outro grande povo pode conceber e alcançar”. As populações
atrasadas têm interesse em começar a fazer parte do império inglês inclu-
sive para evitar que “sejam absorvidas por um Estado estrangeiro e que
constituam uma nova fonte de força agressiva nas mãos de qualquer potên-
cia rival”. Dissipam-se as névoas da ideologia da “paz universal”, da “geral
cooperação e compreensão entre os povos”; começa a emergir a realidade
não só das guerras coloniais, mas também da rivalidade entre as grandes
potências imperialistas que, dentro de algumas décadas levaria à hecatom-
be do primeiro conflito mundial.
Nessa época, além dos exércitos, confrontam-se também duas ideologias
da guerra opostas: se a Alemanha justifica ou celebra a guerra como uma es-
pécie de exercício espiritual que, graças à vizinhança da morte, permite que
se atinja a autêntica dimensão da existência, para lá da dispersão e massifica-
ção próprias da banalidade cotidiana, a Entente (da qual entretanto faz parte
a Rússia czarista) justifica o imenso sacrifício em nome do “intervencionismo
democrático” e pacificador. Depois de ter sido formulada em vista da rela-
ção entre o Ocidente civilizado e cristão, de um lado, e os povos coloniais e
bárbaros, de outro, a ideologia da Nova Ordem Internacional é aplicada tam-
bém às relações e aos desencontros entre as grandes potências. Neste qua-
dro, Émile Boutroux denuncia os alemães como “descendentes dos hunos
e dos vândalos”, que não foram plenamente “convertidos à doutrina cristã
do Deus do amor e da bondade”. E, portanto, também em relação a eles, a
guerra, ou melhor, a “cruzada”– a expressão é do filósofo francês – tem uma
útil ou necessária função pedagógica. A vitória da Entente é também a vitória
desta nova ideologia da guerra: a Sociedade das Nações é fundada com o fito
de estabelecer relações de igualdade e de respeito mútuo entre os vários Es-
tados, banindo a guerra de uma vez por todas. Mas nos Estatutos do novo ór-
gão chamado a fundar a Nova Ordem Internacional há um revelador Artigo
22, que atribui às potências vencedoras o “mandato” ou mesmo a “sagrada
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Segunda parte - “‘Bárbara’ discriminação entre as criaturas humanas” e a Primeira Guerra do Golfo
tarefa” de guiar os povos que ainda não estão à altura da “civilização moder-
na”. Fica implícito que, se esses discípulos devessem se revelar relutantes ou
turbulentos, as grandes potências chamadas a exercer o pátrio poder têm o
direito e o dever de recorrer a métodos corretivos, inclusive bastante enérgi-
cos, como aqueles colocados em prática em 1924 pela Inglaterra, país-guia da
Sociedade das Nações, para reprimir a revolta do povo iraquiano.
Mais tarde, a própria Alemanha nazista – que justifica sua expansão
na Europa Central em nome da Nova Ordem Europeia (no âmbito da
qual, segundo Carl Schmitt, os povos incapazes de dotar-se de um Estado
devem ser confiados ao cuidado ou mandato do Reich alemão), ou em
nome de uma versão europeia da Doutrina Monroe, doutrina que alguns
anos antes a Sociedade das Nações declarara não estar em contradição
com seus Estatutos e finalidades – é constrangida de certo modo a levar
em conta a vitoriosa ideologia da guerra. E é apenas o caso de agregar que
a guerra contra a URSS foi mais tarde apresentada por Hitler como uma
espécie de mandato implicitamente confiado pelo Ocidente à Alemanha,
visando a afastar o perigo representado pela barbárie asiática.
Naturalmente, os países destinados a se erigirem exitosamente em
campeões da Nova ordem Internacional eram aqueles com uma consoli-
dada tradição de guerras conduzidas em nome da liberdade, países como
a Inglaterra e os Estados Unidos que, segundo Mill, desde o século 19
forneciam “motivos de consoladora esperança de progresso geral à hu-
manidade”. Depois de ter vencido a Guerra Fria contra o Império do Mal
e reduzido a ONU ao papel que tinha sido então da Sociedade das Na-
ções, hoje são sobretudo os EUA que podem reivindicar aquela missão ou
mandato de fiadores da “paz universal”, que o liberal inglês atribuía ao
império guiado por seu país. Tampouco faltam hoje as rivalidades entre
pretendentes ao papel de intérprete privilegiado da Nova Ordem Inter-
nacional. A agência “Kyodo” difundiu a notícia de que o Pentágono se
prepararia para apontar uma parte de seus mísseis nucleares contra a Ale-
manha e o Japão (cf. La Repubblica de 26-27 de janeiro).
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Mas quem é o “nós” a de que fala Popper? Também neste caso, pode-se
acusá-lo de tudo exceto de falta de clareza. A Cruzada se anuncia não em
nome da ONU – nunca citada e sequer levada em consideração –, mas sim
dos “Estados civilizados”, ou dos “Estados do mundo civilizado”. E quem
são estes últimos? Mas é claro, trata-se do “Ocidente”, cujos limites geo-
gráficos e políticos nunca são especificados, mas que mesmo assim decide
soberanamente quem é e quem não é “civilizado”. Apesar de suas contra-
dições com os EUA, “os japoneses são na verdade civilizados”. Popper é
menos generoso em relação à Rússia de Boris Iéltsin: para que ela possa
receber ajudas, deve dispor-se a “colaborar conosco com os Estados civi-
lizados”; caso mostre relutância, em vez de ajuda correria o risco de atrair
o rude tratamento previsto para os Estados excluídos da comunhão com a
Civilização.
O Ocidente é portanto convocado a realizar a “pax civilitatis” através
de uma série de guerras. Mas não é essa a ideologia que tradicionalmente
acompanhou o expansionismo colonial e imperial? Mais uma vez Popper
não se esquiva; faz a releitura da história com a mesma impavidez com que
exige o recurso às armas. Aos seus olhos, o colonialismo representou clara-
mente um progresso. E as devastações e os massacres que acompanharam
as conquistas coloniais? E o “extermínio das raças ‘inferiores’”, denunciado
no início do século XX por um liberal (embora de esquerda) como John A.
Hobson? Tudo isso é irrelevante e inexistente para o moderno filósofo libe-
ral, que não hesita em elevar a dose: “Libertamos esses Estados (as ex-co-
lônias) demasiado depressa e de um modo demasiado simplista”; é como
“abandonar a si próprio um asilo infantil”. Como é sabido, os povos objeto
das conquistas coloniais são considerados como crianças por seus agresso-
res; como também os proletários eram considerados incapazes de consciên-
cia e vontade, na época de ouro do liberalismo, pelos proprietários que os
excluíam dos direitos políticos. Mas inclusive ao enfrentar este último tema
(a democracia no interior dos “Estados civilizados”), Popper revela o seu
radicalismo: só devem governar aqueles que demonstram “a capacidade de
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no Leste, ou no Sul. Como então não dar razão àqueles intelectuais e polí-
ticos jordanianos, frequentemente formados no Ocidente, e que no entanto
o acusam de hipocrisia por só ser capaz de comover-se e indignar-se ape-
nas com a sorte dos ocidentais, enquanto se recusa, ou reluta, a reconhecer
também os árabes como “seres humanos” dotados da mesma dignidade?
Lemos estas acusações em um artigo de Lucia Annunziata em La Re-
pubblica de 26-27 de agosto. Em outra página do mesmíssimo jornal, outro
artigo, este de Vittorio Zucconi, diz que talvez “já seja tarde demais” para
soluções diplomáticas, uma vez que a Casa Branca pode ter “decidido que
quer a cabeça de Saddam Hussein”.
Eis novamente que a guerra total furtivamente volta à luta contra os
“bárbaros”. Com efeito, desde o início se disse que os Estados Unidos pre-
tendiam se desembaraçar definitivamente de seus inimigos, seja fomen-
tando um golpe de Estado, seja com bombardeios potentes e precisos o
bastante para poder significar a sentença de morte dos atuais dirigentes ira-
quianos. Gaddafi não acusou os norte-americanos de terem tentado assas-
siná-lo desse modo, por ocasião de uma crise anterior no Oriente Médio?
E hoje quem confirma tais acusações e suspeitas é nada menos que o Wall
Street Journal, ao insistir no fato de que os EUA consideram insatisfatória
qualquer solução que não compreenda “pelo menos” a morte de Saddam
Hussein (cf. Ginzberg, Siegmund, em l’Unità de 30 de agosto).
Não sei quantos, mesmo na esquerda, tomaram plena consciência do
dramático asselvajamento das relações internacionais inserido numa visão
que confere explicitamente a um chefe de Estado de um país mais pode-
roso o direito de vida e de morte sobre o chefe de Estado de um país mais
fraco. Confirmando como as aspirações e ambições de guerra total regular-
mente emergem toda vez que se lida com “bárbaros”, eis a proposta de um
general israelense de empregar preventivamente bombas atômicas táticas.
Sequer a ameaça de uma guerra atômica preventiva provocou a onda de
indignação moral que seria lícito esperar, a julgar pelos bons sentimentos
que transbordam com ímpeto dos corações sensíveis dos comandantes da
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b) “Compaixão de classe
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Caro Bobbio,
Por estes dias folheei com mais atenção que de costume a imprensa na-
cional, na esperança de ler uma autorizada tomada de posição sua sobre a
“nova ordem internacional”. Transcorreu um ano desde o início da Guerra
do Golfo, e é legítimo perguntar se você ainda continua a sustentar as ra-
zões que o levaram a manifestar o seu assentimento, problemático e sofrido
que seja, àquela que se autopropagandeava como uma ascética e cirúrgica
operação de “polícia internacional”. Entretanto, em grande parte dissipou-
-se a cortina de fumaça de mentiras que sempre acompanha as guerras,
mas que nos dias da cruzada anti-iraquiana apresentou-se mais espessa e
impenetrável que de costume. Os próprios órgãos de imprensa que tinham
se destacado pelo furor belicista hoje deixam escapar alguns fragmentos de
verdade: eis Giorgio Bocca a admitir que os EUA não hesitaram em “ex-
terminar os iraquianos já em fuga e desarmados” (La Repubblica de 6 de
fevereiro); e eis o Corriere della Sera (de 24 de fevereiro) a reconhecer que as
assim chamadas “bombas inteligentes” constituíram apenas 10% do total e
que os bombardeios atacaram em primeiro lugar a rede elétrica iraquiana.
Um objetivo talvez militar, mas em todo caso de primária importância ci-
vil. As destruições realizadas deram um golpe mortal no abastecimento de
água da população e no funcionamento dos hospitais, tornando na prática
impossível qualquer operação em socorro às vítimas dos bombardeios. É
um dos crimes de guerra denunciados pelo norte-americano Clark. Inútil
esperar uma reflexão autocrítica da parte dos citados órgãos de imprensa,
que continuam impávidos no apoio a um embargo que também dissemina
tragédias entre a população civil; mas de uma personalidade como Norber-
to Bobbio seria lícito esperar algo mais do que o silêncio!
Dissipando-se a cortina de fumaça de mentiras – construídas com um
despudor, uma sapiência e um controle autoritário dos meios de comuni-
cação que não podem não fazer pensar em Goebbels –, começam a vir à
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Caro Losurdo,
O que quer que eu lhe diga? Para um comunista convicto como você,
que continua a se chamar comunista mesmo depois da catástrofe dos re-
gimes do Leste, trazer à baila as “regras do jogo” parece-me apenas um
pretexto para fazer esquecer a total ausência de regras do jogo no universo
soviético, reconhecer que nós tínhamos, sim, razão, mas para indagar em
seguida: “Mas vocês respeitam essas tão decantadas regras?”.
Assim posto o problema, não vejo o que poderia haver para discutir.
Falta, como se diz, a razão da contenda. Que as regras devam ser respeita-
das por todos é óbvio. Contudo, desperta em mim certa suspeita o fato de
que vocês agora tentem atenuar seus pecados recriminando os nossos. Há,
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será julgada unicamente com base em seu êxito. “Se houver um recrudes-
cimento do terrorismo, dir-se-á que ele estava errado. Se aquele atenuar-se
ou cessar de todo, dir-se-á que teve razão.”
No caso da Guerra do Golfo, parecia-me que se fosse uma daquelas ra-
ras situações em que não podia haver nenhuma dúvida sobre quem fosse
o agressor (tal como quando Hitler invadiu a Polônia), e que havia se ini-
ciado pela primeira vez um processo de coalizão de Estados “autorizada”
pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas para rechaçar a agressão.
Sustentei que dificilmente poderia haver uma guerra mais justificada do que
esta. Aqueles que então pensavam diversamente e continuam a assim pensar
mesmo agora, como você, têm a obrigação de nos dizer se havia outros meios
de frear a vontade de domínio do ditador iraquiano, ou então declarar hones-
tamente, como fez um dos meus interlocutores de então, que Saddam Hus-
sein tinha razão. Hoje que, apesar da derrota, Saddam permanece ainda em
seu posto e mais uma vez desafia ameaçadoramente seus vencedores, não
chego a compreender como você pretende retomar a acusação e exigir de nós
que façamos um exame de consciência, que vocês se obstinam em não fazer.
O que não me agradou na sua carta, e provoca esta minha reação res-
sentida, não o nego, é aquele tipo de intimidação que emana de todo o seu
discurso, apesar dos vários “caro Bobbio” que recobrem seu “Radames, jus-
tifique-se”. Você recrimina meu silêncio, porém por trás da pergunta “por
que se calou?” há outra muito diversa: “O que você espera para dizer que
tínhamos razão?”. Imagine por um momento se eu tivesse usado o mesmo
método para afrontar a controvérsia com os velhos comunistas: “Primeiro
purifiquem-se, façam uma bela autocrítica, e depois podemos começar a
discutir”. Sempre concedi ao adversário o direito de equivocar-se e a boa
fé no erro. E, como você se refere ao meu diálogo de muitos anos atrás com
Togliatti, como um modelo de discussão, asseguro-lhe que, se o tom dos
nossos discursos tivesse sido o da sua carta, o diálogo nunca teria começado.
E, depois, tenha paciência, hoje um comunista não pode mais encarar
os adversários de cima para baixo, como quando vocês estavam convenci-
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b) “Intervencionismo ‘democrático’”
Caro Bobbio,
Não sei qual de nós dois tem mais razões de estar “ressentido”, se você
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sencadeie uma guerra para melhorar suas chances eleitorais. É ainda esse
seu silêncio que me faz pensar que o balanço de ontem, sobre o processo
aberto pela Revolução de Outubro, esteja mais próximo da realidade que o
atual, com base no qual você parece negar que um “comunista convicto” –
que sou, neste ponto você tem inteira razão – tenha o direito de discutir as
regras do jogo, de pôr em dúvida a coerência dos seus enunciados teóricos
e de criticá-lo pela defasagem (ao meu ver evidente e preocupante) que
subsiste entre as teorias que você enunciou e as tomadas de posição política
que concretamente assumiu.
(Liberazione, 11 de abril de 1992)
c. “A esquerda do neocolonialismo”
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por Bush pai na última fase de seu mandato, respondem a razões de polí-
tica interna: não se trata portanto apenas de terrorismo, mas de terrorismo
particularmente abjeto, que não hesita em sacrificar vidas humanas no altar
da imagem e da carreira política de um presidente inescrupuloso.
Entretanto, Salvadori não tem dúvidas. Para ele, o terrorismo está so-
mente de um lado: o dos bárbaros estranhos ao Ocidente. O presidente dos
EUA é assim confirmado no papel, que lhe é caro, de professor do gênero
humano a quem, no máximo, se podem censurar alguns safanões em exces-
so. É uma visão de mundo tipicamente neocolonial.
Seria inútil procurar no L’Unità uma denúncia da “recolonização”, ape-
sar de que o governo italiano reivindica agora explicitamente um “man-
dato” e algum direito de tutela sobre a Somália. A análise de Salvadori e
do PDS é nitidamente mais atrasada em relação àquela do supracitado ge-
neral-professor. Atrasada inclusive no que se refere à recente tomada de
posição de Norberto Bobbio que, depois de ter avalizado a Guerra do Golfo
em nome do intervencionismo “democrático”, agora, embora sem proceder
a uma reflexão autocrítica, não só condena o presidente da Casa Branca
como também ironiza sua proclamada intenção de combater o terrorismo:
“Quem for isento de pecado...”.
Tendo chegado à presidência acompanhado por comentários entu-
siasmados de amplos setores da esquerda italiana, o democrata Bill Clin-
ton, enquanto internamente não manteve suas promessas de reforma, ou
se revelou impotente para promovê-las, confirmou plenamente a política
externa de seu antecessor republicano. É um fato que nos EUA o sistema
político funciona com base no que em algum lugar se definiu como “uni-
partidarismo competitivo”. A concorrência entre os candidatos à presidên-
cia não exclui golpes; mas o duelo, gerenciado e decidido pelos grandes
meios de comunicação e pelos lobbies industriais e financeiros, não põe em
discussão o essencial, e menos ainda a política imperial, no âmbito da qual
se considera legítimo o tiro ao alvo periódico contra os “bárbaros”, como
instrumento para incrementar a popularidade do presidente em exercício.
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IV
Tradição liberal, colonialismo e batismo
de fogo da esquerda “reformista”
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Marx e a história do totalitarismo
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de toda uma literatura que ia de Henry Ford a Otto Hauser (poder-se-ia até
dizer que Hitler foi inventado por ela)”177.
Na realidade a sombra da solução final em prejuízo dos judeus come-
ça a se projetar já no curso da Primeira Guerra Mundial. Em outubro de
1917, um escritor católico inglês, Gilbert Keith Chesterton (que mais tarde,
em 1921, encontrará Henry Ford, que lhe deixará uma impressão muito
entusiástica, dada a comunhão de ideias sobre a questão judaica), faz uma
ameaçadora advertência:
“Queria acrescentar uma palavra sobre os judeus... Se eles conti-
nuam a se alongar em estúpidos discursos sobre pacifismo, acirran-
do os ânimos contra os soldados ingleses e suas esposas ou viúvas,
aprenderão pela primeira vez o que quer dizer ‘antissemitismo’”178.
Até aqui o antissemitismo é diretamente ligado às exigências de mobili-
zação total própria da guerra. Não só na Inglaterra, mas também nos países
em guerra com ela, adensa-se a sombra das suspeitas sobre um grupo étni-
co com fortes ligações internacionais e portanto com perigosas tendências
cosmopolitas e neutralistas, e, para além disso, obstinadamente acometido
de uma irredutível diversidade cultural que o impede de se fundir sem dei-
xar resíduos na celebrada comunidade patriótica e de guerra. Mas o aviso
de Chesterton sobre os judeus vai adiante: “Procuram doutrinar Londres
tal como o fizeram com Petersburgo, despertando algo que os conturbará
e os aterrorizará muito mais que uma simples guerra”179. Reflita-se sobre
o fato de que nesse momento ainda não havia se verificado a conquista do
poder pelos bolcheviques.
É portanto da Primeira Guerra Mundial que se deve partir para com-
preender a história do totalitarismo no século 20. A mobilização total põe
em movimento aquilo que já foi chamado um processo de “brutalização da
política”, que se prolonga para bem além do conflito e, se atinge o seu apo-
geu na Alemanha, certamente, não poupa sequer os países de mais arraiga-
das tradições liberais, a começar pela Inglaterra que, durante certo período,
esteve inclusive à frente na denúncia do perigo judaico-bolchevique.
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diosos foram ainda mais longe, observando que a política nazista “tem com
efeito suas fontes espirituais na Rússia do czar, no ambiente dos Cem Ne-
gros e dos russos ‘puros’”185. Na sequência da revolução, os emigrados rus-
sos tiveram um papel importante na difusão do antissemitismo. O próprio
León Poliakov acaba por reconhecê-lo, sem nada ter de benévolo para com
o Estado nascido da Revolução de Outubro: “Todos os países burgueses es-
tavam expostos à propaganda dos brancos, que em última análise se reduzia
à equação bolchevismo = judaísmo”186. Ou melhor, o nascente movimento
nazista teria obtido da emigração russa e antibolchevique não só as ideias,
mas também os meios financeiros, assim como militantes e quadros, em
proporções não negligenciáveis187.
Portanto a linha de continuidade que termina por aflorar aqui é frontal-
mente oposta àquela sugerida ou enunciada pelo último Nolte; é uma linha
de continuidade que conduz dos pogroms tradicionais da Rússia, passando
pelos massacres em grande escala perpetrados pelos brancos, ou seja, pelas
tropas antibolcheviques, apoiadas pela Entente, e através também da psicose
do complô judaico-bolchevique, que se espalha inclusive no Ocidente, até o
nazismo e a solução final. Ainda no decorrer da Segunda Guerra Mundial,
nas regiões da Europa Oriental ocupada pelo Terceiro Reich, pogroms locais,
instigados ou encorajados pelas autoridades nazistas188, foram chamados a
flanquear ou estimular aquela que então se projeta como a “solução final”.
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só às voltas com furiosas lutas civis, mas alvo de uma “guerra não declara-
da” que assinala o asselvajamento das relações internacionais. Ademais é
uma guerra inspirada não por objetivos territoriais limitados mas por um
objetivo político total: “Depois do verão de 1918 não se podia alimentar
qualquer dúvida séria sobre a decisão aliada de destruir o regime e ajudar
qualquer um que tentasse fazê-lo”189.
São os anos em que o Times escreve que “não há presumidamente lugar
no mundo para abrigar a um só tempo o bolchevismo e a civilização”. E, na
vertente oposta, George Zinoviev declara: “Nós e eles não podemos viver
em um mesmo planeta”190.
Apesar das convulsões verificadas em relação a 1914-18, a guerra não
acabou e sua configuração total tornou-se ainda mais nítida. É significativa
a consigna lançada por Zinoviev: “Necessitamos de um militarismo socia-
lista para derrotar nossos inimigos”191. Não se trata mais agora de combater
o militarismo enquanto tal, mas de contrapor militarismo a militarismo.
O clima de complô se enraíza profundamente também na URSS. Ke-
rensky e seus aliados tinham colocado a Revolução de Outubro no cômpu-
to do complô alemão e judaico; o novo poder soviético acaba por proceder
analogamente, recusando-se a reconhecer a objetividade e a gênese primor-
dialmente interna das contradições provocadas pelo processo de constru-
ção da nova sociedade. Esse comportamento obviamente nada tem a ver
com Marx e Engels. Todavia, seria um erro passar por cima dos limites de
sua teoria que podem ter favorecido o processo de degeneração na União
Soviética. A expectativa da extinção do Estado após um período breve de
transição socialista dificultou ou impediu a elaboração de uma teoria do
Estado e do Estado de direito. Para além disso, tal fase de transição, que de-
veria conduzir em curtos períodos ao advento do comunismo, foi pensada
a partir do modelo da guerra que grassava naquele momento. O clima de
mobilização total prolongou-se durante todo o período que ficou conhecido
como Segunda Guerra dos Trinta Anos, abarcando os anos de uma guerra
fria que ameaçava a qualquer momento converter-se em guerra quente.
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Democracia socialista ou extinção do Estado?
O dilema da Revolução de Outubro
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lo da representação (cf. mais acima, cap. VI, 1). Até por razões por assim
dizer epistemológicas, trata-se de uma categoria absolutamente inaceitável
do ponto de vista do discurso anarquista, constantemente empenhado em
enaltecer o “instinto” (B, 73) e a “vida” em contraposição ao “pensamento”
e à sua pretensão de “prescrever regras para a vida” (St. A, 143-4; B, 560-1).
Pode-se então falar de convergência de marxismo e anarquismo, no
que diz respeito ao “fim”, apenas sob a condição de ter presente que no
comunismo as “instituições representativas” estão também destinadas a se
tornarem supérfluas. Se a posição de Lênin a respeito não está clara, Marx
dificilmente poderia concordar com uma tese desse tipo – pelo menos o
Marx teórico da extinção do Estado apenas no “sentido político atual”.
E, seja como for, dados os pressupostos teóricos já vistos aqui, bem se
compreende o drama que começa a se desenvolver logo depois de Outubro.
“O proletariado se servirá de seu poder político para (…) concentrar todos
os instrumentos de produção nas mãos do Estado” – assinala o Manifesto do
Partido Comunista (MEW, IV, 481); “o proletariado se apodera do poder do
Estado e transforma todos os meios de produção em propriedade do Estado”
– reitera Engels no AntiDüring (MEW, XX, 261). Ao citar e concordar com
essas duas teses (L, 867 e 861), na véspera da Revolução de Outubro, Lênin se
propõe uma tarefa dificilmente conciliável com o que emerge da afirmação,
sempre contida em Estado e Revolução, de que o proletariado vitorioso “tem
necessidade unicamente de um Estado em vias de extinção” (L, 867).
À medida que procede à construção da nova sociedade, Lênin é, toda-
via, constrangido, esteja ou não consciente disso, a manter cada vez mais
distância do anarquismo. Para nos darmos conta disso, basta passar os
olhos pelo importante texto Melhor menos, mas melhor, publicado no Pra-
vda de 4 de março de 1923, cuja palavra de ordem, insistente, é “melhorar
nosso aparelho estatal” (L, 1.818), empenhar-se seriamente na “edificação
do Estado” (L, 1.820), “construir um aparato verdadeiramente novo, que
mereça de fato o nome de socialista, de soviético”. Trata-se de uma tarefa
de longo fôlego, que requer “muitos, muitíssimos anos” (L, 1.816) e cujo
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e até por sua cumplicidade com a Máfia e o crime organizado, e por fim
caracterizada por sua subalternidade a uma superpotência estrangeira e
pela servil participação nas chacinas coloniais do imperialismo (Guerra do
Golfo) – esta história constitui uma dramática confirmação da permanente
validade da pars destruens de O Estado e a revolução. Toda vez que se es-
queceu esse ensinamento de Lênin, considerando a natureza de um Estado
exclusivamente a partir de suas instituições parlamentares, e, ao contrário,
descurando de seus aparatos de coerção e violência de classe, a esquerda
marchou de encontro à derrota e ao desastre.
Ao mesmo tempo, contudo, a derrocada do “socialismo real” no Leste
Europeu deveria constituir uma advertência que não deve deixar de ser ou-
vida: se, por um lado, deve-se indagar criticamente sobre a oportunidade
do recurso, na esteira do programa indicado por Marx e Engels, a formas
tão radicais e indiscriminadas de estatização da economia; por outro lado
deveria agora estar claro que, sem uma teoria do Estado, e abandonando-se
à expectativa escatológica, própria do anarquismo, do desaparecimento de
toda norma ou constrição jurídica, e até mesmo política enquanto tal (B,
362), se permanece fechado no estágio de tendência subversiva impotente,
não se está em grau de construir uma sociedade e um Estado pós-capitalis-
tas. Engels tinha razão ao observar que “falar do princípio de autoridade
como absolutamente ruim e do princípio de autonomia como absolutamen-
te bom” (MEW, XVIII, 307) significa se colocar na impossibilidade de fazer
funcionar o mundo da produção e o aparato estatal, mesmo aquele mais li-
vre e reduzido a uma simples “administração”. Deriva daí um vazio que só
pode ser preenchido pela violência, aliás, impotente para assegurar aquele
desenvolvimento das forças produtivas que só a vitória estratégica do so-
cialismo pode garantir.
Do fracasso verificado no Leste Europeu emerge um desafio para a es-
querda, de ajustar definitivamente as contas com o anarquismo e com o
materialismo mecanicista a este indissoluvelmente conectado.
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VII
Marx, a questão nacional e colonial e o “socialismo real”
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moral “variam conforme o tempo e o lugar”, tal como a moda (cf. mais
acima, cap. I, 6).
Por outro lado, Marx e Engels atribuem ao capitalismo o mérito de
arrastar “para a civilização todas as nações, mesmo as mais bárbaras”
(MEW, IV, 466), de impulsionar na Índia “a mais grandiosa e, para dizer
a verdade, a única revolução social que a Ásia jamais conheceu” (MEW,
IX, 132). À burguesia das metrópoles, ao contrário, é atribuída uma ver-
dadeira e própria “missão”, que consiste na criação do mercado mundial
(MEW, IX, 221 e XXIX, 360).
Mesmo no âmbito europeu Marx e Engels encaram às vezes com indul-
gência a exportação da revolução. Basta refletir sobre a opinião expressa na
Sagrada família a respeito de Napoleão, visto como o último representante
do “terrorismo revolucionário” (MEW, II, 130), e ao qual também A ideolo-
gia alemã parece atribuir o mérito exclusivo do aniquilamento do feudalis-
mo e da introdução da modernidade na Alemanha (MEW, III, 179). Mais
tarde, ao contrário, Engels registra a revolução burguesa na Alemanha a
partir da luta e da guerra de libertação justamente contra a ocupação napo-
leônica (MEW, VII, 539). Nesse contexto, é sobretudo importante o apoio
de Marx e Engels ao movimento de libertação nacional da Irlanda, em luta
contra um país econômica e politicamente mais desenvolvido que pretende
representar a causa da civilização em uma província atrasada e selvagem,
considerada e tratada como uma colônia. Nesse caso, longe de atribuir ao
domínio inglês a tarefa de exportar relações econômico-sociais mais avan-
çadas, e portanto a “revolução social”, Marx e Engels apontam o apoio da
classe operária inglesa à luta de libertação nacional do povo irlandês como
um pressuposto da vitória da revolução social na própria Inglaterra (MEW,
XXXII, 667-9). Deve-se levar em conta, por fim, uma carta onde Engels pa-
rece condenar a exportação da revolução, por obra não só da burguesia
mas igualmente do proletariado: “O proletariado vitorioso não pode impor
nenhuma felicidade a qualquer povo estrangeiro sem com isso solapar seu
próprio triunfo” (MEW, XXXV, 358).
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Para Marx e Engels (e para a tradição que têm sobre os ombros), a “mis-
são” que compete à burguesia, de expandir o mercado e exportar a civiliza-
ção, não possui uma dimensão apenas internacional; também no interior de
cada país capitalista o processo de industrialização é de certo modo o aces-
so à civilização por parte da “massa imensa” de “camponeses pequenos
proprietários”, cujo “campo de produção” caracteriza-se não só pelo atra-
so tecnológico e pelo malogrado surgimento da divisão de trabalho, mas
também por “nenhuma variedade de desenvolvimento, nenhuma diver-
sificação de talentos, nenhum enriquecimento de relações sociais” (MEW,
VIII, 198). Como a expansão colonial representa, para usarmos as já citadas
palavras de Marx, a “revolução social” na Ásia ou em outros continentes,
também nas próprias zonas rurais europeias a industrialização introduz a
“revolução social”.
No âmbito do império czarista, a relação entre cidade e campo é ao
mesmo tempo uma relação entre metrópole e colônias. Também no plano
interno da União Soviética a Revolução de Outubro compreende um gigan-
tesco processo de emancipação nacional, do qual são beneficiárias naciona-
lidades antes oprimidas e privadas de sua identidade. E, todavia, também
em sua segunda versão, que acabamos de analisar, a teoria da exportação
da revolução exerce influência negativa no interior do grupo dirigente bol-
chevique: “A barbárie social e política da Rússia tem as suas conexões nos
campos”; assim se expressa Trotsky, e, referindo-se aos Urais e às zonas
mais atrasadas da Rússia pré-revolucionária, observa: “É apenas nestes
últimos anos que o capital inglês começou a extirpar a barbárie e os ve-
lhos costumes desse território”241. Na Rússia estão presentes a “Europa” e a
“Ásia”, “todas as épocas da cultura humana”, inclusive o “estado selvagem
e primitivo”, em relação ao qual a expansão do “capital europeu” exerce
uma função civilizadora, tendo o mérito de solapar “as bases mais profun-
das da autonomia moscovita e asiática”242; a eliminação da barbárie rural
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Neste ponto convém ajustar as contas com uma tendência hoje bastante
difundida, que desejaria percorrer no sentido inverso o caminho descrito
por Engels, em sua época, como “a evolução do socialismo de utopia a ciên-
cia”. Como veremos (cf. mais abaixo, cap. VIII, 4-5), essa tendência tem al-
gumas vezes paixão pela palavra de ordem do retorno a Marx – lido porém
sob uma ótica essencialmente utopista, enquanto globalmente contraposta
à sua eficácia histórica.
Por certo, a uma atitude como essa se reconhece o mérito de configu-
rar-se como uma, ainda que aproximativa, trincheira de resistência à desen-
freada ofensiva reacionária, a qual, junto com o “socialismo real” desejaria
criminalizar também a Marx (e Engels). Porém a outra face da medalha é a
participação subalterna dos que se posicionam pela liquidação da jornada
histórica iniciada com a Revolução de Outubro e, em última análise, dessa
mesma revolução e do partido e da tradição político-cultural que estão so-
bre seus ombros.
Ainda que subjetivamente não desejasse ser liquidacionista, a palavra
de ordem do retorno à utopia e a Marx impossibilita um balanço sério da
história do movimento comunista. Na prática, ela faz os comunistas de hoje
regredirem ao nível de consciência dos protagonistas da grande tragédia
revolucionária, os quais, sobretudo em seus piores momentos, em vez de
refletirem sobre os novos problemas que gradualmente vinham à tona no
curso do desenvolvimento histórico, e constituindo a base objetiva das con-
tradições que os dividiam, limitavam-se a se excomungarem uns aos outros
em nome da ortodoxia marxista ou marxista-leninista.
Compreensivelmente, os protagonistas do Outubro eram talvez capa-
zes de aplicar a dialética à Revolução Francesa, mas não àquela que estavam
realizando e na qual estavam submersos demais para poderem conservar
um mínimo de objetividade crítica. Porém é precisamente esta última ope-
ração que hoje são chamados a cumprir aqueles que pretendem realmen-
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dial, Stálin começa a enaltecer o povo russo como aquele que, por seus mé-
ritos revolucionários e patrióticos, constitui “a nação mais eminente entre
todas as nações que conformam a União Soviética”, a “força dirigente”, o
“povo dirigente” da URSS (inclusive por ser dotado de “uma inteligência
clara, um caráter firme e paciente”)258.
Em 1976, por ocasião do 25º Congresso do PCUS, esse conceito foi re-
petido por um personagem destinado depois a se tornar famoso: “Com-
panheiros, a Geórgia é chamada o país do sol. Mas para nós o verdadeiro
sol não se levanta no Oriente e sim no Norte, na Rússia; é o sol das ideias
de Lênin”259. Quem se pronuncia com tamanha estridência é Eduard She-
vardnadze; após ter recorrido ao mito do povo primogênito da revolução
e titular de uma espécie de direito de tutela sobre nações politicamente re-
tardatárias, o chauvinismo grão-russo termina por se exprimir na ambi-
ção de se juntar com os povos mais “civilizados” e mais desenvolvidos do
Ocidente, libertando-se do lastro dos povos bárbaros e semibárbaros ou
reordenando-os em uma função explicitamente subalterna. E a evolução de
Shevardnadze é emblemática dessa parábola do setor político que dirigiu a
transição pós-soviética, ainda que depois, por ironia da história, o próprio
Shevardnadze tenha sido propelido à liderança da Geórgia, que antes ele
havia convidado a submeter-se à Rússia como ao irmão maior.
No caso da Croácia e da Eslovênia e das tendências de tipo “croata-
-esloveno”, trata-se de processos que se assemelham menos a guerras de
libertação de nações oprimidas e mais a secessões de minorias privilegiadas
que sentem seus interesses ameaçados pela presença de um poder central;
pensemos na rebelião dos estados escravistas do Sul dos EUA em 1861 e
nas secessões ou tentativas secessionistas que acompanharam o processo
de descolonização, desde a Argélia até a Rodésia.
Uma ameaça de secessão pesa agora também sobre nosso país, e não
por acaso provém de movimentos que se afirmaram nas regiões mais de-
senvolvidas, bradando contra o escândalo da redistribuição de renda, real
ou suposta, em favor das regiões mais pobres, e tencionando talvez seguir
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VIII
Depois do dilúvio: o mítico retorno a Marx
1. O sofisma de Talmon
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3. O autoengano de Narciso
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Rosa Luxemburgo poder fazer ironias sobre o fato de que os jornais social-
democratas alemães, empenhados em enaltecer a guerra contra a Rússia
czarista como uma grande contribuição à causa da “vitória da liberdade” e
da emancipação dos povos oprimidos: “Hindenburg tornou-se o executor
do testamento de Marx e Engels”.
Se o retorno a Marx não deve ser algo puramente escolástico e acadê-
mico, ele deve servir para responder aos problemas do nosso tempo, então,
qual atitude é preciso assumir em relação à tendência a pôr em prática a
recolonização do Terceiro Mundo e a reabilitação da guerra em nome do
intervencionismo “democrático” e civilizador? Podemos, e devemos, res-
ponder que tudo isso não tem nada a ver com a radical carga emancipadora
da teoria de Marx e Engels; mas não podemos esconder que essa resposta
deve, em sua presteza e clareza, também aos ensinamentos em primeiro lu-
gar de Lênin, que desmontou a interpretação dos dois grandes pensadores
em perspectiva filocolonialista e filointervencionista. É igualmente por isso
que hoje vários expoentes da Internacional socialdemocrata, como os “me-
lhoristas” do PDS, ao aplaudirem a Cruzada anti-iraquiana e retomarem
os fundamentos ideológicos próprios do intervencionismo colonizador e
“democrático”, preferem referenciar-se diretamente em ... Bush, ou nos
democratas estadunidenses, em lugar de em Marx e Engels, nomes estes
atualmente, via Revolução de Outubro, Revolução Chinesa, Cubana etc.,
inseparavelmente vinculados à história das lutas de emancipação dos po-
vos coloniais. O Marx ao qual se deseja retornar é hoje um autor claramente
mediado por uma longa jornada histórica que, então expulsa pela porta,
termina voltando pela janela.
Ainda: de que modo Marx pode nos ser útil na avaliação da tentativa
levada adiante por Cuba de sair do subdesenvolvimento por uma via não
capitalista, em dramáticas condições de cerco e estrangulamento? Deve-
ríamos convencer Fidel Castro a capitular, agitando diante de seus olhos
O capital, que prevê a revolução socialista apenas nos pontos mais altos do
desenvolvimento capitalista? Devemos imitar Plekhanov (em seu tempo
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uma autoridade no campo dos estudos marxistas), que, enquanto não tinha
dificuldades em justificar ou enaltecer o massacre da guerra imperialista,
condenava a Revolução de Outubro em nome de Marx? Ou devemos em
vez disso nos alinhar com Lênin e Gramsci, sendo que este último não
hesitou em exaltar “a revolução contra O capital”, contraponto ao Marx de
Plekhanov e Turati o “nosso Marx”, aquele libertado das “incrustações po-
sitivistas e naturalistas”?
Não faltam hoje nas hostes da esquerda os neomencheviques, que con-
denam e desautorizam o Outubro em nome do “marxismo”. Mas é difícil
conceber que eles cheguem ao ponto de colaborar com George Bush (ou
Bill Clinton) no estrangulamento da Revolução Cubana agitando O capital
de Marx, tal como o presidente dos EUA agita o evangelho da Doutrina
Monroe e do Sacro Império Americano. Pois bem: se isso tudo não acontece
é inclusive porque Lênin, Gramsci, o próprio Castro, mas sobretudo o pro-
cesso histórico real que vai da Revolução de Outubro à Cubana nos ensinou
a ler Marx de um modo distinto daquele caro a Plekhanov e Turati, ou, pelo
menos, nos ensinou a desconfiar de uma ortodoxia “marxista” tão descara-
damente conveniente aos interesses do capital e do império.
A inevitável mediação da história se faz sentir seja pelo modo positi-
vo, seja pelo negativo. É oportuno frisar que, ainda que fale em ditadura
do proletariado, a teoria de Marx nada tem a ver com a arregimentação
totalitária e a autocracia ou oligarquia da Nomenklatura. É justo e obrigató-
rio denunciar o caráter grotesco da pretensão da ideologia dominante de
deduzir a priori, do Manifesto do Partido Comunista e de outros textos do gê-
nero, o universo concentracionário que vimos emergir, na realidade, tam-
bém no Ocidente, e que chama em causa fatores históricos, de todo alheios
aos autores daqueles textos.
Resta o fato de que a própria ênfase que a teoria de Marx é alheia ao
gulag é fortemente encorajada pela experiência do horror daquela institui-
ção total, cuja sombra infamante com razão se pretende remover da ima-
gem do autor ao qual se diz querer retornar. E ainda neste caso, o Marx ao
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Uma reflexão crítica não pode deixar de ser ao mesmo tempo autocri-
tica, mas não no sentido banal próprio da ideologia dominante, que im-
põe que se guarde uma distância ainda maior da jornada histórica iniciada
com o Outubro, e sim no sentido de que aqueles que ainda se referenciam
em Marx e no comunismo, e principalmente os que vangloriam-se de sua
lúcida sapiência diante da derrocada ocorrida no Leste, são chamados a
perguntar-se sobre a real contribuição teórica que ofereceram à solução dos
problemas da edificação de uma sociedade pós-capitalista, ou à superação
das dificuldades e dos pontos fracos já presentes na teoria marxiana.
Depois das revelações sobre a tragédia da era staliniana, o que fez con-
cretamente aquele que frequentemente gosta de se autovangloriar como
“marxismo ocidental” para elaborar, por exemplo, uma teoria do direito e
do Estado em uma sociedade pós-capitalista? Quem, no Ocidente, ergueu-
-se para esclarecer que, uma vez concluído o ciclo do comunismo de guer-
ra, com suas tragédias, mas também com suas entusiasmantes conquistas
(o prodigioso impulso ao processo de emancipação mundial), tratava-se
então de se engajar na construção de uma democracia socialista garantida
inclusive juridicamente, e portanto estatalmente, acabando com a espera
escatológica da extinção do Estado (o ponto mais fraco da teoria de Marx e
da tradição marxista)?
Não foi essa espera, compartilhada pelo marxismo “oriental” e “oci-
dental” que deslegitimou por antecipação qualquer esforço de construção
de um Estado socialista de direito, capaz de superar a fase de terror impos-
to pelo Estado de exceção (a guerra civil e a agressão imperialista aberta ou
latente)? (Cf. mais acima, cap. VI, 7). Alguma reflexão importante pode ser
lida em Togliatti, mas o restante é silêncio. E mais: depois da excomunhão
infligida à Iugoslávia pela URSS, depois da invasão da Hungria e da Tche-
coslováquia, quem no Ocidente, para além da condenação, empenhou-se
em repensar a questão nacional e sua permanência também no interior do
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IX
Filosofia da história contramoral?
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por autores tão diferentes entre si como Hannah Arendt, Löwith, Berlin,
Bobbio265. E é um balanço que chama em causa pesadamente Marx e Engels.
Ao desqualificar a jornada histórica iniciada com a Revolução de
Outubro como uma simples sucessão de horrores e ao denunciar a con-
vergência desastrosa entre filosofia da história e Realpolitik, Bobbio es-
tabelece uma espécie de linha de continuidade que vai de Maquiavel a
Stálin, passando por Hegel: seu ponto em comum é “a máxima de que
os fins justificam os meios”. O autor das Lições de Filosofia da História é
recriminado particularmente pela tese das personalidades histórico-
mundiais tendentes à realização de um fim indicado como tão “irresis-
tível” pela filosofia da história tornando qualquer escrúpulo moral vão e
ridículo266.
Um eminente historiador norte-americano, Allan Bullock, argumenta
de modo análogo, reivindicando, em particular, a atenção a uma passa-
gem, aliás, famosíssima: “Em seu caminho, uma personalidade poderosa
pisa em mais de uma flor inocente, algo é mesmo obrigado a esmagar”267.
Pois bem, o “herói” hegeliano teria ao fim encontrado sua encarnação em
Hitler e Stálin!268
É chocante ingenuidade histórica dessas acusações, como se não fosse
fácil destacar citações bem mais comprometedoras em outras tradições de
pensamento. O filósofo e o historiador empenhados na reconstituição das
origens ideológicas dos massacres do nosso século poderiam tirar provei-
to da leitura de um contemporâneo estadunidense de Hegel. Em janeiro
de 1793, Thomas Jefferson, sem se deixar impressionar pelas correspon-
dências de Paris que falam de “ruas literalmente vermelhas de sangue”,
continua a defender com paixão a “causa” da Revolução Francesa: “Eu
preferiria ver metade da terra desolada a assistir ao seu fracasso. Mesmo
que só restassem um Adão e uma Eva em cada país, porém livres, seria
melhor do que é agora.” O fim da derrubada do “despotismo” parece
justificar custos humanos que vão bem além dos contabilizados pelas he-
gelianas Lições de Filosofia da História269.
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tal, hoje eles se contentam em levar para o banco dos réus a filosofia da
história.
Contudo, não há dúvida: em algumas páginas, se não de Marx ao me-
nos de Engels, a filosofia da história se apresenta com contornos repugnan-
tes à consciência moral contemporânea. Refiro-me à teoria das “naçõezi-
nhas” (Natiönchen) eslavas que “nunca tiveram uma história” e agora estão
condenadas pelo processo histórico: elas só podem alcançar a “civilização”
graças a um “jugo estrangeiro”; que em caso de necessidade – quando se
enfurecem com a revolução e a democracia, como estava acontecendo em
1849 – devem ser combatidas com “mais decidido terrorismo” e mesmo
com “uma luta de aniquilamento e um terrorismo privado de escrúpulos”
(MEW, VI, 273-5 e 286).
Mas são estas declarações uma confirmação da justeza da tese da linha
de continuidade que vai de Hegel ao gulag? Examinemos a primeira das
figuras histórico-mundiais de que falam as Lições de Filosofia da História: em
marcha com a determinação de “levar a termo a antiga oposição e a antiga
luta entre Ocidente e Oriente, Alexandre vinga a Grécia pelos males que
a “Ásia” lhe infligiu, mas termina por aportar à Ásia “a maturidade e a
altivez da civilização” ocidental. Reside aqui o mérito imortal do grande
líder que “pela primeira vez abriu o mundo oriental aos europeus”. Face a
tamanho resultado, fariam bem em calar-se os historiadores “filisteus” que
julgam sem pensar em nome da “virtude ou moralidade”274. Assim, a me-
táfora das flores pisadas pelo herói termina por nos conduzir, antes que ao
gulag, à história da expansão colonial e da marcha irresistível do Ocidente.
Neste ponto convém até reler o texto de Engels. Este não se ocupa ape-
nas da Europa Central e Oriental. Salta aos olhos a celebração da conquista
do México pelos EUA, ocorrida alguns anos antes: graças também ao “va-
lor dos voluntários americanos”, “a magnífica Califórnia foi tomada dos
preguiçosos mexicanos que não sabiam o que fazer com ela”; usando bem
as gigantescas novas conquistas, “os enérgicos ianques” dão novo impul-
so à produção e circulação da riqueza, ao “comércio mundial”, à difusão
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No fim do século 18, com o olhar posto nas colônias inglesas da Amé-
rica, onde havia uma espécie de autogoverno local exercido pelos colonos
brancos (habitualmente proprietários de escravos e zelosos guardiães de
sua propriedade), Adam Smith observa que a escravidão pode ser abo-
lida mais facilmente sob um “governo despótico” que sob um “governo
progressista”. A seguir agrega: “A liberdade do homem livre é a causa da
grande opressão dos escravos. E como eles são a parte mais numerosa da
população, nenhuma pessoa dotada de humanidade desejará a liberdade
em um país onde essa instituição tenha sido estabelecida”339.
A humanidade de que se fala aqui é sinônimo de moralidade; mas essa
universalidade deve subsumir abaixo de si a liberdade dos escravos ou
aquela dos seus proprietários? Adam Smith antecipou os dilemas morais
do povo dos Estados Unidos, no final da Guerra de Secessão. Deixemos po-
rém de lado os defensores declarados do instituto da escravidão. Aqueles
que advogam um processo lento e indolor de reforma aceitam, ainda que
momentaneamente, tratar como meios os escravos negros; os abolicionis-
tas mais radicais, que primeiro marcham no sentido do confronto e depois
apoiam por vários anos a ditadura militar exercida pela União no Sul, na
prática aceitam tratar como meios as vítimas do conflito e da subsequente
ditadura militar. O retorno dos Estados sulistas ao autogoverno comporta
o triunfo do regime de white supremacy, com uma nova imposição da servi-
dão ou de relações de semisservidão em prejuízo dos negros, sacrificados
no altar da concórdia reencontrada no interior da comunidade branca. Em
qualquer de seus estágios de desenvolvimento, o conflito real permite ape-
nas a escolha entre duas formas diferentes de violência. Assistimos já aqui à
confrontação não entre moral e filosofia da história, mas entre duas valori-
zações morais opostas, sustentadas por duas distintas filosofias da história.
A moral kantiana não parece resistir à prova dos reais conflitos históri-
cos. Na maré da Primeira Guerra Mundial e da indignação com a imensa car-
nificina, jovens e não tão jovens são atraídos pela via indicada pela Revolução
de Outubro. Mas o que os estimula nesse caminho não é tanto a filosofia da
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X
Globalização, conflito social e conflitos geopolíticos
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do Partido Comunista faz a sua análise num momento em que nenhum mo-
vimento emancipador desponta nas colônias: em tais condições, a globali-
zação é, ou parece ser, uma relação mais ou menos equânime entre países
com um grau de desenvolvimento mais ou menos homogêneo. Agora, ao
contrário, ocorre que a globalização é também um instrumento com que as
grandes potências tratam de recuperar o controle da economia dos países
que sacudiram o jugo colonial. Podemos ler na imprensa estadunidense
esta eloquente admissão: a globalização é um “programa agressivo” que
visa a “facilitar a absorção da agricultura e da indústria locais” por parte
dos colossos industriais e financeiros dos países capitalistas mais fortes354.
Para ser claro, o expansionismo não é só econômico. Já se observou que,
aos olhos da Otan, um dos crimes mais graves de Belgrado residia em sua
recusa em “adotar o modelo neoliberal imposto pela globalização”355. Tam-
bém na imprensa estadunidense publicou-se um convite para que Israel
não faça nenhuma concessão sobre as colinas de Golã “enquanto não veja a
Síria entrar no mundo”, e começar a “privatizar e desregulamentar”356. As
canhoneiras estimulam o processo de globalização mesmo quando perma-
necem nos bastidores. Como nos tempos de Marx, a “propaganda armada”
e a “guerra civilizadora”, ou “humanitária”, continuam a ser parte inte-
grante do processo de globalização.
Desde o momento em que eclodiu a Guerra Fria, os Estados Unidos vêm
desenvolvendo uma estratégia que merece reflexão. Exangue devido ao se-
gundo conflito mundial, em maio de 1947, a URSS, mesmo sendo até aquele
momento um país aliado dos EUA, recebe um recado com o Plano Marshall:
se não desejam renunciar aos créditos e aos câmbios comerciais dos quais
têm necessidade urgente, “os Sovietes (devem) abrir sua economia aos inves-
timentos ocidentais, seus mercados aos produtos ocidentais, suas cadernetas
de poupança aos administradores ocidentais”, devem “aceitar a penetração
econômica e mediática” dos países que se aprestam a constituir a Otan357.Não
por acaso – uma observação que sempre podemos ler na imprensa estaduni-
dense – o lançamento do Plano Marshall ocorre no mesmo período em que é
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co: e ainda assim não têm faltado belas almas da esquerda ocidental que se
associam ao clamor escandalizado do carrasco e à condenação das medidas
“liberticidas” dos dirigentes sandinistas, cuja margem de manobra dian-
te da agressão foi progressivamente reduzida até anular-se. O resultado:
eleições em que o povo nicaraguense, exangue e exausto, com a faca mais
do que nunca no pescoço, decidiu “livremente” ceder aos seus agressores.
Uma técnica similar foi usada contra a Iugoslávia. Chegará depois a vez de
Cuba e de outros países?
Infelizmente, assim como a Grã-Bretanha podia se beneficiar do apoio
de um “cristianismo imperial”371, que chegava ao ponto de aplaudir as
Guerras do Ópio, em nossos dias assistimos ao trabalho de uma espécie de
esquerda imperial, que às vezes tampouco hesita em reivindicar sanções
contra a China em nome dos “direitos humanos”! Aliás, o alvo privilegia-
do da batalha de Lênin é exatamente a esquerda imperial. Aqueles que no
Ocidente se identificam com o marxismo saberão levar em conta os ensina-
mentos do revolucionário russo? Ou a benéfica e obrigatória redescoberta
do valor também essencial da “liberdade formal” e do governo da lei com-
portará uma pavorosa regressão teórica e política?
XI
Marxismo e populismo na leitura do
processo de globalização
1. Marx e a globalização
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Notas
1 HAYEK, F. A. von. Law, Legislation and Liberty (Lei, legislação e liberdade) (1982; as três partes
que formam o volume são respectivamente de 1973, 1976 e 1979); tradução italiana, Legge,
legislazione e libertà. Milão: Il Saggiatore, 1986, p. 310.
2 Cf. LOSURDO, D. Hegel e la libertà dei moderni (Hegel e a liberdade dos modernos). Roma: Edi-
tori Riuniti, 1992, cap. VII.
4 TOCQUEVILLE, A. de. Voyages en Angleterre, Irlande, Suisse et Algerie (Viagens pela Inglaterra,
Irlanda, Suíça e Argélia). Em: TOCQUEVILLE, A. de. Oeuvres complètes (Obras completas), orga-
nização de J. P. Mayer. Paris: Gallimard, 1951 seg., vol. V, 2, p. 81.
7 RAWLS, J. A Theory of Justice (Uma teoria da Justiça). Oxford: Oxford University Press, 1971, p.
542; tradução italiana, Una teoria della giustizia. Milão: Feltrinelli, 1982, p. 441.
9 “O professor Larry Brown, da Harward Public School of Public Health, presidente da taskforce
dos médicos sobre o problema da fome, denunciou que de 18 a 21 milhões norte-americanos
não comem o suficiente. Entre estes, 7 milhões são crianças. Ver GINZBERG, S. “Bimbi alla fame
negli USA” (“Meninos com fome nos EUA”), em L’Unitá, 19 de outubro de 1988, p. 8.
10 Cf. HAYEK, F. A. von. Law, Legislation and Liberty (Direito, legislação e liberdade), tradução ita-
liana, nota da p. 278.
11 HAYEK, F. A. von. New Studies in Philosophy, Politics and the History of Ideas (Novos estudos de
filosofia, política e história das ideias), (1978); tradução italiana, Nuovi studi di filosofia, politica,
economia e storia delle idee. Roma: Armando, 1988, p. 137 e p. 147.
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12 É o próprio Hayek (New Studies in Philosophy, Politics and the History of Ideas, tradução italiana
citada, nota da p. 21) que estabelece uma equivalência entre as duas expressões.
13 POPPER, K. R. The Open Society and its Enemies (A sociedade aberta e seus inimigos) (1943);
tradução italiana, La società aperta e i suoi nemici. Roma: Armando, 1974, vol. II, p. 163.
16 POPPER, K. La lezione di questo secolo (A lição deste século). Veneza: Marsilio, 1992, p. 92-94.
18 Idem, p. 163; cf. também Law, Legislation and Liberty, tradução italiana cit., p. 516-517.
20 Idem, p. 124.
22 DAHRENDORF, R. Class and Class Conflict in Industrial Society (Classe e conflito de classe na
sociedade industrial) (1959); tradução italiana, Classi e conflitti di classi nella società industriale.
Bari: Laterza, 1963, p. 113.
23 MISES, Ludwig von. The Anti-Capitalistic Mentality (A mentalidade anrticapitalista) (1987); tra-
dução italiana, La mentalità anticapitalistica. Roma: Armando, 1988, p. 30.
24 HUMBOLDT, W. v. Ideen zu einem Versuch, die Gränzen der Wirksamkeit des Staats zu bestim-
men (Ensaio sobre os limites da ação do Estado). Em: Gesammelte Schriften (Escritos escolhi-
dos). Berlim: Academia de Ciências, 1903-36, vol. I, p. 11
25 Cf. WEBER, M. Die Wirtschfatsethik der Weltreligionen (A ética econômica das religiões do
mundo) (1915-1919); tradução italiana, L’etica economica delle religioni mondiali. In: Sociologia
della religione. Turim: Utet, 1976, vol. I, p. 331-332. Resta ver se elementos dessa “teodiceia da
felicidade” não estão presentes no próprio Max Weber quando ele afirma que, no âmbito do
capitalismo, quem perde “na luta econômica pela sobrevivência” e é “jogado à rua como de-
sempregado” é “o operário que não pode e não quer se adaptar” ao mercado e às “normas” da
282
Notas
economia (não há qualquer referência à objetidemdade da crise); cf. Die protestantische Ethik
und der Geist des Kapitalismus (A ética protestante e o espírito do capitalismo) (1904-1905);
tradução italiana, L’etica protestante e lo spirito del capitalismo. Florença: Sansoni, 1965, p. 87 e
p. 107.
26 HAYEK, F. A. von. The Constitution of Liberty (Os Fundamentos da Liberdade) (1960); tradução
italiana, La società libera. Florença: Vallecchi, 1969, p. 117-118.
27 Idem, p. 93.
29 TOCQUEVILLE, A. de. Souvenirs (Recordações) (1850-51); tradução italiana, Ricordi. In: Scritti
politici (Escritos políticos), organizador N. Matteucci. Turim: Utet, 1960, vol. I, p. 300 e p. 359-
360.
30 Idem, p. 352.
32 In: TOCQUEVILLE, A. de. Scritti politici (Escritos políticos), cit., vol. I, p. 281-294 (em particular,
p. 293-294).
34 Idem, p. 162-163.
35 MANDEVILLE, B. de. An Essay on Charity and Charity Schools (Ensaio sobre a caridade e as
escolas de caridade) (1723). In: em Id., The Fable of the Bees (A fábula das abelhas), Reimpres-
são. Indianápolis: Liberty-Classics, 1988, vol. I, p. 305-306; tadução italiana, Ricerca sulla natura
della società con il Saggio sulla carità e sulle Scuole di Carità, organizada por M. E. Scribano.
Roma-Bari: Laterza, 1974, p. 110.
37 Cf. HIRSCHMAN, A. O. Shifting Involvements. Private Interest and Public Action (Mudando en-
volvimentos. Interesse privado e ação pública) (1982); tradução italiana, Felicità privata e felicità
pubblica. Bolonha: Il Mulino, 1983, p. 124.
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39 Cf. LOSURDO, D. Democrazia o bonapartismo. Trionfo e decadenza del suffragio universale (De-
mocracia ou bonapartismo. Triunfo e decadência do sufrágio universal). Turim: Bollati Borin-
ghieri, 1993 (reimpressão 1997), caps. 1, § 13 e 7, § 5.
40 Cf. LOSURDO, D. Hegel e la libertà dei moderni (Hegel e a liberdade dos modernos), cit., cap. XII, 3.
43 BURKE, E. Thoughts and Details on Scarcity (Pensamentos e pormenores sobre aescassez), cit.,
p. 383.
44 SIEYÈS. E.-J. Ecrits politiques (Escritos políticos), organizador R. Zapperi. Paris: Editions des archi-
ves contemporaines, 1985, p. 236, p. 75 e p. 81.
47 HAYEK, F. A. von. The Constitution of Liberty (Os Fundamentos da Liberdade), tradução italiana
cit., p. 31-32.
49 Cf. em particular HAYEK, F. A. von. New Studies, tradução italiana cit., p. 271-289.
50 Sobre o tema, remeto ao meu Nietzsche, il Moderno e la tradizione liberale (Nietzsche, o mo-
derno e a tradição liberal), em Metamorfosi del Moderno (Metamorfoses do moderno), organi-
zado por G. M. Cazzaniga, D. Losurdo, L. Sichirollo. Quattro Venti. Urbino: Instituto Italiano para
Estudos Filosóficos, 1988, p. 115-140.
284
Notas
53 MILL, J. S. On Liberty (A liberdade) (1858); tradução italiana, Saggio sulla libertà. Milão: Il Sag-
giatore, 1981, p. 33.
54 Idem, p. 130.
55 Carta a Reeve de 12 de abril de 1840. In: TOCQUEVILLE, A. de. Oeuvres complètes (Obras com-
pletas), cit., vol. IV, 1, p. 58.
56 TOCQUEVILLE, A. de. Ecrits et discours politiques (Escritos e discursos políticos). In: Oeuvres
complètes (Obras completas), cit., vol. III, 1, p. 323.
57 Idem, p. 329.
59 Carta de 2 agosto de 1857. In: TOCQUEVILLE, A. de. Oeuvres complètes (Obras completas), cit.,
vol. VI, 1, p. 230.
61 Carta a Reeve de 30 de janeiro de 1858. In: TOCQUEVILLE, A. de. Oeuvres complètes (Obras
completas), cit., vol. VI, 1, p. 254.
64 TOCQUEVILLE, A. de. Ecrits et discours politiques (Escritos e discursos políticos). In: Oeuvres
complètes (Obras completas), cit., vol. III, 1, p. 324; cf. cap. III, 36.
285
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68 Cf. LOSURDO, D. “Pene capitali nell’America di razza” (“Penas capitais na América racial”). In: Il
manifesto, de 1º de maio de 1992.
69 PONTING, C. “Churchill’s plane for race purity” (“O plano de Churchill para a pureza de raça”).
In: The Guardian, 20-21 de junho de 1992.
73 Cf. FAYE, G. “Il neo-conservatorismo americano. Un capitolo dell’ideologia egualitaria” (“O ne-
oconservadorismo americano. Um capítulo da ideologia igualitária”). In: Trasgressioni, maio-a-
gosto de 1986, p. 61-71.
74 BENOIST, A. de. Les idees à l’endroit (As ideias em seu lugar). Paris: Hallier-Libres, 1979, p. 31, p.
159 e p. 167 segs.
75 HAYEK, F. A. von. Law, Legislation and Liberty (Direito, legislação e liberdade), tradução italiana
cit., p. 311.
77 MALTHUS, Th. R. An Essay on the Principles of Population (Um ensaio sobre princípios da popu-
lação) (1826); tradução italiana, Saggio sul principio di popolazione. Turim: Utet, 1965, p. 497.
78 A respeito disso, cf. LOSURDO, D. Hegel e la libertà dei moderni, cit., cap. XII, 3.
79 Ibidem.
286
Notas
82 MANDEVILLE, B. de. An Essay on Charity and Charity Schools, cit., p. 307-308; tradução italiana
cit., p. 112.
83 Cf. LOSURDO, D. Hegel e la libertà dei moderni, cit., cap. IV, 2-3.
84 Cf. KERYAN, L. L’égalité aux Etats-Unis: mythes et réalité (Legalidade nos EUA: mitos e reali-
dade). Nancy: Presses Universitaires, 1991, p. 78-80.
88 MANDEVILLE, B. de. The Fable of the Bees (A fábula das abelhas) (1705 e 1714). Reimpres-
são in Indianápolis: Liberty-Classics, 1988, vol. I, Remark (L.), p. 107-123; tradução italiana,
La favola delle api, organizador T. Magri. Roma-Bari: Laterza, 1987, Parte I, Nota L, p. 70-79;
Id., An Essay on Charity and Charity Schools, cit., p. 302 e p. 287-289; tradução italiana, p.
106 e p. 91-92.
89 HAYEK, F. A. von. The Road to Serfdom (O caminho da servidão) (1944). Londres: Ark Paper-
backs, 1986, p. 66.
90 LOCKE, J. An Essay Concerning Human Understanding, IV, XX, 2; tradução italiana cit., p. 805.
91 Cf. GOSSET, Th. F. Race. The History of an Idea in America (Raça. A história de uma ideia na
América). Nova Iorque: Schocken Books, 1965, p. 255.
92 TOGLIATTI, P. In tema di libertà (Sobre o tema da liberdade) (1954). In: Id., Opere (Obras), orga-
nizador L. Gruppi. Roma: Editori Riuniti, 1974-1984, vol. V, p. 866.
93 LOCKE, J. Two Treatises of Civil Government (Dois tratados sobre o governo civil) (1690), I, § 1 e
II, § 85 (para o Segundo Trattato foi usada a tradução italiana de L. Formigari, Trattato sul gover-
no. Roma: Editori Riuniti, 1974).
94 Ver em especial BOBBIO, N. “Stuart Mill liberale e socialista” (“Stuart Mill liberal e socialista”). In: La
lettera del venerdì (A Carta de Sexta-feira), suplemento do l’Unità, 31 de maio de 1991, p. 26-27.
287
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98 Cf. LOSURDO, D. “Totalitario è il nostro secolo” (“Totalitário é o nosso século”). In: Ilmanifesto,
de 8 de janeiro de 1992.
101 Cf. LOSURDO, D. Democrazia o bonapartismo. Trionfo e decadenza del suffragio universale (De-
mocracia ou bonapartismo. Triunfo e decadência do voto universal), cit., cap. I.
102 LOCKE, J. The Fundamental Constitutions of Carolina (As Constituições fundamentais da Caroli-
na) (1669), art. CX. In: Id., The Works, Londres, 1823, reprodução em facsímile, Scientia, Aalen,
1963, vol. X, p. 196.
104 Cf. The Lincoln Catechism (O catecismo de Lincoln) (1864). In: SCHLESINGER JR., A. (organiza-
dor). History of United States Political Parties (História dos partidos políticos dos Estados Uni-
dos). Nova Iorque/ Londres: Chelsea House e Bawker, 1973, p. 915-921.
105 HOBHOUSE, L. T. Democracy and Reaction (Democracia e reação). Londres: Fisher Unwin,
1909, p. 219-220.
107 (O ensaio aqui reproduzido, publicado em 1992, faz claramente referência à Primeira Guerra do
Golfo, de 1991, e ao então presidente dos EUA, George Bush pai. Sobre a posição de Norberto
Bobbio cf. Cap. III, 4).
108 (Em 1991, ano da primeira publicação do ensaio aqui reproduzido, o atual presidente da
república, Giorgio Napolitano, era expoente de primeira linha da ala reformista “melhorista”
do então recém-nascido PDS, ou do Partido Democrático da Esquerda, fundado depois da
dissolução do Partido Comunista Italiano).
288
Notas
109 In: TURATI, F. & KULISCHOV, Anna. Carteggio (Correspondência). Turim: Einaudi, 1977, vol. IV,
1, p. 62-63.
110 SALVEMINI, G. “Dopo lo sciopero generale” (“Depois da greve geral”) – nota em L’Unità de 26
de junho de 1914. In: Opere (Obras). Milão: Feltrinelli, 1964-1978, vol. VIII, p. 458-459.
111 SALVEMINI, G. “La guerra per la pace” (“A guerra pela paz”), em L’Unità de 28 de agosto de
1914. In: Opere, cit., vol. III, 1, p. 361.
112 SALVEMINI, G. “Non abbiamo niente da dire” (“Nada temos a dizer”), em L’Unità de 4 de setem-
bro de 1914. In: Opere, cit., vol. III, 1, p. 366.
114 SALVEMINI, G. “Fra la grande Serbia ed una più grande Austria” (“Entre a Grande Sérvia e a
maior Áustria”), em L’Unità de 7 de agosto de 1914. In: Opere, cit., vol. III, 1, p. 349.
117 SALVEMINI, G. “L’ostruzionismo” (“O obstrucionismo”), em L’Unità de 3 julho de 1914. In: Ope-
re, cit., vol. VIII, p. 461.
118 SALVEMINI, G. Nota em L’Unità de 15 de janeiro de 1915. In: Opere, cit., vol. III, 1, p. 448.
120 LUXEMBURGO, R. Die Krise der Sozialdemokratie (A crise da socialdemocracia) (1916). In: em
Politische Schriften (Escritos políticos), organizador O. K. Flechtheim. Frankfurt: Eüropäische Ver-
lagsanstalt, 1968, p. 86-89.
121 SALVEMINI, G. “La censura”. Em L’Unità, de 26 de abril de 1917. In: Opere, cit., vol. VIII, p. 482.
122 Ver os textos reportados em FERRO, M. L’Occident devant la révolution soviétique (O Ocidente
diante da Revolução Soviética). Bruxelas: Editions Complexe, 1980, p. 22-24.
123 Ibidem.
289
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124 Intervenção na Câmara, em 23 de fevereiro de 1918. In: TURATI, F. Socialismo e riformismo nella
storia d’Italia (Socialismo e reformismo na história da Itália). Scritti politici (Escritos políticos),
1878-1932, organizador F. Livorsi. Milão: Feltrinelli, 1979, p. 326.
125 Intervenção na Câmara, em 12 de junho de 1918. In: TURATI, F. Op. cit., p. 328.
127 Cf. DEGLI’INNOCENTI, M. L’età del riformismo (A idade do reformismo) (1900-1911). In: SABBA-
TUCCI, G. (org.). Storia del socialismo italiano (História do socialismo italiano). Roma: Il Poligono,
1980, vol. II, p. 284.
128 Assim na intervenção na Câmara, em fevereiro de 1912, relatada em SABBATUCCI, G. (org.). Op.
cit., vol. II, p. 498-499.
129 Cf. DEGL’INNOCENTI, M. La crisi del riformismo e gli intransigenti (A crise do reformismo e os
intransigentes) (1911-1914). In: SABBATUCCI, G. (org.). Op. cit., vol. II, p. 360.
130 SALVEMINI, G. “Colonia e Madre Patria e I valori morali della guerra” (“Colônia, mãe pátria e os
valores morais da guerra”). Em: L’Unità de 13 de janeiro e 5 de outubro de 1912. In: Opere, cit.,
vol. III, 1, p. 152 e p. 240.
131 Discurso no Congresso de Modena em 17 de outubro de 1911. In: TURATI, F. Op. cit., p. 243.
133 SALVEMINI, G. “La peggiore ipotesi” (“A pior hipótese”). Em L’Unità de 26 de fevereiro de 1915.
In: Opere, cit., vol. III, 1, p. 483.
137 Ver correspondência de Nova Iorque, assinada como ar. zam. Em La Repubblica, 23 de março de
1991, p. 9.
138 Cf. DEGL’INNOCENTI, M. La crisi del riformismo e gli intransigenti (1911-1914), cit., p. 358.
290
Notas
140 D’ARCAIS, P. Flores. Politica di pace, non l’assolutismo di certi pacifisti (Política de paz, o não
absolutismo de certos pacifistas). Em L’Unità, 22 de janeiro de 1991, p. 13.
141 Polemizei com ele sobre esse tema já em “È fallita la rivoluzione d’Ottobre?” (“Faliu a Revolu-
ção de Outubro?”). In: Marxismo oggi, janeiro de 1991, p. 31-38.
142 SALVEMINI, G. Le origini della guerra (As origens da guerra) (conferência em 16 de novembro
de 1914). In: Opere, cit., vol. III, 1, p. 394.
144 Ver a respeito a polêmica de GRASS, G.,em Die Zeit,13-22 de março de 1991, p. 63.
145 Como é confirmado pelo apoio do PDS à intervenção na Somália, para a qual o governo italia-
no reivindica uma espécie de “mandato”. (A participação italiana na missão da ONU “Restore
Hope” (Restaurar a esperança) de 1992-1994 gozou de amplo consenso entre as forças políticas.
Mesmo depois da subsequente retirada da Itália de sua ex-colônia, a tragédia somaliana pros-
seguiu quase ininterruptamente até nossos dias e impôs imensos sofrimentos à população, e é
entre outras coisas também alvo de recentes e repetidos ataques aéreos por parte dos EUA).
146 Ver Arbeitshäuser (Casas de trabalho), organizado por MOHL, R. Staats-Lexikon oder Encyclo-
pädie der Staatswissenschaften, organizadores C. von Rotteck e C. Welcker, Altona, 1834, vol. I,
em particular p. 659-664; sobre o tema cf. LOSURDO, D. Tra Hegel e Bismarck. La rivoluzione del
1848 e la crisi della cultura tedesca (Entre Hegel e Bismarck. A Revolução de 1848 e a crise da
cultura alemã). Roma: Editori Riuniti, 1983, p. 144-148.
148 O texto de 1697 foi escrito por Locke, enquanto membro da Commission on Trade (Câmara de
Comércio), e é citado em BOURNE, H. R. F. The Life of John Locke (A vida de John Locke), Londres,
1876, reimpressão Aalen: Scientia, 1969, vol. II, p. 377-390.
150 Cf. The Works of Jeremy Bentham (As obras de Jeremy Bentham), organizador J. Bowring.Edim-
burgo: Tait, 1863, vol. IV, p. 40.
152 Cf. GUILLEMIN, H. Benjamin Constant muscadin1795-1799. Paris: Gallimard, 1958, p. 275-279.
291
MARX E O BALANÇO HISTÓRICO DO SÉCULO 20
153 WEBER, M. Der Sinn der “Wertfreiheit” der soziologischen und ökonomischen Wissenschaften
(O sentido da “neutralidade axiológica” nas ciências sociológicas e econômicas), 1917. In: Me-
thodologische Schriften, Studienausgabe (Escritos metodológicos, edição de estudos). Frankfurt
am Main: Fischer, 1968, p. 276.
154 São palavras de ordem que depois encontraram sua consagração em duas obras publicadas na
Alemanha no entreguerras: JÜNGER, E. Die totale Mobilmachung (A mobilização total), 1930 e
LUDENDORFF, E. Der totale Krieg (A guerra total), Ludendorff, Munique, 1935, que fala repeti-
damente da “política total” como pressuposto da “guerra total” (cf. p. 35 e passim).
155 O termo “Totalismus” começa a aparecer imediatamente depois da guerra (cf. PAQUET, A. Im
Kommunistischen Rußland. Briefe aus Moskau (Na Rússia comunista. Cartas de Moscou). Jena:
Diederichs, 1919, p. 111, citado por NOLTE, E. Der europäische Bürgerkrieg 1917-1945. Natio-
nalsozialismus und Bolschewismus (A guerra civil europeia. Nacionalismo e bolchevismo). Frank-
furt am Main-Berlim: Ullstein, 1987, p. 563).
157 TOGLIATTI, P. “Pagine sulla guerra”, di B. Croce (“Páginas sobre a guerra”, de B. Croce) (1919). In:
Opere, cit., vol. I, p. 40; sobre o tema cf. LOSURDO, D. Gramsci, Gentile, Marx e le filosofie della
prassi (Gramsci, Gentile, Marx e as filosofias da práxis), em Gramsci e il marxismo contempora-
neo (Gramsci e o marxismo contemporâneo), organizador B. Muscatello. Roma: Editori Riuniti,
1990, p. 102-108.
158 CROCE, B. “Cultura tedesca e politica italiana” (“Cultura alemã e política italiana”), 1914. In:
L’Italia dal 1914 al 1918, cit., p. 22.
159 Sobre o tema cf. LOSURDO, D. Tra Hegel e Bismarck, cit., p. 160, 332-335.
160 CROCE, B. Il partito come giudizio e come pregiudizio (O partido como conceito e como precon-
ceito) (1912) e Fede e programmi (Fé e programas) (1911). In: Cultura e vita morale (Cultura e
vida moral) (1914). Bari: Laterza, 1955, p. 195-196 e 162-163.
161 MOSSE, G. L. Le guerre mondiali dalla tragedia al mito dei caduti (As guerras mundiais da tra-
gédia ao mito dos tombados). Roma-Bari: Laterza, 1990, p. 73.
162 CROCE, B. “Tre socialismi” (“Três socialismos”) (1918). In: L’Italia dal 1914 al 1918, cit., p. 284.
163 POLIAKOV, L. L’histoire de l’antisémitisme. Tome IV, L’Europe suicidaire (A história do antissemi-
tismo. Tomo IV. A Europa suicida): 1870-1933. Paris: Calmann-Lévy, 1977, p. 200.
292
Notas
165 Idem, p. 228-229; cf. também NOLTE, E. Der europäische Bürgerkrieg, cit., p. 111.
166 MICHAELIS, M. Mussolini and the Jews: German-Italian Relations and the Jewish Question in
Italy 1922-1945 (Mussolini e os judeus: as relações germano-italianas e a questão judaica na
Itália 1922-1945) (1978); tradução italiana, Mussolini e la questione ebraica. Le relazioni ita-
lo-tedesche e la politica razziale in Italia. Milão:Comunità, 1982, p. 35.
167 Cf. POLIAKOV, L. L’histoire, cit., p. 229. Em relação à Revolução Francesa a tese do complô judai-
co já fora formulada por Edmund Burke: cf. LOSURDO, D. “Vincenzo Cuoco, la rivoluzione napo-
letana del 1799 e la comparatistica delle rivoluzioni” (“Vincenzo Cuoco, a revolução napolitana
de 1799 e os estudoscomparativos das revoluções”). In: Società e storia, 1990, n. 46, p. 907-908.
169 WOODWARD, V. Origins of the New South 1877-1913 (Origens do Novo Sul 1877-1913) (1951);
tradução italiana, Le origini del nuovo Sud. Bolonha: Il Mulino, 1963, p. 332.
170 COHN, N. Warrant of Genocide (A garantia do genocídio) (1966); tradução francesa, Histoire
d’un mythe. La “Conspiration” juive et les “Protocoles des Sages de Sion”. Paris: Gallimard, 1967,
p. 157; cf. também POLIAKOV, L. L’histoire, cit., p. 271 sgs. e HEER, F. Gottes erste Liebe. Die Juden
im Spannungsfeld der Geschichte. Frankfurt am Main-Berlim: Ullstein, 1986, p. 193.
171 A respeito de von Schirach cf. SHIRER, W. L. The Rise and Fall of the Third Reich (Ascenção e
queda do Terceiro Reich) (1959); tradução italiana, Storia del Terzo Reich. Turim: Einaudi (1962),
1974, p. 230.
172 Ver o depoimento de Felix Kersten, massagista finlandês de Himmler, conservado no Centre de
documentation Juive et contemporaine (Das Buch von Henry Ford (O livro de Henry Ford), 22 de
dezembro de 1940, n. CCX-31). Poliakov (L’histoire, cit., p. 278) já havia chamado a atenção para
este testemunho, ao qual, porém, faz referência muito sumariamente.
173 Cf. ECKART, D. Der Bolschewismus von Moses bis Lenin (O bolchevismo de Moisés a Lênin).
Zwiegespräch zwischen Adolf Hitler und mir (Diálogo entre Adolf Hitkler e eu). Munique: Hohe-
neichen Verlag, 1924, p. 52, nota 30. Sobre o tema cf. NOLTE, E. Der Faschismus in seiner Epoche
(O fascismo em sua época) (1963); tradução italiana, I tre volti del fascismo. Milão: Mondadori,
1978, p. 690, nota 132.
293
MARX E O BALANÇO HISTÓRICO DO SÉCULO 20
175 Ver por exemplo o Vorwort (prefácio) da editora alemã, para a 29ª e a 30ª edições, que trazem a
data de junho e agosto de 1933: FORD, H. Der international Jude. Leipzig: Hemmer, 1933, p. 3-5.
176 Cf. NOLTE, E. Der europäische Bürgerkrieg, cit., e Id., “War nicht der Archipel Gulag ursprüngli-
cher als Auschwitz?” (“Não seria o Arquipélago Gulag o original de Auschwitz?”). In: Frankfurter
Allgemeine Zeitung, 06-06-1986.
177 NOLTE, E. Der Faschismus in seiner Epoche, tradução italiana cit., p. 465.
181 Sobre isso cf. CLAUSSEN, D. Vom Judenhaß zum Antisemitismus, Materialien einer verleugneten
Geschichte. Darmstadt-Neuwied: Luchterhand, 1987, p. 160-164.
184 COHN, N. Warrant of Genocide, tradução francesa cit., p. 128. A. J. Mayer exprime-se em ter-
mos análogos em Why Did the Heavens Not Darken?(Por que os céus não escurecem?) (1988);
tradução italiana, Soluzione finale. Lo sterminio degli Ebrei nella storia europea (Solução final. O
extermínio dos judeus na história europeia). Milão: Mondadori, 1990, p. 7.
185 HEIDEN, K. Les origines de Hitler et du nationalsocialisme (As origens de Hitler e do nacional-so-
cialismo), Paris, 1934, p. 44-45 e POLIAKOV, L. La causalité diabolique (A casualidade diabólica).
Paris: Calmann-Lévy, 1985, vol. II, p. 344.
187 Ver as conclusões de POLIAKOV, L. L’histoire de l’anti-semitisme. Tome IV: L’Europe suicidaire,
cit., que remete a uma série de autores, em grande medida já aqui citados.
188 Cf. POLIAKOV, L. Bréviaire de la haine. Le III Reich et les Juifs (Breviário do ódio. O Terceiro Reich
e os judeus) (1951); tradução italiana, Il nazismo e lo sterminio degli Ebrei (O nazismo e o exter-
mínio dos judeus). Turim: Einaudi, 1955, p. 168-169. Cf. KRAUSNICK, H. Hitlers Einsatzgruppen.
Die Truppen des Weltanschauungskrieges 1938-1942 (Os Grupos de Hitler. As tropas da guerra
ideológica 1938-1942). Frankfurt am Maine: Fischer,1985, p. 184 e MAYER, A. J. Why Did the
Heavens Not Darken?(Por que os céus não escurecem?), tradução italiana cit., p. 14.
294
Notas
189 CARR, E. H. A History of Soviet Russia. The Bolshevik Revolution – 1917-1923 (Uma história da
Rússia soviética. A Revolução Bolchevique –1917-1923) (1950); tradução italiana, La rivoluzione
bolscevica. Turim: Einaudi, 1964, p. 882 e p. 880.
190 Relatado em NOLTE, E. Der europäische Bürgerkrieg, cit., p. 111 e nota 41 da p. 558.
192 Cf. ARENDT, H. The Origins of Totalitarianism (As origens do totalitarismo), Nova Iorque (1966);
tradução italiana Le origini del totalitarismo. Milão: Comunità, 1989, p. 602; uma carta do jovem
Karl Jaspers a seus pais se refere à onda de indignação na Alemanha: cf. DE ROSA, R. Politische
Akzente im Leben eines Philosophen. Karl Jaspers in Heidelberg1901-1946 (Tendências políti-
cas na vida de um filósofo. Karl Jaspers em Heidelberg 1901-1946), Posfácio de K. Jaspers, Er-
neuerung der Universität. Reden und Schriften 1945-46 (A renovação da universidade. Discursos
e escritos 1945-1946). Heidelberg: Schneider, 1986, p. 302-305.
193 Relatado em BALFOUR, M. The Kaiser and his Time (O kaiser e seu tempo) (1964); tradução
italiana, Guglielmo II e i suoi tempi. Milão: Il Saggiatore, 1968, p. 297.
196 Cf. NOLTE, E. Der europäische Bürgerkrieg, cit., p. 510; LOSURDO, D. Democrazia o bonaparti-
smo. Trionfo e decadenza del suffragio universale, cit., cap. V, § 2.
197 No que se refere aos antifascistas alemães na França, cf. SCHMID, K. P. “Gefangen in der zweiten
Heimat” (“Prisioneiros na segunda pátria”). In: Die Zeit, 22-25 de maio de 1990, p. 47-48; cf. cap.
III, 3a.
295
MARX E O BALANÇO HISTÓRICO DO SÉCULO 20
198 TOGLIATTI, P. Che cos’è il liberalismo?(O que é o liberalismo?) (1919). In: Opere, cit., vol. I, p.
63-64.
200 A carta de Gentile, de 31 de maio, é relatada em JACOBELLI, J. Croce, Gentile. Dal sodalizio al
dramma (Croce, Gentile. Da associação ao drama). Milão: Rizzoli, 1989, p. 141. Sobre a postura
de Croce de benévola indulgência em relação ao movimento fascista, cf. BOBBIO, N. “Benedetto
Croce e il liberalismo” (“Benedetto Croce e o liberalismo”), 1955, em Politica e cultura. Turim:
Einaudi (1955), 1977, em particular p. 217-221.
201 CROCE, B. Materialismo storico ed economia marxista (Materialismo histórico e economia mar-
xista), (Prefácio à 3ª ed., 1917). Bari: Laterza, 1973, p. XIII-XIV.
202 Sobre o tema cf. LOSURDO, D. “Le catene e i fiori. La critica dell’ideologia tra Marx e Nietzsche”
(“Os grilhões e as flores. A crítica da ideologia de Marx a Nietzsche”). In: Hermeneutica, Urbino,
1987, nº 6, p. 87-143.
203 HAYEK, F. A. von. The Constitution of Liberty, tradução italiana, cit., p. 76.
205 HAYEK, F. A. von. The Constitution of Liberty, tradução italiana cit., p. 21 e p. 38.
206 Cf. LOSURDO, D. La comunità, la morte, l’Occidente. Heidegger e l’“ideologia della guerra” (A co-
munidade, a morte, o Ocidente. Heidegger e a “ideologia da guerra”). Turim: Bollati Boringhieri,
1991, cap. 3, § 7 e cap. 7.
207 A aproximação é de Hayek, que aprova também as teses de Jacob L. Talmon (The Origins of To-
talitarian Democracy (As origens da democracia totalitária), Secker and Warburg, London 1952)
sobre Rousseau pai da “democracia totalitária” (cf. HAYEK, F. A.von. The Constitution of Liberty,
tradução italiana cit., p. 76-77). É preciso portanto negar até a Rousseau o direito à cidadania de
“autêntico” ocidental? É uma consequência que não parece capaz de fazer Hayek recuar, o qual
não apenas condena a “tradição francesa” como termina por incluir nesta última os “entusiastas
da Revolução Francesa”, mesmo os ingleses ou norte-americanos, como Godwin, Priestley, Price,
Paine e o próprio Jefferson, pelo menos a partir de sua fatal “estadia na França” (idem, p. 77).
208 HILBERG, R. The Destruction of European Jews (A destruição dos judeus europeus) (1985); tra-
dução francesa, La destruction des Juifs d’Europe. Paris: Fayard, 1988, p. 39.
296
Notas
209 Assim nas suas conversas à mesa, de 30 de agosto e 8 de agosto de 1942: ver as Bormann-Ver-
merke (Anotações de Bormann) (transcrição das conversas à mesa de Hitler, organizada por
Martin Bormann); tradução italiana, A. Hitler, Idee sui destini del mondo. Pádua: Edizioni di Ar,
1980, p. 591 e p. 541.
210 Cf. LOSURDO, D. La catastrofe della Germania e l’immagine di Hegel, cit., p. 133-145. (Ver ainda
LOSURDO, D. Hegel e la Germania, cit., p. 673-681).
211 ARENDT, H. The Origins of Totalitarianism, tradução italiana cit., p. 633 e p. 543; sobre o antie-
statismo nazista, cf. LOSURDO, D. La catastrofe della Germania e l’immagine di Hegel, cit., cap.
III. (Ver ainda LOSURDO, D. Hegel e la Germania, cit., cap. XIV, §§ 18-25).
212 BAKUNIN, M. “Die Reaktion in Deutschland” (“A reação na Alemanha”) (1842). In: Id., Philo-
sophie der Tat (Filosofia da ação). Colônia: Hegner, 1968, p. 96.
213 CARR, E. H. A History of Soviet Russia.The Bolshevik Revolution 1917-1923, tradução italiana cit.,
p. 128.
214 Cf. LOSURDO, D. L’égalité e i suoi problemi (L’égalité e seus problemas), em BURGIO, A.; LO-
SURDO, D. & TEXIER, J. (org.). Egalité / inégalité. Urbino: Quattro Venti, Instituto Italiano para
Estudos Filosóficos, 1990, p. 139-149.
215 LÊNIN, V. I. Quaderni filosofici, organizador L. Colletti. Milão: Feltrinelli, 1969, p. 88-89.
216 Cf. JORDAN, W. D. White over Black. American Attitudes Towardthe Negro 1550-1812. Nova
Iorque: Norton & Company, 1968, p. 108-111.
217 TOCQUEVILLE, A. de. Ecrits sur le système pénitentiaire en France et à l’étranger (Escritos sobre o
sistema penitenciário na França e no estrangeiro). In: Oeuvres complètes, cit., vol. IV, 1, p. 323-324.
218 HEGEL, G. W. F. Grundlinien der Philosophie des Rechts, § 200 A. Cf. LOSURDO, D. Hegel e la
libertà dei moderni, cit., cap. VII, 10.
219 CROCE, B. “Cultura tedesca e cultura mondiale” (“Cultura alemã e cultura mundial”) (1930). In:
Conversazioni critiche. Quarta série. Bari: Laterza, 1951, p. 287.
220 Assim segundo o julgamento de um historiador liberal inglês (George M. Trevelyan): sobre o
tema cf. LOSURDO, D. “La révolution française a-t-elle échoué” (“A Revolução Francesa fracas-
sou”). In: La Pensée, janeiro-fevereiro de 1989, nº 267, p. 86.
221 PIERRE, V. Histoire de la République de 1848 (História da República de 1848). Paris: Plon, 1878,
vol. II, p. 322.
297
MARX E O BALANÇO HISTÓRICO DO SÉCULO 20
222 Sobre as ambiguidades da categoria de estatismo, cf. LOSURDO, D. Hegel e la libertà dei moder-
ni, cit., em particular os capítulos IV, 3 e VII, 6.
223 SOREL, G. Réfléxions sur la violence (Reflexões sobre a violência) (1908); tradução italiana, Ri-
flessioni sulla violenza, em Scritti politici (Escritos políticos). Turim: Utet, 1963, p. 195-198.
224 SPENCER, H. First Principles (Primeiros princípios), citado por GOSSET, Th. F. Race. The History of
an Idea in America (Raça. A história de uma ideia na América), cit., p. 146.
225 SPENCER, H. Social Statics (Estática social), citado por HOFSTADTER, R. Social Darwinism in
American Thought (O darwinismo social no pensamento norte-americano). Filadélfia: University
of Pennsylvania Press, 1944-1945, p. 27.
226 Citado por HOFSTADTER, R. Social Darwinism (Darwinismo social), cit., p. 48.
227 Cf. SALVATORELLI, L. & MIRA, G. Storia d’Italia nel periodo fascista (História da Itália no período
fascista). Milão: Mondadori, 1972, vol. I, p. 249; DE FELICE, R. Mussolini il fascista (Mussolini,
o fascista). I. La conquista del potere – 1921-1925 (A conquista do poder– 1921-1925). Turim:
Einaudi, 1966, p. 62 e p. 127.
228 COBBAN, A. Dictatorship. Its History and Theory (Ditadura. Sua história e teoria). Nova Iorque:
Haskell, 1971, p. 129.
229 Ver em especial PARETO, V. L’éclipse de la liberté (O eclipse da liberdade) (8 de junho de 1903).
In: Id., Mythes et idéologies (Mitos e ideologias). Genebra: Droz, 1966, p. 224-225.
230 LE BON, G. Psychologie des foules (Psicologia das massas) (1895); tradução italiana, Psicologia
delle folle. Milão: Longanesi, 1980, p. 125, p. 122 e p. 119.
232 De uma conversação relatada em SCHLESINGER JR., A. “Four Days with Fidel: A Havana Diary”
(“Quatro dias com Fidel: um diário de Havana”). In: The New York Review of Books, 26 de março
de 1992, p. 25.
234 Cf. LOSURDO, D. Antonio Gramsci dal liberalismo al “comunismo critico” (Antonio Gramsci do
liberalismo ao “comunismo crítico”). Roma: Gamberetti, 1997, cap. IV, em especial p. 137-162.
298
Notas
235 “I Congresso della Internazionale Comunista. Tesi, manifesti e risoluzioni” (“I Congresso da In-
ternacional Comunista. Teses, manifestos e resoluções”), La Nuova Sinistra. Roma:Samonà e
Savelli, 1970, p. 98.
236 CARR, E. H. A History of Soviet Russia. The Bolshevik Revolution 1917-1923, tradução italiana
cit., p. 973, p. 975 e p. 995.
237 Cf. LOSURDO, D. “La révolution, la nation et la paix” (“A revolução, a nação e a paz”). In : Procès.
Cahiers d’analyse politique et juridique, 1990, nº 19, p. 153-171.
238 Cf. LOSURDO, D.“La ‘pace perpetua’: grandezza e miseria dell’universalismo” (“A ‘paz perpétua’:
grandeza e miséria do universalismo”).In: Crítica Marxista, setembro-outubro de 2000, p. 57-61.
239 LENSCH, P. Drei Jahre Weltrevolution (Três anos de revolução mundial). Berlim: Fischer, 1917.
240 STALIN, J. “Principi del leninismo” (“Princípios do leninismo”) (1924). In: Id., Questioni del leni-
nismo (Questões do leninismo), tradução italiana, Roma: Edizioni Rinascita, 1952, p. 63.
241 TROTSKY, L. D. Millenovecentocinque (1905) (1908-9; 1922). Roma: Samonà e Savelli, 1969, p.
54 e p. 31.
244 TROTSKY, L. D. Millenovecentocinque (Prefácio à segunda edição russa), cit., p. 8; grifos de Lo-
surdo.
245 AGURSKY, M. The Third Rome.National Bolshevism in the USSR (A Terceira Roma. Nacional-bol-
chevismo na URSS) (1987); tradução italiana, La Terza Roma. Il nazionalbolscevismo in Unione
Sovietica. Bolonha: Il Mulino, 1989, p. 278.
246 Cf. LEWIN, M. Le dernier combat de Lénine (O último combate de Lênin) (1967); tradução italia-
na, L’ultima battaglia di Lenin. Bari: Laterza, 1969.
247 Cf. BULLOCK, A. Hitler and Stalin. Parallel Lives (Hitler e Stálin. Vidas paralelas). Nova Iorque:
Knopf, 1992, p. 279-280.
248 STALIN, J. Werke (Obras). Hamburgo: Roter Morgen, 1971, vol. XII, p. 174 (a edição em italiano
se interrompe no tomo X): a singular grafia do termo “revolucionária” já se encontra no texto.
299
MARX E O BALANÇO HISTÓRICO DO SÉCULO 20
251 Citado em D’ENCAUSSE, H. Carrère. L’empire éclaté. La révolte des nations en URSS (O império
em pedaços. A revolta das nações na URSS). Paris: Flammarion, 1978, p. 28-29 e p. 32.
253 Ver TSETUNG, Mao. Sui dieci grandi rapporti (Sobre as dez grandes relações), 1956. In: Id., Rivo-
luzione e costruzione. Scritti e discorsi 1949-1957 (Revolução e construção. Escritos e discursos
1949-1957), organizado por M. A. Regis e F. Coccia.Turim: Einaudi, 1979, p. 365-366 e 372.
254 “Ancora a proposito dell’esperienza storica della dittatura del proletariato” (“Ainda a propósito
da experiência histórica da ditadura do proletariado”), 1956, artigo anônimo publicado no Ren-
min Ribao (Diário do Povo); ver em Sulla questione di Stalin (Sobre a questão de Stálin). Milão:
Edizioni Oriente, 1971, p. 37.
255 A respeito cf. LOSURDO, D. Fichte, la resistenza antinapoleonica e la filosofia classica tedesca
(Fichte, a resistência antinapoleônica e a filosofia clássica alemã), em Studi Storici, 1983, nº 1/2,
p. 189-216.
256 STALIN, J. Discorso al XIX congresso del Partito Comunista dell’Unione Sovietica (Discurso no XIX
Congresso do Partido Comunista da União Soviética) (1952). In: Id., Problemi della pace (Proble-
mas da paz). Roma: Edizioni di Cultura Sociale, 1953, p. 153-154.
258 STALIN, J. Brindisi al popolo russo (Brinde ao povo russo) (24 de maio de 1945). In: Id., Problemi
della pace, cit., p. 4.
260 Sobre a presença da finança anglo-americana, cf. MARLOWE, “Notaio londinese e buste roma-
ne” (“Notário londrino e bustos romanos”). Em Il manifesto, de 18 de maio de 1993, p. 7, no
qual, a tal propósito, reproduz um “longo documento confidencial que circula no âmbito das
Participações estatais”.
261 Neste capítulo, são muito frequentes as referências ao precedente tratado e a outros trabalhos
meus por citá-las minuciosamente nas notas. Ao limitar-me ao essencial, remeto, para uma
300
Notas
documentação mais ampla, aos meus capítulos, além dos precedentes: È fallita la rivoluzione
d’Ottobre?, cit., Hegel e la libertà dei moderni, cit., e Democrazia o bonapartismo. Trionfo e
decadenza del suffragio universale, cit.
262 CARROL, P. N. & NOBLE, D. W. The Free and the Unfree.A new History of the United States (Os
livres e os não livres. Uma nova história dos Estados Unidos) (1977); tradução italiana, Storia
sociale degli Stati Uniti (História social dos Estados Unidos). Roma: Editori Riuniti, 1991, p. 360 e
391-392.
263 Citado em FORCELLA, E. Prefácio in: FORCELLA, E. & MONTICONE, A. Plotone d’esecuzione. I
processi della prima guerra mondiale (Pelotão de fuzilamento. Os processos da Primeira Guerra
Mundial). Bari: Laterza, 1972, p. XII.
264 Ver, por exemplo, LABICA, G. Le marxisme-léninisme (Elements pour une critique) (O marxismo-
-leninismo (elementos para uma crítica)) (1984); tradução italiana, Dopo il marxismo-leninismo
(tra ieri e domani) (Depois do marxismo-leninismo (entre ontem e amanhã)). Roma: Edizioni
Associate, 1992, p. 155.
266 BOBBIO, N. I comunisti e l’Ungheria (Os comunistas e a Hungria) (1986). In: L’utopia capovolta
(A utopia subvertida). Turim: La Stampa, 1990, p. 113-116
267 HEGEL, G. W. F. Vorlesungen über die Philosophie der Geschichte (Lições sobre a filosofia da
história). In: Werke in zwanzig Bänden (Obras em 20 tomos), organizadores E. Moldenhauer e K.
M. Michel. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1969-79, vol. XII, p. 49.
269 Citado em ELKINS, S. & MCKITRICK, E.The Age of Federalism.The Early American Republic, 1788-
1800 (A idade do federalismo. A república estadunidense inicial, 1788-1800). Nova Iorque/ Ox-
ford: University Press, 1993, p. 316-317.
270 SCHMITT, C. Die geistesgeschichtliche Lage des heutigen Parlamentarismus (O lugar do parla-
mentarismo atual na história das ideias) (1926). Berlim: Duncker & Humblot, 1985, p. 30-31.
271 DAVIS, D. B. The Problem of Slavery in the Age of Revolution 1770-1823 (O problema da escra-
vidão na era da revolução 1770-1823). Ithaca/ Londres: Cornell University Press, 1975, p. 50.
301
MARX E O BALANÇO HISTÓRICO DO SÉCULO 20
272 Ver a respeito LOSURDO, D. Il revisionismo storico. Problemi e miti (O revisionismo histórico.
Problemas e mitos). Roma/ Bari: Laterza, 1996, cap. II, § 9.
273 SCHMITT, C. Die Diktatur. Von den Anfängen des modernen Souveränitätsgedankens bis zum
proletarischen Klassenkampf (A ditadura. Dos primórdios da moderna ideia de soberania à luta
de classe do proletariado). Munique/ Leipzig: Duncker & Humblot, 1921, p. VIII e p. 146-147.
274 HEGEL, G. W. F. Vorlesungen über die Philosophie der Geschichte, cit., p. 332-334.
275 HOBSON, J. A. Imperialism. A Study (O imperialismo. Um estudo) (1902; 1938); tradução italiana
de L. Meldolesi, L’imperialismo. Milão: Isedi, 1974, p. 69.
276 TOCQUEVILLE A. de. De la démocratie en Amérique (Da democracia na América) (1835-40). In:
Oeuvres complètes, cit., vol. I, 1, p. 25; tradução italiana em Scritti politici (Escritos políticos),
organizador N. Matteucci. Torino: Utet, 1968, vol. II, p. 42.
278 Citado em SLOTKIN, R. The Fatal Environment. The Myth of the Frontier in the Age of Industria-
lization 1800-1890 (O ambiente fatal.O mito da fronteira na era da industrialização 1800-1890)
(1985). Nova Iorque: Harper Perennial, 1994, p. 79.
279 TOYNBEE, A. A Study of History (Um estudo de história) (1934-1954); tradução italiana de G.
Cambon, Panorami della storia. Milão: Mondadori, 1954, vol. II, 1, p. 47-48.
280 TOCQUEVILLE, A. de. De la démocratie en Amérique, cit., p. 32-34; tradução italiana cit., p. 50-52.
281 Carta de 2 de agosto de 1857, em TOCQUEVILLE, A. de. Oeuvres complètes, cit., vol. VI, 1, p. 230.
282 HEGEL, G. W. F. Vorlesungen über die Philosophie der Geschichte, cit., p. 49.
283 HEGEL, G. W. F. “Phänomenologie des Geistes” (“Fenomenologia do Espírito”) (1807). In: Werke
in zwanzig Bänden (Obras em 20 tomos), cit., vol. III, p. 24.
284 MARX, K. The Future Result of British Rule in India (O futuro do domínio britânico na Índia) (8 de
agosto de 1853). In: MARX, K. & ENGELS, F. Gesamtausgabe (Obras completas) (Mega). Berlim:
Dietz, no prelo, vol. I, 12, p. 248 e 253 (cf. também a carta de Marx a Engels de 8 de outubro de
1858. In: MEW, vol. XXIX, p. 360) e MARX, K. The British Rule in India (25 de junho de 1853). In:
Mega, vol. I, 12, p. 172-173.
285 MARX, K. The Future Result of British Rule in India, cit., p. 253.
302
Notas
286 Carta a Reeve de 12 de abril de 1840. In: TOCQUEVILLE, A. de. Oeuvres complètes, cit., vol. IV, 1,
p. 58.
287 MARX, K. The Future Result of British Rule in India, cit., p. 248.
288 MARX, K. Grundrisse der Kritik der politischen Oekonomie (Elementos fundamentais para a crí-
tica da economia política). (Rohentwurf) 1857-1858. Berlim: Dietz, 1953, p. 30.
291 TOCQUEVILLE, A. de. De la démocratie en Amérique, vol. I, 2, p. 173-175; tradução italiana cit.,
p. 657-659.
292 MARX, K. The Indian Revolt (A revolta indiana) (16 de setembro de 1857). In: AVINERI, S. (org.).
Karl Marx on Colonialism and Modernisation, cit., p. 212-213; (cf. MEW, vol. XII, p. 288).
293 SMITH, A. An Inquiry into the Nature and the Causes of the Wealth of Nations (Uma investigação
sobre a natureza e as causas da riqueza das nações) (1775-1776; 1783).Indianápolis: Liberty
Classics, 1981 (= vol. II da ed. de Glasgow), p. 794; tradução italiana de F. Bartoli, C. Camporesi,
S. Caruso.Indagine sulla natura e le cause della ricchezza delle nazioni. Milão: Mondadori, 1977,
p. 782.
294 MANDEVILLE, B. de. An Essay on Charity and Charity Schools, cit., p. 307; tradução italiana cit.,
p. 112.
295 RAYNAL, G.-Th. Histoire philosophique et politique des Deux Indes (História filosófica e política
das duas Índias), organizador Y. Benot. Paris: Maspero, 1981, p. 368 e 354; sobre a evocação de
Espártaco, cf. p. 202.
296 CONDORCET. Réflexions sur l’esclavage des nègres (Reflexões sobre a escravidão dos negros)
(1781; 1788). In: Oeuvres (Obras). Stuttgart-Bad Cannstatt: Frommann-Holzboog, 1968, vol. VII,
p. 97 e 130.
297 NIETZSCHE, F. Die Geburt der Tragödie (O nascimento da tragédia) (1872). In: Sämtliche Werke.
Kritische Studienausgabe (Obras completas. Edição crítica de estudo), organizadores Colli e M.
Montinari. Munique: DTV, 1980, vol. I, p. 56 e 100.
298 GUMPLOWICZ, L. Der Rassenkampf. Sociologische Untersuchungen, cit., p. 218, 260 e 353.
303
MARX E O BALANÇO HISTÓRICO DO SÉCULO 20
303 ROSENBERG, A. Der Mythus des 20. Jahrhunderts (O mito do século 20). Munique: Hohenei-
chen-Verlag, 1937, p. 40.
309 KANT, I. Die Metaphysik der Sitten (A metafísica dos costumes). Rechtslehre (1797). In: Gesam-
melte Schriften (Obras escolhidas). Berlim/ Leipzig: Reimer-W. de Gruyter (edição da Academia
das Ciências), 1902-1923, vol. VI, p. 334-335; tradução italiana de G. Solari e G. Vidari em Scritti
politici (Escritos políticos). Turi: Utet, 1965, p. 525.
310 HEINE, H. Einleitung zu: Kahldorf über den Adel (1831). In: Sämtliche Schriften, organizador K.
Briegleb. Munique: Sonderausgabe für die Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1969-1978, vol.
II, p. 656.
312 HEGEL, G. W. F. Vorlesungen über die Philosophie der Weltgeschichte (Sobre a filosofia da
história do mundo), organizador J. Hoffmeister (reimpressão da 5ª ed. em 1955). Hamburgo:
Meiner, 1980, p. 930.
313 HEGEL, G. W. F. Vorlesungen über Rechtsphilosophie (Sobre a filosofia do Direito), cit., vol. IV, p. 657.
314 HEGEL, G. W. F. Die Philosophie des Rechts (A filosofia do Direito) (é o curso de 1817-1818,
transcrito por P. Wannenmann), organizador K. H. Ilting. Stuttgart: Klett-Cotta, 1983, § 133 A.
315 HEGEL, G. W. F. Glauben und Wissen (Conhecimento e crença) (1802). In: Werke in zwanzig
Bänden (Obras em 20 tomos), cit., vol. II, p. 383.
304
Notas
319 Discurso do dia 18, floreal, do ano II (7 de maio de 1794). In: ROBESPIERRE, M. Oeuvres (Obras).
Paris: PUF, 1912-1967, vol. X, p. 446; tradução italiana in La rivoluzione giacobina (A revolução
jacobina), organizador U. Cerroni. Roma: Editori Riuniti, 1967, p. 186.
321 KANT, I. Metaphysik der Sitten. Rechtslehre, cit., p. 333; tradução italiana cit., p. 523.
323 Sobre o tema cf. LOSURDO, D. Il revisionismo storico. Problemi e miti, cit., cap. II, § 4.
324 KANT, I. Metaphysik der Sitten. Rechtslehre, cit., p. 334; tradução italiana cit., p. 524.
330 KANT, I. Metaphysik der Sitten.Rechtslehre, cit., p. 333; tradução italilana cit., p. 523.
331 GRAMSCI, A. “Stregoneria” (“Bruxaria”) (1916). In: Cronache Torinesi 1913- 1917 (Crônicas turi-
nesas), oganizador S. Caprioglio. Torino: Einaudi, 1980, p. 175.
332 CROCE, B. “Sopravvivenze ideologiche” (“Sobrevivências ideológicas”) (1918). In: L’Italia dal
1914 al 1918. Pagine sulla guerra (A Itália de 1914 a 1918. Páginas sobre a guerra), cit., p.
252-253.
305
MARX E O BALANÇO HISTÓRICO DO SÉCULO 20
333 GENTILE, G. Tra Hegel e Lenin (Entre Hegel e Lênin) (maio de 1918). In: Guerra e fede (Guerra e
fé), organizador H. A. Cavallera (vol. XLIII das Obras). Florença: Le Lettere, 1989, p. 139-143.
334 LUKÁCS, G. Taktik und Ethik (Tática e ética) (ed. original húngara, 1919). In: Id., Schriften zur
Ideologie und Politik (Escritos sobre ideologia e política), organizador P. Ludz. Neuwied/ Berlim:
Luchterhand, 1967, p. 5.
335 BURKE, E. Reflections on the Revolution in France (Reflexões sobre a revoluçãona França)(1790).
In: The Works. A new Edition (As obras. Nova edição). Londres: Ridemngton, 1826, vol. V, p. 86.
338 WEIL, E. Philosophie morale (Filosofia moral) (1960). Paris: Vrin, 1987, p. 114-116.
339 SMITH, A. Lectures on Jurisprudence (1762-3 e 1766). Indianápolis: Liberty Classics (= vol. V da
ed. de Glasgow), 1982, p. 452-453 e 182.
341 JOHNSON, P. The Birth of the Modern.World Society 1815-1830 (O nascimento do moderno. A
sociedade mundial, 1815-1830). Nova Iorque: Harper Collins, 1991, p. 71-72 e 811-814.
342 JOHNSON, P. A History of the Modern World from 1917 to the 1980s (História do mundo moder-
no de 1917 aos anos 1980) (1983); tradução italiana de E. Cornara Filocamo, Storia del mondo
moderno. Milão: Mondadori, 1989, p. 471 e 473-474, o grifo é meu.
343 (A referência aqui é claramente à Primeira Guerra do Golfo, concluída com a rendição, mas não
a deposição, de Saddam Hussein, e o prolongado embargo imposto ao Iraque).
344 NORMAND, R.“Deal Won’t End Iraqi Suffering” (“Acordo não acaba com sofrimento iraquiano”).
In: International Herald Tribune, 7 de junho de 1996.
345 Sobre o tema, cf. LOSURDO, D. Il revisionismo storico. Problemi e miti, cit., cap. II, § 8.
346 GRAMSCI, A. “Lettera dell’Ufficio politico del PCI al Comitato Centrale del Partito Comunista
Sovietico”. “Carta do Birô Político do PCI ao Comitê Central do Partido Comunista Soviético”
(1926). In: La costruzione del partito comunista ( A construção do partido comunista). Turim:
Einaudi, 1971, p. 129-130; cf. LOSURDO, D. Antonio Gramsci dal liberalismo al “comunismo criti-
co”, cit., p. 249-250.
306
Notas
347 TSETUNG, Mao. Discursos na conferência dos secretários dos comitês do partido nas provín-
cias, municípios e regiões autônomas (1957). In: Id., Rivoluzione e costruzione, cit., p. 475-476.
348 TORRI, M. Storia dell’India (História da Índia). Roma/ Bari: Laterza, 2000, p. 256-258.
349 Cf. LOSURDO, D. Antonio Gramsci dal liberalismo al “comunismo critico”, cit., p. 138-139.
350 LUXEMBURGO, R. Die Akkumulation des Kapitals (A acumulação do capital) (1912); tradução
italiana de B. Maffi, L’accumulazione del capitale (1960). Turim: Einaudi, 1968, cap. XXVIII, p. 383
e 392.
351 MILL, J. S. On Liberty (A liberdade) (1858). In: Id., Utilitarianism, Liberty, Representative Govern-
ment, cit., p. 151.
352 MISES, L. Von. Die Gemeinwirtschaft. Untersuchungen über den Sozialismus (A economia social.
Estudos sobre o socialismo). Jena: Fischer, 1922, p. 220-221, nota.
354 PFAFF, W. “The West’s Globalization Drive Is Proving a Massive Failure” (“A globalização ociden-
tal está se mostrando um maciço fracasso”). In: International Herald Tribune, 29 de setembro de
2000, p. 6.
355 RAMONET, I. “Le gâchis” (“O atoleiro”). In: Le Monde diplomatique, maio de 1999, p. 1 e 3.
356 FRIEDMAN, Th. L. “Wait for Syria to Join the World” (“Esperem que a Síria se junte ao mundo”).
In: International Herald Tribune, 6 de dezembro de 1999, p. 8.
357 AMBROSE, S. F. “When the Americans Came Back to Europe” (“Quando os americanos voltam
à Europa”). In: International Herald Tribune, 20 de maio de 1997, p. 10.
358 FITCHETT, J. “The Age of Cold Warriors (and Dirty Tricks) Is Born” (“A era dos guerreiros frios (e
seus truques sujos)”). In: International Herald Tribune,28 de maio de 1997, p. 13.
359 AMBROSE, S. F. When the Americans Came Back to Europe, cit., p. 10.
360 LUTTWAK, E. N. Turbo-Capitalism (1998); tradução italiana de A. Mazza, La dittatura del capita-
lismo. Dove ci porteranno il liberalismo selvaggio e gli eccessi della globalizzazione (A ditadura
do capitalismo. Aonde irão levar o liberalismo selvagem e os excessos da globalização). Milão:
Mondadori, 1999, p. 172. Cf. AZZARÀ, S. G. “Globalizzazione e antimperialismo” (“Globalização
e anti-imperialismo”). In: Aginform, setembro de 2000, nº 13, p. 2.
307
MARX E O BALANÇO HISTÓRICO DO SÉCULO 20
362 FRIEDMAN, Th. L. “On Key Foreign Policy Issues, The Differences Are Narrowing” (“Sobre ques-
tões-chave de política externa, as diferenças estão se estreitando”). In: International Herald
Tribune, 11-12 de março de 2000, p. 8.
363 NYE JR., J. S. & OWENS, W. A. “America’s Information Edge” (“O gume da informação dos EUA”).
In: Foreign Affairs, março/abril de 1996, p. 24.
364 RAWLS, J. A Theory of Justice (Uma teoria da justiça), cit., p. 542; tradução italiana cit., p. 441.
365 “US Investigates Shift of Jobs to China. Unions for Boeing and McDonnell Seeking Redress”
(“EUA investigam transferência de empregos para a China. Sindicatos da Boeing e McDonnell
buscam reparação”). In: International Herald Tribune, 23 de outubro de 1995 (não assinado).
366 WILLIAMS, B. Cecil Rhodes, Constable and Company Ltd. (Cecil Rhodes e Companhia Limitada),
Londres, 1921, p. 51-52.
367 HOAGLAND, J. “The UN, Iraq and China Are Second-Term Tests for Clinton” (“ONU, Iraque e
China são os testes do segundo mandato de Clinton”). In: International Herald Tribune, 25 de
novembro de 1996.
368 NYE JR., J. S. & OWENS, W. A. America’s Information Edge, cit., p. 20-21 e nota e p. 35.
369 STEEL, R. “Mr. Fix-It. Woodrow Wilson” (“Woodrow Wilson, o senhor conserta-coisas”). In: The
New York Review of Books, 5 de outubro de 2000, p. 21.
370 HUNTINGTON, S. P. The Clash of Cidemlisations and the Remaking of World Order (O choque
das cidemlizações e a recomposição da nova ordem) (1996); tradução italiana de S. Minucci, Lo
scontro delle cidemltà e il nuovo ordine mondiale. Milão: Garzanti, 1997, p. 284.
373 BONANNI, V. “Tibet perduto” (“O Tibete perdido”). In: Liberazione, 16 de janeiro de 2001, p. 17.
308
Notas
374 GAGLIARDI, R. “Sognando un libretto rosso” (“Sonhando um livrinho vermelho”). In: Liberazio-
ne, 5 de outubro de 1999, “Especial”, p. II.
375 GRAY, J. False Dawn. The Delusion of Global Capitalism (A Ilusão do capitalismo global). Londres:
Granta Books, 1998, p. 118.
376 OVERHOLT, W. H. The Rise of China. How Economic Reform is Creating a New Superpower (A
ascensão da China. Como a reforma econômica está criando uma nova superpotência) (1993);
tradução italiana de G. Barile, Il risveglio della Cina. Milão: Il Saggiatore, 1994, p. 69.
377 XIAOPING, Deng. Selected Works (Obras escolhidas), vol. III (1982-1992). Pequim: Foreign Lan-
guages Press, 1994, p. 174.
379 MARX, K. Grundrisse der Kritik der politischen Oekonomie, cit., p. 80-82.
380 Cf. LOSURDO, D. “Il Nuovo Ordine Internazionale nella storia delle ideologie della guerra” (“A
nova ordem internacional na história das ideologias da guerra”). In: Giano. Ricerche per la pace
(Jano. Investigações pela paz), 1993, nº 14-15, § 3.
381 CHIESA, G. Russia addio. Come si colonizza un impero (Adeus Rússia. Como se coloniza um im-
pério). Roma: Editori Riuniti, 1997, p. 8.
382 TSETUNG, Mao. Opere scelte (Obras escolhidas). Pequim: Edições em Línguas Estrangeiras,
1975, vol. IV, p. 95-96.
383 STALIN, J. “Discorso al XIX congresso” (“Discurso no XIX Congresso”). In: Id., Problemi della pace,
cit., p. 153-154.
384 REYES, R. “Plan Colombia: ‘un piano di guerra’” (“Plano Colômbia: ‘um plano de guerra’”) (en-
trevista a A. Nocioni e M. Consolo). In: Liberazione, 26 de agosto de 2000, p. 20.
387 VINOCUR, J. “Europe’s Leading Nations Use Afghan Crisis to Enhance World Role” (“Países lí-
deres da Europa usam a crise afegã para reforçar seu papel mundial”). In: International Herald
Tribune, 12 de outubro de 2001, p. 7.
309
MARX E O BALANÇO HISTÓRICO DO SÉCULO 20
388 VENTURINI, F. “Se l’Italia vuole avere una voce” (“Se a Itália quer ter voz”). In: Corriere della
Sera, 15 de outubro de 2001, p. 15.
389 POMFRET, J. “Beijing’s Policy Shift Challenges Washington’s Influence in Asia” (“Virada política
de Pequim desafia a influência de Washington na Ásia”). In: International Herald Tribune, 19 de
outubro de 2001, p. 5.
390 BLUME, G. & YAMAMOTO, C. “Elenfantenflirt in Shangai” (“Flerte gigante em Xangai”). In: Die
Zeit, 18 de outubro de 2001, p. 11.
391 In: MINI, F. “Xinjiang o Turkestan orientale?”(“Xinjiang ou Turquestão Oriental?”). In: Limes.
Revista italiana di geopolítica, 1999, nº 1, p. 92.
392 SPINELLI, B. “Vizi e virtù di un’alleanza” (“Virtudes e vícios de uma aliança”). In: La Stampa,25
de novembro de 2001, p. 1.
393 Na Itália, movimento do pós-guerra que prega ou justifica a apatia política (Nota do tradutor).
310
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