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RESUMO
As eleições de 2018 foram as primeiras onde as redes sociais assumiram papel de
protagonista na veiculação de conteúdos políticos. Com a diminuição considerável da
campanha política nas TVs e rádios, os publicitários precisaram repensar suas estratégias
de conteúdo, e principalmente, aproveitar ao máximo todo o potencial das redes sociais,
causando assim engajamento e tendo o alcance desejado. Este artigo relata algumas
campanhas passadas, como a de Barack Obama, e mostra como a campanha de Jair
Bolsonaro, então candidato à presidente da república, aproveitou as redes sociais. O artigo
é finalizado com um estudo de caso, envolvendo a campanha política planejada para o
candidato a deputado federal Tadeu Alencar (PSB-PE).
Introdução
A força do audiovisual nas redes sociais durante as eleições de 2016 e 2018 pode
ser dimensionada em números. Mas a ideia que a luz altera a nossa percepção da realidade
e de que uma imagem vale por mil palavras promove uma união das ciências exatas,
biológicas e humanas que merece ser revisitada.
Desde que o homem existe, e ele só existe quando se reconhece em outro homem,
sentamos em grupo e contamos histórias. Inspirados nos clássicos do teatro, para atrair a
classe média, o cinema começou usando a narrativa clássica para deixar de ser apenas
uma “experiência” e se transformar em mercado, gerando consumo e renda. O modelo de
narrativa clássica proposta por Bordwell (2005, p. 278-279) nos remete a uma fórmula
simples: apresentação dos personagens, problemas com clímax e a conclusão que seria a
resolução desses problemas.
As redes sociais, para promoverem um determinado candidato e/ou ideia/partido
também se utilizam do conceito de que a linguagem é uma construção. O ser humano
entende melhor e recebe com mais facilidade histórias que façam sentido, mesmo que na
vida real nem sempre os acontecimentos sejam carregados de sentido.
Existem também narrativas lineares e não-lineares, mas em quase todas, decisões
estéticas e políticas foram tomadas antes. Um exemplo disto é o filme Cidadão Kane
(1941), do cineasta Orson Welles, que emprega o conceito de narrador onisciente.
A linguagem cinematográfica revolucionou a forma de contar histórias. Uma
linguagem sem língua e com códigos que rompe barreiras e é altamente propagável nas
redes sociais. O chamado “fator Griffith” (observado em filmes como “O nascimento de
uma nação”) é um bom exemplo de como a montagem cinematográfica fez nascer um
poder que direciona o significado de uma imagem.
O chamado “mise-en-scène” de uma imagem cinematográfica engloba não apenas
o comportamento de um personagem, mas a iluminação, o cenário e os figurinos. Além
da edição da imagem, pois sabemos o poder de um enquadramento, que é excluir o
desnecessário e instituir o que é determinante na construção de uma cena, o foco da
mensagem que deve influenciar a quem assiste.
A profundidade de campo, considerada a hierarquia do foco pelos fotógrafos
profissionais, também colabora para definir qual a mensagem que queremos construir no
receptor.
Para atrair a atenção dos jovens, os mais descrentes dos políticos e com maiores
índices que comprovam esse desinteresse. Pedro Vila Nova usou a Operação Serenata de
Amor, onde utiliza a inteligência artificial (I.A.) para melhorar a relação das pessoas com
a política. O objetivo é fiscalizar gastos públicos. A “Rose” aprendeu tudo sobre leis e
mapeou 8 mil suspeitos e 600 denúncias com dados públicos, disponíveis graças à LAI
(Lei de Acesso à Informação) e ao pressuposto constitucional de Transparência, ou
usando as palavras técnicas internacionais accountability e compliance.
É impossível não perceber o que Pedro fez para atrair jovens e cidadãos que sem
esses facilitadores que envolvem o audiovisual nos trazem. Para Denilson Shikako, no
futuro 88% do conteúdo veiculado será exclusivamente audiovisual. Isto estimulará por
completo os cinco sentidos do espectador.
“Uma campanha consegue conquistar o consumidor quando domina a via
secundária. Mais do que isso, a via principal precisa ter a ação ainda mais
reduzida na decisão de compra. O contágio emocional é fundamental na
publicidade” (LAVAREDA & CASTRO, 2016, p. 29-30)
Podemos encontrar nos vídeos e textos do candidato Jair Bolsonaro, por exemplo,
elementos da “teoria do pequeno grande homem”, de Theodor W. Adorno. A narrativa
nos leva a acreditar que aquele homem comum, pode ser um herói. As considerações do
filósofo alemão ajudam a explicar a posição do então candidato a presidente, e o seu apelo
diante do eleitorado:
A imagem do líder gratifica o duplo desejo do seguidor em se submeter à
autoridade e ser ele mesmo essa autoridade. De resto isso se encaixa bem em
um mundo no qual ainda existe controle irracional, apesar dele não ter mais
convicção interior, perdida graças ao esclarecimento universal. As pessoas que
obedecem aos ditadores sentem que eles são supérfluos, resolvendo essa
contradição assumindo que são elas mesmas os cruéis opressores (ADORNO,
1951).
Outro case de construção altamente propagável nas redes sociais foi a campanha
de Obama (2008), coordenada por Ben Self, na Internet. Elementos cinematográficos
foram amplamente divulgados. A operação porta-a-porta foi reforçada pela criação de um
site, envio de e-mails e redes sociais/novas tecnologias. Com uma narrativa épica, usaram
as redes sociais para transformar paixão em ação. A arrecadação online por email foi de
500 milhões de dólares, com 3,2 milhões de doadores.
Todas as campanhas mencionadas nesse artigo são de candidatos com poucos
recursos econômicos que usaram a Internet e as redes sociais como forma mais
democrática para realizar suas campanhas. Sobre a questão dos poucos recursos
financeiros, Lavareda e Castro (2016) falam que esta precariedade é usada como um
atrativo nas campanhas publicitárias:
Em 2018 a autora desse artigo coordenou a campanha para reeleição do Deputado Federal Tadeu
Alencar em parceria com a agência Makplan do publicitário José Nivaldo JR em Pernambuco. Usou
a técnica de design thinking para elaborar o planejamento da campanha e pode observar na prática
os resultados positivos dos indícios trabalhados pelos professores no Mestrado de indústrias Criativas
e relatados nesse artigo. Seguem os conceitos que tiveram sucesso avaliado:
Tempo/ Menos é Mais – vídeos curtos com no máximo 60 segundos. Foram produzidos vídeos de 60,
45, 30 e 15 segundos.
Conteúdo direcionados/ Customização – foram produzidos vídeos para cada cidade, para cada sexo,
para datas comemorativas e vídeos sobre ações e história de vida do candidato. Para cada Rede Social
foi utilizada uma estratégia diferenciada com planejamentos singulares para conteúdos e
plataformas múltiplas.
Sintonia entre o mundo real e virtual/ Pragmatismo – Na Comitê, que ganhou status de quintal da
casa do candidato, foram realizados eventos semanais. O candidato também realizou eventos
diferenciados em cada cidade. O candidato também participou de vários eventos em ongs e
instituições. Toda a vida real foi roteirizada e transformada em conteúdo para a vida virtual do
candidado. A história política do candidato era coerente com a imagem que ele passava nas Redes
Sociais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS