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Revista do Conselho Nacional de Praticagem - edição 59 - junho a setembro / 2021

Por dentro
da barra do
Rio Grande
editorial

Revista do Conapra - Conselho Nacional de Praticagem - out/20 a jan/2

Nesta edição da Rumos Práticos, fizemos um esforço concentrado em matérias de segurança,


tanto no embarque/desembarque de práticos quanto em empreendimentos portuários.

Convidamos o prático Arie Palmers, que atua na região de Scheldt (Holanda), para
escrever um artigo sobre irregularidades em escadas combinadas com alçapão. Após
sofrer dois acidentes em 2018, Arie se tornou um fiscalizador ativo dos problemas
encontrados em arranjos de embarque em geral, sendo cofundador do grupo
#DangerousLadders no Facebook.

Na sequência, traçamos um panorama sobre os modos como a praticagem mundial vem


lidando com as situações envolvendo escadas com alçapão. Já o prático Marcio Fausto, da
Praticagem de São Francisco do Sul e Itapoá (SC), propõe em seu artigo um checklist antes do embarque
para diferentes tipos de arranjo, incluindo os meios com alçapões. Ele e Arie são categóricos ao defender o
adiamento do embarque em caso de irregularidades, atitude que se tem revelado eficaz na solução das
falhas observadas.

Ainda no tema da segurança, temos uma reportagem mostrando como a análise preliminar de risco é
cada vez mais adotada em projetos de obras e operações portuárias, com a contribuição da expertise
da praticagem.

E, depois do simulador da Praticagem de São Francisco na última edição, apresentamos o centro de


simulações de manobras da Praticagem do Rio de Janeiro, instalado em abril. O espaço de treinamento
recebeu a visita do atleta da canoagem Isaquias Queiroz, logo após ele trazer a medalha de ouro dos Jogos
de Tóquio. Você confere como foi a recepção nas páginas a seguir.

Por fim, continuando nossa série sobre as zonas de praticagem, visitamos a histórica Praticagem da Barra do
Rio Grande (RS), de onde vem o patrono da nossa atividade, Francisco Marques Lisboa, pai de Joaquim
Marques Lisboa, o Almirante Tamandaré. Se no passado ele e seus contemporâneos ajudaram a desbravar a
barra que recebeu a alcunha de diabólica, até a construção dos molhes que diminuíram o risco da travessia,
hoje os práticos continuam colaborando para superar gargalos de infraestrutura e aumentar a eficiência das
operações no porto.

Boa leitura!
Otavio Fragoso é o editor responsável.
Conapra – Conselho Nacional de Praticagem

Av. Rio Branco, 89/1502 – Centro – Rio de Janeiro – RJ – CEP 20040-004


Tel.: 55 (­21) 2516-4479
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praticagemdobrasil.org.br

diretor-presidente do Conapra e vice-presidente da IMPA


Ricardo Augusto Leite Falcão

diretor vice-presidente
Otavio Augusto Fragoso Alves da Silva

diretores
Bruno Fonseca de Oliveira
João Bosco de Brito Vasconcelos
Marcos de Castro Alves

Rumos Práticos
planejamento
Otavio Fragoso/Flávia Pires/Katia Piranda

edição
Otavio Fragoso

redação
Rodrigo March (jornalista responsável)
MTb/RJ 23.386

revisão
­Maria Helena Torres

projeto gráfico e design


Katia Piranda

pré-impressão/impressão
DVZ Impressões Gráficas

capa
foto: Gustavo Stephan

As informações e opiniões veiculadas nesta


publicação são de exclusiva responsabilidade de
seus autores. Não exprimem, necessariamente,
pontos de vista do Conapra.
índice

6 Conheça a Zona de Praticagem


de Rio Grande
6
16 Fundador de #dangerousladders
escreve sobre alçapões

20 Um panorama mundial das


escadas com alçapão

23 Prático Marcio Fausto propõe


28
checklist antes do embarque

28 Análise de risco é incorporada


em projetos

32 Confira o centro de simulações


do RJ

34 Isaquias Queiroz visita


a praticagem

34
6 praticagem no Brasil

Novos
obstáculos
na barra
outrora
diabólica
Além das condições ambientais
adversas, práticos em Rio Grande
contornam desafios estruturais
e contribuem para o melhor
semestre da história do porto
foto: Gustavo Stephan

MANOBRA ESPECIAL DE ENTRADA NO DIQUE


DO ESTALEIRO RIO GRANDE
praticagem no Brasil 7
8 praticagem no Brasil

PRÁTICO IRUÁ

CRUZAMENTO NA SAÍDA DOS MOLHES DA BARRA


praticagem no Brasil 9

Os turistas que percorrem a barra do Rio Grande em vagonetas –


carrinhos à vela que correm sobre trilhos nos molhes – não imagi-
nam que um dia ela foi chamada de barra diabólica. Transpô-la era
uma enorme dificuldade até o início do século XX, quando foram
construídos os molhes visando impedir o acúmulo de sedimentos
vindos dos rios que desembocam na Lagoa dos Patos. Apesar do
risco da travessia, entre 1846 e 1882, muito menos de 1% dos
navios que entraram no porto foram perdidos, graças à experiência
de práticos que tiveram como precursor Francisco Marques Lisboa,
patrono da Praticagem do Brasil. A bordo de catraias (pequenos
barcos), eles guiavam as embarcações entre bancos de areia, em
época na qual a profundidade na barra não ultrapassava os quatro
metros. Hoje, o canal interno tem 16 metros, mas os desafios para
promover a eficiência portuária com total segurança permanecem.

No fim de agosto, Rumos Práticos visitou a zona de praticagem 19,


onde acompanhou por dois dias esse trabalho. Fora dos molhes,
o canal externo possui 18 metros e prolonga-se por seis milhas
náuticas. O canal interno se estende até a entrada do porto novo
(público), passando por terminais privados que operam contêi-
neres, granéis agrícolas, fertilizantes, cargas petrolíferas e petro-
químicas – mais de 25% do PIB do Rio Grande do Sul. Além disso,
existe um estaleiro em cada margem. Em 2020, o Porto do Rio
Grande movimentou 38.090.430 toneladas. No primeiro semestre
de 2021, foram 20.805.726 toneladas, crescimento de 4,43% na
comparação com o mesmo período, sendo o melhor da história
mesmo em pandemia.

Na linha de frente dessa operação estão 24 práticos que realizam


entre 4.500 e 5.000 manobras/ano, considerando entradas, saídas e
movimentações internas. O primeiro desafio citado por eles diz res-
peito às condições meteorológicas, especialmente no inverno. Rio
Grande é o primeiro porto pelo qual passam as frentes frias, sempre
mais intensas. Rumos Práticos trouxe tempo bom na sua visita.

– A meteorologia é muito severa conosco, tanto nas manobras dos


navios quanto no nosso embarque e desembarque. Usamos veloci-
dades bem elevadas para o embarque e desembarque, temos cor-
rentes fortes no canal e muitas vezes manobramos com ventos
intensos, senão o porto para – explica o prático Bernardo Campos.

Para enfrentar o mar e garantir o atendimento em situações mais


restritas, a praticagem conta com lanchas velozes, modernas e
dotadas de equipamentos no estado da arte. São quatro lanchas
para navegação fora de barra e uma de porto (interna). Mestre
Valdenir Lopes, conhecido como Pinto, é um dos pilotos. Ele
trabalha embarcado desde 1971:
foto: Gustavo Stephan

– O embarque mais difícil é quando ocorre uma mudança repentina


na direção do vento. Mas nós estamos acostumados.

A praticagem também investiu em um medidor de correntes


marinhas e em uma estação meteorológica 24 horas. Já para
10 praticagem no Brasil

auxiliar as manobras de giro de grandes navios foram adquiridos


portable pilot units (PPUs), que fornecem informações mais
precisas sobre o posicionamento das embarcações.

Desde 2012, o porto opera com contêineros de até 340 metros de


comprimento. Os investimentos da praticagem em tecnologia e
batimetria (sondagem do fundo) são o que permite girar navios
desse tamanho em um canal interno com largura de 230 metros,
porque fora dele não houve dragagem. Ainda assim, há um limite
para o carregamento das embarcações: para navios com compri-
mento superior a 306 metros e até 340 metros, são 11,20 metros
de calado. Em junho de 2020, foi feita a primeira manobra com giro
noturno. O prático Rodrigo Linck participou da faina no navio
Kota Pemimpin, de 330 metros:

– Aquele navio já escalava em Rio Grande, mas só eram permitidos


giros diurnos. Após anos de experiência, acreditamos que, com o
equipamento adequado (PPU) e sob certas condições meteorológi-
cas, seria possível executar essa manobra à noite. Tive a felicidade
fotos: Gustavo Stephan

de fazê-la com o prático Reginaldo Pantoja.

No porto novo, a Ilha do Terrapleno (formada no passado por sedi-


mentos de dragagem) impossibilita o giro no canal mais estreito.

– Os navios precisam entrar ou sair de popa, o que torna a manobra


mais complicada se somada às condições meteorológicas extre-
mas que temos – observa o prático Guido Cajaty.

No Estaleiro Rio Grande, sua posição transversal ao canal também


torna a manobra delicada, pois toda corrente, seja de vazante ou
enchente, atua no través do navio que entra ou sai do dique.
Rumos Práticos assistiu à entrada para reparos da embarcação de
estimulação de poços Siem Helix 1, uma faina que durou quase
quatro horas, sem uso de máquinas, com emprego exclusivo
de quatro rebocadores. O estaleiro estava parado havia cinco anos.
O prático Andre Cola foi responsável pela manobra planejada pelo
secretário executivo da praticagem, Pedro Luppi.

Os últimos pontos de atenção na zona de praticagem (ZP) se encon-


tram fora de barra. O balizamento do canal externo não foi concluído,
e após as obras de prolongamento dos molhes, em 2011, os braços
leste e oeste foram alinhados, deixando as embarcações sujeitas a
outra corrente transversal durante a guinada na boca da barra, muito
forte com vento sul. Se essa corrente chega a quatro nós, o porto é
fechado. Para graneleiros carregados (acima de 13,20 metros de
calado), o limite é de 2,5 nós. A praticagem faz uma estimativa da
correnteza no local por extrapolação e estuda instalar ali um cor-
rentômetro transversal. Outros investimentos em andamento na ZP
se voltam para a previsão de ondas, nevoeiros e níveis de maré.

O superintendente dos Portos do Rio Grande do Sul, Fernando


Estima, diz que a praticagem tem sido fundamental para superar
os desafios:
praticagem no Brasil 11

– Todas as informações mais técnicas, em virtude de não termos


VTMIS (Sistema de Informação e Gerenciamento do Tráfego de
Embarcações), quem oferta é a praticagem, indo além do seu papel
ao compartilhar os dados com as autoridades Portuária e Marítima.

Ele informa que pretende fazer uma contratação diferente para


dotar o porto de VTMIS:

– Não vamos adquirir os equipamentos. Estamos criando uma


parceria com a Furg (Universidade Federal do Rio Grande) para ter
uma área permanente de desenvolvimento de tecnologias de sina-
lização náutica. Dessa forma, vamos arrendar somente as informa-
ções da empresa que queira desenvolver as tecnologias aqui,
fazendo do canal do Rio Grande um laboratório contínuo de melho-
rias por meio de pesquisas.

Depois da dragagem do canal de acesso, encerrada em outubro de


2020, já há sinais de assoreamento. A Autoridade Portuária
promete contratar uma dragagem de manutenção para ser iniciada
até o início de 2022, enquanto a modelagem de concessão do
canal dos Portos do Paraná está em estudo pela Empresa de
Planejamento e Logística (EPL). O modelo para um serviço de dra-
PRÁTICO BERNARDO CAMPOS gagem de longa duração servirá de base para outros portos.
ORIENTANDO O COMANDANTE MOON
Sobre a necessidade de uma bacia de evolução para o giro dos
grandes navios, o superintendente afirma que o projeto está em
licenciamento no Ibama e que a área vai atender aos terminais de
PRÁTICO RODRIGO LINCK, grãos (Termasa e Tergrasa) e contêineres (Tecon):
O PRIMEIRO A REALIZAR UM GIRO
DE CONTÊINERO À NOITE – O Tecon vai fazer o investimento em troca da expansão do seu
arrendamento.

O capitão dos Portos do Rio Grande do Sul, comandante Cláudio


Silva, ressalta que tem sido muito proveitosa a sinergia com a
praticagem, que, segundo ele, lhe aponta os gargalos portuários:

– Os práticos são grandes assessores e me ajudam bastante indi-


cando os problemas de infraestrutura e atuando diretamente nesse
movimento, recente em Rio Grande, de estabelecimento de novos
parâmetros operacionais.

Em setembro, estão previstas simulações na Furg para homologa-


ção de calado e entrada de novos navios no canal, incluindo os de
366 metros de comprimento. A Praticagem da Barra do Rio Grande
está preparada para mais esse desafio por vir. Mais da metade dos
práticos treinaram em simulador e em modelos tripulados reduzi-
dos, que reproduzem o comportamento das megaembarcações.

SÉCULOS DE SUPERAÇÃO

A praticagem é uma atividade milenar, tendo em Rio Grande os


primeiros registros antes do Império. O serviço foi oficializado
quando chegou ao Brasil, vindo de Portugal, em 1775, Francisco
12 praticagem no Brasil PRÁTICO ANDRE COLA
DURANTE MANOBRA
DE GASEIRO

Marques Lisboa, que se estabeleceu como comerciante na então


vila do Rio Grande e lá percebeu a importância de dotar a região de
um serviço de praticagem. Ele foi o primeiro prático nomeado por
um vice-rei e exerceu a função de patrão-mor da vila até 1832,
quando encerrou suas atividades. Foi por seu intermédio que
Joaquim, um dos 12 filhos, tomou gosto pelo mar e ficou conhecido
como Almirante Tamandaré, patrono da Marinha do Brasil.

Francisco Marques Lisboa teve participação na construção, em


1820, da torre de observação da praticagem, em São José do
Norte, de onde era içada uma bandeira que sinalizava aos práticos
a chegada dos navios. A atalaia funcionou até 1972, sendo hoje
local de visitação mantido pelo Conselho Nacional de Praticagem.
Em 2007, após sua restauração, foi palco da cerimônia de con-
cessão do título de patrono da Praticagem do Brasil a Lisboa.

PRÁTICO GUIDO CAJATY


EM MANOBRA DE
SAÍDA DE GRANELEIRO
DO PORTO NOVO
fotos: Gustavo Stephan

A ANTIGA TORRE DE OBSERVAÇÃO DA PRATICAGEM


praticagem no Brasil 13

Os práticos daquele tempo foram essenciais para desbravar a


barra, que recebeu, no século XVIII, a alcunha de diabólica, em
função da existência de bancos de areia. Em 1875, o engenheiro
inglês John Hawkshaw, contratado para analisar a situação
portuária no Brasil, foi o primeiro a considerar a construção dos
molhes solução para o acúmulo de sedimentos. As medições que
ele fez constataram que a profundidade da barra chegava a, no
máximo, 3,90 metros. Em 1882, a praticagem relatou 100 navios
parados há mais de três meses, impossibilitados de entrar ou sair
devido ao problema no acesso.

Foi com o engenheiro Honório Bicalho, em 1883, que o projeto dos


molhes deslanchou. Ao desembarcar em Rio Grande, ele confirmou
a construção como saída para desobstruir a passagem.

– Quando o vento sul sopra muito tempo, a água do mar começa a


subir na frente dos molhes e invade a Lagoa dos Patos, no fenô-
meno de maré de enchente. Quando o vento vira para nordeste,
começa a empurrar a água de volta e começa a vazante, às vezes
chegando a seis nós de corrente. Ao afunilar a passagem, os
molhes aumentam a velocidade da água vazante e impedem o
assoreamento – explica o secretário executivo da praticagem,
Pedro Luppi.

Já durante a construção dos molhes, em 1912, a profundidade


aumentou para 4,50 metros. Em 1915, o navio-escola Benjamin
Constant cruzou a barra em direção ao porto novo, com calado de
6,35 metros, estreando uma das maiores obras de engenharia
marítima do mundo. Naquele mesmo ano, inaugurava-se a primeira
parte das obras do cais. Toda essa história é contada em detalhes
no livro Sonhos de pedra, de Klécio Santos.
fotos: Gustavo Stephan

foto: Gustavo Stephan

SECRETÁRIO EXECUTIVO DA PRATICAGEM, PEDRO LUPPI


14 praticagem no Brasil

SAÍDA DE POPA DO GRANELEIRO YASA JUPITER.


À DIREITA, A ILHA DO TERRAPLENO
praticagem no Brasil 15

foto: Gustavo Stephan


16 artigo

Plataformas de embarque
inadequadas
Arie Palmers

FIGURA 1
artigo 17

Bom dia,
REGULAMENTAÇÕES
APLICÁVEIS
meu nome é Arie Palmers, trabalho como prático de navios na
região de Scheldt desde 2008. Depois de ter sofrido dois acidentes
com ferimentos leves em uma semana de 2018, comecei a me
perguntar como isso teria acontecido, pois me considero cauteloso Solas cap. V reg. 23 3.3.2.1: No caso de um arranjo combinado
e sempre atento à segurança. Comecei a interessar-me por arran- usando uma escada de portaló com um alçapão na plataforma infe-
jos de embarque e desembarque de prático (PTAs) e passei a os rior (ou seja, plataforma de embarque), a escada de quebra-peito e
registrar a partir de maio de 2018, e continuo até o momento. Para os cabos de segurança laterais devem ser armados passando pelo
minha surpresa, descobri que mais de 50% dos PTAs não estão em alçapão que se estende acima da plataforma até a altura do corrimão.
conformidade e, portanto, são perigosos. No dia 30 de dezembro
de 2019, um colega de Sandy Hook sofreu um acidente fatal Solas cap. V reg. 23 3.3.2: ... de modo a garantir que a extremidade
enquanto tentava embarcar em um navio contêinero com uma inferior da escada de portaló e a plataforma inferior sejam manti-
plataforma de embarque inadequada (também conhecida como das firmemente contra o costado do navio...
alçapão). Recentemente entrei em contato com a equipe da Rumos
Práticos, e discutimos a possibilidade de escrever algo sobre esses IMO A. 1045 (23) 3.7: ... e a escada deve se estender acima da
alçapões. Neste artigo, gostaria de explicar algumas coisas sobre plataforma inferior até a altura do corrimão e permanecer alinhada
esses tipos de PTAs, o que procurar e o que fazer quando você com o costado do navio.
encontrar um alçapão inapropriado.
IMO A.1045 (23): O alçapão deve abrir para cima e ser preso na
O PTA que atende pelo nome oficial de “plataforma de embarque”, plataforma de embarque ou contra os trilhos na extremidade tra-
mais conhecido pelo pseudônimo “alçapão” em certas versões que seira do lado externo e não deve fazer parte do corrimão.
descreverei neste artigo foram declarados inadequados desde
2012 no Solas cap. V reg. 23 e na IMO A. 426 desde 1979. O que Essas regras nos informam como um alçapão deve ser construído e
significa que a IMO já os considera inseguros há 42 anos, e eles posicionado de acordo com a regulamentação atual. Além disso, o
ainda estão por aí... O que deu errado? Solas cap. V reg. 23 também menciona no item 2.1 em relação à
segurança: "Todos os arranjos usados para a transferência do
Na figura 1, no estilo do conhecido “pôster da escada do prático”, prático devem cumprir eficientemente seu propósito de permitir
você vê uma plataforma de embarque que atende a todos os requi- que os práticos embarquem e desembarquem com segurança." 3.1:
sitos e recomendações atuais em vigor. Adiante mostrarei as dife- "Devem ser fornecidos arranjos para permitir que o prático
rentes regras no momento vigentes para esse sistema. embarque e desembarque com segurança em qualquer um dos
lados do navio." Basicamente, quando alguém morre tentando usar
A figura 2 também mostra uma plataforma de embarque totalmente um alçapão inadequado, ele nunca pode ser considerado seguro…
compatível e que foi considerada segura pela IMO e Solas para uso
no embarque e desembarque de embarcações. Independentemente dos regulamentos, encontramos com regula-
ridade alçapões perigosos, e gostaria de relembrar novamente o
foto: arquivo pessoal

trágico acidente em Sandy Hook em 2019. A foto da figura 3,


adiante, mostra o PTA que matou nosso colega americano. Ao
chegar ao topo da escada, é preciso inclinar-se para trás e, usando
os braços, puxar-se pelo vão da plataforma... a cerca de cinco
metros acima do nível do mar. Essa estrutura foi homologada pelo
USCG, mas, como podemos ver, não é compatível. Aprovado por
classe não significa necessariamente seguro e apropriado.

- A escada é suspensa sob a plataforma, e o prático deve se puxar


pelos braços e girar 90 graus para alcançar a plataforma. Tudo o
que ele tem para se segurar são alguns tubos de aço.

- A escada e a plataforma de acesso não estavam presas ao casco


do navio, conforme exigido.

- Os tubos de aço nos quais você tem que se segurar a fim de se


puxar podem ser escorregadios quando molhados, então é fácil
FIGURA 2
18 artigo

perder o controle quando você está se inclinando para trás,


tentando subir na plataforma, e foi exatamente isso que aconte-
ceu. Pouco antes de o prático cair, ele gritou para a tripulação do
lançamento: “Pessoal, isso está errado, preciso de ajuda…”
fotos: arquivo pessoal

FIGURA 4

Na foto da figura 4 você pode ver que a escada foi montada atrás
de uma viga de aço, impedindo o acesso desobstruído, o que
FIGURA 3
significa que não está em conformidade.

Os navios construídos antes de 2012 muitas vezes afirmam que seu Outro exemplo de alçapão desconforme na figura 5; esse, em
PTA deve ser considerado sob a chamada cláusula de anterioridade particular, também tem a escotilha abrindo para o lado errado: ao
descrita no Solas cap. V reg. 23 item 1.3. Basicamente, eles estão chegar ao topo da escada, você terá que se levantar pendurado
afirmando que não precisam montar um PTA seguro e compatível nessa escotilha que foi presa apenas por dois pequenos pinos.
por causa de uma lacuna no regulamento.
Felizmente, nem tudo dá errado. Estive em extensivo contato com
O antecessor do Solas cap.V reg. 23 é a Resolução MSC.99 (73) a Maersk e a MSC, que agora estão no processo de reforma de
que no item 2.1 declara, assim como seu sucessor: “Todos os todos os seus alçapões desarmônicos. A Maersk também emitiu
arranjos usados para a transferência do prático devem cumprir um aviso de segurança, depois de nos reunirmos com eles, decla-
eficientemente seu propósito de permitir que os práticos em- rando que os alçapões antigos não eram confiáveis. O da MSC
barquem e desembarquem com segurança”. está quase concluído, e a Maersk está procurando um espaço no
pátio para substituir os alçapões antigos por um design total-
Já em 1979 a IMO declarou inseguro esse sistema específico na mente novo e testado. Novamente, essas empresas estão lide-
IMO A.426, 9: “Se um alçapão for instalado na plataforma inferior, rando o caminho para a segurança.
a abertura não deve ser inferior a 750mm x 750mm. Nesse caso, a
parte posterior da plataforma inferior também deve ser cercada, Recentemente, embarquei em um navio da OOCL com um alçapão
como no parágrafo 6, e a escada do prático deve se estender acima desconforme e me recusei a trazê-lo para o mar (Figura 6).
da plataforma inferior até a altura do corrimão.”
Expliquei ao capitão e à tripulação o que precisava ser feito para
A IMO A.426 foi sucedida em 1999 pela IMO A. 889 (21) que afirma convertê-lo em um arranjo compatível, e, algumas horas depois,
exatamente o mesmo que a IMO A.426 em seu item 3.7. E em 2012 todo o trabalho estava feito, e a embarcação partiu. Agora, a
essa resolução foi seguida pela IMO A.1045 (27), que está em vigor OOCL também está analisando os PTAs em sua frota para torná-
até hoje. los compatíveis.

Embora esses tipos de alçapão tenham sido proibidos pela IMO há A foto da figura 7 mostra o alçapão adaptado, que agora é total-
42 anos, ainda os encontramos nos dias de hoje, infelizmente, mente compatível às normas. São apenas algumas horas de traba-
como você pode ver nas fotos seguintes, recentemente tiradas. lho para mudar de perigoso para seguro.
artigo 19

FIGURA 5 FIGURA 7

Com relação à conformidade, no início deste ano eu tive contato


com as Bahamas, e, como resultado, eles agora estão conduzindo
uma campanha de inspeção centrada a todos os navios de ban-
deira das Bahamas. Pode ser feito, mas enquanto continuarmos
subindo, eles continuarão a existir. Todo prático tem o direito fun-
damental de rejeitar um PTA perigoso. Não precisamos colocar
nossas vidas em risco porque uma empresa de navegação reluta
em cumprir os regulamentos atuais.

Arie Palmers
fotos: arquivo pessoal

É PRÁTICO NA REGIÃO DE SCHELDT


(HOLANDA) E COAUTOR DO GRUPO
#DANGEROUSLADDERS NO FACEBOOK
FIGURA 6
20 segurança

AUMENTA A PRESSÃO MUNDIAL


CONTRA IRREGULARIDADES EM
ESCADAS COM ALÇAPÃO
No Brasil, praticagem vem produzindo relatórios que
subsidiam denúncias e recusas de embarque
Desde a morte do prático de Sand Hook (Nova York) Dennis escadas combinadas com alçapão, a escada de quebra-peito deve
Sherwood, que caiu de uma escada com alçapão (trapdoor) em estar firmemente apoiada no costado e se estender pelo alçapão,
2019, a praticagem mundial vem se mobilizando para acabar com sem qualquer estrutura sobreposta, até a altura do corrimão da
as irregularidades nesse meio de acesso aos navios. escada de portaló.

De acordo com a Convenção Internacional para a Salvaguarda da


Vida Humana no Mar (Solas), complementada pela Resolução
A.1045 da Organização Marítima Internacional (IMO), no caso de ARRANJO DO MAERSK MEMPHIS
QUE ESTAVA IRREGULAR

FOTO: ALEXANDRE ROCHA


segurança 21

Após a queda de Sherwood do navio Maersk Kensingnton, cuja A Autoridade do Canal do Panamá, por sua vez, avisou a agentes
escada de quebra-peito não estava nivelada com o corrimão, a marítimos, empresas de navegação e operadores que arranjos
American Pilots’ Association pediu às autoridades estaduais de irregulares podem acarretar atrasos na travessia até que sejam
praticagem que lembrem aos práticos e à comunidade marítima corrigidos. Já a Autoridade Marítima das Bahamas emitiu alerta
sobre a possibilidade de recusa de embarque em meio fora dos técnico informando o início de uma campanha de inspeção, de
padrões. No Canadá, a Pacific Pilotage Authority fez lembrete julho a dezembro, em todas as embarcações do país. Será checada
semelhante à indústria. a conformidade de 45 itens, bem como o treinamento obrigatório
da tripulação a respeito.

O MESMO ARRANJO DO MAERSK MEMPHIS Em fevereiro de 2021, práticos de


Londres se recusaram a embarcar no
ADAPTADO APÓS INTERVENÇÃO DA PRATICAGEM
navio Maersk Kingston (da mesma
classe do Maersk Kensingnton), que
preferiu seguir viagem para o próximo
porto, em Roterdã. O presidente da
United Kingdom Maritime Pilots’
Association, Mike Morris, informou
que a posição firme de seus membros
trouxe resultados positivos. Após o
episódio, a Maersk publicou um
alerta de segurança para que suas
embarcações corrijam as falhas nas
instalações com alçapão.

No Brasil, o Conselho Técnico do


Conselho Nacional de Praticagem
(Conapra) apresentou um guia para
ajudar os práticos a identificar os
problemas envolvendo trapdoor. O
trabalho foi enviado para a Diretoria
de Portos e Costas da Marinha (DPC),
Associação Brasileira de Armadores
de Cabotagem (Abac), Federação
Nacional das Agências de Navega-
ção Marítima (Fenamar), Transpetro
e Sindicato Nacional das Empresas
de Navegação Marítima (Syndarma).

Por ser comum o tráfego de embar-


cações da Transpetro no Rio de
Janeiro, a Praticagem do Rio, tam-
bém por intermédio do seu Conselho
Técnico, fez um documento comple-
mentar para a Capitania dos Portos
e a empresa, sugerindo medidas
alternativas temporárias até a ade-
FOTO: CEARÁ MARINE PILOTS

quação da sua frota. A subsidiária


da Petrobras alega que tem certifi-
cação de sociedades classificadoras,
que, no entanto, contrariam as normas
de segurança vigentes.
22 segurança

O diretor técnico da Praticagem do Rio de Janeiro, prático


Siegberto Schenk, entende que mesmo as regras atuais não garan-
tem que os arranjos com trapdoor sejam seguros, ao definir que a
escada de quebra-peito deve se estender até a altura do corrimão
da plataforma da escada de portaló. Na sua opinião, bastava que
o regramento repetisse o estabelecido para escadas combinadas
sem alçapão, que determina que a escada de quebra-peito se
estenda por dois metros acima da plataforma:

– Quando a escada se encerra no corrimão, os pés do prático ainda


não alcançaram a altura da plataforma de embarque. Já quando
ela está fixada dois metros acima da plataforma, basta ao prático
dar um passo lateral ao fim da subida, como acontece nas escadas
combinadas normais. Embora não sejam os ideais, os requisitos
mínimos para trapdoor devem ser cumpridos. O mais importante,
porém, não é se os dispositivos atendem ou não às condições, mas
se são, de fato, seguros.

Schenk ressalta que os problemas não se restringem à Transpetro


e conta que tem visto alguns arranjos adaptados, o que, segundo
ele, já é resultado dessa pressão mundial.

O Conapra divulgou ainda um artigo do prático de São Francisco do


Sul e Itapoá (SC) Marcio Fausto, no qual ele sugere um checklist
antes do embarque e aponta os principais pontos de inspeção para
cada arranjo.

O diretor técnico do Conapra, prático Bruno Fonseca, acredita que


houve avanços. Ele cita o caso, em Itajaí (SC), do navio Maersk
Memphis, que estava em desacordo com as regras sobre trapdoor.
O prático Alexandre Rocha comunicou o fato à Capitania dos
Portos, com base no primeiro guia produzido pelo Conapra. A
embarcação foi autuada, e o armador se comprometeu a repará-la
na próxima escala, em Santos (SP). Quando chegou em Pecém (CE),
já não havia mais inconsistências.

– Os comandantes são sensíveis e resolvem os problemas. A bem


da verdade, é que eles não sabem como está a escada, pois
não vão ao convés. Essa responsabilidade acaba ficando com o
contramestre, por delegação do imediato – diz Bruno, que vislum-
bra um futuro melhor nas operações de transbordo para os navios.

– Cada vez mais os práticos estão conscientes de que são respon-


sáveis por sua própria segurança, negando embarques, reclamando
com os comandantes e comunicando as falhas às Capitanias.
artigo 23

Stairway to
Heaven 111
OU “HIGHWAY TO HELL”

Marcio Fausto

foto: Site pilotladdersafety.com e acervo da RG Pilots


24 artigo

Não. Não se trata de uma discussão sobre religião ou rock’n roll. Ou se você prefere o Led Zeppelin ou AC/DC. Vamos falar sobre dispositivos
de embarque de práticos. Aquela interface entre a lancha e o navio. Aquele lugar no tempo e no espaço em que você não está nem na água
e nem a bordo, e, a depender das condições de preparo ou manutenção do arranjo, você será levado a um deles. Ou o dispositivo de embarque
será sua escada de jacó, que o levará ao seu paraíso, o passadiço, a manobra de praticagem ou ele será a malfadada escada que o condu-
zirá ao último círculo infernal de Dante na forma de homem ao mar.

Há um famoso pôster da IMPA, com ótimos desenhos resumindo os principais pontos a observar nos dispositivos de embarque constantes
da resolução A-1045 (27) da IMO e na Solas V/23. Esse pôster está afixado em todos os navios, o que não necessariamente garante seu fiel
cumprimento nem evita os mais variados e bizarros exemplos de improviso e desleixo. Há pequenos detalhes que escapam aos olhares menos
atentos e que são potenciais perigos. Vamos relembrar neste artigo alguns pontos a ser observados nos dispositivos e que podem evitar
acidentes ou o desgaste prematuro da escada.

PROCEDIMENTOS NECESSÁRIOS AO EMBARQUE DO PRÁTICO


De acordo com SOLAS V/23 e resolução A1045(27) da IMO
Tradução da NORMAM 05/DPC Anexo 3-C

A
MONTAGEM PARA NAVIOS ARRANJO COMBINADO PARA GUINCHO DA ESCADA
COM BORDA-LIVRE MENOR NAVIOS COM BORDA-LIVRE NÃO! DE PRÁTICO
Sem manilhas, sem nós,
OU IGUAL A NOVE METROS MAIOR QUE 9 METROS sem emendas

QUANDO NÃO HOUVER ACESSO PELO COSTADO NÃO!


Os degraus devem
BALAÚSTRE BALAÚSTRE
estar igualmente espaçados
DE PEGA Mín. 70cm
Máx. 80cm
Mín. Diâm. 32mm
Mín.120cm
NÃO! Balaústre
Os degraus devem ser Mín. 70cm Espaço livre
ACIMA DA AMURADA horizontais e as sapatilhas Máx. 80cm mínimo
devem estar firmemente Olhais 220cm
fixadas

NÃO! SEM
Travessões não OBSTRUÇÕES
ESCADA DE devem ser colocados Mín. 91.5cm
CABOS ADICIONAIS PRÁTICO entre os degraus
(sem nós) Deve se estender por
Mín. Diâm. 28mm pelo menos 2 metros ESCADA DE NÃO! Mín. 91.5cm
Máx. Diâm. 32mm acima do PORTALÓ Cabos laterais devem
SE EXIGIDOS patim inferior Firmemente segura ficar igualmente espaçados
PELO PRÁTICO TRAVESSÃO no costado
Mín. 180cm comprimento
Deve dizer para ré
NÃO! B
Escada deve estar Os degraus não devem
firmemente Inclinação máxima estar pintados, sujos
fixada contra de 45˚ ou escorregadios
CABOS o costado a Todo guincho de escada de prático
LATERAIS 1,5 metro acima deve possuir meios de prevenção de
MÁXIMO DE 9 DEGRAUS
Mín. Diâm. 18mm do patim da 0.5m ser operado acidentalmente.
Entre travessões
escada de
Patim
inferior
NÃO! Espaço livre
portaló horizontal Alças e cabos soltos mínimo Balaústre Em guinchos operados manualmente
TODOS OS apresentam um 220cm Mín. 70cm o freio e a trava devem estar
Mín. 40cm O patim 2m perigo para o Máx. 80cm prontos para operação.
DEGRAUS inferior deve embarque do
devem ficar estar no Marca de prático A alimentação do guincho deve ter
firmemente 31-35cm mínimo a
A escada de borda-livre um dispositivo operacional seguro
contra prático requer 5 metros
o costado recomendada para travar o guincho.
uma subida acima do mar de 9 metros
superior a 2m
1,5 metro e
inferior a Mínimo
9 metros Dois balaústres de pega rigidamente Tripulante em contato 91.5cm
POPA PROA fixados à estrutura do navio com o passadiço

Deve ser C Abertura no costado


um travessão

6 METROS Escada de Espaço livre


Balaústre
sem obstrução Mín. 70cm
Portaló mínimo
no costado ALTURA EXIGIDA Máx. 80cm
firmemente 220cm
PELO PRÁTICO A porta de acesso
fixada
no costado no costado para
transferência não
deve abrir para fora

(Usando olhal, 75cm


sistema 75cm
magnético
Mínimo
ou Escada de amurada fixada
91.5cm
pneumático) Boia salva-vidas com ao navio sem obstruções
lanterna automática nas proximidades

FIGURA 1
O primeiro deles a considerar ao fazer a inspeção prévia é entender que antes do embarque/desembarque, você; prático, está com sua
capacidade de avaliação um tanto prejudicada pela ansiedade. Há uma certa predisposição a manobrar ou a embarcar/desembarcar em
função das consequências de não os fazer. Essa ansiedade intrínseca à natureza humana pode nos deixar passar algum detalhe, por vezes
óbvio, sobre uma não conformidade no dispositivo de embarque, que só será percebido em um momento crítico: aquele tal momento que
mencionei, em que você não está na lancha nem a bordo...

Uma forma de mitigar esse possível prejuízo no julgamento é mentalizar ou afixar na lancha uma checklist com os principais itens a observar.
Outra boa ideia é envolver os tripulantes da lancha na tarefa de observação do dispositivo em busca de perigos potenciais. Os marinheiros,
não estando diretamente envolvidos no transbordo, podem enxergar esses erros com mais clareza.

Sem dúvidas, porém, a melhor forma de controlar essa ansiedade é entender que CANCELAR ou ADIAR o embarque faz parte do jogo, espe-
cialmente quando a sua vida está em risco. Todo prático tem o direito de declinar um arranjo que não esteja em conformidade com as normas.
artigo 25

POR ONDE ENTÃO DEVO e) Escada de portaló fixa no costado do navio, seja por nós ou dis-
positivos magnéticos ou pneumáticos. A escada de portaló não

COMEÇAR ESSA INSPEÇÃO deve estar amarrada à escada de prático.


f) Base da escada de portaló não obstruindo a escada de prático. O

OU CHECKLIST?
arranjo deve permitir a passagem do prático da escada para plata-
forma da escada de portaló sem dificuldades. Deve estar afastada
da escada de prático entre 10 e 20cm. Se você tiver alguma dificul-
A sugestão é observar o arranjo de baixo para cima e o subir com dade em fazer a transição da escada de prático para a escada de
os olhos, antes de subir efetivamente, quando será tarde demais. portaló, alguma coisa está errada!
Ou o contrário, na hipótese de desembarcar por mar tendo embar- g) Presença de apoio para as mãos (interno e externo) na base da
cado por terra. Vamos lá! escada de portaló.
h) Escada de prático se estendendo a pelo menos 2m acima da
Parte inferior do arranjo/escada de prático base da escada de portaló.
i) Espaçamento regular e paralelismo entre os degraus e travessas.
a) Distância da escada para a superfície do mar de acordo com o
solicitado. Parte superior do arranjo/chegada a bordo
b) Nenhum obstáculo como verdugos ou sobressaltos no costado
por uma extensão lateral de 6m centrada na escada. a) Presença de apoio para as mãos firmemente fixados no convés.
c) Estado geral de conservação dos quatro últimos degraus, que É bastante comum encontrarmos os apoios frouxos e com folgas
devem ser de borracha. nos encaixes.
d) Ausência de cabos soltos, nós ou “pinhas” na parte inferior da b) Embarque pelo convés principal e não por cima da balaustrada.
escada, com potencial para se enroscar na enxárcia da lancha. A es- c) Oficial do navio com um rádio em contato com o passadiço
cada deve terminar em um degrau e não ter “penduricalhos”. aguardando o prático. Essa comunicação com o passadiço pode ser
e) Presença de uma travessa no quinto degrau de baixo para cima. fundamental em caso de acidente.
f) Escada de prático rente ao costado do navio e não afastada em
função de verdugos ou sobressaltos no casco. Porta lateral (comum em grandes porta-con-
g) Espaçamento regular (entre 31 e 35cm) e paralelismo entre os têineres, navios de passageiros e suppliers)
degraus e travessas.
h) Estado geral de conservação da escada, dos degraus e travessas. a) A porta abre para dentro do navio.
b) Se houver plataforma (quando a escada de prático corre pela
Parte intermediária do arranjo em escadas lateral da porta), ela não deve oferecer risco de colisão com a enxár-
de prático (Borda-livre igual ou inferior a 9m) cia da lancha (deve estar a pelo menos 5m da superfície do mar).
c) A porta de embarque deve ter pelo menos 2,20m x 0,915m.
a) Espaçamento regular e paralelismo entre os degraus e traves-
sas, sem a presença de nós ou manilhas. Escadas arriadas por guincho/sarilho
b) Os degraus não devem estar pintados, com sinais de sujeira ou
oleosidade. a) O guincho/sarilho deve estar pelo menos 2,20m acima do convés
c) Escada rente ao costado do navio em toda sua extensão e não de embarque e afastado pelo menos 91,5cm.
afastada em função de verdugos ou sobressaltos no casco.
Alguns itens só conseguimos observar mais atentamente já du-
Parte intermediária do arranjo em escadas rante o embarque. Embora seja tarde demais para você, pode ser
combinadas (Borda-livre superior a 9m) oportuno observar e notificar o comandante. Lembre-se de que
você ainda vai desembarcar, e outros colegas também o farão pelo
a) Base da escada de portaló a pelo menos 5m da superfície do mar mesmo dispositivo. Esses itens são:
ou em distância superior com a finalidade de não colidir com a
enxárcia da lancha. Cuidado! Se o navio errar essa distância, pre- a) estado geral da escada quanto a emendas, nós e limpeza.
pare-se para coisas piores. É sinal de que o bom senso e o discerni- b) a escada não deve estar amarrada à balaustrada.
mento já desembarcaram. c) correta fixação da escada no convés. A fixação deve ser feita a
b) Plataforma da escada de portaló na horizontal. pontos rigidamente fixos no convés do navio e preferencialmente
c) Escada de portaló a menos de 45o. específicos para tal. A escada deve ser amarrada por nós pelos
d) Escada de prático firmemente fixada no costado do navio a 1,5m cabos laterais, entre dois degraus. É inaceitável amarrar/prender a
acima da base inferior da escada de portaló. escada por meio de encaixes de degraus ou travessas no convés ou
26 artigo

manilhas diretamente nos cabos laterais. Esse tipo de amarração

foto: Site pilotladdersafety.com e acervo da RG Pilots


é inadequado pois gera esforço em uma parte da escada que não é
feita para tal. O nó mais indicado para amarrar a escada ao ponto
de fixação no convés é a volta de fiel dobrada (rolling hitch).

FIGURA 4 − DISPOSITIVO EM DESACORDO.


NOTE QUE PARA PASSAR PELO ALÇAPÃO SERÃO
NECESSÁRIAS TÉCNICAS DE ALPINISMO...

FIGURAS 2 E 3 − ESCADA CORRETAMENTE FIXADA


AO CONVÉS POR NÓS

Escadas combinadas do tipo trapdoor


Trapdoor em inglês significa alçapão. Ao ouvir essa palavra vem à
mente aqueles desenhos animados em que abaixo dos alçapões há
uma piscina com crocodilos ou tubarões, o que no nosso caso é
bastante sugestivo se o dispositivo estiver em desacordo com as
recomendações.

Infelizmente em 2019 perdemos um colega, o prático americano


Denis Sherwood, que caiu ao embarcar no Maersk Kensingtoon com
um dispositivo desse tipo que estava inadequado à legislação vigente.
FIGURA 5 − DISPOSITIVO CORRETAMENTE INSTALADO
O mais importante a observar nesse dispositivo é a transição da
escada de prático para a escada de portaló. A escada de prático Enquanto não inventarem nada melhor e com custo acessível para
deve se estender até a altura do corrimão da plataforma inferior da o transbordo do prático da lancha para bordo dos navios, os dis-
escada de portaló. O objetivo é que o prático possa atravessar a positivos de embarque com escadas de prático e arranjos combina-
plataforma com alçapão de maneira desobstruída e então passar dos continuarão como parte da nossa rotina.
da escada de quebra-peito para a plataforma inferior da escada de
portaló em vez de puxar a si mesmo ao longo do alçapão. Até lá, não piorar o que está padronizado será uma meta sensata
e plausível a ser alcançada, não sem um esforço dos principais
Infelizmente alguns navios mais antigos que frequentam nossa interessados (nós!!!) em alertar e orientar tripulações, comandan-
costa ainda possuem esse tipo de dispositivo em desacordo com as tes, empresas de navegação e autoridades quanto às discrepân-
recomendações. Embora os armadores conheçam o problema e cias observadas e aos potenciais perigos.
estejam providenciando as readequações, o ritmo das correções
das discrepâncias pode fazer de um de nós a próxima vítima. Se o dispositivo de embarque nos levará ao paraíso ou ao inferno,
Solicitar que o navio utilize a escada de portaló principal combi- não será por um critério de fé, mas por um exercício permanente
nada com a escada de prático pode ser uma solução para evitar o de vigilância e assertividade.
dispositivo irregular.
A propósito, eu prefiro o Led Zeppelin...
artigo 27

HALL DA INFÂMIA
foto: Site pilotladdersafety.com e acervo da RG Pilots

BASE DA ESCADA DE
PORTALÓ A MENOS DE
5M: ESPECIALMENTE A AMARRAÇÃO
AJUSTADA PARA BASE DA ESCADA DE INCORRETA COM
TODO O ESFORÇO
DESTRUIR A ENXÁRCIA PORTALÓ OBSTRUINDO MANILHAS É A CAMPEÃ!
APLICADO EM UM
OU CORTAR A CABEÇA A ESCADA DE PRÁTICO: NÃO SE ENGANE,
DEGRAU DE MADEIRA
DO PRÁTICO... SE O PRÁTICO ESTÁ ERRADO,
QUE NÃO FOI
TRABALHAR NO PROJETADO PARA ISSO POIS DA MESMA
CIRQUE DU SOLEIL, MANEIRA APLICA
NÃO TERÁ DIFICULDADES ESFORÇO INDESEJADO
NA ESCADA.
É A PRINCIPAL SUSPEITA
QUANDO A ESCADA
APRESENTA ESPAÇA-
MENTOS IRREGULARES
ENTRE DEGRAUS...

A ESCADA DE PRÁTICO
DEVE SE ESTENDER A
PELO MENOS 1,5M
ABAIXO DA BASE DA
ESCADA DE PORTALÓ.
Marcio
VOCÊ NÃO DEVE SUBIR Fausto
MENOS QUE 1,5M E NEM
É PRÁTICO NA ZONA
MAIS DE 9M EM UMA PELO MENOS
DE PRATICAGEM DE
SUA VIDA EM ESCADA DE PRÁTICO VOCÊ NÃO VAI GIRAR SÃO FRANCISCO DO SUL
UMA TRAVESSA (QUEBRA-PEITO)! NO SENTIDO HORÁRIO... E ITAPOÁ (ZP-18)
28 segurança

PROJETOS DE OBRAS E OPERAÇÕES


PORTUÁRIAS INCORPORAM A
ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCO
Laboratório da Universidade A atividade de análise de risco se apoia na opinião de especialis-
tas. Estão entre eles os práticos, comandantes de navios, coman-
de São Paulo torna-se dantes de rebocadores, projetistas de terminais e outros profis-
sionais, além dos pesquisadores do LabRisco.
referência para avaliações – Em função do seu conhecimento profundo das condições locais
dos empreendimentos de navegação, os práticos desempenham um papel muito impor-
tante durante a análise, contribuindo com seu discernimento em
relação a vários tipos de eventos de perigo, suas chances de ocor-
A análise preliminar de risco ganha cada vez mais relevância em rência e potenciais consequências. Eles participam ainda das simu-
projetos de empreendimentos portuários e operações que afetam lações real-time (imersivas e em tempo real), que proveem infor-
a navegação em águas restritas. No Brasil, o Laboratório de mações importantes para a consolidação do trabalho – explica o
Análise, Avaliação e Gerenciamento de Risco (LabRisco) da professor Marcelo Ramos Martins, do LabRisco.
Universidade de São Paulo (USP) já desenvolveu uma dezena de
trabalhos para empresas e tem outros em andamento. Estudioso do assunto, o diretor técnico da Praticagem do Rio de
Janeiro, prático Siegberto Schenk, observa que esse tipo de análise
Esses trabalhos são realizados em conjunto com simulações, tanto é fundamental porque os riscos são vistos de uma forma mais estru-
para obras de um porto ou terminal quanto para operações como
aumento no porte de embarcações e novas rotas fluviais. Eles
apontam os principais eventos de perigo, classificando-os de acordo
com o nível de risco (tolerável, moderado ou não tolerável) e auxili-
PRÁTICO SIEGBERTO SCHENK
ando na proposição de medidas de mitigação e contingência.
foto: Daniel Werneck

De acordo com o LabRisco, as análises resultam, por exemplo, na


modificação do perfil de canais de acesso (via dragagem comu-
mente), a fim de reduzir as chances de encalhe e minimizar suas
consequências; na definição de rotas preferenciais para comboios
e navios, com o objetivo de diminuir as possibilidades de abal-
roamento; e na sugestão do uso de lanchas batedoras a fim de
liberar o caminho para a passagem dos navios em regiões com
tráfego intenso de embarcações pequenas.

A aproximação do laboratório com as empresas aumentou com a


demanda das Normas da Autoridade Marítima para Obras, Dra-
gagem, Pesquisa e Lavra de Minerais sob, sobre e às Margens das
Águas Jurisdicionais Brasileiras (Normam-11/DPC). Além disso,
colaborou para a evidência do tema o trabalho inicial com a prati-
cagem – que investigou a contribuição do fator humano para o
risco nas manobras – e a defesa, pelo Conselho Nacional de Prati-
cagem (Conapra) do planejamento dos projetos, preconizado pela
Associação Mundial de Infraestrutura de Transporte Marítimo (Pianc).
segurança 29

PORTO SUDESTE VAI RECEBER NAVIOS-TANQUE

foto: Porto Sudeste


turada, "inclusive usando simuladores para vislumbrar algumas
situações e verificar se as medidas de controle são adequadas":
PROFESSOR MARCELO RAMOS MARTINS
– É uma maneira de todos entenderem e falarem a mesma lingua-
gem sobre o que pode dar errado e como atuar para evitar.
foto: Daniel Werneck

Schenk lembra que uma das primeiras análises de risco no Brasil,


em 2009, precedeu o início da construção dos navios da classe
Valemax. O trabalho foi conduzido pela Fundação Homem do Mar,
do Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante. Na
época, foram levantados os cenários de perigo com potenciais
danos às instalações, às pessoas envolvidas na operação e ao
meio ambiente. Foram feitas 46 recomendações para o Porto de
Tubarão (ES), 40 para o Terminal de Ponta da Madeira (MA) e 47
para o Terminal da Ilha Guaíba (RJ).

Equipamento
de projetos é simula
a Porto Sudeste, manobras
Uma das empresas que adotou a análise de risco na implantação
em função de uma mudança deno
emergência,perfil
em condições ambientais
da carga. Instalado na Ilha da Madeira, em Itaguaí (RJ), o
porto foi projetado para o carregamento de granéis sólidos, mas
adversas e com grandes navios
movimentará também granéis líquidos, realizando operações ship
to ship em um dos dois berços existentes (no futuro, elas ocorrerão
em dolphins). Com isso, passarão a entrar no porto navios-tanque
30 segurança

de uma nova classe (Suezmax) carregados de óleo, e não apenas


graneleiros em lastro para carregar minério de ferro (Capesize).

O trabalho recomendou os limites de segurança para as manobras,


o padrão de aproximação na bacia de evolução, o tipo de reboca-
dores a empregar e até o momento de passar o cabo por eles.

– Toda a infraestrutura do porto já era adequada aos navios


Suezmax. O porto tomou essa iniciativa para que possamos antever
os riscos e mitigá-los. É uma prática que está se estabelecendo
como procedimento e que eleva a segurança como um todo.
Apesar de a Praticagem do Rio estar preparada e ser extrema-
mente capacitada para essas e outras manobras, cada local tem a
sua especificidade. E qualquer sinistro que interrompa a operação
é extremamente oneroso para o porto e a sociedade – afirma o
diretor de Operações Portuárias do Porto Sudeste, Guilherme
Caiado, acrescentando que a capacidade de resposta foi ampliada
em caso de emergência.

O professor Marcelo Ramos Martins ressalta que as análises são


sempre realizadas com base no conhecimento do grupo de espe-
cialistas no momento de desenvolvimento do projeto:

– Em etapas futuras, é importante a atividade de monitoramento,


que permite a atualização da percepção de risco à medida que
evidências surgirem no dia a dia de operação.

Outro passo importante no avanço da avaliação dos projetos por-


tuários é a formação de profissionais aquaviários, técnicos, proje-
tistas e representantes de órgãos reguladores. Por isso, o LabRisco
e o Tanque de Provas Numérico da USP, que conta com um centro
de simulações, planejam oferecer um curso sobre fundamentação
e aplicação da avaliação náutico-portuária para membros das
Capitanias dos Portos e da Diretoria de Portos e Costas (DPC) da
Marinha.

A Autoridade Marítima está atenta ao assunto. Em junho, a


Capitania dos Portos do Rio de Janeiro realizou um simpósio sobre
gerenciamento de risco em operações ship to ship, com represen-
tantes da DPC, da Companhia Docas do Rio e da praticagem.

Na frente de trabalho que focaliza a contribuição do fator humano


para o risco das manobras, o LabRisco trabalha agora no desen-
volvimento de um conjunto de performance influencing factors
(PIFs). São fatores que influenciam o desempenho humano e care-
cem de uma taxonomia específica para a praticagem, a exemplo do
que é feito em indústrias como a nuclear e aeronáutica. A intenção
é criar uma base de fatores que auxilie na melhoria dos modelos
existentes e permita a inserção de evidências empíricas, como
dados de acidentes e resultados de simulações real-time.

SIMULAÇÃO DA PONTE SALVADOR-ITAPARICA


segurança 31

PROJETOS CONCLUÍDOS

foto: Praticagem da Bahia


NO LABRISCO
Análise de risco associada à operação de novos tipos de
embarcações:
• Porto de Rio Grande (RS)
• Navegação de barcaças nas configurações 3x3, 3x4, 4x4 e 3x5
nos rios Madeira e Amazonas

Análise de risco para projetos de terminais portuários:


• Terminal Portuário do Novo Remanso (AM)
• Porto Guará (PR)
• Terminal de Granéis Líquidos da TLA em Abaetetuba (PA)
• TUP-ATEM Santarém (PA)

Avaliação de entrada de novos navios tipo e modificações


no canal de acesso:
• Porto Sudeste do Brasil (RJ)

Avaliação do risco associado à isenção de praticagem para


manobras específicas:
• Zonas de Praticagem 01 e 03

Projetos de ponte:
• Ponte Salvador-Itaparica e Porto de Salvador (BA)
foto: LabRisco

TRABALHO DE CAMPO
DO LABRISCO NO
PORTO DE SANTOS
32 inovação

MAIS UMA
PRATICAGEM
INSTALA CENTRO
DE SIMULAÇÕES
Simuladores da Praticagem do
Rio de Janeiro reproduzem
manobras em todos os portos e
terminais do estado, bem como
em seus canais de acesso

Aperfeiçoamento constante, inovação tecnológica e busca por


excelência profissional. Práticos do Rio de Janeiro já podem simu-
lar com precisão manobras de navios sob a influência de condições
ambientais específicas e em cenários desenvolvidos para todos os
portos e terminais que compõem a Zona de Praticagem do Estado
do Rio de Janeiro (ZP-15), além dos seus canais de acesso. A
Praticagem do Rio de Janeiro instalou em abril, anexado ao seu
centro de controle operacional, um centro de simulações de mano-
bras de alta tecnologia, com dois simuladores.

Assinou também, em julho, um termo de cooperação com o Tanque


de Provas Numérico da Universidade de São Paulo (TPN-USP), que
enviará dados das simulações de interesse que forem reproduzidas
no laboratório.

No centro de simulações do Rio, um dos equipamentos utilizados


pelos práticos é do tipo Full Mission. Com visualização do am-
biente externo em 240 graus, ele alterna modelos de diversos tipos
de navios, com controles para diferentes modos de propulsão,
incluído o azimutal.

O outro simulador, integrado ao primeiro, é do tipo Part Task. Com


visualização do ambiente externo em 90 graus, simula a ação de
um rebocador portuário com propulsão azimutal, comandado a
partir de uma poltrona com controles azimutais nos braços.
inovação 33

A integração dos dois simuladores permite ao prático interagir com


o comandante do rebocador durante a simulação da manobra.

O centro conta ainda com uma sala de controle e nele são gerados
diferentes tipos de fainas de praticagem, em qualquer porto, termi-
nal ou canal de acesso da ZP-15, assim como mais rebocadores e
outros navios para interação com o navio simulado. Todo o sistema
foi desenvolvido e instalado pela Technomar Engenharia Oceânica.

– O centro de simulações é empregado no treinamento de nossos


práticos, que podem realizar qualquer manobra que já executam no
mundo real, aprimorando sua expertise, inclusive em situações de
emergência como perdas de máquinas e leme. Também permite
rápida familiarização com novos navios que venham a operar na
nossa ZP, como os porta-contêineres de 366 metros de compri-
mento, e com novos terminais, canais ou berços que sejam desen-
volvidos – explica o presidente da Praticagem do Rio de Janeiro,
Marcello Camarinha.
fotos: Gustavo Stephan

COOPERAÇÃO
DA USP
Por meio da parceria com o TPN-USP, serão compartilhadas com a
Praticagem do Rio informações técnicas de interesse de mano-
brabilidade de embarcações e condições ambientais (ondas e cor-
rentes) nos casos em que o laboratório for contratado para análise
de manobras em área da ZP-15.

O laboratório da universidade é referência no país em simulações


de projetos de administradores ou operadores portuários, arma-
dores, empresas de transporte marítimo e afins. Esses estudos
contam sempre com a participação de práticos, tanto na condução
das manobras quanto na verificação e aferição dos modelos de
simulação.

– Todos os dados utilizados nas simulações, como os meteorológi-


cos e de calibração dos navios, serão fornecidos pelo TPN-USP
para carregamento nos simuladores da praticagem, possibilitando
o treinamento de todos os práticos da ZP e não só daqueles que
estiveram na USP – conclui Camarinha.
34 parceria

ISAQUIAS QUEIROZ: "PREFIRO FICAR


NA CANOAGEM, É MAIS SOSSEGADO"
Ouro olímpico em Tóquio, atleta retribui o apoio
da Praticagem do Brasil em visita ao Rio de Janeiro
Campeão olímpico no C1 1000 metros da canoagem velocidade, – A Olimpíada mostrou que o cidadão brasileiro acabou criando um
Isaquias Queiroz veio retribuir o apoio da Praticagem do Brasil, vínculo melhor com a canoagem. Isso deu mais visibilidade para o
uma de suas patrocinadoras. Ao voltar de Tóquio em agosto, logo meu esporte e para a minha dedicação. Aonde vou todos falam que
após desembarcar, o atleta conheceu a estação e o simulador de torceram muito por mim e que foi vibrante a minha vitória.
manobras da praticagem no Rio de Janeiro e acompanhou um
desembarque de práticos na Baía de Guanabara. Até o fim de outubro, o atleta vai descansar e ficar sem remar.
Depois, retomará de forma mais leve, engatando em ritmo de treino
Acompanhado da mulher, Laina Guimarães, ele foi recebido pelo mais intenso somente a partir de fevereiro. Em 2022, ele tem pela
vice-presidente do Conselho Nacional de Praticagem (Conapra), frente a Copa do Mundo, os Jogos Sul-americanos e o Mundial.
prático Otavio Fragoso, e pelos presidente e vice-presidente da Mas os Jogos Olímpicos de Paris são logo ali, em 2024, um ciclo
Praticagem do Rio de Janeiro, práticos Marcello Camarinha e mais curto em função do adiamento de Tóquio devido à pandemia.
Everton Schmidt, respectivamente.
Além do C1 1000 metros, Isaquias disputará o C2 500 metros, que
Isaquias pôde simular uma manobra de navio no centro de simulações: vai substituir o C2 1000 metros, prova em que terminou em quarto
lugar com Jacky Godmann. Se por um lado a preparação para o C2
– Deu um pouquinho de enjoo. Estou tonto ainda... (risos) Mas foi 500 metros é menos desgastante, por outro ele precisa se superar
uma experiência muito legal ver como é uma simulação de manobra. a cada ano que passa para se manter no topo.
Pela internet, parecia um jogo, mas a sensação é real, não é fake.
– Tenho que basear meu treinamento pelo ano anterior. Portanto,
Após a visita, o campeão embarcou em uma lancha de praticagem vou ter que remar mais que em 2021. Fica mais cansativo ainda
e assistiu ao desembarque de práticos de um navio porta- evoluir a cada ciclo. No barco de equipe, vamos tentar aproveitar a
contêineres, sem perder seu bom-humor característico: prova mais curta e ganhar velocidade para o C1 1000 metros –
explica o medalhista olímpico, que também é tricampeão mundial
– Eu prefiro ficar na canoagem, é mais sossegado. (risos) É uma no C1 500 metros.
profissão bem perigosa, tem que ter bastante coragem. E olha que o
mar não estava tão ruim. Nos dias piores, prefiro nem acompanhar... A manutenção da dupla formada a quatro meses dos Jogos com
Jacky Godmann, após a contusão do parceiro Erlon de Souza, em
Isaquias disse que a parceria com a praticagem abriu uma janela princípio está mantida, mas caberá ao técnico, ressalta o canoísta:
de conhecimento sobre a atividade, inclusive para ele:
– Fomos bem nos Jogos Olímpicos, foi uma disputa mais forte que
– Muitas pessoas não sabem como é o trabalho de um prático. nos Jogos do Rio. Mas a parceria vai ser decidida pelo treinador.
Até eu pensava que o comandante que traz o navio no alto-mar Há outros meninos vindo na seleção. Vai ser uma briga bonita.
fazia a atracação, quando, na verdade, é uma pessoa especializada.
Cada porto tem profundidades e correntes diferentes e exige uma Que venham mais medalhas e o sonho de Isaquias de se consagrar
pilotagem própria. o maior atleta do Brasil, superando os recordes dos velejadores
Robert Scheidt e Torben Grael, com cinco medalhas cada. A
Quando essa parceria começou, ele tinha 55 mil seguidores no Praticagem do Brasil se enche de orgulho desse apoio.
Instagram. Embalado pela conquista, ultrapassou os 500 mil, indo
ao encontro do seu propósito de tornar a canoagem mais conhecida,
assim como a praticagem:
fotos: Gustavo Stephan
36 rápido e prático

INFRAESTRUTURA

PRATICAGEM DO BRASIL PRESENTE

foto: Divulgação
EM MAIS UMA EDIÇÃO DO
FÓRUM BRASIL EXPORT
Patrocinadora do Fórum Nacional de Logística
e Infraestrutura Portuária (Brasil Export), a
Praticagem do Brasil esteve representada, por
intermédio do Conselho Nacional de Praticagem
(Conapra), em todas as edições regionais do
evento: Rio de Janeiro (RJ), Belém (PA),
Rio Verde (GO), São Luís (MA), Guarujá (SP)
e Rio Grande (RS). O fórum reúne os principais
interessados na superação de desafios do setor,
oportunidade em que a praticagem se mostra
parceira na busca de soluções. A edição
nacional do Brasil Export aconteceu nos dias
28 e 29 de setembro, em Brasília (DF).

INVESTIMENTO

PRATICAGEM DO AMAPÁ
VAI INSTALAR BOIAS
PARA PREVER MARÉS
NA BARRA NORTE
A Praticagem do Amapá vai instalar três boias
meteoceanográficas no arco lamoso da barra foto: Divulgação
norte do Rio Amazonas – trecho raso de 24
milhas náuticas que delimita o calado dos
navios na Bacia Amazônica. Com custo de
R$ 3,6 milhões, os equipamentos vão gerar
informações mais precisas para a previsão das
janelas de maré, fundamentais para que navios
mais carregados possam atravessar a barra
norte de forma segura. A instalação será o
pontapé para a implantação de um sistema de
calado dinâmico, a exemplo do existente no
Porto de Santos, que indicará o quanto os
navios podem transportar sem risco de tocar o
fundo. O anúncio foi feito durante a realização
do Norte Export, em Belém (PA).
rápido e prático 37

RECEPÇÃO

ALUNOS DA ESCOLA DE GUERRA NAVAL


VISITAM PRATICAGEM DE SÃO PAULO

foto: Divulgação
RESGATES

PRATICAGEM DA BAHIA PRESTA


APOIO EM SALVAMENTOS

Um grupo de 50 oficiais-alunos e instrutores da Escola


de Guerra Naval visitou, em julho, a sede da Praticagem
do Estado de São Paulo. Eles foram recebidos
pelo presidente da entidade, prático Bruno Tavares,
e pelo diretor de Relações Institucionais, prático Carlos
Alberto de Souza Filho, que fez uma apresentação. Além
foto: Divulgação

disso, os alunos conheceram as instalações do Centro


de Coordenação, Comunicações e Operações
de Tráfego (C3OT). O capitão dos Portos do
Estado de São Paulo, Marcelo de Oliveira Sá,
acompanhou a visita.

Quinze pessoas de uma embarcação que vinha de


Morro de São Paulo foram resgatadas, em junho,
com apoio da lancha Pilot Boat V, da Praticagem
da Bahia. A embarcação apresentou pane nos
motores e ficou à deriva a cerca de oito milhas
náuticas ao sul de Salvador. No mesmo mês,
a praticagem já havia recebido um Certificado
de Mérito em Segurança da Navegação da FALE CONOSCO
Capitania dos Portos, em reconhecimento
ao apoio prestado em outro salvamento.
Na ocasião, três tripulantes foram resgatados
de um pesqueiro que também teve avaria
COLABORE COM A RUMOS
de máquinas. Rumos Práticos espera sempre uma participação ativa
de todos da praticagem, além dos nossos leitores em
geral. Envie textos, artigos técnicos, fotos ou outra
sugestão para conapra@conapra.org.br ou por meio
das redes sociais da Praticagem do Brasil.
BOMBOU É OURO!
NAS REDES
O post publicado logo após a conquista do ouro por Isaquias Queiroz em Tóquio
foi o destaque do período nas redes sociais da Praticagem do Brasil. O
conteúdo vinculando
a marca da prati-
cagem ao atleta foi
exibido para milha-
res de pessoas, ge-
rando ótimo enga-
jamento em curtidas,
comentários e com-
partilhamentos da
publicação.

@
TBT
Outro destaque na timeline foi o vídeo relembrando o ciclone bomba que atin-
giu o Porto de Paranaguá (PR) há pouco mais de um ano. O material bruto foi
enviado pelo prático Brunno Aguiar e editado pela equipe de comunicação do
Conselho Nacional de Praticagem. O público na internet reconheceu a atuação
da praticagem para evitar um acidente naquele dia. A prática Vanessa Moraes
manobrava o navio que apareceu nas imagens.
@freepik

SALVANDO VIDAS
Também gerou bom engajamento nas redes a foto do Cristo Redentor vestindo
colete salva-vidas em imagem projetada no monumento. O ato marcou a divul-
gação da campanha "Salvando Vidas", da Capitania dos Portos do Rio de
Janeiro com apoio do Comando do 1o Distrito Naval, da Diretoria de Portos e
Costas da Marinha e do Tribunal Marítimo. Foram arrecadados mais de 500
coletes para colônias de pesca artesanal do Rio de Janeiro com parceria de
diversas instituições, entre elas a Praticagem do Rio.
NÃO PERCA A CHANCE, JUNTE-SE A NÓS.

Conferências - Networking - Festas

 
ORADORES DE ATIVIDADES PARTICIPANTES EMPRESAS
PRESTÍGIO SOCIAIS PARA
NETWORKING

12 a 18 de junho de 2022
Cancún, México
foto: freepik/kstudio

www.impa2021.com
Magalhães-Elcano 1519-1522: a primeira viagem ao redor do mundo conta a história da pioneira circum-navegação
e o faz por meio de registros textuais, iconográficos e cartográficos provenientes de instituições como Biblioteca
Nacional da Espanha, Biblioteca Nacional da França e Biblioteca John Carter Brown (EUA).

O livro é parte das celebrações dos 500 anos da expedição que partiu de Sevilha patrocinada pelos reis da Espanha e
sob o comando do português Fernão de Magalhães. O objetivo era descobrir uma passagem marítima para o Mar do
Sul (Oceano Pacífico), circundando o Novo Mundo, e alcançar as Ilhas Molucas, que guardavam o tesouro das especiarias.

A viagem em volta do globo começou com cerca de 240 homens a


bordo de cinco naus, terminando três anos depois com apenas uma
embarcação e 18 expedicionários, entre eles o comandante espanhol
Juan Sebastián Elcano. Ainda assim, foi considerada um sucesso por
ter marcado a descoberta de uma rota de contato com a Ásia,
contornando a América.

Os capítulos abordam temas como os escritos sobre a arte


de navegar e o uso das especiarias; o impacto da divulgação
das primeiras notícias da viagem, entre elas o relato de
Antonio Pigafetta, único autor a bordo; as tensões geopolíticas
entre os reinos europeus, sobretudo Portugal e Espanha; o papel
dos indígenas da costa do Brasil no sucesso nas empreitadas;
e as polêmicas e diferentes apropriações dos feitos.

Além de Heloisa Meireles Gesteira (organizadora do material),


assinam os textos da publicação Carlos Ziller Camenietzki,
Marcello José Gomes Loureiro, Elisa Frühauf Garcia e Marcelo da
Rocha Wanderley. A editora é a Andrea Jakobsson Estúdio Editorial.

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