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Teoria Geral dos Recursos

RESUMO

1 - Conceito
Recurso é o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo,
a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão judicial que se
impugna.

O recurso é uma manifestação de vontade, recorre contra uma decisão aquele


que vê seus direitos contrariados pelo provimento. O recurso pode permitir que sejam
alcançados quatro resultados:

 Reforma: o recurso pode ser objeto de reforma judicial impugnada (é a


mais freqüente), isso ocorrerá quando o recorrente alegar a existência
de um erro in iudicando, isto é, um erro de julgamento. Esse erro
ocorre quando o magistrado profere uma decisão que não corresponde
com a vontade da lei, contrariando-a.

 Invalidação: diferente da reforma a invalidação busca a nulidade da


decisão, é utilizada quando ocorre o erro in procedendo, que é um
inadimplemento de uma norma processual, caracterizando o vício
formal da decisão, acarretando assim a nulidade da decisão judicial. Ao
contrário da reforma a invalidação busca o desaparecimento da decisão
no processo, já a reforma busca uma nova elaboração da decisão.

 Esclarecimento: há situações em que a decisão proferida nos autos é


obscura ou contraditória, nessa hipótese é possível a interposição de
um recurso com o fim de se obter um esclarecimento da decisão. O que
se pretende nestas situações é que o juízo prolator da decisão reexprima
o que já havia afirmado em sua decisão, mas agora de forma mais clara
para que todos entendam. O recurso utilizado aqui são os Embargos de
declaração.

 Integração da decisão: aqui o recurso será destinado a suprir lacunas na


decisão, ou seja, suprir omissões na decisão. O juízo se omitiu em
questão que deveria ter se pronunciado. Neste caso, quer-se não
somente que o juiz reexprima o que já havia pronunciado, mas que
também aprecie a questão que ainda não havia sido apreciada. O
recurso utilizado aqui são os Embargos de declaração.
2 – Princípios

Duplo grau de jurisdição: esse princípio não é absoluto, diz que as decisões,
em regra geral, estão sujeitas a uma revisão, reanálise em um órgão diferente e superior
a aquele que proferiu a decisão.

Da Taxatividade: diz que para ser recurso o mesmo deve estar previsto
expressamente na lei, lei esta que é competência da união. As espécies recursais prevista
no artigo 436 do CPC estão em um rol taxativo, ou seja somente aquelas podem ser
utilizadas.

Da Unicidade: cada decisão desafia um recurso para combatê-la, devendo ser


interposto um de cada vez. Exceção: recuso especial e extraordinário visto que os
mesmos devem ser apresentados simultaneamente.

Da Fungibilidade: permite que o juiz, excepcionalmente, receba um recurso


como se fosse outro, desde respeitadas 2 condições: a) não ter havido má-fé por parte do
recorrente; b) o prazo do recurso correto deverá ser cumprido tempestivamente.

Da proibição da “Reformatio in pejus”: a parte que interpõe recurso, não pode


ter sua situação prejudicada, pode apenas ter benefícios ou manter-se na mesma
situação, entretanto, uma parte pode ser prejudicada por interposição de recurso pela
outra parte. Exceção: quando o tribunal reconhecer questões de ordem pública.

3 – Classificação

Total e Parcial: será total aquele que atacar todo o mérito impugnável da
decisão, e parcial quando deixar incólume uma parte desse mérito impugnável. Não
podemos confundir com atacar toda a decisão para ser total, mesmo porque existem
partes que não cabe recurso, será total quando atacar toda a parte que pode ser recorrida.

De fundamentação livre e fundamentação vinculada: será livre quando permitir


a fundamentação apenas com sua insatisfação, e vinculada quando exigir expressamente
o fundamento que deu origem ao recurso, como exemplo os Embargos de Declaração.

Principal e Adesivo: nos termos do artigo 500 do CPC, cada parte interpõe seu
recurso no prazo, independentemente, e observadas as exigências legais. Pode ocorrer,
assim, que ambas as partes recorram contra uma dada decisão. O recurso de cada uma
delas será independente do outro e, por isso, chamado recurso principal. No caso de
haver ocorrido sucumbência recíproca (ambas as partes ficaram parcialmente
satisfeitas), uma das partes fique a princípio satisfeita e opte por acatar a decisão, a
outra parte, porém, interpõe recurso (que será principal). Permite a lei (no mesmo artigo
500) que, nesta situação, a outra parte interponha recurso adesivo, ou seja, um recurso
subordinado ao da outra parte. Esse recurso somente será julgado se o principal for
admitido. Julgado inadmissível o recurso principal, automaticamente o recurso adesivo
será inadmissível. O recurso adesivo deverá ser interposto nos 15 dias de prazo para
resposta ao recurso principal (a resposta deverá ser interposta em petição distinta da do
recurso adesivo), a outra parte também terá o prazo de 15 dias para responder ao recurso
adesivo. Somente será usado o recurso adesivo nos casos de sucumbência recíproca, e
cabe somente nos recursos de apelação, embargos infringentes, extraordinário e
ordinário (espécies e não classificação).

Ordinários e Extraordinários: consideram-se ordinários os recursos cuja


interposição obsta a formação da coisa julgada, e extraordinários aqueles que não
servem de obstáculo para a formação do fenômeno processual da coisa julgada, mas ao
contrário, a pressupõem, só sendo interponíveis depois de transitar em julgado a
decisão, esses recursos são objetivos, pois contrariam a lei como um todo, indo para o
STJ ou STF.

4 – Juízo de Admissibilidade e Juízo de Mérito

O julgamento do recurso se divide em duas partes, denominadas juízo de


admissibilidade e juízo de mérito. Na primeira delas, preliminar, verifica-se a presença
dos requisitos de admissibilidade do recurso. Sendo positivo este juízo, ou seja,
admitido o recurso, passa-se de imediato ao juízo de mérito, fase do julgamento em que
se vai examinar a procedência ou não da pretensão manifestada no recurso.

Requisitos de admissibilidade:

 Cabimento: o recurso deve estar previsto e lei e adequado;

 Legitimidade: quem pode interpor recurso – as partes, os terceiros


prejudicados e o MP como fiscal da lei;

 Interesse recursal: Sucumbência – só pode interpor recurso a parte


lesada / Pedidos Cumulados – em pedidos alternativos não há
sucumbência, não pode recorrer, já nos cumulados há sucumbência
quando um dos pedidos não é atendido;
 Tempestividade: o recurso deve ser impetrado dentro do prazo. Regra
geral: 15 dias – apelação; 10 dias – agravo; 05 dias embargos.

 Regularidade formal: (petição recursal e protocolo)

 Preparo: é o pagamento das custas processuais devida a utilização do


instrumento de impugnação à decisão judicial, devendo ser pago antes
da interposição do recurso. Deserção: ocorre quando o recurso é
inadmitido por falta de preparo. Este somente será aplicado quando a
falta do preparo for injustificada, entretanto, se for justificado o não
pagamento, um novo prazo será dado para se realizar o preparo.

 Inexistência de impedimentos: os impedimentos recursais são tidos


como fatos impeditivos da impetração do recurso, que são:

 Renuncia: consiste na renuncia à faculdade de recorrer contra


determinada decisão, é um ato unilateral, a parte pode renunciar
somente o recurso principal, e no caso da outra parte interpor recurso
principal a parte que renunciou interpõe recurso adesivo;

 Desistência: é a desistência do recurso já interposto, antes do


julgamento, também é um ato unilateral;

 Aceitação da decisão: ocorre quando a parte pratica ato incompatível


à vontade de impugná-la. Será expressa quando, por exemplo, a parte
apresenta petição escrita aceitando a decisão prolatada, a ela se
sujeitando. Tácita quando a parte cumprir a condenação antes da
sentença se tornar exeqüível.

 Súmula impeditiva de recurso: se dá quando o recurso é inadmitido


por afrontar uma súmula ou jurisprudência do STF ou STJ, já
consolidada.

O Juízo de Mérito é o momento em que novamente se analisa a


admissibilidade e também o mérito do recurso, sendo essa análise feita sempre pelo
juízo “Ad quem”, podendo ser o recurso acolhido ou não.
5 – Efeitos

Obstativo: ocorre com a interposição do recurso, faz com que o processo fique
em estado latente, não permitindo assim a formação da coisa julgada ou da preclusão.

Devolutivo: consiste tal efeito em transferir, para órgão diverso daquele que
proferiu a decisão recorrida, o conhecimento da matéria impugnada. Esse efeito é a
manifestação do princípio dispositivo, já que a parte pode estabelecer os limites dentro
dos quais o juízo ad quem poderá apreciar a pretensão manifestada. Esse efeito só
ocorrerá quando o órgão ad quem é diverso o órgão a quo.

Translativo: é através deste que é permitido a “reformatio in pejus”,


permitindo assim que o tribunal aprecie de ofício questões de ordem pública, em
qualquer tempo ou grau de jurisdição, ou seja, permite ser objeto de recurso todas as
questões que não foram apreciadas e nem pedidas pelo autor, mas são questões que
podem ser reconhecidas de ofício.

Expansivo: permite que o tribunal extrapole as questões discutidas, desde que


previstas em lei, podendo ocorrer também abrangência maior às pessoas atingidas pelo
recurso.

Suspensivo: interrompe os efeitos da sentença, não permitindo que ela se torne


exigível, prolongando seu estado de ineficácia.

Substitutivo: a decisão em grau de recurso tem o poder e a capacidade de


substituir a decisão “a quo” (juiz monocrático de 1º grau), só ocorrendo quando o
tribunal reanalisar o mérito da questão.
Recursos em Espécie
1 – Apelação

Apelação é o recurso cabível contra as sentenças. Não se distingue aqui as


espécies de sentenças, podendo ser tanto na terminativa quanto na definitiva. É através
dele que será analisado se a sentença é invalida, devido a vício de forma, gerando assim
a sua anulação (invalidação), ou poderá se verificar um vício de conteúdo,
possibilitando assim a reforma da sentença. Na apelação é cabível fazer pedidos
cumulados.

Seus efeitos são:

 Devolutivo Amplo: não existe restrição à devolutividade da apelação,


ou seja, ela poderá ser total ou parcial.

 Suspensivo: nos casos do artigo 520 do CPC esse efeito será cancelado.

 Substitutivo.

Procedimento no Juízo “A Quo”:

A apelação deve ser interposta através de petição escrita no prazo de 15 dias, a


contar da intimação da sentença, a mesma deve ser preparada.

Interposta a apelação, deve o juiz A QUO verificar os pressupostos de


admissibilidade do recurso, fazendo assim um juízo negativo ou positivo. Sendo
negativo, o recurso não chegará ao conhecimento tribunal, entretanto, tem a parte a
alternativa do agravo de instrumento, este interposto diretamente ao tribunal (se o novo
recurso for favorável, a apelação irá subir ao tribunal). Sendo o juízo positivo, o juiz A
QUO irá decidir em quais efeitos recebe a apelação, abrindo vista à parte contrária para
que a mesma oferte a sua contra-razão, e caso queira, o recurso adesivo. Após esse
procedimento, em situações específicas, poderá o juiz se retratar (no prazo de 48 horas).

Procedimento no Juízo “Ad Quem”:

Chegando ao juízo ad quem, haverá um reexame quanto à admissibilidade


recursal, sendo o mesmo distribuído, passando ao desembargador-relator, que irá
elaborar um relatório contendo os pontos controvertidos, sendo assim, será
encaminhado para o dembargador-revisor, que irá apreciar o relatório. Este mandará ao
presidente da câmara ou turma, que designe uma sessão de julgamento. A sessão é
composta por 3 desembargadores no mínimo (relator, revisor e vogal). O vogal só tem
acesso ao processo na sessão de julgamento.

É nesta sessão que as partes farão a sustentação oral, a qual é facultativa,


chegando ao resultado do recurso, que será lavrado a termo, sendo posteriormente
publicado o acórdão.

2 – Agravo

É o recurso cabível contra as decisões interlocutórias simples e mistas. Pode


ser interposto por qualquer parte, Ministério Público ou terceiro interveniente que
acredita estar em posição de desvalia processual, por força da decisão recorrida, no
prazo de dez dias, contados da data da publicação da decisão.

Sua finalidade principal é evitar a preclusão e tem duas formas, retido e de


instrumento.

2.1 – Agravo Retido

Essa é a forma ordinária de interposição do recurso de agravo, salvo quando a


decisão agravada for capaz de gerar lesão grave ou de difícil reparação, bem como nos
casos de inadmissão de apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é
recebida, quando então poder-se-á adotar a forma de agravo de instrumento (o relator do
recurso que irá examinar esses requisitos).

O mesmo é interpôs no juízo a quo, que irá verificar a admissibilidade do


mesmo, sendo recebido, terá efeito devolutivo, e não suspensivo, continuando o
processo a correr. Sendo favorável a decisão do agravo, o mesmo retroagirá sobre a
decisão interlocutória.

Regra geral o agravo retido é escrito, salvo quando a decisão for interposta em
audiência, cabendo então o agravo retido oral, é dispensado o preparo.

Para que o agravo seja julgado, deverá haver o requerimento na apelação ou na


contra-razão. Interposto o agravo, o juiz abre vista para o agravado contrarrazoar,
podendo ainda se retratar ou decidir pelo prosseguimento do feito. Deve ser julgado
antes da apelação, pois seu julgamento pode inviabilizar o prosseguimento da apelação.

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