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PARECER JURÍDICO

Ao
(NOME DO CLIENTE)

O caso de Tirésias e Príamo.

I — RELATÓRIO
Trata-se de examinar os fatos ocorridos, o que será feito com o corpo de
Príamo, e como e quais ficarão com o patrimônio de Tirésias.
É o breve relatório, passemos a fundamentação.
II — FUNDAMENTAÇÃO
A ‘priori’, Tirésias,85 anos, que nã o tinha filhos, conjugue, a ú nica parente viva é
sua prima Cassandra, Tirésias foi diagnosticado com Mal de Alzheimer, em forma
inicial, faz um testamento em caso de sua morte irá deixar um terço do seu
patrimô nio para Cerbelo seu cachorro, um terço para o neto que vai nascer de seu
grande amigo Príamo, o neto de Príamo é filho de Pá ris, e uma doaçã o para o time
de futebol que tinha grande devoçã o, o Clube Olympiacos, entretanto Tirésias em
viagem com Príamo, há um acidente e Príamo morre sendo achado seu corpo, mas
Tirésias nã o é encontrado, diante disso Heitor filho de Príamo, que possui
deficiência mental, transtorno de bipolaridade, diz que o pai deixou como
recomendaçã o que seu corpo fosse criopreservado, por acreditar que com os
avanços da ciência ele pudesse ser ressuscitado algum dia. O corpo de Príamo foi,
assim, encaminhado para uma clínica de criogenia. Entretanto, Pá ris nã o aceita
isso, e requer a interdiçã o e curatela de Heitor e um enterro nos moldes
tradicionais, no mesmo cemitério em que sua mã e se encontrava enterrada.
Somado a isso, o filho de Pá ris que ia receber parte da herança de Tirésias, foi
diagnosticado com anencefalia no ultrassom, sendo sugerido pelo médico que
poderia ser feito um aborto, apesar da anencefalia, apó s o parto o bebê respira,
mas falece em trinta minutos.

No que tange a se o testamento de Tirésias é valido ou nã o, pois, no momento de


elaboraçã o do testamento ele foi diagnosticado com mal de Alzheimer, entretanto
de acordo com o médico a doença estava em forma inicial, o que nã o invalida o
testamento, pois conforme a legislaçã o brasileira, o simples fato de ser portador do
mal de Alzheimer nã o pode ser obstá culo para a lavratura de Atos Notariais,
especialmente Testamentos, desde que seja aferida a capacidade para o ato —
devendo ser lembrado, como visto outrora, que tal doença possui está gios e níveis
de gradaçã o da incapacidade. Logo como a doença de Tirésias estava em está gio
inicial e ele estava com plenas capacidades; o testamento dele é tido.
Diante disso e do ocorrido no acidente, como o corpo de Tirésias nã o foi achado
depois de intensas buscas na regiã o do acidente, sem que qualquer vestígio de seu
corpo tenha sido encontrado e a vítima ter mais de 80 anos, logo pode ser
decretada sua morte presumida pois de acordo com o artigo 7 do có digo civil pode
ser declarada a morte presumida, sem decretaçã o de ausência: se for
extremamente prová vel a morte de quem estava em perigo de vida. Portanto
poderá abrir a sucessã o definitiva de acordo com o có digo civil em seu artigo 38 se
o ausente tiver mais de 80 anos e houver cinco anos sem dele se ter notícias.
Diante dos fatos abre a sucessã o do patrimô nio de Tirésias, pois ele tinha mais de
80 anos no momento de seu desaparecimento no acidente e abre se a sucessã o
definitiva do patrimô nio.
Nesse sentido, depois de aberta a sucessã o do patrimô nio de Tirésias, é possível
analisar quem herdara o patrimô nio de Tirésias.Com algumas ressalvas, Tirésias,
nã o possuía herdeiros necessá rios pois nã o deixou os descendentes (filho, neto,
bisneto) e nem ascendentes (pai, avô , bisavô ) e o cô njuge tinham morrido. Com
isso nã o temos a exigência de dispor de metade do patrimô nio para os herdeiros
necessá rios mesmo tento feito um testamento, como fala o Art. 1.846. do có digo
civil, uma vez que pertence aos herdeiros necessá rios, de pleno direito, a metade
dos bens da herança, constituindo a legítima. Logo como Tirésias nã o tinha
herdeiros necessá rios a cota do testamento (as fraçõ es do seu patrimô nio que ele
tinha deixado para cada) pode ser cumprida de acordo com o que a legislaçã o
permite.
I Começando a aná lise pelo neto de Príamo, filho de Pá ris, pois a questã o central é
se o bebê herda ou nã o apó s seu nascimento e morte, somado a questã o da
anencefalia, segundo a legislaçã o o feto, o embriã o, o nascituro, tem somente
expectativa de direito, só poderá ser herdeiro se nascer com vida. E no que tange a
anencefalia de acordo com o entendimento do có digo civil: Se ao feto anencéfalo,
for permitido o nascimento, ainda que nã o tenha potencial de vida, mas, acaso,
venha a nascer, respirar e morrer, pelo Có digo Civil Brasileiro, adquiriu
personalidade jurídica.
Com isso, tornou-se, portanto, sujeito de direitos e obrigaçõ es, em particular dos
direitos sucessó rios. Diante disso a mã e da criança chamada Helena, terá direito a
parte que era devida ao bebe, pois de acordo com o art. 1.829, II, c/c art. 2°, ambos
do Có digo Civil, se o bebê nascer vivo, ainda que apó s alguns minutos venha a
ó bito, a parte dele estará garantida, visto que ele terá adquirido o que no Direito
se chama de personalidade jurídica, de sorte que, se falecer na sequência, seu
quinhã o passará à sua genitora. No caso dos anencéfalos como nesse do filho de
Helena, o mais correto é adotar a seguinte linha de pensamento que, apó s o
nascimento, eles respiram e têm batimentos cardíacos por segundos, minutos ou
horas a partir do nascimento, e isso basta para a capacidade de aquisiçã o e
também transmissã o de direitos, independente da polêmica versã o da Lei
9.434/1997, que reconhece o fim da vida com a morte encefá lica.

II No que se refere a parte da herança que seria destinada ao cachorro Cerbelo, o


cã o nã o tem parte na herança pois de acordo com o có digo civil em seu artigo 82,
animais seriam coisas e, portanto, faltaria o pressuposto principal para possuir a
capacidade passiva para ser herdeiro. Logo o cã o nã o teria parte do patrimô nio
parte que seria do cachorro será transferida para a sua ú nica parente viva sua
Prima Cassandra, uma vez que a vítima nã o possui Herdeiros necessá rios
descendentes (filho, neto, bisneto) os ascendentes (pai, avô, bisavô) e o
cônjuge. Cassandra é considerada herdeira legitima pois os primos sã o
considerados parentes de 4° grau. Logo ela se enquadra na definiçã o de herdeiros
legítimos que sã o :os descendentes, os ascendentes, o cô njuge sobrevivente e os
colaterais até o 4º grau da pessoa falecida. É perceptível que do rol de herdeiros
legítimos, apenas os colaterais nã o serã o considerados herdeiros necessá rios. os
colaterais até o 4º grau da pessoa falecida.

III No que se refere a doaçã o ao time de futebol Clube Olympiacos a doaçã o


poderá ser efetuada de acordo com o testamento de Tirésias.

Agora que no tange a questão do que fazer com o corpo de Príamo e sobre se
é possível ou não a interdição e curatela de Heitor
Primeiramente segundo Heitor o pai tinha feito uma exigência para ser
criopreservado, mas Pá ris nã o aceita essa afirmaçã o pelo fato de Heitor ser
considerado deficiente mental, e exige a interdiçã o e curatela de Heitor. De acordo
com a convençã o sobre os direitos das pessoas com deficiência em seu artigo 12
estabelece que as pessoas com deficiência “gozam de capacidade legal em
igualdade de condiçõ es com as demais pessoas em todos os aspectos da vida”; essa
capacidade legal é mais ampla que capacidade civil em geral. A Convençã o
explicita, sem configurar enumeraçã o taxativa, que a pessoa com deficiência pode
possuir ou herdar bens, controlar as pró prias finanças e ter igual acesso a
empréstimos bancá rios, hipotecas e outras formas de crédito financeiro. Portanto
pode se afirmar que é Heitor é plenamente capaz nã o necessitando de interdiçã o e
que isso nã o motivo para impedir a vontade de Príamo de ser criopreservado.

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