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PEDRO II:
CIÊNCIA NO IMPÉRIO ÁRABE-ISLÂMICO MEDIEVAL E ALGUMAS CONEXÕES
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COM O BRASIL IMPERIAL
RESUMO
Através da revisitação de episódios geralmente ignorados pela historiografia ocidental
tradicional, este trabalho pretende fazer um apanhado das descobertas científicas dos
árabes no período medieval e frisar a importância que elas tiveram para a revolução
científica européia. Analisamos o califado abássida, que durou quase 500 anos, do
século VIII ao XIII, e criou na biblioteca de Bagdá, a Casa da Sabedoria, um modelo de
instituição de tradução-pesquisa-ensino que seria o embrião das universidades.
Destacamos também a paixão do imperador brasileiro D. Pedro II pelas culturas do
Oriente Médio e a influência dessas culturas na formação da sociedade brasileira.
Além de colocarmos algumas semelhanças entre o imperador brasileiro e o maior califa
abássida, al-Mamun, no patrocínio as artes e ciências.
Palavras-chave
história da ciência, ciência árabe, Casa da Sabedoria, D. Pedro II.
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Este trabalho é um recorte de dissertação de mestrado a ser defendida em breve no Programa de
Pós-Graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia – HCTE/UFRJ, sob a
orientação das professoras Regina Dantas (HCTE/UFRJ) e Miriam Kaiuca (CAP/UFRJ).
INTRODUÇÃO
Até pouco tempo atrás, ao estudarmos a chamada Idade Média, era comum livros e
professores se referirem a este período como “Idade das Trevas”, por conta da quase
ausência de atividade intelectual significativa registrada. Segundo esses mesmos
livros, essa atividade intelectual só seria retomada no período chamado hoje de
Renascimento.
Hoje sabemos que com o fim do Império Romano Ocidental e o início das invasões
bárbaras no século V, os estudiosos da Europa se deslocaram gradativamente para o
sul a procura de cidades seguras onde pudessem montar suas escolas e também de
governantes que pudessem bancar a manutenção das mesmas (BENOIT; MICHEAU,
1989).
O Império Bizantino e o Império Persa abarcavam cidades importantes nesse
contexto como Alexandria, Antioquia, Harran, Edessa e Gondeshapur nas quais se
construíram escolas famosas montadas por alguns desses estudiosos. Porém,
gradativamente esses impérios perderam o controle dessas cidades para o império
árabe-islâmico (ATTIE FILHO, 2002).
A presença desses estudiosos nas cidades conquistadas foi um dos muitos motivos
que levaram os países de língua árabe, localizados no Oriente Médio, a terem uma
explosão de conhecimento nesse período, absorvendo ensinamentos herdados da era
clássica dos gregos e também da Índia e da China. Foram esses ensinamentos que
chegaram séculos depois à Europa, traduzidos, comentados, desenvolvidos e
refinados pelos árabes e muçulmanos.
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Até o século XIX, historiadores famosos, tal como Ernest Renan (1823-1892),
defendiam que a ciência árabe era a mesma ciência dos gregos sendo os árabes
meros intermediários (BENOIT; MICHEAU, 1989) ou “guardiões do conhecimento
clássico”.
Essa concepção eurocêntrica do desenvolvimento da matemática, por exemplo,
impregnou o século XX, como comprova o matemático e historiador Howard Eves ao
dizer:
As avaliações do papel dos árabes no desenvolvimento da
matemática de maneira nenhuma são unânimes. Há aqueles
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Além de orientalista, o francês Joseph Ernest Renan foi um importante filólogo, tradutor e estudioso de
religião que influenciou autores do século XIX e XX.
que vêem nos escritores muçulmanos, particularmente em seu
trabalho em álgebra e geometria, grande originalidade. Outros
assinalam que esses escritores, a despeito de talvez revelarem
erudição, raramente eram criativos e que seu trabalho se situa
num plano secundário, quantitativa e qualitativamente, em
relação aos gregos e aos escritores modernos (EVES, 2004).
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Governo dos califas, líderes do império (e da religião) após Maomé.
METODOLOGIA: CONTANDO HISTÓRIAS ATRAVÉS DE DIÁLOGOS
Uma história que só conhecemos hoje porque teve alguém para contá-la. Portanto,
esta será a metodologia utilizada, a articulação de fontes apresentadas por contação
de histórias.
Contar histórias é forma humana mais antiga de ensino. A evolução do
conhecimento humano só chegou ao nível atual por causa de pessoas que se
ocupavam em lembrar e transmitir o que sabiam através de histórias contadas desde o
início dos tempos. O contador de histórias sempre foi reverenciado nas sociedades
humanas. O que hoje em dia vemos no cinema, TV, quadrinhos, livros e até
videogames, começou com as histórias contadas pelo homem pré-histórico em volta da
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fogueira após colher e consumir os alimentos nas refeições . O que ainda se repete
numa estrutura bem parecida em bares, festas, recreios de escolas, acampamentos,
ambientes de trabalho e até mesmo ao colocar crianças na cama.
Ratificando a indigência da manutenção das histórias (escritas ou orais) podemos
alinharmos a Arendt quando afirma que:
Sem testamento ou, resolvendo a metáfora, sem tradição —
que selecione e nomeie, que transmita e preserve, que indique
onde se encontram os tesouros e qual o seu valor — parece
não haver nenhuma continuidade consciente no tempo, e
portanto, humanamente falando, nem passado nem futuro, mas
tão-somente a sempiterna mudança do mundo e o ciclo
biológico das criaturas que nele vivem (ARENDT, 1997, p. 31).
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A escritora americana Ursula K. Le Guin defende a tese de que o primeiro contador de histórias foi
uma mulher. Baseada nos estudos de Elizabeth Fisher, que dizem o primeiro objeto feito pelo homem
não foi uma arma e sim um recipiente coletor de alimentos, Le Guin afirma que contar histórias era uma
forma das mulheres passarem para a tribo o que tinham visto e por onde haviam passado ao buscar os
frutos da refeição que alimentaria o grupo (LE GUIN, 1988).
alcançado se o acontecimento passado for interrogado. A reflexão a que almeja o
conceito de história proposto por Hannah Arendt consiste em uma dupla oscilação de
resgate: por um lado, recupera os episódios e passagens históricos em suas
particularidades e de acordo com sua estima para o presente; e, por outro lado, a partir
desse significado recuperado da história, organiza os conceitos e valores que
utilizamos no manejo dos eventos cotidianos. (LORAUX, 2002).
Principalmente na cultura árabe. Até hoje a figura do contador de histórias existe em
alguns países mais ligados a tradição oral. Apesar de perder bastante espaço para as
mídias que citei antes, ainda podemos encontrar em restaurantes, em praças ou outros
lugares, herdeiros dessa tradição milenar que ensinam e encantam apenas com as
palavras e a entonação da voz.
A narrativa do trabalho será feita em forma de diálogo. Os diálogos eram a forma de
ensino preferida pelos autores da Grécia antiga. Platão, em particular, é lembrado até
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hoje pela escrita dos diálogos de seu mestre Sócrates , personagem central de grande
parte de suas obras, e um dos grandes professores do pensamento renascentista e
moderno.
A divisão em cenas (ao invés de seções) teve inspiração em Bruno Latour, pois suas
concepções acerca do conceito de enunciado científico, no campo da observação
etnográfica da produção científica, nas pesquisas em laboratórios - e sua pertinência
como enfoque teórico-metodológico para pesquisas em laboratórios escolares
possibilita novas discussões para futuras articulações multidisciplinares.
A argumentação será feita tomando a descrição de atividades realizadas em um
laboratório do Ensino Médio, como um invólucro específico em que ocorrem situações
que permitam análises, segundo alguns pressupostos dos Estudos Culturais da
Ciência (WORTMANN & VEIGA-NETO, 2001).
Nesse ambiente de aprendizado escolar idealizado, um professor de matemática
norteado pelas perguntas dos alunos, e com ajuda de guias, historiadores, filósofos e
outros convidados, tentará fazer um apanhado da importância do progresso científico
capitaneado pelos árabes e muçulmanos da idade média na nossa vida
contemporânea.
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Que ensinava através de um método denominado maiêutica (arte do parto em grego), que consistia de
fazer as pessoas repensarem seus próprios conceitos através de uma sucessão de perguntas que
levavam de pensamentos simples a conclusões cada vez mais complexas.
Mas se a vontade e a promessa de estudos futuros são amplas, o texto é singelo. É
antes o fragmento de uma descrição narrativa do que foi realizado em aulas com os
alunos de escola pública. A partir desse recorte, ensaio alguma reflexão acerca das
necessidades e interesses que, no final, funcionam como contextos de pesquisa.
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Sua paixão pela leitura o levou a aprender várias línguas além do árabe. Falava alemão, italiano,
espanhol, francês, latim, hebraico e tupi-guarani. Além disso lia bem em grego, árabe, sanscrito e
provençal. (DANTAS, 2001; SOUZA, 2010).
A história muda de aspecto a cada geração. O século XIX não
teve da História a ideia que dela teve o século XVIII, e este não
teve a ideia que dela teve o século precedente. O objeto material
da História, isto é, o conhecimento dos fatos, muda também
segundo os tempos, por causa da incerteza inerente aos dados
do testemunho humano. (apud ATTIE FILHO, 2002)
REFERÊNCIAS
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WORTMANN, Maria Lúcia Castagna; VEIGA-NETO, Alfredo. Estudos culturais da
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