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Cursos tradicionais
roubam a cena Impresso
99129-5/2002-DR/SC
No Vestibular 2010 a UFSC oferece 6.021 vagas para UFSC
32.554 candidatos. A oferta é recorde. Os cursos tra-
dicionais, como Medicina, as Engenharias e o Direito, CORREIOS
voltam a acirrar a disputa p. 9
Jornal
Universitário
Universidade Federal de Santa Catarina - Dezembro de 2009 - Nº 407
Centenário
Burle Marx e os
jardins da UFSC
p. 16
Ciência
Política de
Estado
p. 7
Livro
Grupos de
Pesquisa
Às vésperas de comemorar 50 anos, Instituição consolida o seu reconhecimento nacional e internacional p. 11
Do Editor
49 anos na frente
“
www.agecom.ufsc.br, agecom@edugraf.ufsc.br
Fones: (48) 3721-9233 e 3721-9323. Fax: 3721-9684 Poesia de quintal. O ex-diretor da EdUFSC, Alcides
Diretor e Editor Responsável:
Moacir Loth - SC 00397 JP
Coord. de Divulgação e Marketing/ Redação:
Artemio R. de Souza (Jornalista)
Alita Diana (Jornalista)
Arley Reis (Jornalista)
Celita Campos (Jornalista)
Erich Casagrande (Bolsista)
Fernanda Burigo (Bolsista)
Buss, criou a sua própria editora. Com capa de Lúcia
Iaczinski e editoração do filho Hermano, a Caminho de
Dentro lançou Saber não saber, o primeiro de uma trilogia
que promete ainda Poder não poder e Ter não ter.
Memória
Natália Izidoro (Bolsista)
Paulo Clóvis Schmitz (Jornalista)
Foto: Arquivo Agecom
Paulo Fernando Liedtke
Tiago de Carvalho Pereira (Bolsista)
Sonho de realidade
Tifany Ródio (Bolsista)
Fotografia: Em 2000 o Gabinete do Reitor da UFSC viveu um mo-
Carolina Dantas (Bolsista) mento único: o relançamento, na presença de todos os ex-
Lucas Sampaio (Bolsista) reitores, do livro UFSC: Sonho e Realidade, de autoria do
Paulo Noronha
fundador da instituição, professor João David Ferreira Lima.
Arquivo Fotográfico
Ledair Petry A obra saiu com o selo da EdUFSC.
Tania Regina de Souza A obra traz trechos memoráveis, como este, da página
Editoração e Projeto Gráfico: 80: “(...)o Projeto foi encaminhado ao presidente Juscelino
Jorge Luiz Wagner Behr Kubitschek, que afinal o sancionou, transformando-o na Lei
Cláudia Schaun Reis (Jornalista)
Divisão de Gestão e Expediente:
n° 3.849, de 18 de dezembro de 1960, sem dúvida, marco
João Pedro Tavares Filho (Coord.) histórico do ensino superior, em nosso Estado, ocorrido, para
Beatriz S. Prado (Expediente) alegria minha, e por uma coincidência muito feliz, justamente (da esq p/dir) Gilberto Vieira Ângelo (em pé), David
Rogéria D´El Rei S. S. Martins em data assinalada do meu lar, pois naquele dia festejava Ferreira Lima, Rodolfo Pinto da Luz, Lucio Botelho e
Romilda de Assis (Apoio) as bodas de prata do meu casamento”. Paulo Ferreira Lima, filho do primeiro reitor
Impressão: Diário Catarinense
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UFSC - Jornal Universitário - Nº 407 - Dezembro de 2009 - PÁG 3
Para alimentar os estudos e o trabalho
Restaurante Universitário, que funciona há 44 anos, já serviu milhões de refeições e continua a alimentar alunos, professores e técnico-administrativos
Corrupção tem a ver com furar a fila do RU? Iniciativas individuais tentam chamar
à consciência para as pequenas ações do dia a dia aparentemente inofensivas
Natália Izidoro Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica naturais em Santa Catarina. em dois anos, previsão de duração dos
Bolsista de Jornalismo na Agecom do Estado de Santa Catarina (Fapesc). Foram aprovadas as propostas ca- projetos, com repasse de até 50% do total
A Fundação investirá 2 milhões de reais pazes de preparar o Estado para futuras já em 2009. Os contratos de financiamento
Três projetos da Universidade Federal em 17 projetos de pesquisas científicas, emergências decorrentes de fenômenos foram aprovados no dia 3 de novembro e,
de Santa Catarina foram escolhidos para tecnológicas e de inovação relacionadas meteorológicos extremos. O valor do inves- após as fases de reajuste do orçamento,
receber apoio financeiro da Fundação de a estratégias de prevenção de desastres timento do governo estadual será liberado começarão a ser executados.
Blumenau (esq) e Ilhota foram duas das cidades mais atingidas em novembro de 2008; projetos selecionados devem preparar o Estado para futuras emergências
Fenômenos naturais extremos vêm atingindo diver- 117 óbitos, 32 desaparecidos, 21.269 desabrigados, Dentre universidades, secretarias e fundações
19 instituições por SC
sos estados do Brasil e têm deixado prejuízos sociais, 47.895 desalojados. nacionais e estaduais, participam do GTC, ao todo, 19
ambientais, econômicos e humanos. Santa Catarina, Nesses casos, em que os eventos são catastróficos, instituições. O grupo tem como objetivos a avaliação
devido sua posição geográfica, é atingida constante- a ação desarticulada do Estado torna-se visível. Entram técnica e científica das diferentes catástrofes naturais
mente por adversidades atmosféricas diversas, carac- em ação a Defesa Civil Estadual e outras entidades, ocorrentes em Santa Catarina, a proposição de projetos
terizadas pelos elevados totais pluviométricos, pelos mas é difícil coordenar suas atuações diante da ur- de natureza preventiva que visem a redução dos efeitos
prolongados meses de estiagens e pelas tempestades gência de alguns casos. Para mudar essa situação, o produzidos pelas catástrofes e a ajuda ao governo para
severas, que geram vendavais, granizos, tornados e Governo do Estado instituiu o Grupo Técnico Científico elaboração de instrumentos legais que contribuam para
marés de tempestades. (GTC). Sob coordenação geral do professor Diomário o efetivo desenvolvimento sustentável do Estado.
Em novembro de 2008, as chuvas causaram Queiroz, presidente da Fapesc, o grupo quer articular Mais informações: Fapesc: www.funcitec.
grandes danos, principalmente para no Vale do Rio esforços e, na medida do possível, prevenir as piores rct-sc.br, fone (48) 3215-1200; GEDN: www.
Itajaí. Além de incontáveis prejuízos econômicos, foi conseqüências dos desastres naturais, além de atender cfh.ufsc.br/~gedn, fone: 3721-8815; CTG: www.
registrado, nos dias seguintes ao evento, um saldo de essas emergências. catastrofesnaturais.sc.gov.br
Setor dependente
Os desafios do momento Golpe na burocracia
O professor João Batista Calixto, da
O presidente da Fapesc, Antônio Diomário de Queiroz, falou do desenvolvi- Coordenadoria Especial de Farmacologia
mento local facultado pela pesquisa, da interiorização dos investimentos e do Também presente na conferên-
da UFSC, que está liderando a estrutura-
fortalecimento do sistema de ciência e tecnologia em Santa Catarina. “Estamos cia, o governador Luiz Henrique da
ção do Centro de Referência em Farmaco-
aproximando as universidades, o setor produtivo e o governo e provocando as Silveira informou que 1,3 milhão
logia Pré-Clínica, no Sapiens Parque, em
mudanças necessárias para melhorar a qualidade de vida, sempre apostando de jovens estão conectados à Rede
Florianópolis, questionou a dependência
na inovação e no empreendedorismo”, disse ele. As 36 Secretarias de Desen- Catarinense de Ciência e Tecnologia
brasileira da indústria estrangeira de me-
volvimento Regional enviaram projetos para o edital da Fapesc. (RCT) e que, graças à expansão da
dicamentos, porque não domina a cadeia
Presente na conferência, o presidente da SBPC, Marco Antônio Raupp, elen- cobertura da rede de energia elétri-
produtiva neste segmento. “O Brasil de-
cou cinco desafios que precisam ser superados no País: vencer os desequilíbrios ca, mais 39.500 propriedades rurais
pende 100% da importação nesta área,
regionais (70% da ciência, tecnologia e inovação são desenvolvidas na Região foram incluídas no rol das famílias
porque as patentes são concentradas em
Sudeste), reduzir o fosso entre o conhecimento acadêmico e as necessidades que têm acesso às informações e
praticamente cinco países do mundo”,
do setor produtivo, investir na educação fundamental, revisar as legislações aos recursos do mundo moderno. “A
disse ele. “Investir alto é prioritário nos
(marcos regulatórios) que paralisam o desenvolvimento e priorizar as políticas telemedicina permite a realização de
países desenvolvidos, porque o mercado
públicas de ciência e tecnologia (que devem deixar de ser uma questão de 100 mil exames em todas as regiões
de medicamentos movimenta US$ 800
governo para se transformar em Política de Estado). do Estado, em tempo real, e houve
bilhões por ano”.
um grande avanço das incubadoras
O monopólio das patentes de medi-
e programas tecnológicos em Santa
camentos não é apenas uma estratégia
Catarina”, afirmou.
Gestão e empreendedorismo Segundo Estado a realizar sua
econômica, mas também política, dos
países desenvolvidos. “Dez empresas
reunião preparatória, Santa Catarina
O presidente da Fundação Certi, Carlos Alberto Schneider, fez uma apologia à ino- concentram praticamente todo o mercado
também está desburocratizando os
vação e ao empreendedorismo. Dizendo-se um “entusiasta do desenvolvimento”, ele mundial do setor”, lembra. Por aqui, há
procedimentos de movimentação dos
defendeu a ampliação dos institutos de CT e o desenvolvimento técnico regional. Para 250 empresas trabalhando na área, mas
recursos pelos profissionais da pes-
ele, a injeção de tecnologias novas vai gerar soluções que permitirão “colocar em prática elas vêm sendo incorporadas pelas multi-
quisa, por meio do Cartão Pesquisa-
novas formas para o fazer”, vencendo as burocracias e as lentidões e melhorando todos nacionais de remédios. Outra distorção é
dor, oficializado durante a conferência
os processos de gestão. que 15% da população respondem pela
de Joaçaba. Isso agiliza a prestação
A inovação, segundo Schneider, pode atender às políticas públicas na promoção da metade dos RS$ 12 bilhões que movimenta
de contas junto à Fapesc e transfere
cultura empreendedora em todo o sistema de educação, de forma integrada, em todos os o mercado brasileiro. “Por isso, a tendência
para o pesquisador a responsabilidade
níveis. Ele defendeu o fomento e a capacitação como instrumentos de estímulo ao empre- é o aumento no preço dos medicamentos
pela movimentação da verba recebida
endedorismo inovador e sustentável, e também a articulação das universidades com os consumidos por portadores de doenças
para desenvolver seu trabalho.
núcleos de inovação das empresas, investindo mais na profissionalização tecnológica. crônicas”, alertou o professor Calixto.
Foto: Arquivo Agecom
v a s
Direito – Noturno: 14.67
Pro
Engenharia Civil: 11.86
dezembro, dase/ou
Prova 1: 19propdeosiçõ 14h às 18h Engenharia Mecânica: 9.82
es múltiplas abertas Oceanografia: 10.67
questões de
Relações Internacionais: 7.75
a:
ileira: 12 questões;Língua Estrangeir Jornalismo: 9.75
Língua Portuguesa e Literatura Bras Total: 40 questões
cada uma .
8 questões; Matemática e Biologia:
10 ques tões Candidatos negros
Prova 2: 20 de dezembro, das 14h às 18h Medicina: 12.80
proposições múltiplas e/ou abertas
questões de Arquitetura e Urbanismo: 2.00
Engenharia Química: 3.00
10 questões cada uma. Total: 40 questões
História, Geografia, Física e Química: Direito – Diurno: 4.22
Direito – Noturno: 5.22
Paulo Clóvis Schmitz Ciências Sociais, Direito, Enfermagem, Enge- dade de São Paulo (USP) e da Universidade estrelados encontram-se nas regiões
Jornalista na Agecom nharia de Alimentos, Engenharia de Controle Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). sudeste (41,4%) e sul (26,9%). A rede
e Automação, Engenharia Elétrica, Engenha- Exemplos de excelência – O levan- privada responde por 49,7% dos cursos
A Universidade Federal de Santa Cata- ria Mecânica, Engenharia de Produção, Física, tamento realizado pelo Guia do Estudante que obtiveram de três a cinco estrelas, e
rina ficou em sétimo lugar no ranking das História, Jornalismo, Medicina, Odontologia, leva em conta a necessidade que têm os a rede pública – incluindo as universidades
melhores instituições públicas de ensino Pedagogia, Química e Serviço Social. vestibulandos de escolher entre as melho- federais (31,6%), estaduais (16%) e mu-
superior do país, publicado pelo Guia do Com quatro estrelas, aparecem Admi- res alternativas oferecidas por 1.991 insti- nicipais (2,7%) – ficou com 50,3%.
Estudante da editora Abril. Dos 39 cursos nistração, Agronomia, Biblioteconomia, Ci- tuições públicas, privadas e comunitárias Os mais de 9 mil cursos foram avalia-
da UFSC que foram avaliados, 18 obtive- ência da Computação, Ciências Biológicas, em todo o país, superando a marca de 24 dos por 2.010 pareceristas. No editorial do
ram cinco estrelas, 20 levaram quatro e um Ciências Contábeis, Desenho Industrial, mil cursos. Neste ano, 3.551 cursos su- Guia, a editora Abril explica a motivação da
obteve três estrelas. Com índice 65.82, a Educação Física, Engenharia de Aqui- periores receberam estrelas: 1.999 foram pesquisa e sua preocupação em facilitar as
Universidade ficou à frente de instituições cultura, Engenharia Civil, Engenharia de considerados bons (três estrelas), 1.148 escolhas dos estudantes: “Ao apontar os
respeitadas como a Universidade Estadual Materiais, Engenharia Química, Engenharia ficaram entre os muito bons (quatro) e 404 destaques do ensino superior brasileiro,
de Campinas (Unicamp), Universidade Sanitária, Farmácia, Filosofia, Geografia, fizeram jus ao conceito excelente (cinco tanto na avaliação de cursos quanto na
Federal do Paraná (UFPR), Universidade Letras, Matemática, Nutrição e Psicologia. estrelas). Esse conjunto de opções – ofe- premiação das escolas, além de oferecer
Federal de São Carlos (UFSCar) e Universi- O curso Sistemas de Informação obteve recido por 570 das 1.332 instituições con- um serviço para ajudá-lo no seu percurso
dade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). três estrelas na avaliação. sideradas na pesquisa – representa 37,9% rumo à vida adulta e profissional, nosso
Os cursos em que a UFSC obteve a pon- Na área de Engenharia e Produção, a dos 9.371 cursos presenciais avaliados. objetivo também é mostrar os exemplos
tuação máxima, com cinco estrelas, são Ar- UFSC ficou em terceiro lugar entre as univer- Foram analisados cursos de 116 áreas, de excelência a fim de estimular caminhos
quitetura e Urbanismo, Ciências Econômicas, sidades públicas, atrás apenas da Universi- sendo que mais de 68% dos que foram semelhantes nas demais escolas”.
As melhores escolas
1º Universidade de 4º Universidade Federal 8º Universidade Estadual
São Paulo (USP)
Cursos avaliados: 104
do Rio de Janeiro (UFRJ)
Cursos avaliados: 50
7º Universidade de Campinas (Unicamp)
Cursos avaliados: 33
Cursos estrelados: 102
5 estrelas: 60
Cursos estrelados: 50
5 estrelas: 17
Federal de Santa Cursos estrelados: 33
5 estrelas: 23
4 estrelas: 36
3 estrelas: 6
4 estrelas: 26
3 estrelas: 7
Catarina (UFSC) 4 estrelas: 8
3 estrelas: 2
Resultado: 93.89 Resultado: 68.10 Resultado: 65.32
O universo teve origem há aproximadamente 15 bilhões de anos. Apareceu com Integrante da Academia Brasileira
o tamanho de um átomo e foi expandindo. “A questão é que a evolução do universo de Ciências desde 2001, o professor
foi realizada de tal forma para permitir a vida em nosso planeta. Pequenas mudanças do Departamento de Química da UFSC,
da velocidade de expansão, por exemplo, para mais ou para menos, não permitiriam Faruk Jose Nome Aguilera, foi eleito
o surgimento da vida”, explica Rosendo Augusto Yunes, pesquisador sênior da UFSC para compor também a Academia de
junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ciências para o Mundo em Desenvolvi-
mento (TWAS).
A TWAS é uma organização inter-
De onde viemos? Em 1995, o estudioso lançou pela
nacional fundada em 1983 na Itália.
Considerada uma das mais importantes
Editora da UFSC (EdUFSC) o livro A
entidades associadas à Organização das
organização da matéria: acaso ou
Nações Unidas para Educação, Ciência e
informação, onde expõe suas conside-
Cultura (Unesco), sua missão é promover
rações e sua visão sobre um assunto
o desenvolvimento da ciência e da tec-
que sempre motivou a reflexão de
nologia nos países em desenvolvimento.
cientistas, filósofos e teólogos. Com
Reúne em seus quadros os melhores
base em sua experiência, defende que
cientistas de países como Índia, Brasil,
a origem e evolução do Universo e da Faruk é um dos sete brasileiros que
China e África do Sul, entre outros.
vida não podem ser explicadas como integraram neste ano a TWAS
O número total de membros da TWAS
produtos do determinismo e do acaso.
agora chega a 950. O anúncio de 50 no-
Em uma abordagem científico-filosófica,
vos integrantes, entre eles sete brasilei- geral de um país em desenvolvimento
expõe pontos de vista, especulações e
ros, foi realizado no mês de outubro, na para rever a situação e as perspectivas
fatos relacionados à organização da ma-
África do Sul, durante a 11ª Conferência futuras da ciência e da tecnologia em vá-
téria e enfatiza sua posição teísta, que
Geral e 20ª Reunião Geral da Academia rias regiões do sul. Conferências já foram
busca conciliar a ideia de Deus e a teoria
de Ciências para o Mundo em Desenvol- organizadas na China (1987 e 2003),
da evolução.
vimento (TWAS). Venezuela (1990), Kuwait (1992), Nigéria
Em setembro deste ano o professor,
Este ano o evento foi organizado (1995), Brasil (1997 e 2006), Senegal
argentino naturalizado brasileiro, foi agra-
pela Academia de Ciências e Tecnologia (1999) e Índia (2002).
ciado com o Prêmio Scopus 2009, uma
da África do Sul e apoiado pelo Depar- Membros da TWAS, os ministros da
iniciativa da editora Elsevier em parceria
tamento da África do Sul de Ciência e Ciência e Tecnologia, presidentes das
com a Coordenação de Aperfeiçoamento
Tecnologia. A conferência de quatro dias academias de ciências e os conselhos de
de Pessoal de Nível Superior (Capes) – re-
atraiu 400 cientistas de 60 países, sen- investigação, bem como representan-
conhecimento concedido a pesquisadores
do uma das maiores já realizadas pela tes de organizações internacionais são
que apresentam produção científica de
Academia. convidados a assistir às conferências. O
alto destaque e excelência retratada na
De três em três anos, em conjunto presidente da entidade é o matemático
A obra concilia a
ideia de
base mais ampla de resumos e citações
Deus e a teoria da com uma reunião geral dos seus mem- Jacob Palis, também presidente da Aca-
evolução da literatura científica mundial.
bros, a TWAS convoca uma conferência demia Brasileira de Ciências (ABC).
Após imprimir um brilho especial à mente de palestras, debates, exibição “Janela da Alma”, dos cineastas João Florianópolis.
8ª Semana de Ensino, Pesquisa e Ex- de filmes e mesas redondas. Um dos Jardim e Walter Cavalho. Apresentando Não só isso: atingiu o seu objetivo
tensão (Sepex), a cultura não perdeu destaques do evento foi a conferência uma discussão poética sobre a visão, ao instigar o raciocínio a partir da arte.
o ritmo e emendou a sua agenda de inaugural com o professor de Filosofia o filme alimentou a reflexão da mesa- Afinal, como realçam os promotores, o
atividades com o II Café Filosófico, que da Universidade de Brasília (UnB), San- redonda sobre a Teoria da Imagem. cinema faz pensar sobre o fazer artístico
mobilizou a comunidade universitária e dro Calheiros de Moura, que dissecou o O Café Filosófico, apoiado pelo e serve de espaço à reflexão filosófica
a cidade em torno de filósofos, cineas- filme “Medéia”, de Píer Paulo Pasolini. Centro de Comunicação e Expressão sobre a vida.
tas, estudantes, professores, agitadores O leque de opções mostrou-se plural, (CCE) e organizado pela Secretaria de Na Sepex o rosto da cultura e arte
culturais e similares. incluindo, por exemplo, filmes do irania- Cultura e Arte (SecArte) e Departa- foi exibido pelo Departamento Artístico
Novamente bem divulgado e orga- no Abbas Kiarostami, do neo-zelandês mento Artístico-Cultural (DAC), atraiu Cultural, pelo Museu Universitário, pelo
nizado, o Café Filosófico centralizou, no Andrew Niccol e do russo Alexander público expressivo, conquistando, por Núcleo de Estudos Açorianos, pela Edi-
período de 3 a 5 de novembro, a maior Sokurov. isso, segundo a pró-reitora Maria de tora (EdUFSC) e pelo Departamento de
parte da sua programação no Teatro da O II Café Filosófico fechou com a Lourdes Borges, um espaço definitivo Cultura e Eventos. É a cultura animando
Igrejinha da UFSC. Consistiu basica- exibição do premiado documentário no calendário cultural da UFSC e de o ensino, a pesquisa e a extensão.
Café Filosófico: arte e conhecimento promovem espaço para o pensar filosófico sobre a vida
Aviões,
Galvão Novaes. toine a atrai sutilmente para as
A história do aviador e es- impressionistas composições de
critor francês Antoine de Saint- Debussy. Os dois se apaixonam
Exupéry inspirou outro Antonio e a partir daí começa a aventura
“Eu gostava mais do tempo em que não havia lembra, por exemplo, da fiambreria Dona Clara, Médico e cirurgião,
aterro, os barcos encostavam aqui atrás e o mar que “tinha o melhor queijo e a melhor manteiga da Henrique Prisco Paraíso
lavava tudo nos dias de vento forte”, diz em tom cidade”. Dois oleiros contam como transportavam as também é um contador
nostálgico o açougueiro Rogério do Livramento, peças da Ponta de Baixo até a cidade, em pequenas de histórias. Em seu pri-
um dos poucos remanescentes da época em embarcações que precisavam de vento favorável meiro livro, apresenta 33
que o Mercado Público de Florianópolis tinha 17 para chegar ao destino. E Beto Barreiro, do Box 32, narrativas curtas com a
bancas para venda de diz como ajudou pretensão de “provo-
carnes e uma infini- a transformar o car um sorriso, motivar
dade de peixarias e Mercado a partir uma reflexão ou des-
bancas de verduras. de 1984, quando pertar um sentimento”,
O seu depoimento e o instalou ali um segundo definição do
de outras 21 persona- bar voltado para próprio autor. Abelhas
gens que trabalharam, um público mais e Vaga-lumes (Edito-
ainda trabalham ou seleto e exigente ra Insular com apoio
tiveram envolvimento que o tradicio- da UFSC) traz tex-
com a rotina do esta- nal. tos bem humorados
belecimento estão no “Essas duas com a elegância que
livro Mercado Público dezenas de per- marcou a trajetória
e suas histórias, de sonagens nada profissional de Henrique Prisco
Paulo Clóvis Schmitz representam Paraíso, que atua na medicina desde 1950. “Fazia do
(textos) e Danísio Sil- no universo de ato cirúrgico momento de elevada arte e agora transmite
va (fotos). pessoas que fi- este estilo à literatura”, define o colega e contemporâneo
A publicação re- zeram do Mer- médico Ernesto Damerau.
úne textos baseados, cado Público o Baiano de nascimento, o autor passou a trabalhar em
na maioria dos casos, seu ganha-pão, Florianópolis desde 1954, onde atuou nos hospitais de Cari-
em entrevistas com mas o livro é dade, Celso Ramos e Casa de Saúde São Sebastião. Henrique
pessoas simples, ex- um recorte que Prisco integrou a comissão organizadora da Faculdade de
fornecedores, comer- mostra o quanto Medicina de Santa Catarina, foi professor na UFSC, presidente
ciantes ou funcionários ele representou da Associação Catarinense de Medicina e secretário estadual
que passaram anos de para a cidade e o de Saúde no Governo Colombo Salles.
sua vida ligados às lides do Mercado. “São figuras papel que ainda tem como elemento agregador, Médico por profissão, o autor se diz “desde a adolescên-
que conheceram a casa em outros tempos, antes como ponto de encontro e confraternização, cia, encantado pelo fascínio da literatura” e sempre teve
da construção do aterro da Baía Sul, quando o Mer- como ambiente que preserva muito do modo vontade de escrever um livro. Abelhas e Vaga-lumes é a
cado concentrava parte substancial do comércio da de ser do ilhéu típico”, afirmam os autores. O materialização desta vontade e, segundo ele, traz “coisas
cidade”, diz Paulo Clóvis, jornalista com 30 anos de livro, segundo o autor, não tem a pretensão de ouvidas de antepassados, vivências, acontecimentos do dia
profissão e que já havia publicado o livro Pequena contar a trajetória do Mercado, funcionando a dia e produtos da criatividade”. Algumas das narrativas
história do Teatro Álvaro de Carvalho. mais como uma sequência de reportagens com são verídicas e muitas inspiradas em uma frase, um verso
Entre os entrevistados estão plantadores de hor- figuras anônimas que ajudaram a contar sua ou uma canção. Doutor Prisco afirma que ficará feliz se o
taliças que levavam sua produção para vender no história, que já tem mais de um século. leitor “sorrir, pensar ou sentir, quem sabe, um instante de
Mercado, às vezes de barco, outras vezes em carri- Foram ouvidos pelo jornalista Paulo Clóvis prazer do espírito”.
nhos de mão, donos de peixarias, gente que vendia moradores de locais como Saco dos Limões, O escritor Jair Francisco Hamms, na apresentação da
galinhas vivas nas redondezas, proprietários de Barra da Lagoa, Santo Antônio de Lisboa, Pân- obra, destaca que Henrique Prisco nos brinda com “histórias
vendas que compravam mantimentos para reven- tano do Sul, Ponta de Baixo, Enseada do Brito de contagiante humor”. E vai além: “Vivesse Henri Bérgson,
der nos bairros e pescadores que levavam o produto e Armação de Piedade. O projeto do livro foi filósofo francês autor de O Riso, em que analisa condições
de seu trabalho direto para o Mercado. Também há aprovado pela Comissão Permanente de Cultura objetivas do cômico, do ridículo, do risível, e lesse Abelhas
depoimentos de frequentadores assíduos, como o da Fundação Franklin Cascaes e teve o patrocínio e Vaga-lumes, certamente muito riria.” Leitura agradável
funcionário público Décio Bortoluzzi, que ainda se da Caixa Econômica Federal (CEF). indicada para o período de férias.
Ombudsman
Avis rara no jornalismo
universitário
Deixo claro desde já: minha opinião,
em relação ao JU é oposta à do colega
que me precedeu nesta seção (Gilmar
Corrêa, edição nº 406, novembro de
2009). Para que não pairem dúvidas,
devo esclarecer, desde início, que a
mesma (e óbvia) liberdade que deu
a Corrêa, o editor também ofereceu a
mim. “Fique à vontade: pode meter o
pau no JU”, escreveu-me Moacir Loth.
Pois bem, minha opinião é oposta
à de Corrêa (a quem não conheço) em
razão de um ponto que parece ter se
Imagem
O Boitatá já chegou. A obra de 13 metros de altura, que foi concebida pelo artista
tornado a questão fundamental e mais
plástico Laércio Luiz da Silva em comemoração ao centenário de Franklin Cascaes,
importante do jornalismo nos últimos
dorme em frente ao lago onde será instalada, esperando o momento certo para voar
tempos: a suprema necessidade de fim? Trocando em miúdos, por que um
por sobre o campus e atiçar o imaginário popular. Dizia Cascaes: “O ente sobrenatu-
se ter que ouvir as pessoas da comu- auxiliar administrativo da pró-reitoria de
ral de que o homem tem mais medo é dele mesmo, é de si mesmo. Ele tem medo
nidade como forma de legitimar o que pós-graduação tem de ser ouvido pelo JU,
de verdade. Ele tem medo do boitatá, que é fogo-fátuo, que está nele próprio”.
é publicado. “A comunidade não se por exemplo, sobre a política de expansão
vê no Jornal Universitário”, escreveu de cursos de doutorado da UFSC?
Corrêa no artigo que teve como título A Universidade tem um lugar reser-
“Necessário ‘humanizar’ as matérias”.
Para o ombudsman da edição anterior,
vado para que professores, alunos e
funcionários, legitimados por mandatos
Poema Alfabeto em
os textos do JU “são meros despachos oficiais como representantes de seus Professores do Departamento de Biologia Celular, forma de sonetos
oficiais, pois desprezam ‘gente’ em suas segmentos, mostrem suas opiniões: os Embriologia e Genética da UFSC, André Ramos e
frases e períodos”. órgãos colegiados. São vários os con- Nadir Ferrari fizeram uma parceria pela arte. No A cientista da linguagem, autora e
livro O Anjo ao Contrário (Editora Ofício), os poe- tradutora brasileira, professora titular
Respeito a opinião de Corrêa, mas selhos em que a comunidade é formal e
mas do autor foram ilustrados pela pintora. Aqui a aposentada pela UFSC, Leonor Scliar-
não concordo com ela. Em jornais de necessariamente ouvida. Jornal ouve as
poesia cosmopolita enriquece a pintura inspirada Cabral, lançou, na forma de poesias,
associações de moradores ou de cor- fontes que considerar importantes para o
na tradição japonesa do sumi-ê. uma “arqueologia” das origens do
porações profissionais pode até ser assunto em pauta.
uma necessidade imprescindível, por E tanto agora como quando era alfabeto. Com a obra Sagração do
razões várias, revelar opiniões de seus editado por Laudelino Sarda, o JU faz Sedes Alfabeto a linguista presta seu tributo
próprios integrantes-leitores. Mas fazer o que considero o autêntico jornalismo a um dos maiores feitos do homem na
universitário. Trata-se de um jornal que às vezes enlouqueço acumulação do saber: a invenção do
isso como regra, em um jornal editado
reflete a instituição universitária, devendo e esqueço o caminho do poço. alfabeto. E dá novo vigor ao soneto,
por uma universidade, especialmente
se considerar que a universidade é mui- o balde que trago é de gesso, forma que muitos jovens poetas con-
se ela for pública, não me parece ser
to mais do que a soma de professores, a sede que sinto é no osso. siderada superada.
uma postura jornalística coerente com a
natureza da própria instituição universi- alunos e funcionários. Aliás, os veículos A publicação mostra que a traje-
de comunicação apropriados para ouvir os líquidos eu conheço, tória da escrita desenvolve um lento
tária. Universidade séria, como é o caso
a comunidade como regra são os jornais mergulhado até o pescoço, percurso desde a fase em que as ideias
da UFSC, é baseada no mérito, e seu
de suas respectivas associações. do mais fino ao mais espesso são expressas por meio de figuras e
jornal deve refletir essa característica.
Em suma, o que em jornais de outras todos molham só a língua. cenas (tradução da realidade do mun-
Vão para as páginas do JU, como fon-
tes das matérias, quem tem atribuição, instituições pode representar uma postura do, a descrição das coisas), passando
democrática ou coisa que o valha, em um bebendo e morrendo à míngua, pelos ideogramas, até chegar à etapa
qualificação e mandato para isso.
jornal universitário pode cheirar a popu- tenho a sede que mereço. fonográfica, que representa a fala. Na
No meu entendimento, um jornal
de uma universidade pública deve fazer lismo (ou falta de conhecimento do que série de 22 sonetos, traduzidos para o
exatamente o que faz este JU prioritaria- é a instituição universitária). português, inglês, francês, hebraico e
mente: informar a comunidade interna espanhol, a autora recupera o simbo-
da UFSC e a sociedade catarinense em José Roberto Ferreira criou o Jor- lismo histórico das letras e o usa como
geral sobre o que de mais importante, nal da Unesp em 1985 e foi seu editor inspiração. “Sagração do Alfabeto, não
do ponto de vista jornalístico, ocorre na durante 15 anos. Ex-presidente da hesito em dizer, é um dos projetos
Universidade. O que um funcionário que Associação Brasileira de Jornalismo poéticos mais belos e originais de que
está na Universidade para realizar uma Científico, é diretor da Acadêmica, tenho conhecimento.”, destaca na
atividade-meio qualquer tem a ver com agência de comunicação especializada apresentação do livro Moacyr Scliar,
uma iniciativa relativa a uma atividade- em ciência, tecnologia e inovação. um dos mais conhecidos escritores
brasileiros da atualidade.
José Antônio de Souza em 2007, mas somente no ano seguinte foi iniciado. de muitos estudantes pobres, especialmente os negros”,
Jornalista na Agecom Na Universidade há uma comissão que acompanha o considera Corina Espíndola.
desenvolvimento do programa, fornecendo subsídios para
Já está em funcionamento o site www.acoes-afir- a instituição avaliar a continuidade. Na opinião de Cori-
Podem participar do Programa de
mativas.ufsc.br do Programa de Ações Afirmativas da na, o desafio é grande porque há alunos que se sentem
UFSC, com informações diversas a respeito do assunto ameaçados, são isolados por colegas de curso e discrimi- Ações Afirmativas os candidatos que:
e dicas de como o público em geral pode se beneficiar nados por professores pelo simples fato de fazerem parte
com a legislação que garante cotas de vagas nas uni- dessa iniciativa “Os demais universitários alegam que os a) Tenham cursado integralmente todas as séries do
versidades brasileiras. beneficiados tiram vaga de outros jovens, enquanto que Ensino Fundamental e Médio em Instituições Públicas
Ações afirmativas são medidas especiais de políti- professores reclamam da diferença de nível dos egressos de Ensino, entendidas como tais aquelas mantidas pelo
cas públicas e/ou ações privadas de cunho temporário das escolas públicas”, explica a assistente social. poder público (Federal, Estadual e Municipal);
ou não. Elas pressupõem uma reparação histórica de Segundo Corina, há solução para isso através dos b) Tenham traços fenotípicos que os caracterizam
desigualdades e desvantagens acumuladas e vivencia- programas de monitoramento feitos por alunos de fases na sociedade como pertencentes ao grupo racial negro.
das por um grupo racial ou étnico de forma que essas mais avançadas nos cursos. Atualmente mais de duas Não se enquadram nessa situação os candidatos que não
medidas aumentam e facilitam o acesso desses grupos, centenas de acadêmicos amparados pelas cotas estudam tenham traços fenotípicos que os identificam com o grupo
garantindo a igualdade de oportunidade. em diversos cursos nas áreas de saúde, tecnologia e racial negro, ainda que tenha algum ascendente negro.
Segundo a assistente social Corina Martins Espíndola, ciências humanas. Terão prioridade na classificação os candidatos negros que
o site apresenta informações ao público em geral, traz A maior dificuldade do programa, na realidade, está no tenham cursado integralmente todas as séries do Ensino
orientações a respeito da legislação vigente, mostra links constante aumento da média de aprovação no vestibular Fundamental e Médio em Instituições Públicas de Ensino,
com outros sites relacionados e tem uma página com arti- que a Comissão Permanente do Vestibular (Coperve) vem isto é, as escolas municipais, estaduais ou federais;
gos. Na UFSC, o Programa de Ações Afirmativas foi criado promovendo. “Isso coloca a UFSC mais distante do sonho c) Que pertençam a povos indígenas.
Burle Marx
Marx, obedeciam
ao modelo
europeu, onde
predominavam
azaleias,
camélias,
magnólias e
nogueiras; a
foto marca a
visita do artista
à Universidade,
em 1970,
época em que
também o hoje
Precursor do modernismo brasileiro, Burle Marx conhecido Aterro
criou mais de dois mil jardins pelo mundo. Em da Baía Sul, em
2009, o arquiteto e paisagista completaria cem Florianópolis, se
anos. A UFSC faz parte de seu currículo chamava Parque
Metropolitano
e tinha o seu
desenho
Tifany Ródio brasileiras nativas em suas composições. lão, estacionamentos. Hoje, o Aterro Marx pode ser visto em outros lugares
Bolsista de Jornalismo na Agecom O começo foi difícil: a elite conservadora Baía Sul, no centro da cidade, é lugar de Santa Catarina, como na Indústria
da época estranhou o estilo abstrato e tro- de tudo, menos de uma área verde. Hering, em Blumenau; no Hotel Balne-
Setembro foi embora e deixou para pical de Burle Marx. Os jardins brasileiros Nos anos 70, chamado de Parque Me- ário de Laguna, em Laguna; e no Jardim
nós a estação mais florida do ano: a obedeciam ao modelo europeu: predo- tropolitano Dias Velho, o local tinha o Luxemburgo, em Joinville.
primavera traz de volta o colorido e o minavam azaléias, camélias, magnólias e desenho de Burle Marx. Projetado para Sua arte se espalhou pelo Brasil. São
perfume dos jardins. Nada mais inspi- nogueiras. “Foi Burle Marx quem valorizou ser um lugar de lazer e esporte, recebeu dele os murais e vegetação do Aeroporto
rador para lembrar o ano do centenário as plantas tropicais. Antes dele, os brasi- árvores, pavimentação e quadras de do Galeão, do aeroporto Santos Dumont,
de Roberto Burle Marx, celebrado com leiros preferiam rosas e cravos às bromé- esportes. os jardins suspensos do Outeiro da Gló-
palestras, exposições e homenagens. lias e outras espécies nacionais”, conta o Em 1996, a Prefeitura Municipal de ria, a orla do Leme e a Lagoa Rodrigo de
No dia 4 de agosto deste ano, o maior arquiteto e amigo Haruyoshi Ono. Florianópolis, junto a outros órgãos, lan- Freitas, no Rio de Janeiro.
arquiteto paisagista do século XX com- Entre mais de dois mil jardins espa- çou o Concurso Nacional de Ideias para Em outros estados há o Parque
pletaria cem anos. lhados por todo mundo, o paisagismo da a Revitalização do Parque Metropolitano Anhembi, em São Paulo; o Palácio do
Burle Marx ajudou a desenhar com UFSC também é parte de seu currículo. Dias Velho, convocando arquitetos a da- Itamaraty em Brasília, DF. Do trabalho
plantas, lagos, cores e formas, diversos O gênio dos jardins criou o projeto em rem sugestões para a região. A equipe conjunto com Oscar Niemeyer e Lúcio
cartões postais do País, como o Parque 1969 – sete anos depois da instalação vencedora, coordenada pelo arquiteto Costa, seus parceiros profissionais,
Ibirapuera, em SP, o Complexo da Pam- oficial da Universidade no Campus. André Schmidtt, propôs devolver o mar nascem os famosos jardins de Brasília
pulha, em MG, e o Aterro do Flamengo Essa é apenas mais uma obra do a sua posição original: retirar uma parte e muitos outros projetos.
e o calçadão de Copacabana, no RJ. premiado Burle Marx atingida pelo do aterro para criação de um canal que Há também os jardins da Unesco e
Artista de múltiplas artes, também é descaso. As políticas de preservação desembocaria em um lago no centro do prédio do Centro Georges Pompidou,
reconhecido como grande desenhista, desse tipo de patrimônio histórico ainda da cidade, unindo mercado público e em Paris; o Biscayne Boulevard, em
pintor, tapeceiro, escultor, pesquisador são insuficientes em todo o País. Na praça XV. Passados os anos, o projeto Miami; Jardim Memorial na Praça Rosa
e designer de jóias. Capital de Santa Catarina, outra área não foi implantado e o jardim de Burle de Luxemburgo, em Berlim; Jardim das
Precursor do modernismo brasilei- verde não foi conservada, essa ainda Marx foi completamente substituído por Nações, em Viena; Parque Del Este, em
ro, seus jardins tinham uma proposta nos anos 90. construções e comércio. Caracas, Venezuela, entre tantos outros
inovadora. Foi pioneiro em usar plantas Terminais urbanos, rodoviária, saco- Além da UFSC, o talento de Burle espalhados por mais de vinte países.
As cores do Campus
Os jardins da UFSC ganham rar os canteiros e muita coisa
forma e são mantidos, atual- deve sair”. O professor, que
mente, pelas mãos de nove pro- tem estudos sobre Burle Marx,
fissionais. As principais espécies diz também que nossas áreas
são Petúnias, Lírios amarelos, verdes estão reduzidas, apesar
Turneras e Lantanas, adubadas de haver projeto para as regiões
duas vezes por ano. próximas aos ginásios e acima
Lembrando de 32 anos atrás, do Restaurante Universitário.
tempo em que já era servidora Nos 15 anos em que traba-
da Universidade, Celita Maria lhou como jardineiro na Univer-
Fortkamp diz que os espaços flo- sidade, o servidor Jorge Fernan-
ridos e gramados bem cuidados des viu os jardins da UFSC se-
hoje estão abandonados. Outro rem reproduzidos em capas de
que defende que nossos jardins agendas e visitados por famílias
já foram melhores é César Flo- que faziam verdadeiros books
riano, professor do departamen- fotográficos de suas crianças.
to de Arquitetura. Segundo ele, Hoje observa que na primavera
a vegetação original foi sendo o campus não está florido. Sem
substituída com o tempo e o de- ver a mesma beleza e colorido
senho está desfigurado. “Foram de antes, Jorginho diz que falta
introduzidas esculturas e plantas atenção e cuidado, e alerta que
que não estavam previstas no a comunidade universitária deve
Nove profissionais cuidam hoje dos jardins da UFSC; dentre as espécies projeto inicial. Devemos restau- cobrar dos responsáveis.
encontradas estão petúnias, lírios amarelos, turneras e lantanas