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Para uma teoria deliberativa da democracia

José Pedro Luchi

Sumário
1. Introdução. 2. Inconsistência das teorias
empiristas da democracia. 3. A relação entre
sociedade e Estado vista segundo três modelos
normativos de democracia. 4. A despedida de
uma totalidade social centrada no Estado. 5.
Uma releitura procedimental dos conceitos de
legitimação e soberania popular. 6. Democra-
cia: deliberação ou competição organizada? Um
confronto entre Habermas e Walzer. 7. Os con-
ceitos de “status de cidadão” e de “sistema de
direitos”; o processo político. 8. Considerações
conclusivas.

1. Introdução
Este estudo tem como base o texto de J.
Habermas (1994) “Facticidade e Validade”,
no capítulo VII, cujo título é “Política deli-
berativa – um conceito procedimental da
Democracia”. Também em outros estudos
ele se dedicou ao tema1. Num primeiro mo-
mento, reconstruo a autocompreensão da
Teoria empirista da democracia, que apaga
do conceito de poder a exigência de legiti-
midade, equiparando o poder político a po-
der social. Tal reconstrução, a partir das
posições de W. Becker, é feita em três pas-
sos, em que se vai gradualmente mostrando
as autocontradições da posição empirista.
Desembocamos assim, teoricamente,
numa concepção normativa de democracia,
José Pedro Luchi é Doutor em Filosofia (Pon- que é definida e analisada segundo três
tifícia Universidade Gregoriana do Vaticano) e modelos: liberal e republicano, já conheci-
Professor do Mestrado em Direito Processual dos, e o terceiro, mais próprio de Habermas
da UFES. (1994), a democracia deliberativa. Os três
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modelos são analisados a partir de diver- não são justificáveis cognitivamente, mas
sas chaves conceituais: a relação entre soci- são apenas resultado de decisões contingen-
edade e Estado na visão de cada um, os con- tes.
ceitos de legitimidade e soberania popular, Assim como o poder consiste na superi-
status do cidadão e sistema de direitos, bem oridade empírica do interesse ou da vonta-
como a compreensão do processo político. de do mais forte, o poder estatal se expressa
A seção seguinte deste estudo é dedica- na estabilidade da ordem. E a legitimidade
da a um instrutivo confronto entre algumas de tal ordem se mede precisamente pelo re-
posições de Habermas e de Walzer, no to- conhecimento fático dos que são submissos
cante à teoria da democracia. Walzer reduz ao domínio, reconhecimento que vai desde
as exigências universalistas de Habermas, a tolerância até a livre adesão. As razões da
atendo-se a argumentações de fato aceitas e adesão legitimadora são subjetivas e depen-
foca mais sobre a realidade de que outros dem da cosmovisão, não são objetivamente
fatos, além dos estritamente racionais, in- fundamentáveis. Até mesmo uma ditadura
fluenciam o processo democrático. Interes- pode então ser legítima, na visão de Becker
sante também é sua posição sobre a relação (1982). Não importa a qualidade das razões,
entre religião e Estado e sua permissivida- mas que elas produzam estabilidade.
de em relação a argumentos de origem reli- Becker (1982) explicita Democracia por
giosa. meio dos conceitos de regras de jogo para
Concluo com uma breve avaliação de eleições universais e igualitárias, concorrên-
conjunto sobre o confronto Habermas– cia entre partidos e domínio da maioria. Ele
Walzer. não pretende justificar normativamente o
arranjo democrático mas, empiristicamen-
2. Inconsistência das teorias te, almeja mostrar como corresponde ao in-
empiristas da democracia teresse de todos, elites, partidos e cidadãos,
que se atenham às regras do jogo de uma
O empirismo político apaga do conceito democracia de massa. Ele o faz em três pas-
de poder político sua constitutiva vincula- sos, a saber:
ção com o direito legítimo e o reduz a um 1o passo: Esclarecimento objetivo. Validade
tipo de poder social. Poder social se define voluntarista. Positivismo jurídico
como “força de imposição de interesses su- A Democracia baseada em voto univer-
periores” (HABERMAS, 1994, p. 351), a se- sal, respeitando-se a maioria, apóia-se em
rem perseguidos mais ou menos racional- uma compreensão moderna da liberdade.
mente. O poder político seria então uma for- Essa resulta de uma secularização da visão
ma de poder social que, positivo e estável, judeu-cristã de que todo homem tem igual
permite conquistar o poder administrativo, valor diante de Deus e, de outro lado, subs-
isto é, o acesso a cargos públicos de gerenci- titui a origem transcendente da validade dos
amento do Estado, exercido de forma com- mandamentos por uma validade imanente,
petente. que se ancora na vontade dos sujeitos.
Habermas (1994) se confronta com uma Trata-se de um “subjetivismo ético”,
proposta empirista concreta, aquela de para o qual as normas se apóiam em deci-
Werner Becker (1982). Nessa visão, o ponto sões dos sujeitos num certo quadro de cul-
de vista do observador deveria chegar a co- tura. A esse voluntarismo normativo corres-
incidir com aquele do participante, isto é, os ponde um positivismo em relação ao Direi-
participantes do processo democrático, eli- to: só seria juridicamente válido o que um
tes e cidadãos, deveriam aceitar participar legislador político coloca como tal.
do jogo político em defesa de seus interes- Quando agora os interessados querem
ses mesmo sob a premissa de que normas se apropriar dessa explicação, da perspec-

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tiva do participante, eles tendem a buscar tido que os partidos em contenda de fato se
fundamentação para o subjetivismo ético e submetam à regra da maioria” (HABER-
então apelam para direitos humanos supra- MAS, 1994, p. 355).
positivos ou para um posição deontológica 3o passo: A alternância dos grupos no poder
pela qual é válido somente o que todos po- os faz respeitar as regras
dem querer. Porém, ensina Becker (1982), A maioria não perpetua uma tirania e,
com tais fugas racionalistas se pretende des- portanto respeita as regras, por medo de
viar da insuperável contingência das nor- perder o poder e se tornar minoria, caso em
mas que se consideram válidas. Habermas que desejaria ver respeitadas as regras do
(1994, p. 354) observa bem: jogo. A minoria as respeita porque almeja
“Entretanto, precisamente essa chegar ao poder. É essa a posição empirista,
consciência da contingência torna in- nesse nível.
satisfatória a oferecida explicação ob- A troca entre governo e oposição pressu-
jetiva para eles, participantes de um põe que o eleitorado seja dividido em cam-
processo democrático. Eles precisam pos diversos pelas elites concorrentes, a
no mínimo de uma explicação do pon- partir de critérios ideológicos, prometendo
to de vista da racionalidade de fins também compensações sociais. O jogo con-
para isso: porque as normas impos- junto dos meios ideológico-político e social-
tas pela maioria deveriam ser aceitas político gera legitimação das elites diante
como válidas para a minoria cada vez do eleitorado: propõe-se certa distribuição
derrotada”. de bens e se deve também interpretá-la.
2o passo: A domesticação da luta pelo poder, Essa explicação é talhada do ponto de
mdiante o temor vista das elites, que pretendem conquistar e
Mas, como se justifica então a aceitação manter o poder. Porém o público não se
da regra pela maioria? Apelo ao bem co- motivaria a participar de um processo em
mum, utilidade coletiva ou razão prática não que se vê apenas como “presa ideológica de
são conceitos disponíveis em chave de uma partidos em concorrência” (HABERMAS,
validade voluntarística. Becker (1982) res- 1994, p. 356). O público precisa se conven-
ponde a partir da ameaça de uma guerra cer do por que um partido é preferível a ou-
civil, no caso de a maioria não ser respeita- tro, precisa de boas razões para escolher.
da. Uma parte do povo aceita então o domí- “Assim se chega ao ponto em que aquilo
nio da outra parte, durante um certo tempo, que convence da perspectiva do observador
por temor de que a maioria, em caso contrá- não se deixa mais traduzir em um argumen-
rio, rescinda o acordo do não-uso da violên- to que convence os participantes. Sem mu-
cia. “Democracia significa segundo isso dar as premissas, essa tentativa dá origem a
nada diferente que uma parte do povo do- contradições” (HABERMAS, 1994, p. 356).
mina sobre a outra por algum tempo” Por que os cidadãos comuns e não ape-
(BECKER, 1982, p. 77 apud HABERMAS, nas as elites veriam e aceitariam um pseu-
1994, p. 355). do-argumento que não passa de retórica
Se o objetivo primordial de todos é a pa- propagandística? Sim, porque para Becker
cificação de confrontos violentos, essa ex- (1982) o discurso político não tem função
plicação tem alguma plausibilidade, mes- cognitiva de chegar à verdade, mas social-
mo do ponto de vista dos participantes, pen- psicológica de gerar aceitação. Sua respos-
sa Habermas (1994). Porém não é satisfató- ta é que cidadãos esclarecidos vêem o pro-
ria para eles “na medida em que permanece cesso político como formação de compromis-
não claro como minorias podem ser prote- sos. Porém, pergunta Habermas (1994), o que
gidas de uma tirania da maioria, mesmo que fundamenta a aceitação de compromissos?
seja pacífica. Além disso precisa ser garan- De um lado, Becker rejeita a idéia de justiça

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social como supérflua, de outro os partici- está a serviço da sociedade, vista como sis-
pantes devem ter boas razões para chegar a tema de mercado a partir de pessoas priva-
compromissos: eles realizam um equipara- das. O processo democrático se realiza como
ção “fair” de interesses entre os grupos so- compromisso entre interesses. Tais compro-
ciais. “Becker precisa, no fim, contrabande- missos são alcançados com base nos direi-
ar algo como equidade (fairness) como crité- tos humanos liberais: eleições universais e
rio de avaliação para compromissos, sem igualitárias, composição representativa das
poder declará-lo como tal”. (HABERMAS, corporações parlamentares etc.
1994, p. 358). A concepção republicana almeja a for-
Habermas (1994) pensa que compromis- mação de uma totalidade política, por meio
sos são aceitáveis por diferentes grupos a de uma sempre renovada autocompreensão
partir de razões diversas para cada grupo; ética dos cidadãos, a qual deve se atualizar
porém, os procedimentos para chegar a eles, periodicamente, inclusive em rituais cívicos.
no exercício da prudência de cada partido, Aqui o Estado é visto como associação jurí-
pressupõem razões normativas para reco- dica de cidadãos eticamente conscientes de
nhecê-los como aceitáveis. Porque o proce- sua vinculação. Há uma primazia tanto ge-
dimento mesmo é imparcial. nética como normativa da vontade política
Então a formação de compromissos exi- sobre a economia. O Republicanismo vê a
ge mais que um nível empírico ou mais que sociedade desde a origem como sociedade
uma racionalidade voltada para fins. Dito política. A coletividade, na sua práxis de
de outro modo, já intuitivamente a compre- autodeterminação, torna-se consciente de si
ensão de democracia tem um sentido nor- mesma e atua sobre si mesma, auto-organi-
mativo ao qual o empirismo não faz jus. zando-se, e isso é a própria democracia. A
Portanto a autodescrição empirista das prá- concepção republicana de política se volta
ticas democráticas não dá razões suficien- contra um aparato estatal burocratizado.
tes para que o cidadão observe as regras do Seu aguilhão polêmico fere um privatismo
jogo democrático. burguês de cidadãos despolitizados. O
eixo desse modelo é a autodeterminação
3. A relação entre sociedade e democrática de cidadãos deliberantes,
Estado vista segundo três modelos capaz de revitalizar espaços políticos, na
forma de uma auto-administração descen-
normativos de democracia
tralizada.
Tendo ficado clara a insuficiência da te- O modelo liberal considera que não se
oria empirista da democracia, Habermas possa eliminar a distância entre sociedade
(1994) passa a investigar três modelos nor- e Estado, mas que se deva lançar pontes
mativos de democracia, para os quais, en- entre ambos mediante o processo democrá-
tão, o conceito de poder político inclui cons- tico. Poder e interesse dos cidadãos indivi-
titutivamente uma vinculação com a legiti- dualizados devem se equilibrar por meio do
midade jurídica, isto é, aceitação racional estado de direito e de sua Constituição. Me-
das normas por parte de todos os partici- nor relevância é dada à formação da vonta-
pantes, aceitação intersubjetivamente fun- de dos cidadãos, vistos como voltados, em-
damentada. Ele pretende avaliar qual deles bora em posição democrática, para a defesa
oferece melhor possibilidade de ligação com de seus interesses. À Constituição cabe dis-
as ciências sociais, e, portanto, melhor ori- ciplinar o poder do Estado e a concorrência
entação na situação contemporânea. entre os diversos partidos, de um lado, e entre
A concepção liberal vê o Estado como governo e oposição, de outro. A compreen-
guarda de uma sociedade de economia. En- são da política é, portanto, centrada no Es-
tão o Estado, com a administração pública, tado, embora a política não cubra todo o

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âmbito da sociedade. Não se pensa no con- de institucionalização da formação da opi-
junto dos cidadãos agindo como um todo e nião e da vontade democráticas.
se valoriza antes o sucesso das realizações “A teoria do Discurso faz o cresci-
da atividade do Estado. O aguilhão polêmi- mento da política deliberativa depen-
co fere a capacidade perturbadora do poder dente não de uma cidadania coletiva-
estatal que prejudica o espontâneo inter- mente capaz de ação, mas da institu-
câmbio entre os cidadãos. cionalização de procedimentos cor-
O eixo desse modelo é então a regula- respondentes e pressuposições comu-
mentação, pelo Estado de direito, de uma nicativas, assim como do jogo conjun-
sociedade de economia “que deve garantir to entre consultas institucionalizadas
um bem comum nuclearmente compreendi- e opiniões públicas constituídas in-
do apoliticamente, através de satisfação de formalmente. A proceduralização da
expectativas de felicidade dos indivíduos soberania popular e a retro-ligação do
privados produtivamente ativos” (HABER- sistema político às redes periféricas da
MAS, 1994, p. 361). publicidade política vão juntos com a
O modelo republicano tem a vantagem imagem de uma sociedade descentra-
de ver a auto-organização da sociedade pela da” (HABERMAS, 1994, p. 362).
vida comunicativa e não apenas por nego-
ciações entre interesses opostos. Sua desvan- 4. A despedida de uma totalidade
tagem em relação ao modelo liberal é que os social centrada no Estado
discursos políticos são vistos como estrita-
mente éticos e então de modo por demais Habermas pensa que tanto o modelo re-
idealista2, ficando na dependência da vir- publicano como o liberal são tributários de
tude de cidadãos voltados ao bem comum3. figuras de pensamento que remetem à filo-
A concepção democrática da teoria do sofia da consciência. No primeiro caso, o
discurso coloca seu ponto forte sobre os pro- todo social centrado no Estado é pensado
cedimentos de consulta e deliberação, que como um sujeito em grande formato. O con-
abarcam compromissos, discursos éticos de junto dos cidadãos é visto como um ator
autocompreensão e discursos morais de jus- coletivo, ao qual se atribui a práxis de auto-
tiça4, chegando a resultados que têm expec- determinação.
tativa de ser eqüitativos, contanto que da- No segundo caso, o todo é transferido
dos relevantes tenham sido suficientemen- para o conjunto de normas constitucionais
te elaborados. Aqui a razão prática não se que regulam anonimamente as relações de
coloca mais nem como direitos humanos interesse e poder entre os indivíduos, repro-
universais, nem como autocompreensão éti- duzindo o modelo do mercado concorrenci-
ca de uma dada comunidade, mas como re- al que se auto-regula cegamente. O jogo das
gras de agir voltado para o entendimento, leis é visto tacitamente como o jogo de indi-
em processos de argumentação. víduos em concorrência com o mercado.
O modelo teorético-discursivo da demo- Ora, as comunicações nos procedimen-
cracia coloca uma exigência normativa não tos democráticos de eleições, de delibera-
tão fraca como o liberal, porém não tão forte ções legislativas e de espaços de informa-
como o republicano. Em comum com o re- ções formam arenas de debates sem sujeito,
publicanismo, a formação da opinião e da numa sociedade descentrada. A Teoria do
vontade políticas é colocada como ponto Discurso se reporta a uma intersubjetivida-
central, sem que a Constituição deixe de ser de de maior grau, capaz de transformar in-
compreendida como algo primordial. fluxos de opinião pública e poder comuni-
A Constituição do Estado de direito res- cativo em poder administrativo, passando
ponde de modo conseqüente à necessidade pela legislação.

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5. Uma releitura procedimental de problemas do conjunto da socie-
dos conceitos de legitimação e dade e estimulam opiniões influentes”
soberania popular (HABERMAS, 1994, p. 364).
Tal opinião pública se torna, assim elabora-
A nova impostação teorético-discursiva da, poder comunicativo que o sistema polí-
da democracia tem conseqüências seja so- tico traduz como poder administrativo.
bre o conceito de “Legitimação” seja sobre O conceito de soberania como poder que
aquele de “Soberania popular”. Para o modo sobrepuja todos os demais e era inicialmen-
de ver liberal, a formação democrática da te atribuído ao soberano absoluto foi trans-
opinião e da vontade, fracamente normati- ferido por Rousseau à vontade do povo uni-
va, mediante eleições, tem a função de legi- do. Tal idéia foi fundida com a clássica re-
timar o exercício do poder pelo partido ven- presentação do autodomínio de cidadãos
cedor, diante da opinião pública e do Parla- livres e iguais. Até certo ponto, a idéia de
mento. Resultados eleitorais são vistos como soberania permaneceu vinculada a uma
licença para assumir o poder de governo. presença física do povo, no qual se encarna
Para o modo de ver republicano, a for- o poder. Na visão republicana, com efeito, o
mação democrática da opinião e da vonta- povo não pode delegar seu poder soberano.
de representa bem mais que isso, ela consti- É o povo, ao menos potencialmente presen-
tui a própria sociedade como corpo políti- te, que detém o fundamento do poder cons-
co. Cada nova eleição reatualiza o ato de tituinte, e não seus representantes. O Libe-
sua fundação. Aqui o governo tem obriga- ralismo advoga uma posição mais realísti-
ção de realizar determinadas políticas e é ca, segundo a qual o poder que emana do
considerado parte de um corpo político povo é exercido em eleições e por meio dos
maior, que se auto-administra. Não é visto órgãos dos três poderes do Estado.
apenas como equipe autorizada a decisões A teoria discursiva da democracia aban-
amplamente livres. dona a atribuição da soberania, seja ao Povo,
A Teoria do Discurso considera a forma- concretisticamente, visto como um grande
ção democrática da opinião e da vontade, sujeito, seja à Constituição, com suas com-
com seus procedimentos, como base da ra- petências anônimas. Soberania popular é
cionalização das decisões de um governo agora interpretada intersubjetivamente e se
que a ela permanece retroacoplado. E isso torna então poder comunicativo, que surge
tanto no sentido que tal base de opinião do entrecruzamento de comunicações insti-
pública controla como também oferece sub- tucionalizadas em corpos legislativos e co-
sídios ao governo. A opinião pública, com municações informais promovidas por as-
efeito, não pode ela mesma governar, mas sociações da sociedade civil separadas tan-
pode orientar o uso do poder administrati- to do Estado como da Economia. Ela é tor-
vo em determinadas direções. nada anônima e sem sujeito porque se con-
Nesse sentido, racionalização é mais forte cretiza por fluxos de comunicação com pro-
que uma mera legitimação (liberalismo) e cedimentos democráticos, que podem pre-
mais fraco que constituição (republicanis- tender razoabilidade, embora seus procedi-
mo). O sistema político de poder é o único mentos sejam falíveis. Numa sociedade des-
que pode “agir”. centrada, desaparece o “si mesmo” da co-
“Ele é um sistema parcial especi- munidade jurídica.
alizado em decisões coletivamente Fica claro para Habermas (1994) que sua
vinculantes, enquanto as estruturas de proposta de política deliberativa exige uma
comunicação do espaço público for- socialização discursiva para a comunida-
mam uma extensa rede de sensores de jurídica, mas não para o conjunto da so-
que reagem à pressão das situações ciedade, que é mais ampla e complexa que o

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sistema político. “As comunicações políti- quem, a ordem jurídica se constrói então
cas filtradas deliberativamente dependem sobre direitos subjetivos. O sentido republi-
de recursos do mundo da vida – de uma cano do direito dá prioridade a uma ordem
cultura política de liberdade e de uma soci- jurídica objetiva, na qual os indivíduos se
alização politicamente esclarecida, sobretu- relacionam de modo justo e respeitoso. Aqui
do de iniciativas de associações formado- a integridade do indivíduo e da comunida-
ras de opinião” (HABERMAS, 1994, p. 366). de têm pesos iguais.
Habermas (1994) pensa que sua Teoria “O direito ao voto, interpretado
permite ligação com uma ciência social que como liberdade positiva, torna-se pa-
vê o sistema político não como centro nem radigma dos direitos em geral, não
modelo estrutural da sociedade, mas um sis- apenas pelo fato de ser constitutivo
tema entre outros, encarregado da solução para a autodeterminação política, mas
para riscos de integração social. Porém, por porque nele fica claro como a inclu-
isso mesmo ele precisa poder traduzir suas são em uma comunidade de cidadãos
comunicações para outros subsistemas, pelo dotados de direitos iguais está asso-
sistema jurídico. ciada ao direito individual a contri-
buir individualmente e de forma au-
6. Os conceitos de “status de tônoma e a assumir posicionamentos
cidadão” e de “sistema de próprios [...] Também a atribuição de
poder no âmbito do direito privado
direitos”; o processo político
para que se persiga fins privados e li-
Em chave liberal, o status de cidadão se vremente escolhidos obriga concomi-
define a partir de seus direitos subjetivos, tantemente a que se respeitem os limi-
que correspondem às chamadas liberdades tes da ação estratégica acordados se-
negativas, pelas quais se delimita um espa- gundo o interesse de todos” (HABER-
ço de iniciativa individual, onde outro não MAS, 2002b, p. 274).
tem o direito de intervir. O cidadão pode, As posições diferentes quanto ao papel
então, como pessoa privada, contar com o do cidadão e do direito remetem a uma mais
Estado para coibir invasões indevidas no profunda diversidade, entre os modelos li-
seu espaço de liberdade e pode levantar beral e republicano, quanto à natureza do
queixas contra o próprio Estado. Aqui di- próprio processo político: os liberais o vêem
reitos políticos são vistos também sob esse como estratégia de autorização para exer-
enfoque: possibilitam uma eficácia adminis- cer o poder, pela manifestação da preferên-
trativa aos interesses dos cidadãos, passan- cia dos eleitores, por maioria de votos.
do por mediações políticas: votações, cor- A própria formação da opinião e da von-
porações, parlamentos. tade é vista como uma concorrência entre
O cidadão republicano já é colocado des- posições diversas, almejando o sucesso. O
de o início no âmbito de uma coletividade modelo de concorrência do mercado é o
que se autocompreende e se autodetermina. pano de fundo. Os republicanos não vêem a
Direitos são vistos positivamente como par- formação da opinião e da vontade demo-
ticipação em uma práxis comunicativa co- cráticas como uma concorrência tipo mer-
mum, que gera força legitimadora originária. cado, mas como um processo comunicativo
O Estado se justifica como garantidor da in- orientado ao mútuo entendimento. O poder
clusão de todos os cidadãos em tal práxis administrativo só pode ser exercido com
comunicativa, mediante suas instituições. base em políticas acordadas democratica-
O sentido liberal de um sistema de direi- mente por meio da opinião pública e não é
tos (Cf. LUCHI, 2005, p. 121-136) é determi- apenas um alvo de disputa pelo controle do
nar em cada caso quais direitos cabem a aparato estatal.

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Habermas aponta como vantagem do Entretanto, tal “moral minimalista” não
modelo republicano o fato de que ele não é suficiente, ao ver de Walzer (2000), para
reduz os fins coletivos a negociações entre oferecer critérios para a distribuição de bens
partidos concorrentes, mas afirma a neces- sociais. Para tal distribuição, as práticas são
sidade de uma auto-organização comuni- muito diversificadas de acordo com as cul-
cativa da sociedade. turas. “Minha tese soa que a distribuição de
Como desvantagem, indica o demasia- bens sociais depende do significado que
do idealismo do modelo republicano bem esses bens têm na vida dos homens, aos
como o fato de tornar o processo democráti- quais eles são distribuídos [...] ela descreve
co dependente das virtudes de cidadãos não apenas a práxis fática, mas também as
voltados ao bem comum. Em outras pala- discussões sobre essa prática” (WALZER,
vras, a política é pensada segundo uma con- 2000, p. 260-285). A democracia é um modo
dução estritamente ética, quando de fato ela político de alocar o poder e isso exige tam-
inclui, além da ética, aspectos pragmáticos bém discussões sobre a legitimidade de tal
de utilidade e morais de justiça. divisão de poder, a qual definirá a distri-
No pluralismo cultural característico das buição dos bens considerados relevantes
sociedades ocidentais complexas, não bas- numa dada sociedade.
tam discursos éticos de acertamento da au- Walzer (2003, p. 416-417) advoga, em
tocompreensão de uma coletividade, em re- sintonia com uma política deliberativa, que
lação com a própria tradição e os próprios inclusividade e argumentação são caracte-
valores. Diante de diversidades culturais rísticas da democracia. Todos devem estar
que permanecem, é preciso recorrer a nego- em condições de tomar parte com discursos
ciações e compromissos. Isso requer regras quando questões de princípio exigirem ou
que acenam ao âmbito de uma normativi- seus interesses forem atingidos. E é preci-
dade moral. Resultados de negociações e so que sejam apresentados argumentos
discursos éticos não podem estar em con- convincentes, isto é, um “domínio de ra-
tradição com princípios morais, que carrei- zões”.
am validade universal. A política delibera- Porém aqui mesmo se dá uma diferença
tiva pretende englobar precisamente as três esclarecedora com a posição de Habermas:
formas comunicativas: auto-entendimento o argumento que convence é aquele que de
ético dos cidadãos, equilíbrio de interesses fato é admitido pela maioria dos ouvintes e
mediante acordos e fundamentação moral. não é necessária a referência a uma situa-
Entrecruzam-se o dialógico e o instrumental. ção ideal, na qual todos os possíveis parti-
cipantes pudessem estar de acordo. Capa-
7. Democracia: deliberação ou competição cidade de articulação faz parte da democra-
organizada? Um confronto entre cia. Certamente alguns tipos de proposições
devem ser excluídos da lógica democrática,
Habermas e Walzer
as razões extrínsecas.
Walzer (2000) admite uma “moral mini- O que seriam tais razões extrínsecas?
malista universal”, isto é, cada cultura bem Para Walzer, seriam o uso de bens ex-
desenvolvida tem, ao menos tacitamente, trínsecos: emprego de violência, distribui-
uma reserva de princípios aos quais se pode ção de dinheiro, barganha de cargos públi-
recorrer em casos críticos e que são capazes cos (HAUS, 2000). M. Haus (2000, p. 187)
de julgar certas situações, por ex., morte de afirma, no contexto da exposição do pensa-
civis durante uma guerra, engano da popu- mento de Walzer, que, para Habermas, con-
lação por parte dos políticos. Princípios cepções diversas de bem seriam semelhan-
como liberdade e autodeterminação são em tes a conteúdos não universalizáveis e en-
geral aceitos por todos. tão não seriam passíveis de crítica.

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Aqui eu faria duas observações a Haus: aceitariam posições religiosamente motiva-
a) é preciso apelar à distinção habermasia- das quanto ao aborto, pornografia e eutaná-
na entre discursos morais e discursos ético- sia?
políticos, que parece passar despercebida a Walzer (1983) defende a separação en-
Haus. Habermas colocaria entre parênteses tre Igreja e Estado não porque seja a favor
as particularidades de cada forma cultural da exclusão de argumentos religiosamente
de vida para chegar a princípios universais motivados, mas porque é preciso garantir a
de resolução de conflitos, e então estamos possibilidade da alternância do poder en-
no âmbito moral. Porém, no âmbito de solu- tre diferentes propostas. O monopólio do
ções mais concretas, não está excluída a dis- poder por um grupo seria a “vitória final”
cussão sobre valores e então sobre conteú- de uma parte, o que, em política, é impossí-
dos não universalizáveis (HABERMAS, vel e não permitido. Porém, isso não impede
2002a, p. 229). Além disso, b) a moral tem que cada grupo persiga ativamente sua con-
primazia sobre a ética e então a afirmação cepção de uma “boa sociedade”. Assim, “o
de tradições culturais não pode contradizer que se segue é simplesmente que, enquanto
princípios universais. houver idéias diferentes, nenhuma realiza-
Haus (2000) destaca a interessante posi- ção pode ser definitiva. No lado religioso
ção de Walzer de não considerar excluída a ou ideológico da linha, a boa sociedade
apresentação de argumentos religiosamen- pode ter uma forma absoluta; pelo lado po-
te motivados e assim explicitados, no pro- lítico ela é sempre provisória” (WALZER,
cesso democrático. “Uma sociedade demo- [200-?] apud HAUS, 2000, p. 188).
crática não pode inquirir sobre como ou Então numa sociedade em que há dife-
onde as visões políticas dos cidadãos são rentes concepções de bem, a implementação
formadas e não pode censurar as formas política de medidas que cada vez represen-
retóricas ou doutrinais nas quais essas vi- tam uma concepção não poderia contar com
sões são expressas”(WALZER, [200-?] apud o apoio de todos. A parte que fica em mino-
HAUS, 2000, p. 188). ria provavelmente não aceitaria as políticas
A razão para essa “permissividade” de do momento como corretas e esperaria sua
princípio a modelos de argumentação reli- oportunidade para efetuar mudanças, quan-
giosa na política é que não se pode excluir do, num tempo previsível, se tornasse maio-
convicções e paixões sem excluir também ria.
as pessoas por elas plasmadas. Então no
fundo se trata de ser conseqüentes quanto 8. Considerações conclusivas
ao respeito a oponentes e concorrentes polí-
ticos em suas convicções. Mas é bom lem- Fica claro que Walzer (1983, 2003, [200-
brar que tais argumentações religiosamente ?]) coloca em evidência questões éticas de
fundadas serão recebidas de modo muito grupos concorrentes e questões de interes-
diferenciado pelos ouvintes. Seu uso não ses, enquanto Habermas (1991, 1994, 1997,
equilibrado poderia emocionalizar o deba- 2002a, 2002b) salienta que, mesmo haven-
te político. do tais diferenças, é teórica e praticamente
Referindo-se a casos concretos, Walzer necessária a consideração de um horizonte
(1983) lembra que as esquerdas exercitaram de universalidade do entendimento. Sua ob-
em muitas ocasiões o apoio de motivações jeção ao conceito empírico de democracia,
religiosas, por exemplo, de abolicionistas acima reconstruída, pode ajudar a iluminar
religiosamente fundamentados, e ultima- a situação:
mente partidos voltados para mudanças a) Para que a implantação de modelos
sociais aceitaram apoio da teologia latino- políticos pelos grupos cada vez no poder
americana da libertação. Por que então não não se transforme em revanche ou posse

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utilitarista em proveito próprio, é preciso que conta interesses, paixões e vinculações ide-
tais medidas possam ser justificadas como ológicas e não apenas “boas razões”. De
a melhor opção diante de todos, num pro- outro ponto de vista, Walzer expõe também
cesso de discussão e possível reformulação. um conceito de reconhecimento no qual se
De outro modo, o partido no poder perderia distingue uma vertente racional, e aí teria
a legitimidade e o próprio poder. lugar o processo deliberativo, e também uma
b) Mesmo que haja negociações e barga- outra vertente, baseada no respeito a dife-
nhas, como Habermas muitas vezes mos- renças de convicções, e aqui teria lugar a
tra, esses mesmos processos têm que ser fair, negociação, que resultaria num modus viven-
então honestos e respeitosos de valores e di.
interesses alheios e realizados de acordo O processo democrático não se baseia,
com normas morais e não simplesmente de segundo Walzer, primariamente na delibe-
qualquer modo. ração, embora também a inclua, mas em ar-
c) Uma atitude arbitrária dos partidos ranjos negociados de modus vivendi, em que
no poder minaria a lealdade dos cidadãos, a competição organizada pelo apoio das
e não daria bases para o respeito das regras massas, a habilidade articulativa, os recur-
da democracia, colocando em risco a mes- sos financeiros e a retórica desempenham
ma alternância de poder. um papel importante. Pura deliberação é
Acordos negociados e um respeitoso própria dos tribunais e processos jurídicos,
modus vivendi são resultados que surgem de em que influências políticas deveriam ser o
procedimentos que compõem a democracia, mais reduzidas possível.
isso também é aceito por Habermas. Porém, Embora Walzer faça reflexões instruti-
precisamente tais arranjos pressupõem a vas no nível das negociações e do respeito a
aceitação de certos princípios de negocia- valores diferentes, a meu ver ele não é con-
ção, que precisam ser consensuais. Sem tal seqüente. Não se respeita uma convicção
concordância, não haveria garantia do res- qualquer, não aquelas consideradas inacei-
peito às regras do próprio processo demo- táveis, ou, na linguagem de Habermas, in-
crático, por exemplo, cumprimento das leis compatíveis seja com uma moral universa-
e alternância do poder. Isso os opositores lista seja com um projeto de identidade do
de Habermas não parecem aceitar, ou não grupo social. Além disso, ainda que deci-
consideram necessário tematizar. sões políticas de eleitores possam ter um
Walzer vê como “forma primária da vida coeficiente de imprevisibilidade, todo esfor-
política” não a tomada deliberativa de deci- ço retórico dos partidos, que inclui elemen-
sões, mas a concorrência organizada entre tos estéticos, visa amadurecer uma opção
diversos grupos, o que inclui a capacidade que possa ser fundamentada e não arbitrá-
retórica do convencimento, a articulação ria.
interna e com outros grupos, a busca de A democracia não se sustenta se o voto
apoio financeiro etc. for baseado em mero capricho. Porque maus
Não se trata, em primeiro lugar, de uma políticos poderiam sempre se reeleger e a
oferta de vantagens ao eleitorado, mas da lisura e fairness do processo político estari-
organização dos engajamentos políticos am ameaçadas, e com isso também a inte-
num sentido amplo. gração social. Mesmo que não tematizado,
A concorrência entre grupos não signifi- o horizonte de universalidade de um con-
ca então a obtenção do voto do eleitor, mas a senso baseado em “boas razões” deve per-
capacidade de angariar companheiros para manecer como pano de fundo de um pro-
a própria proposta. Walzer ressalta os mo- cesso político democrático, que tem, sim,
mentos não racionais do processo político, momentos de imprevisibilidade, mas cujos
tais como a decisão de eleitor, que leva em princípios e grandes linhas devem assumir

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tais momentos num complexo que mante- BECKER, W. Die Freiheit, die wir meinen. Muenchen:
nha a dinâmica de integração social e, en- [s. n.], 1982.
tão, um horizonte de universalidade.5 HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre fac-
ticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasilei-
ro,1997.

Notas ______ . A luta por reconhecimento no estado de-


mocrático de Direito. In: ______ . A inclusão do ou-
tro: estudos de teoria política. São Paulo: Loyola,
1
Ver alguns artigos do livro J. Habermas 2002a.
(2002b), principalmente o Cap. 9 “Três modelos
normativos de Democracia”. ______ . Faktizität und Geltung: Beiträge zur Diskurs-
2
Nessa linha vai a crítica de Habermas a H. theorie des Rechts und des demokratischen Rechtss-
Arendt (Cf. ARENDT, 1990, p. 100-118). taats. Frankfurt: Suhrkamp Verlag, 1994.
3
Seria naturalmente relevante estudar a aplica-
______ . Três modelos normativos de democracia.
bilidade dos diversos modelos de democracia à
In: ______ . A inclusão do outro: estudos de teoria
cultura política brasileira. Embora partidos e gru-
política. São Paulo: Loyola, 2002b.
pos políticos diversos representem diferentes posi-
ções, parece forte entre nós a tradição liberal da ______ . Para o uso pragmático, ético e moral da
democracia. Uma pesquisa empírica dessa temáti- razão prática. In: STEIN; BONI, L. A. (Org.). Dialé-
ca seria altamente interessante. tica e liberdade. Porto Alegre: Vozes, 1993.
4
Compromissos são resultado de negociações
em torno de interesses, estamos no âmbito do útil. ______ . Vom pragmatischen, ethischen und mora-
Discursos éticos se distinguem dos morais quando lischen Gebrauch der praktischen Vernunft. In:
aqueles visam a autocompreensão de um certo gru- HARBERMAS, J. Erläuterungen zur Diskursethik.
po, no contexto de sua história e esses visam prin- Frankfurta: Suhrkamp,1991.
cípios de resolução de conflitos aceitáveis para to- HAUS, M. Die praktische philosophie Michael
dos, para além de sua cultura de origem. Cf. Walzers. In: ______ . Kritik, gemeinschaft, gerechti-
Habermas (1991, 100 et seq.), Stein e L. A. de Boni gkeit. Wiesbaden: Westdeutscher Verlag, 2000.
(1993, p. 288-304)
5
Se nos perguntássemos sobre a cultura políti- LUCHI, J. P. A Lógica dos direitos fundamentais e
ca brasileira, poderíamos fazer uma pesquisa em- dos princípios do estado. In: ______ . (Org.). Lin-
pírica que nos mostraria quais os aspectos liberais guagem e socialidade. Vitória: Edufes, 2005.
e quais os republicanos de nossa mentalidade e WALZER, M. Esferas da justiça. São Paulo: M. Fon-
prática políticas. Minha hipótese seria que prevale- tes, 2003.
cem os aspectos liberais. Eleições são vistas entre
nós muito mais como processo para legitimar cer- ______ . Graça divina. In: ______ . Esferas da justiça:
tos grupos de administrar o Estado. Mesmo parti- uma defesa do pluralismo e da igualdade. São
dos que iniciaram com uma plataforma republica- Paulo: M. Fontes, 1983.
na de mobilização das massas para participação
______ . Traçando a linha: religião e política. [S. l. : s.
em projetos políticos tendem a diluir esse aspecto e
n], [200-?].
a se concentrar em resultados econômicos.
______ . Universalismus, gleichheit und das recht
auf einwanderung. In: PAUER-
STEIN, E.; BONI, L. A. de (Org.). Dialética e liberda-
Referências
de. Petrópolis: Vozes, 1993.
ARENDT, Hannah. O conceito de poder. In: STUDER, H. Konstruktionen praktischer vernunft:
FREITAG, B.; ROUANET, S. P. Habermas. São Pau- philosophie im gespraech. Berlin: Akademie, 2000.
lo: Ática, 1990.

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