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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS

Dinâmicas territoriais na fronteira de Mato Grosso do Sul/Brasil e


Paraguai: a produção da commodity soja para exportação e suas
consequências socioambientais

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação


Doutorado em Geografia, da Faculdade de Ciências
Humanas, da Universidade Federal da Grande
Dourados como requisito parcial para a obtenção do
título de Doutora em Geografia
Orientador: Prof. Dr. Charlei Aparecido da Silva

DOURADOS – MS
2021

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Dinâmicas territoriais na fronteira de Mato Grosso do Sul/ Brasil e
Paraguai: a produção da commodity soja para exportação e suas
consequências socioambientais

BANCA EXAMINADORA

TESE PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTORA

Presidente
Prof. Dr. Charlei Aparecido da Silva

_____________________________________________________________________

1º Examinador
Prof. Dr. François Laurent

_____________________________________________________________________

2º Examinador
Prof. Dr. Adriano Severo Figueiró

_____________________________________________________________________

3º Examinador
Profª. Drª. Lisandra Pereira Lamoso

_____________________________________________________________________

4º Examinador
Profª. Drª. Ana Carolina Torelli Marquezini Faccin

_____________________________________________________________________

Dourados, 23 de abril de 2021

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Dedico esta tese aos meus pais, pelo amor e pelo
esforço imensurável despendido para que eu pudesse
chegar aqui.

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AGRADECIMENTOS

É uma tarefa árdua nomear todos aqueles que contribuíram nessa minha jornada, no
entanto, é necessário ressaltar a importância dessas pessoas em minha vida e
consequentemente na construção dessa tese, que quase sempre foi um caminho solitário,
porém, sem o apoio imprescindível dessas pessoas não seria possível.

Agradeço aos meus pais, Carmen e Gilmar, que me deram todo o apoio e suporte durante
toda minha caminhada, não poupando esforços para que eu alcançasse todos meus
objetivos. Obrigada pelo amor incondicional. Me faltam palavras para expressar meu
amor e gratidão a vocês.

Agradeço meu esposo Fábio, por seu persistente e incansável apoio em todas as
circunstâncias. Obrigada por seu amor, paciência e compreensão. Meu parceiro na vida
pessoal e acadêmica. Aos nossos três filhotes caninos também, Thor, Luna e Puppy que
compartilham momentos felizes em nossas vidas.

Aos meus irmãos, Cristiane (minha Tata) e Marcelo por serem meus exemplos de vida e
me ensinarem que a educação é capaz de mudar nossas vidas. Aos meus cunhados
Raphael e Paula por todo apoio. Aos meus sobrinhos, Rafinha e Ana Júlia, vocês me
fazem uma pessoa melhor.

Ao meu orientador, Prof. Charlei, que aceitou me orientar lá no Mestrado sem mesmo me
conhecer e me acompanha desde então. Obrigada por me aconselhar e despertar em mim
o gosto ávido pela pesquisa, por me instigar a buscar voos mais altos. Obrigada por sua
orientação, oferecendo-me liberdade para escolher os caminhos, ao mesmo tempo que
não se eximia de seu papel de cobrar-me coerência. Obrigada por sua amizade.
Igualmente agradeço a Giu, sua esposa, por me receber em sua casa incontáveis vezes
para orientações e reuniões de trabalho.

Aos meus amigos e colegas do Laboratório de Geografia Física, o LGF: Patricia Martins,
Natalia, Bruno, Carlos, Maisa, Vladimir, Lorrane, Andressa, Bruna, Rafael, Prof. Boin e
Prof. André. Obrigada pela convivência, pelos momentos de reflexão sobre a minha
pesquisa e pelos momentos de descontração. À Patricia Martins agradeço pelo incentivo
e pelo apoio tão gentilmente prestado todas as vezes em que precisei, pelo cuidado no
envio constante de materiais para minha pesquisa e pelo carinho. A Karoline Batista pelas
trocas de informações e contatos sobre o Paraguai.

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Quero agradecer também aos meus queridos avós, Avelino, Nair e Ruth (in memoriam),
as recordações de minha infância feliz no sítio ao lado de uma família grande me fizeram
uma pessoa melhor, não tenho dúvidas.

A toda minha grande família, que me enche de carinho nos momentos em que estamos
juntos. Em especial agradeço a tia Fátima, que sempre me acompanhou, que torceu e se
alegrou com cada uma das minhas conquistas, sempre me incentivou a persistir na vida,
assim como sua família Léo, Júlia e Caio, meus agradecimentos.

Agradeço a família que eu escolhi, dona Edna, minha sogra e seu Orlando, meu sogro que
sempre me receberam com muito carinho. A Fernanda, Débora, Fernando e Priscila,
obrigada pelo apoio e cuidado. Aos meus enteados Miguel e Vicente pelos momentos de
felicidade em família. Aos sobrinhos Luiz, Julinho e Lucas, obrigada.

Aos meus incríveis amigos, que me proporcionam momentos de muita alegria: Kelly,
Aline, Amanda, Hilário, Jéssica, Dhione, Josiane, Josimar, Marileth. Vocês tornam minha
alma mais leve. Agradeço, em especial minha amiga de infância Kelly e minha amiga de
vários anos Jéssica, por me resgatarem nos momentos de angústia e seguirem de perto
meu caminho de doutoramento, mesmo fisicamente distante.

Agradeço ao Ednilson, da UFMS, pelo compartilhamento de dados e pelo cordial


atendimento dispensado às minhas demandas.

Aos integrantes de minha banca de defesa de qualificação: Profª. Carol Torelli, Prof.
François Laurent pelos importantes apontamentos e Profª. Lisandra Lamoso, que mesmo
não podendo estar presente não deixou de fazer importantes contribuições para os debates
dessa tese.

Aos integrantes da banca de defesa pela participação acerca dessa proposta e por
contribuírem ao longo do processo de construção dessa tese.

A todos os colaboradores do Programa de Pós-Graduação em Geografia e da UFGD.

A Capes por me conceder uma bolsa de estudo durante 24 meses, auxílio fundamental
para a pesquisa.

E agradeço a Deus por me amparar e renovar as minhas forças em momentos difíceis.

A todos, muito obrigada!

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A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou
- eu não aceito.
Trecho do poema Retrato Do Artista Quando Coisa de Manoel de Barros

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Dinâmicas territoriais na fronteira de Mato Grosso do Sul/ Brasil e
Paraguai: a produção da commodity soja para exportação e suas
consequências socioambientais

RESUMO
A dinâmica na fronteira Brasil/Mato Grosso do Sul e Paraguai é marcada, por um lado,
pela fluidez e porosidade das relações comerciais e interações entre as localidades, e de
outro, pela rigidez e dureza, demonstrada, por exemplo, na apropriação da terra e
produção de commodities. A ocupação desta fronteira não é exclusivamente territorial, é
sucessivamente temporal, depende dos atores, públicos e privados, que a constroem,
elaboram e dão condições para existência das dinâmicas que nela se estabelecem. Nesse
contexto o modelo agroexportador, incorporado no território, cumpre papel-chave na
formação de regiões marcadas por atividades econômicas específicas e dinamizadas pelos
setores ligados a elas. Nessa abordagem, o território constituiu-se em uma lente analítica
capaz de transpor para o primeiro plano a dinâmica estabelecida entre esses diversos
atores sociais e suas relações de poder por meio de diferentes escalas espaciais. Para
demonstrar essa dinâmica foi realizada uma revisão bibliográfica meticulosa, trabalhos
de campo e adotados procedimentos técnicos e operacionais a fim de espacializar e
compreender a articulação do modelo agroexportador da soja e as consequências
socioambientais para áreas protegidas da área de estudo. Observou-se que a expansão
espacial do cultivo de soja atrai capital para a mudança de uso da terra, intensificando a
pressão sobre as áreas protegidas e fragmentos naturais, sobretudo em áreas fronteiriças
onde a prática de se desviar das leis ambientais brasileiras para produzir do outro lado da
linha internacional acaba acontecendo, inclusive com a conivência e incentivo da classe
dominante paraguaia. Na região sudoeste de Mato Grosso do Sul e Região Oriental do
Paraguai, as unidades de conservação (UC), terras indígenas (TI), áreas silvestres
protegidas (ASP) e as comunidades indígenas mantiveram-se como ilhas cercadas por
cultivos mecanizados. À margem da dinâmica do modelo agroexportador, a coexistência
de comunidades tradicionais e produtores familiares ficam restritos a pequenas
superfícies de terra – que geralmente vêm acompanhadas de problemas de degradação
ambiental – e esbarram nas limitações para diversificação e incorporação tecnológica,
condição que permitiria subsidiar uma estrutura agrícola mais diversificada de maior
escala. Ao final, os produtos gerados e as análises espaciais empreendidas nesse estudo
podem apoiar o desenvolvimento de estratégias para conservação das áreas protegidas,
aliadas a produção de renda a partir do conhecimento que as populações indígenas ainda
detêm, por exemplo. A associação desses objetivos tende a garantir múltiplos benefícios
às populações tradicionais, minimizar os riscos de degradação das áreas protegidas e
ainda assegurar a função dos serviços ecossistêmicos (fornecimento de água, regulação
do clima) que as atividades agrícolas também são dependentes.
Palavras-chave: Fronteira; Modelo Agroexportador; Soja; Unidades de Conservação;
Terras Indígenas

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Territorial dynamics on the border of Mato Grosso do Sul/Brazil and
Paraguay: the production of the soy commodity for exportation and its
socio-environmental consequences

ABSTRACT
The dynamics in the Brazil/Mato Grosso do Sul to Paraguay border are marked by the
fluidity and porosity of trade relations and interactions between the locations, rigidity and
hardness demonstrated. Inland appropriation and commodity production, for example,
have an impact on territorial dynamics. The occupation of this boundary is not exclusively
territorial but successively temporal as it depends on the actors, public and private who
build, elaborate, and provide conditions for the existence of the dynamics that are
established in it. In this context, the agro-export model incorporated in the territory plays
a role in the formation of regions marked by specific economic activities and dynamized
by the sectors linked to them. In this approach, the territory constituted an analytical lens
capable of transposing to the foreground the dynamics settled between these different
social actors and their power relations through different spatial scales. To demonstrate
this dynamic, a meticulous bibliographical review was carried out, fieldwork and
technical and operational procedures were adopted to spatialize and understand the
articulation of the soybean agro-export model and the socio-environmental consequences
for protected areas in the study zone. It was observed that the spatial expansion of soy
cultivation attracts capital for land-use change aggravates pressure on protected areas and
natural fragments, especially in border areas which include the connivance and
encouragement of the Paraguayan ruling class. In the southwestern region of Mato Grosso
do Sul and the Eastern Region of Paraguay, conservation units (UC), indigenous lands
(TI), wild protected areas (ASP), and indigenous communities remained as islands
surrounded by mechanized cultivation. Outside the dynamics of the agro-export model,
the coexistence of traditional communities and family producers is restricted to small
areas of land. They are usually followed by problems of environmental degradation and
bumps into limitations for diversification and technological incorporation. This condition
would allow subsidizing a structure with more diverse agriculture on a larger scale. In the
end, the products generated, and the spatial analysis undertaken in this study can support
the development of strategies for the conservation of protected areas and the production
of income based on the knowledge that indigenous populations still have. The association
of these objectives tends to guarantee multiple benefits to traditional populations,
minimize the risks of degradation of protected areas, and ensure the function of ecosystem
services (water supply, climate regulation) on which agricultural activities are also
dependent.
Key words: Boundary; Agro-export Model; Soy; Conservation units; Indigenous Lands

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Dinámica territorial en la frontera de Mato Grosso do Sul / Brasil y
Paraguay: la producción de la soja para exportación y sus
consecuencias socioambientales

RESUMEN
La dinámica en la frontera Brasil / Mato Grosso do Sul y Paraguay está marcada, por un
lado, por la fluidez y porosidad de las relaciones comerciales e interacciones entre las
localidades, y por el otro, por la rigidez y dureza, demostrada, por ejemplo, en apropiación
de tierras y producción de mercancías. La ocupación de esta frontera no es
exclusivamente territorial, es sucesivamente temporal, depende de los actores, públicos y
privados, que construyen, elaboran y condicionan la existencia de las dinámicas que en
ella se establecen. En este contexto, el modelo agroexportador, incorporado en el
territorio, juega un papel clave en la formación de regiones marcadas por actividades
económicas específicas y dinamizadas por los sectores vinculados a ellas. En este
enfoque, el territorio constituyó una lente analítica capaz de trasladar al primer plano las
dinámicas que se establecen entre estos diferentes actores sociales y sus relaciones de
poder a través de diferentes escalas espaciales. Para demostrar esta dinámica se realizó
una minuciosa revisión bibliográfica, se adoptaron trabajos de campo y procedimientos
técnicos y operativos con el fin de espacializar y comprender la articulación del modelo
agroexportador de soja y las consecuencias socioambientales para las áreas protegidas del
área de estudio. Se observó que la expansión espacial del cultivo de soja atrae capital para
el cambio de uso de la tierra, intensificando la presión sobre áreas protegidas y fragmentos
naturales, especialmente en áreas fronterizas donde termina la práctica de desviarse de las
leyes ambientales brasileñas para producir del otro lado de la línea internacional. que está
sucediendo, incluso con la connivencia y el estímulo de la clase dominante paraguaya. En
la región suroeste de Mato Grosso do Sul y Región Oriental de Paraguay, las unidades de
conservación (UC), tierras indígenas (TI), áreas silvestres protegidas (ASP) y
comunidades indígenas permanecieron como islas rodeadas de cultivos mecanizados.
Fuera de la dinámica del modelo agroexportador, la convivencia de comunidades
tradicionales y productores familiares se restringe a pequeñas áreas de tierra - que suelen
ir acompañadas de problemas de degradación ambiental - y se topa con limitaciones para
la diversificación e incorporación tecnológica, condición que Permitir subsidiar una
estructura agrícola más diversificada a mayor escala. Al final, los productos generados y
los análisis espaciales realizados en este estudio pueden apoyar el desarrollo de estrategias
para la conservación de áreas protegidas, combinado con la producción de ingresos
basados en el conocimiento que aún poseen las poblaciones indígenas, por ejemplo. La
asociación de estos objetivos tiende a garantizar múltiples beneficios a las poblaciones
tradicionales, minimizar los riesgos de degradación de las áreas protegidas y también
asegurar la función de los servicios ecosistémicos (abastecimiento de agua, regulación
climática) de los que también dependen las actividades agrícolas.
Palabras clave: Frontera; Modelo Agroexportador; Soja; Áreas Silvestres Protegidas;
Tierras Indígenas

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1. Localização da área da pesquisa – fronteira Mato Grosso do Sul e Paraguai. 25
Figura 2. Fluxograma teórico-conceitual e metodológico para construção da tese........ 31
Figura 3. Articulação das discussões do capítulo I frente aos objetivos propostos na tese.
........................................................................................................................................ 34
Figura 4. Sub-regiões e respectivos municípios que compõe a faixa de fronteira no
estado de Mato Grosso do Sul. ....................................................................................... 48
Figura 5. Proposta para dinâmica territorial baseada no modelo agroexportador da soja.
........................................................................................................................................ 51
Figura 6. Principais agentes e atores sociais identificados nos eixos articuladores da tese
........................................................................................................................................ 52
Figura 7. Cadeia produtiva do complexo soja. ............................................................... 54
Figura 8. Regiões de planejamento dos programas desenvolvidos no Mato Grosso do
Sul entre 1970-1990. ...................................................................................................... 58
Figura 9. Síntese do desenvolvimento das políticas públicas que imperaram na
consolidação da formação do território sul-mato-grossense. ......................................... 61
Figura 10. Número de estabelecimentos agropecuários por grupos de área total no Mato
Grosso do Sul – 1980 a 2017. ......................................................................................... 66
Figura 11. Área total dos estabelecimentos agropecuários por grupos de área total no
Mato Grosso do Sul – 1980 a 2017. ............................................................................... 67
Figura 12. Variação nos grupos de área em relação ao número de estabelecimentos e a
área ocupada ................................................................................................................... 69
Figura 13. Proporção do número e da área dos estabelecimentos explorados por
categorias relacionadas a condição do responsável (proprietário, arrendatários,
ocupantes e administrador) no Mato Grosso do Sul 1960-2017. ................................... 70
Figura 14. Distribuição da área plantada e do número de propriedades no Paraguai no
censo de 1991 e 2008. .................................................................................................... 74
Figura 15. Área plantada com soja por nacionalidade do produtor e tamanho da
propriedade registrado no Censo Agropecuário de 2008. .............................................. 75
Figura 16. Participação dos produtores brasileiros em relação ao número total de títulos
de terras........................................................................................................................... 76
Figura 17. Distribuição das diferentes formas de utilização das terras nos
estabelecimentos rurais de Mato Grosso do Sul - 1980 a 2017. ..................................... 78
Figura 18. Área plantada com as principais culturas no Mato Grosso do Sul de 1980 a
2017. ............................................................................................................................... 79
Figura 19. Rendimento médio das principais culturas do Mato Grosso do Sul de 1980 a
2017. ............................................................................................................................... 81
Figura 20. Quantidade produzida das principais culturas do Mato Grosso do Sul de 1980
a 2017. ............................................................................................................................ 82
Figura 21. Percentual do total geral da área plantada por cultura no Mato Grosso do Sul
– 1980 a 2017. ................................................................................................................ 83
Figura 22. Distribuição das classes de uso e ocupação das terras no Paraguai .............. 85
Figura 23. Principais países produtores de soja na safra 2016/17 .................................. 86
Figura 24. Principais países exportadores de soja na safra 2017/18 .............................. 87
Figura 25. Evolução temporal da área plantada e quantidade produzida de soja no
Brasil............................................................................................................................... 88
Figura 26. Área plantada e quantidade produzida de soja nas regiões do Brasil na safra
2016/2017. ...................................................................................................................... 89
Figura 27. Evolução temporal da área plantada e quantidade produzida de soja no
Paraguai .......................................................................................................................... 90

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Figura 28. Área plantada da soja na Região Oriental do Paraguai na safra 2014/2015. 92
Figura 29. Evolução da área plantada com soja no Paraguai - 2000 a 2014. ................. 93
Figura 30. Número de máquinas, tratores ou equipamentos agrícolas em propriedades
no Mato Grosso do Sul – 1975 a 2017. .......................................................................... 94
Figura 31. Perfil de comercialização de soja do Mato Grosso do Sul. ........................... 98
Figura 32. Os dez principais destinos de exportação de soja do Mato Grosso do Sul. .. 99
Figura 33. Perfil da produção de soja no Mato Grosso do Sul. .................................... 100
Figura 34. Perfil de comercialização de soja do Paraguai. ........................................... 102
Figura 35. Os dez principais destinos de exportação de soja do Paraguai na safra 2017.
...................................................................................................................................... 104
Figura 36. Perfil da produção de soja no Paraguai. ...................................................... 105
Figura 37. Slogan da Syngenta sobre a expansão vertiginosa da soja .......................... 106
Figura 38. Evolução temporal da área plantada de soja no Mato Grosso do Sul e
Paraguai. ....................................................................................................................... 111
Figura 39. Evolução temporal da quantidade produzida de soja no Mato Grosso do Sul e
Paraguai. ....................................................................................................................... 112
Figura 40. Evolução temporal do rendimento médio da soja no Mato Grosso do Sul e
Paraguai. ....................................................................................................................... 113
Figura 41. Diagrama de espalhamento do Índice de Moran global para o atributo de área
plantada no Mato Grosso do Sul para os anos de 1990 (a) e para o ano de 2018 (b). .. 116
Figura 42. Diagrama de espalhamento do Índice de Moran global para o atributo de área
plantada no Paraguai para os anos de 1990 (a) e para o ano de 2018 (b). .................... 116
Figura 43. Índice LISA e identificação dos clusters espaciais locais para o estado de
Mato Grosso do Sul. ..................................................................................................... 119
Figura 44. Índice LISA e identificação dos clusters espaciais locais para o Paraguai. 120
Figura 45. Dinâmica da produção de soja, territórios consolidados, de expansão e de
retração ......................................................................................................................... 123
Figura 46. Evolução da área plantada e produção de soja da safra 2013/14 a 2018/19.
...................................................................................................................................... 124
Figura 47. Valores de área, produção e rendimento médio para os municípios produtores
de soja na faixa de fronteira de Mato Grosso do Sul. ................................................... 125
Figura 48. Comparativo de área, produção e rendimento médio para os departamentos
produtores de soja localizados na região Oriental do Paraguai. ................................... 126
Figura 49. Zonas de cultivo da soja no Paraguai .......................................................... 126
Figura 50. Superfície cultivada por produtores do agronegócio e da agricultura familiar
no período de 1991 a 2018. .......................................................................................... 127
Figura 51. Ocupação territorial dos principais cultivos e tamanho da área cultivada em
cada departamento do Paraguai. ................................................................................... 129
Figura 52. Biomas (ecorregiões) que compõem o território de Mato Grosso do Sul e
Paraguai. ....................................................................................................................... 135
Figura 53. Classificação dos tipos de solo encontrados no Mato Grosso do Sul. ........ 139
Figura 54. Classificação da cobertura vegetal do Mato Grosso do Sul. ....................... 142
Figura 55. Principais domínios de solos do Paraguai. .................................................. 146
Figura 56. Formações florestais naturais encontradas no território paraguaio ............. 149
Figura 57. Zoneamento das principais atividades produtivas no Mato Grosso do Sul e
Paraguai. ....................................................................................................................... 151
Figura 58. Áreas desmatadas por ano no Cerrado brasileiro ....................................... 156
Figura 59. Percentuais de desmatamento nas categorias fundiárias por estado em 2018.
...................................................................................................................................... 158
Figura 60. Área desmatada do bioma Cerrado no Mato Grosso do Sul de 2002 a 2018

13
...................................................................................................................................... 162
Figura 61. Uso e cobertura das terras no bioma Cerrado em Mato Grosso do Sul para o
ano de 2013................................................................................................................... 164
Figura 62. Cobertura vegetal no Paraguai para o ano de 2015 ..................................... 166
Figura 63. Perda da cobertura vegetal arbórea do Paraguai na série de 2001 a 2017. . 166
Figura 64. Principais motivos de conversão da cobertura vegetal arbórea do Paraguai na
série de 2001 a 2015 ..................................................................................................... 168
Figura 65. Panorama da distribuição das áreas protegidas (UC's + TI's) por bioma. ... 184
Figura 66. Uso e ocupação das terras no Brasil. ........................................................... 185
Figura 67. Recortes de notícias..................................................................................... 188
Figura 68. Número de ecossistemas identificados para cada ecorregião do Paraguai. 191
Figura 69. Percentual da superfície ocupada por grupos de UC's e por esfera
governamental de gestão no Mato Grosso do Sul ........................................................ 199
Figura 70. Situação das terras indígenas no âmbito da FUNAI ................................... 203
Figura 71. Áreas protegidas na faixa de fronteira Brasil/ Mato Grosso do Sul e Paraguai
...................................................................................................................................... 205
Figura 72. Conflitos por terra no Mato Grosso do Sul entre 1985 e 2018 ................... 206
Figura 73. Índices de casos e áreas de conflito no Mato Grosso do Sul para os cenários
de 1997 e 2017 para a área de fronteira ........................................................................ 207
Figura 74. Recorte de matéria de jornais sobre os conflitos na fronteira ..................... 209
Figura 75. Compatibilização da legenda da fonte de dados ......................................... 214
Figura 76. Distribuição dos quadrantes abrangendo as UCs e ASPs na faixa de fronteira
...................................................................................................................................... 216
Figura 77. Aspectos marcantes da fronteira sudoeste do Mato Grosso do Sul ............ 218
Figura 78. Paisagens e áreas preservadas na faixa de fronteira de Antônio João e Bela
Vista (MS) com o Paraguai. ......................................................................................... 219
Figura 79. Áreas protegidas (UCs e TIs) do Quadrante 1 ............................................ 220
Figura 80. Produção agrícola e pecuária na faixa de fronteira sudoeste do Mato Grosso
do Sul, nos municípios de Antônio João e Bela Vista (MS). ....................................... 222
Figura 81. Distribuição da área ocupada por tipos de uso e ocupação nas UCs e Tis.. 224
Figura 82. Distribuição da área ocupada por tipos de uso e ocupação nas ASPs......... 225
Figura 83. Uso e ocupação no Quadrante I - fronteira sudoeste................................... 226
Figura 84. O “Pantanal do rio Paraná” e os remanescentes conservados. .................... 227
Figura 85. Mosaico das principais atividades econômicas desenvolvidas na área de
estudo. ........................................................................................................................... 228
Figura 86. Áreas protegidas do Mato Grosso do Sul (UCs e TIs) e Paraguai (ASPs) do
Quadrante II - fronteira sudeste .................................................................................... 230
Figura 87. Uso e ocupação nas áreas protegidas do Quadrante 2................................. 232
Figura 88. Uso e ocupação no Quadrante II - fronteira sudeste ................................... 234
Figura 89. Agroindústrias de armazenando e processamento de grãos ........................ 235
Figura 90. Na paisagem mono o marco inexiste, se apequena, a condição
transfronteiriça prevalece ............................................................................................. 236
Figura 91. Áreas protegidas do Mato Grosso do Sul (UCs e TIs) do Quadrante III –
fronteira cone-sul .......................................................................................................... 238
Figura 92. Uso e ocupação nas áreas protegidas do Quadrante III............................... 239
Figura 93. Uso e ocupação no Quadrante III - fronteira cone-sul ................................ 240
Figura 94. Consequências do desmatamento na bacia do rio Iguatemi ........................ 242
Figura 95. Processos de degradação ambiental identificados na bacia do rio Iguatemi 243
Figura 96. "Fronteira" da resistência ambiental e do monopólio do modelo
agroexportador .............................................................................................................. 244

14
Figura 97. Distribuição das UCS, TIs e ASPs no Quadrante IV - fronteira extremo sul
...................................................................................................................................... 245
Figura 98. Resistência e resiliência das comunidades indígenas no extremo sul do Mato
Grosso do Sul ............................................................................................................... 247
Figura 99. Áreas protegidas o Quadrante IV ................................................................ 248
Figura 100. Terra indígena Pirajuí localizada na área de fronteira seca Brasil e Paraguai
...................................................................................................................................... 249
Figura 101. Uso e ocupação no Quadrante IV - fronteira extremo sul ......................... 251
Figura 102. Distribuição do ICMS aos municípios de Mato Grosso do Sul ................ 253

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LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Número e área de estabelecimentos agropecuários por grupos de área total,
Mato Grosso do Sul - 1970 a 2017. ................................................................................ 69
Tabela 2. Distribuição da superfície agrícola cultivada por grupo de área no Paraguai -
1991 e 2008 .................................................................................................................... 73
Tabela 3. Área plantada com as principais lavouras, segundo os Censos Agropecuários -
Mato Grosso do Sul 1980-2017. ..................................................................................... 79
Tabela 4. Rendimento médio em kg/ha das principais lavouras, segundo os Censos
Agropecuários - Mato Grosso do Sul 1980-2017. .......................................................... 81
Tabela 5. Quantidade produzida em toneladas das principais lavouras, segundo os
Censos Agropecuários - Mato Grosso do Sul 1980-2017. ............................................. 82
Tabela 6. Superfície dos tipos de uso e ocupação das terras no Paraguai para 2015 ..... 84
Tabela 7. Consumo mundial de soja na safra 2017/18. .................................................. 87
Tabela 8. Os dez maiores estados produtores de soja no Brasil - safra 16/17. ............... 90
Tabela 9. Principais empresas comercializadoras do complexo soja no Mato Grosso do
Sul. .................................................................................................................................. 95
Tabela 10. Principais empresas comercializadoras do complexo soja no Paraguai. ...... 95
Tabela 11. Principais destinos de comercialização da produção de soja no estado de
Mato Grosso do Sul. ....................................................................................................... 96
Tabela 12. Principais destinos de comercialização da produção de soja no Paraguai. ... 97
Tabela 13. Superfície cultivada por departamento por MGP e AF em 2017. .............. 128
Tabela 14. Classes de solos encontrados no Mato Grosso do Sul ................................ 138
Tabela 15. Tipos de vegetação do Mato Grosso do Sul ............................................... 141
Tabela 16. Classificação por grande ordem dos tipos de solos do Paraguai. ............... 147
Tabela 17. Distribuição da formação vegetal no Paraguai ........................................... 148
Tabela 18. Superfície de unidades de conservação localizadas no bioma Cerrado - Brasil
...................................................................................................................................... 159
Tabela 19. Superfície de terras indígenas localizadas no Cerrado brasileiro. .............. 160
Tabela 20. Número de áreas silvestres protegidas pelo SINASIP agrupadas segundo
categorias ...................................................................................................................... 160
Tabela 21. Superfície de tipos de uso e ocupação das terras no estado de Mato Grosso
do Sul – 1985 a 2017. ................................................................................................... 161
Tabela 22. Superfície dos tipos de uso e cobertura das terras no Mato Grosso do Sul. 165
Tabela 23. Índices de perda de cobertura vegetal nos principais departamentos do
Paraguai. ....................................................................................................................... 167
Tabela 24. Superfície de cobertura vegetal natural suprimidas para outros tipos de usos
...................................................................................................................................... 168
Tabela 25. Áreas protegidas por tipologia no Brasil .................................................... 183
Tabela 26. Superfície de áreas protegidas no território paraguaio ............................... 189
Tabela 27. Áreas Silvestres Protegidas do SINASIP agrupadas por subsistemas ........ 189
Tabela 28. Áreas Silvestres Protegidas pertencentes a cada ecorregião. ...................... 192
Tabela 29. Important Bird Areas (IBAs) no Paraguai e as ASPs coincidentes. ........... 194
Tabela 30. Superfície ocupada e número de áreas protegidas na faixa de fronteira do
Paraguai ........................................................................................................................ 195
Tabela 31. Superfície ocupada e número de unidades de conservação no Mato Grosso
do Sul ............................................................................................................................ 199
Tabela 32. Superfície ocupada e número de unidades de conservação na faixa de
fronteira do Mato Grosso do Sul .................................................................................. 200
Tabela 33. Percentual da área ocupada por categorias de terras indígenas .................. 203
Tabela 34. Distribuição das UCs e ASPs na faixa de fronteira .................................... 215

16
Tabela 35. Áreas protegidas no Mato Grosso do Sul - Quadrante 1, fronteira sudoeste.
...................................................................................................................................... 221
Tabela 36. Áreas protegidas no Paraguai - Quadrante 1, fronteira sudoeste ................ 225
Tabela 37. Áreas protegidas da região sudeste da faixa de fronteira de Mato Grosso do
Sul. ................................................................................................................................ 229
Tabela 38. Áreas protegidas da região cone-sul da faixa de fronteira de Mato Grosso do
Sul. ................................................................................................................................ 237
Tabela 39. Áreas protegidas da região extremo sul da faixa de fronteira de Mato Grosso
do Sul. ........................................................................................................................... 244

17
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Biomas identificados no Mato Grosso do Sul e Paraguai. .......................... 134
Quadro 2. Categorias de Unidades de Conservação estabelecidas pelo SNUC ........... 180
Quadro 3. Áreas Silvestres Protegidas agrupadas segundo categorias ......................... 190
Quadro 4. Áreas protegidas no Paraguai segundo a classificação do SINASIP........... 197
Quadro 5. Áreas protegidas no Mato Grosso do Sul segundo o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC). ............................................................................. 201
Quadro 6. Superfície das terras indígenas no Mato Grosso do Sul classificadas segundo
situação na FUNAI ....................................................................................................... 204

18
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APA Área de Proteção Ambiental


APP Área de Preservação Permanente
ARIE Área de Relevante Interesse Ecológico
ASP Área Silvestre Protegida
CAF Comitê de Articulação Federativa
CAR Cadastro Ambiental Rural
Comissão Permanente para o Desenvolvimento e a Integração da Faixa
CDIF
de Fronteira
CODESUL Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul
CPT Comissão Pastoral da Terra
CODEHUPY Coordinadora de Derechos Humanos del Paraguay
CONAB Companhia Nacional de Abastecimento
CONAM Conselho Nacional del Ambiente
DGEEC Dirección General de Estadística, Encuestas y Censos
DMH Dirección de Meteorología e Hidrología
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EMBRATER Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural
ENPAB Estratégia Nacional e Plano de Ação para Conservação
ESEC Estação Ecológica
FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations
FIP Programa de Investimento Florestal
FLONA Floresta Nacional, Floresta Estadual ou Municipal
FUNAI Fundação Nacional do Índio
GITE Grupo de Inteligência Territorial Estratégica
GTI Grupo de Trabalho Interfederativo
IBR Instituto de Bienestar Rural
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBDF Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária;
Indert Instituto Nacional de Desarrollo Rural y de la Tierra
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
IUCN União Internacional para Conservação da Natureza
LISA Local Indicators of Spatial Association
MAG Ministerio de Agricultura y Ganadería
Matopiba confluência dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia
MCTIC Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações
MMA Ministério do Meio Ambiente
MONA Monumento Natural
NFMS Núcleo Regional de Integração da Faixa de Fronteira
ONG Organização Não-Governamental
ONU Organização das Nações Unidas
PAN Plano Ambiental Nacional
PARNA Parque Nacional, Parque Estadual ou

19
Parque Natural Municipal
PPA Plano Plurianual
PDFF Programa de Desenvolvimento da Faixa de Fronteira
Plano de Desenvolvimento e Integração da Faixa de Fronteira do Estado
PDIF/MS
de Mato Grosso do Sul
PDR-MS Plano de Desenvolvimento Regional de Mato Grosso do Sul
PNT Plano Nacional do Trigo
PNDR Política Nacional de Desenvolvimento Regional
PNGATI Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas
PPG7 Programa Piloto de Proteção das Florestas Tropicais do Brasil
Projeto Integrado de Proteção às Populações e Terras Indígenas da
PPTAL
Amazônia Legal
Programa Nipo-brasileiro de Cooperação do Desenvolvimento do
Prodecer
Cerrado
Prodegran Programa Especial de Desenvolvimento da Região da Grande Dourados
Prodepan Programa de Desenvolvimento do Pantanal
Prodoeste Programa de Desenvolvimento do Centro-Oeste
Polamazônia Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia
Polocentro Programa de Desenvolvimento dos Cerrados
Programa Integrado de Desenvolvimento do Brasil na Fronteira
Polonoroeste
Noroeste
Programa Especial de Desenvolvimento do Mato Grosso e do Mato
Promat
Grosso
Prosul Programa Especial de Desenvolvimento do Mato Grosso do Sul
RDS Reserva de Desenvolvimento Sustentável
REBIO Reserva Biológica
Redução das Emissões provenientes do Desmatamento e da Degradação
REDD+ Florestal incluindo o papel da conservação, do manejo sustentável e do
aumento de estoques de carbono nas florestas
RESEX Reserva Extrativista
REVIS Refúgio de Vida Silvestre
RL Reserva Legal
RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural
SEAM Secretaría del Ambiente
SEMA Secretaria Especial do Meio Ambiente
SiCAR Sistema de Cadastro Ambiental Rural
SINASIP Sistema Nacional de Áreas Silvestres Protegidas
SISNAM Sistema Nacional Ambiental
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação
SPI Serviço de Proteção aos Índios
SUDECO Superintendência do Desenvolvimento Regional do Centro-Oeste
TI Terra indígena
UC Unidade de Conservação
WWF World Wildlife Fund
ZICOSUL Zona de Integração do Centro-Oeste da América do Sul

20
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 23
CAPÍTULO 1. A fronteira e o território: dimensões de análise .............................. 32
1.1. A fronteira Mato Grosso do Sul e Paraguai ..................................................... 35
1.2. Fronteira: multiescalaridades do território ....................................................... 38
1.3. Faixa de fronteira: simetrias e assimetrias entre Mato Grosso do Sul/Brasil e
Paraguai ...................................................................................................................... 41
1.4. Sub-regionalização da faixa de fronteira ......................................................... 46
CAPÍTULO 2. As dinâmicas territoriais, as conexões multiescalares entre o lugar,
a fronteira e o mundo da commodity soja ................................................................... 50
2.1. A cadeia produtiva da commodity soja ............................................................ 53
2.2. Programas e políticas públicas de integração e desenvolvimento ................... 55
2.3. Organização do território frente ao modelo agroexportador de soja ............... 65
2.4. Distribuição espacial do uso e ocupação das terras ......................................... 77
2.4. A expansão do cultivo da soja: do global ao local ........................................... 85
2.5. As redes de comercialização da soja ................................................................ 94
CAPÍTULO 3. Análise espacial da concentração da produção de soja na fronteira
Mato Grosso do Sul e Paraguai ................................................................................. 108
3.1. Análise espacial da produção de soja no Mato Grosso do Sul e Paraguai ..... 109
3.2. Análise das regiões homogêneas (clusters) na fronteira ................................ 114
3.3. A expansão do cultivo na soja nos municípios sul-mato-grossenses e nos
departamentos paraguaios ......................................................................................... 124
CAPÍTULO 4. A interface ambiental da dinâmica territorial na fronteira de Mato
Grosso do Sul e Paraguai ........................................................................................... 130
4.1. Dimensões e fatores ambientais convergentes na fronteira ........................... 131
4.2. Características ambientais do território sul-mato-grossense e paraguaio ...... 137
4.3. Ocupação territorial do Cerrado: commodities e desmatamento ................... 153
4.4. Avalição das taxas de desmatamento na faixa de fronteira ........................... 161
CAPÍTULO 5. Áreas Protegidas: a relação entre conservação da biodiversidade e
formas de gestão ......................................................................................................... 170
5.1. Histórico e formas de gestão das áreas protegidas no Brasil e no Paraguai .. 171
5.2. Gestão de Áreas Protegidas ........................................................................... 178
5.2.1. As Áreas Protegidas como principais instrumentos para preservação
ambiental no Brasil................................................................................................ 178
5.2.3. As Áreas Protegidas frente aos aspectos econômicos, sociais e ambientais
no Brasil 183

21
5.3. As Áreas Protegidas como principais instrumentos para preservação ambiental
no Paraguai ............................................................................................................... 189
5.4. Análise do panorama das áreas protegidas na faixa de fronteira ................... 195
5.4.1. Os conflitos decorrentes dos interesses diversos dos atores sociais ....... 206
CAPÍTULO 6. Análise do uso e ocupação das terras nas áreas protegidas da
fronteira sul-mato-grossense e paraguaia ................................................................ 211
6.1. Áreas Protegidas: segunda aproximação a escala de análise ......................... 212
6.1.1. Fronteira sudoeste – Quadrante I ............................................................... 217
6.1.2. Fronteira sudeste – Quadrante II ................................................................ 227
6.1.3. Fronteira cone-sul - Quadrante III .............................................................. 235
6.2. Faixa da fronteira extremo sul - Quadrante IV .............................................. 241
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 254
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 261
APENDICÊS ............................................................................................................... 278

22
INTRODUÇÃO

As condições que favoreceram a expansão vertiginosa da agricultura,


principalmente da soja, em direção às áreas de Cerrado brasileiro, podem ser apontadas
como resultado de uma combinação de fatores econômicos, políticos, demográficos,
(FREDERICO, 2008), geográficos (CARNEIRO FILHO e COSTA, 2016), sociais,
ambientais e culturais (BOLFE et al., 2020), envoltos por uma escala têmporo-espacial.
Nesse sentido, só é possível compreender o desenvolvimento da soja no Brasil, analisando
o panorama das últimas cinco décadas e utilizando como pano de fundo o cenário global.
O atual modelo de desenvolvimento sustentado pela agricultura moderna, que se
propagou por extensas áreas da região Centro-Oeste rumo ao norte do Brasil, desde os
anos de 1970, teve o Estado, num primeiro momento, como articulador e financiador da
expansão dessa fronteira agrícola (FREDERICO, 2013), a partir da criação de políticas
de colonização e modernização da agricultura, que viabilizaram a construção de
infraestrutura de transporte e armazenamento, além dos incentivos fiscais (Guerra Fiscal
e Lei Kandir) e de crédito rural (financiamentos subsidiados pelo BNDES) (MESQUITA,
2016). Os investimentos em tecnologia e pesquisa, destaque aqui para o papel da
Embrapa, no desenvolvimento de um pacote tecnológico (variedade de plantas, adubos e
fertilizantes) para o cultivo da soja nos solos ácidos e de baixa fertilidade do Cerrado
(DALL’AGNOL, 2016), foi também um importante elemento de forças endógenas nesse
processo.
A partir de 1990, com a adoção de políticas neoliberais e consequentemente a
abertura do mercado, o Estado passa a perder espaço para atuação política das grandes
empresas transnacionais de comercialização de grãos e insumos agrícolas (FREDERICO,
2013), tais como Bunge, Cargill, ADM e Louis-Dreyfuss, que atuam do lado da oferta na
cadeia produtiva. De 2000 em diante, a conjuntura externa de crescimento do comércio
mundial foi expressivo, motivado pelo aumento da demanda de países emergentes, o que
promoveu o boom das commodities (MARANHÃO e VIEIRA FILHO, 2016).
Tais delineamentos vão consolidando um modelo de desenvolvimento sui generis,
exclusivo e que privilegia a um seleto grupo, os latifundiários e os setores a eles
vinculados. O avanço voraz desse modelo agroexportador durante o final do século XX e
o início dos anos 2000 (MESQUITA, 2016) teve como base a apropriação e devastação
dos recursos naturais, calcado na grande propriedade monocultora, concentrado em
regiões específicas vinculadas ao mercado externo e com apoio de políticas

23
governamentais de fomento e subsídio. Embora nos últimos anos esse modelo tenha
sofrido algumas alterações, principalmente no que tange as barreiras impostas para o
consumo dos recursos naturais, sua essência se mantém.
O modelo agroexportador incorporado no território, cumpre assim, um papel-
chave nas discussões desta pesquisa, na formação de regiões marcadas por atividades
econômicas específicas e dinamizadas pelos setores ligados a elas. Nesse sentido, o papel
das flex crops (culturas flexíveis) na incorporação desse modelo é evidente, pela
versatilidade para inúmeros usos comerciais (alimentos, ração animal, biocombustíveis)
(BORRAS et al., 2016). A soja, possivelmente pode ser apontada como a matéria-prima
que melhor representa essa categoria de produto agrícola (FACCIN, 2019), capaz de
resistir aos solavancos de curto prazo em função da conjuntura do mercado mundial e
adaptar-se às necessidades impostas (OLIVEIRA, 2003), além de agregar diversos
segmentos importantes em sua cadeia produtiva (SILVEIRA, 2004) que assumem
funções específicas cada vez mais especializadas.
Dessa forma, como apontado por Oliveira (2003), o cultivo da soja, no Mato
Grosso do Sul, se configura como um elemento capaz de transformar e reconfigurar
regiões anteriores a sua chegada a este processo nesta nova dinâmica. As alterações
ocorridas no perfil econômico e na apropriação do território do Mato Grosso do Sul, que
tinha a pecuária como sua atividade mais tradicional (OLIVEIRA, 2003), ao longo das
últimas quatro décadas, em decorrência do avanço do cultivo da soja, foram mais radicais
nas áreas periféricas do estado – evidentemente, referimo-nos àquelas áreas propícias ao
cultivo – avançando, ainda para o território paraguaio, tornando os dois lados da linha
internacional uma região homogênea, como poderá ser observado no Capítulo 6.
Salienta-se que apesar de serem regidos por políticas públicas diferentes, os
territórios sul-mato-grossense e paraguaio, experimentam um intenso processo integração
orientado pelo modelo agroexportador, ligados, sobretudo às assimetrias de políticas
regulatórias que favorecem o efeito de “transbordamento” (VÁZQUEZ, 2011, p. 6).
Diante desse cenário brevemente sintetizado, por ora, na verdade um convite à
reflexão dos principais desdobramentos que culminaram na constituição e consolidação
do modelo agroexportador, buscamos analisar quais as principais determinantes para o
avanço e consolidação desse modelo na faixa de fronteira de Mato Grosso do Sul (150km)
e Paraguai (50km) (Figura 1) e quais as consequências socioambientais decorrentes de
sua inserção e manutenção.

24
.

Figura 1. Localização da área da pesquisa – fronteira Mato Grosso do Sul e Paraguai.


Elaborado pela autora

25
Com base nas evidências (teórico-conceituais, analíticas, empíricas) sobre a área
de estudo, em dados secundários e em trabalhos de campo realizados, discutidos no corpo
da tese, verificamos alguns aspectos importantes que conduzem a sequência analítica
desta pesquisa e merecem ser antecipadas para compreensão: a) a demanda internacional
por commodities, principalmente por soja, refletiu diretamente na alavancada das
exportações do grão no cenário nacional, condição que favoreceu a expansão da fronteira
agrícola; b) o perfil do estado de Mato Grosso do Sul, pautado na economia tipicamente
tradicional (agricultura/pecuária) e a predominância de áreas pertencentes ao Cerrado,
favoreceu sua inserção gradativa no cenário do comércio internacional através das
exportações de produtos do complexo soja e carne bovina (LAMOSO, 2011); c) o modelo
agroexportador está, concretamente, amparado no processo de ocupação extensiva e
predatória do território, na dilapidação dos recursos naturais e em subsídios
governamentais (MESQUITA, 2016), capitaneado por empresas transnacionais, que
atuam em regiões específicas de produção em diferentes níveis de integração vertical
relacionadas ao complexo soja.

A partir dessas informações, elencamos aqui as questões norteadoras para a


construção dessa tese:

I. Como as relações hegemônicas de produção no território são delineadas


na fronteira/ Quais as condições da fronteira que aproximam e distanciam
Mato Grosso do Sul/ Brasil e Paraguai
II. O quanto o modelo agroexportador é capaz de fragmentar territórios/
regiões? O Paraguai se tornou uma extensão do modelo brasileiro de
produção de soja?
III. A inserção e manutenção desse modelo de desenvolvimento está
diretamente associado à degradação da vegetação natural? Quais são os
impactos socioambientais?
IV. As áreas protegidas (Unidades de Conservação e Terras Indígenas)
resistem a consolidação do modelo agroexportador?
V. Como a paisagem sul-mato-grossense e paraguaia contribuíram para
impulsionar este modelo produtivo agroexportador?

26
Ao pressupor, a partir dessa reflexão, a articulação do modelo produtivo
agroexportador posto e da temática da fronteira, são incorporados em suas entrelinhas
uma oportuna abordagem da interrelação entre apropriação do território e dilapidação dos
recursos naturais. Considerando, ainda, em se tratando de um recorte espacial incluindo
regiões diversificadas e específicas como a faixa de fronteira do Mato Grosso do Sul/
Paraguai, faz-se necessário traçar um perfil descritivo desse território fronteiriço, para
maior esclarecimento de seu processo histórico de ocupação e desdobramentos. Dessa
forma, compreendemos na construção dessa tese, a importância dessa abordagem,
presente nos capítulos 1, 2 e 3 – que compõe o que chamamos de Parte A da tese. Da
mesma forma que a temática ambiental alinhavada nessa pesquisa é pertinente e
irrecusável, compreendida nos capítulos 4, 5 e 6 (Parte B), em que a análise das mudanças
da cobertura vegetal e do uso da terra permitem avaliar as transformações ocorridas no
ambiente natural, a partir de uma perspectiva do modo como o território é apropriado e,
consequentemente, da utilização dos recursos naturais por diferentes agentes sociais.
Esses dois grandes conjuntos de análises deram forma a essa tese.

Destarte, a construção dessa tese é permeada pela articulação entre as escalas


geográficas, condição que consideramos fundamental para analisar as especificidades
desse território fronteiriço. Diante dessas observações, organizamos a tese em seis
capítulos. No Capítulo 1 conduzimos as discussões percorrendo os meandros dos
conceitos de fronteira e território enquanto noções fundamentais no processo da dinâmica
territorial. Primeiramente, associando o conceito de fronteira ao contexto jurídico de
limite, caracterizado como o espaço controlado pelo poder político-administrativo do
Estado e cuja extensão delimita o foro de atuação desse poder. Ligando-se, diretamente
ao conceito de território, determinado como um compartimento político-administrativo
de áreas geograficamente demarcadas por fronteiras sobre o qual incide um sistema
normativo sob controle do Estado.

Nesse campo de forças, como chamado por Raffestin (1993), que é o território, as
fronteiras possuem um papel expressivo na dinâmica dos Estados-Nação, mas,
representam verdadeiros desafios na consolidação da soberania dos Estados. No caso da
fronteira sul-mato-grossense, sua extensão e baixa densidade demográfica contribuem
para falta de controle e fiscalização, sobretudo atualmente, sob o impacto de atores
econômicos e sociais com interesses diversos, como ressalta Becker (2004), que em
grande parte acabam encontrando terreno fértil para atuação ilegal.

27
Na condição de um dos conceitos fundamentais da Geografia, o território
constitui, nessa tese, uma lente analítica capaz de transpor para o primeiro plano a
dinâmica estabelecida entre esses diversos atores sociais e suas relações de poder por
meio de diferentes escalas espaciais. Com base nessas relações ora verticais e hierárquicas
ora horizontas e cumulativas, emerge, a posteriori, o conceito de região.

É preciso esclarecer que não se busca abandonar o conceito de território em


substituição por região. Mas, a ideia é demonstrar que para a perspectiva de análise dessa
tese esses conceitos ganham lugar de centralidade à medida que as variáveis de análise
da pesquisa se alternam.

Portanto, propomos considerar os conceitos de território e região na sua


perspectiva mais associativa, em que o primeiro está atrelado, diretamente as relações de
poder político-administrativa (aqui emerge a ideia de Estado-nação e os conceitos de
limites e fronteiras), econômica e cultural abrangendo os diferentes níveis de
relacionamento entre os agentes e atores sociais, produzindo o que designamos de
dinâmica territorial.

As análises dos Capitulo 2 são norteadas por um conjunto de condicionantes, já


apontadas por estudos conceituados, o qual favoreceram e/ou autorizaram a incorporação
e consolidação do modelo agroexportador no território, a saber: os investimentos em
pesquisas que permitiram altos ganhos de produtividade (DALL’AGNOL, 2006); a
promoção dos interesses de grandes empresas, principalmente multinacionais,
comercializadoras de soja e de insumos agrícolas (maquinário, agrotóxicos, adubos e
fertilizantes, sementes selecionadas e transgênicos) (SILVEIRA, 2004); a concentração
fundiária com a maior parte da produção destinada à exportação; a organização e
especialização funcional das cidades com vistas a atender a demanda da agricultura
moderna (armazéns, silos, comercialização de insumos agrícolas); a logística e
infraestrutura do modal de transportes (estradas, portos, ferrovias, hidrovias) para
escoamento da produção e (MENDES e PADILHA JÚNIOR, 2007); a atuação do Estado
(abertura para mercados internacionais, programas governamentais, políticas de
financiamento) como principal agente regulador, no primeiro momento desse processo
(FREDERICO, 2008).

Esse conjunto de variáveis socioeconômicas foram responsáveis por preparar a


região para comportar as demandas do modelo agroexportador, entretanto, não seriam

28
suficientes para garantir a expansão do cultivo da soja na região sem as características
naturais favoráveis em termos de relevo, temperatura, precipitação e exposição solar.
Algumas das limitações naturais foram superadas a partir do desenvolvimento de
cultivares adaptados às condições tropicais e a correção dos solos ácidos do Cerrado pela
Embrapa (SANCHES et al., 2005).

A fim de compreender a distribuição espacial dos dados de expansão do cultivo


da soja, no Capítulo 3 utilizamos a análise exploratória com o objetivo de identificar os
padrões de associação espacial existente, identificando áreas homogêneas (clusters) e
situações em que a ocorrência do fenômeno é atípica (outliers). Para representação da
estatística e visualização de padrões de autocorrelação foi utilizado o Índice de Moran
global e local (LISA), bem como o diagrama de espalhamento de Moran, em plataforma
de Sistemas de Informação Geográfica (SIG), utilizando como indicador as variáveis
relacionadas a produção da soja.

Outro fator importante em oportunizar esse movimento de ocupação econômica


do território, são os recursos naturais. Por esse motivo, o Capítulo 4 apresenta as
características naturais da área de estudo e a homogeneidade do substrato físico e
biológico do território sul-mato-grossense e paraguaio, que oportunizaram a expansão do
cultivo da soja. É notável que os vínculos entre os fatores geográficos e o modelo de
desenvolvimento adotado seguem sendo muito estreitos, sobretudo em territórios cuja
matriz produtiva se encontra sustentada pelo setor primário (agrícola e/ou pecuário) e
suas respectivas cadeias produtivas.

Dessa forma, optou-se por conduzir a discussão do Capítulo 4 direcionada ao


recorte espacial dos biomas, considerando a escala das informações obtidas e por entender
que as características de cada bioma favorecem ou limitam a exploração e ocupação
econômica sobre cada um deles, assim como o grau de proteção ambiental, que varia de
um bioma para outro, em que a falta ou ineficácia da legislação ambiental se torna um
dos fatores propulsores, de forma indireta, para exploração econômica.

A questão ambiental, aliás, configura-se como um grande impasse nessa região


após o monopólio do modelo agroexportador. Neste âmbito são permeadas as discussões
do Capítulo 5, em relação à pressão que incide diretamente sobre as áreas de floresta
preservadas, tornando-as um contraponto “passivo” da fronteira agropecuária em
expansão (BECKER, 2004), principalmente àquelas legalmente instituídas, como
Unidades de Conservação e Terras Indígenas.
29
Considerando os custos sociais e ambientais do modelo agroexportador sobre as
áreas protegidas, tais como perda da biodiversidade (MACHADO, 2000), interferência
hidrológica de importantes bacias do país (LIMA e SILVA, 2005), assoreamento dos rios
e erosão dos solos e poluição dos aquíferos (BRASIL, 2011), buscamos investigar, na
sequência no Capítulo 6, a relação entre as alterações no uso e ocupação das terras e a
expansão da soja, a partir do emprego de produtos de sensoriamento remoto e técnicas de
geoprocessamento.

Observa-se que as simetrias na faixa de fronteira entre Mato Grosso do Sul e


Paraguai encontram-se sustentadas pela dinâmica produtiva do setor primário (agrícola
e/ou pecuário), sobretudo no cultivo da soja, e suas respectivas cadeias produtivas, que
possibilitaram a inserção dessas economias no mercado internacional (SOUCHAUD,
2007; LAMOSO, 2016). Ao mesmo tempo que gera conflitos generalizados ligados a
disputas de terras, reflexo dos interesses de atores e agentes sociais diversos. Assim, a
mesma dinâmica produtiva que aproxima ambos os países, também os distancia, afinal
“a ponte que separa dois lugares é a mesma que viabiliza a travessia” (ÁGUAS, 2013, p.
03).

Na Figura 2 nos propusemos ao desafio de esboçar o processo de construção da


tese desde o aspecto teórico-conceitual até as proposições. É necessário salientar que por
não haver um capítulo exclusivo da metodologia, pois os métodos, técnicas e
procedimentos realizados nessa tese estão inseridos no decorrer das análises dos
capítulos, a figura abaixo sintetiza esse processo apresentando a estrutura sequencial da
tese.

30
31

Figura 2. Fluxograma teórico-conceitual e metodológico para construção da tese


Elaborado pela autora
C APÍTULO 1

A fronteira e o território: dimensões de


análise

32
“A zona de fronteira se faz através do processo de interações afetivas,
econômicas, culturais e políticas, tanto espontâneas como promovidas.
Apresenta silêncios que só quem a vive consegue escutar”
(CASTROGIOVANNI, 2010, p. 36).

Nesse primeiro capítulo o objetivo consiste em apresentar uma discussão do


conceito de fronteira sob a ótica de diferentes autores, concomitante a sua evolução
teórico-metodológica e a partir daí seu sentido enquanto escala de análise. Ainda que na
modernidade a fronteira assuma uma posição engessada e normatizada, no sentido de
soberania de cada Estado-Nação, é permeada de significados, portanto, transitar sobre sua
polissemia exige versatilidade.

Dentre os diversos caminhos possíveis de se enveredar na interpretação da


fronteira, para atender aos objetivos propostos nessa tese, optamos por conduzir a
discussão a partir da funcionalidade que ela assume na área da pesquisa, em que as
relações socioeconômicas distanciam ou aproximam ambos os lados da linha
internacional a depender do interesse de atores sociais diversos. Pois, como sinaliza
Newman (2006), no cenário da globalização, a extinção de fronteiras normalmente serve
os interesses dos que as ergueram outrora.

Antes de aprofundarmos essa discussão, concentremo-nos neste primeiro


momento, na Figura 3 como modelo de análise desse Capítulo e como ela se conecta com
o conjunto da tese. A fronteira que exerce uma função enquanto limite sobre a extensão
do poder do Estado-Nação, ao mesmo tempo, vista de perto, apresenta certa porosidade.
A linha divisória enquanto limite, não é capaz de deter por completo eventuais tendências
por contágio, sendo as sinergias socioeconômicas, nesse caso, responsáveis por gerar o
elo nesse espaço transfronteiriço. Isso posto, as relações de poder dão a tônica da análise,
por isso emerge o conceito de território, já que a apropriação e o avanço de um agente
transformador sobre esse espaço perpassam as relações hierárquicas dos atores sociais
envolvidos.

33
Figura 3. Articulação das discussões do capítulo I frente aos objetivos propostos na tese.
Elaborado pela autora
34
1.1. A fronteira Mato Grosso do Sul e Paraguai

No caso Brasil/ Mato Grosso do Sul e Paraguai as relações internacionais passam


a ocorrer em múltiplas escalas e esses processos de globalização-modernização, fruto da
concepção de Estado-nações, acabam produzindo muito mais fragmentações locais e
regionais do que processos de integração.

O processo de transformação acelerada (globalização-modernização via


integração) não é homogêneo, mas estaria produzindo uma nova fragmentação
sócio-territorial, onde aparecem regiões, setores sociais e setores produtivos
que se modernizam, que se incorporam ao sistema mundializado de relações
econômicas e culturais, que em termos reais se integram com economias
vizinhas; e regiões, setores sociais e produtivos que ficam excluídos deste
processo (CICCOLELLA, 1997, p. 60).

Nesse sentido, os países em desenvolvimento têm sido atingidos pelo ritmo


decretado pelas grandes empresas, que incluem ou excluem segundo à dinâmica
econômica global. Com isso acentuam-se as desigualdades sociais e regionais
desencadeando fluxos migratórios rumo às regiões dinâmicas, o que acirra conflitos e
intensifica as pressões sobre políticas sociais e de planejamento (BRASIL, 2005).

Não obstante, a idealização da escala global exprime de forma contundente quem


são os protagonistas que produzem e reproduzem essa valorização/ desvalorização da
escala local. Não são os camponeses ou os afrodescendentes, nem tampouco indígenas
que desvalorizam a escala local, no qual muitos desses povos têm sua cultura construída
em uma relação mais próxima com a natureza e com fortes singularidades locais. A
sobrevalorização ocorre assertivamente daqueles que se valem da escala global, como as
grandes corporações transnacionais e as organizações multilaterais – o Banco Mundial, o
Fundo Monetário Internacional, etc. (PORTO-GONÇALVES, 2006), exercendo assim
uma espécie de poder paralelo no território, antes, exclusivo ao Estado.

Na era globalizada as grandes empresas ou transnacionais desempenham novos


papéis territoriais, formalizando uma abordagem múltipla frente ao território: econômica,
cultural e política, sublinhando dimensões da reprodução do capital. Por meio da
descontinuidade territorial, uma empresa é capaz de controlar certa área, a partir da gestão
de fluxos e das redes. Esses são denominados de sistemas produtivo-territoriais que

35
formam os territórios, onde há, destarte, controle e gestão e relações de poder (SAQUET,
2015).

Bauman (2010) ressalta que o grande poder hoje seria “extraterritorial”


pertencendo as “forças de mercado” e a política, ainda basicamente territorial-estatal
(“local”) estaria perdendo cada vez mais o seu poder. Isso expressa a íntima associação
entre processos de globalização – basicamente econômica – e enfraquecimento do poder
ou da “soberania territorial” dos Estados e, consequentemente, de suas fronteiras
(HAESBAERT, 2016).

Nesse sentido, as fronteiras acabam se rearticulando sob essa nova realidade


social, produzindo outros “tipos de fronteiras” (HAESBAERT, 2016), assim como
assinalam Newman e Paasi (1998) ao conceber a fronteira como um fenômeno
multidimensional e dinâmico. Nessa concepção os autores (op. cit., p. 198-199) destacam
alguns argumentos sobre esse processo:

i. o desaparecimento das fronteiras, é relevante para apenas pequena parte


da humanidade;

ii. as realidades observadas dentro de uma esfera específica (econômica)


caracterizou abertura de mercados, uma remoção de barreiras comerciais
e um ambiente econômico global;

iii. a superação de barreiras fronteiriças é, principalmente, um fenômeno de


base econômica, não valendo, por exemplo, para o fluxo de migrantes e
para a homogeneização dos espaços culturais.

Esses apontamentos podem ser observados na área da pesquisa, por vezes, de


modo mais paliativo devido ao intenso contato e trocas comerciais nessa fronteira,
sobretudo em Ponta Porã (Mato Grosso do Sul) e Pedro Juan Caballero (Paraguai). Nesse
sentido, o Paraguai, exerceu uma sensível influência sobre as comunidades fronteiriças
brasileiras, desempenhando um papel de “exportador de cultura” (WILCOX, 1993, p.
506). Para Corrêa (2012) a fronteira sul-mato-grossense se caracterizou num contexto de
trocas culturais, onde foram incorporados costumes, crenças, culinária, vestimenta e,
especialmente, a língua, no qual o guarani e o castelhano foram assimilados com uma
mescla do português.

36
Do ponto de vista econômico, o desaparecimento das barreiras fronteiriças
favoreceu uma pequena parcela de agricultores, colonos, companhias colonizadoras e
corporações que detinham os meios de produção e comercialização. Para o governo de
Stroesner (1954-1989) a ocupação brasileira na fronteira paraguaia tratava-se de uma
estratégia para o desenvolvimento econômico do Paraguai (BATISTA, 2013a). A
abertura das fronteiras facilitou a colonização das terras, quando o governo modificou o
Estatuto Agrário, em 1963, e permitiu a compra de terras de propriedades no interior do
Paraguai, sem limite de área, por estrangeiros (ALBUQUERQUE, 2010).

De toda forma, uma das questões centrais histórica e geograficamente da fronteira


sul-mato-grossense e paraguaia está atrelada às formas de ocupação econômica da região,
marcada pelas possibilidades concretas de produção e exploração de recursos ambientais.
Um cinturão agrícola alicerça a expansão de um modelo de desenvolvimento na fronteira,
antes constituído por regiões ervateiras, cafeeiras conjugadas com a criação de gado em
larga escala, hoje, o gado ainda permanece, mas a pauta agrícola é a produção de
commodities para exportação.

Nesse âmbito ainda, não se deve descartar a existência concreta de uma fronteira
indígena, tornada de fato uma barreira para agricultores, grandes corporações e empresas
colonizadoras brasileiras na ocupação do território, que no período subsequente ao
conflito com o Paraguai (1864-1870) solicitavam permissão e apoio ao governo
provincial para “civilizar os índios para o trabalho” alegando o aproveitamento dessa mão
de obra num território extenso quase despovoado (CORRÊA, 2012). Nessa época, as
comunidades indígenas desempenharam papel fundamental na mão-de-obra na pecuária,
na lavoura, na coleta (de erva-mate, borracha etc.) nos transportes fluviais e nos portos, e
cabe frisar que sua exploração pode ser apontada em condições análogas à escravidão.

Durante a segunda metade do século XIX até o século XX esse conjunto de fatores
combinados promoveu as transformações espaciais e econômicas em toda a extensão
dessa fronteira. Não é difícil perceber que a questão da terra está subjacente em todos os
graves problemas socioambientais da fronteira entre Brasil/ Mato Grosso do Sul e
Paraguai, que, saliente-se, ocorreu pela expropriação de terras indígenas e pela luta pela
posse de terra entre novos agricultores e antigos colonos.

37
1.2. Fronteira: multiescalaridades do território

A partir dos anos 1950/60 e, sobretudo, durante os anos de 1970, a perspectiva


epistemológica resultante das diversas concepções do território, passa por um movimento
de reelaboração em que se podem identificar e caracterizar quatro tendências de
abordagem do território, em diferentes países, que se sucedem no tempo histórico
(SAQUET, 2015).

a) uma, eminentemente econômica, sob o materialismo histórico e dialético,


na qual se entende o território a partir das relações de produção e das forças
produtivas; b) outra, pautada na dimensão geopolítica do território; c) a
terceira, dando ênfase às dinâmicas política e cultural, simbólico-identitária,
tratando de representações sociais, centrada na fenomenologia e, d) a última,
que ganha força a partir dos anos 1990, voltada às discussões sobre a
sustentabilidade ambiental e ao desenvolvimento local, tentando articular, ao
mesmo tempo conhecimentos e experiências de maneira interdisciplinar
(SAQUET, 2015, p. 15).

Deveras, o conceito de território, ao longo de sua utilização, já recebeu demasiadas


designações, abrangeu tantos conteúdos e teve tantas derivações, tais como
territorialidade, territorialização, desterritorialização (HAESBAERT, 2016), dentre
inúmeras outras, porém, não é intenção na abordagem dessa tese, enveredar uma
discussão ou incorporar a utilização dessas derivações, em que pese a farta produção
teórica existente nessa perspectiva1.

Não pretende-se menosprezar a importância das contribuições e dos caminhos


teóricos seguidos pela Geografia no papel de estruturação do conceito de território,
efetivada a partir de obras e autores da escola francesa como, Jean Gottmann, Gilles
Deleuze, Félix Guattari Claude Raffestin, Henri Lefebvre, Michel Foucault e
pesquisadores de língua inglesa, Robert Sack, Nicholas Entrikin, Edward Soja, David
Harvey, Friedrich Ratzel (alemão), e difundida na literatura brasileira por obras
importantes desenvolvidas por Milton Santos, Manuel C. de Andrade, Octavio Ianni,
Rogério Haesbaert, Marcelo Lopes de Souza, Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Marcos
Aurelio Saquet, entre outros, que, de alguma forma, colaboraram na definição desse
conceito, todavia, estas perspectivas serão consideradas de forma subjacente na análise.

1
Ver (HAESBAERT, 2016); (SAQUET, 2015);

38
Isso posto, para atender a proposta analítica dessa tese, partilhamos das propostas
que associam o conceito de território a um compartimento político-administrativo de
áreas geograficamente demarcadas por fronteiras sobre o qual incide um sistema
normativo (jurídico) sob controle do Estado (RAFFESTIN, 1993); (GOTTMANN, 1975);
(MORAES, 2008); (CASTILLO, 2007), todavia, sublinhando sua perspectiva dinâmica.

Nesse viés, a concepção de território adquire, ao longo de sua construção histórica,


um caráter político que não continha em sua origem etimológica (originado de “terra” do
latim territoriu). Como bem colocado por Gottmann (1975, p. 32) o conceito de território
é “mutável”, dinâmico e vai adquirindo mudanças de enfoque no tempo e espaço.
Resgatando o viés político, que é o que mais interessa para as discussões dessa tese, o
autor (op. cit., p. 29) compreende o território como uma “porção do espaço geográfico
que coincide com a extensão espacial da jurisdição de um governo”, para o autor o
território é o recipiente físico que, sob uma estrutura alicerça o corpo político.

Avançando na perspectiva política, Raffestin (1993) atribui a concepção do


território como produto de processos de poder, controle e dominação. O autor defende de
maneira enfática a concepção de território a partir das relações de poder, que se dão entre
diferentes interesses de atores diversos, concluindo que o território “é um trunfo
particular, recurso e entrave, continente e conteúdo, tudo ao mesmo tempo. O território é
o espaço político por excelência, o campo de ação do poder” (RAFFESTIN, 1993, p. 60).
Nessa perspectiva, a abordagem do autor deixa claro as relações de dinamicidade pelo
qual se exerce o poder que acabam constituindo o território.

Embora Saquet (2015) discuta a concepção de território não restrito ao


entendimento de “território nacional” sob o controle do Estado, o autor traz reflexões que
convergem para a discussão concebendo a produção do território “espaço-temporalmente
pelas relações de poder engendradas por um determinado grupo social” (SAQUET et al.,
2004, p. 10).

O território é como um “campo de forças” em que as relações de poder que se


acirram ou apaziguam à medida que os interesses dos atores sociais se distanciam ou se
aproximam (RAFFESTIN, 1993). Nesses termos, para se exercer as funções de poder,
controle e dominação, são estabelecidos limites e fronteiras, demarcando o território e a
jurisdição do exercício das funções legal, de controle e fiscal. “Toda propriedade ou
apropriação é marcada por limites visíveis ou não, assinaladas no próprio território ou

39
numa representação do território”, nesse caso o limite pode ser mais flexível ou mais
rígido tendo em vista sua área de extensão ou de ação (RAFFESTIN, 1993, p. 165). Dessa
forma, “o limite cristalizado se torna então ideológico, pois justifica territorialmente as
relações de poder” (ibid., p. 165), frente a isso, os limites ou fronteiras estariam
diretamente vinculadas as relações de poder como um fator que consolida o território.
Condição que está diretamente ligada à construção da dinâmica das fronteiras como um
território de integração, tensão e poder.

Para Castrogiovanni (2010) é inegável que a noção de limites e fronteiras está


umbilicalmente atrelada ao território. Oliveira (2005) corrobora nessa discussão ao
apontar a necessidade de compreensão da fronteira a partir do uso e fluidez do território,
das especificidades dos fluxos das atividades econômicas, da apropriação social e da
política que o orienta. É no território que as relações são estabelecidas, principalmente
para exercício do poder, tanto do Estado como dos grupos hegemônicos que se apropriam
do território e historicamente deliberam a dinâmica vigente. A partir dessa análise, que se
faz um contraponto entre o território e a fronteira. Diante das mudanças estabelecidas
pelas dinâmicas territoriais, os agentes sociais2, as relações de poder e as ações das
políticas públicas (Estado), que passam a ser elementos fundamentais na compreensão e
análise na fronteira.

Tendo em vista que as relações de poder envolvem forças assimétricas


(RAFFESTIN, 1993); (HAESBAERT, 2002), pode-se destacar que estas são inerentes à
dinâmica espacial e temporal, se apresentando em múltiplas escalas geográficas – local,
regional, nacional e global. Nas análises dessa tese, o delineamento do território se dá a
partir das relações sociais conflituosas e heterogêneas que envolvem agentes e atores em
múltiplas dimensões, como política, econômica, social e ambiental que, por sua vez, se
articulam nas diversas escalas geográficas (global e local) e se processam em uma escala
espacial (território), nesses termos, define-se a dinâmica territorial. Vale ressaltar que esse
processo não é homogêneo, pois algumas dessas facetas são hegemônicas frente a outras,
justamente por ser tal processo perpassado por relações de poder.

2
Os termos “agente” e “ator” são tratados nessa tese como complementares, como apresentado por Freitas
et al., 2013. “O termo agente refere-se a quem exerce a atividade e tem o domínio da ação, ou seja, aquele
que ocupa e usa o território. O termo ator refere-se a quem representa a sua corporeidade ao agente. Daí a
complementaridade.” (FREITAS; STEINBERGER; FERNANDES, 2013, p. 90).

40
Ressalva-se que com base nessas interrelações, emerge outro conceito atrelado a
essa perspectiva do território que é o de região. Aproxima-se aqui a ideia de constelação
de conceitos, trazida por Haesbaert (2014) em que os conceitos-chave da Geografia
mantém conexão e alimentam interdependências entre si e, nesse viés o conceito de região
tangencia o conceito de território, pois trata da “homogeneidade dos elementos humanos
e/ou naturais em um subespaço” (HAESBAERT, 2014, p. 47). Nessa tese, esses
conceitos ganham posição de centralidade à medida que as discussões avançam.

Isso posto, a dinâmica territorial é entendida como fruto das articulações verticais
(especialização produtiva) e horizontais (atuação do mercado internacional), das ações
dominação (escala global) e apropriação (escala local – agentes e atores) mediados pelas
ações de controle do Estado3. Com base nessa discussão, propomo-nos discutir o território
sob o viés de uma dimensão analítica, designada organização do território, onde a região
se faz presente. No amplo sentido, referem-se às condições políticas, econômicas, sociais
e ambientais atuando em um recorte espacial (político) geográfico, o território. Podendo
ser traduzidas como o expressivo papel do Estado no delineamento do território, as
condições da escala global que aquecem o mercado internacional e condicionam os usos
dos recursos ambientais e das formas de ocupação do território. Essas questões serão
tratadas mais detalhadamente no Capítulo 2.

1.3. Faixa de fronteira: simetrias e assimetrias entre Mato Grosso do Sul/Brasil


e Paraguai

As fronteiras brasileiras tiveram por base genérica as delimitações definidas nos


tratados entre Portugal e Espanha, na segunda metade do século XVIII (MORAES, 2011)
ainda que a demarcação no terreno de tais limites só tenham sido feitas no século seguinte.

No Brasil, a faixa de fronteira é uma área geográfica histórica e politicamente


constituída, normatizada pela Constituição Federal o qual delimita uma área de até 150
km de largura a partir do limite internacional, respeitando o recorte municipal (BRASIL,
1988). Estende-se por mais de 15 mil quilômetros de extensão, abrangendo onze

3
Pode-se aqui resgatar o trabalho de MACHADO et al., (2005, p. 91) que entendem que o território é
produto de processos concomitantes de “controle (jurídico/político/administrativo), dominação
(econômico-social) e apropriação (cultural-simbólica)”.

41
Unidades de Federação e 588 municípios, que contemplam 27% do território nacional
(BRASIL, 2009).

Apenas sete países na América do Sul reconhecem a faixa ou zona de fronteira


como uma unidade espacial distinta e sujeita à legislação específica. O Brasil, como já
mencionado; a Bolívia, o Peru e o Paraguai estabelecem uma faixa interna de 50 km junto
à fronteira; a Colômbia, o Equador e a Venezuela reconhecem a zona de fronteira como
uma área de regime especial, mas não especificam a largura (STEIMAN; MACHADO,
2002). Em linhas gerais, apesar desse reconhecimento, percebe-se que a utilização da
faixa ou zona de fronteira, na maioria desses casos, sequer utiliza a figura jurídica da faixa
e nas ocasiões que ocorrem é em caráter circunstancial.

No estado de Mato Grosso do Sul, o limite internacional tem uma extensão de


1.517 km; destes 386 km de fronteira são com a Bolívia e 1.131 km com o Paraguai. No
Estado, 12 municípios situam-se na linha de fronteira, sendo que, entre eles, alguns na
condição de conurbação. Contando a faixa (150 km do limite internacional), o território
abrangido corresponde a aproximadamente 48% da área do Estado, com 39 municípios,
895.680 habitantes e uma densidade demográfica de 5,23hab/km2, ou seja, uma região
pouco povoada.

O Paraguai possui uma extensão de 406.752 km2 e faz fronteira com o Brasil, a
Argentina e a Bolívia. O rio Paraguai divide o país em duas regiões naturais, a região
Oriental e a região Ocidental ou Chaco. O território político-administrativo está divido
em 17 departamentos4 dos quais 14 se encontram na região Oriental (Concepción, San
Pedro, Cordillera, Guairá, Caaguazú, Caazapá, Itapúa, Misiones, Paraguarí, Alto
Paraná, Central, Ñeembucú, Amambay, Canindeyú) e os demais na região Ocidental
(Presidente Hayes, Boquerón y Alto Paraguay) (PARAGUAY, 2014).

Nesse contexto, faz-se importante frisar que a situação geográfica particular do


Paraguai denota a esse território uma divisão administrativa, ecológica e cultural nas
regiões separadas pelo rio Paraguai. A região Oriental abrange 39% do território do país,
aproximadamente 159.000 km2 e concentra 97% do contingente populacional. A capital
Asunción se localiza nessa região e concentra quase todas as instituições políticas,
econômicas e culturais (PARAGUAY, 2014). Enquanto, do outro lado do rio Paraguai, a

4
O Paraguai não é um país federalizado, portanto a divisão política são os departamentos que são
subdivididos em distritos e localidades (PARAGUAY, 2014)

42
região Ocidental ou Chaco, que compõe parte do Gran Chaco Sul-americano é uma área
marginalizada pelo Estado (VÁZQUEZ, 2005). Desde 1992 são reconhecidas duas
línguas oficiais no país, o espanhol e o guarani, devido as regiões de onde imigraram
grande parte da sua população. Os estrangeiros somam 3,4% da população, sendo que do
total 47,1% são brasileiros e 36,5% são argentinos. O português é o idioma estrangeiro
mais falado, compreendendo 326.496 pessoas (PARAGUAY, 2014).

Historicamente, por mais de meio século (1811-1870), o Paraguai estruturou uma


política econômica independente baseada na livre ocupação dos camponeses (LAINO,
1976), que produziam alimentos para subsistência, erva-mate e tabaco. Posteriormente,
após a ser arrasado pela ação da Tríplice Aliança e já empobrecido, o país teve suas terras
vendidas à estrangeiros – proprietários capitalistas que jamais visitaram o país, mas
cobravam altas taxas para que o camponês paraguaio utilizasse suas terras
(CHIAVENATTO, 1979).

O Paraguai, que tinha uma estrutura social baseada no acesso de todos à terra,
com as “estâncias da pátria” criadas por Francia, estimuladas por Carlos
Antonio e em pleno desenvolvimento no período de Francisco Solano López,
terá toda essa organização destruída criminosamente nos cinco anos de
ocupação dos aliados. [...] Na destruição do Paraguai, matou-se no nascedouro
a grande esperança de liberação econômica da América do Sul. Consolidou-se
o domínio estrangeiro do capital espoliador (CHIAVENATTO, 1979, p. 164).

A Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai ou Guerra do Paraguai ou ainda,


como popularmente conhecida no Paraguai, Guerra Guasú ou Guerra Grande (1864-
1870) foi o conflito de maior repercussão para os países envolvidos – Brasil, Paraguai,
Argentina e Uruguai, trazendo consequências pontuais no desenvolvimento do processo
histórico de cada nação (SQUINELO, 2015). Sobre os ex-aliados da Tríplice Aliança, o
desastre econômico agravou a dívida externa destes países, impedindo-os de se libertarem
do capital estrangeiro.

Em território brasileiro, somente duas províncias vivenciaram episódios bélicos,


inicialmente os saques e invasões ocorreram no Rio Grande do Sul, mas, foi o estado de
Mato Grosso do Sul palco de episódios militares, como a Retirada da Laguna, em 1867,
que retratou o fracasso da expedição brasileira organizada para deter o avanço paraguaio
e causou a morte de milhares de soldados (SQUINELO, 2015).

43
Ao final do conflito, logo após a derrota dos paraguaios na guerra, o tratado de
paz e de limites Loizaga-Cotegipe estabelecido em 1872, definiu os limites e as fronteiras
naturais entre os países envolvidos. De acordo com Chiavenatto (1979) o Paraguai perdeu
14 milhões de hectares de seu território, dos quais 6,3 milhões de hectares entre os rios
Apa e Blanco foram incorporados ao estado do Mato Grosso do Sul e a Argentina ficou
com a porção do Chaco Austral.

A guerra configurou-se como um divisor de águas na região fronteiriça, denotando


um verdadeiro estado de beligerância nessa região, resultado de conflitos por posse e
ocupação de terras e disputas de interesses internos e externos de coronéis, de posseiros
e da Companhia Matte Laranjeira (CORRÊA, 2014). As condições de instabilidade no
pós-guerra provocaram o êxodo da população guarani para o lado brasileiro atraída pelas
perspectivas econômicas dos extensos campos ervateiros (SQUINELO, 2015). De fato,
esse deslocamento populacional, foi tão intenso quanto a migração gaúcha iniciada no
final do século XIX.

Dessa maneira, entende-se a constituição da configuração desse território


marcada, essencialmente, a partir dos conflitos da Guerra do Paraguai, que
subsequentemente aparecem com a exploração econômica de empresas de grande porte,
como a Cia Matte Laranjeira. Nesse cenário, o Estado é o elemento central, uma vez que
favoreceu a aquisição de vastas extensões de terra para exploração dos ervais nativos.
Esse é o primeiro grande ciclo de desmatamento na região.

A partir da década de 1930 a política de colonização promovida pelo Estado


brasileiro no governo Getúlio Vargas, a partir da Marcha para o Oeste, que estimulava a
migração de posseiros oriundo do Sul a ocupar as terras em Mato Grosso do Sul (sul de
Mato Grosso, na época) colocou os colonos em embate com a Cia Matte Laranjeira, que
detinha o monopólio dos ervais e na ocupação de terras.

A população guarani, apesar de predominante era subjugada, porém os migrantes


gaúchos assumiam uma postura bem menos passiva e mais contestatória diante de suas
expectativas na ocupação de terras e envolvimento na produção ervateira e pecuária,
rivalizando com os interesses da Cia Matte Laranjeira. Dessa forma, essa área de fronteira
tornou-se uma área de constante tensão e atrito, resultando conflitos com as populações
tradicionais, posseiros e forjando nessa mesma disputa o coronelismo guerreiro
(CORRÊA, 2014).

44
Ocorreram, então, dois movimentos colonizadores, supostamente
complementares, na fronteira Mato Grosso do Sul e Paraguai: um no Brasil, em direção
ao oeste e outro no território paraguaio em direção ao leste. No Brasil, a Marcha para o
Oeste, iniciada a partir da década de 1940, ficou conhecida por impulsionar a expansão
da fronteira agrícola. Quase paralelamente, a Marcha al Este, promovida no final da
década de 1950, tinha como objetivo deslocar os camponeses que estavam assentados na
área mais central e populosa do Paraguai para a região Oriental do país, para esse
propósito o governo criou o Instituto de Bienestar Rural (IBR) – atualmente Instituto
Nacional de Desarrollo Rural y de la Tierra (Indert).

Para Vázquez (2005) a Marcha al Este, mais tarde, se mostrou como uma
política brasileira da “Marcha para o Oeste” desse país para a região Oriental, sendo que
as culturas comerciais de algodão seguidamente da soja, foram os elementos chave neste
processo de expansão. Riquelme (2005) corrobora ao apontar que o fenômeno da Marcha
para o Oeste continuou em movimento – além da linha internacional –, desmatando
florestas ou convertendo campos de pastagens de gado em plantações de soja, obtendo
divisas, mas a um alto custo social para a população e comunidades paraguaias. Os efeitos
no Paraguai chegaram a uma situação alarmante de desmatamento, segundo a
Organización Guyra Paraguay, a devastação da Região Oriental, na década de 1990 foi
de 1,3 milhões de hectares.

No estudo de Menegotto (2004) o autor constata que, no decorrer na expansão


da fronteira agrícola, em direção às regiões Centro-Oeste e Norte, desde os anos 40,
viabilizada pela Marcha para o Oeste foi adquirindo simultaneamente um sentido que
penetrou no território paraguaio e, ainda, os brasileiros que adquiriram terras a um custo
irrisório foram incentivados por projetos de colonização do governo paraguaio.

A condição de “fronteiras em movimento”, colocada por Sawyer (1984) fica


evidente nesse cenário, que expõe o princípio geopolítico ligado estreitamente a uma
estratégia de marcha para o Oeste, no Brasil, e Marcha al Este, no Paraguai. Esses dois
grandes projetos geopolíticos favoreceram o processo de migração brasileira para o
Paraguai (ALBUQUERQUE, 2010).

Dessa forma, constata-se como essa região é caracterizada por grande flutuação,
influenciada por intervenções dos Estados nacionais e marcada pelos conflitos da posse
de terra, que ao longo do tempo foram adquirindo diferentes contornos.

45
1.4. Sub-regionalização da faixa de fronteira

Os reflexos das ações do Estado voltado ao grande projeto de ocupação e


nacionalização de fronteira com ideais desenvolvimentistas – a Marcha para o Oeste –
também tornou a faixa de fronteira foco de políticas públicas governamentais para o
avanço e convergência de fluxos migratórios. Ademais, o fortalecimento de blocos
regionais para uma inserção competitiva no mercado, aquecido pelo cenário econômico
global, denotou à fronteira um papel estratégico para o desenvolvimento nacional
(GADELHA e COSTA, 2005), passando, então, a ser sinalizada como um território de
possíveis avanços da linha de internacional vizinha, em função do desenvolvimento
articulado para consolidação da integração dos países.

Dessa forma, ao reconhecer a condição estratégica de desenvolvimento da faixa


de fronteira e, ainda, em função dos gargalos sociais e estruturais, reflexos de um processo
de crescimento econômico concentrador de terra e renda, em que a fronteira se traduz em
uma área historicamente negligenciada pelo Estado e, por sua vez, de baixo índice de
desenvolvimento econômico, fortemente marcada pelas grandes disparidades
socioeconômicas, bem como por problemas peculiares, como o narcotráfico e o
contrabando, o Ministério da Integração Nacional, atendendo as estratégias traçadas pelo
PPA 2008/2011, inserido nas diretrizes da Política Nacional de Desenvolvimento
Regional (PNDR) implementou o Programa de Promoção do Desenvolvimento da Faixa
de Fronteira – PDFF (BRASIL, 2005).

Neste âmbito, os principais instrumentos da PNDR foram e ainda são os


programas e planos regionais, em diversas escalas, implementados em diversas instâncias
governamentais, como pelo próprio Ministério da Integração Nacional e por parceiros
não-governamentais – ONGs. Antes visto como um programa que contemplava projetos
desarticulados e fragmentados, o PDFF era fundamentado por uma lógica puramente
assistencialista, sem planejamento, que ocasionava na dispersão dos recursos públicos e
ainda, não oferecia qualquer impacto na geração de emprego e renda, na organização da
sociedade civil e no arranjo das atividades produtivas. Sob o ponto de vista das relações
internacionais, a percepção anterior do Programa visava a ênfase na fronteira como forma
de imposição de limites nas relações com os países vizinhos (GADELHA; COSTA,
2005). A reformulação do PDFF o designava como uma importante diretriz da política
nacional que primava pela redução dessas desigualdades regionais como uma das formas
de viabilizar a estratégia de desenvolvimento de longo prazo.

46
A nova premissa do PDFF colocada pelo governo federal ressaltava a
reformulação do plano e a profunda mudança de valores, de estratégias e de formas de
atuação, a partir de uma nova diretriz de integração e desenvolvimento sustentável. Nesse
contexto, a reestruturação teria como prioridade o desenvolvimento regional e a
integração com os países da América do Sul. Nessa nova base política, o PDFF teve por
objetivo promover o desenvolvimento da faixa de fronteira através de sua estruturação
física, social, cultural e econômica, em que o “regional funciona como estratégia de
desenvolvimento local” estimulando a formação de redes de atores locais, incentivando
novos eixos dinâmicos da economia (BRASIL, 2005, p. 8).

A partir do estabelecimento dessa diretriz específica, a fronteira passa a ter uma


conjuntura consistente que permitiria o desenvolvimento sustentável (GADELHA;
COSTA, 2005), por meio de mecanismos e instrumentos para a consolidação da
integração nacional, voltados à promoção do desenvolvimento regional a partir de ações
articuladas entre o governo federal com os atores regionais sub-regionais, locais e até
internacionais (BRASIL, 2007).

A partir da proposta do PDFF a base territorial das ações do governo federal para
a faixa de fronteira foi estabelecida como áreas de planejamento três grandes arcos: Norte,
Central e Sul, subdivididos em 17 sub-regiões. O Arco Norte, que compreende a faixa de
fronteira dos estados do Amapá, Pará, Amazonas, Roraima e Acre possui como principal
característica a presença da grande extensão da floresta Amazônica. O segundo é o Arco
Central, que compreende a faixa de fronteira de Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso
do Sul, este está vinculado a expansão da fronteira agrícola. E por fim, o Arco Sul, que
abrange a fronteira do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, possui forte
especialização produtiva ligada às culturas de milho, trigo e soja na agroindústria, além
de contar com uma malha rodoviária ramificada que permite a interligação da densa rede
de cidades (BRASIL, 2009). Dessa forma, observa-se grande contraste existente entre
esses arcos, consequentemente, em toda extensão da faixa de fronteira.

Mato Grosso do Sul está localizado no Arco Central e abrange 4 sub-regiões, a


saber: XI-Pantanal, XII-Bodoquena, XIII-Dourados e XIV-Cone Sul-Mato-Grossense
(Figura 4).

47
Figura 4. Sub-regiões e respectivos municípios que compõe a faixa de fronteira no estado de Mato Grosso do Sul.
Organizado pela autora.
48
Em síntese, essas sub-regiões podem ser descritas como: a Sub-Região XI
“Pantanal” é considerada como uma paisagem-símbolo (BRASIL, 2009) que encontra no
turismo ecológico um meio de atrair visitantes e resguardar sua riqueza ambiental. O
rebanho bovino dessa sub-região é o segundo maior da faixa de fronteira brasileira, dessa
forma sua base produtiva é a pecuária. A Sub-Região XII “Bodoquena” pode ser
caracterizada como a zona de transição entre a criação extensiva de gado do Pantanal e a
expansão do cultivo mecanizado de soja. Possui baixo grau de especialização agrícola e
a atividade turística é insipiente, principalmente por falta de infraestrutura. Por fim, as
Sub-regiões XIII “Dourados” e XIV “Cone Sul-Mato-Grossense” são duas das mais
complexas e desafiadoras da faixa de fronteira. Apesar de apresentar inúmeros problemas
associados às relações transfronteiriças de contrabando e narcotráfico, são uma das
regiões mais ricas do Brasil, em termos de atividades agropecuárias (criação de gado,
cultivo de soja, milho, mandioca), ligando sua base produtiva ao agronegócio (BRASIL,
2009).

De fato, a readequação do plano permitiu, em certa medida, o desenvolvimento,


de setores antes subjugados, mas, essa atuação está restrita ao limite internacional, em
que não se vislumbra o fortalecimento das relações internacionais ou a integração entre
países. Pode-se inferir que as políticas dirigidas pelo Estado para a faixa de fronteira,
desencadearam processos ocupacionais próprios, marcado por peculiaridades produtivas,
sociais e ambientais dando lugar à estruturação de territórios heterogêneos, que
compartilham do mesmo modelo de desenvolvimento que ultrapassa o limite
internacional.

49
C APÍTULO 2

As dinâmicas territoriais, as conexões


multiescalares entre o lugar, a fronteira e o
mundo da commodity soja

50
“Pode-se dizer que a história torna-se a cada geração, mais
geográfica ou mais territorial” (Friedrich Ratzel, 1897).

No Capítulo 2 a proposta se constitui em realizar uma análise temporal sobre a


estruturação do agronegócio da soja, transitando nas diferentes escalas geográficas e,
demonstrando como as narrativas hegemônicas vão moldando a forma como a sociedade
forja padrões de ocupação e uso do território. As articulações dessa dinâmica territorial
podem ser visualizadas no cruzamento dos dados que envolvem os programas
governamentais de estímulo à ocupação de terras; o crédito rural subsidiado; o suporte
tecnológico, o aumento na produção e área cultivada (Figura 5).

Figura 5. Proposta para dinâmica territorial baseada no modelo agroexportador da soja.


Elaborado pela autora.

Nesse sentido, esse modelo de desenvolvimento, o agroexportador, delineou um


novo perfil para a agricultura, uma estrutura produtiva altamente competitiva que, embora

51
guarde certa homogeneidade quanto ao alcance de um novo patamar técnico, apresenta
aspectos específicos quanto a distribuição espacial da produção. A Figura 6 demonstra os
fluxos dessa dinâmica derivados dos interesses dos agentes e atores sociais que participam
do modelo agroexportador da soja.

Esse constante movimento de avanço, tais como as frentes agrícolas sobre a


fronteira – não essencialmente restrito às divisas nacionais –, forçam a impressão das
diferenças “entre o civilizado e o não civilizado” (SHIELDS, 2006, p. 227), que levam
aos confins do território “vazio” as benesses do progresso. Com certa frequência o outro
é invisibilizado, liquidado ou expulso, para atender a tendência de continuidade do
movimento (ÁGUAS, 2013).

De certa forma, essa interpretação caracteriza uma zona limítrofe que divide um
espaço-tempo já transformado daquele que ainda não sofreu a ação do agente
transformador.

Figura 6. Principais agentes e atores sociais identificados nos eixos articuladores da tese
Elaborado pela autora.

52
2.1. A cadeia produtiva da commodity soja

As ações das políticas governamentais em promover a modernização da


agricultura foram fatores decisivos para alavancar a dinamicidade da atividade agrícola e
o modo de produção, acentuando grandes diferenças entre os processos de cultivo
tradicionais e modernos, que estão diretamente ligados à incorporação de novas áreas e
ao emprego de tecnologia implicando nas mudanças dos padrões de produção e
comercialização (MENDES e PADILHA JUNIOR, 2007).

A partir da década de 1970 a agricultura passou a depender de muitos serviços e


setores a montante da produção como: máquinas, implementos, defensivos, fertilizantes,
corretivos, sementes, tecnologia e financiamento. E ainda, a jusante da produção como
armazéns, infraestruturas diversas (estradas, portos e outros), agroindústrias, tradings,
mercado atacadista e varejista, exportação (MENDES e PADILHA JUNIOR, 2007).

Cada um desses segmentos compõe um elo importante no processo produtivo e


comercial, assumindo funções próprias e cada vez mais especializadas. Esse complexo de
bens, serviços e infraestrutura que envolvem agentes diversos e interdependentes
necessitou de uma concepção diferente daquilo que se concebia como agricultura.
Cunhado pela primeira vez por John Davis e Ray Goldeberg, em 1957, o termo
agribusiness foi definido pelos autores como:

“... o conjunto de todas as operações e transações envolvidas desde a fabricação


dos insumos agropecuários, das operações de produção nas unidades
agropecuárias, até o processamento e distribuição e consumo dos produtos
agropecuários ‘in natura’ ou industrializados” (apud RUFINO, 1999).

Nesse processo de modernização da agricultura, Contini et al., (2006, p. 6)


entendem o agronegócio como a “cadeia produtiva que envolve desde a fabricação de
insumos, passando pela produção nos estabelecimentos agropecuários e pela
transformação, até seu consumo”, sendo que essa cadeia “incorpora todos os serviços de
apoio: pesquisa e assistência técnica, processamento, transporte, comercialização,
crédito, exportação, serviços portuários, distribuidores (dealers), bolsas, e o consumidor
final”.

Nesse sentido, o agronegócio se configura como um modelo produtivo com


diferenças bem marcantes nos padrões de produção e distribuição. Segundo Gras e
Hernández (2013) sustentado por quatro grandes pilares: o tecnológico, o financeiro, o

53
produtivo e o organizacional, articulando uma grande diversidade de atores e setores num
sistema complexo produtivo, que pode ser exemplificado na Figura 7. Esses fatores se
apresentam como os principais condicionantes de incorporação ou segregação de regiões
no território.

Figura 7. Cadeia produtiva do complexo soja.


Fonte: Silveira (2004); Roberti et al. (2015).

A seguir realizou-se uma sistematização dos indicadores mais relevantes do


agronegócio na área de estudo, destacando sua tendência de crescimento recente nos dois
lados da linha internacional entre Mato Grosso do Sul e Paraguai. São apresentadas
informações sobre as políticas públicas de fomento, os estabelecimentos agropecuários e
ainda, dados sobre área plantada, produção e rendimento médio, que avaliam o
desempenho de parte desse complexo do agronegócio e demonstram o panorama da
cadeia produtiva do agronegócio da soja na fronteira.

A fim de subsidiar as análises mais detalhadas das dinâmicas que ocorrem nas
escalas estaduais, nacionais e mundiais no agronegócio da soja, utilizou-se, em
abundância, dados estatísticos para explorar o cenário atual e como foi sendo delineado

54
ao longo do tempo. Para Medeiros e Sampaio (2012) os dados em séries históricas
permitem avaliar o ‘movimento’ nas dinâmicas de processos no decorrer do tempo.

2.2. Programas e políticas públicas de integração e desenvolvimento

Comumente no Brasil, nos diferentes processos de sua formação histórica, os


projetos de colonização foram utilizados para promover a ocupação de novas áreas
(PRADO JUNIOR, 2012), seja por motivos militares, como garantir as fronteiras
territoriais, por motivos políticos, como impedir a reforma agrária ou, ainda, para tentar
equilibrar os problemas socioeconômicos causados, sobretudo, pela acentuada
concentração de terra no país.

As estratégias de colonização ou de “integração nacional” – como denominada


pelo governo –, iniciada na década de 1940 com a Marcha para o Oeste foi, de fato,
alavancada, com a intensificação do processo de modernização industrial do Centro-Sul,
articulado às ações de expansão agrícola para o Centro-Oeste e Amazônia, durante os
governos militares pós-64 (OLIVEIRA, 2011). Esse novo padrão de acumulação que
emerge, alcançou contornos mais nítidos no período ditatorial (BECKER, 2002). No
decorrer das discussões desse capítulo é possível observar que a lógica da integração
nacional se mostra perversa, pois não atende de forma plena os interesses da região, que
se torna dependente da demanda do mercado mundial, resultando em uma ocupação do
território constantemente marcada por problemas fundiários (ocupações irregulares,
conflitos indígenas, mortes no campo, entre outros).

Com a inserção e consolidação do modelo agroexportador, o final da década de


1960 e início de 1970 marca o processo de mecanização da agricultura brasileira. A região
Centro-Oeste, nesse contexto, ocupou uma posição peculiar, pois a medida que a
atividade agropecuária se expandia aceleradamente, também, verificava-se a intensa
modernização do processo produtivo (ARAÚJO NETO e LEITE, 2005). Foi no foco
dessas duas vertentes que se processou a reestruturação técnica da agricultura do Centro-
Oeste.

A redefinição dos novos espaços econômicos foi orientada pela política de


integração nacional a partir da dinamização de setores das economias regionais. Para
viabilizar os objetivos dessa política foram estabelecidas áreas pioneiras que
necessitavam de rápida ocupação, com isso os organismos de planejamento e

55
desenvolvimento regional ficaram a cargo de projetos chamados de polos de
desenvolvimento (ABREU, 2001). Dessa forma, os planos e programas efetivados nesse
período tinham como objetivo concentrar investimentos nos polos de desenvolvimento,
que se eram regiões passíveis de crescimento planejado e capazes de impulsionar regiões
vizinhas sob sua influência.

No Centro-Oeste, esses programas eram geridos pela Superintendência do


Desenvolvimento Regional do Centro-Oeste (Sudeco), que atuou de 1967 a 1990. Os
planos e programas vinculados a Sudeco, tinham objetivos específicos, mas, de modo
geral, conduziram para a ocupação e a integração do Centro-Oeste à dinâmica produtiva
nacional por meio da produção de grãos (principalmente a soja), da pecuária bovina e da
mineração.

Apesar de enfrentar problemas com redução dos recursos devido a complicações


fiscais e financeiras do governo federal durante sua execução, ou redirecionamento dos
recursos para outras áreas e, por vezes, não terem se efetivados da maneira como
esperado, ainda assim, particularmente, esses programas foram de suma importância para
a ocupação produtiva de vastas áreas do cerrado pelo franco avanço da modernização das
atividades agropecuárias (BARCELLOS, 2015) e consolidação do Centro-Oeste
enquanto região agroexportadora de produtos agropecuários e mineirais.

Esses programas de ação conjunta com os governos da esfera estadual, conduzidos


pelo governo federal, na pauta do I e II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND),
contavam ainda, com a participação do setor privado para efetivar seus objetivos
(BARCELLOS, 2015). Alguns desses programas possuíam atuação mais ampla como o
Polamazônia (Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia) e o
Polonoroeste (Programa Integrado de Desenvolvimento do Brasil na Fronteira Noroeste),
este que também beneficiava Rondônia, além do Promat (Programa Especial de
Desenvolvimento do Mato Grosso) e Prosul (Programa Especial de Desenvolvimento do
Mato Grosso do Sul) – programas de apoio editados quando ocorreu a divisão territorial
de Mato Grosso – e outros de ação mais específica, como o Polocentro (Programa de
Desenvolvimento dos Cerrados), o Prodecer (Programa Nipo-brasileiro de Cooperação
do Desenvolvimento do Cerrado), o Prodegran (Programa Especial de Desenvolvimento
da Região da Grande Dourados) e o Prodepan (Programa de Desenvolvimento do
Pantanal).

56
Esses programas, em certa medida, ambiciosos, compreenderam diversas áreas do
Brasil Central, especialmente o oeste e o sul de Minas Gerais, o sul de Goiás, Mato Grosso
(e atual Mato Grosso do Sul) e Rondônia. Um primeiro conjunto de ações visava a
implementação ou adaptação de infraestruturas como forma de garantir as condições de
produção viabilizando o território com vistas a atender mercados distantes (PEREIRA e
KAHIL, 2010).

O Polamazônia, criado em 1976, tinha como objetivo concentrar recursos em


áreas consideradas de maior potencial para o desenvolvimento na região amazônica. O
programa teve impacto na ocupação e uso da terra por empreendimentos agrícolas já que
previa melhorar a infraestrutura e desenvolver apoio nas áreas selecionada. Já o
Polonoroeste, criado em 1981 e financiado pelo Banco Mundial, tinha como objetivo
organizar a ocupação de Rondônia e a porção oeste do Mato Grosso (MUELLER et al.,
1992). No núcleo do programa havia obras de reconstrução e pavimentação de estradas
(que ligaria Cuiabá a Porto Velho) e subprogramas que direcionados a assentamento de
terras, desenvolvimento agrícola e construção de estradas vicinais.

O Prodecer foi um acordo assinado pelo Brasil em 1976, visando ampliar o


comércio internacional do Brasil com o Japão e a Comunidade Econômica Europeia,
marcando a entrada de capital estrangeiro no país e promoveu o desenvolvimento dos
cerrados sob a forma de novos arranjos, através do incremento da exportação de produtos
agropecuários (JESUS, 1988). Diferente do Polocentro, o Prodecer foi implementado em
áreas contínuas, onde determinados colonos foram assentados, viabilizando a expansão
da soja para o Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, oeste da Bahia e
sul do Maranhão (OLIVEIRA, 2011)

Destaque-se que, todas essas atividades econômicas deveriam estar vinculadas às


atividades de exportação, ligadas aos chamados corredores de exportação e aos setores
dinâmicos do mercado internacional, orientados pelo Prodoeste (Programa de
Desenvolvimento do Centro-Oeste) que visava interligar grandes eixos rodoviários para
canalizar o escoamento da produção até os principais centros de comercialização,
consumo, industrialização e exportação.

No que tange aos programas especiais do governo federal de ação mais específica,
cabe aqui tecer algumas considerações sobre estes em relação aos impactos que tiveram
na apropriação do território sul-mato-grossense e em especial da faixa de fronteira, foco
dessa tese (Figura 8). Para informações mais detalhadas sobre aspectos econômicos e
57
sociais referente a cada um desses programas, vide IBGE (1988); Abreu (2001); Silva
(2011a); Barcellos (2015).

Figura 8. Regiões de planejamento dos programas desenvolvidos no Mato Grosso do Sul entre 1970-
1990.
Fonte: IBGE (1988); Abreu (2001); Silva (2011); Barcellos (2015).
Organizado e elaborado pela autora.

Uma das principais marcas dos três programas, em especial, para o Estado5 de
Mato Grosso do Sul, era a melhor utilização de seu potencial em recursos naturais. A área
de abrangência regional atuava tanto a leste (Polocentro e Prodegran) como a oeste da
serra de Maracaju (BARCELLOS, 2015), embora, nem sempre alcançado bons
resultados, como no caso das ações vinculadas ao Prodepan.

O Polocentro, criado pelo Decreto nº 75.320, de 29/01/75, compreendia cerca de


1 milhão de km2 do Brasil Central, atingindo quase todo o Planalto Central coberto pelos
cerrados. O Polocentro desempenhou papel fundamental na expansão agrícola orientada
aos cerrados, Silva (1985) estima que no período de 1975 a 1980 o programa tenha sido

5
No âmbito dessa tese a semântica da palavra “Estado” é apresentada como sujeito que desempenha a
ação, enquanto, “estado” se coloca como um agente na produção do território.

58
responsável pela incorporação direta de cerca de 2,5 milhões de hectares à agricultura dos
cerrados.

Em suma, o objetivo desse programa era a exploração dessas terras pela


agricultura mecanizada, com o uso de tecnologias de correção do solo para a adequação
da sua fertilidade, visando o aumento no rendimento médio. Se constituiu no principal e
mais importante programa, pois a conjugação de seus subprogramas orientavam para a
implantação de obras de infraestrutura, como armazenamento, estradas vicinais e
provisão de infraestrutura para o fornecimento de eletricidade, conjugando assistência
técnica, crédito agrícola e pesquisa de sementes (IBGE, 1988; ABREU, 2001). Esses
foram os principais mecanismos de ação desse programa.

A execução do Polocentro contou com amplo apoio em recursos financeiros, o


crédito rural, com taxas de juros subsidiados sem incidência de correção monetária (no
período de altas inflações), longo prazo de carência e, além disso, dispondo de suporte
tecnológico e assistência, fornecida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA) (BARCELLOS, 2015), que, juntamente com suas congêneres, como a
Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater), direcionaram
seus esforços para geração de tecnologia apropriada à utilização do Cerrado, alcançando
resultados expressivos com a introdução de variedades de sementes, principalmente nas
culturas de arroz e soja e na formação de pastagens.

Durante o período de vigência do Polocentro, entre 1975 e 1982, tendo em vista


os quatro estados contemplados pelo programa, as grandes propriedades, consideradas
acima de 500 ha, possuíam 58% do número de projetos aprovados e absorveram 76,5%
dos recursos, por outro lado, as pequenas propriedades de até 100 ha ficaram à margem,
com apenas 2,2% do número total de projetos e com participação menor ainda na captação
de recursos, respondendo por 0,3% dos recursos de crédito liberados (JESUS, 1988).

Com isso, o programa estimulou a agricultura empresarial, que se beneficiou do


crédito agrícola subsidiado e da assistência técnica oficial, favorecendo a concentração
do capital e da renda fundiária, possibilitando aos fazendeiros mais modernos e
capitalizados auferir maiores lucros e elevação da renda da terra (MUELLER et al., 1992)

Os resultados dessas ações consolidaram a mudança na estrutura produtiva,


favorecendo o aumento do rendimento médio, segundo SILVA (1985) estima-se que a
participação do programa na expansão da fronteira produtiva regional foi de 30,5%

59
beneficiando uma área total de 35,4% no Mato Grosso do Sul, a maior dentre os quatro
estados. Nesse viés, o estado passou a a produzir de produtos destinados a exportação
(soja e carne bovina) e contribuir para a substituição na pauta de importações, através da
produção de etanol (incentivado pelo Proálcool). O advento da agroindústria era uma
realidade na economia estadual (BARCELLOS, 2015).

Após os resultados alcançados pelo Polocentro, em 1976, foi lançado o Prodegran


que envolveu os municípios da região da Grande Dourados, na época composta por 22
municípios – posteriormente, nessa mesma região foram criadas unidades
administrativas, que hoje abrange 40 municípios. O objetivo do Prodegran era melhorar
o aproveitamento da potencialidade agrícola dessa região, que, comercialmente, já
possuía articulações com o estado de São Paulo e condições de ampliar para outras áreas
do eixo centro-sul.

Assim como os demais programas, o Prodegran era composto de subprogramas,


que contavam com parcerias no âmbito estadual e municipal, os projetos efetivados,
visavam sobretudo, atender aos gargalos estruturais da região da Grande Dourados, como
as deficiências em recursos tecnológicos, eletrificação rural, transportes, armazenamento,
falta de crédito rural além do controle de erosões urbanas (SILVA, 2011b).

O relatório de desempenho do Prodegran 1976/1979 indica que do montante de


recursos investidos, 30% ficaram abaixo do previsto. Nas obras de infraestrutura, a
exceção dos projetos de transportes que ultrapassaram o programado em 275%, os
projetos de armazenagem, com menos de 73% e energia (menos de 38%) ficaram aquém
dos investimentos previstos.

O sucesso do Prodegran, embora relativo, e a boa cotação da soja no mercado


internacional desencadearam um novo “surto” monocultor, que atraiu imigrantes, capital
comercial, industrial e financeiro, refletindo, diretamente no desenvolvimento econômico
da região – só em 1981 dez agências bancárias foram abertas em Dourados, totalizando
25 para uma cidade de, até então, 100 mil habitantes – mas, também alterou
progressivamente a paisagem, a partir da consolidação da região como importante área
produtora dessa monocultura (ARAÚJO NETO e LEITE, 2005).

No contexto geral, a concessão de créditos rurais, incentivos fiscais, subsídios na


compra de insumos e equipamentos e garantias à propriedade fundiária foram as
premissas das políticas governamentais (Figura 9). Os planos de desenvolvimento eram

60
convidativos e despertavam interesse de empresários, investidores do centro-sul do Brasil
e multinacionais, que compraram terras nas regiões Centro-Oeste e Norte a preços
irrisórios, negociadas pelo próprio governo, o que lhes garantia segurança sobre a
rentabilidade do investimento (HIGA, 2005).

Figura 9. Síntese do desenvolvimento das políticas públicas que imperaram na consolidação da formação
do território sul-mato-grossense.
Fonte: IBGE (1988); Jesus (1988); Abreu (2001); Araújo Neto e Leite (2005); Silva (2011); Barcellos
(2015).
Organizado pela autora.

Denota-se frente ao desenvolvimento das políticas de desenvolvimento e


integração nacional visando estratégias de ocupação, um dos motivos que levaram o
desmembramento da parte norte do estado de Mato Grosso, em 1977, originando, a partir
de então, o estado de Mato Grosso do Sul. Bittar (2009) ressalta que a criação do estado
só foi possível porque o regionalismo, finalmente encontrou respaldo na política nacional.

Dessa forma, o divisionismo se conjugou a um interesse nacional, nesse sentido a


divisão não significou somente uma cisão territorial, o novo estado foi criado em uma
conjuntura política que pretendia integrar a porção meridional do estado de Mato Grosso,
mais próximo dos estados do Sudeste, à economia nacional como estado agroexportador
de commodities (SILVA, 2011).

Essa condição permitiu que o estado de Mato Grosso do Sul já fosse


institucionalizado integrado ao novo sistema produtivo representado pela modernização
agropecuária (SILVA e SILVA, 2017). Os efeitos das políticas pós-divisão foram
sentidos, principalmente, no crescimento e interiorização da população e economia, que

61
incentivou os processos de ocupação e ordenamento territorial no território sul-mato-
grossense, oportunizando sua factual inserção na economia nacional e mundial.

Como nota-se, o reordenamento territorial orquestrado pela política


integracionista teve forte impulso das políticas territoriais do Estado, que, via de regra,
foi financiada a partir de incentivos fiscais e benefícios creditícios. Segundo Oliveira
(2011, p. 516) a característica industrial da agricultura capitalista do país possibilitou a
produção em larga escala das culturas cuja obtenção de preços altos no mercado garantia
lucro certo nesses empreendimentos.

Paralelamente a esse processo de expansão e modernização acelerada da


agricultura mediada pela atuação do Estado e de empresas colonizadoras, vivenciado na
década de 1970, ocorreu um intenso processo de valorização das terras, que, incidiu de
forma bem mais acentuada sobre as áreas que ofereciam maior potencial de transformação
para a estrutura técnica produtiva.

Para Mueller et al., (1992) a combinação dos efeitos das políticas globais, a
especulação associada a alta e instável inflação no Brasil, entre os anos 1970 e 1980,
juntamente com a política do crédito rural subsidiado somado aos programas de incentivo
para induzir a lavoura de certas commodities que encontravam-se em expansão no
mercado mundial (a exemplo da soja e o suco de laranja) e para abastecer o mercado
interno, como a cana-de-açúcar (para álcool automotivo) a fim de substituir produtos na
pauta de importação, foram os fatores responsáveis por aumentos expressivos no preço
das terras com potencial agrícola.

Os efeitos dos subsídios ao crédito agrícola incidiram diretamente sobre o preço


da terra, evidencia-se que esta tenha sido a principal via pela qual os preços da terra
tenham aumentado vertiginosamente após 1970. Dessa forma, a demanda por terra em
áreas apropriadas a implantação da agricultura moderna – incluindo os cerrados –
aumentou acentuadamente, com efeito colateral nas áreas de recente expansão da
fronteira agrícola (MUELLER et al., 1992). Essa tendência à concentração de terra,
naturalmente, foi eliminando as pequenas propriedades, frequentemente à margem dos
incentivos creditícios.

Para Oliveira (2011) a atuação do Estado refletiu diretamente no sentido de


estimular esses setores competitivos, deixando praticamente abandonadas as culturas que
se constituíam na alimentação básica da população. Os mecanismos produtivos que

62
permitiram a integração de determinados produtos e regiões à economia nacional foram
os mesmos encarregados pela desintegração da economia regional tradicional existente,
que sucumbiu ao dinamismo das modernas atividades agrícolas (SILVA, 2011b).

A organização do território passou então a ser conduzida pela internacionalização


do mercado, o processo produtivo tornou-se um padrão condizente com a lógica de
acumulação capitalista, o que acarretou em transformações produtivas com a
subordinação das atividades agrícolas à economia nacional (SILVA, 2011b). Essa nova
estrutura produtiva foi direcionada e conduzida por produtos de maior demanda e
necessidade no mercado mundial, o que corrobora uma das questões levantadas nessa
tese, de que as relações produtivas são articuladas e conectadas a uma estrutura
hegemônica numa escala global que subordina a estrutura produtiva local.

Face ao exposto, verifica-se que as políticas de integração nacional foram


direcionadas apenas para alguns setores, constituindo-se em um processo seletivo tanto
no que se refere a produtos como a regiões. A integração das regiões contempladas pelos
planos e programas governamentais não foi homogêneo, ainda que haja uma falta
aparência que o tivesse sido, a distribuição espacial da expansão e modernização da
agricultura, por sua vez, demonstra que vários produtos e regiões foram deixados às
margens desse processo, produzindo territórios não especializados.

Nesse viés, os territórios marginalizados, ou seja, não inseridos no modelo


agroexportador, podem ser definidos nas suas polaridades, a partir da ideia de que a
existência da especialização produtiva não se dá de maneira homogênea em todo o
território. Há zonas de concentração da produção altamente especializada, pautada no
agronegócio e zonas de rarefação desse sistema, onde perduram as atividades agrícolas
tradicionais familiares. Todavia, o comendo da estruturação territorial está nos territórios
especializados.

A partir dessas explanações pode-se dizer que as intervenções realizadas pelos


planos e programas implantados pelas políticas públicas para viabilizar a “integração
nacional” do Centro-Oeste ou para diminuir as disparidades regionais gerando mais
emprego e renda, serviram como pano de fundo para esconder os verdadeiros interesses
do governo, que instituiu órgãos e mecanismos a serviço do mercado externo ou do
capital, propriamente dito, orientado para: a) o avanço da fronteira agrícola; b) a
promoção dos latifúndios como polos do agronegócio; c) o aumento da área agricultável

63
marginalizando territórios não especializados e pressionando áreas protegidas; d) o
aumento da produção agrícola de commodities para exportação.

Os efeitos da demanda do mercado mundial conjuntamente com as políticas


regionais e setoriais proporcionaram incentivos bem consistentes para a ocupação da terra
e expansão da modernização agrícola, em maior grau, nas áreas de Cerrado. Atualmente,
a maioria desses programas foi desativado ou permaneceu praticamente inativo. A crise
fiscal vivenciada nos anos de 1980 e o posicionamento de caráter mais neoliberal do
governo subsequente reduziram, consideravelmente, o ímpeto de promover o
desenvolvimento regional com programas especiais como os explorados nesta seção.

No cenário paraguaio, o início da produção de soja ocorreu na década de 1960 e a


introdução do cultivo foi promovida como parte do Plano Nacional do Trigo (PNT),
criado com objetivo fundamental de incrementar a produção do trigo para satisfazer a
demanda industrial no país. No âmbito desse plano a soja se constituiria como
complemento a plantação do trigo, sendo a cultura de rotação durante o verão. Para
alavancar o PNT foram concedidos incentivos financeiros, suporte técnico e benefícios
fiscais que propiciaram muitas empresas agrícola se unirem a ele. Embora o PNT não
tenha obtido o efeito esperado em incrementar a produção do trigo, representou a
expansão do cultivo de soja (WWF, 2016).

No Paraguai, o cultivo da soja teve início no sul da região Oriental (departamentos


de Alto Paraná, Itapuá e Canindeyú), seguindo para o centro oriental (departamentos de
Caaguazú, São Pedro, Caazapá, Amambay, Missiones e Concepción). A expansão
vertiginosa da cultura ocorreu no período do governo ditatorial de Stroessner, que
fortaleceu o modelo agroexportador através de um maior apoio a modernização do campo
(VILLAGRA, 2009).

Nos anos de 1970, há uma grande expansão da agricultura mecanizada nos


estados do sul do Brasil, que ultrapassa as fronteiras do Paraguai e adentra em
seu território através de colonos brasileiros e sua estrela, a soja. Essa se
constitui na primeira onda maciça de mecanização da produção agrícola no
país (PALAU, 2004) [...]. Os campos de soja espalharam-se vertiginosamente
por antigos assentamentos camponeses ou por florestas desmatadas para este
fim (tradução nossa) (VILLAGRA, 2009, p. 33).

Ainda como fator impulsionador do massivo deslocamento para o Paraguai, foram


os efeitos da Marcha para o Oeste no Brasil acrescido com o movimento da Marcha al
Este no Paraguai, do início dos anos de 1960 aliados à reformulação do estatuto agrário,

64
em 1963, para facilitar a entrada de imigrantes brasileiros permitindo a compra de terras
por estrangeiros nas zonas de fronteira incentivados a colonizar os “espaços vazios”.
Destaque-se que até o período esse território possuía uma floresta tropical e era ocupada
por grupos indígenas e empresas de extração da erva-mate, como a Matte Laranjeira
(ALBUQUERQUE, 2009).

“Aquilo antes era tudo mato”, dice un brasileño, “cuando llegué sólo había
monte por aquí”, contesta otro paraguayo. Es difícil creer que en los años 60
el oriente fronterizo era un sector casi exclusivamente forestal. La ola de
pioneros que a partir de esa época irrumpió brutalmente en la región no
interrumpió su avance, desde entonces, incesantemente alimentado y renovado
por cientos de miles de colonos: brasileños y paraguayos que ensanchan los
límites del espacio común y expanden las fronteras agro-pastoriles
(SOUCHAUD, 2007, p. 35).

Segundo Bertrand et al., (1987) os departamentos vizinhos de Caaguazu e


Caazapá foram colonizados por campesinos paraguaios, reassentados da área central do
território paraguaio. Enquanto os departamentos colonizados por agricultores e colonos
brasileiros foram os departamentos fronteiriços de Alto Paraná, Canindeyú e Amambay
(ALBUQUERQUE, 2009), que não hesitaram em colonizar o leste paraguaio, onde a
mão-de-obra e, sobretudo a terra era nitidamente mais barata que no Brasil.

2.3. Organização do território frente ao modelo agroexportador de soja

No Centro-Oeste, a introdução do agronegócio teve grandes impactos sobre a


estrutura fundiária, uma vez que conferiu novo ritmo à apropriação de terras e interferiu,
diretamente, na escala de exploração da atividade agrícola. A produção em larga escala,
mecanizada e em grandes extensões do Cerrado, delineou um novo perfil para a
agricultura nessa região, privilegiando a intensa expansão agropecuária e redefinindo o
papal dessa região na economia nacional, conduzindo a uma estrutura produtiva, que,
embora guarde certa homogeneidade quanto ao alcance de um novo patamar técnico,
apresentou aspectos específicos na sua evolução fundiária, pois as características
preexistentes da organização agrária foram empreendidas sem alterar a estrutura
fundiária, o que de imediato, levou a expansão espacial da agricultura e forte especulação
de terras nas regiões de fronteira agrícola (IBGE, 1988).

65
Sem dúvida, o latifúndio constituiu uma das principais marcas das condições sócio
espaciais na formação do território brasileiro (BECKER, 2002) e tendência marcante no
Mato Grosso do Sul (BITTAR, 2009) apresentando diferenças significativas em relação
aos demais estados do Centro-Oeste, por exemplo. As políticas governamentais de
subsídios e de acesso à terra, incluindo a colonização, a venda de terras devolutas e a
regularização de ocupações aliadas ao processo histórico de ocupação do território,
contribuíram para consolidar no estado de Mato Grosso do Sul uma estrutura altamente
concentrada, marcada pelo domínio de grandes propriedades.

A estrutura fundiária do território de Mato Grosso do Sul é marcada por uma


injusta e desigual distribuição da terra desde antes de sua formação. Em 1970, 77,8% dos
estabelecimentos agropecuários possuíam menos de 100 hectares, detendo 2,7% da área
total das terras, ao passo que os estabelecimentos com mais de 500 hectares
representavam, apenas 11,9% das propriedades envolvendo 92% da área total na mesma
década, conforme indicam as Figuras 10 e 11 (IBGE 1970; 1995-1996; 2006; 2017).
Destaque-se que, os grupos de área das propriedades rurais está atrelada às informações
dos censos do IBGE, portanto, os dados apresentados restringem-se à faixa de distribuição
previamente estabelecida nos censos.

Figura 10. Número de estabelecimentos agropecuários por grupos de área total no Mato Grosso do Sul –
1980 a 2017.
Fonte: IBGE Censo Agropecuário (1970; 1995-1996; 2006; 2017).
Organizado pela autora.

66
Figura 11. Área total dos estabelecimentos agropecuários por grupos de área total no Mato Grosso do Sul
– 1980 a 2017.
Fonte: IBGE Censo Agropecuário (1970; 1995-1996; 2006; 2017).
Organizado pela autora.

Segundo IBGE (1988), as transformações ocorridas no estado, nos anos de 1970,


foram contingenciadas de forma mais acentuada pela organização agrária preexistente,
que reunia, no início do decênio, 81,2% da superfície territorial. Assim, por já se
caracterizar como um estado majoritariamente rural os novos direcionamentos da
agricultura no Mato Grosso do Sul implicaram muito mais na reestruturação de formas
de organização produtiva já existentes do que na incorporação de novas áreas.

Examina-se aqui, a evolução entre 1980 e 2017 da distribuição dos


estabelecimentos agropecuários (número e área) por classes de tamanho. Vale lembrar
que no período entre os anos 1970 e 1980, o estado de Mato Grosso do Sul passava por
intenso processo de ocupação das suas terras, comandado pelas políticas governamentais
de expansão da fronteira agrícola e as mudanças na estrutura fundiária levam certo tempo
até se materializarem, mas ao verificar os dados é perceptível o reflexo dessas ações a
partir de 1985.

Apesar de verificar um aumento gradativo no número de estabelecimentos de 10


a 100 ha, que em 2017 representam 43,1% do total de propriedades do estado, essa
condição é insuficiente para provocar uma reversão na forte tendência à concentração da
terra, uma vez que a área ocupada por esses estabelecimentos corresponde apenas a 2,9%
do total. Enquanto, no outro extremo, os grandes estabelecimentos, acima de 500 ha,

67
somavam 11.337 unidades, significando apenas 16% das propriedades, as quais, porém
controlavam 88% da área dos estabelecimentos existentes no estado, no mesmo período,
o que corresponde a mais de 25 milhões de hectares (IBGE, 2017).

Dispondo de imensas extensões de terra, os grandes proprietários rurais – agentes


que historicamente detém o poder – puderam responder às demandas do mercado
internacional – inicialmente de açúcar, seguido do café, cacau, algodão, borracha e, mais
recentemente, de soja, apenas expandindo a área de cultivo, em um processo de uso
extensivo da terra que provou o acelerado desmatamento da Mata Atlântica (BECKER,
2002) e, posteriormente do Cerrado.

68
Tabela 1. Número e área de estabelecimentos agropecuários por grupos de área total, Mato Grosso do Sul - 1970 a 2017.
1980 1985 1995 2006 2017
Grupos de área
Estabelec Estabele Estabele Estabelec Estabele
(ha) Área (ha) Área (ha) Área (ha) Área (ha) Área (ha)
imento cimento cimento imento cimento
Menos de 1 427 199 906 350 481 222 729 287 1.146 429
De 1 a 10 12.755 63.802 14.010 64.140 8.689 39.459 12.669 64.532 17.469 94.835
De 10 a 100 16.796 578.623 18.750 670.574 17.753 637.163 29.277 873.700 30.545 865.954
De 100 a 500 8.688 2.128.981 10.682 2.600.216 10.842 2.747.526 100.539 2.675.999 10.060 2.563.391
De 500 a 10.000 8.662 17.186.508 9.750 18.350.706 11.074 19.922.537 11.000 19.216.745 10.996 18.683.956
De 10.000 acima 506 10.785.618 457 9.522.834 409 7.595.866 350 7.443.714 341 6.951.417
Total 47.943 30.743.738 54.631 31.108.813 49.423 30.942.772 64.864 30.274.975 70.710 29.159.983
Fonte: IBGE Censo Agropecuário (1970; 1995-1996; 2006; 2017).
Organizado pela autora.

Figura 12. Variação nos grupos de área em relação ao número de estabelecimentos e a área ocupada
Organizado pela autora.
69
Cabe ressaltar que, a área total dos estabelecimentos do Mato Grosso do Sul
registrada em 2017 ocupa uma área de 29,159 milhões de hectares, compreendendo
81,6% da área territorial do estado uma proporção bastante elevada, a quarta maior
extensão do país, sendo superada apenas por Mato Grosso (54,830 milhões de ha), Minas
Gerais (37,900 milhões de ha) e Pará (29,677 milhões de ha) (IBGE, 2017).

A apropriação acelerada da terra, parte integrante da expansão da lavoura


modernizada de grãos, ocorridas a partir dos anos 1970 na região, respondeu pelo fato de
a condição de produtor-proprietário continuar a ser a condição predominante. No período
de 1980 a 2017, houve acentuada expansão na proporção do número de estabelecimentos
geridos por proprietários, que evoluiu de 45%, em 1980, para 83% em 2017,
acompanhada da proporção da área nessa categoria passando de 57% para 70% no período
(Figura 13). Essa variação no número de estabelecimentos de proprietários se fez às custas
das categorias de arrendatários e de administradores.

Figura 13. Proporção do número e da área dos estabelecimentos explorados por categorias relacionadas a
condição do responsável (proprietário, arrendatários, ocupantes e administrador) no Mato Grosso do Sul
1960-2017.
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário (1970; 1995-1996; 2006; 2017).
Organizado pela autora.

Um dos motivos dessas mudanças está associada a forte participação dos


agricultores advindos do sul do país, que no início da expansão da agricultura moderna,
em 1970, migraram para o Mato Grosso Sul onde arrendavam terras de proprietários
locais, principalmente grandes fazendas – antes voltadas à exploração da pecuária
extensiva – para o cultivo da soja, milho e arroz. Ao decorrer do tempo, porém esses

70
arrendatários acabaram adquirindo terras, sobretudo aquelas que trabalhavam, tornando-
se proprietários.

A valorização das terras na área de fronteira brasileira motivou a comercialização


das pequenas propriedades localizadas na faixa de fronteira do Paraguai, tendo em vista
a boa oferta que recebiam (BATISTA, 2013b). Essa evolução na especulação das
propriedades, vide Tabela 2 e Figura 14 além de pressionar a venda das propriedades à
estrangeiros, impôs uma forte restrição aos produtores paraguaios que não possuíam
poder aquisitivo suficiente para competir com o preço pago por brasileiros (LAINO,
1976).

Nesse ínterim, surgiram ainda, os empresários pseudo-colonizadores, que


atuavam como empresários imobiliários que adquiriam grandes extensões de terra, as
parcelavam e as revendiam a altos preços, sem nenhuma interferência do Estado
paraguaio (LAINO, 1976), com o agravante de que a maior parte dessas operações era
realizada entre brasileiros.

Outro ponto em questão são as instituições financeiras no Paraguai que controlam


o crédito que acabam favorecendo os grandes empresários estrangeiros. O Banco Real
Del Paraguai é a empresa financeira multinacional (filial do banco Real, um dos três
maiores bancos privados do Brasil) que juntamente com as Cooperativas explora a
pequena propriedade vinculando a produção aos financiamentos de produção para
exportação (BATISTA, 2013b), atendendo ao interesse monopolista dos grandes
proprietários e das grandes multinacionais.

A linha de financiamento era ainda mais ampla para os brasileiros localizados na


fronteira com o Paraguai porque vinham de várias direções. Segundo Laino (1979) os
brasileiros financiados recebiam apoio financeiro do Banco do Brasil S.A, Grupo Real,
filial de Asunción, e ao mesmo tempo foram favorecidos com créditos do Banco Nacional
de Fomento durante os anos de 1974/75. De acordo com Villagra (2009), atualmente o
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financia tratores e
colheitadeiras para os agricultores brasileiros.

A questão do contrabando também é emblemática. Há registros de denúncias pelo


jornal “La Tribuna” de 1972 na região fronteiriça do Departamento de Amambay de que
a soja produzida nessa região estaria sendo totalmente enviada para o Brasil. “Mais de 3
mil toneladas de soja foram transportadas por caminhões brasileiros”.

71
A dependência do Paraguai, especialmente da fronteira, pode ser comprovada ao
revisar os setores econômicos essenciais do Estado, como por exemplo no fomento para
a presença e interesses de colonos e agroindústrias brasileiras dentro do seu território.

Os fenômenos da concentração fundiária, da imigração e migração se acentuaram


nas tradicionais áreas coloniais do país, segundo Porto-Gonçalves (2002) o pequeno
produtor rural, pressionado pela especulação imobiliária e altos juros de financiamento se
vê obrigado a vender suas terras e migrar para novas frentes de expansão do capital. A
migração, como válvula de escape, favorece o modelo e perpetua o ciclo de colonização
implementadas outrora. De igual forma ocorreu na fronteira de Mato Grosso do Sul e
Paraguai, afirma Villagra (2009), já que o modelo do agronegócio contrasta diretamente
com a população rural, propiciando sua migração e sustentando uma agricultura sem
agricultores campesinos, somente com operários de maquinário agrícola.

Como sinaliza Albuquerque (2010) a presença maciça de brasileiros em território


paraguaio e os conflitos resultantes desse processo não são apenas decorrentes de
processos espontâneos, mas também de políticas planejadas por duas ditaduras:
Stroessner (1954-1989) no Paraguai, e o regime militar (1964-1985) no Brasil.

Em seu estudo, Batista (2013) registra essa condição na fronteira Brasil/ Paraguai,
apontando que a colonização de terras no Paraguai, na década de 1970, é realizada, em
um primeiro momento, massivamente na fronteira com o Paraná. A modernização da
agricultura causou a expropriação dos pequenos proprietários, obrigando-os a vender ou
arrendar suas propriedades às agroindústrias que se instalaram no Paraná. Esse processo
expansionista exigia a ocupação de novas áreas e nesse momento uma dessas políticas
era a frente pioneira do Mato Grosso do Sul, incorporada rapidamente ao processo de
modernização da economia de exportação e, nesse contexto, o território Paraguaio na
fronteira com o estado ainda estava livre da atuação do agronegócio.

É importante frisar o movimento de mudança das rotas de investimentos que


capitalistas do setor da soja têm feito em direção ao Paraguai e Bolívia, efeito dos baixos
preços da terra e das vantagens fiscais oferecidas por esses países (OLIVEIRA, 2011). A
expansão interna da modernização da agricultura, na década de 1970, com o plantio de
soja, possibilitaram o movimento de imigração de agricultores brasileiros próximos à
fronteira do leste do Paraguai para o país vizinho (ALBUQUERQUE, 2009; 2010).

Os imigrantes brasileiros no Paraguai fazem parte de dois amplos processos


migratórios no interior do Brasil: um movimento vindo do Rio Grande Sul em

72
direção a Santa Catarina, Oeste do Paraná e Mato Grosso do Sul; um outro
fluxo vindo do Nordeste e Minas Gerais em direção ao Estado de São Paulo,
Norte e Oeste do Paraná. Essas migrações eram fundamentalmente compostas
por famílias de camponeses. As famílias dos dois fluxos migratórios ocuparam
geralmente posições sociais diferentes tanto no Oeste do Paraná, Mato Grosso
do Sul como no Leste do Paraguai nos ciclos do café, da menta e da soja. Os
nordestinos e mineiros se tornaram principalmente peões, arrendatários e
posseiros nessas frentes de expansão nacionais, enquanto que os sulistas se
constituíram majoritariamente como colonos, pequenos e médios
proprietários, especialmente em território paraguaio (ALBUQUERQUE,
2009, p. 139).

A expansão dos plantios de soja a partir do final da década de 1970 e início dos
anos 1980, ampliaram os processos de mecanização e concentração da posse de terra no
território brasileiro, expulsando pequenos proprietários, arrendatários e colonos que não
foram capazes de concorrer com o dinamismo das modernas atividades agrícolas. “O
colono, no Brasil, cedeu seu lugar à agricultura empresarial. E, de certa forma, vem sendo
expulsa para cá em busca de terras férteis e baratas, trocando às vezes 5 hectares de terras,
no Brasil, por 50 no Paraguai” (BATISTA, 2013b, p. 73).

Tabela 2. Distribuição da superfície agrícola cultivada por grupo de área no Paraguai - 1991 e 2008
Variação entre 1991 e
1991 2008
Grupos de área 2008 (%)
(ha) Número Área (ha) Número Área (ha) Número Área (ha)
Menos de 1 21.977 8.499 15.586 6.894 -29,1 -18,9
De 1 a 10 159.416 653.463 167.861 647.820 5,2 -0,8
De 10 a 100 105.319 2.167.359 87.479 1.764.922 -16,9 -18,5
De 100 a 500 7.782 1.109.203 10.485 2.299.794 34,7 107,3
De 500 a 1.000 1.525 1.010.952 2.737 1.810.119 79,5 79,1
De 1.000 a 5.000 2.356 4.982.438 3.443 7.200.531 46,1 44,5
De 5.000 a 10.000 533 3.664.873 684 4.702.034 28,3 29
De 10.000 acima 351 9.730.949 600 12.654779 70,9 30
Total 307.221 23.817.737 289.649 31.086.894 -5,7 30,5
Fonte: Censo Agropecuário (2008) - MAG, 2008
Organizado pela autora.

Uma condição que cabe aqui destacar é que de acordo com os censos de 1991 e
2008 a grande maioria de propriedades, cerca de 93% se encontram na faixa até 100
hectares.

73
Figura 14. Distribuição da área plantada e do número de propriedades no Paraguai no censo de 1991 e
2008.
Fonte: Censo Agropecuário (MAG, 2008).
Organizado pela autora.

Dos mais de 2 milhões de hectares cultivados com soja em 2008, 64% de toda
essa área corresponde a produtores estrangeiros (GALEANO, 2012). As informações da
Figura 15 evidenciam o grande peso dos agricultores brasileiros, sobretudo os grandes
latifundiários. Esses dados demonstram que os brasileiros são a maioria, não só entre
estrangeiros, mas no conjunto dos produtores de soja, incluindo os nacionais, em uma
proporção que supera 50% dentro dos dados mencionados acima.

74
Figura 15. Área plantada com soja por nacionalidade do produtor e tamanho da propriedade registrado no
Censo Agropecuário de 2008.
Fonte: MAG, Censo Agropecuário 2008
Organização: Galeano (2012)

O fenômeno observado nessa região de fronteira é totalmente diferente da


imigração tradicional. Aqui, a maioria dos brasileiros se instalam pontualmente ao longo
da fronteira com o Brasil, se estabelecem no território paraguaio, compram as terras, se
beneficiam da falta de legislação ambiental, instalam os processos produtivos do
agronegócio e se integram ao mercado e sistema econômico brasileiro (VÁZQUEZ,
2010).

O avanço territorial do Brasil sobre o Paraguai está muito mais relacionado a


dinâmica do agronegócio do que por intermédio do Estado. Nos departamentos
localizados na faixa de fronteira, o percentual de propriedades rurais em posse de
brasileiros chega a 60% (Figura 16), considerando todo o território paraguaio esse
percentual é de 14,2% do total. Segundo dados da Oxfam Paraguay (2016) dos 3,634
milhões de hectares vinculados aos cem maiores proprietários de terras no Paraguai,
12,5% pertencem a 16 brasileiros, que possuem mais de 454 mil hectares.

75
Figura 16. Participação dos produtores brasileiros em relação ao número total de títulos de terras.
Fonte: MAG, Censo Agropecuário 2008.
Organizado pela autora.

Segundo Vázquez (2010), historicamente, o território paraguaio é moldado por


dois modelos: um em torno da capital Asunción ligado a uma economia rural tradicional
de subsistência e o outro na zona de fronteira – abrangendo, prioritariamente, os
departamentos do noroeste da região Oriental do Paraguai (Alto Paraná, Itapúa e
Canindeyú) – caracterizado por uma economia agrícola modernizada e integrada aos
mercados internacionais, separados por uma faixa de cerca de 100 km de norte a sul, mas
que nem sempre garante a inexistência de conflitos entre ambos os modelos. É nessa faixa
de transição que segundo o autor, emerge um novo modelo e uma nova região no
Paraguai, a “Terceira Região”, que é pautada na agricultura campesina, porém voltada
aos mercados internacionais. Esse fenômeno foi facilitado pela implementação de

76
dispositivos financeiros, logísticos, comerciais e fomentada pela presença das
agroindústrias e empresas privadas que se associam às famílias campesinas.

Vale lembrar que o sentimento paraguaio de estar sofrendo uma invasão do Brasil
tem uma longa história e, nesse caso, trata-se de uma noção muito mais difusa desse
cenário, pois não se trata de uma invasão tradicional, como ocorrido na Guerra do
Paraguai. É algo muito mais sutil, mediante a presença crescente de brasileiros que
ultrapassam a fronteira, compram terras, cultivam soja ou criam gado.

2.4. Distribuição espacial do uso e ocupação das terras

A partir de 1960 e 1970 o estado de Mato Grosso do Sul passou a promover e


incentivar a ocupação e o desenvolvimento de áreas pertencentes ao bioma Cerrado,
fomentadas principalmente pelas políticas públicas que forneciam capital financeiro,
tecnologia e infraestrutura. A partir desse ponto, a atividade agrícola passou a se tornar
mais relevante no estado, a começar pela soja, que se beneficiou com o desenvolvimento
das novas tecnologias, sobretudo para cultivares adaptados às condições do Cerrado.

Ainda assim, a pecuária é uma das atividades que ocupa maior extensão de área
dentre as atividades econômicas, grande parte deve-se as boas condições das pastagens
naturais e a grande demanda por parte dos estados vizinhos. A Figura 17 apresenta os
dados referente a participação das formas de distribuição das terras em relação à área total
dos estabelecimentos.

77
18
16
14
12
Milhões de hectares

10
8
6
4
2
0
1985 1995 2006 2017
Lavouras permanentes Lavouras temporárias
Pastagens naturais Pastagens plantadas
Matas naturais Floresta plantada (eucalipto e outros)

Figura 17. Distribuição das diferentes formas de utilização das terras nos estabelecimentos rurais de Mato
Grosso do Sul - 1980 a 2017.
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário (1985; 1995-1996; 2006; 2017).
Organizado pela autora.

Atualmente em relação à ocupação das terras nas propriedades rurais no estado,


podem ser observadas três situações: àquelas que possuem quase 100% de suas áreas
exploradas, não respeitando a legislação ambiental; àquelas parcialmente exploradas,
onde ainda se encontram áreas preservadas; e poucas propriedades sem destinação
produtiva.

O declínio da área de pastagens naturais desde 1980 a 2017 (-65,5%) em todo o


período registrado na Figura 17 foi responsável por abrir espaço para as áreas de lavouras
e pastagens artificiais que, somadas, registraram um incremento de mais de 10,1 milhões
de hectares (de 6,4 milhões para 16,6 milhões de ha), representando um crescimento
percentual de 174% e 151%, respectivamente.

Esse cenário de decrescimento da área em pastagens naturais registrado a partir


de 1985 coincide com a retração na categoria lavouras no estado, registrada a partir dos
anos 1990, como é possível notar na Tabela 4 e Figura 18, a seguir. A área plantada com
a principais lavouras do estado (algodão, arroz, cana-de-açúcar, mandioca, milho, soja e
trigo) – responsáveis por grande parte das terras pertencentes à agricultura no estado.
Esses dados indicam que Mato Grosso do Sul experimentou, no período, acentuada
pecuarização.

78
Tabela 3. Área plantada com as principais lavouras, segundo os Censos Agropecuários - Mato Grosso do Sul 1980-2017.
1980 1985 1990 1995 2000 2006 2017 Variação
percentual entre
Lavouras Área (ha) % Área (ha) % Área (ha) % Área (ha) % Área (ha) % Área (ha) % Área (ha) %
1980 e 2017
Algodão (em caroço) 44.615 2,5 242.341 3,1 44.570 2,1 92.574 3,2 48.450 2,6 29.499 0,9 28.841 0,5 -35,3%
Arroz (em casca) 501.333 28,8 50.650 11,3 116.991 5,7 74.815 5 66.068 3,5 42.160 1,4 15.342 0,2 -96,9%
Cana-de-açúcar 11.671 0,6 45.887 2,3 67.358 3,3 32.487 4 98.938 5,3 152.747 5,1 661.906 12,5 5.571,3%
Feijão 60.504 3,4 25.540 2,1 62.229 3 29.347 1,7 11.632 0,6 32.470 1,1 22.908 0,4 -62,1
Mandioca 21.030 1,2 143.236 1,2 24.569 1,2 472.160 1,5 32.519 1,7 29.337 0,9 31.805 0,6 51,2
Milho 108.584 6,2 1.307.640 6,7 255.747 12,5 1.043.689 25,6 394.538 21,1 644.485 21,5 1.831.970 34,6 1.587,1
Soja 806.559 46,3 201.017 61,3 1.256.469 61,5 23.625 56,6 1.099.359 58,9 1.903.852 63,5 2.620.622 49,6 224,9
Trigo 122.087 7,0 66.619 9,4 184.427 9 60.011 1,2 34.949 1,8 49.492 1,6 22.893 0,4 -81,2
TOTAL 1.740.011 2.130.234 2.041.128 1.841.197 1.863.740 2.998.133 5.282.706
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário (1980; 1995-1996; 2006; 2017).
Organizado Elaborado pela autora.

Figura 18. Área plantada com as principais culturas no Mato Grosso do Sul de 1980 a 2017.
Organizado Elaborado pela autora.
79
Ao examinar as lavouras que compõe a Tabela 3, destaca-se o aumento de áreas
em quase todos os casos entre 1980 e 1990, e entre 1990 e 1995 houve queda da área,
principalmente da soja, do arroz e do trigo. No caso da soja, o declínio nesse período está
relacionado a acentuada mudança na política agrícola nas zonas de fronteira agrícola,
introduzida no início da década de 1990, com eliminação de vantagens e subsídios
especiais.

Entre 1995 e 2000 observa-se flutuações nas lavouras de soja, milho e cana-de-
açúcar e, nos últimos anos (entre 2006 e 2017) há um aumento substancial desse grupo
de lavouras, guiadas pelas condições do mercado. Nesse cenário, a área de lavouras
temporárias aumentou 4,5% registrando um aumento de 2,178 milhões de ha, em 2006,
para 3,389 milhões de ha em 2017, tornando Mato Grosso do Sul um importante produtor
nacional, principalmente de soja e milho.

Voltando aos dados de uso da terra da Tabela 3, apesar de apresentar tendência


crescente, em um intervalo de 11 anos, entre os censos 2006 e de 2017, o território da
pecuária no estado encolheu 4,1%, o equivalente a 1,699 milhão de hectare. Todavia,
mesmo com o recuo na área de pastagens, o estado, conforme IBGE (2017) possui o
terceiro maior rebanho bovino do Brasil, com 18,159 milhões de cabeças e, ainda o
município com maior quantidade de animais, Corumbá, com 1,571 milhão de cabeças.

O setor de lavouras do estado apresentou após o levantamento de 2006


incrementos não só de área, como de forma especial, em rendimento médio (Tabela 4),
gerando assim, aumento significativo de produção. Esses aumentos refletem uma maior
profissionalização do segmento de lavouras que sobreviveu às intempéries da segunda
metade da década de 1990 e o caos financeiro vivenciado nos início dos anos 2000, como
aponta (BITTAR, 2009).

Se por um lado o segmento de lavouras tradicionais, de baixo rendimento,


destinadas ao consumo local, como arroz, feijão, mandioca e trigo, tiveram anualmente
suas safras reduzidas, em contrapartida, do outro, houve a firme expansão de área e
produção das commodities no estado (Figura 19 e 20), que contou ainda com a
participação cada vez maior de irrigação, mecanização e migração da mão de obra, essa
condição, verificada no Mato Grosso do Sul, também era um fenômeno que acontecia em
outras regiões do Brasil, como constatado por BECKER (2002).

80
Tabela 4. Rendimento médio em kg/ha das principais lavouras, segundo os Censos Agropecuários - Mato Grosso do Sul 1980-2017.
Variação percentual
Cultivos 1980 1985 1990 1995 2000 2006 2017
entre 1980 e 2017
Algodão (em caroço) 1554 1596 1650 1762 2638 3190 4549 192,7%
Arroz (em casca) 1006 1337 1559 2584 3430 4453 6452 541,3%
Cana-de-açúcar 51987 62602 62253 65794 59001 78636 70902 36,3%
Feijão 389 651 545 726 861 1207 1368 251,6%
Mandioca 16172 17693 17772 18939 18181 16884 21718 34,2%
Milho 1735 2285 2329 3039 2710 3634 5361 208,9%
Soja 1639 1957 1622 2187 2261 2181 3473 111,9%
Trigo 901 1580 1106 837 993 1248 1881 108,7%
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário (1980; 1995-1996; 2006; 2017).
Organizado pela autora.

Figura 19. Rendimento médio das principais culturas do Mato Grosso do Sul de 1980 a 2017.
Organizado pela autora.
81
Tabela 5. Quantidade produzida em toneladas das principais lavouras, segundo os Censos Agropecuários - Mato Grosso do Sul 1980-2017.
Variação percentual
Cultivos 1980 1985 1990 1995 2000 2006 2017
entre 1980 e 2017
Algodão (em caroço) 69.346 106.317 73.559 105.791 127.839 94.116 131.210 89,21
Arroz (em casca) 504.212 323.993 182.458 239.269 226.649 187.768 98.992 -80,37
Cana-de-açúcar 606.743 3.170.806 4.193.288 4.922.386 5.837.456 12.011.538 46.930.191 7634,77
Feijão 23.507 29.882 33.966 23.590 10.019 39.202 31.338 33,31
Mandioca 340.090 451.869 436.653 555.808 591.231 495.348 690.752 103,11
Milho 188.396 327.334 595.718 1.435.151 1.069.571 2.342.619 9.821.727 5113,34
Soja 1.322.082 2.558.720 2.038.614 2.283.546 2.486.120 4.153.542 9.101.890 588,45
Trigo 110.000 317.644 204.035 19.786 34.712 61.783 43.065 -60,85
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário (1980; 1995-1996; 2006; 2017).
Organizado pela autora.

Figura 20. Quantidade produzida das principais culturas do Mato Grosso do Sul de 1980 a 2017.
Organizado pela autora.

82
Os cultivos de soja, milho e cana-de-açúcar predominam nas lavouras sul-mato-
grossenses (Figura 21). No caso da cana-de-açúcar, o seu incremento esteve, desde o
começo, ligado ao projeto do Proálcool, que subsidiava as agroindústrias para produção
do álcool combustível. No período de 1979 a 1990 haviam apenas 9 usinas no estado e
atualmente já somam 25 unidades, a produção e área de cultivo da cana-de-açúcar
quadruplicaram desde 2003 (FERREIRA e SILVA, 2017). Atualmente as usinas
sucroenergéticas, denominadas assim por produzirem além do açúcar e álcool, utilizam a
biomassa para geração de energia elétrica, priorizam qual a natureza da produção (açúcar
ou álcool) a partir de interesses comerciais conectados ao mercado externo.

Mas, ainda assim, o caso de maior destaque é o da soja, que se sobressai enquanto
extensão de área cultivada, valor da produção e demais aspectos econômicos. No início
dos anos 1980 a expansão de soja no Mato Grosso do Sul ainda possuía pouca expressão,
alcançando em um período de vinte anos (1980/1990) um aumento de 88% na produção,
mas nos últimos anos (2000 a 2017) o cenário foi mais expressivo e a produção sul-mato-
grossense teve um incremento de 194%, que o colocou entre os cinco maiores estados
produtores de soja no país, com um total de 9,101 milhões de toneladas na safra 2016-
2017.

(%)
70

60

50

40

30

20

10

0
1980 1985 1990 1995 2000 2006 2017
Algodão (em caroço) Arroz (em casca) Cana-de-açúcar
Feijão Mandioca Milho
Soja Trigo

Figura 21. Percentual do total geral da área plantada por cultura no Mato Grosso do Sul – 1980 a 2017.
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário (1970; 1995-1996; 2006; 2017).
Organizado pela autora.

Como já constatado, os avanços obtidos em rendimento médio resultaram da


organização da área agricultável em termos de variedades de cultivares, geneticamente

83
adaptados às condições do Cerrado, da dependência de insumos fornecidos pelas
multinacionais, especialmente no que se refere a fertilizantes e agrotóxicos, além do uso
de maquinários modernos (CASTRO et al., 2014). Dessa forma, enquanto o uso sementes
modificadas e insumos adequados levou à superação das barreiras naturais, as inovações
tecnológicas contribuíram para a ampliação da escala de produção, área plantada e
rendimento médio.

Essa situação é ainda mais marcante quando confrontamos a estrutura fundiária


do estado, altamente concentradora de terra, que favorece o plantio em extensas áreas de
monocultura e a pequena parcela de proprietários donos dos maiores estabelecimentos
(500 a 10.000 ha), ou seja, as maiores propriedades concentram a maior parte da produção
e pertencem a poucos proprietários.

Entre meados da década de 1980 e a atual, a análise revela dois grandes


movimentos espaciais relativos à expansão de áreas em incorporação ao processo
produtivo, primeiramente, de grande parte das regiões do Centro-Oeste, com a inserção
dos núcleos gaúchos e paulistas, seguido dos paranaenses em uma nova dinâmica
produtiva assentada no processo de modernização da agricultura, cujos efeitos, foram
sentidos, posteriormente, de forma gradual no delineamento do território do agronegócio
nas escalas regionais moldado por articulações na especialização do território a fim de
atender as demandas do agronegócio.

No cenário paraguaio, observa que ainda há uma extensa área que compreende a
classe florestal, cerca de 16,3 milhões de hectares (Tabela 6 e Figura 22), pertencentes
principalmente ao Chaco Seco.

Tabela 6. Superfície dos tipos de uso e ocupação das terras no Paraguai para 2015
Uso e cobertura das terras
Área (hectares) Percentual
Nível I Nível II
Floresta 16.300.000 37,31%
Arbustiva 11.800.000 27,01%
Natural Vegetação esparsa 3.010 0,01%
Área úmida 3.420.000 7,83%
Corpos d'água 446.000 1,02%
Agricultura 10.100.000 23,12%
Pastagem 1.540.000 3,52%
Explorada
Assentamento 80.100 0,18%
Solo exposto 801 0,00%
Fonte: GLOBAL FOREST WATCH, 2016.
Organizado Elaborado pela autora.

84
Figura 22. Distribuição das classes de uso e ocupação das terras no Paraguai
Fonte: GLOBAL FOREST WATCH, 2016.
Organizado Elaborado pela autora.

2.4. A expansão do cultivo da soja: do global ao local

Grande parte de todos os países dependem, atualmente, de importações de


commodities de diferentes lugares do mundo. Particularmente, as chamadas culturas
flexíveis ou flex crop, como a soja, o óleo de dendê, milho e a cana-de-açúcar, vêm se
tornando cada vez mais importantes em uma economia globalizadas que valoriza a
versatilidade desses produtos para alimentos, ração animal, biocombustíveis e inúmeros
outros usos comerciais (TRASE, 2018).

Sob o viés puramente econômico, a produção para exportação é uma opção das
mais atrativas. Na Malásia, por exemplo, a produção de óleo de palma em 2016, alcançou
um valor bruto de US$ 12,5 bilhões (FAO, 2016) e no Brasil, a cana-de-açúcar, soja e
milho – as três maiores commodities agrícolas por volume de produção – tiveram um
valor bruto de produção de US$ 60,6 bilhões, contribuindo com 3,4% do PIB (WITS,
2017) sendo a soja a commodity de exportação mais valiosa do Brasil, com valor acima
de US$ 20 bilhões (TRASE, 2018).

A demanda por essas commodities estimulou um notável aumento na produção


agrícola e nesse ínterim que se destaca a soja. Nas últimas quatro décadas a soja tornou-
se uma das culturas mais importantes e rentáveis no rol das commodities a nível mundial
(WWF, 2016). A produção mundial de soja cresceu mais de 10 vezes passando de 25
milhões de toneladas, em 1960 para 352 milhões de toneladas, em 2017 (FAO, 2018a).

85
Desse total, 94% da produção está concentrada em sete países: Estados Unidos, Brasil,
Argentina, China, Índia, Paraguai e Canadá (Figura 23).

Nesse cenário, a América do Sul se constitui no território de expansão mais


vertiginosa de soja. Brasil, Argentina e Paraguai, atualmente, produzem quase 50% da
soja mundial, contra apenas 3% a 50 anos atrás. Grande parte desse crescimento advém
de um aumento de 40 vezes na área cultivada com soja, de 1,4 milhão de hectares em
1970 para 56 milhões de hectares em 2017 (FAO, 2018a). Esses três países respondem,
hoje, por mais de 95% da área de soja colhida do continente.

Figura 23. Principais países produtores de soja na safra 2016/17


Fonte: FAO (2018a)
Organizado pela autora.

A soja, atualmente, é a commodity agrícola mais negociada na América do Sul.


Isso decorre em resposta à crescente demanda global, particularmente pela soja como
ração animal. O consumo mundial é liderado pela China (Tabela 7), destaque-se
importância do crescimento econômico da China, especificamente, em relação a demanda
do país por soja. O aumento nas últimas duas décadas foi pujante, passando de 12 milhões
de toneladas, no ano 2000 para 110 milhões de toneladas em 2018. Só no Brasil, as
exportações para a China aumentaram de 28,5 para 83,6 milhões de toneladas de 2009 a
2018 (MDIC, 2018).

86
Tabela 7. Consumo mundial de soja na safra 2017/18.
Safra 2017/18
Países
em milhões de toneladas %
China 110,8 32,3
Estados Unidos 56,8 16,6
Argentina 48,4 14,1
Brasil 45,7 13,3
Demais países 81,5 23,7
Total 343,2 100
Fonte: FIESP (2018).

Os dados apontam que a China, quarto maior produtor mundial, não figura entre
os principais exportadores (FIESP, 2018) (Figura 24), basicamente a China está
terceirizando sua produção de soja já que vem diminuindo a área dedicada ao plantio de
soja, só entre 2000 e 2016 houve uma diminuição de 30% da área plantada de soja
(TRASE, 2018).

Figura 24. Principais países exportadores de soja na safra 2017/18


Fonte: FAO (2018a)
Organizado Elaborado pela autora.

O Brasil ocupa a segunda posição de maior produtor mundial de soja e primeira


em exportações. Em uma análise mais detalhada das exportações brasileiras, o volume de
soja em grão exportado foi de 83,6 milhões de toneladas, farelo 16,9 milhões de toneladas
e óleo 1,4 milhões de toneladas na safra 2017/18 (EMBRAPA, 2018), representando um
total de US$ 31,7 bilhões, colocando a soja como principal produto na pauta de
exportação do mercado brasileiro (SECEX/MDIC, 2018).

A Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) estima que o
Brasil aumente sua produção para 130 milhões de toneladas até 2027. Projeta-se que o

87
país ultrapasse a América do Norte como maior exportador de soja até o referido ano,
aumentando sua participação nas exportações mundiais para 41,8%, enquanto Estados
Unidos – historicamente maior exportador global de soja – e Canadá terão declínio para
40,6% (FAO, 2018b).

Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) estimam que a


produção para a safra 2018/19 no Brasil deverá ser de 116,5 milhões de toneladas –
confira a evolução temporal da área plantada e produção de soja no Brasil na Figura 25.
As exportações em janeiro e fevereiro de 2019 já estão 83% maiores do que o alcançado
pela safra 2017/2018 (CONAB, 2019). Contudo, o cenário brasileiro de exportações pode
vir a sofrer algumas variações com a recente trégua comercial estabelecida entre Estados
Unidos e China.

Figura 25. Evolução temporal da área plantada e quantidade produzida de soja no Brasil.
Fonte: CONAB (2019).
Organizado pela autora.

No Brasil, a região do Centro-Oeste se destaca, considerada como área de


expansão da fronteira agrícola, com frentes migratórias advindos do Sul e do Sudeste do
Brasil aliadas a implementação de políticas públicas de subsídio e financiamento, como

88
já mencionadas, passou a ser considerada uma área de expansão da fronteira agrícola, em
decorrência, os estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul transformaram-se
em verdadeiros celeiros, produtores essencialmente de grãos, com destaque para a soja
voltada para a exportação.

Para efeitos de comparação, no final dos anos de 1970, mais de 80% da produção
brasileira de soja se concentrava nos três estados da região Sul e menos de 2% da
produção nacional estava na região Centro-Oeste. Em 1990 a região central do Brasil
compreendia 33% da produção nacional e 34% da área plantada, nos anos 2000 essa
porcentagem já era superior a 40% em termos de área e produção, e, atualmente a região
Centro-Oeste é a principal produtora da oleaginosa no país (Figura 26).

Figura 26. Área plantada e quantidade produzida de soja nas regiões do Brasil na safra 2016/2017.
Fonte: Levantamento da Produção Agrícola - IBGE (2018).
Organizado pela autora.

Em termos territoriais, a produção brasileira concentra-se nos estados do Centro-


Oeste e Sul do país e advém, principalmente de áreas pertencentes aos biomas Cerrado e
Mata Atlântica, compreendendo mais de 45 milhões de toneladas e 32 milhões de
toneladas, respectivamente, do total da produção na safra 2017 (Tabela 8).

89
Tabela 8. Os dez maiores estados produtores de soja no Brasil - safra 16/17.
Bioma de origem
Unidade de
TOTAL Mata Desconheci
federação Amazônia Cerrado Pantanal Pampa Caatinga
Atlântica do
Mato Grosso 30.408.897 12.090.181 14.667.833 - 104.323 - - 3.546.560
Paraná 19.731.281 - 249.357 15.433.869 - - - 4.048.055
Rio Grande do
18.201.646 - - 10.498.521 - 7.524.729 - 178.393
Sul
Goiás 11.410.457 - 9.931.430 146.986 - - - 1.332.041
Mato Grosso do
8.647.723 - 4.835.819 2.869.174 37.682 - - 905.048
Sul
Minas Gerais 5.572.127 - 3.964.774 508.112 - - 4.051 1.095.190
Bahia 5.044.505 - 4.773.203 - - - 44 271.258
São Paulo 3.980.178 - 1.242.560 1.061.129 - - - 1.676.489
Maranhão 2.421.044 171.623 1.863.212 - - - 1.408 384.801
Demais 9.181.311
Total país 114.599.166 14.937.193 45.999.478 32.442.978 142.005 7.524.729 38.134 13.514.652
Fonte: Trase (2017)
Organizado Elaborado pela autora.

No Paraguai, segundo VILLAGRA (2009) a grande expansão da agricultura


mecanizada, na década de 1970 nos estados da região Sul para o Centro-Oeste do Brasil,
extrapola a fronteira internacional e adentra no território do Paraguai através dos
agricultores brasileiros e de seu agronegócio, a soja.

Na economia paraguaia, desde as últimas décadas, a soja tem se convertido no


principal item produzido e no maior produto de exportação, sendo o complexo soja
considerado a “coluna vertebral do agronegócio no Paraguai” (VILLAGRA, 2009, p. 34).
No início dos anos 70 a produção de soja era em torno de 50 mil toneladas e atualmente
ultrapassa 10 milhões de toneladas, representando um crescimento 200 vezes maior
(Figura 27).

Figura 27. Evolução temporal da área plantada e quantidade produzida de soja no Paraguai
Fonte: Trase (2017).
Organizado pela autora. 90
Apesar de o Paraguai não aparecer entre os principais produtores vem
desempenhado um papel de destaque entre os principais exportadores no mercado global
da soja, ocupando o sexto lugar como produtor mundial de soja, em 2017 (FAO, 2018a)
e ainda o país foi o quarto exportador mundial no referido ano. Na América Latina, o
Paraguai ocupa o terceiro lugar em níveis de produção de soja, atrás apenas do Brasil e
Argentina.

O incremento na produção de soja paraguaia a partir da década de 1990 está ligada,


principalmente, a introdução de cultivos transgênicos, que deu início a uma nova era no
modelo de produção da oleaginosa no Paraguai, alavancando a produção para um total de
9,4 milhões de toneladas na safra 2017 (USDA, 2017).

Los sojales se extienden vertiginosamente sobre antiguos asentamientos


campesinos o sobre bosques desmontados para el efecto. Esta expansión del
capitalismo agrario en toda la frontera [...] Pero este crecimiento adquiere
nuevas características a partir del año 1999, con el ingreso ilegal al país de las
semillas transgénicas, iniciándose así una nueva época en el modelo de
producción agrícola. De esta forma, la producción agrícola cada vez en mayor
medida, es controlada y dirigida por las corporaciones transnacionales, que em
su lógica de acumulación no consideran los efectos negativos que tiene la
expansión de la producción transgénica en los sectores campesinos y en el
médio ambiente (VILLAGRA, 2009, p. 33).

Verifica-se uma simultaneidade no modelo de desenvolvimento adotado no Mato


Grosso do Sul e posteriormente pelo Paraguai, onde há primeiro uma expansão geográfica
seguidamente da intensificação mediante ao incremento da tecnologia e otimização de
processos.

Como resultado dessa expansão e especialização produtiva, a produção cresceu


significativamente desde os anos de 1990 e o cultivo da soja é disparado a cultura que
ocupa a maior superfície no território paraguaio (Figura 28), consequentemente é o que
gera maior rendimento agrícola. Entre 1991 e 2017 a superfície cultivada se expandiu em
vários departamentos, (principalmente em Alto Paraná, Canindeyú e Itapúa) enquanto as
novas zonas produtivas localizam-se em San Pedro, Caazapá, Amambay e Concepción
(Figura 29).

91
Figura 28. Área plantada da soja na Região Oriental do Paraguai na safra 2014/2015.
Fonte: CAPECO (2017).

92
1.000.000
900.000
800.000
Área (hectares) 700.000
600.000
2000
500.000
2005
400.000
2010
300.000
2014
200.000
100.000
0

Figura 29. Evolução da área plantada com soja no Paraguai - 2000 a 2014.
Fonte: CAPECO (2017).
Organizado pela autora.

Não obstante, como mencionado, outra situação que pode ilustrar como as culturas
comerciais ganharam impulso corresponde ao número de maquinário empregado, a
existência expressiva da modernização para essas lavouras resulta na produção em larga
escala e no incremento de rendimento das lavouras entre 1980 e 2017, acima registrado.
Em 1995, 30.541 propriedades tinham um total de 54.561 de máquinas, tratores ou outros
equipamentos agrícolas, em 2017 43.845 estabelecimentos possuíam 83.147 unidades, o
equivalente a um aumento de 52,3% no período (Figura 30).

93
90

80

83.147
70

71.160
mil unidades 60

50

54.561
40

30

31.076
20

23.162
12.291

10

0
1975 1980 1985 1995 2006 2017

Figura 30. Número de máquinas, tratores ou equipamentos agrícolas em propriedades no Mato Grosso do
Sul – 1975 a 2017.
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário (1995-1996; 2006; 2017).
Organizado pela autora.

2.5. As redes de comercialização da soja

A soja é um produto de curto canal para o comércio e exportação, já que não


necessita de beneficiamento após a colheita. Para ACHKAR et al., (2008) os países do
Cone-Sul da América Latina se estabelecem como territórios eficientes para as
cooperações transnacionais em decorrência das condições ecológicas, econômicas, de
infraestrutura, políticas e culturais que oferecem as empresas processadoras e
comercializadoras total segurança de retorno eficaz de seus investimentos.

Grande parte da comercialização no estado de Mato Grosso do Sul, cerca de 50%,


é realizada através do quarteto conhecido como grupo ABCD – que representa as
transnacionais Archer Daniels Midland (ADM), Bunge, Cargill e Louis Dreyfus – que
dominam o comércio de commodities global (Tabela 9). Ademais, nos últimos anos a
gigante de alimentos chinesa COFCO International cresceu rapidamente para se juntar a
esses grandes comerciantes em termos de escala e influência, além de empresas nacionais
como a COAMO, a Lar Cooperativa Agroindustrial e a Amaggi representam parte
considerável do comércio no estado.

Faz-se necessário salientar que a COFCO precisou de um curto período para


construir uma posição que as tradicionais tradings levaram décadas para consolidar tanto
no Brasil quanto no Paraguai.

94
Tabela 9. Principais empresas comercializadoras do complexo soja no Mato Grosso do Sul.
Comercialização
Empresa
toneladas %
ADM 1.415.864 16,4
Bunge 1.311.244 15,2
Cargil 995.510 11,5
Exportação
Lois Dreyfus 534.349 6,2
COFCO 264.215 3,1
COAMO 225.394 2,6
Lar Cooperativa Agroindustrial 179.630 2,1
Amaggi 176.493 2
Outras* 1.042.917 12,1
Consumo doméstico 2.509.886 29
TOTAL 8.647.723 100
Fonte: Trase (2018).
Organizado pela autora.

No Paraguai, a soja é o principal produto de exportação e representa 12% do PIB


nacional (CAPECO, 2017). Nas últimas décadas (1990-2017) a produção cresceu mais
de seis vezes e a superfície cultivada quadruplicou, superando 3 milhões de hectares
cultivadas e mais de 10 milhões de toneladas produzidas. O volume de soja produzida na
safra 2016/17 no Paraguai, foi de 8,192 milhões de toneladas e apenas três empresas
comercializaram 50% do total dessa produção (Tabela 10).

Tabela 10. Principais empresas comercializadoras do complexo soja no Paraguai.


Comercialização
Empresa
toneladas %
Cargil 1.691.525 20,6
ADM 1.392.059 17
Sodrugestvo 1.029.886 12,6
Mercantil Comercial 749.894 9,2
Nidera 497.172 6,1
COFCO 457.493 5,6
Bunge 383.153 4,7
Compania Paraguaya de Granos 379.479 4,6
Agrofertil 245.027 3
Outros 1.366.473 16,6
Total 8.192.161 100
Fonte: Trase (2018).
Organizado Elaborado pela autora.

Essas empresas possuem diferentes níveis de integração vertical, operando em


uma rede de instalações relacionadas ao complexo soja, que demarcam suas diferentes
regiões de abastecimento, tanto no território estadual como em todo o Brasil, incluindo,
não apenas unidades de armazenamento, mas também unidades de esmagamento e
infraestrutura logística.

95
As relações comerciais operando conjuntamente com os centros logísticos ajudam
a explicar o padrão de distribuição das regiões de produção, sustentada por estas
conexões, demonstrando, de fato como a atuação e estabelecimento dessas empresas
possuem papel primordial na definição do desenvolvimento local.

No cenário comercial, a China é o principal importador da soja de Mato Grosso


do Sul, cerca de 50% da produção é destinada ao país (Tabela 11), o que representa mais
de US$ 1,5 bilhão (69%) do total exportado. No período entre 2003 e 2017 a produção
no estado duplicou enquanto o volume importado pela China cresceu dez vezes no mesmo
período, se consolidando como principal parceiro comercial do estado.

Tabela 11. Principais destinos de comercialização da produção de soja no estado de Mato Grosso do Sul.
2003 2017
Países Volume (toneladas) Países Volume (toneladas)
China 434.719 China 4.323.668
França 362.102 Tailândia 311.290
Alemanha 319.689 Argentina 183.796
Exportações

Países Baixos 291.427 Taiwan 176.417


Coréia do Sul 126.837 Paquistão 167.586
Espanha 123.086 Indonésia 143.260
Itália 118.036 Países Baixos 136.299
Irã 113.456 Coréia do Sul 123.220
Indonésia 87.490 Irã 122.905
Consumo interno 1.470.107 2.509.886
TOTAL 3.989.873 8.647.723
Fonte: Trase (2018).
Organizado Elaborado pela autora.

No Paraguai, as exportações da safra 2016/17 alcançaram mais de US$ 3 bilhões e


tiveram como principal destino a União Europeia (29,7%), a Rússia (10,1%), a Turquia
(9,9%) e mais recentemente a Argentina (9,6%), com a abertura do país para a importação
de soja em grão do Paraguai, para complementar o volume requerido pela indústria
processadora nacional (Tabela 12).

96
Tabela 12. Principais destinos de comercialização da produção de soja no Paraguai.
2014 2017
Volume Volume
País (destino) País (destino)
toneladas % toneladas %
Brasil 938.555 11,9 Rússia 879.538 10,7
Rússia 804.656 10,2 Turquia 854.193 10,4
Países Baixos 614.682 7,8 Argentina 808.642 9,9
Chile 611.180 7,7 Espanha* 506.704 6,2
Turquia 611.179 7,7 Itália* 437.267 5,3
Itália 394.155 5 Alemanha* 405.446 4,9
México 290.306 3,7 Polônia* 388.300 4,7
Polônia 278.160 3,5 Chile 361.891 4,4
Alemanha 249.952 3,2 Peru 348.779 4,3
Outros 3.111.669 39,4 Outros 3.201.400 39,1
TOTAL 7.904.493 100 8.192.161 100
Fonte: Trase (2018).
Organizado pela autora.

A grande maioria dos países dependem de importações de commodities de


diferentes e distantes locais do planeta e a demanda por essas commodities foi satisfeita
por um grande aumento na produção agrícola mundial. Só no Brasil a produção duplicou
no período entre 2003 e 2017, passando de 51,92 milhões de toneladas para 114,6 milhões
de toneladas, em que mais de 48 milhões de toneladas foram cultivadas em áreas
pertencentes ao Cerrado e mais de 35 milhões na Mata Atlântica (TRASE, 2018).

Nesse mesmo período a produção de soja no Mato Grosso do Sul passou de 4


milhões para 8 milhões de toneladas, dos quais 56% são provenientes do Cerrado, 33%
da Mata Atlântica, 1% do Pantanal e 10% de origem desconhecida, comercializadas por
mais de 50 empresas, das quais se destacam aquelas apresentadas na Figura 31 que
demonstram que além de possuir uma grande rede para exportações (Figura 32), também
contribui para o abastecimento do mercado interno (Figura 33).

97
Figura 31. Perfil de comercialização de soja do Mato Grosso do Sul.
Fonte: Trase (2017).
Organizado e elaborado pela autora.

Apesar da hegemonia do Grupo ABCD, nos últimos anos algumas empresas de


capital nacional e outras de origem asiática têm expandido seus negócios, figurando entre
as principais do complexo soja, mas, ainda assim representam uma pequena fatia desse
montante. Segundo Costa (2012) o segmento de armazenamento e comercialização da
cadeia produtiva, onde se encontram as tradings, é um dos principais elos desse processo.
Essas grandes comercializadoras além de custear recursos para garantir o recebimento da
soja produzida pelos agricultores, ainda transferem e/ou vendem o produto para
agroindústrias, e/ou exportam o grão ou ainda prestam serviços para facilitar a exportação
de cooperativas e empresas de pequeno e médio porte.

98
Figura 32. Os dez principais destinos de exportação de soja do Mato Grosso do Sul.
Fonte: Trase (2017).
Organizado e elaborado pela autora.

99
Figura 33. Perfil da produção de soja no Mato Grosso do Sul.
Fonte: Trase (2017)
Organizado e elaborado pela autora.

100
O fato de a demanda crescente estar sendo atendida por um número
significativamente pequeno de países – por exemplo, mais de 80% da soja foi produzida
em três países Estados Unidos (35%), Brasil (29%) e Argentina (18%) – pode impor uma
pressão intensa em paisagens frágeis e com grande biodiversidade. Sob o ponto de vista
da segurança alimentar e dos recursos internacionais, depender de um pequeno número
de países produtores ou de um cultivo específico também é um grande risco.

Padrões de compra e comercialização de soja por empresas comerciais


determinam a exposição aos riscos de desmatamento. Segundo dados do PRODES/ INPE,
a área de terra atualmente plantada com soja que estavam sob vegetação nativa em 2000
era de aproximadamente 1,8 milhão de hectares de soja na Amazônia e 3,5 milhões de
soja no Cerrado, totalizando cerca de 40% e 20% da área total de soja em cada bioma,
respectivamente. Embora não se possa afirmar que a expansão da soja tenha sido o fator
principal de toda essa conversão de áreas, desempenhou um papel importante nesse
contexto.

É importante notar que comparado ao bioma Amazônico, o Cerrado possui níveis


relativamente baixos de proteção legal e além do Brasil o desmatamento devido à soja na
América do Sul é mais notável nas florestas tropicais, mas também ocorrem nas florestas
subtropicais secas do Gran Chaco da Argentina, Paraguai e Bolívia, que também abrigam
uma biodiversidade particular bem com grande número de populações indígenas. A
combinação das novas variedades de soja mais resistente a seca e altas temperaturas,
contribuíram para ampliar a área de cultivo na Região Ocidental do Chaco. Portanto, esses
países compartilham nas dimensões sociais, ambientais, culturais e econômicas das
consequências e implicações desse modelo de produção.

Grande parte do volume de soja produzida no Paraguai é exportada em grão,


contudo, recentemente um consórcio entre a ADM, Louis Dreyfus, Bunge e Copagra
incrementaram a capacidade de moenda em mais de 2 milhões de toneladas e atualmente
a capacidade já alcança 4,5 milhões de toneladas para moenda e 8 milhões para
armazenamento (CAPECO, 2018). Na safra 2017, 45 empresas exportadoras operaram
na Paraguai, lideradas pela multinacional Cargil (1,691 milhões), seguida pela ADM
(1,392 milhões) e o grupo Sodrugestvo (1,029 milhões) (Figura 34). Essas empresas
possuem integração vertical nas três unidades de negócio – infraestrutura, logística e
instalações de armazenamento e processamento.

101
Figura 34. Perfil de comercialização de soja do Paraguai.
Fonte: Trase (2017)
Organizado e elaborado pela autora.

No Paraguai o complexo soja é dominado pelas empresas transnacionais líderes e


por grupos brasileiros e argentinos. Esse pequeno grupo de gigantes do agronegócio
controlam todo o modelo a partir do controle de insumos e da produção para
industrialização e/ou comercialização. Em cada uma das etapas dessa cadeia produtiva
existem algumas empresas dominantes que hegemonizam e controlam as atividades que

102
estão envolvidas, como a venda de sementes associada aos implementos agrícolas, a
exportação ou a industrialização (VILLAGRA, 2009).

Diante dessa inserção do Paraguai no mercado mundial (Figura 35 e 36) um dos


maiores desafios do país no setor agropecuário está relacionado a logística, que possui
uma rede precária de estradas e uma legislação que proíbe o uso de caminhões bitrens –
que podem carregar quase 40 toneladas.

Todavia, se há uma grande deficiência na malha viária, o sistema fluvial possui


alta eficiência, sendo a 3ª maior frota fluvial do mundo, atrás apenas dos EUA e da China.
Com uma rede de 35 terminais de grãos, 24 localizados no Rio Paraguai e 11 no Rio
Paraná, é operada por 46 empresas internacionais e 7 nacionais. Na safra 2017/2018 foram
exportados 97% do total comercializado, cerca de 6 milhões de toneladas transportados
pelos rios até os portos do Uruguai e da Argentina, para serem encaminhados até o
destino, geralmente Europa, Estados Unidos e Ásia, como pode-se observar na Figura 38.

A frota fluvial paraguaia transporta, inclusive, parte da produção brasileira, e a


tendência é que o tráfego das hidrovias paraguaias aumente com a abertura do porto de
Concepción, localizado no centro norte do país e, em breve, do porto de Carmelo Peralta
– Murtinho (cidades gêmeas PY-BR) para transporte da soja produzida no Mato Grosso
do Sul.

103
Figura 35. Os dez principais destinos de exportação de soja do Paraguai na safra 2017.
Fonte: Trase (2017)
Organizado e elaborado pela autora.

104
Figura 36. Perfil da produção de soja no Paraguai.
Fonte: Trase (2017)
Organizado e elaborado pela autora.

105
Observa-se que há muitos elos na fronteira Mato Grosso do Sul/ Paraguai, trata-
se, dessa forma, de um espaço de encontro, mas um encontro desigual. Apesar de
compartilhar de um modelo de desenvolvimento similar, as diferentes e singulares
trajetórias econômicas, políticas, culturais, organizacionais, científico-tecnológicas e
jurídico-institucionais de cada país exterioriza um espaço de interação devido ao avanço
sobre o outro, não da articulação com o outro (ÁGUAS, 2013).

É nítido que o modelo agroexportador da soja é capaz de estimular o surgimento


de novos empreendimentos, para suprimir as necessidades de cada um dos elos a
montante e a jusante da cadeia produtiva. Como exemplo do poder de aglutinador desse
modelo, em 2003, a empresa Syngenta publicou um slogan divulgando seus serviços para
suplementos rurais nos jornais argentinos Clarín e La Nación, intitulando o cone-sul da
América do Sul, onde a soja era cultivada (Brasil, Paraguai, Argentina, Bolívia e Uruguai)
de “República Unida da Soja” (Figura 37). Essa declaração deixou explícito o projeto que
estava sendo implementado pelas corporações.

Figura 37. Slogan da Syngenta sobre a expansão vertiginosa da soja


Fonte: Syngenta (2013)

Portanto, a inserção desse território no mercado global da soja é reflexo da


presença de atores/ empresas transnacionais (a montante a jusante da cadeia produtiva);
o alto grau de dependência do mercado externo (importação de insumos e exportação de
soja em grão e processada); alta concentração de capital e empresas comercializadoras; a
dependência das bolsas de valores internacionais – principalmente de Chicago – e do
desempenho de outros países; os processos de produção flexíveis e locais (visualizado a

106
partir das agroindústrias e do perfil dos produtores) e; o capital financeiro para
financiamento (implementos, maquinário, terras, etc.) e subsídio da produção
(HEFFERMAN e CONSTANCE, 1994; WESZ JUNIOR, 2014).

Após esse panorama do mercado da soja em nível regional e suas conexões


globais, delineou-se para uma escala de análise se debruçando sobre as variáveis de
ocupação territorial com ênfase na expansão temporal do cultivo da soja e nas relações
estabelecidas no território a partir desse viés.

107
C APÍTULO 3

Análise espacial da concentração da


produção de soja na fronteira Mato Grosso do
Sul e Paraguai

108
“Deste lado, os campos cultivados; do outro, o grande
desconhecido” (Hannerz, 1997, p.21).

A partir do Capítulo 3 as análises da tese estão voltadas particularmente para a


área da pesquisa. O objetivo neste capítulo foi verificar os padrões de autocorrelação
espacial (clusters) existentes na distribuição de regiões homogêneas da área de estudo.
Realizamos a análise exploratória dos dados geoespaciais utilizando como indicador as
variáveis relacionadas a produção da soja. Para tanto, foram empregadas técnicas de
análise de autocorrelação espacial baseada no Índice de Moran Global (1) e Índice de
Moran Local (2).

Importante destacar que um efeito relacionado à distribuição espacial do cultivo


da soja é a presença dos setores a jusante da cadeia produtiva (cooperativas,
agroindústrias, armazéns, esmagadoras/exportadoras), uma vez que a concentração de
área plantada pode demandar a implantação dessas estruturas e ainda, influenciar ou, em
certo grau, determinar e expansão da área cultivada no município e no seu entorno.

3.1. Análise espacial da produção de soja no Mato Grosso do Sul e Paraguai

O agronegócio é um modelo que tende a concentração fundiária e de capital e


demanda alto grau de especialização (GRAS e HERNÁNDEZ, 2013), esse processo
seletivo diminui sensivelmente a participação de regiões e/ou produtos menos
especulativos (CASTILLO, 2015). Dessa forma, sabemos que nem todas as áreas desse
território fronteiriço foram incorporadas à essa dinâmica, revela-se, no contexto estadual
um padrão pontual de especialização e domínio das commodities. Para demonstrar uma
visão conjuntural referente a diferenciação de áreas ao longo do tempo – movimento da
concentração da produção no tempo e espaço – que está sendo discutida optou-se por
agrupar as unidades territoriais, semelhante ao que aponta Garagorry e Penteado Filho
(2012) em seu estudo.

O levantamento dos dados quantitativos referentes à área plantada, produção e


rendimento médio agrícola no Paraguai foi realizado a partir de instituições oficiais como
a Dirección General de Estadística, Encuestas y Censos (DGEEC), da Dirección de
Censo y Estadísticas Agropecuarias (DCEA) do Ministerio da Agricultura y Ganaderia

109
(MAG), da Cámara Paraguaya de Exportadores y Comercializadores de Cereales y
Oleaginosas (CAPECO).

Na análise espacial um aspecto fundamental é demonstrar a dependência espacial,


ou seja, como os valores estão correlacionados no espaço. As Figuras 38, 39 e 40
demonstram a distribuição espacial das variáveis de área plantada, quantidade produzida
e rendimento médio visualizados a partir da divisão de quartis – os dados completos
tabelados estão disponíveis no Apêndice I. A adoção desse tipo de visualização tem como
objetivo explorar e aprofundar a análise desses dados verificando se tal distribuição pode
ser associada a causas mensuráveis. Nesse sentido, apresenta-se no decorrer desta seção
um conjunto de técnicas de análise espacial de dados agrupados por área, partindo da
premissa que o fenômeno estudado apresentaria continuidade espacial.

110
Figura 38. Evolução temporal da área plantada de soja no Mato Grosso do Sul e Paraguai.
Fonte: PAM-IBGE (1990; 2000; 2010; 2018)
Organizado e elaborado pela autora.

111
Figura 39. Evolução temporal da quantidade produzida de soja no Mato Grosso do Sul e Paraguai.
Fonte: PAM-IBGE (1990; 2000; 2010; 2018)
Organizado e elaborado pela autora.

112
Figura 40. Evolução temporal do rendimento médio da soja no Mato Grosso do Sul e Paraguai.
Fonte: PAM-IBGE (1990; 2000; 2010; 2018)
Organizado e elaborado pela autora.

Os resultados das séries históricas apresentadas a partir de sua distribuição


espacial permitem avaliar as principais mudanças imprimidas no território e seu
movimento espacial nas últimas décadas.

113
3.2. Análise das regiões homogêneas (clusters) na fronteira

A análise de autocorrelação espacial é uma técnica acertada e aplicável em


diversas áreas do conhecimento. As funções autocorrelação espacial são utilizadas para
estimar quanto o valor observado de um atributo em uma região é dependente dos valores
desta mesma variável nas localizações vizinhas (CÂMARA et al., 2004).

Segundo Cliff e Ord (1973) a autocorrelação espacial pode ser verificada quando
“a ocorrência de um determinado fenômeno, em alguma região, influenciar, para mais ou
para menos, na ocorrência desse mesmo fenômeno em regiões vizinhas”. Portanto, a
detecção de similaridade entre áreas indica a existência de padrões espaciais na
distribuição de um determinado fenômeno (CARVALHO, 1997).

Nessa pesquisa, a abordagem da análise exploratória de dados geoespaciais


associados a feições de área foi realizada a partir do emprego de técnicas baseadas no
Índice de Moran global e local. Esse tipo de medida estatística vem sendo muito utilizada
em estudos econômicos orientados para a concentração geográfica de uma determinada
variável econômica (ALMEIDA et al., 2008; MARCONATO et al., 2012; (LUZARDO,
et al., 2017)

Há duas expressões distintas para esse índice: a primeira e mais antiga, de 1950,
se refere ao Índice de Moran Global (Eq. 1), que estima a relação de interdependência
espacial entre todos os polígonos da área de estuo e a expressa por meio de um valor único
para toda a região (MORAN, 1950 apud O’SULLIVAN; UNWIN, 2010); a segunda e
mais recente, proposta por Ancelin (1995), o Índice de Moran Local (Eq. 2), identifica a
relação existente entre um determinado polígono e cada ordem de vizinhança, a partir de
uma distância predefinida, por intermédio da covariância existente entre eles, permitindo
averiguar a homogeneidade/diversidade dos dados.

1.

Fonte: CLIFF; ORD (1973, p. 12)

Onde:
• [n] é o número de áreas;
• [Zi] é valor do atributo considerado na área [i];
• [µ2] é o valor médio do atributo na região de estudo;
• [Wij] é elemento [ij] da matriz de vizinhança normalizada.
114
Para explicação detalhada de cada elemento da Equação vide Câmara et al.,(
2004); Luzardo et al., (2017). Se houver correlação positiva dos dados, então a maioria
dos polígonos vizinhos terá valores do mesmo lado da média e o índice será positivo
[I>0], indicando para correlação espacial direta. Se a correlação for inversa, então a
maioria dos polígonos vizinhos terá valores de atributos em lados opostos da média e o
índice será negativo [I<0] e, caso a hipótese seja nula [I=0] indica a ausência de correlação
espacial (CARVALHO, 1997); (LUZARDO et al., 2017).

O diagrama de espalhamento de Moran demonstra a dependência espacial da


variável a partir dos valores normalizados (valores de atributos subtraídos de sua média
e divididos pelo desvio padrão) permitindo a visualização do comportamento da
variabilidade espacial (CÂMARA et al., 2004). Nessa análise espacial de dados o objetivo
é comparar os valores normalizados do atributo numa área com a média dos seus vizinhos,
resultando em um gráfico de Z (valores normalizados) e WZ (média dos vizinhos) que é
dividido em quatro quadrantes, que podem ser interpretados como:

• Q1 (Alto-Alto): valor do atributo de cada polígono e o valor médio do atributo


nos polígonos vizinhos são maiores que a média global;
• Q2 (Baixo-Baixo): valor do atributo de cada polígono e o valor médio do atributo
nos polígonos vizinhos são menores que a média global;
• Q3 (Alto-Baixo): o valor do atributo de cada polígono está acima da média
global, enquanto o valor médio do atributo em polígonos vizinhos está abaixo
daquela média;
• Q4 (Baixo-Alto): valor do atributo de cada polígono está abaixo da média global,
enquanto o valor médio do atributo em polígonos vizinhos está acima daquela
média.

No caso do índice da área plantada em Mato Grosso do Sul (Figura 41) e Paraguai
(Figura 42), o índice global de Moran medido indica para autocorrelação espacial em
ambos os períodos. Para visualização da evolução temporal foram realizados os mesmos
cortes da variável nos diferentes períodos.

Após calculado o índice de Moran, é importante estabelecer sua validade


estatística, submetendo o resultado a um teste de pseudo-significância. No software
Geoda realizou-se o teste com 999 permutações e foi utilizado como critério de
significância o valor de p obtido por simulação no qual Bivand (1998) aponta como valor
confiável abaixo de 0,05. Para a área de estudo obteve-se o valor de significância de 0,001
e 0,006, o que nos leva a rejeitar a hipótese nula, ou seja em ambos os períodos analisados
apresentaram forte autocorrelação entre as regiões, com significância de 99,9% e 99,4%

115
em 2018 e 1990, respectivamente. Descartando, dessa forma a hipótese de que este
fenômeno acontece aleatoriamente.

Cabe aqui salientar que o Índice de Moran foi aplicado para todos os anos do
período de 1990 a 2018 (Apêndice II) porém os resultados ora apresentados foram
selecionados para os dois anos mais distantes, a fim de demonstrar a variação temporal
do fenômeno analisado.

1990 2018
Figura 41. Diagrama de espalhamento do Índice de Moran global para o atributo de área plantada no
Mato Grosso do Sul para os anos de 1990 (a) e para o ano de 2018 (b).
Elaborado pela autora.

1990 2018
Figura 42. Diagrama de espalhamento do Índice de Moran global para o atributo de área plantada no
Paraguai para os anos de 1990 (a) e para o ano de 2018 (b).
Elaborado pela autora.

116
A maior concentração de pontos nos quadrantes Q1 e Q2 indicam a autocorrelação
espacial positiva [I>0], já os pontos distribuídos nos quadrantes Q3 e Q4 indicam para
uma correlação negativa, ou seja, os valores de uma determinada região são muito
diferentes do valor médio das regiões contíguas (Figuras 43 e 44).

A fim de examinar esses padrões mais detalhadamente, empregamos o Índice de


Moran Local - Local Indicators of Spatial Association (Lisa) – (Eq. 2), o qual produzem
um valor específico para cada área, permitindo, desse modo a identificação de
agrupamentos (clusters), de valores extremos desses dados (outliers).

2.

Fonte: Ancellin (1995).

Onde:

• [Ii] é o índice local para o município [i];


• [Zi] é o valor do desvio do município [i];
• [Wi j] é o valor médio dos desvios dos municípios vizinhos de [i];
• [σ2] é a variância da distribuição dos valores dos desvios.

A significância estatística do uso do índice de Moran local foi calculada da mesma


forma como se fez para o índice global. Após a determinação da significância do índice
local, foi gerado um mapa temático indicando somente os municípios para os quais os
valores de Lisa foram considerados significantes (p>0,05), classificados em quatro
grupos, conforme sua localização no quadrante do diagrama de espalhamento. Os demais
municípios ficam como sem significância, ou departamentos no caso do Paraguai.

A inclusão da dimensão temporal na elaboração dos clusters tem como objetivo


ampliar o potencial da análise espacial exploratória do movimento de expansão do cultivo
da soja na área de estudo, pois os resultados referentes ao período da década de 1980
podem ser confrontados com o cenário atual, propiciando uma comparação relevante na
análise dos dados.

117
A distribuição da autocorrelação espacial da variável área plantada no território
demonstra o eixo dinâmico da área de produção da soja no estado de Mato Grosso do Sul
e no Paraguai, claramente apresentado na distribuição dos clusters, com maior
expressividade de área produzida no quadrante Q1 e mais baixa no quadrante Q2. Por
outro lado, é bastante nítido a existência de pouco dinamismo econômico para esta
variável em áreas como a região leste e extremo oeste no estado de Mato Grosso do Sul
e a região central do Paraguai.

Outro ponto importante é a verificação dos outliers, segundo Ancelin (1995)


regiões localizadas nos quadrantes Q3 e Q4 podem ser vistas como casos extremos, em
relação à variável considerada, já que o valor do atributo não segue o padrão dos seus
vizinhos.

É o caso dos municípios do extremo leste (Alto-Baixo) de Mato Grosso do Sul,


na fronteira com São Paulo e do município de Bonito (Baixo-Alto), que apesar de não ter
muita expressividade na produção de soja, os municípios vizinhos localizados na porção
sudoeste (Ponta Porã, Maracaju, Sidrolândia e Dourados) apresentam grandes extensões
de área produzida do grão. Estudos já alertam sobre a preocupação com o avanço do
cultivo da soja no município de Bonito, principalmente devido suas características físicas
naturais mais frágeis, vide Ribeiro (2017) e Cunha et al., (2020).

118
Figura 43. Índice LISA e identificação dos clusters espaciais locais para o estado de Mato Grosso do Sul.
Elaborado pela autora.

119
Figura 44. Índice LISA e identificação dos clusters espaciais locais para o Paraguai.
Elaborado pela autora.

120
Para as análises anteriores foram considerados o recorte espacial restrito aos
limites do Mato Grosso do Sul e Paraguai. O cálculo do índice considera a distância dos
polígonos e dos centróides de seus vizinhos, dessa forma, deve-se levar em conta que as
escalas espaciais são diferentes. Enquanto no Mato Grosso do Sul a variável área plantada
com soja é definida por município no Paraguai isso ocorre para os departamentos.

Ainda assim,vale notar que, no estado de Mato Grosso do Sul, para o cenário de
2018 os municípios classificados como Alto-Alto (AA) formam uma região homogênea
com o corredor que perpassa os departamentos de Itapuá, Caazapá, Alto Paraná,
Caaguazu, Canindeyú, San Pedro e Amambay e se extende aos municípios de Aral
Moreira, Amambai, Laguna Carapã, Caarapó, Ponta Porã, Dourados, Maracaju, Itaporã,
Rio Brilhante e Sidrolândia.

A expansão da soja é um fenômeno fundamental na observação da dinâmica


territorial verificada no estado e no prolongamento da fronteira do agronegócio,
alavancada por commodities, em um contexto que também insere a expansão em direção
a fronteira com o Paraguai. A observação desse processo de apropriação do território
sugere reforçar a posição de mobilidade, em grandes extensões territoriais, da fronteira
agrícola, principalmente no estado de Mato Grosso do Sul com o Paraguai.

Pode-se apontar que a inserção competitiva do território sul-mato-grossense no


mercado internacional, com a exportação de commodities (em que a soja se configura
como carro-chefe), incorpora grandes extensões de terras nacionais e, ainda, avança para
o interior do Paraguai, que possui um quadro natural e econômico suficientemente
adequado para a produção de soja.

Os departamentos de Alto Paraná, Canindeyú, Itapúa e Caaguazú são áreas


históricas de cultivo da soja, mas a distribuição espacial do cultivo do grão revela ainda
uma concentração no extremo leste da região Oriental do país, fora da zona tradicional,
um na porção mais ao norte, nos departamentos de San Pedro e Amambay e outro ao sul,
no departamento de Misiones.

A análise exploratória aplicada por meio do índice global e local de Moran


possibilitou observar a existência de clusters (agrupamentos) para variável área plantada
com soja nos diferentes níveis de integração vertical referente aos dados de vizinhança,
associada a dimensão temporal nota-se, claramente, a distribuição espacial das regiões
consolidadas, em expansão e de retração no cultivo do grão (Figura 45). Observa-se ainda

121
que as regiões em expansão também são áreas de transição entre as regiões já
consolidadas, onde um estudo mais detalhado e incluindo demais variáveis pode auxiliar
na modelagem do comportamento da expansão agrícola da soja.

122
Figura 45. Dinâmica da produção de soja, territórios consolidados, de expansão e de retração
Elaborado pela autora.
123
3.3. A expansão do cultivo na soja nos municípios sul-mato-grossenses e nos
departamentos paraguaios

Apesar do desenvolvimento em tecnologia ter aumentado o rendimento médio,


a área plantada tem aumentado em uma proporção muito maior. Ao considerarmos as
últimas cinco safras a produção cresceu 44%, a área plantada aumentou 36,6% e o
rendimento médio teve um crescimento de 3,02% (AproSoja-MS, 2019) (Figura 46).
Considerando uma série histórica bem maior, nas últimas quatro décadas, a área plantada
registrou um incremento de 224% enquanto a rendimento médio teve um ganho de 111%
(IBGE, 2017).

A área de soja na safra 2018/2019 em Mato Grosso do Sul, alcançou 2,979


milhões de hectares totalizando 8,800 milhões de toneladas cultivadas em
aproximadamente 1.378 propriedades. O rendimento médio calculada para o estado foi
de 48,11 sc/ha. (AproSoja-MS 2019). Essa expansão foi um dos principais
impulsionadores do crescimento econômico da região, em 2018 a exportações de soja no
Mato Grosso do Sul alcançaram R$ 544 milhões na balança comercial (MDIC, 2018).

Figura 46. Evolução da área plantada e produção de soja da safra 2013/14 a 2018/19.
Fonte: AproSoja-MS (2019)

Esse modelo de desenvolvimento baseado na produção de commodities


agrícolas, em que a cultura da soja assume papel principal está consolidado e resultou em
avanços econômicos e estruturais, mas, também se constituiu no principal produto de

124
transformação territorial não só no estado de Mato Grosso do Sul, mas, em suas
adjacências, incorporando novos territórios como o Paraguai.

Na faixa de fronteira do Mato Grosso do Sul com a região Oriental do Paraguai,


nota-se uma grande concentração da produção de soja nos municípios localizados na
porção centro-sudoeste do território sul-mato-grossense em direção ao extremo leste do
território paraguaio, onde a atividade encontra-se em franca expansão (Figura 47).

Figura 47. Valores de área, produção e rendimento médio para os municípios produtores de soja na faixa
de fronteira de Mato Grosso do Sul.
Fonte: AproSoja-MS (2017)
Organizado pela autora.

Dentre os 17 departamentos paraguaios, 12 possuem produção de soja, em alguma


medida. Na fronteira sudoeste de Mato Grosso do Sul e Paraguai – Região Oriental –, são
6 os departamentos que se destacam na produção e comercialização dessa cultura (Figura
48).

125
Figura 48. Comparativo de área, produção e rendimento médio para os departamentos produtores de soja
localizados na região Oriental do Paraguai.
Fonte: CAPECO (2017)
Organizado pela autora.

A Organização dos Estados Americanos (OEA, 2009) agrupou os departamentos


em três grupos de zonas do cultivo de soja: Zona A (Tradicional e maior) que compreende
os departamentos de Alto Paraná, Canindeyú e Itapúa; a Zona B (Tradicional menor) que
abrange Caaguazú, San Pedro, Caazapá e Amambay e; Zona C (Nova zona de expansão)
que compreende Concepción, Guaira e Misiones (Figura 49). Esse agrupamento permite
visualizar as principais tendências da expansão da soja desde a década de 1970 até hoje.

Figura 49. Zonas de cultivo da soja no Paraguai


Fonte: OEA (2009)
Organizado pela autora.

126
A economia do Paraguai é altamente dependente do setor primário (CEPAL,
2014), o setor agropecuário representa 30,4% do PIB, sendo composto por 22,2% da
agricultura, 6,6% da pecuária, 1,5% de atividade florestal e 0,1% da pesca, representando
40% das exportações do país. A produção agrícola está concentrada no cultivo de soja,
milho e trigo, que juntos, representam 76% da produção total da agricultura no Paraguai
(BIRF-AIF, 2014).

Todavia, há uma nítida diferenciação dos produtores do setor rural. O crescente


grupo de médios e grandes produtores (MGP) associados ao agronegócio da soja e trigo
representa 9% dos produtores e têm acesso a 94% do território. Em contrapartida, os
produtores da agricultura familiar6 (AF) correspondem a 91% do total de produtos
consumidos e possuem acesso a 6% das terras (Figura 50), na sua maioria de baixa
produtividade devido a degradação (FAO, 2016).

Figura 50. Superfície cultivada por produtores do agronegócio e da agricultura familiar no período de
1991 a 2018.
Organizado pela autora.

Os produtores da AF encontram-se em departamentos e distritos socialmente


vulneráveis, principalmente em assentamentos e comunidades mais carentes, que
enfrentam inúmeros problemas sociais, como o emprego limitado de tecnologia, a

6
O Registro Nacional de la Agricultura Familiar (RENAF) considera agricultores familiares como
produtores cuja principal fonte de renda familiar é a agricultura, com lotes de até 20 hectares na Região
Oriental e até 50 hectares na região Ocidental. Nesta pesquisa, consideramos agricultura familiar (AF) todas
as propriedades de até 50 ha.

127
deterioração dos recursos naturais e a perda da competitividade das propriedades
familiares, tais condições reforçam o processo de êxodo rural e conflitos sociais (FAO,
2016). Esse tipo de agricultura possui uma distribuição espacial muito mais heterogênea,
de acordo com o Censo Agropecuário de 2008 (MAG, 2008) e concentra-se na região
leste, principalmente nos departamentos de San Pedro, Caaguazú, Caazapá, Paraguarí,
Guaira e Cordillera, como pode ser observado na Tabela 13 e Figura 51.

Tabela 13. Superfície cultivada por departamento por MGP e AF em 2017.


Agronegócio Agricultura Familiar
Departamento Área % Relativo ao % Relativo ao
Área (ha)
(ha) departamento departamento

Alto Paraná 1.333.213 93,8 23.629 1,7

Itapua 914.284 57,6 49.646 3,1


Canindeyú 902.912 59,9 19.364 1,3
Caaguazu 702.225 54,4 53.742 4,2
San Pedro 447.569 21,5 49.877 2,4
Caazapa 304.869 31,9 24.853 2,6
Amambay 227.571 18,1 5.807 0,5
Misiones 114.525 14 8.119 1
Guaira 65.645 17 21.856 5,7
Concepción 46.521 2,5 21.291 1,1
Paraguari 32.149 3,7 24.738 2,9
Cordillera 14.312 3 15.089 3,2
Ñeembucu 13.169 1,1 3.999 0,3
Boqueron 4.782 0,1 6.554 0,1
Central 4.354 1,8 2.600 1,1
Pdte. Hayes 400 0,01 3.253 0,04
Alto Paraguay 366 0,01 63 0,00
Total País 5.128.866 13 334.480 1
Fonte: MAG (2008)
Organizado pela autora.

128
Figura 51. Ocupação territorial dos principais cultivos e tamanho da área cultivada em cada departamento do Paraguai.
Fonte: MAG (2017).
Organizado e elaborado pela autora.
129
C APÍTULO 4

A interface ambiental da dinâmica territorial


na fronteira de Mato Grosso do Sul e
Paraguai

130
“Depois de engolir quarenta e dois morros, oitenta lombadas, nove lagoas,
dezenove cursos d’água, a Cerca leste rastejou ao encontro da Cerca oeste. O
altiplano não era infinito; a Cerca sim”.
Manuel Scorza

No Capítulo 4 o objetivo foi demonstrar a homogeneidade das características


naturais do estado de Mato Grosso do Sul e do Paraguai, a partir do recorte espacial dos
biomas, tendo em vista a escala das informações disponíveis e por compreender que as
particularidades de cada bioma impulsionam a expansão da atividade agrícola, bem como
refletem na percepção de importância de proteção ambiental.

Torna-se perceptível os vínculos entre as características naturais e o modelo de


desenvolvimento adotado seguem sendo muito estreitos, sobretudo em territórios cuja
matriz produtiva se encontra sustentada pelo setor primário (agrícola e/ou pecuário) e
suas respectivas cadeias produtivas. Semelhante ao que acontece na região de
MATOPIBA – junção dos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – a mancha
verde de soja que advém dos departamentos de zonas consolidadas como Itapúa, Alto
Paraná e Canindeyú incorporam novas regiões produtivas nos departamentos de San
Pedro, Caazapá, Amambay e Concepción forçando o deslocamento do gado para o norte,
nas áreas de Chaco, onde os índices de desmatamento aumentaram significativamente nos
últimos anos.

4.1. Dimensões e fatores ambientais convergentes na fronteira

Tendo em vista que a dinâmica territorial se estabelece a partir da interação de um


conjunto de fatores sociais sobre o meio natural e que há uma dimensão ambiental/
ecológica e outra socioeconômica, que imprime a noção de dinâmica territorial, são
apresentados aqui os principais aspectos componentes da natureza que condicionam, em
certa medida, a dinâmica e o movimento de ocupação econômica no território. Nesse
âmbito, as questões ambientais transcendem as fronteiras políticas e fogem do escopo de
cada soberania nacional, reforçando a dimensão compartilhada dos problemas e
responsabilidades socioambientais.

A fronteira brasileira, ou mais especificamente, entre o estado de Mato Grosso do


Sul e Paraguai compartilham elementos da mesma história biogeográfica. O projeto

131
“Global 200” (OSLON e DINERSTEIN, 2002) analisou padrões globais de
biodiversidade para identificar um conjunto de biomas terrestres que abrigam grande
biodiversidade e são representativas de seus ecossistemas (DI BITETTI et al., 2003). Os
biomas constituem-se em áreas extensas relativamente homogêneas sob a perspectiva que
compartilham grande parte de suas espécies, dinâmicas ecológicas e condições
ambientais (DINERSTEIN et al., 1995) podendo ser estabelecidas em diferentes escalas
(BAILEY, 1983).

A Mata Atlântica, o Cerrado e o Pantanal, são alguns dos biomas identificadas no


Brasil, constituindo, um complexo de ecorregiões terrestres7 (OSLON e DINERSTEIN,
2002), já no Paraguai, além da presença desses três, podem ser encontradas ainda os
biomas do Chaco Úmido e o Chaco Seco (LIFE, 2016). É preciso deixar claro que a partir
desse estudo, outras ecorregiões foram sendo identificadas e definidas em escalas mais
detalhadas.

Em escala nacional uma pesquisa realizada pelo Instituto LIFE (Lasting Initiative
for Earth) em parceria com o WWF (World Wife Fund for Nature) e o MMA (Ministério
do Meio Ambiente) foram identificados 45 ecossistemas nos sete biomas brasileiros,
distribuídos da seguinte forma: Amazônia (22); Cerrado (02); Mata Atlântica (09);
Costeiro (09); Pantanal (02); Campos Sulinos (01) e; Caatinga (01) e, ainda, nas áreas de
transição: Transição Amazônia-Cerrado (01); Transição Cerrado-Caatinga (01);
Transição Amazônia-Caatinga (01).

No Paraguai, a nomenclatura se refere aos biomas como ecorregiões e estes


pertencem a uma categorização normativa, estabelecida pela resolução SEAM N°
614/2013 e baseia-se nos trabalhos realizados pela Secretaría del Ambiente (SEAM),
tendo sido identificadas 11 ecorregiões, a saber: na Região Oriental: Alto Paraná, Selva
Central, Ñeembucu, Litoral Central, Amambay, Aquidaban e na Região Ocidental: Chaco
Húmedo, Pantanal, Chaco Seco, Médanos e Cerrado.

Dessa forma, como um dos objetivos propostos na tese é empreender uma análise
sobre as condições das áreas protegidas, frente ao modelo econômico posto, ao longo da

7
No estudo de Oslon e Dinerstein (2002) a Mata Atlântica compõem o grupo “Tropical and Subtropical
Moist Broadleaf Forest” junto com outras 50 ecorregiões no planeta; o Cerrado está inserido no grupo
“Tropical and Subtropical Grasslands, Savannas and Shrublands” com mais 7 ecorregiões e; o Pantanal
constitui o grupo “Flooded Grasslands and Savannas” juntamente com outras 5 ecorregiões (OSLON;
DINERSTEIN, 2002).

132
faixa de fronteira entre Mato Grosso do Sul e Paraguai, faz-se importante demonstrar as
similaridades ecológicas e a homogeneidade territorial de ambos os lados da linha
internacional no que tange ao aspecto físico. No Quadro 1 são descritas os biomas/
ecorregiões encontradas para a área da pesquisa e demonstradas espacialmente na Figura
52.

133
Quadro 1. Biomas identificados no Mato Grosso do Sul e Paraguai.
Biomas Brasil Paraguai
Área total Remanescente Área total Remanescente Características
Nível I Nível II
(ha) Área (ha) (%) (ha) Área (ha) (%)
Florestas
pode ser descrita como uma floresta subtropical, que se estende a porção
Mata úmidas do
44.471.100 3.655.100 8,2 8.566.003 1.624.034 19 este da região Oriental do Paraguai, noroeste da Argentina e sudoeste do
Atlântica interior do
Brasil – corresponde ao Bioma Mata Atlântica.
Paraná
Estendendo-se em toda a porção do Brasil Central, também abrange o
Cerrado 205.679.200 104.853.700 51 leste da Bolívia e a porção nordeste/ centro região Oriental do Paraguai.
Essa ecorregião é caracterizada por uma grande biodiversidade, possui
Cerrado Florestas 814.462 276.424 33,9
algumas espécies flora endêmica devido a fatores como baixo teor de
Secas de 7.068.400 1.672.700 23,7 nutrientes, alta concentração de metais pesados, presença do fogo anual,
Chiquitano entre outros.
Considerada a maior área úmida do mundo é compartilhada por Brasil,
Bolívia e Paraguai onde existe uma importante amostra da
biodiversidade natural com paisagens ainda pouco alteradas. A
Pantanal 15.163.800 12.297.400 81,1 198.110 52.258 26,4 ecorregião do Pantanal localiza-se no extremo nordeste da região
Oriental do Paraguai se estendendo ao sul, ao longo do rio Paraguai,
Pantanal acompanhando toda porção noroeste de Mato Grosso do Sul, formando a
extensão sul do Pantanal.
Estende-se ao longo das duas margens do rio Paraguai e possui faixas de
transição (ecótonos) com o Chaco Seco, o Cerrado e o Pantanal, esse
Chaco Úmido 152.300 30.900 20,3 12.795.464 2.704.295 21,1
mosaico atribui a essa ecorregião uma grande biodiversidade,
principalmente nos ecótonos.
Compreende a porção oeste da região Ocidental, abrangendo quase todo
o território do departamento de Boquerón e a maior parte do dep. de Alto
Paraguay, em que nesse último pode-se encontrar áreas de transição com
Gran
Chaco Seco 17.451.547 11.853.130 67,9 o Chaco Úmido e o Cerrado. Uma das características mais marcantes
Chaco
desse bioma é o déficit hídrico, apresentando vegetação típica de savana.
O Chaco Seco é considerado um ecossistema frágil e muito propenso a
erosão eólica e fluvial, assim como sofrer processos de salinização
Fonte: Instituto LIFE (2016); FFPRI/ DRNM (2011); SEAM et al. (2007).
Organizado pela autora

134
Figura 52. Biomas (ecorregiões) que compõem o território de Mato Grosso do Sul e Paraguai.
Fonte: Instituto LIFE (2016); FFPRI/ DRNM (2011); SEAM et al. (2007).
Organizado e elaborado pela autora.

135
Os biomas no Paraguai são bem demarcados a partir do rio Paraguai, que divide o
país em duas regiões naturais morfologicamente distintas: a Região Oriental, situada a
margem esquerda do rio, abrangendo 39% do território nacional do país e a margem
direita a Região Ocidental ou Chaco, que abrange 61% do Paraguai. Sob o ponto de vista
das características físicas a Região Oriental (leste) é marcada pela grande variedade de
relevo em que as planícies se alternam com extensos campos e áreas arborizadas
entremeadas por uma densa rede hidrográfica. Por outro lado, a região Ocidental (oeste),
constitui uma planície caracterizada pela escassez de água superficial e de elevação no
terreno (SOUCHAUD, 2007).

A área recoberta pelo Gran Chaco (que inclui além do Paraguai, a Argentina e
Bolívia) desempenha o papel de reserva ambiental que no Brasil é atribuído a Amazônia,
mas seu grau de proteção se assemelha ao que se imprime ao Cerrado brasileiro, por
exemplo. Esse bioma possui similaridades fitofisionômicas com o Cerrado, bem como de
trajetória de ocupação, do desmatamento intensivo a conflitos com os povos indígenas
(FAO, 2016).

No Mato Grosso do Sul a ecorregião do Cerrado é predominante, ocupando 61%


do território do estado e junto com o Pantanal e a Mata Atlântica, que correspondem a
25% e 14% do território, respectivamente (IBGE, 2004), formam as ecorregiões do
estado. Do ponto de vista da distribuição geográfica, a vegetação do estado é composta
por quatro grandes regiões fitoecológicas: as Florestas Estacionais Semideciduais, as
Florestas Estacionais Deciduais, o Cerrado e o Chaco (SILVA et al., 2011).

136
4.2. Características ambientais do território sul-mato-grossense e paraguaio

O estado de Mato Grosso do Sul possui praticamente todo seu território dividido
entre o Planalto da Bacia Sedimentar do Paraná e a Planície do Pantanal Mato-Grossense
(CREPANI et al., 2001). A Serra de Maracaju praticamente delimita o divisor de águas
no estado, que se estende de nordeste a sudoeste, configurando paisagens bem distintas,
em termos geomorfológicos e de recursos naturais, entre duas grandes bacias
hidrográficas do rio Paraná e do rio Paraguai (MATO GROSSO DO SUL, 2015).

A formação geológica Serra Geral (K1(B)sg) se distribui amplamente na região


centro-sul do Mato Grosso do Sul e em áreas restritas às calhas dos principais rios da
bacia do rio Paraná. O principal litótipo encontrado é o basalto, preto a cinza escuro, fino
e afanítico, maciço e com raras amígdalas. Os derrames possuem mergulho regional para
leste, relacionado ao soerguimento escalonado das serras da Bodoquena, Maracajú e de
São Jerônimo (HASUI, 1990 apud LASTORIA et al., 2006).

Em relação aos tipos de solos, a classe mais encontrada no estado é o Latossolo


Vermelho, ocupando 39% da área total. Esta classe de solo está localizada, principalmente
na área da bacia do rio Paraná e distribuída em uma grande faixa acompanhando o rio
Paraná. De modo geral, as classes de solos mais susceptíveis a processos erosivos são os
Neossolos Quartzarênicos, quando hidromórficos são encontrados na região noroeste do
Pantanal, já as areias quartzosas abrangem, em sua maior parte a região norte do estado
na bacia do rio Paraná; os Neossolos Regolíticos encontrado nas sub-bacias do Miranda,
Apa e Nabileque e; os solos litólicos (Neossolo Litólico) que abrangem as partes elevadas
da Serra de Maracaju, Bodoquena e Urucum-Amolar. Nesses tipos de solos muito
arenosos de baixa fertilidade natural predominam os grãos de areia muito soltos e sem
coesão que favorecem os processos erosivos (MATO GROSSO DO SUL, 2015) (Tabela
14 e Figura 53).

137
Tabela 14. Classes de solos encontrados no Mato Grosso do Sul
Área
Classes Pedológicas
ha %
Afloramento 67.278 0,19
Argissolo Vermelho 630.451 1,77
Argissolo Vermelho-Amarelo 1.473.976 4,13
Cambissolo Háplico 75.564 0,21
Chernossolo Argilúvico 49.228 0,14
Chernossolo Rêndzico 344.445 0,96
Gleissolo Háplico 1.141.653 3,2
Gleissolo Melânico 53.967 0,15
Latossolo Amarelo 1.421 0,001
Latossolo Vermelho 14.046.230 39,35
Latossolo Vermelho-Amarelo 85.603 0,24
Neossolo Flúvico 14.010 0,04
Neossolo Litólico 1.096.414 3,07
Neossolo Quartzarênico 8.271.032 23,1
Neossolo Rigolítico 886.480 2,48
Nitossolo Vermelho 348.192 0,98
Organossolo Háplico 26.824 0,08
Planossolo Nátrico 5.573.016 15,61
Plintossolo Argilúvico 565.491 1,58
Plintossolo Pétrico 18.189 0,05
Vertissolo Háplico 139.774 0,39
Vertissolo Hidromórfico 407.761 1,14
Fonte: IBGE (2007).
Organizado pela autora

138
Figura 53. Classificação dos tipos de solo encontrados no Mato Grosso do Sul.
Organizado pela autora

139
As formações florestais nativas e ecossistemas associados a Floresta Estacional
Semidecidual e Decidual os quais representam 18% do território do estado são
representativas do bioma Mata Atlântica. A diversidade ambiental e estrutural da Floresta
Estacional Semidecidual permite subdividi-la em quatro formações ou fisionomias
principais: Aluvial, Terras Baixas, Submontana e Montana de acordo com sua localização
no terreno ou altimetria local, no estado é possível encontrar a ocorrências destas quatro
formações. A Floresta Estacional Decidual é conceituada semelhantemente a Floresta
Estacional Semidecidual, todavia apresenta percentagem de árvores caducifólias, no
período crítico, significativamente maior do que 50% (IBGE, 2012).

No que tange ao Cerrado restam apenas 32% de cobertura vegetal natural no estado
do Mato Grosso do Sul, predominando as fitofisionomias campestre (17%) e florestal
(13%) (MATO GROSSO DO SUL, 2009). O Sistema de Classificação da Vegetação
Brasileira do IBGE (IBGE, 2012) refere-se ao Cerrado como Savana, dividindo-o em
quatro fisionomias ou subgrupos de formação principais: Savana Florestada, Savana
Arborizada, Savana Parque e Savana Gramíneo-Lenhosa.

A Savana Florestada, ou Cerradão, representa a fisionomia de maior densidade de


fitomassa, apresentando dossel arbóreo geralmente fechado e contínuo. Esta
fitofisionomia é restrita a áreas areníticas lixiviadas com solos profundos, tendo sua
ocorrência associada a um clima tropical eminentemente estacional (IBGE, 2012). A
Savana Arborizada quando pouco degradada apresentando sinúsias nanofanerofitica
associada a um scrub adensado, semelhante à do Cerradão, quanto mais alterada ou aberta
apresenta um estrato subarbustivo herbáceo mais contínuo, sendo chamada de Campo
Cerrado (COURA et al., 2009).

A Savana Parque é uma fisionomia campestre, caracterizada pela presença de


árvores isoladas ou agrupadas em pequenas “ilhas” ou elevações do terreno, por vezes até
imperceptíveis, conhecidas como murundus, monchões ou covoais (RIBEIRO e
WALTER, 1998). No primeiro caso refere-se caracteriza-se como a fisionomia Campo
Sujo de Cerrado, constituindo geralmente em áreas antropizadas ou de terrenos estéreis
muito rasos de encostas, enquanto as “ilhas” são comumente encontradas em áreas planas
e com hidromorfismo, constituindo fisionomias de Cerrado-de-Pantanal (IBGE, 2012).

Já a Savana Gramíneo-Lenhosa pode ser designada como Campo Limpo de


Cerrado, é constituída de gramíneas e ervas. Essa designação também é utilizada para
caracterizar os campos úmidos que ocorre de forma restrita, ao longo das drenagens e
140
que, quando acompanhada de fímbrias de vegetação arbórea são chamadas de veredas
(RIBEIRO e WALTER, 1998).

A Savana-Estépica é o tipo de vegetação estabelecido em disjunções, como a


extensão do Chaco Argentino-Paraguaio-Boliviano, na região do Pantanal sul-mato-
grossense, que corresponde principalmente a Caatinga do sertão árido nordestino. A dupla
estacionalidade climática, meses frios com pouca precipitação, seguido de período
chuvoso e período com déficit hídrico, verificada nessas áreas imprimem sua identidade
florística e fisionomia ecológica. Subdivide-se em quatro formações ou subgrupos que
compões áreas geomorfologicamente distintas: Savana Estépica Florestada, Savana
Estépica Arborizada, Savana Estépica Parque e Savana Estépica Gramíneo-Lenhosa.
(IBGE, 2012). A classe contato refere-se prioritariamente ao contato pecuária e
agricultura, a única exceção é no Pantanal onde tem-se o ecótono Savana e Savana
Estépica. Na Tabela 15 e Figura 54 são apresentadas as formações florestais que são
abrangidas pelo estado de Mato Grosso do Sul.

Tabela 15. Tipos de vegetação do Mato Grosso do Sul


Área
Estrutura Fitofisionomia
ha %
Floresta Estacional Semidecidual Aluvial 1.295.701 3,63
Vegetação Florestal

Floresta Estacional Semidecidual das Terras Baixas 9.442 0,03


Floresta Estacional Semidecidual Submontana 113.003 0,32
Floresta Estacional Semidecidual Montana 2.435 0,01
Floresta Estacional Decidual das Terras Baixas 203.737 0,57
Floresta Estacional Decidual Submontana 261.581 0,73
Savana Florestada (Cerradão) 2.354.631 6,60
Savana-Estépica-Florestada (Chaco Úmido) 152.504 0,43
Savana Arborizada (Campo Cerrado) 1.985.295 5,56
Vegetação Campestre

Savana Parque (Cerrado campo sujo ou Cerrado-de-Pantanal) 3.021.631 8,46


Savana Gramíneo-Lenhosa (Cerrado campo limpo) 1.873.743 5,25
Savana-Estépica-Arborizada (Chaco Úmido) 431.817 1,21
Savana-Estépica-Parque (Chaco Úmido) 380.395 1,07
Savana Estépica-Gramíneo-Lenhosa (Chaco Seco) 503.202 1,41
Formação Pioneira de Influência Fluvial e/ou Lacustre (exceto
Palmeiral) 452.430 1,27
Contato Savana/ Savana Estépica - Ecótono 130.497 0,46
Agricultura 2.033.954 5,7
Cobertura

Agropecuária 392.458 1,1


antrópica
vegetal

Pecuária (pastagens) 18.947.220 53


Reflorestamento (eucalipto e pinus) 443.152 1,2
Contato Pecuária/ Agricultura/ Influência urbana 176.866 0,69
Fonte: Adaptado de IBGE (2012) e IBGE (2013).
Organizado pela autora.

141
Figura 54. Classificação da cobertura vegetal do Mato Grosso do Sul.
Organizado pela autora.

142
A disponibilidade de dados e informações dos recursos naturais, sobretudo em escala
mais detalhada, do território paraguaio se constitui em um grande gargalo. As informações
publicadas em documentos oficiais estão voltadas muito mais para fins de consulta do que de
análise. Grande parte dos mapas que serviram de fonte da base de dados (Anexo 1) necessitaram
ser vetorizados e georreferenciados.

O território político-administrativo do Paraguai divide-se em 17 departamentos, dos


quais 14 se encontram na Região Oriental (Concepción, San Pedro, Cordillera, Guaíra,
Caaguazú, Caazapá, Itapúa, Misiones, Paraguarí, Alto Paraná, Ñeembucu, Amambay,
Canindeyú e Central) e onde localiza-se a capital Asunción. Na Região Ocidental estão
localizados 3 departamentos (Presidente Hayes, Boquerón e Alto Paraguay), que por sua vez,
se subdividem em distritos e localidades. Dos 6,4 milhões de habitantes, 97% da população está
situada na Região Oriental (DGEEC, 2016), onde se concentra a maior atividade econômica do
país (CEPAL, 2014).

A Região Ocidental ou do Chaco, originou-se a milhares de anos, na era Cenozóica,


com sedimentos transportados pela erosão eólica da Cordilheira dos Andes e pelos rios que
fluem do Brasil (NAUMANN e CORONEL, 2008), todavia, cerca de 80 a 90% da superfície
do Chaco é composta por sedimentos finos do período Quaternário e eventualmente, também
do Terciário, redepositados várias vezes, os quais se encontram geralmente sob uma cobertura
vegetal mais ou menos densa, dessa forma, as informações e/ou dados dessa região são mais
escassos (REDIEX, 2009). Ademais, informações mais detalhadas sobre a formação das
unidades geológicas são descritas em WIENS (1995) e REDIEX (2009).

O relevo principal do Paraguai é formado pelas serras de Amambay, Mbaracayú e


Caaguazú, situadas na Região Oriental. As duas primeiras se estendem até o território sul-mato-
grossense e servem de limite natural Brasil/ Paraguai. A serra de Amambay se estende desde
Pedro Juan Caballero – fronteira com Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul/ BR – cerca de 300
km até Salto del Guairá, na margem direita do rio Paraná. Em direção ao sul há uma série de
planaltos que se delineiam, como a serra de Caaguazú, localizada na parte central da região, é
o divisor de águas das bacias do rio Paraná e Paraguai, desprendendo-se dela em direção ao sul,
têm-se as serras de San Joaquín, Ybyturuzú e San Rafael (SOUCHAUD, 2007) (Figura 60). A
leste, o terreno possui pequenas ondulações inferiores a 600 metros e que formam o leito do rio
Paraná.

143
O interflúvio com o rio Paraguai constitui-se em uma planície com altitudes que variam
de 300 a 400 metros. Essa estrutura é interrompida no centro, próximo a Asunción, por um
maciço vulcânico, a cordilheira dos Altos, com uma altitude que não ultrapassa os 400 metros.
Esse maciço é cortado por uma vala tectônica emoldurada entre falhas e que forma um corredor
entre Asunción e Villarica. (DGEEC, 2018). As encostas das serras abrigam uma vegetação
abundante, delineando numerosos vales à medida que se deslocam para o sul.

É passível afirmar que praticamente todo o terreno do Chaco é plano, por esse motivo,
muitos rios não formem leitos profundos e assim quando se encerra a estação chuvosa esses
cursos d’água secam (DOMECQ et al., 2005). A condição do relevo plano e desprovido de
declives do Chaco associado o grande déficit hídrico, caracteriza, principalmente a face
noroeste da Região Ocidental com um tipo de clima semiárido e baixos índices de umidade.

Na área chaquenha do rio Paraguai e noroeste da Região Oriental registrando a média


mínima anual de precipitação, cerca 400 mm, enquanto o restante da região Oriental apresenta
clima quente e úmido na maior parte do ano, com precipitações em torno de 2.000 mm anuais
(DMH, 2018). As médias de precipitação mais altas são registradas no centro-sul do país, com
203,8 mm mensais e na faixa de fronteira da região Oriental recebem aproximadamente 190 a
200 mm de precipitação mensal (SOUCHAUD, 2007). Desse ponto de vista, a região Oriental
apresenta aspectos em comum com o sul do Brasil, semelhanças que favoreceram o impulso
pioneiro brasileiro.

A região Oriental é extensamente drenada pelo rio Paraná, a leste, e pelo rio Paraguai,
a oeste. A elevação do sistema hidrográfico para o norte se deve a uma convexidade granítica,
onde predomina a savana e isola o leste do Paraguai da bacia do Pantanal. Os numerosos
meandros que formam o curso do rio Paraguai determinam transbordamentos frequentes e sua
principal zona de inundação está na confluência de dois cursos no setor sudoeste da região leste,
denominada ‘região dos banhados' (CARTES, 2008). A região central constitui-se numa faixa
de planícies na direção norte-sul e é o setor de transição entre os planaltos orientais e o Chaco,
estreitando-se em torno de Asunción. Essa região distingue-se do Chaco porque a origem do
material formador dessa área não provém da Cordilheira dos Andes, mas, do planalto brasileiro
(NAUMANN e CORONEL, 2008). Em direção ao sul, por detrás do maciço que circunda
Asunción, as planícies se ampliam novamente, até a confluência dos rios Paraná e Paraguai,
onde formam uma área pantanosa (SOUCHAUD, 2007)

144
O rio Paraguai é o principal e mais importante rio país, navegável por navios de grande
porte desde a confluência com o rio Paraná até a capital Asunción e por navios de médio porte
de Asunción a Corumbá (Brasil/ MS) no sentido norte. O rio Paraná delimita a fronteira sudeste
do Paraguai, em uma extensão de 679 km, sendo navegável por barcos de qualquer porte desde
a confluência com o rio Paraguai até a represa de Itaipu (Brasil/ PR) na divisa com o distrito de
Hernandarias (PY) e Foz do Iguaçu (Brasil/ PR). O rio Pilcomayo, é um dos principais
afluentes do rio Paraguai que serve de limite sudoeste com a República da Argentina,
percorrendo 835 km (DGEEC, 2018). Essa rede fluvial, navegável em grande parte da região
Oriental é um fator positivo e foi decisivo no desenvolvimento da agricultura comercial e da
integração econômica regional.

Em relação aos tipos de solos, de forma geral, solos de florestas tropicais são
considerados pobres, porque os nutrientes são mantidos em recirculação na biomassa
permanecendo pouco tempo no sistema de liteira do solo, tornando-se rapidamente disponível
para as plantas (HERRERA et al., 1977; CUEVAS e MEDINA, 1986; LUIZÃO et al., 2009).
Na região Central, as margens do rio Paraguai há maior variedade nos tipos de solos, porém são
mais pobres do que na zona extremo leste, e na Região Oriental muitos locais possuem solos
de média fertilidade. Os solos mais férteis e profundos são encontrados nos departamentos de
Alto Paraná e Itapúa (Figura 55). Na região do Chaco, os solos também são, geralmente, mais
férteis, mas há escassez de água (NAUMANN e CORONEL, 2008). Devido ao maior índice de
precipitação na Região Oriental, a aptidão é predominantemente agrícola, enquanto no Chaco,
a atividade pecuária predomina.

145
Figura 55. Principais domínios de solos do Paraguai.
Organizado e elaborado pela autora.
146
Na Tabela 17 são descritas as principais ordens de solos, sendo que estas são
subdivididas em níveis de maior detalhe de acordo com as diferentes texturas das camadas
superficiais. O principal levantamento para classificação dos solos dos Paraguai foi realizado
pelo Ministerio de Agricultura y Ganadería (MAG) em parceria com o Banco Mundial (BM).
Nesse documento o sistema de classificação adotado é o Soil Taxonomy - United States
Department of Agriculture (USDA, 1999) e de acordo com as informações obtidas nesse estudo,
a partir das características físicas, químicas e biológicas naturais, os solos com melhor aptidão
agrícola encontram-se na Região Oriental, abrangidos pelas ordens dos Ultisols e Alfisols
(MAG/ BM, 1995). Ressalva-se que a nível de subordem, classe, subclasse e fase os solos
apresentam diferentes limitações naturais para utilização agrícola, todavia contornáveis com o
uso de corretivos e fertilizantes.

Tabela 16. Classificação por grande ordem dos tipos de solos do Paraguai.
Área
Tipos de solo
ha %
Alfisol 19.931.013 45,7
Aridsol 1.176.455 2,7
Entisol 2.402.041 5,5
Inceptisol 902.329 2,1
Molisol 10.385.495 23,8
Oxisol 887.954 2
Ultisol 5.647.499 13
Vertisol 1.487.008 3,4
Tierras Miscelaneas 419.939 1
Outros (área urbana, corpos d’água) 350.626 0,8
Fonte: MAG/ BM (1995).
Organizado pela autora.

As variações de diferentes tipos de solos é uma das principais condicionantes que


determinam a distribuição das atividades humanas, as vastas áreas inundadas, com a presença
de solos aluviais, predominantes em pradarias são locais onde prevalece a pecuária extensiva.
Nas áreas mais estreitas e altas a forte pressão de uma agricultura familiar que empobreceu os
frágeis solos argilosos-arenosos é deslocada (SOUCHAUD, 2007).

De igual forma, a formação vegetal contribui para essa conjuntura, áreas em que a
vegetação natural apresenta condições naturais para a utilização como pastagem, é esse o uso
que se efetiva. Isso ocorre tanto nas savanas como nas áreas de pradaria natural, nas savanas
arborizadas é possível realizar pequenas intervenções na cobertura vegetal, melhorar espécies

147
de gramíneas e, em muitos casos, utilizar os recursos forrageiros disponíveis nesses locais
(REDIEX, 2009).

A distribuição da vegetação da Figura 56 está baseada no tipo de formação


predominante, ressalta-se que a construção da figura foi baseada na vetorização e junção das
informações da UNESCO (1981) para a Região Oriental do Paraguai e de Rediex (2009) para
a região do Chaco. Segundo Rediex (2009) em áreas de sedimentos compostos por argila a
vegetação é mais densa, com maior porcentagem de biomassa, diferente das áreas de
sedimentos arenosos que são cobertos por uma vegetação mais esparsa, no qual representa
maior parte do território paraguaio. Destaque para a classe de pântanos, pradarias e savana
úmida que abrangem 40% do território do país (Tabela 18).

Tabela 17. Distribuição da formação vegetal no Paraguai


Área
Estrutura Fitofisionomia
ha %
Floresta tropical tropófilo 1.480.896 3,4
Vegetação
Florestal

Floresta tropical semi-tropófilo 6.181.326 14,2


Floresta tropical semi-caducifólio 3.582.123 8,2
Floresta tropical e savana úmida 11.158.127 25,6
Savana (substrato basáltico) 623.058 1,4
Campestre
Vegetação

Pântanos, pradaria e savana úmida de palmeiras 17.566.855 40,3


Pradaria 2.710.804 6,2
Savana (substrato arenoso) 444.926 1
Fonte: Adaptado de UNESCO (1981); (REDIEX, 2009).
Organizado pela autora.

148
Figura 56. Formações florestais naturais encontradas no território paraguaio
Organizado pela autora.
149
Os vínculos entre os fatores geográficos e o modelo de desenvolvimento adotado
seguem sendo muito estreitos, sobretudo em territórios cuja matriz produtiva se encontra
sustentada pelo setor primário (agrícola e/ou pecuário) e suas respectivas cadeias
produtivas.

Nesse sentido, a Figura 57 baseada em Vázquez (2011), Investor (2015) e Villagra


(2009) para as regiões dinâmicas e organização territorial do Paraguai, e em Lamoso,
(2018), Mato Grosso do Sul (2015) e Ribeiro Silva (2017) para o estado de Mato Grosso
do Sul, visa demonstrar a especialização das principais atividades econômicas
geograficamente distribuídas no território, destacando com as setas as principais direções
de dinamização do setor sojicultor8.

O crescimento não surge em toda parte ao mesmo tempo; manifesta-se com


intensidades variáveis, em pontos ou pólos de crescimento; propaga-se,
segundo vias diferentes e com efeitos finais variáveis (PERROUX, 1967, p.
164)

8
Para o estabelecimento das zonas dinâmicas consideramos os polos de desenvolvimento do Mato Grosso
do Sul apontados no capítulo 2 e agregando a noção de polo de crescimento introduzida por Perroux (1967)
como um conjunto de forças de atração de atividades (agricultura, indústria e serviços) e de agentes
econômicos (empresas públicas, privadas, consumidores e agentes de governo), considerando apenas para
o agronegócio da soja.

150
Figura 57. Zoneamento das principais atividades produtivas no Mato Grosso do Sul e Paraguai.
Organizado e elaborado pela autora.

151
Dessa forma, essa dinamização do território só pode ser entendida anexando como pano
de fundo a dinâmica global que é multiescalar, e imprime no território estruturas
geograficamente localizadas, concentrando matéria-prima, mão-de-obra, agroindústrias,
fornecedores especializados, tradings, instituições específicas (universidades, instituições de
pesquisa, associações comerciais) tornando regiões mais ou menos competitivas.

Nos arredores desse território especializado e homogeneizado pela monocultura, a


agricultura familiar subsiste, no Paraguai concentra-se na sub-região central, nos setores mais
baixos do país, composto por planícies de inundação que são compartilhadas com grandes
extensões de áreas destinadas a criação de gado extensivo. Nessas áreas os solos úmidos de
áreas cultiváveis são afetados pela erosão gradiente, acentuada pela pressão demográfica que
ocasionou a supressão da rotação tradicional das culturas e do repouso na terra, sem renovar as
técnicas de cultivo (SOUCHAUD, 2007).

Ante ao exposto, optou-se por conduzir a discussão a seguir direcionada ao recorte


espacial dos biomas, considerando a escala das informações obtidas e por entender que as
características de cada bioma favorecem ou limitam a exploração e ocupação econômica sobre
cada um deles, assim como o grau de proteção ambiental, que varia de um bioma para outro,
em que a falta ou ineficácia da legislação ambiental se torna um dos incentivos indiretos para
exploração econômica.

Um documento elaborado pela European Commission (EUROPEAN COMMISSION,


2007) sobre o papel estratégico do Paraguai constatou que os principais problemas ambientais
enfrentados pelo país são o desmatamento e a perda da biodiversidade, com uma queda
alarmante nas espécies da flora e, ainda ressalta que o modelo de desenvolvimento do Paraguai,
baseado em exportações agrícolas, levou ao desmatamento massivo para utilização da terra para
monoculturas.

Portanto, a continuidade territorial, sob o ponto de vista ambiental, esbarra na


descontinuidade política, esse é o principal ponto de inflexão e se constitui na maior dificuldade
para a conservação da integridade desses ecossistemas. Para Miranda (2019, p. 23) “os biomas
são um primeiro recorte possível da heterogeneidade da agricultura nacional em macroescala”.

152
4.3. Ocupação territorial do Cerrado: commodities e desmatamento

O bioma Cerrado, localizado no centro da América do Sul, é o segundo maior do


continente – atrás apenas da Amazônia –, estende-se por uma área total de 206,4 milhões de
hectares, sendo que sua maior porção encontra-se no Brasil, cerca de 99,3% e o restante no
Paraguai (0,41%) e na Bolívia (0,29%) (SAWYER et al., 2017).

No Brasil, o Cerrado ocupa 23,9% do território (IBGE, 2004), originando dois terços
das regiões hidrográficas (LIMA e SILVA, 2005) e representando de 20% a 50% da
biodiversidade do país, dependendo do grupo taxonômico considerado (MACHADO et al.,
2004) e 5% da biodiversidade do planeta (BRASIL, 2011), além de ter uma grande importância
social, cerca de 12,5 milhões de pessoas dependem de seus recursos naturais para sobreviverem
(LAHSEN et al., 2016), como etnias indígenas, quilombolas, ribeirinhos, babaçueiros,
vazanteiros, entre outros. Aproximadamente 221 mil km2 pertencem a comunidades e povos
tradicionais (RUSSO et al., 2018), áreas que sofrem intensa pressão da expansão de culturas
agrícolas e pastagens, mas são fundamentais na conservação da vegetação nativa do bioma.

A grande variedade de formas de vegetação confere ao Cerrado grande


heterogeneidade ambiental (HENRIQUES, 2005) uma vez que, incorpora elementos de três
províncias fitogeográficas adjacentes: a leste com o Cerrado do Brasil central, na porção
noroeste com a Floresta Amazônica e no sudoeste a Floresta Chaquenha Seca originária da
Bolívia e Paraguai (ADÁMOLI, 1981), em que, particularmente nas áreas de contato entre os
biomas, chamadas ecótonos, a biodiversidade é extremamente alta, com elevado grau de
endemismo de espécies (MMA, 2010).

A diversidade de fisionomias do Cerrado pode ser verificada pela existência de onze


tipos principais de vegetação para o bioma, segundo a classificação de RIBEIRO; WALTER
(1998), a saber: formações florestais – mata ciliar, mata de galeria, mata seca e cerradão;
formações savânicas – cerrado sentido restrito, parque cerrado, palmeiral e vereda; formações
campestres – campo sujo, campo limpo e campo rupestre. Apesar desse sistema ser amplamente
recorrente nas pesquisas, a classificação oficial da vegetação é definida pelo IBGE. Segundo
IBGE (2012) o Cerrado é subdividido em quatro subgrupos de formação: Savana Florestada,
Savana Arborizada, Savana Parque e Savana Gramíneo-Lenhosa. Comparativamente ao
sistema de classificação proposto por Ribeiro e Walter (1998), a Savana Arborizada equivale
ao tipo fitofisionômico denominado “cerrado sentido restrito” e, em especial, aos subtipos

153
“cerrado denso” e “cerrado típico”. Em terrenos bem drenados, a Savana Parque equivale aos
subtipos definidos como “cerrado ralo”, “cerrado rupestre” e, às vezes, como “campo sujo” e
“campo rupestre”. Em terrenos mal drenados, a equivalência se dá com o “parque cerrado” e,
eventualmente, com “vereda”, “campo sujo úmido” e “campo sujo com murundus” (BRASIL,
2010).

Historicamente a ocupação esparsa do Cerrado era dominado pela pecuária de


subsistência, apoiada no uso de pastagens naturais. Até meados de 1960 havia o paradigma de
que os solos de baixa fertilidade, ácidos e profundos pertencentes ao Cerrado não eram aptos a
implantação da agricultura em larga escala (SANO, 2019). Todavia as condições de
tropicalidade atribuíram ao Cerrado grande importância para agricultura (PORTO-
GONÇALVES, 2002), além das características do solo, que são relativamente planos,
profundos e bem drenados, apesar de se caracterizarem por baixa fertilidade, alta acidez e
saturação por alumínio podem se tornar adequados para a agricultura usando-se cal para ajustar
a sua acidez e fertilizantes, especialmente nitrogênio e fósforo, para aumentar sua fertilidade
(HENRIQUES, 2005).

Embora a dinâmica de ocupação no Cerrado não tenha sido homogênea em toda sua
extensão, sem dúvida, as especificidades ambientais, o fomento das políticas de integração
nacional e o desenvolvimento de tecnologias amplamente difundidas para o aproveitamento
agropecuário do bioma, em pouco tempo, levaram às áreas pertencente ao Cerrado a serem
incorporadas à produção agrícola brasileira (EMBRAPA CERRADOS, 2002) resultando em
rápidas mudanças na cobertura e uso da terra.

Atualmente, o Cerrado é a principal região do Brasil em termos de produção de grãos,


notadamente a soja, milho, algodão e café irrigado, com destaque ainda para produção de carne
bovina e açúcar/etanol (SANO, 2019, p. 56). Sano (2019) chama atenção para a capacidade de
produção de alimentos e energia do Cerrado ao mesmo tempo que ainda possui cerca de 50%
de sua área não explorada. Essa é uma característica apenas do Cerrado, e que para o autor abre
espaço para a oportunidade de promover tanto as políticas públicas de desenvolvimento agrícola
quanto as políticas de conservação da biodiversidade na mesma região. Contudo, não é possível
mensurar a resiliência do bioma pois a área que ainda resta não explorada não está intacta.

O Cerrado é o bioma mais desmatado, a taxas de 5 vezes maiores do que a Amazônia


(SANO, 2019). O desmatamento decorrido em um ritmo intenso a partir dos anos 2000, levou

154
o Cerrado a ser considerado um dos biomas mais ameaços do planeta e classificado como um
dos hotspots mundiais de biodiversidade (MITTERMEIER et al., 1998); (MYERS et al., 2000).
Cerca de 47,8% do Cerrado já haviam sido desmatados até o ano de 2008 (MMA, 2002).

Lahsen et al., (2016, p. 6) chamam a atenção para a falta de atenção e valorização do


Cerrado frente aos demais biomas brasileiros: “o declínio de 55% nas taxas de desmatamento
na Amazônia no período entre 2010-2014 é reconhecido internacionalmente”, enquanto os
aumentos nas perdas de vegetação nativa do Cerrado, correspondente a 41% no decorrer do
mesmo período passaram despercebidos.

Até recentemente as áreas do Cerrado não disponibilizavam de um programa nacional


contínuo de monitoramento por satélite do desmatamento – como da Amazônia Legal –, os
dados até então disponíveis eram resultados de projetos pontuais de mapeamento do bioma. A
partir de 2018 o projeto PRODES Cerrado recebeu investimentos do Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), Ministério do Meio Ambiente e Programa de
Investimento Florestal (FIP), administrado pelo Banco Mundial, além de receber recursos de
agências alemãs e do governo britânico para mapear o desmatamento em toda a extensão do
Cerrado construindo uma série histórica bienal para o período de 2000 a 2012 e anual para os
anos de 2013 a 2018.

Segundo dados do Relatório de Monitoramento do Bioma Cerrado desenvolvido pelo


projeto até 2002 o total de área desmatada no Cerrado era de 890.636 km² e entre 2002 e 2008
esse valor foi acrescido de 85.074 km², assim, o desmatamento total no bioma até 2008
representava 47,8% da área original. Para 2017 dados indicam que a redução da cobertura
vegetal do bioma é de 46% (INPE, 2018).

As taxas de desmatamento no bioma têm variado em torno de 10.000 km2 ao ano nos
últimos sete anos. No último triênio, os resultados vêm apresentando melhoras, em 2016 a perda
foi de 6.777 km2, em comparação com o ano anterior a redução foi de 43%, em 2017 a área
devastada foi de 7.474 km2 e em 2018 de 6.657 km2, a menor taxa de desmatamento registrada
na série histórica. Apesar do recuo, a dimensão do desmatamento do bioma ainda é preocupante,
até 2017 cerca de 946.059 km2 (46%) da área original de Cerrado já estava ocupada por
pastagens e cultivos agrícolas (INPE, 2018) (Figura 58).

155
35.000

30.000

29.495

28.992
25.000
Área (km²)

20.000

17.644
15.000

14.885

14.250
10.000

11.881
10.761
10.055

9.491

7.474
5.000

6.777

6.657
0

Figura 58. Áreas desmatadas por ano no Cerrado brasileiro


Fonte: INPE/ PRODES (2018)
Organizado pela autora.

Como um dos usos mais rentáveis da terra, a cultura da soja tem sido um dos principais
produtos impulsionadores do desmatamento especulativo (TRASE, 2018). Dados do PRODES
Cerrado (INPE, 2018) estimam que em 2015, 3,5 milhões de hectares de soja estavam sob
vegetação nativa no Cerrado no ano 2000. Atualmente, o bioma é responsável por 52% da
produção brasileira de soja (CARNEIRO FILHO e COSTA, 2016) e 12% da produção global
da oleaginosa (FAO, 2015).

Deve-se pontuar que, a dependência do mercado internacional sobre produtos tropicais


é benéfica, do ponto de vista econômico e problemática do ponto de vista socioambiental. Essa
demanda crescente do mercado internacional que é atendida por um número relativamente
pequeno de regiões tropicais está colocando uma intensa pressão em muitas paisagens sensíveis,
ricas em biodiversidade. A curto prazo, a conversão de extensas áreas de vegetação nativa
podem alavancar o crescimento econômico, mas a longo prazo pode impactar
fundamentalmente a prosperidade do setor e qualidade de vida da população (TRASE, 2018).
Esse modelo de desenvolvimento desempenha papel decisivo no “desmatamento e perda de
habitats sensíveis em áreas críticas, incluindo paisagens da Amazônia e Cerrado do Brasil, e o
Gran Chaco da Argentina e Paraguai” (TRASE, 2018, p. 19), intensificando a monocultura e a
exploração dos recursos naturais.

156
A ênfase contínua sobre as exportações de commodities para impulsionar o
desenvolvimento do país utilizam-se de um modelo econômico predatório (KLINK et al.,
1993), que teve como consequências a perda rápida e extensa da vegetação nativa nas regiões
intactas do Cerrado (GASPARRI; GRAU, 2009) alterando e fragmentando significativamente
a paisagem (MARTINS et al., 2002; CUNHA et al., 2020). A fragmentação intensa prejudica
importantes funções ecológicas desempenhada pelos “corredores” ecológicos para manutenção
da migração da fauna e flora (LAHSEN et al., 2016) além de exercer influência decisiva sobre
as paisagens sociais, políticas e econômicas (SAWYER et al., 2017).

Até 2002, os três estados da região norte, Piauí, Maranhão e Tocantins apresentavam os
maiores índices de preservação do Cerrado, 92%, 89% e 79%, respectivamente. Em
contrapartida, os menores índices de cobertura vegetal natural eram apresentados pelos estados
de São Paulo (15%), Mato Grosso do Sul (32%) e Paraná (32%) (SANO et al., 2008).

Em 2018, por sua vez, os estados que mais contribuíram para o desmatamento no
Cerrado foram: Tocantins (1.533 km²), Maranhão (1.472 km²), Mato Grosso (1.001 km²) e
Goiás (713 km²), Bahia (697 km²) e Piauí (1.533 km²) (INPE, 2018), marcando a atual e mais
ativa fronteira agrícola do Brasil, Matopiba – confluência dos estados do Maranhão, Tocantins,
Piauí e Bahia (Tabela 21). Nessa região até os anos 2000 a falta de infraestrutura básica era um
dos fatores impeditivos para expansão agrícola, portanto grandes áreas de Cerrado eram
conservadas, essa condição pode ser verificada em Carneiro Filho e Costa (2016) ao apontar
que a maior parte da expansão agrícola em Matopiba ocorreu sobre a vegetação nativa, 68%
entre 2000 e 2007 e 62% (1,3 milhões de hectares) no período entre 2007 e 2014.

Sem dúvida, atualmente Matopiba é a área de produção de soja que mais cresce no
mundo (CARNEIRO FILHO e COSTA, 2016), mas, o que cabe aqui ressaltar é que até os anos
2000 grande parte dos estados brasileiros, como São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Goiás,
entre outros, já haviam desmatado e convertido suas terras para fins agropecuários, pouco
sobrou da vegetação nativa, que hoje encontra-se restrita a fragmentos de pequenas dimensões
e distribuídos de forma esparsa, sem conectividade.

Com relação à distribuição do desmatamento nos estados a partir das categorias


fundiárias, os dados da Figura 59 demonstram que a dinâmica do desmatamento é mais
homogênea e com alta concentração do desmatamento nas áreas classificadas como propriedade
privadas (imóveis rurais) (INPE, 2018).

157
Sobre essa questão, o estudo de Lahsen et al., (2016), baseado em informações via
satélites, evidenciam que a eficiência na proteção da vegetação nativa quando as UC’s são
geridas por comunidades locais e tradicionais do que quando ocorre por agentes do poder
público, uma vez que estes possuem limitações para controlar o corte ilegal de madeira, a caça
e a mineração.

Unidade de Propriedade Contribuição do


Estado Terra Indígena Conservação Assentamento Glebas privada Estado (km²)
Bahia 0% 16% 4% 0% 80% 697,40
Distrito Federal 0% 97% 0% 0% 3% 8,18
Goiás 0% 6% 5% 0% 89% 713,62
Maranhão 0% 3% 6% 2% 88% 1.472,67
Mato Grosso 3% 3% 11% 6% 76% 1.001,65
Mato Grosso do Sul 1% 0% 1% 0% 98% 258,75
Minas Gerais 0% 2% 5% 0% 98% 473,04
Paraná 0% 65% 0% 0% 35% 0,58
Piauí 0% 1% 1% 0% 98% 482,87
Rondônia 0% 0% 0% 100% 0% 0,42
São Paulo 0% 15% 3% 0% 82% 14,63
Tocantins 0% 12% 4% 9% 75% 1.533,21
Contribuição da
categoria 1% 7% 5% 3% 84% 6.657
Figura 59. Percentuais de desmatamento nas categorias fundiárias por estado em 2018.
Fonte: INPE/ PRODES (2018).

Do ponto de vista econômico, as áreas que compõem o Cerrado tiveram um papel


fundamental na produção agropecuária brasileira a partir de 1970, tornando o país reconhecido
internacionalmente como produtor de grãos, biocombustíveis e carne bovina (MUELLER e
MARTHA JÚNIOR, 2008) mas, do ponto de vista ambiental as consequências podem ser
resumidas em uma série de impactos socioambientais9, como a redução e fragmentação dos
ecossistemas (MACHADO et al., 2004), perda da biodiversidade (MACHADO, 2000),
interferência hidrológica de importantes bacias do país (LIMA e SILVA, 2005), assoreamento
dos rios e erosão dos solos e poluição dos aquíferos (BRASIL, 2011).

Para SAWYER et al., (2017) as principais ameaças ao Cerrado na atualidade e num


horizonte próximo são a pecuária, as culturas anuais (principalmente soja, milho e algodão),
biocombustíveis (cana-de-açúcar), carvão vegetal, incêndios e silvicultura de espécies únicas.
Segundo a pesquisa realizada por Rudorff et al., (2015) , entre 2000 e 2014, mais de 5,6 milhões
de hectares de pastagens, localizadas no bioma Cerrado, foram convertidos para a soja.

9
Ambiental, mas tendo em conta as sinergias com a dinâmica social.

158
Em um estudo coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
pesquisadores abordam a importância do bioma e expõe de forma contundente os riscos da
exploração intensiva do Cerrado:

A propulsão da agricultura nacional no Cerrado provoca resultados potencialmente


trágicos para o bem-estar humano, para a conservação da biodiversidade e para o
desenvolvimento sustentável do Brasil. Os muitos serviços ecossistêmicos fornecidos
pela vegetação nativa do Cerrado incluem a regulação do clima e da água doce limpa
para grande parte do Brasil, incluindo a Amazônia e países vizinhos (LAHSEN et al.,
2016, p. 6).

Atualmente, a efetiva proteção dos recursos naturais e conservação da biodiversidade


do Cerrado, de forma mais eficiente, fica a cargo de áreas legalmente protegidas como unidades
de conservação e terras indígenas. No âmbito das UC’s, 8,6% da paisagem natural do Cerrado
é protegida, contudo, desse total somente 3,1% são unidades de proteção integral10 (MMA,
2019) (Tabela 18). Nesse contexto as unidades de conservação ficam isoladas em “ilhas”
protegidas, devido a intensa fragmentação da paisagem (DIOS; MARÇAL, 2009) e sujeitas a
fortes assimetrias de gestão.

Tabela 18. Superfície de unidades de conservação localizadas no bioma Cerrado - Brasil


Área Proteção Integral Área
Uso Sustentável (US) Nº % Nº %
(km2) (PI) (km2)
Floresta 11 557 0,0 Estação Ecológica 28 11.370 0,6
Reserva Extrativista 6 880 0,0 Monumento Natural 12 314 0,6
Reserva de Desenvolvimento
2 686 0,0 Parque 66 48.410 2,4
Sustentável
Refúgio de Vida
Área de Proteção Ambiental 68 108.752 5,3 5 2.460 0,1
Silvestre
Área de Relevante Interesse
15 79 0,0 Reserva Biológica 6 82 0,0
Ecológico
Reserva Particular do Patrimônio
160 1.015 0,0
Natural
Total US 262 111.968 5,5 Total PI 117 62.636 3,1
Total PI e US 379 174.604 8,6
Fonte: BRASIL (2015).
Organizado pela autora.

Enquanto as terras as terras indígenas compreendem 4,3% da área total do bioma


(MMA, 2019) (Tabela 19).

10
No Brasil, as áreas protegidas implementadas pelos governos federal, estadual ou municipal são divididas em
12 categorias, inseridas em dois grandes grupos com finalidades distintas: Proteção Integral (PI) e Uso Sustentável
(US) (BRASIL, 2000).

159
Tabela 19. Superfície de terras indígenas localizadas no Cerrado brasileiro.
Área total % de
% de Cerrado
Área TI no do Cerrado Cerrado
Estado Área TI (ha) protegido no
Cerrado (ha) no Estado no
Estado
(ha) Estado
Bahia 3.063 2.839 0,02% 15.161.979 7,43%
Goiás 40.463 40.463 0,12% 32.963.654 16,16%
Maranhão 1.228.728 811.311 3,83% 21.207.908 10,40%
Mato Grosso 7.134.689 5.103.835 14,22% 35.884.109 17,59%
Mato Grosso do Sul 672.316 454.771 2,11% 21.600.748 10,59%
Minas Gerais 53.214 52.704 0,16% 33.372.032 16,36%
Pará 1.486 3 0,01% 28.081 0,01%
Rondônia 1.603.245 45.156 100% 45.156 0,02%
São Paulo 1.930 1.639 0,02% 8.113.377 3,97%
Tocantins 2.363.671 2.363.507 9,36% 25.246.306 12,38%
Total de área de
11.499.561 8.876.227 4,35% 203.920.889 100%
TI no Cerrado
Fonte: MMA (2007)
Organizado pela autora.

As informações do Cerrado no Paraguai ainda são insipientes nos estudos científicos,


no entanto algumas áreas são reconhecidas por sua importância biológica para a conservação
do bioma (SMITH et al. 2011). Os dados referentes às áreas protegidas no Paraguai estão
descritos para todo o território nacional, que recobrem 14,3% (5.747.300 ha) da área total do
país (UNEP-WCMC, 2019) classificados segundo o Sistema Nacional de Áreas Silvestres
Protegidas (SINASIP) (Tabela 20).

Tabela 20. Número de áreas silvestres protegidas pelo SINASIP agrupadas segundo categorias
Denominação Jurisdição Categoria IUCN11 Categoria SINASIP Número
Ia Monumento Científico 1
III Monumento Natural 12
II Parque Nacional 15
IV Refúgio de Vida Silvestre 1
Publico
Ia Reserva Científica 1
IV Reserva Ecológica 2
Nacional
- Reserva da Biosfera 2
- Outras categorias 6
V Paisagem Protegida 3
IV Reserva das Entidades Binacionais 9
Privado
VI Reserva de Recursos Gerenciados 5
IV Reserva Natural 36
Ramsar Site, Wetland of International Importance 3
Internacional
UNESCO-MAB Reserva da Biosfera 2
Total 98
Fonte: (UNEP-WCMC, 2019)
Organizado pela autora
11
Categorias IUCN: I- Reserva natural restrita / Reserva Científica; II- Parque Nacional; III- Monumento
Natural; IV- Área de manejo de habitat/espécies; V- Paisagens terrestres ou marinhas protegidas; VI- Áreas
protegidas com recursos gerenciados.

160
Dessa forma entende-se que a importância biológica e socioeconômica do Cerrado e os
vários impactos ambientais positivos e negativos aos quais esse território está sujeito só podem
ser entendidos no contexto mais amplo do que nas restrições dos limites políticos-
administrativos dos países que compartilham esse bioma – Brasil, Paraguai e Bolívia.

4.4. Avalição das taxas de desmatamento na faixa de fronteira

A área original de Cerrado no Mato Grosso do Sul abrangia um total de 21,6 milhões de
hectares, correspondente a 61% do território estadual e junto com o bioma Pantanal e a Mata
Atlântica, compreendem 25% e 14% do território, respectivamente (IBGE, 2004).

Além dos fatores econômicos, discutidos no capítulo 2, para o desenvolvimento de áreas


do Cerrado, as características físicas se apresentaram muito favoráveis para o advento da
modernização das atividades agrícolas, facilitando a consolidação do modelo de
desenvolvimento para produção e exportação de commodities.

Ao longo das últimas quatro décadas, principalmente, esses biomas tiveram sua
vegetação original convertida para uso de atividades econômicas tradicionais no estado, como
a pecuária bovina de corte, seguido da agricultura anual (soja, milho, algodão etc.) e, mais
recentemente, a agricultura semi-perene da cana-de-açúcar para produção de etanol e ainda o
plantio de floresta de eucalipto para produção de celulose, que se intensificou a partir de 2007
(SILVA et al., 2011) (Tabela 21).

Tabela 21. Superfície de tipos de uso e ocupação das terras no estado de Mato Grosso do Sul – 1985 a 2017.
Classes 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015 2017
Formação florestal 10.146.105 8.764.283 8.101.010 7.661.893 7.182.157 7.196.242 7.322.672 7.291.064
Formação savânica 4.836.051 4.743.827 4.228.876 3.936.183 3.525.378 3.428.261 3.228.434 3.246.327
Formação campestre 3.426.270 3.825.705 3.674.481 3.774.243 3.793.888 3.549.373 3.728.201 3.651.355
Área úmida 627.690 286.027 386.100 369.798 391.007 494.797 393.852 431.971
Floresta plantada 0 88.792 85.112 98.281 86.650 262.999 571.760 633.931
Pastagem 11.143.787 13.613.739 15.334.092 16.053.811 16.143.809 15.920.561 14.322.107 14.088.088
Cultivo anual e perene 968.587 1.245.070 1.198.572 1.250.449 1.671.493 1.828.111 2.254.731 2.454.790
Cultivo semi-perene 0 0 0 0 0 297.687 630.275 618.401
Mosaico de agricultura ou
pastagem 3.540.526 2.240.108 1.788.560 1.775.359 2.072.387 1.988.407 2.501.501 2.607.225
Corpos d'água 946.690 854.815 862.269 729.186 719.255 657.361 683.027 699.814

Fonte: Projeto MapBiomas (2018)


Organizado pela autora.

O desmatamento no território sul-mato-grossense cresceu de 38,4%, em 1984, para


aproximadamente 53% até 2007, a vegetação natural nesse período compreendia 46% da área

161
total do Estado, (SILVA et al., 2011). Em 2008, os remanescentes de Cerrado representavam
27,4% da cobertura vegetal natural do estado (BRASIL, 2009) (Figura 60).

3.000

2.500

2.000
Área (km²)

1.500

1.000

500

0
2002 2004 2006 2008 2010 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Figura 60. Área desmatada do bioma Cerrado no Mato Grosso do Sul de 2002 a 2018
Fonte: INPE/ PRODES (2018)
Organizado pela autora.

Áreas de vegetação nativa foram progressivamente sendo convertidas em áreas de


cultivo mecanizado de commodities ou em pastagens plantadas para a criação de gado bovino.
A expansão da soja é tanto uma causa direta quanto indireta da conversão em larga escala da
vegetação nativa. É difícil desvencilhar a conexão entre a expansão da soja e a supressão da
vegetação nativa.

Segundo Carneiro Filho e Costa (2016) 25,4 milhões de hectares de Cerrado que já
foram convertidos para usos antrópicos são adequados à agricultura, sendo que a maior parte
dessas áreas correspondem a pastagens (15,5 milhões com alta aptidão agrícola e 3 milhões de
hectares com média aptidão agrícola). Para os autores (op. cit.), esse fato está associado à
tendência de intensificação da pecuária em áreas específicas, que acabam liberando áreas menos
produtivas, representando uma oportunidade para o agronegócio expandir a produção de soja
em áreas previamente ocupadas por pastagens.

O estado do Mato Grosso do Sul detém 28% de área de pastagens com alta e média
aptidão agrícola no bioma Cerrado, desse total 3,3 milhões de hectares são de áreas de pastagens

162
com alta aptidão agrícola (CARNEIRO FILHO e COSTA, 2016). Entre 2013 e 2014 a área de
plantio de soja no Cerrado no estado correspondia a 8,8% dos 15,7 milhões de hectares
cultivados com a oleaginosa no bioma (op. cit.), desse total 1,4 milhão de hectares da área
cultivada com soja no Cerrado localizava-se no estado de Mato Grosso do Sul, cerca de 65%
da área de cultivo de soja no estado está concentrada no bioma Cerrado.

Dessa forma, pode-se estabelecer um relativo paralelismo entre as condições físicas


naturais, que atribuem alto grau de aptidão agrícola e o desenvolvimento regional. Áreas do
território sul-mato-grossense em que até pouco tempo destinavam-se à criação extensiva de
gado bovino atualmente são grandes produtoras de commodities e um dos motores para essa
mudança foi a produção de soja, que teve um incremento de mais de 1,8 milhão de hectares em
termos de área no estado, nas últimas quatro décadas.

No Mato Grosso do Sul, o desmatamento para produção de soja ocorre em uma escala
bem maior de forma indireta. A demanda do mercado para culturas específicas, como a soja,
acarreta o aumento do preço das terras, incentivando o desmatamento, a área recém desmatada
é frequentemente utilizada como pastagem de gado antes de ser vendida ou arrendada para a
produção de soja. Essa expansão da soja na área previamente ocupada por pastagem provoca
maiores níveis de desmatamento a medida que a pecuária se desloca para a regiões de fronteira
agrícola, perpetuando o ciclo do conversão da vegetação nativa (TRASE, 2018). Garantir que
a expansão de cultivo da oleaginosa não cause mais desmatamento é um imenso desafio.

Diante desse processo de dinâmica territorial, as informações especializadas sobre o uso


e a cobertura da terra são cruciais para monitorar, não só as atividades econômicas, mas também
os remanescentes de vegetação nativa. As tipologias espaciais são passíveis de compreender a
dinâmica espaço-temporal (PLASSIN et al., 2017), o qual desdobramos a lente analítica de
detalhe no Capítulo 4. Na Figura 61 é possível identificar os principais tipos de uso e ocupação
das terras nos biomas que compõe o estado de Mato Grosso do Sul para dois cenários, 1985 e
2018 com a quantificação de cada classe apresentado na Tabela 22.

163
Figura 61. Uso e cobertura das terras no bioma Cerrado em Mato Grosso do Sul para o ano de 2013
Organizado pela autora.
164
Tabela 22. Superfície dos tipos de uso e cobertura das terras no Mato Grosso do Sul.
Área (ha)
Classe
1985 2018
Formação florestal 7.752.615 5.482.643
Formação savânica 4.954.356 2.907.046
Floresta plantada 75.724 726.146
Campo alagado e área pantanosa 2.803.346 2.714.278
Formação campestre 3.539.611 3.366.991
Pastagem 14.242.183 15.586.893
Cultura anual e perene 1.293.981 3.107.023
Cultura semi-perene 965 724.286
Mosaico de agricultura e pastagem 603.194 475.674
Infraestrutura urbana 21.436 69.848
Mineração 427 735
Outras áreas não vegetadas 24.981 17.025
Corpos d'água 396.620 530.735
Fonte: Projeto MapBiomas (2020).

A ocupação intensiva do Cerrado tem ampliado a complexidade do mosaico de


paisagem desse bioma, com seus gradientes de formações campestres, arbustivas e
florestais, em função dos diversos usos da terra e de sua dinâmica. As atividades
antrópicas ocupam grande parte da área total do bioma, dentre as categorias de uso, a
agropecuária é a mais expressiva (MMA, 2015; MapBiomas, 2020). O avanço da área
plantada de soja, milho e cana-de-açúcar juntamente com as pastagens são considerados
os principais vetores de conversão da vegetação nativa.

Tais condições ilustram a importância de se manter os mosaicos remanescentes


de vegetação natural como estratégias de conservação e preservação, uma vez que grandes
áreas desmatadas localizam-se na faixa de fronteira do estado. Dessa forma, a
dinamização dos munícipios localizados na faixa de fronteira impulsiona a conversão de
áreas naturais no território paraguaio para produção de soja e carne bovina. Vazquéz
(2006) assinala com clareza a imposição brasileira nessa região.

Las dinámicas, tanto pecuarias como agrícolas, tienen una clara


orientación hacia el mercado fronterizo donde los actores mas fuertes
controlan los flujos generando una solapada dependencia económica
hacia los actores brasileños, quienes “importan” el dinamismo. Los
flujos económicos se dirigen desde y hacia la frontera brasileña,
siguiendo el eje Noreste de la ruta número cinco. [...] El Brasil, a través
de sus estados más dinámicos, impone a los espacios fronterizos débiles
y a las economías deprimidas sus propias reglas de juego económico,
dejando muy poco margen de maniobra a los actores paraguayos
quienes estratégicamente se integran a los mismos, con la lógica de
alianza o desaparición (VÁZQUEZ, 2006, p. 78).

165
No cenário paraguaio dados da FAO (2015) demonstram que o país ainda detém
15,3 milhões de hectares de floresta e floresta primária, o que corresponde a 37% da
superfície territorial (Figura 62).

Figura 62. Cobertura vegetal no Paraguai para o ano de 2015


Fonte: FAO (2015)
Organizado pela autora.

Todavia, entre 2001 e 2017, o Paraguai perdeu 5,6 milhões de hectares de


cobertura vegetal arbórea, o que equivale a uma redução de 22% desde os anos 2000
(GFW, 2014) (Figura 63).

Figura 63. Perda da cobertura vegetal arbórea do Paraguai na série de 2001 a 2017.
Fonte: GFW (2019)
Organizado pela autora.

Nesse período, quatro departamentos foram responsáveis por 54% de toda a perda
de cobertura vegetal arbórea (Tabela 23).

166
Tabela 23. Índices de perda de cobertura vegetal nos principais departamentos do Paraguai.
Perda da cobertura vegetal entre
Departamentos 2001 e 2007
Área (ha) (%)
Boquerón 2.190.000 31%
Canindeyú 224.000 31%
San Pedro 296.000 30%
Amambay 143.000 25%
Caaguazú 128.000 22%
Alto Paraguay 1.100.000 21%
Alto Paraná 89.900 19%
Presidente Hayes 663.000 16%
Concepción 149.000 15%
Caazapá 58.500 12%
Fonte: GFW (2019)
Organizado pela autora.

Dentre os departamentos que se localizam na fronteira sudoeste com o Mato


Grosso do Sul e tiveram altas taxas de perda de cobertura vegetal, destacam-se,
Amambay, em que as três principais regiões – que também apresentam conturbação –
foram responsáveis por 76% de todas as perdas de cobertura vegetal entre 2001 e 2017,
Capitán Bado apresentou maiores índices de perda de vegetação, com 37%, seguida por
Pedro Juan Caballero e Bella Vista Norte, com 20% e 19%, respectivamente. No
departamento de Canindeyú 75% das perdas de vegetação localizaram-se em Ypehú
(41%) e Itanara (34%), localizadas na fronteira com o município de Paranhos.

Cerca de 90% da perda de cobertura vegetal ocorreu em áreas em que os principais


causadores de conversão da vegetação resultaram em desmatamento, sendo a urbanização
e o desmatamento para produção de commodities12 os responsáveis pelo desmatamento
permanente (Figura 64 e Tabela 24).

12
As classes de perda de cobertura arbórea definidas pelo GFW diferenciam a classe Commodities como
desmatamento em grande escala vinculado principalmente à expansão da agricultura comercial. Enquanto
a classe Agricultura está vinculada a perda temporária ou desmatamento permanente devido à agricultura
de pequena e média escala.

167
Figura 64. Principais motivos de conversão da cobertura vegetal arbórea do Paraguai na série de 2001 a
2015
Fonte: GFW (2019)
Organização: Ferreira (2019)

Tabela 24. Superfície de cobertura vegetal natural suprimidas para outros tipos de usos
Perda de cobertura vegetal (hectares)
Commodities Urbanização Silvicultura Agricultura Incêndio
2001 125.000 40 1.870 22.400 319
2002 162.000 85 1.810 30.500 415
2003 214.000 130 4.720 47.300 336
2004 188.000 149 2.730 56.000 341
2005 225.000 145 2.110 34.500 538
2006 127.000 110 1.670 18.200 509
2007 385.000 50 2.430 37.600 914
2008 346.000 147 2.020 27.200 697
2009 335.000 87 1.420 15.400 844
2010 420.000 77 2.240 18.800 721
2011 424.000 75 1.800 29.800 758
2012 462.000 92 2.110 43.200 865
2013 292.000 52 1.650 23.300 387
2014 316.000 71 3.220 24.900 451
2015 263.000 44 2.510 13.200 160
Fonte: GFW (2019)
Organizado pela autora.

É importante lembrar que a expansão da soja não afeta somente as áreas


desmatadas, pois essa atividade está ligada a grandes projetos de infraestrutura, como a
construção de estradas e hidrovias empreendidas para viabilizar o escoamento da
produção e ainda, exige formas geograficamente imobilizadas no território que se
constituem em contínuos investimentos para criar o ambiente adequado para a produção,
como os aparatos técnicos e a infraestrutura (armazéns, silos, estradas, portos,
comercialização de insumos agrícolas, etc). Essa organização espacial do território com
vistas a atender a demanda do complexo soja é um dos principais fatores de

168
homogeneização do território, transformando determinadas áreas em regiões produtivas
de soja na fronteira.

Para Cunha e Coelho (2012, p. 84) esse modelo de desenvolvimento que prima
pelos interesses privados (econômicos) frente aos bens coletivos (meio ambiente),
consubstancia-se em uma visão antropocêntrica de mundo “e é fonte geradora de fortes
impactos socioambientais”. Essas discrepâncias socioeconômicas e ambientais induzidas
pelo modelo econômico predatório gera conflitos generalizados ligados a disputas de
terras (SVAMPA, 2012). Dessa forma, destaque-se como o papel desempenhado pelas
áreas protegidas é fundamental para conservação da biodiversidade e na manutenção do
habitat natural (SCHMITT et al., 2009).

169
C APÍTULO 5

Áreas Protegidas: a relação entre


conservação da biodiversidade e formas de
gestão

170
[...] é provável que a ideia de natureza reforçada seja aquela que
ela existe em algum lugar, e precisa ser preservada, mas não está
onde eu moro. Ou de outra forma a natureza é quase sempre um
“resto” de mata que se visita nos dias festivos – dia da árvore –
ou se faz uma pesquisa de campo – quando possível, ou ainda
aquela se observa nas fotos, pinturas, filmes exibidos para
mostrar a natureza original (ARRUDA, 2006, p. 120).

Para atender a uma das hipóteses levantadas nessa tese, referente a resiliência das
áreas protegidas frente ao avanço do modelo agroexportador, optamos por abordar neste
capítulo uma síntese, um convite à reflexão de como ocorreu a consolidação das
estratégias e dos instrumentos legais de conservação e preservação no Brasil e no
Paraguai, consagradas, essencialmente, pelas áreas protegidas. Para tanto, foram
estabelecidos os principais debates e contrapontos em uma narrativa sequencial de uma
série de fatos e circunstâncias que culminaram no estabelecimento das políticas públicas
ambientais ligadas as áreas especialmente protegidas.

Essa abordagem conceitual pretendeu contribuir e nortear as análises do Capítulo


5 que trata sobre os aspectos socioambientais das áreas protegidas da faixa fronteira,
mostrando seu quadro atual de uso e ocupação e os principais impactos identificados.

5.1. Histórico e formas de gestão das áreas protegidas no Brasil e no Paraguai

A proteção de áreas representativas dos ecossistemas naturais de determinados


biomas no Brasil é um processo que só se efetiva no decorrer do período republicano, no
decurso do século XX, a partir da criação do Código Florestal – Decreto n° 23.793 – em
1934 (BRASIL, 1934). Este foi o primeiro documento com base legal a prever a criação
de parques nacionais, estaduais e municipais e legitimar a ação dos serviços florestais.
Dentre as características preservacionistas no Código Florestal estavam as categorias de
florestas protetoras, um antecedente às chamadas Áreas de Preservação Permanente
(APPs), consagradas, mais tarde, pela segunda versão do Código Florestal, em 1965,
(BRASIL, 1965) bem como as áreas de Reserva Legal (RL), que visam garantir o uso
sustentável dos recursos naturais em imóveis rurais. A última revisão do Código Florestal,
realizada em 2012, em vigor sob a Lei Nº 12.651 de 2012 (BRASIL, 2012), traz alguns

171
avanços importantes, mas, ao mesmo tempo, abre uma lacuna para precedentes de
passivos ambientais, de acordo Scarano et al., (2012) se por um lado adota medidas
conservacionistas em algumas áreas do país, por outro, ainda coloca em prática atitudes
contrárias às dos interesses ambientais nacionais.

A função ambiental atribuída às áreas protegidas13 são de suma importância para


manutenção do ecossistema (LOVEJOY, 2006), pois estão relacionados à regularização
da vazão, retenção de sedimentos, conservação do solo (METZGER, 2001; BORGES et
al., 2011), recarga do lençol freático (TUNDISI e TUNDISI, 2010), biodiversidade
(LAURANCE e BIERREGAARD, 1998), ecoturismo, etc. Como mencionado na referida
lei:

II. Área de Preservação Permanente - APP: área protegida,


coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de
preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e
flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações
humanas;

III. Reserva Legal: área localizada no interior de uma


propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12,
com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável
dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a
reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação
da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna
silvestre e da flora nativa (BRASIL, 2012, art. 3º, inciso II e III).

Nessa mesma lógica podemos citar as Unidades de Conservação (UC’s),


legalmente instituídas pelo poder público, com objetivos e limites definidos e sob regimes
especiais de administração, para proteção de áreas de importância biológica, ecológica,
ambiental e cultural ou de beleza cênica (BRASIL, 2000). Desde a criação da primeira
UC no Brasil, o Parque Nacional de Itatiaia, em 1937, (DIEGUES, 2001), as UC’s
passaram a receber maior atenção por parte das políticas públicas, sobretudo a partir da
década de 1970, motivada pelo cenário mundial em prol da conservação ambiental.

Sublinha-se aqui a convocação da ONU (Organização das Nações Unidas) para a


Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo –
Suécia, em 1972. Esse evento, especificamente, gerou forte mobilização e uma agenda

13
A legislação brasileira não traz um conceito único para área protegida, mas observa-se que o termo mais
atual congrega as diferentes tipologias e suas características intrínsecas, portanto, nesse contexto, adota-se
a definição de área protegida elaborada pela IUCN (1984) como: “uma área terrestre e/ou marinha
especialmente dedicada à proteção e manutenção da diversidade biológica e dos recursos naturais e culturais
associados, manejados através de instrumentos legais ou outros instrumentos efetivos”.

172
ambiental internacional positiva, refletindo na sensibilização para a problemática
ambiental nos países. Embora naquele momento, o governo brasileiro tenha adotado uma
postura mais rígida indo na contramão dos princípios estabelecidos na Conferência, de
forma ambivalente, acabou adotando internamente, uma conduta preventiva mais
alinhada com a tendência internacional de fortalecer e/ou criar instituições específicas
para conduzir os assuntos da pauta ambiental (CAMARGO, 2005).

A organização da sociedade civil também é apontada por Becker (2004) como um


fator importante na condução dessa política conservacionista, elaborada a partir “de
baixo”. Segundo a autora ainda, as iniciativas inovadoras de populações tradicionais
constituíram a base inicial do vetor ‘tecno-ecológico’ no Brasil, uma vez que objetivavam
garantir sua sobrevivência mediante a manutenção do acesso à terra, como no caso dos
seringueiros, quilombolas, indígenas e ribeirinhos (op. cit., p. 104). A utilização das redes
de fomento transnacionais (ONGs, organizações religiosas, agências de desenvolvimento,
governos), pelos grupos sociais fortaleceu o movimento de ações ambientais endógenas.

As pressões exercidas nesse cenário enveredaram à algumas respostas


governamentais, como a criação da SEMA (Secretaria Especial do Meio Ambiente)
(BRASIL, 1973), um importante órgão da política brasileira para gestão e fiscalização
das áreas protegidas naquele momento. Foi a base embrionária para a criação do que mais
tarde seria o SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação) (BRASIL, 2000),
que resultou da reorganização no processo de criação e gestão das áreas protegidas sob a
forma de um sistema único e integrado, que previamente se encontravam dispersas em
diferentes instrumentos legais. Assim como a criação do Ministério do Meio Ambiente,
em 1993 e de uma política ambiental, além da aceitação de projetos e programas de
cooperação internacional com apoio financeiro e técnico.

Outro avanço importante da política brasileira nesse período foi o reconhecimento


das Terras Indígenas (TI), que culminou na política de demarcação dessas áreas, que
embora só tivesse obtido maior efetividade com a criação da FUNAI e a decorrente
instituição do Estatuto do Índio, em 1973, era uma ideia latente desde o início do século
XX, com o Serviço de Proteção aos Índios (SPI) (MEDEIROS, 2006).

Durante muito tempo as terras indígenas não foram consideradas como área
protegida no sentido semântico do termo. Apesar de que elas sempre representaram um
importante instrumento de conservação ambiental e manejo da biodiversidade pelas

173
populações tradicionais, como já retratava o Código Florestal de 1965, no Art. 3º, em que
“as florestas que integram o Patrimônio Indígena ficam sujeitas ao regime de preservação
permanente” (BRASIL, 1965) e ratificado pelo Art. 28º do Estatuto do Índio ao
determinar que no caso específico dos Parques Indígenas, fosse garantida a preservação
“das reservas de flora e fauna e as belezas naturais da região” (BRASIL, 1973).

Ainda que assegurado pelas normativas legais à época, a essência


conservacionista das TI no Brasil e sua integração à política nacional de gestão de áreas
protegidas só ganhou impulso a partir dos anos de 1990, através do Projeto Integrado de
Proteção às Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal (PPTAL) o qual fazia
parte do Programa Piloto de Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7)
(BECKER, 2004). O PPG7 foi a primeira iniciativa global a unir o governo brasileiro, a
sociedade civil e a comunidade internacional para “conservação da natureza e promoção
de alternativas sustentáveis de manejo dos recursos naturais da floresta Amazônica e da
Mata Atlântica” (MMA, 2009). Para Becker (2004) as ações do PPTAL contribuíram para
a integração da política indígena brasileira à política ambiental e possibilitaram o
reconhecimento e demarcação de várias terras indígenas, sobretudo na região amazônica.

O reconhecimento das TIs como territórios representativos na proteção e


conservação ambiental também vem sendo demonstrado por um conjunto amplo e
crescente na literatura científica, vide Posey (1985), FUNAI et al. (2015), Watts (2016),
Bonanomi et al., (2019) e também no mais recente Relatório do IPCC (IPCC, 2019). A
crescente importância das TI na conservação da biodiversidade, resultou até mesmo na
formulação de um marco legal para promover a gestão ambiental dos territórios indígenas,
a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI)
(BRASIL, 2012).

De fato, entende-se que a criação de áreas legalmente protegidas, como as TIs,


UCs, APP e RL estão orientadas a garantir a preservação da biodiversidade local, estas
duas últimas, ainda, uma clara tentativa de aplacar o desmatamento e a pressão das
atividades agrícola e pecuária, sobre as áreas de florestas e vegetação nativa. Mas, do
outro lado opera o antagonismo do modelo de desenvolvimento regido por uma lógica
implacável e expansionista, bem conhecida como o “desenvolvimento a qualquer custo”,
baseada no retorno imediato, que é o alicerce das atividades econômicas produtivas.

174
Os efeitos desse modelo de desenvolvimento vêm sendo relatados e alertados há
bastante tempo, desde a publicação de Rachel Carson mundialmente conhecida, “Silent
Spring”, em 1962 e estão arraigados na nossa sociedade. O autor José Augusto Pádua em
sua obra “Um sopro de destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil
escravista (1786 – 1888)” aponta que o descaso com os recursos naturais no Brasil advém
desde o período colonial. Para Drummond et al., (2010) além do aspecto histórico, a
grande extensão territorial e a grande disponibilidade de recursos naturais no Brasil
operam como fatores inibidores de consciência e de políticas conservacionistas.

Portanto, apesar das significativas mudanças para preservação e conservação dos


biomas e ecossistemas, a proteção ambiental ainda não desempenha um papel de
prioridade na sociedade. Como ressalta o documento elaborado pelo Programa Água
Brasil (BRASIL, 2014) ao expor que no contexto das políticas ambientais brasileiras o
que se observa é um conjunto de medidas isoladas de preservação ambiental, que na maior
parte dos casos são tomadas sob pressão de grupos de interesse ou das circunstâncias,
demonstrando que conjuntos coerentes de medidas são a exceção, não a regra.

Segundo Becker (2004) os conflitos de interesses entre projetos conservacionistas


e desenvolvimentistas se constituem em um grande desafio, que pode ser resumido em
abordagens com perspectivas antagônicas: “a natureza a serviço do homem ou o homem
subordinando a ela” (MEDEIROS et al., 2004, p. 83). Ora o debate político incorpora o
‘esverdear’ em suas ações de desenvolvimento, em outras o ‘desenvolver’ é incorporado
às ações ambientais.

Nesse contexto, podemos citar como exemplo as inúmeras alterações realizadas,


ao longo do tempo, no Código Florestal por meio de leis e medidas provisórias, que
demonstram a clara dificuldade dos legisladores em conciliar os interesses dos diversos
atores envolvidos na temática ambiental, e ademais, que as decisões políticas de cunho
ambiental funcionam muito mais como um apêndice, um complemento do que um
componente sólido com uma política de longo prazo.

Diante dessas elucidações, pode-se sintetizar, a grosso modo, que a evolução e


consolidação da política protecionista brasileira foi decorrente do encadeamento dessa
série de acontecimentos e circunstâncias relativos ao: desenvolvimento e aparelhamento
do Estado; a participação e influência dos diferentes atores sociais e; o contexto
internacional (MEDEIROS et al., 2004).

175
No Paraguai esse cenário não foi muito diferente, a aprovação da Lei Nº 352 “de
Áreas Silvestres Protegidas”, em 1994 que regulamentou o Plano Estratégico do SINASIP
(Sistema Nacional de Áreas Silvestres Protegidas), elaborado em 1993, permitiu que as
áreas silvestres protegidas (ASP) se mantivessem dentro de uma unidade conceitual de
sistema e a incorporação de várias áreas importantes para a conservação. A consolidação
dessa lei fortaleceu o panorama ambiental e repercutiu na aprovação de uma série de
normas legais para a proteção e conservação das áreas silvestres protegidas14.

Em um primeiro momento o SINASIP esteve vinculado ao Ministerio de


Agricultura e Ganaderia (MAG) – e somente a partir dos anos 2000 com a criação do
Sistema Nacional Ambiental (SISNAM) integrado pela Secretaría del Ambiente (SEAM)
e pelo Conselho Nacional del Ambiente (CONAM) que as bases para a elaboração de uma
política ambiental foram consolidadas, pode-se citar esse segundo período como divisor
de águas implementação das normativas ambientais no país (SEAM, 2007).

Sem dúvida, uma das grandes conquistas para direcionar os esforços e insumos na
elaboração das políticas protecionistas foi a criação da SEAM, do SISNAM e do
CONAM, instituídos pela Lei Nº 1.561/00, a partir do qual ainda é criada e reconhecida
a Política Ambiental Nacional e o Plano Ambiental Nacional (PAN). Em resumo, pode-
se destacar que a partir dos anos 2000 foram geradas sinergias relacionadas a importância
da proteção de áreas silvestres, às populações locais e tradicionais indígenas e o
desenvolvimento sustentável.

Outro aspecto importante é que o Paraguai é signatário de diversos tratados e


convênios internacionais para proteção e conservação dos recursos naturais e culturais, o
que contribui, significativamente para a gestão das áreas protegidas, que atualmente,
conta com grande apoio e financiamento de organizações internacionais. Segundo o
Informe Nacional sobre as Áreas Protegidas no Paraguai (SEAM, 2007) as dificuldades
em relação a regularização fundiária nas áreas protegidas de domínio público, a falta de

14
Áreas Silvestres Protegidas são toda porção do território nacional compreendido dentro dos limites bem
definidos, de características naturais ou seminaturais, que é submetida a gestão de seus recursos a fim de
alcançar objetivos que garantam a conservação, defesa e melhoria do ambiente e dos recursos naturais
envolvidos (tradução nossa) (PARAGUAI, 1994, Art. 4).

176
planos de manejo e de recursos humanos são problemas ainda muito presentes,
enfrentados desde o início pelo SINASIP.

Dessa forma, o papel das iniciativas privadas de conservação é de suma


importância para apoiar as áreas protegidas públicas, cuja criação já era prevista na Lei
Nº 352/94 que inclui o Subsistema de Áreas Silvestres Protegidas sob domínio privado.
As maiores porções do território de área protegida advêm desse modelo, como a Reserva
Natural del Bosque Mbaracayú, sua criação, em 1991, é considerada um marco
importante na história da conservação dos recursos naturais no Paraguai, resultado de um
convênio internacional entre o governo paraguaio, o Sistema das Nações Unidas, The
Nature Conservancy e a Fundação Moisés Bertoni (um importante programa de
conservação privada no Paraguai) com a finalidade de estabelecer e preservar a Reserva
perpetuamente (SEAM, 2007). Posteriormente, no ano 2000, a UNESCO reconheceu a
Reserva Mbaracayú e sua zona de influência, como Reserva da Biosfera, ampliando
assim o compromisso de um manejo sustentável em cerca de 280 mil hectares. Através
destes convênios estratégicos com ONGs e a cooperação internacional, as instâncias de
diálogo e redes se fortaleceram e possibilitaram suprir algumas debilidades do setor
público.

Outra linha de ação elaborada pelo SINASIP foi a Estratégia Nacional e Plano de
Ação para Conservação (ENPAB), em 2004, que direcionava a conservação da
biodiversidade em vários setores a fim de estabelecer atividades para participação dos
povos indígenas e mecanismos de distribuição equitativa dos recursos (VILLALBA,
2014). Um grande desafio que articulava a temática ambiental com a temática de povo
originários tradicionais.

Em algumas áreas silvestres protegidas há a presença de povos tradicionais e


comunidades indígenas, formalmente reconhecidas pelo Estado, uma vez que já
habitavam a área ou os arredores antes da demarcação da ASP, semelhante ao que ocorre
nas Reservas Extrativistas (RESEX) do Brasil. Nessa modalidade é realizado o manejo
comunitário das ASP, contudo essa situação deve ser considerada a partir do projeto e no
planejamento já que é necessário conceder o direito de uso dos recursos naturais, todavia
a gestão fica a cargo do Estado (SEAM, 2007).

Para entender essa conjuntura de gestão, é necessário esclarecer que a estrutura do


SINASIP conta com três subsistemas sobre o qual baseia suas estratégias e instrumentos

177
e que é dividido de acordo com a posse da terra, adaptando a elas as categorias de
gerenciamento mais apropriadas, a saber:

• Subsistema de Áreas Protegidas sob domínio público (direto): administradas pelas


SEAM, contemplam áreas de caráter único e relevante interesse ecológico, que
possuem categorias de manejo com objetivos de conservação mais restritivos, como:
Parques Nacionais; Reservas Científicas, Monumentos Naturais e Reservas
Ecológicas. Incluem ainda Áreas Silvestres Protegidas sob manejo especial (indireto),
que são de domínio público, mas poderão ser administradas por outras instituições ou
organizações governamentais e não-governamentais.
• Subsistema de Áreas Protegidas sob domínio privado: em linhas gerais, esse
subsistema cumprirá com o objetivo de complementar e melhorar a coberturas das
áreas silvestres protegidas do Estado, uma vez que é bastante alta a porcentagem de
terra sob domínio privado.
• Subsistema de Áreas Protegidas administradas pela Itaipu Binacional: é um
subsistema integrado pelas unidades de conservação sob a gestão da Itaipu Binacional.

Fica claro que o mecanismo de cogestão tem como objetivo integrar esforços
públicos e privados no fortalecimento do SINASIP, e suprir as lacunas existentes, o que
tem se mostrado eficiente na captação de recursos financeiros e contratação de pessoal.
Todavia o documento da SEAM (2007) chama a atenção para a necessidade de haver uma
coordenação mais alinhada entre a autoridade de execução, as iniciativas ambientais
descentralizadas e as propostas do setor privado, a fim de evitar conflitos que ameacem
os objetivos de conservação e preservação dos recursos naturais e, sobretudo, os direitos
das comunidades locais.

5.2. Gestão de Áreas Protegidas

5.2.1. As Áreas Protegidas como principais instrumentos para preservação


ambiental no Brasil

No Brasil, quatro diferentes tipologias de áreas protegidas atuam como


impeditivos legais no país: as Unidades de Conservação; as Terras Indígenas; as Reservas
Legais e; as áreas de Preservação Permanente. Dentre estas, as UC’s representam a
categoria precedente de área protegida, tendo variações na efetividade de conservação em
função de suas características, em especial o grau de restrição, esfera governamental a
que pertencem, tamanho das unidades e tempo decorrido desde seu estabelecimento.

É importante destacar que até a década de 1990 havia uma grande pluralidade de
categorias de áreas protegidas, que eram gerenciadas, em um primeiro momento pelo
IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal) e depois essa responsabilidade
178
foi compartilhada com a SEMA. A sistematização, padronização e organização das
categorias de áreas protegidas, na tipologia UC, só foi estabelecida com a criação do
SNUC, instaurado pela Lei Nº 9.985 de 18 de julho de 2000 (BRASIL, 2000), que
regulamentava o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, e define
Unidade de Conservação como:

espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais,


com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder
Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial
de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção
(BRASIL, 2000, art. 2º, inciso I).

Na proposta de recategorização das UC’s definida pelo SNUC, a grande


inovação foi a divisão das UC’s em dois grandes grupos, com características específicas:
as de proteção integral, com uso mais restritivo, cujo o objetivo básico é “preservar a
natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais” (BRASIL,
2000, art. 7, §1°) e; as de uso sustentável, cuja utilização é mais abrangente com a
finalidade de “compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela
dos seus recursos naturais (BRASIL, 2000, art. 7, §1°) (Quadro 2):

179
Quadro 2. Categorias de Unidades de Conservação estabelecidas pelo SNUC
Grupo Categoria Objetivo

Estação Ecológica (ESEC) Preservação da natureza e realização de pesquisas científicas

Preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes


em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações
ambientais, excetuando-se as medidas de recuperação de seus
Reserva Biológica (REBIO)
ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para
recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e
Proteção Integral

os processos ecológicos naturais.


Preservação de ecossistemas naturais de grande relevância
Parque Nacional (PARNA), ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas
Parque Estadual ou científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e
Parque Natural Municipal interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e
de turismo ecológico.

Monumento Natural Preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza


(MONA) cênica.

Proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a


Refúgio de Vida Silvestre
existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local
(REVIS)
e da fauna residente ou migratória.

Proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de


Área de Proteção Ambiental
ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos
(APA)
naturais.
Manter os ecossistemas naturais de importância regional ou local e
Área de Relevante Interesse
regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo
Ecológico (ARIE)
com os objetivos de conservação da natureza.
Floresta Nacional (FLONA), Uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa
Floresta Estadual ou científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de
Municipal florestas nativas.
Proteger os meios de vida e a cultura de populações extrativistas
Uso Sustentável

Reserva Extrativista
tradicionais e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da
(RESEX)
unidade.
Manter populações animais de espécies nativas, terrestres ou
aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos
Reserva de Fauna (REFAU)
técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de
recursos faunísticos.
Preservar a natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as condições e
os meios necessários para a reprodução e a melhoria dos modos e
Reserva de
da qualidade de vida a exploração dos recursos naturais das
Desenvolvimento
populações tradicionais, bem como valorizar, conservar e
Sustentável (RDS)
aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do ambiente,
desenvolvido por estas populações.
Reserva Particular do
Patrimônio Natural Conservar a diversidade biológica em área privada.
(RPPN)
Categorias presentes na área de estudo.
Fonte: BRASIL (2000).
Organizado pela autora.

180
É importante destacar que as categorias de UC’s definidas pelo SNUC se
enquadram nos critérios propostos pela União Internacional para Conservação da
Natureza (IUCN), isso permite ao sistema brasileiro uma adequação aos padrões das
normas internacionais e facilita a proposição de estratégias para capitanear recursos, a
realização de pesquisas bem como, a comunicação com agências internacionais e ainda a
adoção de padrões diferenciados para gestão de áreas transfronteiriças (DRUMMOND et
al., 2010).

Além de abranger em um único sistema as áreas protegidas previstas na


legislação brasileira até então, o SNUC oportunizou a criação de novas categorias a partir
de experiências originalmente vivenciadas no Brasil, como no caso das RESEX resultado
da resistência dos seringueiros por sua sobrevivência na floresta, contra a expansão dos
fazendeiros de gado e os projetos de colonização do INCRA (BECKER, 2004), ou ainda
na criação das RDS, ação diretamente ligada ao Projeto Mamirauá, que atua na região do
Médio Solimões, no Amazonas com o uso sustentável da biodiversidade amazônica por
comunidades ribeirinhas.

De fato, a instituição do SNUC possibilitou um avanço significativo em relação


a proteção da natureza no âmbito nacional. Apesar de ter adotado mais tardiamente
instrumentos legais que criassem condições necessárias ao estabelecimento de áreas
protegidas territorialmente demarcadas, em um curto período de tempo, o Brasil, ampliou
as possibilidades de formas de proteção e a extensão das áreas protegidas (MEDEIROS,
2006).

Atualmente o Brasil possui 2.446 UC’s federais, estaduais e municipais, que


somam mais 255 milhões de hectares, incluindo continente, as zonas costeira e marinha
(MMA, 2019). Desse total, 777 constituem o grupo de proteção integral protegendo 7,8%
do território nacional. Faz-se necessário ponderar que ainda há desafios para garantir a
proteção efetiva dessas áreas, como a regularização fundiária e a articulação dessas UC’s
em escala regional e nacional com a paisagem local onde estão inseridas, não apenas no
contexto físico-biológico, mas também sociocultural e econômico.

Segundo Medeiros (2006), a instituição do SNUC, acabou consolidando, mesmo


que não intencionalmente, as Unidades de Conservação como tipologia dotada de maior
visibilidade e expressão com mecanismos mais concretos para seu gerenciamento, e dessa
forma, relegando às demais tipologias – Área de Preservação Permanente (APP), Reserva

181
Legal (RL) e Terras Indígenas (TI) – os mesmos problemas históricos de gestão, e o que
é mais grave ainda, não dispondo de instrumentos de integração e articulação com as
ações previstas para as UC’s.

Cabe salientar que não se têm a pretensão de desmerecer a originalidade e os


avanços alcançados a partir da consolidação do SNUC, pelo contrário, os esforços para
construção de uma política ambiental que conduzisse a questão das áreas protegidas ao
centro do debate abriu caminho para o desenvolvimento de outras políticas e/ou planos
de ação desse âmbito. Todavia, como aponta Medeiros (2006), o tempo relativamente
longo para concretização efetiva dessas ações expõe os gargalos, que são cada vez mais
evidentes, em virtude dos conflitos que se acirram, vertiginosamente, entre os diferentes
interesses dos grupos de atores sociais envolvidos.

Sabe-se que os 255 milhões de hectares de áreas protegidas no território


brasileiro, abrangem os grupos de proteção integral e uso sustentável sob administração
federal, estadual e municipal e correspondem a mais de 26% do território continental
(Tabela 25). Todavia, ao considerar apenas o grupo de proteção integral, esse corresponde
a 1/4 desse total, cerca de 66 milhões de hectares, certamente esse número está aquém
das necessidades e responsabilidades de um país megadiverso e economicamente
emergente como é o Brasil.

Essa condição pode ser atrelada aos conflitos sociais estabelecidos pelos
interesses divergentes dos diversos atores no processo de criação de UC’s, sobretudo,
atualmente. Portanto, o caminho mais fácil é optar pela parcial proteção dos recursos
naturais, permitindo a exploração de recursos e de uso do território para diferentes
finalidades e grupos sociais.

182
Tabela 25. Áreas protegidas por tipologia no Brasil
Percentual
Tipologia Número Área (ha) relativo ao
país
Brasil (total) 854.546.635 100%
Remanescentes de vegetação nativa1 192.999.579 22,6%
Unidade de Proteção integral 777 66.347.405 7,8%
Conservação Uso sustentável 1.669 188.872.267 22,1%
— — 21.687.978 —
Área de Preservação
com Remanescente de
Permanente* — 12.875.323 —
Vegetação Nativa
— — 135.194.100 —
Reserva Legal* com Remanescente de
— 108.240.346 —
Vegetação Nativa
Terra Indígena 4881 117.067.410 13,7%
*Informações declaradas no Sistema de Cadastro Ambiental Rural (SiCAR) até 31 de janeiro de 2020.
1
Pode haver sobreposição com demais tipologias; 2 Não inclui 117 TI em fase de estudo.
Fonte: CNUC/ MMA (2020); SiCAR (2020); FUNAI (2020).
Organizado pela autora.

A integração das áreas protegidas com as diversas escalas de planejamento e


gestão do território também é uma das dificuldades enfrentados pelas UC’s. Alguns
avanços vêm sendo alcançados nessa direção, como a discussão dos mosaicos e dos
corredores ecológicos para conexão dessas áreas, principalmente na identificação das
Áreas Prioritárias para Conservação pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), como
veremos mais adiante

Destarte, nos últimos 70 anos, o Brasil construiu um sistema original de proteção


de seus recursos naturais em unidades de conservação de diferentes origens e tradições,
adotando modelos internacionalmente consagrados, como os parques, as florestas
públicas e as reservas biológicas e paralelamente, internalizou a ideia das comunidades
tradicionais de conciliar a conservação com a utilização dos recursos naturais; definiu
critérios para iniciativas privadas de proteção e reconheceu o papel desempenhado pelas
terras indígenas na conservação da biodiversidade (FUNDO VALE, 2012).

5.2.3. As Áreas Protegidas frente aos aspectos econômicos, sociais e


ambientais no Brasil

Um outro impasse em relação as áreas protegidas no Brasil é a grande


disparidade na distribuição das UC’s e TI’s nos biomas. Enquanto a Amazônia abrange
83% da área total das áreas protegidas no país, os demais biomas possuem apenas 17%
desse total (Figura 65).

183
Figura 65. Panorama da distribuição das áreas protegidas (UC's + TI's) por bioma.
Fonte: GITE/ Embrapa (2017)
Organizado pela autora.

Ainda que os dados do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (GITE) da


Embrapa apontem que 20,5% da cobertura vegetal nativa do país está localizada em áreas
privadas e o restante distribuídos nas UC’s e TI’s (29,9%) e em outras áreas públicas
como terras devolutas e/ou não cadastradas no CAR (18,9%) (Figura 66) (EMBRAPA,
2017). A grande questão é quanto cada uma dessas áreas protege, de fato, as florestas e a
vegetação nativa. Se nas UC’s e TI’s o desmatamento entre 1985 e 2017 não atingiu 0,5%
da área de vegetação nativa, no caso das propriedades privadas houve uma diminuição de
20% das áreas de vegetação nativa nos últimos 30 anos (PRODES/ INPE, 2017).

184
Figura 66. Uso e ocupação das terras no Brasil.
Fonte: GITE/ Embrapa (2017).

Com base nessas informações, deveras há grande parte da vegetação nativa nas
propriedades privadas, mas também essas são as mais ameaçadas. Atualmente o país
ocupa o 3º lugar no ranking de maior extensão de agropecuária do mundo, com 251
milhões de hectares de seu território dedicados a atividade (EMBRAPA, 2017), ao mesmo
tempo em que a desigualdade da distribuição da posse da terra aumenta.

De acordo com uma pesquisa recente os 10% maiores imóveis ocupam 73% da
área agrícola do Brasil, enquanto os 90% menores imóveis ocupam somente 27% da área
(GUEDES PINTO et al., 2020). Posto isso, o estudo ainda indica que, apenas 0,3% do
total de imóveis detém 25% de toda a terra agrícola do Brasil, concentrando-se,
principalmente nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e da região de Matopiba.

Nesse sentido, o cenário denota a importância da manutenção das áreas protegidas


a fim de assegurar as funções e serviços ecossistêmicos15 a elas associados. Um estudo
publicado na revista Nature, em 1997, listou quais são os serviços e funções

15
Para COSTANZA et al. (2017, p. 3) os processos e funções do ecossistema descrevem as relações
biofísica que existem independentemente de os humanos se beneficiarem ou não. Em contraste, os serviços
ecossistêmicos são aqueles processo e funções que beneficiam as pessoas, de forma consciente ou
inconsciente, direta ou indiretamente. Portanto, são complementares não sinônimos.

185
ecossistêmicas prestados pelos recursos naturais (capital natural) na manutenção das
atividades humanas, concluindo que o valor global estimado para esses serviços era de
cerca de US$ 33 trilhões por ano (cotado para 1995) (COSTANZA et al., 1997), um valor
substancialmente maior do que o Produto Mundial Bruto (PMB) da época. Outro estudo
mais recente, para a Amazônia conclui que o valor dos serviços ecossistêmicos podem
chegar a US$ 737 por hectare/ano (STRAND et al., 2018). Se fossem somadas todas as
áreas protegidas do Brasil, esse valor poderia chegar a 1 trilhão de reais/ ano.

Provavelmente uma das iniciativas de maior reconhecimento da valoração


ambiental no Brasil é o Fundo Amazônia16, que já recebeu, ao longo dos últimos 11 anos,
3,4 bilhões em doações, sendo 93,8% provenientes do governo da Noruega, 5,7% do
governo da Alemanha e 0,5% da Petrobras (FUNDO AMAZÔNIA, 2019). A Agência
Nacional de Águas (ANA) também vem expandindo o Programa Produtor de Água,
através de projetos locais distribuídos em todo território nacional, com o pagamento por
serviços ambientais a produtores rurais por ações de conservação da água e do solo.

Com uma biodiversidade tão elevada quanto a Amazônia, o Cerrado é uma das
principais áreas do planeta para a produção agrícola e pecuária (SANO, 2019). Dessa
forma, como já mencionado, cerca de 50% do bioma foi desmatado (MMA, 2002),
colocando em risco a biodiversidade rica, única e útil assim como todos os seus serviços
ecossistêmicos (SAWYER et al., 2017). A pressão continua intensa por causa da
expansão agropecuária da soja, carne e cana-de-açúcar.

O estudo da Embrapa e do Inpe, o TerraClass, avaliou o que aconteceu com as


áreas que foram desmatadas desde os anos de 1980, concluindo que 63% dessas áreas
estão, atualmente, ocupadas por pecuária de baixa produtividade (1 boi por hectare ou até
menos) e outros 23% foram abandonadas e hoje estão em processo de regeneração.

No cenário atual (Figura 67), faz-se necessário investir no fortalecimento da


sociedade civil e nas adequações das normas e regulamentos em todos os níveis
governamentais, de modo a incorporar a conservação da biodiversidade nas políticas
públicas e práticas privadas. Como na gestão mais eficaz das áreas protegidas já

16
O Fundo Amazônia é uma iniciativa pioneira de financiamento de ações de Redução de Emissões
Provenientes do Desmatamento e da Degradação Florestal (REDD+). Foi proposto pelo Brasil em 2007, na
13ª Conferência das Partes da UNFCCC, e teve sua criação autorizada ao BNDES, em 2008, por meio do
Decreto Presidencial 6.527.

186
existentes, na valoração de produtos da sociodiversidade (HOMMA, 2005; ROESLER et
al., 2007; UNB 2010), que cria incentivos econômicos para a conservação da
biodiversidade e no melhor aproveitamento de áreas já antropizadas/ desmatadas.

O cenário merece ainda mais atenção ao considerar os recentes impasses entre


as nações doadoras do Fundo Amazônia e o atual governo em que há um ponto de inflexão
sobre a distribuição dos recursos e governança e os aumentos nos índices de
desmatamento desde 2015.

187
188
Figura 67. Recortes de notícias
5.3. As Áreas Protegidas como principais instrumentos para preservação
ambiental no Paraguai

Atualmente as Áreas Silvestres Protegidas (ASP) no Paraguai abrangem uma área


de mais 6 milhões de hectares, sob diferentes esferas de governança – os subsistemas
público, privado e autárquico, que juntos compreendem 2.793.000 hectares do território
nacional, somadas aos 3.407.00 hectares de três grandes áreas que são reconhecidas pela
UNESCO como Reserva da Biosfera, cujo total representa 15,2% do país (DASP, 2018)
(Tabela 26).

Tabela 26. Superfície de áreas protegidas no território paraguaio


Part. Relativa/
Categorias SINASIP Número Área (ha)
Grupo (%)
Monumento Natural 5 130.340 2,15
Parque Nacional 17 2.079.181 34,27
Refúgio de Vida Silvestre 1 30.000 0,49
Reserva Ecológica 3 3.385 0,06
Reserva Biológica 2 31.275 0,52
Paisagem Protegida 1 44 0,001
Reserva de Recursos Gerenciados 1 24.000 0,40
Refúgio Biológico 4 14.271 0,24
Reserva Natural Privadas 13 236.246 3,89
Reservas da Biosfera 3 3.517.465 58
Total 50 6.066.207
Fonte: SINASIP (2007).
Organizado pela autora.

A Tabela 27 apresenta o agrupamento das áreas protegidas segundo o subsistema


de gestão, no qual o SINASIP delimita as estratégias e instrumentos para gerenciamento.

Tabela 27. Áreas Silvestres Protegidas do SINASIP agrupadas por subsistemas


Part. Relativa/
Sistemas Número Área (ha)
País (%)
Subsitema público 40 2.466.769 6,1
Subsistema privado 39 316.557 0,8
Entidades autárquicas 2 9.701 0,02
Reserva da Biosfera 3 3.406.957 8,4
Total 84 6.199.984 15,2
Fonte: DASP (2018)

A Resolução N° 200/01 (PARAGUAY, 2001) é a responsável por atribuir e


regulamentar as categorias das Áreas Silvestres Protegidas no qual, mais recentemente
sofreu uma modificação pela Resolução Nº 562 de 2017 (PARAGUAY, 2017), em que
foram incorporadas a essa lista 3 categorias de manejo especial: Corredores Biológicos
ou de Biodiversidade, Territórios Indígenas de Conservação e Reservas Ícticas (Quadro
3).

189
Quadro 3. Áreas Silvestres Protegidas agrupadas segundo categorias
Domínio/
Categoria Nome Descrição
Administração
Áreas naturais com ecossistemas que contêm
características geomorfológicas relevantes ou
I Reserva Científica representativas, bem como espécies da fauna e da flora, e
que sob proteção abrangente e rigorosa, destinam-se à
Proteção restrita

pesquisa científica e ao monitoramento ambiental


Público
Áreas naturais com ecossistemas que contêm
características geomorfológicas em destaque, assim
II Parque Nacional como espécies representativas de uma região natural e
que sob proteção se destinam à pesquisa científica,
educação ambiental e turismo de natureza.
Áreas que contêm características físicas naturais ou
culturais únicas e de excepcional valor cultural e que,
III Monumento Natural
sob proteção são destinadas à pesquisa científica e a
recreação, quando as condições permitirem.
Áreas preferencialmente naturais destinadas à
Refúgio de Vida
IV conservação de espécies e ecossistemas através do Público direto e
Silvestre
manejo ativo indireto
Áreas naturais destinadas à proteção de paisagens
Uso flexível

V Paisagem Protegida
terrestres e aquáticos e a recreação
Áreas que permitem a manutenção da diversidade
Reserva de Recursos
VI biológica com o uso sustentável de ecossistemas e seus
Gerenciados
componentes
Áreas que permitam o uso flexível que e a coexistência
Reserva da Biosfera harmoniosa de diferentes tipos de uso e conservação, Público
incluindo outras categorias de manejo.
Áreas naturais que atendem às características de uma
Reserva Científica ou Parque Nacional, mas por várias
Público direto e
Reserva Ecológica razões, como: tamanho, posse da terra, forma e grau de
indireto
alteração não se qualificam para serem incluídas nas
categorias mencionadas
Áreas naturais situadas em propriedades privadas que
contêm amostras de ecossistemas considerados
Reserva Natural importantes para a conservação da biodiversidade e, ao Privado
mesmo tempo, são utilizadas para a realização de
atividades produtivas de maneira sustentável
Porções do território nacional que contenham
ecossistemas naturais, seminaturais ou modificados, com
Uso especial
Especial

Corredores Biológicos o objetivo de restaurar e/ou manter o fluxo e a


ou de Biodiversidade* conectividade de elementos dos sistemas a fim de
assegurar os processos ecológicos e os serviços
ambientais que promovem
Ecossistemas naturais e/ou modificados que além de
conter valores de biodiversidade, benefícios ecológicos e
Sujeito a
Territórios Indígenas valores culturais voluntariamente conservados pelos
regulamentação
de Conservação* povos indígenas e comunidades locais, sejam eles
sedentárias ou móveis, e por meio de leis
consuetudinárias ou outros meios eficazes de proteção
Áreas destinadas a proteger paisagens e biodiversidade
aquática e ictiofauna de maneira que as gerações
Reservas Ícticas* presentes e futuras tenham a oportunidade de proteger e
valorar os serviços ecossistêmicos das Reservas Ícticas,
assegurando os processos ecológicos e biológicos
Fonte: Resolução N° 200/01 (PARAGUAY, 2001); *Incluídas como categorias de manejo pela
Resolução Nº 562/17 (PARAGUAY, 2017) (tradução nossa).
Organizado pela autora.

190
A inclusão dessas três novas categorias representa um importante avanço das
políticas públicas ambientais no Paraguai. A modificação e ampliação da Resolução Nº
200 de 2001, segundo a SEAM, visa contribuir para o enriquecimento e aumento dos
mecanismos de conservação, bem como do patrimônio ambiental existente e converge no
cumprimento dos compromissos internacionais aprovados e ratificados pelo Estado,
como a Convenção sobre Diversidade Biológica.

Dessa forma, a SEAM abre espaço para incluir os territórios indígenas no manejo
de áreas protegidas do SINASIP, promovendo o interesse das comunidades indígenas na
conservação e preservação da biodiversidade, fortalecendo as ações de desenvolvimento
sustentável e demonstrando a importância das populações locais em potencializar os
serviços ambientais das ASPs.

Faz-se necessário destacar que algumas informações importantes relativa às


ASP’s de todo território nacional se encontram desatualizadas em órgãos oficiais, até
mesmo em publicações científicas. Contudo, apesar das informações disponíveis não
contarem com uma atualização recente, o levantamento desses dados é de suma
importância no contexto da pesquisa para avaliar a efetividade das ações de políticas de
conservação e preservação dos recursos naturais.

No estudo realizado pela Associação Guyra Paraguay verificou-se a


representatividade do SINASIP e os “vazios” de atuação do sistema, demonstrando que
o Paraguai possui 101 ecossistemas, dos quais 55 se encontram em algum nível de
proteção, todavia, 14 ecossistemas possuem proteção insipiente, com menos de 5% de
sua área total inseridas no SINASIP; 8 possuem níveis de proteção entre 5 e 10% e; 24
têm 10% de sua área protegida pelo sistema (GAP, 2006) (Figura 68).

Figura 68. Número de ecossistemas identificados para cada ecorregião do Paraguai.


Fonte: SINASIP (2007).

191
O SINASIP reconhece as lacunas existentes e assinala que a criação e gestão de
áreas protegidas esbarram em barreiras de várias direções, por um lado aqueles que
percebem as áreas protegidas como inimigas do desenvolvimento e do outro lado aqueles
que as veem como ameaça contra os direitos das populações rurais mais pobres, o qual
dependem da extração dos recursos naturais para viver (SINASIP, 2007).

Portanto, os esforços nacionais, públicos e privados para garantir a


representatividade do Sistema no país tem sido dividido por ecorregiões para que sejam
complementares (Tabela 28).

Tabela 28. Áreas Silvestres Protegidas pertencentes a cada ecorregião paraguaia.


Ecorregiões Área Silvestre Protegida
Part. Relativa/
Nível I Nível II Área (ha) Área (ha)
Ecorregião
Alto Paraná 3.351.000 129.500 3,8
Mata Atlântica do Alto
Amambay 920.700 20.850 2,2
Paraná
Selva Central 3.840.000 380.200 9,9
Aquidabán 1.070.000 330.200 30,8
Chaco Úmido 5.192.760 311.500 6
Chaco Úmido
Litoral Central 2.631.000 38.850 1,4
Ñeembucu 3.570.000 186.750 5,2
Chaco Seco 12.721.160 2.648.000 20,8
Chaco Seco
Médanos 757.680 603.350 79,6
Cerrado 1.227.920 1.227.920 100
Pantantal 4.202.310 302.500 7,2
Fonte: MADES – DGPCB (2019).
Organizado pela autora.

A cobertura das grandes ecorregiões ocasiona uma riqueza de biodiversidade,


sendo consideradas de grande valor para conservação (DINERSTEIN et al., 1995;
MITTERMEIER et al., 1998; OSLON; DINERSTEIN, 2002). É difícil encontrar uma
região no Paraguai que não seja um complexo de pelo menos duas ecorregiões diferentes,
proporcionando ao país grandes ecótonos (GUYRA PARAGUAY, 2008).

A Mata Atlântica e o Cerrado, considerados hotsposts para conservação da


biodiversidade, devido ao grande número de espécies endêmicas combinadas à perda
vertiginosa de hábitat (MYERS et al., 2000), enquanto o Gran Chaco (Chaco Humédo e
Chaco Seco) e o Pantanal foram indicados como duas das últimas Áreas Selvagens
(Wilderness Areas) devido a suas condições de preservação, riqueza de biodiversidade e
baixa densidade de população humana (MYERS et al., 2000).

192
Nesse contexto destacam-se o apoio de agências de cooperação internacional que
apostam no fortalecimento das ASP’s privadas. Assim como projetos gerenciados pela
Associação Guyra Paraguay, um deles, em parceria com a BirdLife International consiste
na identificação de sítios importantes para a conservação de aves, conhecidas como IBA
(Important Bird Area).

O Paraguai possui atualmente 57 IBAs, que recobrem um território de 3,3 milhões


de hectares (BIRDLIFE INTERNATIONAL, 2020), o que corresponde a 8,2% da área
total do país, distribuídas em todos os departamentos e com boa representação nas
ecorregiões do país, exceto no Chaco Úmido e na Mata Atlântica, devido, principalmente
ao nível de desmatamento dessas ecorregiões.

Outro ponto importante é que das 57 IBAs, 26 coincidem com as Áreas Silvestres
Protegidas (ASP), nesse sentido, 67% (2.255.100 hectares) da área total das IBAs estão
oficialmente protegidas por alguma categoria de ASP (CARTES e CLAY, 2009) (Tabela
29).

193
Tabela 29. Important Bird Areas (IBAs) no Paraguai e as ASPs coincidentes.

Fonte: Cartes e Clay (2009)


Organizado pela autora.

194
Deveras, isso não implica em considerar a efetiva proteção dessas áreas, devido a
falta de implementação do SINASIP e as sérias dificuldades enfrentadas por muitas áreas
protegidas. Mas, de fato várias experiências positivas resultaram do trabalho recente de
conservação nas IBAs, como a conscientização, o monitoramento remoto rural, através
da utilização de SIG, conjuntamente com o desenvolvimento das políticas nacionais de
desenvolvimento sustentável (GUYRA PARAGUAY, 2008).

5.4. Análise do panorama das áreas protegidas na faixa de fronteira

Ao considerar a mesma faixa de 150 km a partir da linha internacional no território


paraguaio, identifica-se 20 ASP’s que somam mais de 2 milhões de hectares, o que
corresponde a 35% das ASP’s no Paraguai (Tabela 30).

Tabela 30. Superfície ocupada e número de áreas protegidas na faixa de fronteira do Paraguai
Categoria Número Área (ha)
Parque Nacional 5 245.400
Reserva Ecológica 1 3.323
Paisagem Protegida 1 44
Reserva das Entidades Binacionais 4 30.501
Reserva Natural 6 138.288
Reserva da Biosfera* 3 2.104.197
Total 20 2.521.753
*Só a área que corresponde a faixa de fronteira de 150 km
Fonte: SINASIP (2007).
Organizado pela autora.

No Quadro 4 estão listadas as áreas protegidas do Paraguai segundo o SINASIP,


apresentadas segundo a categoria o qual pertencem, sua área de abrangência e se estão
inseridas na faixa de fronteira. Dentre aquelas que estão localizadas na faixa de fronteira,
destacamos as áreas protegidas que serão analisadas em maior nível de detalhe mais
adiante no item 6.1, a partir de quadrantes selecionados.

Em relação as comunidades indígenas, os dados do III Censo Nacional de


Población y Vivenda para Pueblos Indígenas (2012) indica que a população é de 117.150
pessoas, representando 2% do total de habitantes no país. São 19 povos pertencentes a 5
grupos linguísticos e distribuídos em 13 dos 17 departamentos: Central, Guairá,
Caaguazú, Caazapá, Itapúa, Alto Paraná, Canindeyú, San Pedro, Amambay, Boquerón,
Presidente Hayes, Alto Paraguay e Asunción (DGEEC, 2014).

195
De acordo com o informe do Relatório Especial sobre Povos Indígenas da ONU
(2015) a taxa de pobreza da população indígena no país é de 75% e 60% de pobreza
extrema. Portanto, as comunidades indígenas são altamente dependentes dos recursos
naturais, 81% das atividades econômicas desses povos estão concentradas no setor
primário (agricultura, caça e pesca).

Muitas das populações tradicionais enfrentam dificuldades para sua sobrevivência


por conta da degradação de seus territórios e, no caso das terras indígenas, que guardam
expressivas áreas conservadas, sofrem constantemente pressões do entorno. A
manutenção dos serviços ambientais, já prestados pela natureza, depende diretamente da
conservação e/ou preservação ambiental, relacionadas com boas práticas que reduzam os
impactos inerentes das ações humanas somadas ao desperdício ou à degradação de
recursos naturais.

196
Quadro 4. Áreas protegidas no Paraguai segundo a classificação do SINASIP

Área Faixa de Faixa de


Categoria Nome área protegida Categoria Nome área protegida Área (ha)
(ha) fronteira fronteira
Monumento Refúgio de Vida
Moises Bertoni 233 Não Yabebyry 31.540 Não
Científico Silvestre
Laguna Meãndez 214 Não Reserva Científica Ybera 1.756 Não
Cerro Chovoreca 98.858 Não Capibary 3.323 Sim
Reserva Ecológica
Cerro Koi 23 Não Banco San Miguel y Bahia de Asunción 744 Não
Cerro Chorori 6 Não Cerrado del Rio Apa 238.920 Sim
Laguna Sisi 767 Não Reserva da Biosfera Gran Chaco 4.601.452 Sim
Monumento Macizo Acahay 2.557 Não Mbaracayú 292.823 Sim
Natural Cerro Cabrera - Timane 121.698 Não Cerro dos de Oro 44 Sim
Santa Helena 35 Não Paisagem Protegida Ycua Bolaños 9 Não
Caverna Kamba Hopo 17 Não Salto del Monday 395 Não
Tres Cerros Santa Caverna 140 Não Reserva Natural Pikyry 1.712 Não
Cerro Morado Caverna Ycua Pai 77 Não Reserva Biológica Itabo 13.906 Sim
Isla Susu 4.380 Não Refúgio Biológico Tati Yupi 1.708 Sim
Lago Ypoa 119.648 Não Refúgio Biológico Mbacarayú 1.491 Sim
Reserva das Entidades Reserva Biológica Limo’y 13.396 Sim
Cerro Cora 5.735 Sim Binacionais Reserva Natural Carapý 3.683 Sim
Tinfuque 175.353 Não Reserva Biológica Isla Ycyreta 8.584 Não
Teniente Agripino Enciso 39.669 Não Refúgio de Vida Silvestre Yvytu Rokai 3.944 Não
Caazapa 13.326 Não Reserva Natural Arroyo Aguapey 9.485 Não
Ybyci 5.122 Não Jukyty Guasú 4 Não
Serrania San Luis 10.750 Sim Reserva Nacional Kuri’y 2.012 Não
Paso Bravo 94.134 Sim Reserva Natural Municipal Huasipango 78 Não
Parque Nacional Zona Nacional de Reserva Cerro
Bella Vista 7.437 Sim 27 Não
Outras Categorias Lambare
Reserva para Parque Nacional Carrizales
Ñacunday 2.329 Não 9.134 Não
del Paraná
Reserva para Parque Nacional Isla
San Rafael 66.873 Não 4.390 Não
Carrizl
Saltos del Guairá 620 Não Humedales del Bajo Chaco 8.327 Não
Defensores del Chaco 724.235 Não Aya Guazu 290 Não
Reserva de Recursos
Medanos del Chaco 608.235 Não Edelira 1.087 Não
Gerenciados
Rio Negro 127.344 Sim Lago Ypacarai 33.798 Não
Ybytyruzu 26.861 Não

197
continuação
Faixa de Faixa de
Categoria Nome área protegida Área (ha) Categoria Nome área protegida Área (ha)
fronteira fronteira
Vila Josefina 182 Não Itakyty 189 Não
Canãda del Carmen 3.984 Não Maharishi 77 Não
Arcadia 4.761 Não Guyrati 3.806 Não
Punie Oasoi 3.663 Não Riacho Florida II 1.079 Não
Yaguarete Porã 27.797 Não Arrecife 7.815 Não
Bosque Mbaracayú 65.436 Sim Bosque Arary 52 Não
Reserva Natural
Cuenca del Arroyo
Bosque Yvyraty 265 Não 792 Não
Tacury Chopy Sayju
Arroyo Blanco 5.965 Sim Ñu Guazu 49.831 Não
Morumbi 30.866 Sim Lote I 4.967 Não
Estancia Salazar 12.285 Não La Morena 1.279 Não
Ka’í Rague 1.778 Sim El Ceibo 5.821 Não
Palmar Quemado 9.720 Não
Reserva Natural
Toro Mocho 17.778 Não Estero Milagro 26.644 Não
Laguna Teniente Rojas
Cerrados del Tagatiya 5.309 Sim Ramsar Site 12.684 Não
Silva
Tagatiya mi 28.914 Sim Laguna Chaco Lodge 1.569 Não
Estrella 1.017 Não
Guaycan I II III 1.455 Não
Piroy 13 Não
Laguna Blanca 814 Não
Tabucai 563 Não
Yguasú 1.465 Não
Tapiracuai 3.109 Não
Natural Ypeti 13.552 Não
Tapyta 4.798 Não
Fonte: SINASIP (2007); UNEP-WCMC (2019).
Organizado pela autora.

198
No território sul-mato-grossense apenas cerca de 300 mil hectares estão sob o
resguardo de UC’s de proteção integral, o que corresponde a 0,86% do território,
distribuídos em 25 unidades, no qual 92.886 ha pertencem a esfera federal, 187.876 ha a
esfera estadual e 30.561 ha a esfera municipal. Já as UC’s de uso sustentável abrangem
15,3% do território estadual, sendo que 4,874 milhões de hectares pertencem a categoria
menos restritiva de APA, no qual 85% estão sob a gestão municipal (Tabela 31 e Figura
69).

Tabela 31. Superfície ocupada e número de unidades de conservação no Mato Grosso do Sul
Part.
Part. Relativa/
Categorias de Unidades de Conservação Número Área (ha) Relativa/
Estado (%)
Grupo (%)
Parques Nacionais 3 92.886 30,3 0,26
Proteção
Integral

Parques e Monumentos
7 187.876 59,7 0,51
Naturais Estaduais
Parques e Monumentos
15 30.561 9,9 0,09
Naturais Municipais
Total PI 25 306.324 100 0,86
RPPN Federal 12 81.234 56,8 0,23
Sustentável

RPPN Estadual 38 61.610 43,1 0,17


Uso

APA Federal 1 713.370 14,4 2


APA’s Estaduais 2 25.548 0,53 0,07
APA’s Municipais 37 4.135.639 84,8 11,5
Total US 90 5.017.402 100 15,3
TOTAL UC’s 115 5.354.285 - 16,1
Fonte: IMASUL (2015).
Organizado pela autora.

Figura 69. Percentual da superfície ocupada por grupos de UC's e por esfera governamental de gestão no
Mato Grosso do Sul
Fonte: IMASUL (2019).
Organizado pela autora.

199
As UC’s da faixa de fronteira no território sul-mato-grossense abrangem 2,3
milhões de hectares, o que corresponde a 44% do total, sendo que aquelas pertencentes
ao grupo de Proteção Integral somam 180 mil hectares e no grupo de Uso Sustentável são
2,1 milhões de hectares, representando 59% e 43%, das UC’s fronteiriças,
respectivamente (Tabela 32).

No Quadro 5 é possível verificar a lista das UC’s do estado de Mato Grosso do


Sul distribuídas segundo a categoria o qual pertencem, sua área de abrangência e se estão
inseridas na faixa de fronteira. Dentre aquelas que estão localizadas na faixa de fronteira,
destacamos as UC’s que serão analisadas em maior nível de detalhe mais adiante no item
6.1, a partir de quadrantes selecionados.

Tabela 32. Superfície ocupada e número de unidades de conservação na faixa de fronteira do Mato
Grosso do Sul
Part. Relativa das
Categorias de Unidades de Part. Relativa/
Número Área (ha) UC’s do Estado
Conservação Grupo (%)
(%)
Proteção Parques 10 179.912 7,6 60,4
integral Monumentos Naturais 2 291 0,01 1,6
Uso RPPN’s 15 14.464 0,6 23,5
Sustentável APA’s 20 2.181.187 91,8 44,7
Total 47 2.375.854 100 47,4
Fonte: IMASUL (2019).
Organizado pela autora.

200
Quadro 5. Áreas protegidas no Mato Grosso do Sul segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).

Unidades Federais UC Área (ha) Faixa de Unidades Estaduais UC Faixa de


Área (ha)
fronteira fronteira
Parque Nacional das Emas 3.824 Não Vale do Bugio 97 Não
Parque Nacional da Serra da
76.480 Sim Cabeceira do Prata 307 Sim
Parque Nacional (PARNA) Bodoquena
Reserva Sabiá 73
Parque Nacional de Ilha Grande 12.581 Sim Não
Área de Proteção Ambiental APA Ilhas e Várzeas do Rio
584.998 Sim Cabeceira da Lagoa 435 Não
(APA) Paraná
Fazendinha 9.619 Sim Cachoeira do São Bento 3.068 Não
Morro da Peroba 607 Sim Cara da Onça 11 Sim
Paculândia 8.232 Sim Cisalpina 3.858 Não
Penha 13.100 Sim Duas Pedras 154 Não
Estância Ambiental Quinta
Acurizal 13.200 Sim 9 Não
Reserva Particular do do Sol
Patrimônio Natural (RPPN) Buraco das Araras 29 Sim Estância Mimosa 274 Sim
Dona Aracy/Caiman 5.672 Sim Fazenda da Lagoa 150 Não
Olhos Verdes (Faz. Margarida) 2.020 Sim Fazenda Santo Antônio 3.907 Sim
Arara Azul 2.000 Sim Reserva Particular do Fundão 252
Patrimônio Natural
Reserva Natural Eng. Eliezer
12.747 Sim (RPPN) Neivo Pires I 2.699 Sim
Batista
Faixa de
Unidades Estaduais UC Área (ha) Neivo Pires II 393 Sim
fronteira
Prosa 135 Não Pata da Onça 8.141 Sim
Das Matas do Segredo 188 Não Pioneira do Rio Piquiri 198 Sim
Parque Estadual Das Nascentes do Rio Taquari 30.618 Não Rancho do Tucano 30 Sim
Das Várzeas do Rio Ivinhema 73.345 Sim Reserva do Saci 178 Sim
Pantanal do Rio Negro 78.302 Sim Santa Angélica 2.108 Não
Área de Proteção Ambiental Estrada Parque Piraputanga 10.108 Sim Fazenda São Pedro 3.717 Sim
Estadual (APA) Rio Cênico Rotas Monçoeiras 15.440 Não Trilhas do Sol 78 Não
Monumento Natural Gruta do Lago Azul 274 Sim Fazenda Rio Negro 7.647 Sim
Estadual (MONA) Rio Formoso 18 Sim Vale do Anhanduí 988 Não
Fazenda Poleiro Grande 16.530 Sim Fazenda São Geraldo 642 Sim
Reserva Particular do UFMS 62 Não Fazenda Santa Cecília - II 8.729 Sim
Patrimônio Natural (RPPN) RPPN Gavião Penacho 77 Não Fazenda Nhumirim 862 Sim
RPPN Xodó Vô Ruy 487 Sim Vale do Sol II 504 Não

201
continuação

RPPN Laranjal (Cabeceira do APA da Microbacia do rio


475 Não 30.277 Sim
Mimoso) Dourados
RPPN São Pedro da Barra 88 Sim APA do Rio Anhanduí 68.376 Não
Reserva Particular do
APA Sete Quedas do Rio
Patrimônio Natural (RPPN) RPPN Rumo ao Oeste 990 Sim 19.019 Não
Área de Proteção Verde
Ambiental Municipal APA do Córrego Ceroula e
RPPN Ponte de Pedra 266 Não 44.012 Não
(APA) Piraputanga
Área Faixa de
Unidades Municipais UC APA Salto Pirapó 96.127 Sim
(ha) fronteira
APA da Bacia Rio Iguatemi 140.978 Sim APA do Rio Verde 194.503 Não
APA Rio Amambai 56.884 Sim APA Baia Negra 6.120 Sim
APA Jupiá 186 Não PNM de Sete Quedas 19 Sim
APA da Sub-bacia do Rio Pardo 101.562 Não PNM Lagoa Comprida 74 Sim
APA da Sub-bacia do Rio 57.090
Não PNM do Pombo 3.334 Não
Cachoeirão
APA dos Mananciais Superficiais
150.281 Sim PNM Templo dos Pilares 100 Não
das Nascentes do Apa
APA do Ceroula 66.954 Não PNM de Anastácio 3 Sim
APA dos Mananciais do Córrego
3.550 Não PNM Piraputangas 1.298 Sim
Lageado
Parque Natural
APA Nascente do Rio Amambai 10.070 Sim PNM da Lage 6 Não
Municipal (PNM)
APA dos Mananciais do Córrego
35.533 Não PNM Salto do Sucuriú 39 Não
Guariroba
Área de Proteção Ambiental APA da Bacia do Rio Sucuriú 303.929 Não PNM das Capivaras 64 Não
Municipal (APA) APA da Sub-bacia do Rio
25.649 PNM do Córrego Cumandaí 8 Sim
Ivinhema
APA das Nascentes do Rio
410.283 Não PNM Cachoeira do Apa 58 Sim
Sucuriú
APA Córrego do Sítio 3.105 Não PNM de Naviraí 16.240 Sim
APA das Nascentes do Rio APA 19.617 Sim PNM do Paragem 16 Sim
APA da Sub-bacia do Rio Apa 197.202 Sim MN Serra do Figueirão 5.047 Não
APA das Bacias do Rio Aporé e
298.703 Não Monumento Natural MN Serra do Pantanal 5.071 Não
Rio Sucuriú
Municipal
APA do Rio Perdido 36.145 Sim MN Serra do Bom Jardim 4.736 Não
APA da Sub-bacia do Rio Aporé 138.151 Não MN Serra do Bom Sucesso 2.665 Não
APA das Microbacias dos Rios
46.458 Sim Estação Ecológica Veredas de Taquarussu 3.065 Sim
Dourados e Brilhante
APA do Rio Aquidauana 45.055 Não
APA do Rio Sucuriu-Paraíso 308.958 Não
Fonte: IMASUL (2015) Organizado pela autora

Quadrante I Quadrante II Quadrante III Quadrante IV 202


No que concerne às terras indígenas no Mato Grosso do Sul, atualmente há 47
TI’s que ocupam 2,51% do território, o que equivale a 895.229 hectares, 34 TI’s estão
localizadas em na faixa de fronteira e correspondem a 88% da área total de TI’s (Tabela
33 e Figura 71). Destaque para as TI’s que serão analisadas mais detalhadamente no item
6.1 (Quadro 6).

Tabela 33. Percentual da área ocupada por categorias de terras indígenas


Part. Relativa/
Situação da TI Número Área (ha)
Grupo (%)
Regularizada 29 601.943 67,2
Homologada 5 28.164 3,1
Declarada 9 135.999 15,2
Delimitada 4 129.123 14,5
Total 47 895.229 100
Fonte: FUNAI (2016).
Organizado pela autora.

Figura 70. Situação das terras indígenas no âmbito da FUNAI


Fonte: FUNAI (2016).
Organizado pela autora.

Em todo caso, o processo de demarcação de terras indígenas e a sobrevivência


desses povos nas áreas altamente especializadas é um vetor de constantes conflitos
fundiários, sobretudo nessa faixa de fronteira que é marcada por processos de
colonização, ocupação e expropriação de indígenas. Sublinha-se que 15 das 47 terras
indígenas tradicionalmente ocupadas já regularizadas, homologadas ou declaradas nesse
território não se encontram na posse plena das comunidades indígenas (Figura 70).

203
Quadro 6. Superfície das terras indígenas no Mato Grosso do Sul classificadas segundo situação na
FUNAI

Faixa de
Terra indígena Município Área (ha) Situação
Fronteira
Amambaí Amambai 2.429 Regularizada Sim
Aldeia Limão Verde Amambai 689 Regularizada Sim
Arroio-Korá Paranhos 7.175 Homologada Sim
Buriti Dois Irmãos do Buriti/
17.200 Declarada Não
Sidrolândia
Buriti Dois Irmãos do Buriti/
2.090 Regularizada Não
Sidrolândia
Buritizinho Sidrolândia 9,7 Regularizada Não
Caarapó Caarapó 3.594 Regularizada Sim
Cachoeirinha Miranda 2.658 Regularizada Não
Cachoeirinha Miranda 36.288 Declarada Não
Cerrito Eldorado 1.950 Regularizada Sim
Dourados Dourados / Itaporã 3.474 Regularizada Sim
Dourados-Amabaipeguá I Naviraí/ Amambai/
55.600 Delimitada Sim
Dourados
Guaimbé Laguna Caarapã 716 Regularizada Sim
Guasuti Aral Moreira 958 Regularizada Sim
Guató Corumbá 10.984 Regularizada Sim
Guyraroká Caarapó 11.440 Declarada Sim
Iguatemipegua I Iguatemi 41.571 Delimitada Sim
Ivy-Katu
Jaguapiré Tacuru 2.342 Regularizada Sim
Jaguari Amambai 404 Regularizada Sim
Jarará Juti 479 Homologada Sim
Jatayvari Ponta Porã 8.800 Declarada Sim
Kadiwéu Porto Murtinho / Corumbá 538.535 Regularizada Sim
Lalima Miranda 3.000 Regularizada Não
Limão Verde Aquidauana 5.377 Regularizada Não
Ñande Ru Marangatu Antônio João 9.317 Homologada Sim
Nioaque Nioaque 3.029 Regularizada Sim
Nossa Senhora de Fátima Miranda 89 Regularizada Não
Ofayé-Xavante Brasilândia 1.937 Declarada Não
Ofayé-Xavante Brasilândia 484 Regularizada Não
Panambi – Lagoa Rica Itaporã/ Douradina 12.196 Delimitada Sim
Panambizinho Dourados 1.272 Regularizada Sim
Pilad Rebuá Miranda 208 Regularizada Não
Pirajuí Paranhos 2.118 Regularizada Sim
Pirakuá Bela Vista / Ponta Porã 2.384 Regularizada Sim
Porto Lindo Japorã 1.648 Regularizada Sim
Potreto Guaçu Paranhos 4.025 Declarada Sim
Rancho Jacaré Laguna Caarapã 777 Regularizada Sim
Sassoró Tacuru 1.922 Regularizada Sim
Sete Cerros Paranhos 8.584 Homologada Sim
Sombrerito Sete Quedas 12.637 Declarada Sim
Sucuriy Maracajú 537 Regularizada Sim
Takuaraty/Yvykuarusu Paranhos 2.609 Homologada Sim
Taquaperi Coronel Sapucaia 1.804 Regularizada Sim
Taquara Juti 9.772 Declarada Sim
Taunay/Ipegue Aquidauana 33.900 Declarada Não
Taunay/Ipegue Aquidauana 6.461 Regularizada Não
Ypoi/Triunfo Paranhos 19.756 Delimitada Sim
Fonte: FUNAI (2015)
Organizado pela autora.

Quadrante I Quadrante II Quadrante III Quadrante IV

204
205
Figura 71. Áreas protegidas na faixa de fronteira Brasil/ Mato Grosso do Sul e Paraguai
5.4.1. Os conflitos decorrentes dos interesses diversos dos atores sociais

A faixa de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai é a região que mais
concentra comunidades indígenas no estado, ademais a região sul é um dos centros mais
expressivos de assentamentos rurais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra
(MST), paralelamente, foram estas as áreas mais atingidas pelas políticas fundiárias e o
avanço do agronegócio. A combinação dos diferentes interesses desses atores sociais foi
e ainda é fator determinante para acirrar os conflitos e intensificar os impactos neste
território.
Os conflitos relacionados as populações indígenas, bem como referente a questão
agrária estão diretamente relacionados aos processos históricos de ocupação do estado.
Nesse processo, o Estado foi o principal ator, as políticas conduzidas pelo governo
nacional com o objetivo de povoar a região, assim como desenvolvê-la, como esclarecido
no Capítulo 2, permitiu a posse e a concentração fundiária, suscitando disputas de toda
ordem nesse território (Figura 72).
Número de conflitos

Figura 72. Conflitos por terra no Mato Grosso do Sul entre 1985 e 2018
Fonte: CPT (2017)
Organizado pela autora.

Ao passo em que o agronegócio avança nos limítrofes dos territórios indígenas, se


intensificam o número de conflitos pela terra, como apresentado na Figura 73, em que é
possível observar o crescimento no número e na área de conflito

206
Figura 73. Índices de casos e áreas de conflito no Mato Grosso do Sul para os cenários de 1997 e 2017 para a área de fronteira
Fonte: CPT (2017)
207
Organizado pela autora.
Fabrini (2012) destaca que é nesse cenário dos conflitos entre o agronegócio e o
campesinato que emerge a luta dos camponeses brasiguaios17, componentes singulares da
fronteira Brasil/ Paraguai. Segundo o autor, apesar de serem denominados de brasiguaios
pelos meios de comunicação no Brasil, os fazendeiros brasileiros que se dedicam a
produção de soja diferem muito destes, devido principalmente, a condição social, política
e econômica.

Nessa faixa de fronteira os latifundiários brasileiros possuem vastas extensões de


terra além de maquinários, silos de armazenamento de grãos, até mesmo portos no Rio
Paraguai, como é o caso do brasileiro Tranquilo Favero, conhecido como o “rei da soja”
do Paraguai. Esses grandes fazendeiros brasileiros concentram-se, essencialmente., nos
departamentos de Alto Paraná, Canindeyú, Caaguazú, Itapúa e Amambay (VILLAGRA,
2009).

Corroborando com essa análise, Pereira (2020) aponta que a fronteira da Região
Oriental do Paraguai concentra a grande maioria dos conflitos gerados por empresas do
agronegócio, latifundiários de capital estrangeiro e comunidades camponesas. Nessa
região concentra-se o capital brasileiro, principalmente devido a introdução do cultivo da
soja na década de 1970 e que a consolidou produtora de soja do país. Simultaneamente,
o avanço dessa fronteira agrícola desloca a pecuária para a Região Ocidental do país.

Dessa condição derivam os conflitos indiretos com o Estado paraguaio (Figura


74), uma vez que é conivente com as ações de empresas do agronegócio nacional e
estrangeira, sobretudo brasileiras, seja através das políticas públicas que favoreçam
majoritariamente o setor ou da criminalização dos movimentos sociais (PEREIRA, 2020).

17
Brasiguaio é um termo utilizado para designar “sujeitos sociais da fronteira, meio-brasileiro e meio-
paraguaio, e estão presentes tanto no Brasil (Oeste do Paraná e Sul de Mato Grosso do Sul), quanto no
Paraguai (Departamentos de Alto Paraná, Canindeyú, Amambay e Concepción). A existência dos
brasiguaios está relacionada à sua organização nos movimentos de luta pela terra no Brasil e aos
deslocamentos demográficos e de capitais na fronteira (FABRINI, 2012, p. 2–3).

208
Figura 74. Recorte de matéria de jornais sobre os conflitos na fronteira

209
O descompasso entre as dinâmicas territoriais conduzidas pelo modelo de
desenvolvimento e as medidas de conservação e preservação geram polaridades
ambientais, sociais e econômicas que acabam produzindo discursos excludentes em que
o valor de uso da terra e de conservação e preservação dos recursos naturais se opõem.

Nesse contexto, salientamos que a preservação dessas áreas protegidas não é


apenas a conservação da vegetação, além de ser um ambiente natural formado por um
conjunto de elementos como clima, relevo, solo, água, fauna, flora, que possuem serviços
e funções ecossistêmicas a eles associados, esses territórios também se constituem em
elementos históricos que resultaram, quase sempre, do embate da apropriação e dos
interesses dos diversos atores sociais (camponeses, povos indígenas, quilombolas,
assentados, latifundiários agrícolas, pecuaristas, pesquisadores, etc), a partir de suas
escalas de poder, bem como de suas dinâmicas territoriais.

Torna-se evidente que as áreas protegidas, constituem-se, hoje, na principal e


mais efetiva estratégia para conter a crescente exploração dos recursos ambientais e a
contínua fragmentação das áreas de vegetação, sobretudo do Cerrado brasileiro e do
Chaco paraguaio.

210
C APÍTULO 6

Análise do uso e ocupação das terras nas


áreas protegidas da fronteira sul-mato-
grossense e paraguaia

211
A representação imaginária está carregada de afetividade e de
emoções criadoras e poéticas, de valores, emoções e expectativas
que temos em relação a ela. Com a natureza não é diferente. Desde
que o mundo é mundo, o homem vive com ela um misto de conflito
e admiração (FUNDO VALE, 2012, p. 50)

A necessidade de amparo legal às áreas protegidas está atrelada a suas


características naturalmente frágeis e sua importância social e cultural. Do ponto de vista
ambiental, quando submetidas a ações de degradação podem resultar desequilíbrios, nos
diversos compartimentos bióticos e abióticos que integram os ecossistemas. Sob o aspecto
social esses impactos e prejuízos são sentidos na própria pele. Dessa forma, como objetivo
desse capítulo, visamos apresentar uma abordagem sobre áreas protegidas – Unidades de
Conservação e Terras Indígenas, no Mato Grosso do Sul e Áreas Silvestres Protegidas no
Paraguai – inseridas na faixa de fronteira, contextualizando-as a partir de suas
características, localização no território e do uso e ocupação das terras em seu interior.

6.1. Áreas Protegidas: segunda aproximação a escala de análise

A construção dessa tese é permeada pela articulação entre as escalas geográficas,


assim como “a realidade observada que é simultânea e multiescalar” (VENTURI, 2011).
Consideramos essa condição fundamental para analisar as especificidades desse território
tão diverso que é a fronteira.
Nessa seção procuramos exercitar a prática de articular dados, informações e os
fatos observados em campo com o arcabouço teórico. Integrar esse rol de informações
nas diferentes escalas perpassa identificar as características físicas ou naturais, como tipo
de relevo, solo, vegetação etc. associando ao processo de apropriação desse território pelo
modelo econômico agroexportador.
Na escala de análise desse item, estabelecemos um recorte espacial de quadrantes,
para que a análise ganhe um caráter de maior nível de detalhamento. A definição dos
quatro quadrantes foi condicionada a heterogeneidade da fronteira e do ritmo e modo
diferenciados de ocupação espaço-temporal desse território, tendo como foco duas
principais tipologias de áreas protegidas: Unidades de Conservação e Terras Indígenas.

212
Não foram incluídas outras áreas legalmente protegidas como as Áreas de
Preservação Permanente (APP) e de Reserva Legal (RL), uma vez que estão relacionadas
ao tamanho dos cursos d’água e da propriedade rural, respectivamente, sendo que as RLs
podem, ainda, ser averbadas em outra propriedade, dessa forma, sua identificação é ainda
mais dificultosa e se distancia dos objetivos propostos nessa tese.

As informações de uso e cobertura das terras para o Mato Grosso do Sul foram
extraídas do banco de dados do projeto MapBiomas18 coleção 4.1, obtidos a partir de
imagens do satélite Landsat e disponibilizadas no formato geotiff com 30 metros de
resolução espacial. Posteriormente ao tratamento dos dados, seguiu-se para extração das
informações referente as UCs e TIs inseridas em cada quadrante e, utilizando a ferramenta
“Calculatora de Campo” do QGIS foram quantificadas as áreas correspondentes a cada
classe temática nos cenários de 1985, 1995, 2005 e 2018.

Para o Paraguai, a base de dados utilizada foi produzida pela European Space
Agency (ESA) Climate Change Initiative (CCI), esse programa tem por objetivo o
mapeamento global do uso e cobertura das terras. A metodologia ESA/ CCI envolve um
sistema de classificação denominado LCCS (Land Cover Classification System) em que
as classes são definidas hierarquicamente a partir de critérios como a presença de
vegetação, ambiente (terrestre ou aquático), artificialidade da cobertura etc. combinados
segundo uma fórmula booleana.

Para a escala de trabalho dessa tese, foram realizadas algumas adaptações


metodológicas, como a reamostragem dos pixels para 60 metros e a conversão para o
modelo temático, transformando os dados para o formato vetorial, a fim de calcular as
áreas referente a cada classe. Foram realizadas correções no mapeamento final a partir da
interpretação visual e padronizada a legenda conforme as classes de uso e cobertura das
terras definidas para a tese (Figura 75).

18
O projeto MapBiomas representa a primeira iniciativa multi-institucional para gerar mapas anuais de uso
e cobertura da terra para todo o território brasileiro, utilizando processos de classificação automática
aplicada a imagens de satélite Landsat.

213
Figura 75. Compatibilização da legenda da fonte de dados
Organizado e elaborado pela autora

214
Quanto as áreas protegidas destacadas nesses quadrantes, existem 13 unidades de
conservação, ocupando uma área de 1,2 milhão de hectares. Também estão nesse
território 28 terras indígenas, conformando uma área de 224 mil hectares. No total são 1,5
milhão de hectares legalmente atribuídos para unidades de conservação, terras indígenas,
assentamentos agrários e quilombolas, excluídas as sobreposições territoriais. Mas, é
preciso salientar que, nas Unidades de Conservação de Uso Sustentável pode ocorrer a
presença de assentamentos da reforma agrária e, sobreposições territoriais entre essas
unidades e terras indígenas. Das 13 UC’s, 10 pertencem a categoria de APA, que não
envolvem restrições mais rígidas de uso e, por vezes, não apresentam efetividade na
conservação, representando 92% da área de UC’s na região.

A distribuição das áreas protegidas nos quadrantes é apresentada na Tabela 34 e


Figura 76.

Tabela 34. Distribuição das UCs e ASPs na faixa de fronteira


Unidades de Conservação Terras Indígenas Áreas Silvestres Protegidas
Quadrantes Número Área (ha) Número Área (ha) Número Área (ha)
I 2 167.585 2 11.701 4 163.272*
II 6 391.573* 1 1.950 1 1.356
III 3 161.917 13 97.341 - -
IV 1 804.031 12 113.852 2 322.850*
*Excluídas as sobreposições e referente a faixa de fronteira
Elaborado pela autora.

215
Figura 76. Distribuição dos quadrantes abrangendo as UCs e ASPs na faixa de fronteira
Elaborado pela autora

216
6.1.1. Fronteira sudoeste – Quadrante I

Essa porção do território é marcada pelas marcas deixadas pelos conflitos da


Guerra do Paraguai (1864-1870). A invasão paraguaia nessa região, foi considerada o
estopim do conflito e se constituiu em um divisor de águas do processo de ocupação dessa
área. Diversos episódios bélicos foram travados nessa área e ainda podem ser encontrados
vestígios históricos desse embate em várias cidades dessa região (MATO GROSSO DO
SUL, 2015) (Figura 77.2).

No município de Antônio João, está localizado o Parque Histórico da Colônia


Militar dos Dourados (PH CMD), o qual abriga o acervo histórico e memoriais que
remontam a história da última batalha da Guerra do Paraguai. Na época da Guerra da
Tríplice Aliança, a CMD era um posto militar brasileiro avançado, comandado pelo
tenente Antônio João Ribeiro, tinha como finalidade auxiliar a navegação no interior,
defender e proteger os moradores até a fronteira do rio Iguatemi até o rio Apa.

O PH CMD foi criado pelo governo federal em 1977, com o objetivo de preservar
e divulgar o patrimônio histórico-cultural (Figura 77.1). De acordo com as informações
obtidas na entrevista com a CMO, o parque histórico, apesar de ser reconhecido pelo
IPHAN, carece de ações de divulgação sobre a importância histórica desse local.

Essa região ainda foi alvo do acirramento de disputas entre colonizadores ibéricos
pela posse de suas terras, as quais também envolveram a população indígena, a exemplo
dos Guarani, Guaicuru, Kadiweu, Terena, entre outros (MATO GROSSO DO SUL,
2015).

Apesar de não ser objetivo dessa tese trabalhar com aspectos histórico-culturais
da faixa de fronteira, entende-se que é importante apresentar os elementos que marcam
essa fronteira, pois as “rugosidades” (SANTOS, 2006) são características indissociáveis
do processo de apropriação do território.

217
1.a) Parque Histórico da Colônia Militar 1.b) Monumento em homenagem ao 1.c) A nascente do rio Dourados está
dos Dourados. tenente Antônio João, morto em batalha. localizada dentro das instalações do
PH CMD.
Fotos: Ferreira (2018)

2.b) Obelisco em homenagem a Batalha


2.a) Marcos em diferentes localidades do Episódio da Retirada da Laguna de Nhandipá ocorrida em 11 de maio de
1867, em Bela Vista – MS
Fotos: Ferreira (2018)
Figura 77. Aspectos marcantes da fronteira sudoeste do Mato Grosso do Sul

Na sequência, início do século XX, aparece a exploração econômica de empresas


de grande porte, como a Cia Matte Laranjeira, com o plantio da Erva-Mate que
monopolizou grande parte dessa região. O favorecimento na aquisição de vastas
extensões de terra, por parte do Estado, para exploração dos ervais nativos inicia o
primeiro ciclo de desmatamento nessa região. No Paraguai, além de imperar o cultivo da
erva-mate, houve também a extração do Quebracho, uma árvore do qual se extraía o
tanino – utilizado, principalmente, na indústria para curtir o couro.

A vegetação típica original dessa região é Cerradão e os Campos de Cerrado


(IBGE, 2012). Na rodovia de acesso entre Antônio João e Bela Vista, a MS-384, pode-se
observar boa parte dos fragmentos de Cerrado ainda preservados, entremeados aos
relevos testemunhos da Serra de Maracaju. Destaque-se que a Serra de Maracaju tem sua
formação inicial no território paraguaio e adentra o Mato Grosso do Sul no sentido
sudoeste a nordeste, pelo município de Antônio João, originando planaltos modelados

218
planos e dissecação com topos colinosos e tabulares, em forma de colinas (MATO
GROSSO DO SUL, 2015) (Figura 78).

Figura 78. Paisagens e áreas preservadas na faixa de fronteira de Antônio João e Bela Vista (MS) com o
Paraguai.
Fotos: Ferreira (2018)

Essa região abrange quatro áreas protegidas, sendo duas UC’s de uso sustentável
e duas terras indígenas. A primeira, a APA Municipal dos Mananciais Superficiais das
Nascentes do Rio Apa está localizada no município de Bela Vista e foi instituída pelo
Decreto Municipal 3688/2005, possuindo 150.281 hectares (IMASUL, 2015), o que
corresponde a 30% do território do município. Essa UC possui em seu interior a TI
Pirakuá, com 2.384 hectares sobrepostos a área da APA.

No entorno está uma UC de menor extensão, a APA Municipal das Nascentes do


Rio Apa, localizada na região noroeste de Ponta Porã, criada anteriormente pelo Decreto
Municipal 4743/2005 cuja área é de 17.304 hectares e a TI Ñande Ru Marangatu, com
9.317 hectares (Tabela 35 e Figura 79).

219
220
Figura 79. Áreas protegidas (UCs e TIs) do Quadrante 1
Tabela 35. Áreas protegidas no Mato Grosso do Sul - Quadrante 1, fronteira sudoeste.
Unidade de Conservação Ano de
Área (ha) Município(s)
Grupo Nome criação
APA Municipal dos
Sustentável
Uso Mananciais Superficiais das 150.281 Bela Vista 2005
Nascentes do Rio Apa
APA Municipal das
17.304 Antônio João 2005
Nascentes do Rio Apa
Área Fase do
Terra indígena Município(s)
(ha) processo
Bela Vista/
Pirakuá 2.384 Regularizada
Ponta Porã
Ñande Ru Marangatu 9.317 Antônio João Homologada
Fonte: IMASUL (2017); FUNAI (2015).
Organizado e elaborado pela autora.

É uma região de pecuária histórica e cultural, todavia também apresentam um


núcleo de modernização tecnológica, como melhoramento genético do rebanho de corte
e para cultivo da soja (MATO GROSSO DO SUL, 2015) (Figura 80). Tradicionalmente,
ainda que o uso e ocupação por atividades agropecuárias se constitua no principal agente
modificador da paisagem, é possível verificar a ocorrência de fragmentos de Mata
Atlântica preservados (Figura 80.3).

Segundo o ZEE-MS (MATO GROSSO DO SUL, 2015) essa área apresenta um


nível crescente de instabilidade em função, principalmente, dos desmatamentos que
alteram a estabilidade de áreas situadas em vertente íngremes.

1.a) A pecuária é a principal atividade econômica dessa área da fronteira


Fotos: Ferreira (2018)

221
2.a) Área recentemente preparada para cultivo na MS-384 no 2.b) A presença de solos de variados com diferentes aptidões
município de Antônio João. agrícolas nessa área permite também a utilização agrícola.
Fotos: Silva (2019) Fotos: Ferreira (2018)

3.a) Áreas de fragmentos de vegetação preservados, associados, principalmente aos cursos d’água e topo de morros.
Fotos: Ferreira (2018)
Figura 80. Produção agrícola e pecuária na faixa de fronteira sudoeste do Mato Grosso do Sul, nos
municípios de Antônio João e Bela Vista (MS).

Com relação ao uso das terras no interior das áreas protegidas observa-se que
àquelas que compreendem as TI’s tiveram um aumento de 30% na cobertura vegetal
natural, essa condição pode ser reflexo da distância dos centros produtores-consumidores,
grandes propriedades rurais com baixa densidade demográfica aliadas as limitações
físicas do relevo da Serra de Maracaju (Figura 81).

222
Além disso, a complexa rede de drenagens dessa área resguarda um mosaico de
áreas de vegetação natural, fragmentadas, mas ainda assim, conectadas pelos cursos
d’água, o que demonstra que esta região se encontra em processo de degradação restrito
(MATO GROSSO DO SUL, 2015), muito embora tenha se verificado um aumento de
desmatamento a partir dos anos 2000.
Na APA Municipal dos Mananciais Superficiais das Nascentes do Rio Apa
predomina a atividade pecuária, ocupando 69% (105.075 hectares) da área da UC, seguida
da área de vegetação nativa, correspondentes as formações florestais, savânicas e
campestres, com 43.089 hectares, o que equivale a 28% da área total. Contudo, no período
de 1985 a 2018 houve uma perda de 18% da cobertura vegetal nativa, enquanto a
pastagem teve um crescimento de 27% e as áreas de cultivo que ocupavam pouco mais
de 500 hectares passaram a ter quase 4 mil hectares no interior dessa UC.

Já a APA Municipal Nascentes do Rio Apa teve um incremento de 1.300 hectares


de área de vegetação nativa e uma perda de 47% na área de pastagens, que se converteram
em área de cultivo agrícola, principalmente do binômio soja/milho.

223
Figura 81. Distribuição da área ocupada por tipos de uso e ocupação nas UCs e Tis.
Elaborado pela autora.

A TI Ñande Ru Marangatu possui 38% de sua área ocupada pela vegetação


nativa, tendo um incremento de 1.768 hectares nos últimos 30 anos (1985 a 2018), seguida
pela pastagem, que ocupa 35% da área da TI e somente no último cenário de 2018 houve
um aumento substancial pelo cultivo agrícola, passando de 104 hectares, em 1985, para
2.769 hectares, atualmente.

A TI Pirakuá está localizada na área mais preservada da APA Municipal dos


Mananciais Superficiais das Nascentes do Rio Apa, abrangendo parte da borda da Serra
de Maracaju, possuindo 67% da sua área preservada e 31% dedicada a pecuária, sendo
que a área de cultivo agrícola é de cerca de 50 hectares.

224
No território paraguaio, o Quadrante 1 abrange quatro ASP’s, no qual, três estão
totalmente inseridas e apenas a Reserva da Biosfera Cerrado del Apa possui parte de sua
área incluía no quadrante (Tabela 36).

Tabela 36. Áreas protegidas no Paraguai - Quadrante 1, fronteira sudoeste


Categoria Área
Nome Departamento(s) Base legal
SINASIP (ha)
Decreto 20.713
Parque Nacional Bella Vista 7.311 Amambay
Parque Nacional de 1998
Parque Nacional Cerro Corá 5.538 Amambay Lei N. 2.614
Reserva Natural Arroyo
Reserva Natural 5.714 Amambay Decreto 14.944
Blanco
Amambay
Reserva da Biosfera Cerrado del Apa 144.709 Decreto 14.431
/Concepción
*correspondente a área do Quadrante 1
Fonte: SINASIP (2007); WDPA (2019)
Organizado pela autora.

As mudanças no uso e cobertura da terra observadas nas ASP’s no período de


1995 e 2018 (Figura 83) não são significativas, ao contrário das UC’s no Mato Grosso do
Sul, no interior das ASP’s o uso para atividades agropastoris diminuiu 18% (Figura 82).
Apesar de contar com a presença de uma comunidade, a Colonia San Isidro, no interior
do Parque Nacional Bella Vista, o qual ainda solicitam revogação do Decreto de criação
do Parque ao declarar que esta área está ocupada há mais de 20 anos pela comunidade
formada por pequenos produtores de gado e agricultores que se estabeleceram ali.

Essa região também se destaca pela produção de erva-mate, o município de Bella


Vista é conhecido como a “capital da erva-mate”, pois se dedica a atividade ervateira
desde o século passado.

Figura 82. Distribuição da área ocupada por tipos de uso e ocupação nas ASPs.
Elaborado pela autora.

225
Figura 83. Uso e ocupação no Quadrante I - fronteira sudoeste 226
Elaborado pela autora
6.1.2. Fronteira sudeste – Quadrante II

Sob influência do regime sazonal de inundação do rio Paraná, essa área da faixa
de fronteira forma grandes extensões de habitats aquáticos (campos de inundação, brejos,
banhados, lagoas) entremeados por formações pioneiras de influência fluvial e da Floresta
Estacional Semidecidual (STRAUBE e URBEN-FILHO, 2014). As características
paisagísticas dessa região remetem a paisagem do Pantanal sul-mato-grossense (Figura
84).

Figura 84. O “Pantanal do rio Paraná” e os remanescentes conservados.


Fotos: Silva (2017).

Ao observar os usos da terra, a região sul do estado está consolidada como área
tradicional da pecuária extensiva desde a década de 1980 (Figura 85.1), devido às
condições do terreno com áreas inundáveis, essas regiões se mantiveram a margem do
sistema produtivo agrícola até os anos 2000. Mas, na última década vem apresentando
investimentos na agroindústria sucroalcooleira (FERREIRA, 2016; FERREIRA e
SILVA, 2017) e no melhoramento genético para produção agrícola da soja (Figura 85.2).

Nas áreas da Formação Serra Geral, que tem o relevo constituído do Domínio de
Colinas Amplas e Suaves com declividade de 3 a 10 graus, (MATO GROSSO DO SUL,

227
1990) onde os Latossolos predominam é cultivado o binômio soja/ milho, e em áreas de
solos mais arenosos a cana-de-açúcar ocupa o espaço.

1.a) Atividade pecuária na área de várzea do Rio 1.b) Área de pecuária próximo a BR-163, no
Paraná, próximo ao porto Caiuá. municipio de Itaquiraí
Foto: Ferreira (2017) Foto: Ferreira (2020)

2.a) Área de plantio de cana-de-açúcar próximo 2.b) Na parte alta a esquerda plantio de cana-de-
a BR-163 entre os municipios de Itaquiraí e açúcar, a direita soja e no meio um corredor de
Naviraí vegetação ciliar.
Foto: Ferreira (2020) Foto: Ferreira (2020)
Figura 85. Mosaico das principais atividades econômicas desenvolvidas na área de estudo.
Fotos: Ferreira (2017)

A BR-163 que atravessa o estado de norte a sul, é o principal eixo de ligação com
o estado do Paraná, seja chegando ao extremo sul na travessia do rio Paraná em Porto
Camargo ou no até o extremo sul de Mato Grosso do Sul, no município de Mundo Novo,
na travessia do rio Paraná pela ponte Airton Senna.

Esse quadrante da fronteira sudeste abrange 6 UC’s e 1 TI em seu território, como


descrito na Tabela 37.

228
Tabela 37. Áreas protegidas da região sudeste da faixa de fronteira de Mato Grosso do Sul.
Unidade de Conservação Área Ano de
Município(s)
Grupo Nome (ha) criação
Naviraí, Itaquiraí,
Parque Nacional de Ilha Grande 12.338 Eldorado e Mundo 1997
Proteção
Integral
Novo
Parque Estadual das Várzeas do Taquarussu, Jateí
74.301 1998
Rio Ivinhema e Naviraí
Parque Municipal de Naviraí 16.241 Naviraí 2009
Batayporã, Nova
Andradina,
Ivinhema, Novo
Uso Sustentável

APA Ilhas e Várzeas do Rio Horizonte do Sul,


391.573 1997
Paraná* Taquarussu, Jateí,
Naviraí, Itaquiraí,
Eldorado e Mundo
Novo
RPPN Estadual São Pedro 3.688 Eldorado 2010
RPPN Estadual Fazenda Santo
3.877 Eldorado 2011
Antônio
Área Fase do
Terra indígena Município(s)
(ha) processo
Cerrito 1.950 Eldorado Regularizada
*somente o percentual ao estado de Mato Grosso do Sul
Fonte: IMASUL (2017); FUNAI (2015).
Organizado pela autora.

A proteção dessa região está ligada aos esforços da preservação de áreas de várzeas
do rio Paraná, anteriormente afetadas pelo Lago de Itaipu e, estão atreladas ainda a
existência de sítios históricos e arqueológicos de excepcional relevância para a
compreensão da ocupação humana no Continente Sul-Americano, incluindo-se as áreas
de ocupação dos índios Xeta, considerados extintos, reduções e cidades jesuíticas que
remontam do século XVII (ICMBio, 2019).

As UC’s localizadas nessa região abrangem ilhas e ilhotas rio Paraná, águas
interiores, áreas lagunares, várzeas e áreas continentais que margeiam rio Paraná. A maior
UC dessa região é a APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná, o qual abrange um mosaico de
UC’s em seu interior, compreendendo uma extensa faixa do sudeste do estado de Mato
Grosso do Sul (Figura 86).

229
230
Figura 86. Áreas protegidas do Mato Grosso do Sul (UCs e TIs) e Paraguai (ASPs) do Quadrante II - fronteira sudeste
Elaborado pela autora
Sem dúvida a paisagem formada pelas lagoas, várzeas e ilhas é uma das paisagens
que mais chama atenção na fronteira sudeste do estado. A APA Ilhas e Várzeas do Rio
Paraná foi instituída pelo Decreto Federal s/n de 30 de setembro de 1997 (BRASIL,
1997), e possui uma área total de mais 1 milhão de hectares, incluindo 26 municípios,
pertencentes aos estados de Mato Grosso do Sul (11), Paraná (14) e São Paulo (1). A
maior parte dessa UC está localizada no estado de Mato Grosso do Sul, cerca de 71%,
possuindo sobreposição com o Parque Nacional de Ilha Grande, o Parque Estadual das
Várzeas do Rio Ivinhema, Parque Municipal de Naviraí, RPPN Estadual São Pedro, a
RPPN Estadual Fazenda Santo Antônio e ainda uma pequena parte da APA
Intermunicipal da Bacia do Rio Iguatemi.

O PARNA Ilha Grande está localizado na divisa dos estados do Paraná e Mato
Grosso do Sul, sobre o arquipélago fluvial de Ilha Grande. Abrange no total nove
municípios e possui cerca de 120 km de comprimento tendo em seu trecho mais largo 10
km de largura. A criação deste PARNA data de 1997 e é resultado de um projeto do
Instituto Ambiental do Paraná, desenvolvido pelo IBAMA e pelos municípios que
integravam o Consórcio Intermunicipal para a Conservação do Rio Paraná e Área de
Influência (CORIPA) (ICMBio, 2019).

Na sequência, em 1998, é criada a primeira UC do estado de Mato Grosso do Sul,


o Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, motivado pela medida compensatória
da Usina Hidrelétrica Eng. Sérgio Motta/ CESP com o objetivo de conservar os
fragmentos florestais e os remanescentes de várzeas e ecossistemas associados aos rios
Ivinhema e Paraná (IMASUL, 2019). Juntamente como PARNA de Ilha Grande essas
UC’s compreendem o último trecho livre de represamento do rio Paraná, sendo uma área
de inundação periódica. A última UC de proteção integral criada nessa região, com
objetivo associado a manutenção dos remanescentes de várzea do rio Paraná, é o Parque
Natural Municipal de Naviraí.

As UCs de uso sustentável estão localizadas no extremo sul da APA Ilhas e


Várzeas do Rio Paraná e na zona de amortecimento do Parque Nacional de Ilha Grande,
ambas são da categoria RPPN. Todas essas UCs estão integralmente inseridas no bioma
Mata Atlântica, compostas pelas fitofisionomias da Floresta Estacional Semidecidual,
Formação Pioneira e áreas de contato Savana – Floresta Estacional.

231
Ao considerar o uso e ocupação das terras no interior das UCS não houve
mudanças significativas (Figura 87), as principais alterações são observadas na área de
amortecimento da APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná, sobretudo nos municípios de Jateí,
Naviraí e Itaquiraí (Figura 88).

Figura 87. Uso e ocupação nas áreas protegidas do Quadrante 2


Elaborado pela autora.

Os importantes fragmentos de Mata Atlântica e as extensas áreas de várzeas dessa


região conferem alto grau de importância para a conservação e uso sustentável (MATO
GROSSO DO SUL, 2002) e a existência de áreas protegidas que abrangem essas áreas
garantem, em certo grau, a manutenção e preservação desses recursos. Assim como a
atuação do Comitê de Bacia do rio Ivinhema pode favorecer o pagamento por serviços
ambientais, em função do suporte institucional.

232
Na divisa do distrito de Salto del Guairá (Dep. Canindeyú - PY) e o município de
Mundo Novo, no Mato Grosso do Sul (BR) localiza-se o Refugio Biológico Binacional
Mbaracayú. Essa área protegida, instituída pela Lei 352/94 abrange um importante
fragmento de vegetação florestal de 1.356 hectares. O Refugio Biológico Binacional
Mbaracayú possui administração de regime especial, de acordo com as categorias do
SINASIP, sendo gerenciado pela Itaipu Binacional.
A ASP está inserida em uma região de grandes extensões agrícolas, tanto do lado
paraguaio quanto do lado brasileiro, o que resultou em significativas alterações das
condições ambientais. Até a criação do Refugio Biológico Binacional Mbaracayú, essa
área encontrava-se totalmente desprovida de vegetação nativa, sendo que a partir de 1992
iniciaram ações de recuperação ambiental (ITAIPU, 2016). Atualmente 85% da área está
coberta com vegetação florestal e o restante são áreas de mosaico agricultura/ pastagem
(10%), outras formações naturais não-florestais (4%) e corpos d´água (1%).

233
234
Figura 88. Uso e ocupação no Quadrante II - fronteira sudeste
Elaborado pela autora.
6.1.3. Fronteira cone-sul - Quadrante III

Historicamente essa região esteve ligada à produção de erva-mate e sua cadeia, à


pecuária extensiva em toda área, à exploração da madeira e à produção de grãos. A
Companhia Mate Laranjeira iniciou suas atividades em 1833, à margem do Rio Verde e
a partir da consolidação do empreendimento houve grande atratividade de pessoas para a
região. A sede da Companhia estava localizada onde atualmente se encontra o município
de Coronel Sapucaia.

Essa região sofre grande influência da Região da Grande Dourados, o esteio da


agricultura do Mato Grosso do Sul (Figura 89). Ainda que a pecuária seja a atividade mais
tradicional, o setor agrícola é muito forte na produção do binômio soja/ milho e mais
recentemente com a cana-de-açúcar. Por se tratar de uma cultura consolidada a mais
tempo na região sudoeste do estado, a soja também é mais presente em áreas indígenas
do que a cana de açúcar. É perceptível esse arco de expansão da soja do centro-sul em
direção ao extremo sul do estado.

Esse quadrante abrange claramente duas regiões definidas: ao norte do rio


Amambai, o uso e ocupação intensiva da soja, compreendida pela Formação Serra Geral
com solos de maior potencial agrícola e outra, ao sul do rio Amambai abarcada pelo
arenito Caiuá, ocupada majoritariamente por atividades pastoris, onde os solos possuem
alto potencial de arenização, o que têm provocado processos erosivos e assoreamento dos
corpos hídricos.

De qualquer modo, segundo o ZEE-MS (MATO GROSSO DO SUL, 2015) o


potencial dessa região está ligado à condição de utilização das suas terras, relacionada a
um conjunto de produtos agropastoris e industriais.

Figura 89. Agroindústrias de armazenando e processamento de grãos


Fotos: Ferreira (2020).
Ainda que Dourados se consolide como o grande centro das articulações
comerciais para essa região, deve-se destacar que a proximidade com Ponta Porã que

235
conjugada com Pedro Juan Caballero (PY) que abrange uma aglomeração urbana
próximo de 180 mil habitantes promove uma relação de trabalho, renda e serviços tanto
para o lado brasileiro, sobretudo nas cidades de Aral Moreira, Laguna Caarapã, Antônio
João, Amambai – atraídas pelo mercado de reexportação – quanto para o lado paraguaio
cujo raio de influência abrange as cidades de Concepción, Capitan Bado, Coronel Orviedo
alcançando até as imediações da capital Asunción (MATO GROSSO DO SUL, 2015).

No lado paraguaio nas áreas das encostas da Serra de Maracaju a área se mantém
relativamente protegida em função de seu relevo, assim como ao longo dos rios que
drenam para sudoeste no planalto. Esses corredores formados, principalmente pela
vegetação ciliar são o que sobrou de propriedades que converteram a vegetação nativa até
a borda dos chapadões com agricultura mecanizada (Figura 90).

1. Vista da borda da Serra de 2. Na paisagem homogênea, os 3. A paisagem vista do lado sul-


Mbaracaju para a planície no marcos da fronteira, à direita, mato-grossense.
território paraguaio. delimitam a linha internacional
e o território paraguaio.
Figura 90. Na paisagem mono o marco inexiste, se apequena, a condição transfronteiriça prevalece
Fotos: Ferreira (2020)

Nas áreas já consolidadas com a prática de atividades agrícolas pode-se perceber


que, em condições de relevo mais aplainado a produção de soja é intensiva e se estende
em praticamente toda a linha do horizonte na paisagem.

236
No que tange as áreas protegidas são três UC’s da categoria APA e 11 TI’s que
somam 161.917 e 88.137 hectares, respectivamente (Tabela 38 e Figura 91). A Apa do
Rio Amambai criada pelo Decreto Municipal nº 185/2006 é composta por uma faixa
contígua de terras de cerca de 5 km de largura margeando toda a extensão do Rio
Amambai nos limites do município homônimo. Já a APA da Bacia do Rio Amambai,
instituída pelo Decreto Municipal nº 040/2005 abrange uma área menor e compreende a
área onde está localizada a nascente do referido rio. A APA Salto do Pirapó está ligada a
proteção do rio Amambai na porção do município de Juti, abrangendo ainda em seu
interior a terra indígena Taquara.

Tabela 38. Áreas protegidas da região cone-sul da faixa de fronteira de Mato Grosso do Sul.
Unidade de Conservação Ano de
Área (ha) Município(s)
Grupo Nome criação
APA do Rio Amambai 56.884 Amambai 2006
Sustentá

APA da Bacia do Rio


Uso

vel

9.734 Coronel Sapucaia 2005


Amambai
APA Salto do Pirapó 95.299 Juti 2010
Fase do
Terra indígena Área (ha) Município(s)
processo
Aldeia Limão Verde 668,07 Amambai Regularizada
Amambai 2.429 Amambai Regularizada
Caarapó 3.594 Caarapó Regularizada
Guasuti 958,7 Aral Moreira Regularizada
Guaimbé 716,9 Laguna Carapã Regularizada
Jaguari 404 Amambai Regularizada
Rancho Jacaré 777,5 Laguna Carapã Regularizada
Taquaperi 1.776 Coronel Sapucaia Regularizada
Jarara 479 Juti Homologada
Guyraroká 11.440 Caarapó Declarada
Jatayvari 8.800 Ponta Porã Declarada
Taquara 9.700 Juti Declarada
Dourados-Amambaipeguá I 55.600 Naviraí,Amambai,Dourados Delimitada
Fonte: IMASUL (2017); FUNAI (2015).
Organizado pela autora.

237
Figura 91. Áreas protegidas do Mato Grosso do Sul (UCs e TIs) do Quadrante III – fronteira cone-sul
Elaborado pela autora.
238
A principal mudança no uso e cobertura das terras observada foi a conversão das
áreas de pastagens para o cultivo da soja nesse arco de expansão advindo centro-sul
(Região da Grande Dourados) e no interior das áreas protegidas, inclusive (Figura 92).

Figura 92. Uso e ocupação nas áreas protegidas do Quadrante III


Elaborado pela autora.

A expansão da soja nesse Quadrante é a mais expressiva, a monocultura adentra


o território das áreas protegidas e demonstra que ao ser apropriado por esse modelo
agroexportador intervém nos objetivos propostos para essas áreas e incorpora as
premissas do modelo de desenvolvimento transformando essa região em um cenário de
conflito (Figura 93).

239
Figura 93. Uso e ocupação no Quadrante III - fronteira cone-sul
Elaborado pela autora. 240
6.2. Faixa da fronteira extremo sul - Quadrante IV

Essa região está localizada no extremo sul do estado fronteira com o Paraguai e a
Serra de Maracaju. Nos anos de 1960, a exploração madeireira, em um frenesi sem
precedente, avançou sobre a cobertura vegetal da Mata Atlântica e em menos de duas
décadas, reduziram a densa floresta a menos de 20% do que originalmente existia. No
final dos anos de 1970, esses madeireiros atravessaram a fronteira e replicaram o intenso
desmatamento no departamento de Canindeyú (PY), que amarga os mesmos efeitos do
lado brasileiro (MATO GROSSO DO SUL, 2015).

Estima-se que o departamento de Canindeyú possuía 670 mil hectares de área de


cobertura vegetal nativa, sendo que entre 1984 e 1991 o desmatamento atingiu 302 mil
hectares, o que corresponde a 45% da área florestada (ABC, 2004).

O assoreamento do rio Iguatemi é um dos reflexos do desmatamento intensivo dessa


região, posteriormente destinada a atividades agropecuárias (SÚAREZ; PETRERE
JÚNIOR, 2006), agravado pelas características dos solos com alto potencial de arenização
que promovem os processos erosivos e o assoreamento dos corpos hídricos e do relevo
(SILVA et al., 2011). Segundo Silva et al., (2011) o aparecimento de voçorocas é
geralmente relacionado às atividades humanas (Figura 94).

1.a) Área no entorno do rio Iguatemi (ao fundo) na MS-141. Região de pastagem predominante, ao fundo
observa-se um grane bloco de plantio de eucalipto.
Fotos: Ferreira (2019)

241
2.a) Diferentes áreas de voçoroca na bacia do rio Iguatemi ao longo da MS-295, a esquerda no município
de Tacuru e a direita no município de Igutemi.
Fotos: Ferreira (2017)

3.a) Um importante afluente do rio Iguatemi, o rio Jagui também sofre o processo de assoreamento.
Fotos: Ferreira (2017)

4.a) No departamento de Concepción, proximo a fronteira com o município de Paranhos/ MS.


Foto: Francisco Gabriel Burgos Orrego (2014)
Foto: Google Earth (2019)
Figura 94. Consequências do desmatamento na bacia do rio Iguatemi

A criação da APA da Bacia do Rio Iguatemi, em 2003 é resultado de um consórcio


entre oito municípios do cone-sul do estado no qual o rio Iguatemi perpassa por seus
territórios, desde sua nascente até sua foz, no rio Paraná.

242
1.a) Placa de demarcação da APA da Bacia do Rio Iguatemi (a esquerda) no município de Japorã, seguido
de trecho do rio Iguatemi sem a cobertura de APP em conformidade com o Código Florestal.

2.a) Faixa de APP preservada do rio Amambai na MS-156, limite dos municípios de Amambai e Laguna
Caarapã.
Figura 95. Processos de degradação ambiental identificados na bacia do rio Iguatemi
Fotos: Ferreira (2020)

Todavia, a falta de restrições da APA não garante a proteção e preservação efetiva


dessa região (Figura 95.1), apesar de demonstrar nível de resiliência intermediária
segundo o ZEE-MS (MATO GROSSO DO SUL, 2015) e como pode ser observado na
Figura 96, com a regeneração da vegetação nativa no fragmento identificado, se utilizadas
boas estratégias de conservação aliada a incorporação de melhores práticas de manejo do
solo é possível aliar a prática das atividades econômicas e a manutenção dos recursos
naturais.

243
Figura 96. "Fronteira" da resistência ambiental e do monopólio do modelo agroexportador
Fotos: Ferreira (2020).

Uma situação emblemática nessa região está relacionada a regularização das terras
indígenas. Nesse quadrante analisado (Figura 97), quatro encontram-se em situação
regular (Tabela 39) enquanto isso os indígenas nessa região convivem com uma tensa
situação de insegurança jurídico-territorial, com várias ocorrências de conflitos e
desocupação.

Tabela 39. Áreas protegidas da região extremo sul da faixa de fronteira de Mato Grosso do Sul.
Unidade de Conservação Área Ano de
Município(s)
Grupo Nome (ha) criação
Sustentável

Mundo Novo, Japorã,


APA Intermunicipal da Iguatemi, Amambai,
Uso

20.523 2003
Bacia do Rio Iguatemi Tacuru, Sete Quedas,
Paranhos, Coronel Sapucaia
Área Fase do
Terra indígena Município
(ha) processo
Pirajuí 2.118 Paranhos Regularizada
Jaguapiré 2.342 Tacuru Regularizada
Porto Lindo 1.648 Japorã Regularizada
Sassoró 1.922 Tacuru Regularizada
Arroio-Korá 7.175 Paranhos Homologada
Sete Cerros 8.584 Paranhos Homologada
Takuaruti-Yvykuarusu 2.609 Paranhos Homologada
Ivy-katu 9.494 Japorã Declarada
Potrero Guaçu 4.025 Paranhos Declarada
Sombrerito 12.608 Sete Quedas Declarada
Iguatemipeguá I 41.571 Iguatemi Delimitada
Ypoi/ Triunfo 19.756 Paranhos Delimitada
Organizado pela autora.
244
Figura 97. Distribuição das UCS, TIs e ASPs no Quadrante IV - fronteira extremo sul
Elaborado pela autora. 245
Nos últimos 25 anos, boa parte das áreas indígenas foram recuperadas de fazendas,
outras áreas foram identificadas e, com exceções, demarcadas, mas sem posse definitiva,
impedida por ações legais que demoram anos para serem resolvidas judicialmente. Nesse
contexto, a ocupação real da área já reconhecida como terra indígena é muito precária
(Figura 98). Simultaneamente, continua o processo de desmatamento e destruição
ambiental das áreas, tanto as que foram incorporadas legalmente ao patrimônio dessas
populações como, ainda em maior grau, as áreas demarcadas como posse dos fazendeiros,
transformando o território dessas populações tradicionais em latifúndios de monocultivos
para agroexportação (GRÜNBERG, 2011)

Com a falta de alternativas para exploração da terra pelos indígenas, pois os solos
empobrecidos necessitam de correção com calcário e adubos devido as seguidas
queimadas, as comunidades ficam vulneráveis ao arrendamento de suas terras para
pecuaristas e agricultores (PEREIRA, 2010), ou ainda resistem aos vários processos de
reintegração de posse, pois são territorializados em uma pequena área de seu tekoha19
reivindicado (MOTA, 2017).

A prática indigenista oficial e a presença determinante de empresas agropecuárias,


bem como da agroindústria de soja e cana-de-açúcar no Mato Grosso do Sul, ocasionaram
uma situação de penúria e exclusão social (GRÜNBERG, 2011), agravada pelo racismo
crescente (MOTA, 2017).

1.a) Acampamento no município de Japorã-MS


Fotos: Ferreira (2020).

19
Definido pelos indígenas como “lugar onde realizamos nosso modo de ser” ou comunidade
(GRÜNBERG, 2011, p. 685).

246
Fonte: KLEIN (2015) / Instituto Socioambiental
Figura 98. Resistência e resiliência das comunidades indígenas no extremo sul do Mato Grosso do Sul

Considerando a distribuição entre as principais classes de áreas antrópicas, de


acordo com os gráficos da Figura 99, a pecuária é o principal tipo de uso das terras, sendo
representada por 66% na APA do Rio Iguatemi e 63% nas TI’s. Essas áreas são formadas
predominantemente por pastagens plantadas, destinadas ao pastoreio de gado em
forrageiras perenes. A segunda classe mais expressiva, sobretudo no entorno das áreas
protegidas desse Quadrante é a agricultura anual e perene, formada por lavouras de soja
e milho. A classe agropecuária inclui regiões de pastagem e agricultura em pequenas
propriedades, nos assentamentos rurais e no interior das terras indígenas, mas se
caracterizam como pequenas e manchas distribuídas de forma esparsa, não visíveis, por
exemplo, na escala 1:100.000. As demais classes de uso antrópico (agricultura semi-
perene (cana-de-açúcar), silvicultura, influência urbana) tem pouca representatividade,
não alcançando 1%.

Portanto, as áreas de cobertura vegetal nativa limitam-se a pequenos e esparsos


fragmentos de vegetação, restringindo-se as áreas legalmente protegidas. Como
consequência do desmatamento, tem-se a formação de processos erosivos, sobretudo nas
porções mais elevadas do relevo, onde a declividade é alta, o que tem acarretado o
assoreamento dos rios e córregos.

247
Figura 99. Áreas protegidas o Quadrante IV
Elaborado pela autora

Como observado a maioria das propriedades rurais localizadas no entorno das


áreas protegidas têm na agricultura e pecuária sua principal atividade econômica e,
portanto, quando respeitada a legislação têm pelo menos 80% de seu território desprovido
de cobertura vegetal e esse déficit têm pressionado as áreas conservadas (Figura 100).

248
Área da reserva indígena Pirajuí que preserva fragmentos do Cerrado.
Foto: Ferreira (2017)

A estrada é a linha divisória do limite entre Brasil e Paraguai. Do lado brasileiro, na reserva Pirajuí (a
esquerda) o exemço da formação típica do Cerrado (campo Cerrado), a direita, no lado paraguaio já
encontramos área de cultivo de soja.
Foto: Silva (2017)
Figura 100. Terra indígena Pirajuí localizada na área de fronteira seca Brasil e Paraguai

No território paraguaio, esse quadrante abrange duas áreas protegidas: a Reserva


da Biosfera Mbaracayú, com uma superfície total de 322.850 hectares, dos quais 64.406
hectares correspondem a sua área central, representada pela Reserva Natural Bosque de
Mbaracayú (Figura 101).

O modelo de Reservas da Biosfera foi proposto pela UNESCO, em 1970. O


Paraguai possui três áreas protegidas dessa categoria, a Reserva da Biosfera Mbaracayú,
reconhecida no ano de 2000, resulta dos esforços da Fundación Moisés Bertoni desde
1997, a fim de proteger as áreas úmidas da bacia do Paraná e uma pequena porção do
Cerrado.

A Reserva Natural Bosque de Mbaracayú constitui-se em uma área privada para


conservação, estabelecida e administrada pela Fundación Moisés Bertoni. Essa ASP
abrange o maior bloco contíguo de vegetação da Mata Atlântica, ou Bosque Atlántico del

249
Alto Paraná, além de ser a maior e melhor gerenciada área protegida do Paraguai. A maior
parte de seu território é coberta com vegetação florestal densa (87%), seguida por áreas
de vegetação campestre (6%) e áreas úmidas (6%).

A Reserva da Biosfera Mbaracayú que abrange a área de influência circundante


da Reserva Natural Bosque de Mbaracayú possui usos menos restritivos que visam
conciliar o desenvolvimento e a conservação. Além do mais há várias comunidades
indígenas localizadas no interior da Reserva da Biosfera, mas que também vêm sendo
pressionadas pela expansão da soja nessa região.

250
Figura 101. Uso e ocupação no Quadrante IV - fronteira extremo sul
Elaborado pela autora. 251
A heterogeneidade ambiental influencia no ritmo e no modo assíncrono de
ocupação do território (OLIVEIRA, 2005) (OLIVEIRA, 2005; MIZIARA, 2006). Nesse
sentido, o conflito vivenciado pelas populações indígenas provocado pelo uso da terra no
extremo sul do estado é mais acentuado do que para as comunidades situadas na região
centro-norte. Nesse sentido, como Chaveiro e Barreira (2010) apontam os níveis de
conflitos variam de acordo com o contexto espacial que estão inseridos.

O modelo econômico agroexportador mesmo que predominante, não foi


totalmente incorporado no território, mesmo assim, não deixou de, indiretamente,
alcançar todas as regiões.

Nessa dinâmica territorial em que o modelo agroexportador é visceral e


vertiginoso, ainda que desigual nas várias regiões, os setores ligados a ele (a montante e
a jusante) necessariamente se sobressaem. Em função disso que as medidas de
preservação e conservação das áreas protegidas são tão importantes.

Portanto buscar a integração das Unidades de Conservação, Terras Indígenas,


além das Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanente identificadas como
elementos integradores da paisagem e que podem funcionar como corredores e/ou
trampolins ecológicos. O pagamento por serviços ambientais e/ou o ICMS ecológico
podem contribuir na condução dessas medidas, desde que, implementados de forma
efetiva e com critérios mais rígidos. Porém a implementação de corredores ecológicos é
vista como a estratégia mais assertiva para manter a conectividade e conservação das
áreas protegidas (FORMAN, 1983).

Observa-se que, no decorrer das últimas duas décadas, os municípios sul-mato-


grossenses expandiram rapidamente seu sistema de áreas protegidas, tanto em número
quanto em superfície, essencialmente as UC’s da categoria de Uso Sustentável. Essa é
uma questão que deve ser vista com muita cautela, pois apesar de ser um aspecto positivo,
muitas administrações municipais o fazem apenas para arrecadar o repasse referente ao
ICMS Ecológico, sem nenhum suporte técnico/ institucional, instituindo, assim, áreas
demasiadamente extensas e em certos casos compreendendo todo o território municipal,
pode-se citar como exemplo, a APA do Rio Iguatemi.

Em suma, o ICMS Ecológico, regulamentado no Mato Grosso do Sul pela Lei


Estadual n°. 4.219, de 11 de julho de 2012 (MATO GROSSO DO SUL, 2012), é um
instrumento de repartição de receitas tributárias pertencentes aos municípios, baseado em

252
um conjunto de critérios ambientais, estabelecidos para determinar quanto cada
município irá receber dos recursos financeiros arrecadados com o Imposto sobre a
Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) do Estado (IMASUL, 2018).

É um importante mecanismo de pagamento para municípios que possuam


unidades de conservação e terras indígenas em território, devidamente inscritas no
cadastro estadual e, ainda que façam a gestão correta dos resíduos sólidos urbanos (Figura
102). Dessa forma o ICMS Ecológico se caracteriza como parte da receita municipal, o
que para alguns municípios, é um valor substancial, em função do índice ambiental obtido
pelos critérios definidos no repasse do ICMS Ecológico.

Figura 102. Distribuição do ICMS aos municípios de Mato Grosso do Sul


Fonte: Lei Complementar nº 57/1991.
Organizado pela autora.

Todavia, a criação de unidades de conservação apenas para compor receita é uma


condição perniciosa e vai na contramão dos critérios de seleção de áreas protegidas, bem
como, no atendimento aos objetivos de manejo pretendidos para uma UC.

Verifica-se que os incentivos econômicos são os propulsores fundamentais da


pressão dos conflitos de uso que as áreas protegidas são submetidas, some-se a
subvalorização dos serviços ecossistêmicos que essas áreas prestam local e regionalmente
e o cenário de descomprometimento com a manutenção dos recursos naturais está
encaminhado.

Por se constituir em uma área de elevado potencial econômico, especialmente no


agronegócio e ter grande capacidade de dar fluidez ao escoamento da produção,
pressupõe-se que essa área esteja apta a receber empreendimentos de maior porte e,
consequentemente possíveis causadores de grandes impactos ambientais.

253
CONSIDERAÇÕES FINAIS

254
A série de dados e informações apresentados e elaborados para esta pesquisa
tiveram como objetivo demonstrar as sincronias e as assincronias da fronteira Mato
Grosso do Sul e Paraguai, marcado pela dinâmica voltada a atender as demandas do
modelo agroexportador da soja e os efeitos sobrepostos à resistência das áreas protegidas.
Essa conjuntura, apresentada como questões norteadoras da tese (pág. 25) são indagações
complexas e que o conjunto de dados e informações obtidos apresentam uma contribuição
para sua elucidação.

De fato, há um grande número de estudos sobre a expansão da soja e a


especialização de regiões com vistas a atender essa demanda. Porém o estabelecimento
da revisão conceitual, dos procedimentos metodológicos e das escalas espaciais visaram
demonstrar, de forma integrada, essa dinâmica associada a presença de comunidades
indígenas e conservação de áreas protegidas em um território de fronteira.

As análises empreendidas na tese, sobretudo no Capítulo 6 – a partir de uma lente


analítica de detalhe – visaram lançar uma luz sobre a eficiência da preservação das
categorias de áreas protegidas. Por exemplo, guardadas as especificidades locais e nos
casos em que a demarcação e homologação da terra indígena já abrigue fragmentos de
vegetação natural, as populações indígenas são responsáveis pela conservação dessas
áreas preservando tais espaços do modelo de exploração agroexportador.

No entanto, circunscrever essas populações tradicionais em uma pequena área sem


recursos, as impede de reproduzir seu modo de vida e, paradoxalmente, as induzem a
desenvolver práticas predatórias ao meio ambiente ou arrendar suas terras para grandes
fazendeiros, como único meio de garantir sua subsistência e não cair na indigência.

Nessa mesma perspectiva ao identificar quais as Unidades de Conservação (UCs)


e Áreas Silvestres Protegidas (ASPs) que garantem maior nível de proteção da vegetação
natural, pretende-se oportunizar a criação de políticas públicas que integrem as
populações tradicionais – haja vista o potencial de conservação por seu modo de vida
culturalmente diferenciado – as unidades de conservação possibilitando as áreas
protegidas alcançar os objetivos a que se propõe. Quando considerado esse potencial dos
dois lados da fronteira, as possibilidades de conservação são ampliadas a partir da
integração de políticas transfronteiriças.

Ademais, não foi pretensão na construção dessa tese rechaçar o modelo


agroexportador, mas evidenciar a importância do outro lado, menos favorecido e

255
valorizado, sobre o papel desempenhado na conservação dos ecossistemas, na
manutenção da biodiversidade, garantindo, inclusive, os serviços e funções
ecossistêmicas que esse modelo depende.

Portanto, esse é o desejo de contribuição dessa tese, incluir a perspectiva de


proteção das terras indígenas adicionais as áreas protegidas, no investimento e
reconhecimento de sua importância, na valorização do saber das populações tradicionais,
na construção de políticas públicas para desenvolvimento dessas regiões da qual as áreas
protegidas também sejam beneficiadas.

Avaliação dos resultados

É importante destacar que a busca por dados e materiais disponíveis com


informações do Paraguai que contribuíssem para atender aos objetivos propostos nessa
tese foi uma tarefa árdua e exaustiva. De modo geral essas informações eram mais
consistentes em sites de instituições internacionais. É importante registrar que devido ao
caráter multiescalar da tese, quando a necessidade de apresentação de informações mais
detalhadas, esse processo era realizado a partir da vetorização em ambiente SIG de um
compilado de documentos oficiais ou estudos científicos consolidados.

No Paraguai o setor sojicultor possui grande importância territorial e forte impacto


na economia do país (informações apresentadas no Capítulo 2 desta tese). Como
demonstrado no último censo realizado no país, em 2008, a concentração da produção já
era evidenciada, menos de 3% dos produtores reuniam quase metade da área cultivada e
da produção obtida no referido ano, sendo 64% da área cultivada pertencente a produtores
estrangeiros (50% brasileiros e 14% de outras nacionalidades). Esses valores devem ser
ainda mais expressivos no próximo Censo, previsto para 2020. Tais fatores indicam que
o aumento na produção de soja está diretamente relacionado a concentração e
estrangeirização da terra no território paraguaio.

No Mato Grosso do Sul o setor da soja também é marcado pela concentração da


área cultivada, pela presença de transnacionais à jusante e a montante da cadeia produtiva
e por sua importância econômica na composição da receita das exportações – dados e
informações expostas nos Capítulos 2 e 3 desta tese.

256
Esse cenário, pode ser apontado como elemento de aproximação dos dois países
(Questão I pág. 25), em relação a elevada dependência de alguns produtos específicos
como soja, cana-de-açúcar e carne bovina e os setores a eles relacionados, controlado por
um pequeno grupo de atores sociais, majoritariamente estrangeiros – no caso paraguaio –
e dependente das transnacionais – no caso brasileiro.

As referências já apontavam como os avanços tecnológicos se constituíram


importantes vetores para gerar altos índices de produtividade no setor sojicultor, vide
Dall’agnol (2016) concatenando diversas infraestruturas como os modais de transporte,
insumos e implementos agrícolas, o mercado consumidor (interno e externo), as tradings
de exportação etc.

Nesse sentido, para responder a segunda questão, buscamos demonstrar os níveis


de dependência dessa região, (Figura 10, 11, 12, 14, 15 e 28) associadas a dinâmica do
modelo agroexportador, que as configurou verdadeiros celeiros da relação local-global20.
Como resultado do uso seletivo do território21, gerou-se a geração de renda cada vez mais
concentrada (Figura 13 e 15) e a exclusão mais difundida da agricultura familiar (Figura
51) e daqueles que estão à margem dessa dinâmica, vide Capítulo 6.

Em contrapartida coexistindo com o modelo agroexportador, uma estrutura agrária


de produtores familiares e assentamentos de comunidades tradicionais, restritos a
pequenas superfícies de terra – que geralmente vêm acompanhadas de problemas de
degradação ambiental – e que esbarram nas limitações para diversificação e incorporação
tecnológica, condição que permitiria subsidiar uma estrutura agrícola mais diversificada
de maior escala.

No que tange a associação do modelo agroexportador com a degradação da


vegetação natural observou-se que a expansão espacial do cultivo de soja atrai capital
para a mudança de uso da terra, intensificando a pressão sobre as áreas protegidas e
ambientes naturais, sobretudo em áreas fronteiriças onde a prática de se desviar das leis
ambientais brasileiras para produzir do outro lado da linha internacional acaba
acontecendo, inclusive com a conivência e incentivo da classe dominante paraguaia.

20
Vide Porto-Gonçalves (2006).
21
Termo cunhado e explicado por Santos (1996)

257
Na região sudoeste de Mato Grosso do Sul e Região Oriental do Paraguai, as
unidades de conservação, terras indígenas, áreas silvestres protegidas e as comunidades
indígenas mantiveram-se como ilhas cercadas por cultivos mecanizados propensos a
situações de vulnerabilidade devido aos impactos socioambientais (como efeito de
borda22), a presença de estrangeiros nas propriedades rurais e as condições precárias de
trabalho – sobretudo em relação aos indígenas. Essa é a condição de existência, ou
resistência, à predominância do modelo agroexportador.

Os conflitos fundiários, o desmatamento para expansão da pecuária e das lavouras


de soja e o próprio acesso aos recursos naturais, que foi limitado na medida em que as
áreas naturais foram sendo convertidas em grandes fazendas de monoculturas, são alguns
dos efeitos colaterais que podem ser destacados nesse cenário.

Por outro lado, em terras indígenas em processo de reconhecimento e demarcação,


a morosidade do processo acaba intensificando os conflitos violentos entre indígenas e
produtores rurais, sobretudo nas áreas mais especializadas, em que o modelo
agroexportador impulsiona a expansão da soja em fazendas que incidem sobre terras
indígenas, como no Quadrante IV. A produção de commodities – especialmente
soja/milho e cana – por ocupantes não índios, tem sido um dos principais vetores de
conflitos no interior de terras indígenas, tanto em relação aos aspectos fundiários, quanto
os ambientais e sociais.

Nesse cenário, é preciso garantir o reconhecimento dos direitos das populações


indígenas bem como de suas terras tradicionalmente ocupadas, sendo esse, um
pressuposto a sua sobrevivência como povo. Assim como, a manutenção instrumentos de
conservação ambiental só se efetivam, de fato, quando tratados de forma integrada, com
ações articuladas e que envolvam a gestão e responsabilidade compartilhada entre os
diferentes agentes e atores sociais envolvidos.

Essas medidas se fazem ainda mais necessárias no cenário atual, momento crítico
de pandemia, em que os parcos recursos financeiros para fiscalização e monitoramento
ambiental tornaram-se ainda mais escassos. Um estudo realizado por Vale et al., (2021)
aponta que desde janeiro de 2019 uma série de medidas foram aprovadas para enfraquecer
o arcabouço de proteção ambiental no país, principalmente relacionadas a redução de

22
Vide RODRIGUES, E. Edge Effects on the regeneration of forest fragments in south Brazil. Tese de
Doutorado. Harvard University, 194p. 1998.

258
multas ambientais, a anistia para áreas ilegalmente desmatadas na Mata Atlântica e a
reclassificação de 47 pesticidas como categoria menos nociva, sem respaldo científico. O
estudo aponta que 49% dos chamados atos “infralegais” aconteceram após março de
2020, justamente no início da pandemia no Brasil.

Proposições

Os produtos gerados e as análises espaciais empreendidas nesta tese podem apoiar


o desenvolvimento de estratégias para conservação das áreas protegidas, aliadas a
produção de renda a partir do conhecimento que as populações indígenas ainda detêm. A
associação desses dois objetivos tende a garantir múltiplos benefícios às populações
tradicionais e minimizar os riscos de degradação das áreas protegidas.

As propostas de corredores biológicos visando garantir a conectividade entre as


áreas protegidas destacam-se como uma das principais ferramentas para diminuir os
efeitos da fragmentação (BENNET, 1998) e manter o fluxo gênico de espécies animais e
vegetais (FORMAN, 1983) auxiliando na redução do risco de extinção de espécies
ameaçadas (CARVER, 2011).

No entanto, a identificação desses corredores é complexa, devido às diferentes


características da vegetação e padrões de deslocamento das espécies. Dessa forma,
apresentamos como recomendação a proposta de corredores ecológicos elaborada pelo
governo paraguaio com apoio do Programa ONU-REDD (PNC ONU-
REDD+/SEAM/INFONA/FAPI, 2016, p. 6). Nesse estudo o produto gerado teve como
base o banco de dados da IUCN em associação a ferramentas de planejamento e
zoneamento voltados à conservação da biodiversidade, detalhadas em Lamo et al. (2006).

O interessante dessa proposta é que ela explora a conectividade potencial além das
fronteiras administrativas do país, avançando 60km para o interior do território sul-mato-
grossense, ampliando as possibilidades de conservação a nível transfronteiriço, Para
determinação dos corredores biológicos foram consideradas as áreas silvestres protegidas
de todo território paraguaio, bem como rotas de menor custo que, por sua extensão, teriam
maior possibilidade de serem consideradas como elementos de manejo para conservar a
conectividade ecológica (PNC ONU-REDD+/SEAM/INFONA/FAPI, 2016).

Nessa análise determinou-se o potencial dos fragmentos florestais como


prioritários para constituição dos corredores biológicos entre as áreas silvestres

259
protegidas, verificando maior potencial na região sudeste do Paraguai e extremo sul de
Mato Grosso do Sul, que compreende maior número de áreas protegidas e uma distância
menor entre elas, além de apresentar maior ligação do trecho viário.

Os resultados desse estudo ainda ressaltam a importância da manutenção desses


fragmentos florestais para prevenção de processos de erosão hídrica, que acabam
colocando em risco o escoamento da produção agrícola – haja vista que o Paraguai
depende quase exclusivamente do transporte fluvial – e da produção de energia
hidroelétrica, fontes de renda fundamentais para a economia do país.

Esse estudo em conjunto com as informações apresentadas na tese pode servir de


base para estudos pormenorizados de apoio à tomada de decisão em relação ao
fortalecimento de áreas protegidas, promovendo à manutenção da conectividade entre
essas unidades podendo servir como potenciais alternativas de renda para populações
tradicionais e/ou vulneráveis.

260
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277
APENDICÊS

I. Tabelas

I.I. Área Plantada


1990 2000 2010 2018

Mato Mato Mato Mato


Grosso do Paraguai Grosso do Paraguai Grosso do Paraguai Grosso do Paraguai
Sul Sul Sul Sul

Q1 30 - 80 2 - 12 20-800 329-3.200 50 -1.490 1-50 56-3.006 48-4.774


Q2 100- 159-202 811- 3.560- 1.500- 12.295- 3.700- 12.603-
1.000 2.500 28.311 4.500 30.457 10.500 35.137
Q3 1.200- 237- 2.560- 33.700- 5.000- 122.262- 11.00- 38.860-
4.500 8.931 5.500 71.500 10.200 132.525 18.340 169.955
Q4 4.990- 15.288- 6.000- 85.000- 10.500- 250.931- 19.290- 325.397-
15.000 21.799 35.000 238.100 47.300 480.748 66.000 444.938
Q5 19.550- 49.030- 37.000- 356.000- 57.000- 508.496- 73.000- 603.521-
170.284 228.504 114.000 530.300 187.000 756.086 273.000 926.158

I.II Quantidade Produzida


1990 2000 2010 2018
Mato Mato Mato Mato
Grosso Paraguai Grosso Paraguai Grosso do Paraguai Grosso do Paraguai
do Sul do Sul Sul Sul
Q1 0-72 3-14 846- 790-7.760 0-168 2-32 0-7.302 47-9.465
1.700
Q2 120- 181- 1.800- 8.544- 450- 30.491- 7.480- 41.410-
1.850 364 2.072 68.796 7.700 77.362 28.050 82.437
Q3 2.520- 425- 2.100- 79.195- 8.100- 339.887- 31.680- 123.045-
7.500 16.355 2.300 175.890 25.920 351.038 59.850 583.290
Q4 7.613- 26.806- 2.319- 214.200- 27.000- 614.780- 61.200- 1.023.212-
26.264 31.893 2.450 614.298 75.000 1.317.250 223.200 1.434.782
Q5 26.924- 94.200- 2.480- 936.280- 101.500- 1.478.538- 225.720- 1.885.032-
242.760 456.299 3.066 1.405.296 583.440 2.207.770 1.083.060 2.707.320

I.III Rendimento Médio


1990 2000 2010 2018

Mato Grosso Mato Grosso Mato Grosso Mato Grosso


Paraguai Paraguai Paraguai Paraguai
do Sul do Sul do Sul do Sul

Q1 299-960 1.138- 846-1.700 2.350- 1.680-2.675 347-882 2.500-3.100 869-1.413


1.500 2.350
Q2 1.000- 1.544- 1.800- 2.400- 2.700- 1.103- 3.245- 2.058-
1.498 1.793 2.072 2.425 2.950 1.283 3.400 2.564
Q3 1.500-1.800 1.802- 2.100- 2.430- 3.000- 1.355- 3.418- 2.758-
1.920 2.300 2.460 3.000 1.452 3.600 2.776
Q4 1.885- 1.921- 2.319- 2.520- 3.012- 1.543- 3.613- 2.777-
2.100 1.991 2.450 2.580 3.180 1.584 3.613 2.882
Q5 2.122- 1.997- 2.480- 2.630- 3.240- 1.597- 3.651- 2.987-
2.699 2.940 3.066 2.650 3.500 1.714 4.000 3.010

278
II. Índice de Moran para todos os anos do período

1. Índice de Moran para o Mato Grosso do Sul gerado para todos os anos do período
Organização: FERREIRA (2019)

279
2. Índice de Moran para o Paraguai gerado para todos os anos do período
Organização: FERREIRA (2019)

280

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