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876-36

PREVENINDO O ENGASGO: 
a escolha do adulto faz toda a diferença

Mecanismos de defesa do bebê e


situações de risco

Aline Rodrigues Padovani

2ª edição
2018
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Aline Rodrigues Padovani


Fonoaudióloga com graduação e mestrado pela USP-SP, especializada
na Avaliação e Distúrbios da Deglutição, na Promoção de Saúde através
da Alimentação Complementar e na Avaliação e Gerenciamento das
Dificuldades Alimentares na Infância. Autora do Blog Tá na Hora do Papá
e idealizadora do CONALCOlab, um portal de informação que visa o
empoderamento familiar e a capacitação profissional à distância.

Sua missão é ampliar e difundir uma introdução alimentar regada à


autonomia, respeito e oportunidades multissensoriais! Como mãe e
profissional da área da saúde, sabe o quanto esse processo pode ser
difícil e desafiador. É necessário informação e apoio, para que os
cuidadores sempre tenham em mente quem é o real protagonista de
todo esse processo: o bebê.

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Revisão: Fernanda Vernilo


Foto da capa: Ana Pendloski
Fotografias: Ana Quesada, 
Ana Pendloski e Bigstock.

Referenciar como:
Padovani, AR. Prevenindo o
engasgo: a escolha do adulto faz
toda a diferença. 2a edição
Copyright CONALCOLab 2018

tanahoradopapa.com   |   cONALCOLAB.COM.BR
Copyright aline padovani Janeiro 2018 . Proibida a venda e/ou reprodução parcial ou total
desse e-book sem consentimento da autora
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Índice
3 Introdução

4 Mas o bebê não engasga?

7 Tosse não é reflexo de gag. Reflexo de gag


não é engasgo. E engasgo é coisa séria!

10 ENGASGO é uma CONDIÇÃO e não um


REFLEXO

12 Engasgo e BLW na literatura

15 Praticando BLW com segurança

19
Engasga menos quem mastiga
melhor

21 Prevenindo o engasgo: a escolha do


adulto faz toda a diferença

25 Apresentação segura dos alimentos


para o bebê

35 Referências
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Foto: Ana Pendloski

Em meados de 2014, enquanto eu É através da minha experiência


fazia a introdução alimentar do como Fonoaudióloga e Mãe que
meu primeiro filho, passei a trago pra vocês informações
buscar informações sobre o valiosíssimas sobre os
Baby-led Weaning. mecanismos de defesa e
reflexos de proteção, dentro do
Foi quando me deparei com um contexto da Introdução
universo de novas possibilidades, Alimentar. 
mas, ao mesmo tempo, sendo
passadas de forma aleatória e Espero que seja uma fonte rica
descuidando da importância do de empoderamento e que possa
papel do cuidador na trazer a segurança necessária
apresentação de um ambiente para vivenciar uma introdução
seguro para o bebê se auto- alimentar leve e feliz!
alimentar. 
Com carinho,

Aline Padovani
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Mas o bebê não engasga?


É através da História que entendemos que existe um senso comum que
diz que os primeiros alimentos do bebê precisam ser amassados,
homogêneos e oferecidos em uma colher. A história da “papinha batida”
tem sua fundamentação em toda a história da alimentação
complementar.

Bebês que iniciam a alimentação precocemente, devido à imaturidade


no desenvolvimento motor, não têm outra opção senão receber um
alimento pastoso homogêneo na colher. Por outro lado, ao estudar o
desenvolvimento infantil, fica muito evidente que a oferta de semi-
sólidos e sólidos poderia ser iniciada à partir de sinais de prontidão do
bebê, observados através das habilidades de auto-alimentação que se
tornam mais intensas e presentes por volta dos seis meses de vida.

O Baby-led Weaning e a Introdução Alimentar ParticipATIVA são


abordagens de introdução alimentar que consideram o desenvolvimento
da maioria dos bebês aos 6 meses, incluindo a prontidão para receber
alimentos sob diferentes perspectivas: sistema gastrodigestivo está
mais preparado, o controle postural permite que o bebê comece a
sentar sem apoio por volta desta idade, os primeiros dentes podem
começar a nascer, o bebê está adquirindo maior movimentação da
musculatura proximal e distal, conseguindo alcançar, agarrar objetos e
levá-los à boca, o que leva à inibição do reflexo de protrusão de língua.
O reflexo de gag ainda encontra-se anteriorizado, protegendo o bebê
contra engasgos, principalmente no início, onde eles ainda estão
aprendendo a mastigar.

O reflexo de gag é um reflexo protetor de vias aéreas, que devolve um


alimento mal deglutido pra frente da boca. Esse alimento “devolvido”,
por meio de uma “ânsia de vômito”, vai ser ou cuspido ou novamente
mastigado e deglutido.

Até por volta dos 8-9 meses, a maioria dos bebês ainda tem o reflexo
de gag anteriorizado. Dessa forma, enquanto adultos apresentam o gag
apenas na região das amídalas e da faringe, os bebês apresentam o
reflexo nos 2/3 anteriores da língua, especialmente porque apresentam
essa região mais elevada.

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Foto: Bigstock

 O reflexo de gag é disparado a partir de determinada pressão, em


determinado ponto da boca, como o reflexo patelar, quando o médico
bate o martelinho no joelho e a perna levanta. É por esse motivo que os
gags acontecem com maior frequência quando o bebê coloca pedaços
grandes dentro da boca e, principalmente, quando ainda não aprendeu a
mastigar esses pedaços antes de engolir (o que acontece
especialmente nas primeiras semanas de introdução alimentar).

No início da introdução alimentar tradicional, em uma transição de


consistência das papinhas, o bebê também pode apresentar o reflexo de
gag para alimentos pastosos ou pastosos com pedaços. Isso porque, da
mesma forma, ele ainda não aprendeu a organizar esses alimentos
dentro da boca, transformando-os em um bolo alimentar coeso a ser
deglutido. Assim, a papinha se dispersa na boca e o corpo do bebê, em
um fascinante mecanismo de proteção, faz todos os esforços para que o
alimento – mal deglutido – volte para a boca para ser cuspido ou
manejado novamente para dar sequência correta à deglutição. Muita
gente acha que o bebê não gostou da comida porque está tendo “ânsia”,
mas na verdade é só mais uma parte do aprendizado. É sobre aprender
primeiro a “mastigar”, para depois engolir. 

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Essa primeira fase é fundamental na aprendizagem da mastigação e o


bebê tem seus reflexos protetores em nível máximo de funcionamento:
laringe e traqueia elevadas, dorso de língua elevado, reflexo de gag
anteriorizado. Isso acontece até que o corpo se acostume e o bebê
aprenda a manejar os alimentos em cavidade oral, quando sua
anatomofisiologia começa a se modificar, ficando mais próxima do que
temos quando adultos.

Essa é a melhor hora para investir em alimentos macios, fáceis do bebê


manipular por conta própria. Tirinhas de cenoura, batata e outros
legumes bem cozidos, raminhos macios de brócolis e couve flor, tiras de
frutas macias como banana, mamão, abacate. Carnes macias que
praticamente derretem na boca. Frutas como pêssego, ameixa, pera.

HIPORESPONSIVIDADE OU HIPERRESPONSIVIDADE

Deve-se dar uma atenção especial aos bebês com refluxo crônico, que
podem ter modificação da mucosa oro-faringea, e consequente
alteração da sensibilidade. Nestes casos, pode-se observar
hiporresponsividade, inibição total do reflexo ou hipersensibilidade.
Outras condições anátomo-fisiológicas podem levar à alteração do
reflexo, e por isso é sempre bom ter um acompanhamento profissional
em casos especiais, antes de subentender que todos os bebês irão
acompanhar o mesmo padrão descrito nos livros. 

Embora a maioria dos bebês apresente esse reflexo como parte normal
do desenvolvimento, outros podem ter o reflexo de gag tão exacerbado,
que chegam a apresentar vômito após o disparo do reflexo. O vômito
também pode acontecer caso o reflexo seja disparado continuamente,
sem sucesso, como quando algo ficou “preso” no trajeto. O corpo vai
fazer de tudo pra eliminar o que foi mal deglutido, e o vômito pode ser o
esforço final em expelir o que ficou preso em região oral/orofaríngea e
não está conseguindo ser retirado apenas com o reflexo de gag.

De toda forma, a presença de gags excessivos durante a alimentação


deve ser avaliada e bem conduzida, para que o bebê não assimile a
experiência em sua totalidade como um evento ruim. Hoje já se sabe
que as emoções e sentimentos decorrentes das experiências com um
alimento têm grande impacto nos resultados futuros de alimentação.
Então qualquer aparente alteração do padrão deve ser propriamente
investigada por um fonoaudiólogo, descartando desafios sensoriais.

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Tosse não é reflexo de gag.


Reflexo de gag não é engasgo. E
engasgo é coisa séria!
Como vimos,  o reflexo de gag é um importante mecanismo de defesa
contra engasgo, e no bebê ele é anteriorizado, sendo disparado muito
antes do alimento chegar à garganta. O gag é percebido como uma
ânsia de vômito, na qual movimentos musculares involuntários
repetitivos mobilizam a musculatura do pescoço e garganta, de dentro
da boca e da face, na tentativa de expelir um alimento mal deglutido. A
tosse não faz parte do reflexo de gag, embora ambos possam coexistir,
como veremos mais a frente.

À medida em que o bebê se desenvolve, assim como outros reflexos


inatos são reduzidos ou suprimidos totalmente (como o reflexo de
sucção, procura, preensão), o reflexo de gag também tende a se
normalizar e se aproximar mais do que acontece no adulto. Isso
acontece por volta de 7 ou 9 meses de idade. Desta forma, por volta
desta idade, o reflexo de gag passa a ser disparado, na maioria dos
bebês, mais posteriormente, em pilares faríngeos (que revestem as
amígdalas) e orofaringe, principalmente. Consequentemente, o número
de vezes em que o gag é disparado durante a alimentação diminui
drasticamente, e principalmente nos bebês BLW, os quais aparentam
apresentar um desenvolvimento significativo da fase oral da deglutição
– mastigação e controle oral já nos primeiros meses de introdução
alimentar (1).

Pensando sobre a posteriorização do reflexo de gag a partir dessa idade,


gostaria de começar a refletir com vocês sobre o reflexo de tosse e a
diferença entre estes. Sabemos que uma falha no processo de
deglutição pode frequentemente resultar em um engasgo (obstrução
parcial ou total de vias aéreas), sendo a tosse um importante mecanismo
de defesa contra o alimento que se direciona para a laringe, traquéia
e/ou vias aéreas inferiores, ao invés de ir para o esôfago. A tosse é uma 

1. Ressaltando que muito do que se discute sobre o BLW é baseado em estudos retrospectivos, a maioria de
auto-relato ou observacionais. Na prática, o BLW tem se mostrado, para um grupo específico de pais e
cuidadores, como um método seguro, eficiente no desenvolvimento das funções orofaciais e na condução
da introdução da alimentação complementar.

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resposta reflexa e da mesma forma que o gag funciona como um


mecanismo de proteção de vias aéreas, podendo ainda ser realizada
voluntariamente (embora não com a mesma força e efetividade).

O reflexo de gag é iniciado por receptores relacionados ao trato


digestivo, enquanto a tosse é disparada por receptores referentes ao
trato aéreo. Como esses dois componentes compartilham muitas partes
anatômicas, ambos reflexos têm características similares e podem
coexistir, mas não são a mesma coisa.

Os receptores da tosse podem ser encontrados em grande número nas


vias aéreas altas (laringe e traquéia) e nos brônquios e, assim como o
gag, podem ser estimulados por mecanismos químicos (gases, odores
fortes) e mecânicos (secreções, corpos estranhos, alimentos). Além
disso, a tosse ainda é responsiva a mecanismos térmicos (ar frio,
mudanças bruscas de temperatura) e inflamatórios (asma, fibrose
cística). O reflexo da tosse também pode apresentar receptores na
faringe, assim como o gag.

De fato, quando o reflexo de tosse aparece antes, durante ou após a


deglutição, é muito provável que o gag por si só não foi efetivamente
capaz de eliminar o corpo estranho, e este já atingiu vias aéreas. Apesar
do gag funcionar melhor com pedaços de alimentos grandes, o reflexo
de tosse é eliciado mesmo com infímas porções. Assim, é sem dúvida o
reflexo mais importante de defesa de vias aéreas, sendo capaz de
desobstruir a maioria dos engasgos de leve a moderada gravidade
(obstrução parcial de vias aéreas).

A presença de tosse forte, eficaz, indica passagem de ar e a


possibilidade de desobstrução de vias aéreas sem a necessidade de
realizar nenhuma intervenção externa. Ainda assim, deve-se observar se
há recuperação total do padrão respiratório e se a respiração não
apresenta nenhum ruído audível. Quaisquer sinais de mudanças devem
ser considerados relevantes e o médico deve ser procurado.

De acordo com Fraga e colaboradores (2008), o retardo no diagnóstico


da aspiração de corpos estranhos (ACE) está associado à falta de
atenção aos sinais e sintomas na história clínica de engasgo e tosse,
bem como a valorização da radiografia simples de tórax, principalmente
em crianças menores de 3 anos. Estas dificuldades diagnósticas
resultam em vários tratamentos equivocados para quadros de
pneumonia, asma ou laringite.  

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Um excesso de tosse ou gags muito repetitivos com interrupção do


fluxo aéreo e subsequente vermelhidão ou cianose e lacrimejamento
dos olhos indicam a necessidade de intervenção rápida e direta, por
meio da manobra de desengasgo em bebês (figura 1).

Tenho constantemente observado orientações práticas no sentido de


“esperar o bebê se recuperar do gag”. Ressalto: confie no seu bebê,
observe, mantenha a calma, mas atente-se à diferença entre esses
reflexos e esteja atento para realizar de forma rápida e eficaz a manobra
de desobstrução de vias aéreas quando necessária. Se tiver dúvida, aja.
 O BLW é excelente quando bem orientado e bem utilizado. Engasgos
deste tipo são mais raros, mas podem acontecer.

Figura 1: Manobra de desengasgo em bebês (Fonte: Bigstock)

Em um esforço contrário, a tosse também pode desencadear o vômito.


Isso porque ambos processos envolvem diretamente um aumento da
pressão abdominal. A própria tosse pode irritar a garganta e acabar
desencadeando o gag, sendo o vômito uma consequência imediata,
principalmente se o bebê estiver com a barriga cheia ou sendo
alimentado.

Ressaltando que muito do que se discute sobre o BLW tem base


empírica, isto é, baseada em observação. Apesar de bastante difundido
atualmente, o BLW ainda está sendo estudado e os artigos científicos
sobre o assunto ainda apresentam dados incompletos e superficiais. Na
prática, o BLW tem se mostrado um método extremamente eficiente no
desenvolvimento das funções orofaciais e na condução da introdução
da alimentação complementar. Até o momento, não existem na literatura
relatos de aspiração em bebês que foram introduzidos ao método.  

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ENGASGO é uma CONDIÇÃO e


não um REFLEXO
O objetivo deste livro é dar a relevância necessária para que o público
leigo não subestime sinais importantes e nem coloque o bebê em risco
pensando que o reflexo de gag pode operar milagres. Como já dissemos
antes, o Baby-led Weaning é um método excelente se bem orientado e
conduzido. Acredita-se que o bebê exposto ao BLW tenha uma melhor
capacidade em lidar com os sólidos e esteja menos predisposto ao
engasgo, já que desenvolve plenamente suas habilidades intraorais. 

Após a publicação do livro de Gill e Tracey, em 2008, muitos paradigmas


relacionados ao BLW foram sendo estabelecidos e muito do que se
difunde como verdade absoluta acaba sendo decorrente da troca de
experiência nos grupos de mães que praticam o método. Para quem
tem interesse em aplicar o BLW, é de suma importância que
compreenda seus fundamentos. 

O QUE É O ENGASGO?

O engasgo é definido como uma obstrução do fluxo aéreo, parcial ou


completo, decorrente da entrada de um corpo estranho nas vias aéreas,
podendo, em sua apresentação mais grave, levar à cianose e asfixia.

Na obstrução parcial das vias aéreas a


criança consegue tossir, respirar, emitir
alguns sons ou até falar.

Na obstrução total, a criança é incapaz


de tossir, falar, chorar e isso é muito mais
grave, pois pode evoluir para um quadro
de asfixia e parada cardio-respiratória.

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Foto: Bigstock
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Os sinais mais evidentes de obstrução total de via aérea são:

       • coloração arroxeada/azulada da pele,


       • aumento progressivo da dificuldade respiratória,
       • inabilidade de chorar ou realizar algum som,
       • tosse fraca/ ineficaz,
       • ruído agudo durante a inspiração,
       • agitação e/ou confusão devido á falta de oxigenação cerebral,
       • sinal universal de engasgo e perda de consciência.

O engasgo pode ser prevenido. Aproximadamente 50% dos engasgos


acontecem com alimentos, sendo os outros 50% decorrentes da
manipulação de pequenos objetos (moedas, botões, pedaços de móveis
e brinquedos), especialmente quando os bebês começam a adquirir
mobilidade. Esses dados podem variar, de acordo com a fonte, mas
costumam apresentar-se em uma proporção equilibrada.

Outro fator que pode aumentar o risco de engasgo, segundo a literatura,


é a presença do irmão mais velho, pois geralmente há no ambiente uma
grande disposição de alimentos e objetos perigosos para a faixa etária
do irmão menor. Assim, deve-se reforçar a supervisão e orientar aos
mais velhos para não dividirem alimentos e objetos com crianças
menores. 
Não necessariamente um engasgo vai acarretar
uma aspiração (entrada de corpo estranho nas
vias aéreas), mas pode acontecer. De acordo com a
Sociedade Brasileira de Pediatria, no Brasil, milho,
feijão (crus) e amendoim são os grãos mais
comumente aspirados na faixa etária pediátrica.
Por outro lado, o material mais relacionado a
óbito imediato por asfixia é o sintético, como
balões de borracha, estruturas esféricas, sólidas
ou não, como bola de vidro e brinquedos.

Foto: Bigstock 11
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ENGASGO e BLW na literatura


Alguns autores já se dedicaram a estudar o engasgo relacionado à
abordagem Baby-led Weaning, embora nenhum deles tenha
conseguido alcançar evidências irrefutáveis de que o BLW a nível
populacional não aumentaria a frequência de episódios de engasgo.
Dessa forma, apesar dos estudos mostrarem resultados bastante
positivos, é impossível generalizar esses dados.

Estudos que exploraram as atitudes de profissionais de saúde e pais, em


relação ao risco de engasgo e BLW, refletiram atitude bem distintas
entre esses grupos (Cameron et al, 2012; Brown e Lee, 2013). Um destes
foi realizado na Nova Zelândia e outro no Canadá, e ambos ressaltam
uma grande preocupação dos profissionais quanto ao risco de
engasgo. Já entre os cuidadores que seguiam a abordagem, não houve
relato de preocupação com engasgo ou, entre os que tinham receio do
engasgo no início do processo, foram se tornando mais relaxados e
confiantes com o decorrer da experiência.

Entre as preocupações dos profissionais de saúde estão a imaturidade


do bebê para mastigar pedaços grandes de alimentos, além do medo
de que os cuidadores deixem seus bebês sem supervisão durante a
alimentação. Ainda apontaram o clima competitivo entre as mães
praticantes do método, sobre o progresso da alimentação de seus
bebês. Há um receio por parte dos profissionais, de que as mães
considerem o bebê “muito mais avançado” se ele experimentar certos
tipos de alimentos antes de outros bebês, sentindo-se deste modo
motivadas a oferecer alimentos perigosos, de potencial risco para
engasgo. 

A frequência de engasgo, por sua vez, é um comportamento difícil de


medir com precisão. Os dados são geralmente dependentes da auto-
identificação do episódio de engasgo e auto-relato. Brown (2017)
argumenta que a recordação dos episódios de engasgo pode ser
afetada tanto pela culpa materna quanto pelo desejo de retratar o BLW
como um método seguro. E completa: "a menos que observássemos
toda e qualquer refeição e esperássemos por uma (rara) ocorrência de
engasgo, essas limitações não teriam como ser evitadas".

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Cameron e colaboradores (2013) examinaram a frequência de engasgo


em um pequeno grupo de bebês na Nova Zelândia, e não encontraram
diferenças nas incidências de engasgo entre os grupos. Em 2012, esse
mesmo grupo de pesquisadores já havia apontado a maçã crua como
uma das principais causas de engasgo entre os bebês BLW. Como
vamos ver adiante, alimentos crus preenchem o critério de alto risco
para engasgo, principalmente em crianças sem dentes posteriores, pois
são rígidos e se dividem em inúmeros pequenos pedaços duros quando
mordidos. Os autores desencorajam os pais que seguem o BLW a
oferecer maçã crua para seus bebês.

Outro estudo comparativo utilizou o BLISS, um protocolo neozelandês


de variáveis controladas que vem estudando a introdução alimentar
conduzida pelo bebê (Fangupo et al, 2016). Os resultados deste estudo
mostraram que o engasgo ocorreu pelo menos uma vez em todos os
grupos, em uma frequência de 35% dos bebês. Aos 7 meses, 52% dos
bebês já haviam recebido alimentos de risco para o engasgo e 95% aos
12 meses, sem diferença significativa entre os grupos. Entre os
alimentos mais frequentemente relacionados ao engasgo estavam:
fatias de maçã, bolachas e salsichas.

A pesquisadora Amy Brown, do Departamento de Saúde Pública da


Universidade de Swansea (Reino Unido), foi a última a publicar um
importante estudo sobre engasgo e BLW, no Journal of Human
Nutrition and Dietetics (2017). Seus achados evidenciaram associação
negativa entre o aumento do risco de engasgo e o Baby-led Weaning.
Segundo a autora, os resultados devem ser considerados com cautela,
dadas as limitações metodológicas de sua pesquisa. Entretanto,
interpretados no contexto, já nos dão um amplo panorama para
entender a segurança do BLW, além de oferecer um importante
caminho a se trilhar nas pesquisas futuras.

Os questionários investigaram episódios de engasgo entre bebês em


fase de introdução alimentar, comparando a abordagem BLW com a
abordagem tradicional. No total, foram entrevistadas 1151 mães de
bebês com idade entre 4 a 12 meses, que responderam
espontaneamente sobre o modo pelo qual introduziram os alimentos
aos seus bebês (seguindo um BLW estrito, uma abordagem flexível do
BLW ou uma abordagem tradicional). As mães foram perguntadas
sobre a frequência de colheradas e de papinhas (porcentagem por
refeição) e relataram episódios de engasgo. Caso o bebê já tivesse
engasgado, as mães foram perguntadas quantas vezes, com que tipo
de textura (papa, papa granulada, alimentos em pedaços) e exemplos
de alimentos específicos.
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No total, apenas 13,6% dos bebês haviam engasgado pelo menos uma
vez. Não foram encontradas diferenças significativas relacionadas à
abordagem escolhida, ou à proporção de colheradas e o uso de papas.

Ou seja, o risco de já ter engasgado pelo


menos uma vez foi o mesmo entre bebês
que seguiram uma abordagem BLW
(estrita ou flexível) e aqueles que seguiram
uma abordagem tradicional.

Os achados corroboram dados dos estudos prévios, que sugerem que o


BLW não aumenta o risco de engasgo durante a introdução alimentar.
Entretanto, examinando a frequência de engasgo entre os bebês que
engasgaram pelo menos uma vez (n=155), a autora observou uma
associação positiva entre a abordagem tradicional e um aumento na
frequência de episódios de engasgo, especialmente relacionada à
textura.

A autora reforça que seus achados não deveriam ser considerados


como evidência definitiva do BLW em relação ao engasgo, visto que a
amostra do estudo representa um recorte não aleatório da população.
Assim como pesquisas prévias, a maioria das mães do estudo tinham
mais de 25 anos e ensino superior.

Neste estudo em particular, as mães foram recrutadas através de fóruns


online de introdução alimentar, ou seja, fizeram uma opção ativa pelo
BLW, tendiam a ter contato com outras mães que também optaram pelo
método e, no geral, são extremamente bem informadas sobre a
abordagem. Os resultados do estudo podem, em parte, ser mais
positivos por esse background materno, considerado pela autora como
“padrão ouro”. Para generalizar esses resultados, seria necessário uma
amosta muito mais diversa e igualmente randomizada.

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Praticando BLW com segurança


Fangupo e colaboradores (2016) acompanharam mais de 180 famílias
divididas entre aquelas que praticavam a auto-alimentação e aquelas
que ofereciam a alimentação na colher. Os pesquisadores observaram
que bebês que se auto-alimentavam não apresentaram maior ou menor
risco de engasgo do que aqueles submetidos à uma prática mais
tradicional. Na verdade, para ambos os grupos foram oferecidos
alimentos potencialmente perigosos. O que significa que é preciso
orientar muito bem os cuidadores a respeito de práticas seguras de
alimentação, não importando a abordagem que será empregada.

O adulto é diretamente responsável pela disposição de alimentos


seguros durante a alimentação. O bebê não tem maturidade para decidir
o que é seguro ou não e leva tudo, absolutamente tudo, à boca. A minha
sugestão é que você também observe e respeite o desenvolvimento
global do bebê durante a introdução alimentar. Se ele não é capaz de
capturar um grão de arroz com o movimento de pinça, então
dificilmente será capaz de manejá-lo com eficiência em cavidade oral.
Todo seu desenvolvimento oral está em perfeita sintonia com seu
desenvolvimento global e não há necessidade de estimular. Lembre-se
que um estilo de alimentação ATIVO permite que o bebê se desenvolva
naturalmente.

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Acompanhar o bebê durante a refeição ajuda não somente na formação


do vínculo, reforçando o aspecto social das refeições, como também
assegura que você irá ver o bebê mastigando e manipulando sua
comida, podendo avaliar rapidamente qualquer situação de risco. 

Sentar-se ereto, prestando atenção durante a refeição (e não fazer


qualquer outra coisa concomitantemente – como brincar, engatinhar ou
correr) é a forma mais segura das crianças aproveitarem o momento.
Uma refeição sem pressa e uma parada para o lanche oferecem à
criança tempo de sobra para mastigar e engolir a comida com
segurança.

Rapley e Murkett (2008) sugerem que o bebê tem muito menos


probabilidade de vir a engasgar quando é ele quem leva o alimento à
boca. Em seu website, Gill Rapley (2016), reforça que, quando se trata de
engasgo, é importante ressaltar que o tipo de alimento não é o único
fator. A postura do bebê e suas habilidades de mastigação devem ser
observadas, assim como sua capacidade e possibilidade de
concentração. 

De fato, reforça a autora, não existem evidências de que os bebês que


fazem BLW tenham maior risco de engasgamento do que bebês que são
alimentados passivamente com papinhas na colher. Pelo contrário, a
autora acredita que o oposto seja verdade, uma vez que os bebês BLW 

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têm mais oportunidades de praticar a mastigação, e não o fazem sob


pressão para engolir. Dessa forma, podem se concentrar em todo o
processo de escolher, manejar e levar o alimento para ser mordido e
mastigado, podem comer conscientemente, em seu próprio ritmo, e
aprender gradativamente como cada alimento se comporta dentro de
sua própria boca.

Brown (2017) observou a existência de uma relação entre a introdução


alimentar tradicional e o aumento da frequência de engasgo com a papa
granulada e alimentos em pedaços. Em seu estudo, na amostra dos
bebês com relato de pelo menos 1 episódio de engasgo, quanto maior a
frequência de oferta de papinha na colher, mais episódios de engasgos
nessas texturas. De maneira igualmente interessante, os bebês que
seguiam o BLW, mas recebiam em algum momento alimentos
amassados e/ou granulados com a colher (o que ela chamou de "BLW
flexível") tiveram maior frequência de engasgo nessa textura (sem
diferença estatisticamente significante). 

Sabe-se que a textura é uma característica bastante importante durante


a aprendizagem da mastigação. Dra. Brown argumenta que os
resultados podem ser devido à baixa exposição às texturas mais firmes,
como dos alimentos em pedaços, na abordagem tradicional. Segundo a
autora, bebês que recebem predominantemente alimentos em pedaços
sabem o que esperar durante uma refeição, e portanto como manipulá-
los dentro da boca. 

Joaquim (9 meses) prontamente  cospe o pedaço de carne ao se interessar


pelo pedaço de laranja. Foto: Ana Quesada. 
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Os alimentos pastosos com pedaços (ou granulados) fazem parte


especialmente da segunda etapa na transição da consistência durante a
introdução alimentar tradicional. Essa é uma consistência bastante
complicada e, frequentemente, o motivo pelo qual muitos cuidadores
não conseguem evoluir da papinha batida.

Alguns fatores são especialmente importantes para se considerar o risco


de engasgo. O primeiro é que a mistura de texturas (líquido + pastoso +
grânulos) pode ser bastante confusa, pois o bebê que antes só sugava e
engolia uma papinha lisa, agora precisa aprender como e quando sugar
ou mastigar, enquanto tenta manejar duas ou três texturas distintas
esparramadas em sua boca. Outro fator é que, colocar a comida na boca
do bebê com a colher pode, com frequência, ultrapassar os limites do
reflexo de gag, não dando tempo do próprio corpo se proteger de um
alimento mal deglutido.

Em uma Introdução Alimentar ParticipATIVA é essencial que o bebê


esteja ATIVO e, portanto, que seu próprio ritmo seja respeitado. O bebê
deve ir em direção à colher e retirar o alimento ativamente com os
lábios. Quando o bebê é protagonista, a colher vai até o ponto em que é
confortável pra ele mesmo, e a quantidade de alimento que ele retira da
colher é suficiente para que ele dê conta. Quando o bebê cospe, pode
ser sinal de que ele não conseguiu coordenar a mastigação e deglutição
com aquela determinada textura ou quantidade. O melhor a fazer é
sempre respeitá-lo. Como vamos ver adiante, a textura é apenas uma
das características que nos permite aprender a mastigar e deglutir
coordenadamente.

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Foto: Bigstock.
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Engasga menos quem mastiga


melhor.
Deglutir é um processo bastante complexo e a literatura chega a
explicar essa função detalhando-a em até 5 fases. São elas: fase
antecipatória, fase preparatória-oral, fase oral, fase faríngea e fase
esofágica. As três últimas fases são importantíssimas no transporte
seguro do alimento da boca até o estômago. Mas no momento, vamos
entender melhor como as duas primeiras fases são essenciais na
aprendizagem da deglutição de forma ampla, sequencial e harmônica.

Engasga menos quem mastiga


melhor. E pra que isso aconteça,
dependemos do próprio bebê, da
tarefa e da experiência. Ou seja, o
bebê precisa de OPORTUNIDADES
de aprendizagem.

A fase antecipatória, embora não seja essencial para uma deglutição


segura, é parte importantíssima de uma boa relação com a alimentação.
Quando bebês, iniciamos as descobertas de todas as características
físicas e sensoriais dos alimentos quando nos dão oportunidades para
interagir com eles. Assim, uma cor, um cheiro, uma textura e até a
temperatura, vão nos fornecendo informações de como lidar com o
alimento antes mesmo dele chegar até a boca.

As informações sensoriais, juntamente com os esquemas motores


criados em decorrência da experiência, fazem com que a gente entenda
que precisamos ter que descaroçar uma cereja com as mãos, os dentes
e a língua, antes mesmo de sentir a presença do caroço dentro da boca.
Isso tudo acontece de forma implícita, não reconhecemos o momento
certo em que aprendemos, ou como aprendemos, mas cada uma das
nossas experiências e o conjunto delas faz com que a gente
simplesmente saiba como agir. 

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A fase-preparatória oral, por sua vez, é quando a mastigação acontece e


é essencial para a preparação e formação do bolo alimentar. Sugar e
sorver também são atividades preparatórias e importantíssimas para dar
sequência harmônica no processo de deglutição seguro. Um alimento
mal preparado pode ocasionar gags, tosse, engasgo, vômito ou até
mesmo aquela sensação de que o alimento desceu "entalado". 

Ainda dentro da boca somos capazes de selecionar os alimentos, sentir


diferentes texturas e organizá-las a ponto de formar um bolo alimentar
coeso e pronto para ser propriamente ejetado. Essa etapa precede a
fase oral, na qual o bolo alimentar é ejetado para o fundo da boca para
então ser encaminhado em direção à faringe, esôfago e estômago.
Quando as fases preparatória oral, oral e faríngea acontecem de forma
sequencial, organizada e harmônica, o risco de engasgo é muito
pequeno.

Quando expostos naturalmente aos sólidos, como no BLW, é fácil notar


que os bebês não conseguem engolir sem antes aprender a morder,
segurar na boca e mastigar. Pode ser que, durante as primeiras
semanas, qualquer coisa que chegue na boca acabe caindo, seja por
falta de controle ou pela ativação do reflexo de gag, ainda bastante
anteriorizado.

A fralda começa a mostrar pequenos pedaços de alimentos sólidos a


partir dos movimentos rudimentares de mastigação. Só começarão a
engolir quando os músculos da língua, das bochechas e da mandíbula
estiverem melhor coordenados, permitindo a deglutição adequada.
Rapley (2008) diz que é possível que esta etapa do desenvolvimento
seja um mecanismo natural de proteção contra o engasgo. Porém,
ressalta a autora, esse mecanismo só funciona quando é o próprio bebê
que coloca comida em sua boca, ou seja, é necessário que ele tenha
total controle.

Alguns cuidadores ficam preocupados ao encontrar pedaços de


alimentos inteiros nas fraldas no início de uma introdução alimentar
conduzida pelo bebê. Mas é preciso lembrar que esta é uma fase
necessária, em que o bebê está aprendendo a mastigar. E aprende-se a
mastigar, mastigando. Em poucas semanas, com muitas oportunidades
de aprendizagem, as fezes já estarão bem diferentes, tanto em cheiro,
como na textura e homogeneidade.

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Prevenindo o engasgo: a escolha


do adulto faz toda a diferença
Nesse momento vamos falar sobre como podemos tornar o ambiente
mais seguro possível, para que a introdução alimentar seja feita com a
maior tranquilidade e segurança, confiando no bebê e em sua auto-
alimentação de forma que os benefícios sobreponham os riscos!

Antes de tudo, vamos relembrar algumas recomendações essenciais:

1. Estar ciente das manobras de desobstrução que você pode


fazer em casa.

2. Insistir para que as crianças comam à mesa, sentadas. Evite


alimentá-las enquanto correm, andam, brincam, estão rindo. Não
deixá-las deitar com alimento na boca.

3. Supervisione SEMPRE a alimentação de crianças pequenas.

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4. Fique atento às crianças mais velhas. Muitos acidentes ocorrem


quando irmãos ou irmãs mais velhas oferecem objetos ou
alimentos perigosos para os menores.

5. Evite comprar brinquedos com partes pequenas e mantenha


objetos pequenos da casa fora do alcance das crianças. Siga a
recomendação da embalagem dos brinquedos, com relação à
idade ideal para aquisição. E não permita que crianças pequenas
brinquem com moedas.

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Foto: Bigstock
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De acordo com a literatura consultada, os alimentos frequentemente


relacionados ao engasgo incluem:

     • Doces (especificamente doces duros ou pegajosos)


     • Qualquer oleaginosa e similares (castanhas, amendoim etc)
     • Sementes (semente de girassol, caroço de azeitona etc)
     • Grãos crus (exemplo: feijão, arroz, milho etc)
     • Pedaços grandes de carne e queijos duros
     • Salsichas
     • Queijos pegajosos
     • Pedaços grandes e rígidos de carnes e queijos
     • Salgadinhos (principalmente duros como doritos, batata-frita etc)
     • Casca de fruta e frutas duras cruas (como a maçã e a pêra verde)
    • Uvas inteiras
    • Chicletes
    • Cubos de gelo
  

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Foto: Bigstock
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     • Pasta de amendoim ou cream cheese (pegajosos e grudam no céu


da boca)
     • Pipoca – PRINCIPALMENTE o peruá (parte amarelinha)
     • Pretzels (ou qualquer biscoito nessa consistência "cascuda")
     • Uvas passas
     • Vegetais duros crus e verduras cruas
     • Alimentos em forma de cordão. Exemplo: broto de feijão; macarrão
tipo espaguete; verduras cortadas em tira, como couve; etc.

Ufa! A lista é grande não? Mas pensando que muitos dos produtos
que estão listados aí não são nem indicados para um bebê, ainda tem
MUITA coisa pra oferecer! Alguns desses alimentos de alto
risco vocês podem tranquilamente passar sem oferecer pelo menos
até os 4 anos de idade.

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Foto: Bigstock
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Apresentação segura dos


alimentos para o bebê
E o que podemos fazer para melhorar a apresentação dos alimentos a
fim de reduzir as chances de engasgo?

Os alimentos mais seguros para as crianças são aqueles cortados em


pedaços que oferecem mínimo ou nenhum risco de “entupirem” a via
aérea. Os desenhos abaixo ilustram a via aérea e como um objeto ou
alimento pode facilmente obstruir totalmente a passagem de ar.

Figura: Como um objeto pode bloquear a via aérea do bebê e criança pequena
Fonte: Fraga e Colaboradores, 2008

Então, uma das principais orientações na apresentação dos alimentos é


cortá-los ao meio, no sentido do comprimento. Isso ajuda a fugir do
formato arredondado ou cilíndrico, que tende a “entupir” a glote, como
visto nas ilustrações acima. 

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Foto: Bigstock
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É por esse motivo que é extremamente arriscado oferecer uvas inteiras


aos bebês e crianças pequenas, assim como qualquer outro alimento
neste formato (tomatinhos, cerejas, jabuticabas, azeitonas, ovinho de
codorna, entre outros).

Quaisquer alimentos nestes formatos deveriam ser cortados


longitudinalmente em duas ou quatro partes. Cortes transversais não
são indicados, pois não “quebram” o formato do alimento que é capaz
de “entupir” a glote.

Por volta dos seis meses de idade, os bebês ainda não conseguem abrir
as mãos voluntariamente para pegar o que tem dentro. Por isso, é
preferível que os alimentos sejam cortados em tamanho maior que o
punho do bebê, assim eles podem roer a pontinha que fica para a fora
da mão,

À medida que o bebê consegue abrir a mão voluntariamente para pegar


o que tem dentro, passar alimentos de uma mão pra outra e inicia um
movimento de pinça, ainda que grosseiro, você pode ampliar a forma de
oferta para os alimentos picados, inclusive até começar a oferecê-los
espetados em um garfinho próprio para a idade. 

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Foto: Ana Pendloski
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É comum que as pessoas se preocupem em como o bebê irá mastigar


sem dentes, mas a realidade é que os dentes mais importantes durante
a mastigação são os dentes do fundo, que nascem apenas após o
primeiro ano de vida. Já pensou ter que esperar eles nascerem para
poder mastigar alguma coisa mais firme? Além disso, já se reconhece a
existência de uma janela de aprendizagem para o desenvolvimento da
mastigação até os 9-10 meses. A criança que não é exposta aos sólidos
antes dessa idade pode acabar tendo dificuldades na mastigação.

Enquanto não nascem os dentes posteriores, você pode amaciar


os vegetais e frutas duras, cozinhando-os na água, forno ou vapor, a fim
de que se tornem fáceis de mastigar por amassamento com as gengivas.
A consistência ideal é a de legumes para salada: nem muito duro, nem
muito mole. isso porque a consistência muito mole, especialmente no
início, vira um purê ou esfarela na mão do bebê que ainda não tem
controle da força e acurácia nos movimentos das mãos e dedos.

Legumes assados também ficam bem saborosos e não escorregam


tanto. É provável que você tenha que assar com a assadeira coberta
para que os legumes fiquem bem macios. Assim que o bebê já
conseguir mastigar melhor (e você vai notar isso também pela redução
drástica do número de gags que acontecem), você já pode começar a
oferecer legumes chips, que amolecem na boca com a saliva durante a
mastigação.

Prato completo a partir dos seis meses. As habilidades de auto-allimentação e mastigação se


desenvolvem a partir da combinação de fatores ambientais (oportunidades), internos (genética)
e da complexidade das tarefas. Foto: Ana Quesada

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Brócolis e couve flor costumam ser muito bem aceitos, pois são fáceis de
segurar e, quando bem macios, fáceis de manipular intraoral mesmo sem
dentes. O florete macio se desfaz na boca com facilidade e acaba sendo
um dos primeiros alimentos a serem vistos nas fezes do bebê que está
aprendendo a mastigar.

Não existe um tempo ideal de cozimento, tudo vai depender do modo de


preparo, do vegetal que você tenha escolhido e até do utensílio e fogão
utilizado. O ideal é que você se baseie na textura. Faça você mesmo um
teste: coloque o alimento na boca e tente amassá-lo com a língua. Ou
pince entre seus dedos indicador e polegar e tente amassá-lo com a
força da pinça. Você sentirá como é fácil fazê-lo com um pedaço de
abóbora cozida e como é impossível com uma folha de alface. 

No início, enquanto o bebê não adquire o movimento de pinça, você pode


fazer bolinhos ou hambúrgueres com os grãos amassados. É muito
notável que o bebê começa a conseguir pegar os grãos quando ele
também já é capaz de manipulá-los na boca. Isso geralmente acontece
por volta de 8-9 meses, mas depende muito mais do desenvolvimento
das suas habilidades do que da idade propriamente dita. 

Para oferecer o arroz de forma que facilite a preensão palmar, assim que
o arroz terminar de cozinhar, deixe o arroz esfriar na panela, antes de
soltar. Na hora de soltar, retire alguns "bloquinhos" para o bebê, que
consegue segurar com mais facilidade! Se quiser, mergulhe no feijão
antes de servir.

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Foto: Arquivo pessoal
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A maçã é um dos alimentos mais frequentemente relacionados ao


engasgo no BLW. Não, você não precisa ter medo, mas é um grande
exemplo de como a forma de preparar muda completamente o risco de
engasgo. A maçã crua, quando mordida, se quebra em pequenos
pedaços praticamente impossíveis de serem amassados com a gengiva.
O mesmo pode acontecer com a pêra quando ainda não está madura.
Para modificar a textura e facilitar a mastigação e deglutição, é só
descascar e cozinhar essas frutas. Você pode começar a oferecê-las
cruas novamente quando chegarem os molares.  

Enquanto não nascem os dentinhos, você também pode oferecer as


frutas com parte da casca para facilitar a preensão palmar (já que a
maioria escorrega). Mas é prudente retirar as cascas das frutas quando o
bebê já tem dentes e é capaz de “rasgar” a casca com a força da
mordida, pois ele pode acabar engasgando principalmente com as
cascas mais duras e fibrosas, como da maçã, manga e abacate.

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Fotos: Ana Quesada
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As carnes são campeãs de dúvidas, mas é extremamente necessário


oferecê-las desde o início da introdução alimentar (a menos que você
tenha optado por uma introdução alimentar vegetariana ou vegana). 

Enquanto o bebê ainda não tem o movimento de pinça, você pode


oferecer as carnes desfiadas umidificadas (com molho ou purê) em
pequenas porções (1); bem cozidas, macias, cortadas em tiras ou cubos,
sempre no sentido transversal das fibras (assim os pedaços que se
soltam ficam pequenos e fáceis de mastigar) (2, 4); ou também em
formato de hambúrguer, almôndega ou croquete (3).

Conforme o bebê adquire o movimento de pinça, você pode começar a


oferecer também em pedaços bem pequenos, desfiados ou carne
moída. A mastigação torna-se muito mais eficiente para alimentos
fibrosos com o nascimento dos molares (até os 2 anos mais ou menos).

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Foto: Arquivo pessoal Fotos: Ana Pendloski

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Foto: Arquivo pessoal Foto: Arquivo pessoal
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Algumas leguminosas, como a vagem e a ervilha torta, são de fácil


preensão. Mas atentem-se para os fiapos, sementinhas e grãos que
podem desprender desses alimentos e escorregar para o fundo da boca.
Você pode retirar os grãos maiores e fiapos enquanto o bebê ainda não
tiver aprendido a mastigar.  

Alimentos fibrosos e/ou duros para mastigar mesmo após o cozimento


(ex: quiabo, vagem, brócolis comum, folhas etc) são mais fáceis de
mastigar se cortados em pedaços pequenos e/ou misturados à outras
preparações/receitas. Não tenha pressa em oferecer todos os alimentos
de uma vez. Atente-se para as habilidades do bebê e vá adaptando
conforme o bebê se desenvolve. 

As folhas podem ser oferecidas cozidas ou cruas, mas sempre bem


picadas. Como no início o bebê não consegue pegar os pedacinhos,
sugiro que você ainda assim misture folhas verdes em outras receitas
(ex: omelete), para que o bebê também sinta o gosto “amarguinho” que a
maioria das folhas verde escuras têm.

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Foto: Arquivo pessoal
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Retire sementes e caroços duros e que não são mastigáveis, como por
exemplo caroços de melancia, mamão e laranja. Alguns alimentos, como
o tomate, quiabo, pepino, maracujá e alguns tipos de uva são
mastigados por inteiro, pois suas sementes são pequenas e se misturam
com a polpa, não sendo necessário se preocupar em retirar as
sementes.

Hidrate as frutas secas e cozinhe bem os grãos, para amaciá-los.

Você pode oferecer milho verde na espiga. Escolha as espigas mais


branquinhas e cozinhe bem para ficar macio (30 minutos na pressão).
Você pode abrir os grãos com um ralador de queijo ou uma faca,
rasgando os grãos para o bebê morder e retirar somente a polpa. 

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Fotos: Arquivo pessoal
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Evite pães de forma e/ou pães brancos “massudos”, pois quando


misturados à saliva formam uma pasta grudenta que pode dificultar a
mastigação e deglutição do bebê, levando a gags excessivos (e
possivelmente desencadeando engasgo ou vômito).

Caso vá oferecer água durante as refeições, certifique-se de que não


há pedaços grandes de sólidos dentro da boca. O manejo de líquidos
com os sólidos dispersos na boca é extremamente difícil e pode
comumente levar ao engasgo. Oferecer líquidos durante um engasgo
pode inclusive levar à piora do engasgo e consequente aspiração.

Caso sinta necessidade de tirar um pedaço de alimento da boca do


bebê, há como fazê-lo de forma segura. Coloque seu dedo indicador
entre a gengiva e a bochecha do bebê, deslizando-o por este espaço
até o fundo da boca. Então, "pesque" o pedaço, trazendo-o para a frente 
em uma varredura no céu da boca, sempre de trás para frente. Nunca
coloque o dedo na boca do bebê sem pensar, você pode inclusive
causar um engasgo ao empurrar o alimento para o fundo da boca. 

Ao final da refeição, caso restem sobras de alimento na boca do bebê,


tente oferecer uma fruta, como uma laranja, pra que o bebê possa
terminar de engolir o que restou. Você também pode oferecer água com
essa finalidade, desde que sejam pedaços pequenos e você se lembre
de manter a cabeça do bebê reta ou levemente fletida (queixo no peito),
nunca para trás. 

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Foto: Ana Quesada
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Para concluir,  estejam cientes e conscientes sobre os riscos, sobre


como podem facilitar a alimentação segura e agir em caso de
necessidade, tornando o BLW e a Introdução Alimentar ParticipATIVA
abordagens apenas leves e prazerosas de introdução alimentar.

Pode ser que você já tenha oferecido muitos dos alimentos citados aí


em cima, mas o que quero sempre difundir são as ESCOLHAS
CONSCIENTES!

Sabendo o que esperar e como agir em caso de necessidade, TUDO fica


mais tranquilo e seguro para o bebê e mais fácil pra você, que
provavelmente vai ter que dar a mesma explicação sobre engasgo pra
todos à sua volta!

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Foto: Ana Pendloski
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Referências
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