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ESTADO DA ARTE DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DA INFORMAÇÃO E

COMUNICAÇÃO NO ENSINO/APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS1


STATE OF THE ART OF DIGITAL INFORMATION AND COMMUNICATION TECHNOLOGIES ON THE
TEACHING/LEARNING FOREIGN LANGUAGES

Pedro Marinelli de Carvalho2


Mayara Mayumi Sataka3

Grupo Temático 1
Subgrupo 1.1

Resumo:
A crescente presença das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) na
sociedade contemporânea vem acarretando transformações profundas na comunicação
e interação entre pessoas. Tais transformações refletem também no
ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras (LE). Nesse sentido, neste trabalho
objetivamos realizar um estado da arte das TDICs no ensino/aprendizagem de Língua
Estrangeira (LE), dos últimos dez anos (2009-2019). Como objetivo específico,
pretendemos mapear, graficamente, o cenário recente dos trabalhos acadêmicos sobre
as TDICs no ensino/aprendizagem de LE.
Palavras-chave: Estado da arte; TDICs; Ensino/Aprendizagem de LE.

Abstract:
The growing presence of Digital Information and Communication Technologies in
contemporary society has led to profound changes in communication and interaction
between people. Such transformations are also reflected in the teaching/learning foreign
languages. In this sense, in this paper we aim to achieve a state of the art of Digital
Information and Communication Technologies in the teaching/learning foreign
language, of the last ten years (2009-2019). As specific objective, we intend to map,
graphically, the recent scenario of academic production of technologies in the
teaching/learning languages.
Keywords: State of the art; Digital Information and Communication Technologies;
Teaching / Learning Foreign Language.

1. Introdução
Com a gradativa popularização do acesso a tablets e a celulares nos últimos anos, é
notável que se transformou a maneira como se trata as Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs) e as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs). De 1

1
Neste trabalho, apresentamos os resultados preliminares de uma pesquisa de Iniciação Científica sem bolsa
(ISB).
2
Graduando do curso de Letras (alemão-português) na UNESP/Araraquara. Email: pm.carvalho@unesp.br
3
Professora de espanhol e português para estrangeiros no Laboratório de Línguas (LabLin) da UNESP/Botucatu.
Doutoranda pelo programa de Linguística e Língua Portuguesa da UNESP/Araraquara. Email:
mayarasataka@gmail.com / mayara.sataka@unesp.br
acordo com Prensky (2001), as gerações mais jovens, que crescem em contato com TICs,
estão acostumadas com uma rápida troca de informações.

Essa crescente disseminação das TICs e TDICs apresenta possíveis facilidades no


processo ensino/aprendizagem. No entanto, abrange também desafios no que se trata do
aluno, que, acostumado com a dinamicidade de seu convívio com as tecnologias, muito
facilmente acaba se frustrando em aulas que lhe colocam em uma posição passiva.
Concomitantemente a essa mudança no perfil do aluno, reflexo do cenário mundial de
acesso às TICs e TDICs, instituições como a Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura (UNESCO) posicionaram-se favoráveis a tais artefatos. Além disso, o
Ministério da Educação criou, por exemplo, o ProInfo, um programa educacional que visa
democratizar recursos digitais em prol da Educação.

Tendo em vista essas considerações, partimos do pressuposto de que a produção


acadêmica na área de Linguística Aplicada, acerca desse assunto, tenha se expandido. Assim,
consideramos que há uma necessidade de estabelecer um panorama de produções sobre
essa temática. Nesse sentido, neste trabalho nosso objetivo geral é realizar um estado da
arte das TDICs no ensino/aprendizagem de Língua Estrangeira (LE), dos últimos dez anos
(2009-2019). Como objetivo específico, pretendemos mapear, graficamente, o cenário
recente dos trabalhos acadêmicos sobre as TDICs no ensino/aprendizagem de LE.

A metodologia desta investigação é de natureza qualitativa e corresponde a uma


pesquisa bibliográfica (LIMA; MIOTO, 2017). Nosso recorte recai em produções em língua
portuguesa apenas. Além disso, pesquisamos produções publicadas no espaço de tempo de
dez anos (2009-2019), pois nesse período houve grandes mudanças tecnológicas e sociais,
culturais e educacionais. No que diz respeito à plataforma na qual realizamos a investigação,
escolhemos o Google Scholar, já que é uma ferramenta de pesquisa muito utilizada no meio
acadêmico e contém apenas produções indexadas. Ressaltamos que este trabalho é
resultado de análises preliminares de uma pesquisa de iniciação científica sem bolsa (ISB).
Nesse sentido, os dados coletados bem como as análises serão futuramente expandidos e
publicados cientificamente.

Desse modo, discutiremos, na próxima seção, o arcabouço teórico que subjaz este
trabalho, após isso abordaremos a metodologia de pesquisa. Por fim, apresentaremos o
estado da arte e as considerações finais.

2. As TDICs no ensino/aprendizagem de LE
As possibilidades de emprego das TDICs no ensino de LE são muito amplas, indo além
de exercitar somente competências de leitura e escrita de LE, podendo exercitar também 2
competências sociais e midiáticas. Tais competências do âmbito social estão profundamente
alinhadas com o que explicitou Almeida (2005), com o letramento digital. Diante da
sociedade contemporânea de rápida troca de informações, o letramento digital não
configura somente a apreensão e a reprodução dos dados, mas também uma visão crítica
deles.
No entanto, é essencial o preparo por parte do professor para promover o
letramento digital, pois a maior parte dos alunos/professores que fazem uso das TDICs em
sala são exploram todo seu potencial. Desse modo, a prática mais profícua seria ir além da
mera exposição do conteúdo usando das TDICs, sem participação do aluno. “[Os novos
alunos] esperam mudanças” (TEZANI, 2017, p. 304). Assim, fica nítido como o emprego das
TDICs no ensino/aprendizagem de LE, para que possa exercer seu potencial, necessita de
uma aplicação adequada por parte do professor. Tal preparo não compreende somente
conhecimento técnico de como operar as tecnologias, mas também uma reflexão quanto o
método tradicional de ensino diante do novo perfil do aluno. De acordo com Prensky (2001),
a tendência é que os alunos das últimas gerações cresçam tendo contato com tecnologias
midiáticas, de forma que, acostumados com rápidos recebimento e transmissão de
informações, tenham dificuldade para se manter passivos durante longas aulas de caráter
expositivo.

Tezani (2017) sustenta o quanto as TDICs estão presentes na vida dos alunos,
constatando em seu trabalho que a maioria deles, além de possuir computador com acesso
à rede, poderia utilizar a ferramenta para pesquisa. A autora destaca que, apesar da vasta
maioria dos alunos possuírem acesso à mídia, seu uso é muito restrito nas escolas. O
potencial das TDICs é pouco explorado nos processos educacionais. Nessa direção, Marques-
Schäfer (2015, p. 4) reforça a necessidade de se preparar o professor: “Seria [...] errado
imaginar que o simples fato de disponibilizar computadores nas escolas propiciaria o
letramento digital dos cidadãos, principalmente dos professores”. Advogamos, em
consonância com a autora, de que a mera inserção das TDICs não resulta necessariamente
uma boa aprendizagem, pois TDICs não são apenas veículos de conteúdo. Por exemplo, Um
datashow exibe muito mais rapidamente o que seria escrito por extenso na lousa, mas é
necessário repensar maneiras de inserir ativamente os estudantes na aula, de maneira a não
frustrá-los e colaborar para a construção do conhecimento. Sendo assim, na próxima seção
discutiremos acerca da metodologia que orienta este trabalho.

3. Metodologia
Este trabalho é de natureza qualitativa e uma pesquisa bibliográfica. A pesquisa
qualitativa caracteriza-se por buscar interpretar o objeto de estudo e situá-lo em um
contexto histórico (CÓRDOVA, SILVEIRA, 2009). Além disso, a pesquisa bibliográfica,
frequentemente confundida por revisão de bibliografia, compreende processos de vigilância
epistemológica, de observação e de cuidado na escolha e no encaminhamento dos
processos metodológicos (LIMA, MIOTO, 2007).

O objeto de estudo caracteriza-se por trabalhos acadêmicos. Nosso recorte para a 3


busca bibliográfica recai na plataforma Google Scholar4, a qual diz respeito a uma plataforma
de uso gratuito que possui trabalhos científicos indexados na rede. Escolhemos um recorte
temporal de dez anos (2009-2019) para as publicações dos trabalhos acadêmicos, os quais
devem estar no idioma português.

4
Disponível em: <https://scholar.google.com/>. Acesso em 12 de maio de 2020.
Em relação à coleta de dados, utilizamos motores de busca no Google Scholar.
Usando combinações de diferentes operadores disponibilizados pela ferramenta, criamos a
frase que resulta no maior número de resultados relevantes ao tema. Coletados os
trabalhos, analisamos seus títulos, resumos, palavras-chave e fichas técnicas. Essa análise
providencia as seguintes informações: título, data de publicação, autoria, instituição a que se
vincula, LE referente (ou a qual o trabalho direciona maior foco), gênero acadêmico
(dissertação, tese, etc) e finalidade. A finalidade trata-se do foco prático do trabalho
analisado. De acordo com Gerhardt e Souza (2009, p. 12), as razões que levam à realização
de uma pesquisa científica podem ser agrupadas em razões intelectuais (desejo de conhecer
pela própria satisfação de conhecer) e razões práticas (desejo de conhecer com vistas a fazer
algo de maneira mais eficaz). Como demonstramos na Fundamentação Teórica (cf. seção 2),
há três desdobramentos principais do tema “TDICs no ensino/aprendizagem de LE”, e cada
um deles representa uma categorização de finalidade, os quais são: Ensino/Aprendizagem,
Formação de Docentes, Políticas da Linguagem e Estado da Arte. Categorizados cada um
dos trabalhos coletados pelos motores de busca e extraídas suas informações, organizamos
tais informações em gráficos, a fim de melhor representá-los visualmente e analisá-los.
Sendo assim, na próxima seção, explicitamos o estado da arte.

4. Estado da arte
Nesta seção, apresentamos o estado da arte das TDICs no ensino/aprendizagem de
LE. Realizamos os procedimentos de coleta e análise de dados, descritos na seção de
metodologia (cf. seção 3), usando os motores de busca no Google Scholar. Dentre todos os
trabalhos que encontramos (226), selecionamos cinquenta e nove (59) trabalhos
acadêmicos5.

Primeiramente, no que concerne às instituições em que as publicações são


vinculadas, há uma grande variedade de Universidades. Na Figura 1, exibimos um gráfico
com a contagem de instituições por publicações.

5
A quantidade de trabalhos coletados nesta pesquisa bibliográfica, bem como as análises, será expandida
futuramente, tendo em vista que neste trabalho divulgamos apenas resultados preliminares.
Figura 1. Gráfico de contagem por instituição
Fonte: Autoria própria

É importante mencionar que o hífen (“-”) na Figura 1 representa a quantidade de


trabalhos de anais de eventos. Sendo assim, o hífen representa a maior contagem de
trabalhos acadêmicos, superando expressivamente a contagem de qualquer universidade.
Concentra-se nele uma quantidade significativa do avanço da literatura. Por outro lado, a
UNESP é a instituição que apresenta a maior concentração de produções. Além disso, a
Figura 1 evidencia uma porcentagem muito alta de produções por parte de universidades
públicas, apesar da maioria (públicas e privadas) ter uma contribuição individual baixa.

No que tange à quantidade de trabalhos por gênero acadêmico, é notável que os


artigos de periódicos representam a maior contribuição, em termos quantitativos, como é
possível verificar na Figura 2.

5
Figura 2. Gráfico da contagem dos gêneros acadêmicos
Fonte: Autoria própria

Na Figura 2 também observamos que a soma da contribuição das instituições em


artigos supera a quantidade de artigos publicados em eventos (cf. Figura 1). Assim, esses
artigos de evento configuram aproximadamente um quarto das produções acadêmicas ao
todo. Ressaltamos, ainda, que a maior contribuição provém de instituições e não de eventos
científicos. Além disso, é perceptível que teses e dissertações representam uma parcela
expressiva, o que evidencia uma preocupação considerável da pós-graduação com o tema
TDICs no ensino/aprendizagem de LE.

Em continuidade, a Figura 3 indica a proporção de trabalhos por línguas focalizadas.

6
Figura 3. Gráfico de línguas focalizadas nos trabalhos
Fonte: Autoria própria

Na Figura 3, é possível verificar que o inglês é a língua mais predominante nos


trabalhos em Linguística Aplicada. Há uma vasta diferença entre ela e a segunda categoria de
pesquisas, que diz respeito às produções que assumem o ensino de línguas como foco, mas
não explicitam um foco em idiomas específicos. Na ordem de quantidade de produções,
aparece, em seguida, as línguas espanhol, alemão, francês, inglês e espanhol e português
(quando se dedica a ambas as línguas). Consideramos que o inglês é um idioma com muita
relevância internacional e hegemonia, de forma que é de se esperar que represente a maior
quantidade de produções. Também é notável a frequência com a qual se trata de línguas de
maneira geral, sem assumir uma em específico, indicando, possivelmente, uma preocupação
na área com conceitos mais gerais e abrangentes e que tende a contribuir com o
ensino/aprendizagem de todas as LEs.

Nessa direção, como explicamos na metodologia, a finalidade consiste no foco


assumido pelo trabalho entre as ramificações das TDICs no ensino/aprendizagem de LE.
Desse modo, organizamos um gráfico com a contagem de finalidades existentes na nossa 7
pesquisa bibliográfica (Figura 4).
Figura 4. Gráfico da contagem das finalidades
Fonte: Autoria própria

Dentre as finalidades (Figura 4), a que predomina substancialmente é o


ensino/aprendizagem. Há uma minúscula presença de estados da arte, que reflete a
necessidade de se tecer panoramas para compreender a produção intelectual na área, como
propomos neste trabalho.

No que tange aos anos de produções, é possível observar na Figura 5 um aumento


gradativo de publicações nos últimos anos.

8
Figura 5. Gráfico das produções por ano
Fonte: Autoria própria

2017 demonstrou uma queda de produções em relação a 2016; 2019 apresentou o


menor número em quatro anos. Ainda assim, 2018 representou a maior soma de produções
e 2019 ainda não havia terminado quando os dados foram coletados. Assim, consideramos
que a tendência das produções da área é de aumentarem em número. Observamos também
que, por mais que o recorte temporal tenha sido de janeiro de 2009 até outubro de 2019,
não há produções anteriores a 2012. Desse modo, compreendemos que houve uma
intensificação do interesse acadêmico pelo tema somente a partir de 2012.

5. Considerações finais
Neste trabalho objetivamos realizar um estado da arte das TDICs no
ensino/aprendizagem de LE, dos últimos dez anos (2009-2019). Como objetivo específico,
buscamos mapear, graficamente, o cenário recente dos trabalhos acadêmicos sobre as TDICs
no ensino/aprendizagem de LE. Após a análise dos dados coletados, ressaltamos algumas 9
observações que julgamos serem importantes.

Ressaltamos como os eventos contribuem para o desenvolvimento do conhecimento


da área, embora os trabalhos em instituições de ensino coletivamente superem os eventos.
Percebemos, pela quantidade de cada tipo de trabalho acadêmico, que há uma preocupação
notável da pós-graduação com o tema em estudo, dado a frequência de teses e dissertações.
No que diz respeito à língua em que o trabalho se dedica, como esperado, a de maior
presença foi o inglês. O foco em que observamos a maior frequência é o de
ensino/aprendizagem, enquanto houve um baixo índice de estados da arte. Observamos
que, com o passar dos anos, a tendência é que os estudos nessa área cresçam em número.

Portanto, esperamos, com este trabalho, colaborar com pesquisadores em busca de


um panorama da área e desvelar uma compreensão geral do tema e seus principais
desdobramentos. Tendo em vista que este trabalho apresenta resultados preliminares,
futuramente pretendemos publicar análises expandidas.

6. Referências bibliográficas
ALMEIDA, M. E. B. de. Letramento digital e hipertexto: contribuições à educação. In:
PELLANDA, N. M. C.; SCHLÜNZEN, E. T. M.; JUNIOR, K. S. (org.). Inclusão digital: tecendo
redes afetivas/cognitivas. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. p. 171-192.

SILVEIRA, D. T.; CÓRDOVA, F. P. A pesquisa científica. In: GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T.


(orgs.). Métodos de pesquisa. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. p. 31-42. Disponível
em: <http://www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsSerie/derad005.pdf>. Acesso em: 17 mai.
2020.

LIMA, T. C. S.; MIOTO, R. C. T. Procedimentos metodológicos na construção do


conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Revista Katál. Florianópolis, v. 10, n. esp.,
p. 37-45, 2007.

MARQUES-SCHÄFER, G. Competência midiática e tecnologias móveis: desafios e perspectivas


para a formação de professores de línguas estrangeiras. In: GALLE, H. P. E.; PEREIRA, V. S.
Congresso da Associação Brasileira de Estudos Germanísticos (ABEG), 1., 2015, Rio de
Janeiro. Anais eletrônicos. São Paulo: 2015. p.1-11

PRENSKY, M. Digital Natives, Digital Immigrants. On the Horizon. In: On the Horizon, 9 (6),
2001, 1-9.

TEZANI, Thaís Cristina Rodrigues. Nativos digitais: considerações sobre os alunos


contemporâneos e a possibilidade de se (re)pensar a prática pedagógica. Doxa: Rev. Bras.
Psicol. Educ., Araraquara, v.19, n.2, p. 295-307, jul./dez. 2017. e-ISSN: 2594-8385.

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