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AUÏUSLSNO L E A L
- < o t>
POLICIA
E
PODER DE POLICIA
* * I 0 DE JANEIRO
IMPRENSA A.CIONM. ?\i I918
OBRAS D O MESMO AUTOR
Prisão preventiva, 1895 — Imprensa Econômica, Bahia.
Germans do Crime, 1896 — Editor José Luiz da Fonseca Magalhães, Bahia.
O Regimen Penitenciário da Bahia, 1898 — « D iário da Bahia ».
A Religião entre os Condemnados da Bahia, [1898 — Typ. Notre D ame, Amar
gosa, Bahia.
Pela Familia'Brasileira sobre a precedência do casamento civil), 1899— < Jornal
de Noticias », Bahia.
A Reforma Municipal (estudo sobre o projecto n. 77o, apresentado na Câmara
dos D eputados), 1902 r « Jornal de Noticias ».
O Sentenciado 304 (E. Raulino — leitura para as prisões), 1002 — Typ. do Lyceu
do Salvador.
Relatório da Penitenciaria do Eslado (Bahia), 1903 — publicação official.
Estudos de Sociologia c Psychologia Criminal, igj2 — Editores Reis & C.
Us Perigos da Excomunhão na Política, 19.12 — « Diário da Bahiaj>,
Responsabilidade Junccional dos Secretaries de Estado c « Impeachment » dos
Funccionarios Civis perante a Constituição da Bahia, 1915 — « Diário da Bahia».
No plenário da O pinião (conllicto entre os poderes públicos — manifesto poli
tico), 1907 — « D iário da Bahia ».
.1 Reforma do ensino do Direito no Brasil, 1907 — «Diário da Bahia».
Discurso pronunciado no Instituto dos Advogados da Bahia, na sessão de posse dos
funccionarios eleitos para o exercício de IQII a /9/J1911 — «Diário da Bahia»,
Individualidade Histórica de Jesus, 1913 — «Jornal do Commercio» .
■Synthèse da acção social dos novos iniciados no direito] nas questões do presente,
1913 — «Jornal do Commercio ».
Technica Constitucional Brasileira, 1914 — «Jornal do Commercio».
Parecer sobre a creação da Ordem dos Advogados (Instituto da Ordem dos Advo
gados), 1914 — «Jornal do Commercio», Rio de Janeiro.
Câmara Syndical dos Corretores, 1914 — «Jornal do Commercio», Rio de Janeiro.
Historia Constitucional do Brasil, 1915— «Imprensa Nacional, Rio de Janeiro.
Do Aclo Addicioiial a Maior idade (Historia Constitucional e Política)—^Imprensa
Naval, 1915.
Policia e Poder de Policia, 1918 — Imprensa Nacional.
A PUBLICAR
Commenlario à Constituição Federal Brasileira — Editores F . Briguiet 4i C a .,
Rio de Janeiro,
Q=SS^2=^GS,^SBJ
EXPLICAÇÃO PRELIMINAR
1
I
DiscrcnRSOS
Discurso proferido no acfo de inauguração da Conferência Judiciaria-
Policiai, em 3 de maio de 181/
Meus senhores.
II
III
IV
•
— 30 —
•
— 31 —-
(1) OTTO MAYER — Dir. Adm. de l'Bmp. Allemand, vol. I, pag. 44.
(2) RANEILETTI in ORLANDO—Trai. di Dir Amm, vol. IV, n. I,
pag. 265.
(3) ELYSIO DE ARAÚJO — Estudo Hist, sobre a Policia da Capital
Federal de 1808 a 1821, pags. 32 e segs.
(4) OTTO MAYER — Op. cit., vol. I I , pag. 3 .
Ainda hoje, esse conceito domina, em alguns paizes adian-
tados. Na França, ou mais particularmente, em Paris, onde
o prefeito exerce funcçÕes de magistrado municipal, é elle
quem vela pela salubridade da urbs, « tomando medidas para
prevenir e combater as epidemias, as epizootias, as moléstias
contagiosas », « todas as medidas que a policia sanitaria com-
porta », «a inspecção das carnes e gêneros alimentícios»,
emfim « a execução das leis que regulamentam a medicina e
a pharmacia », e mais o serviço de incêndios, de navegação
do Sena, do Marne, do canal de Saint Martin, do Üurcq, a
policia da bolsa do cambio, etc., etc. ( 5 ) .
A Allemanha também se conserva nessa pratica. A in-
specção da carne, destruição de pragas da agricultura,
inspecção de mercados, feiras, pesos e medidas, incên-
dios, etc. ( 6 ) , tudo isso incumbe á sua policia.
A Bélgica e a Hollanda receberam inspirações da França
e da Allemanha. A.1H, a policia cuida dos mercados e aqui das
construcçÕes, das moléstias contagiosas, dos pesos e me-
didas, etc. (7) .
Nós ficámos, em boa hora, com o exemplo inglez. Cui-
damos da rua, sob o ponto de vista da segurança dos cidadãos
e do livre transito, e velamos pela prevenção ou descoberta dos
crimes: a ronda, o trafego, a vigilância e a investigação.
A propria inspecção que a Policia carioca exerce sobre theatros,
casas de commodos, hospedarias e congêneres não se explica
sinão por serem logares de accesso ao publico.
Nem é preciso maior numero de attribuiçoes para que o
serviço de segurança augmente a sua importância.
Manter a ordem nas ruas é garantir diuturnamente uma
população inteira. O rondante vale por um freio que protege
os disciplinados e serve de recurso prompto contra os que
rompem os elos de dependência para com a ordem publica.
O seu typo, quando bem instruído no serviço, ganha fama,
como a do « constable » londrino, o popular « Bobby » da
grande metrópole.
(13) RULING CASK LAW — Vol. VI; CONST. LAW — pags. 185-6.
(14) OTTO MAYER— Ob. cil., vol. II, pag. 21.
(15) Accórdão da Terceira Câmara da Côrte de Appcllação.
— 41 —
(24) LÉON MARTI: — Le dr. pos. et Ia jur. adm., vol. II. pags. 367
e seguinres.
domínio do poder discrecionario ao « maior bem do Estado e
da collectividade », e não ao do « amador que escolhe flores
para compor um «bouquet» ( 2 5 ) .
Aqui intervém a theoria do fim, explicando um grande
numero de situações e construindo barreiras ás explosões do
arbítrio.
C) fim jurídico, o fim da lei, não será sempre de fácil de-
limitação.
Quando em uma situação social determinada, e para acudir
a manifestações menos compatíveis com a ordem publica, fôr
votada uma lei ou expedido um regulamento, deve-se entender
que o fim do legislador foi remediar os symptomas revelados,
pela crise, attenuando-os ou fazendo desapparecer. Si entre as
disposições da lei ou do regulamento, a autoridade fôr inves-
tida de algum poder discrecionario. o fim que o legislador teve
cm vista é o circulo em que ella se terá de mover.
Este mesmo fim, porém, não é absoluto. Preciso é sub-
entender que elle, e mais a discreção para attingil-o. dependem
das garantias constitucionaes, entendidas á luz honesta das
suas restricçÕes conservadoras, bem como de quaesquer outras
seguranças de valor porventura existentes na escala do direito
objective.
Assim, o perigo do poder discrecionario desapparece.
porque, além das linhas geraes contidas na lei ou no regula-
mento, não é menos para contar com a educação jurídica da
autoridade, e, muito mais ainda, com o contraste jurisdic-
tional, que, entre nós. quasi a tudo se antepõe.
O fim, no direito, impressionou tão vivamente o cuitis-
simo espirito de DUGUIT, que elle chegou a esta affirmativa
radical : « Em França o acto discrecionario pertence ao pas-
sado. Não existe mais no direito hodierno. O Conselho de
Estado é sempre competente para apreciar o fim que deter-
minou o acto e annullal-o. se entender que o administrador,
conservando-se embora nos limites formaes de suas attri-
buiçoes, visou um fim outro que o que a lei teve em vista,
dando-lhe tal poder (26) .
T H E S E S
I—Constituição da Policia; descentralização e centralização.II—Policia
de carreira: garantias. III — Escola de Policia
I
O primeiro enunciado da these comporta duas inves-
tigações: a) como 6 constituída a Policia do Districto Fe-
deral; b) como deve ella ser constituída.
A) A Policia do Districto Federal recebeu sua ultima
organização no decreto legislativo n. 1.631, de 3 de janeiro
de 1907, desdobrado nos decretos regulamentares ns. 6.439
e 6.440, de 30 de março de 1907.
O primeiro desses decretos se refere á Secretaria de
Policia; o segundo ao serviço policial, que é o de que me
vou especialmente occupar.
O art. i° do decreto n. 6.440, de 30 de março de 1907,
constituiu « o serviço de policia do Districto Federal, sob
a inspecção suprema do Presidente da Republica e superin-
tendência do Ministro da Justiça e Negócios Interiores e
immediatamente dirigido por um Chefe de Policia ».
O art. 2° manteve a já antiga divisão da Policia, entre
nós, em « judiciaria e administrativa ou preventiva, ambas
exercidas pelas autoridades policiaes nos limites das suas re-
spectivas attribuições ». A esta (art. 3°) « incumbe em geral
a vigilância em proteger a sociedade, manter a ordem e tran-
quillidade publicas, assegurar os direitos individuaes e auxiliar
a execução dos actos e decisões da justiça e da municipa-
lidade». Aquella (art. 4 0 ) « comprehende os actos neces-
sários ao pleno exercicio da acção repressiva dos juizes e
tríbunaes ».
Sob o ponto de vista da jurisdicção e do território,
a primeira se extende a toda a superficie do Districto Fe-
deral, ilhas inclusive, dividida em 30 districtos policiaes.
creados. respectivamente, pelos decretos ns. 1.631, de 3 de
janeiro de 1907, 6.440, de 30 de novembro do mesmo anno.
1.828, de 23 de dezembro de 1907 (que creou o 29o dis-
tricto) e a lei n. 3.089, de 8 de janeiro de 1916, que reco-
nheceu o decreto n. 11.534, de 31 de março de I 9 ! 5 J do
Presidente da Republica, creando o 30o districto.
Esses districtos (art. ó°) são classificados em entrancias,
segundo o movimento policial e a respectiva população. O
pessoal de cada um (art. y°) se compõe de um delegado
e commissaries designados pelo chefe de Policia, os de ter-
ceira e segunda entrancia de quatro, pelo mco„s.. e os de
primeira de três.
O art. 8 o enumera os órgãos da administração poli-
cial : um chefe de Policia, três delegados auxiliarcs. 30 dele-
gados de districto. 30 commissarios de I a classe, 100 com-
missarios de 2 a classe, um administrador do Deposito de
Presos na Repartição Central, trcs auxiliarcs do Deposito
de Presos, três escrivães de delegacias auxiliares. três es-
creventes das mesmas, 30 escrivães das delegacias de dis-
tricto, 20 escreventes das delegacias de terceira e segunda
entrancia, 28 officiaes de justiça, um inspector geral da
Policia Marítima, cinco sub-inspectores. dous auxiliares, um
inspector de vehiculos, 10 auxiliares, dous escreventes, um
inspector de investigações e capturas, 80 agentes, um in-
spector da Guarda Civil, um sub-inspector, um almoxarife,
1.000 guardas, sendo 400 de primeira classe e 600 de se-
gunda e a Brigada Policial, composta de 173 officiaes e
3.015 praças. A Brigada Policial é « immediatamente subor-
— G5 —
II
A segunda parte da these se refere á policia de carreira
e ás garantias que devem protegei-a.
A) Na minha entrevista ao Jornal do Commercio, já
citada, disse eu a respeito : « Não sou, como a muitos se
III
II
III
IV
VT
VII
VIII
These 7 a da I a secção
PODER DE POWCIA
(i) OTTO MAYER — Droit Adm. de I'Bmp. All, vol. II, pag. 13.
— 80 —
(3) OTTO MAYËK— Op. cit., vol. II, pags. 9, in fine e 10.
(4) OTTO MAYER — Op. cit., vol. II, pag. 10.
(5) Ibd., ibd., ibd., pag. 10, not. 18.
6
— 82 —
II
UMITÉS DO POD£R DE POLICIA
. _ 83 —
\
_ 87 —
III
IV
PENAS DE POLICIA
II
PODER REGULAMENTAR DO CUlv^li DP, POLICIA
III
>
— 106 —
II
III
IV
VI
gimen do direito, o que não quer dizer que, nos casos em que
falharem a brandura e a persuasão, a autoridade não empregue
a força para salvar a ordem publica.
VII
VIII
IX
II
III
IV
I
PAPEI. DA IMPRENSA NO DOMÍNIO DA POWCIA
que faz, pelo que deixa de fazer. Si fez, fez mai; si não fez,
devia ter feito.
Os próprios jornaes não se pejam de declaral-o.
Um délies, no começo deste anno, numa local, publicou
estas palavras : « Dizer mal da policia é um habito, quasi uma
obrigação, para quem escreve nos jornaes. Conta-se mesmo
de um talentoso jornalista carioca, já fallecido, mas sempre
lembrado, que na concessão de seu algo interessado apoio ao
Governo, resalvava sempre a liberdade de desancar a policia:
— Si meu jornal, justificava elle, também elogiar a policia.
ficará irremediavelmente desmoralizado perante o publico ».
Nessa mesma local, o jornalista disse que essa « hostilidade á
policia» era um «sentimento ingenito».
E' authentico o caso do secretario de um matutino que,
chegando á redacçao, ordenou a um companheiro de serviço
que escrevesse uma nota violenta contra certo delegado.
O plumitivo fel-o: sahiu-lhe da penna uma descompostura
formidável, contra a autoridade do io° districto.
— Não é o delegado do io°, é o do 12o, ponderou o secre-
tario.
O redactor, imperturbavelmente. poz 2 onde estava o e
conservou o libello ipsis litteris...
E' pena que assim seja, porque o publico continuará mal
impressionado com a instituição que o Estado mantém para
protegel-o.
Nesta cidade já se registou o facto curioso de senho-
rinhas vaiarem a policia.
Recolhi de um jornal a respectiva nota para documentar
esta these. Foi numa praia de banhos. Tendo sido appre-
hendida uma canoa de um Club de Regatas, o agente, diz o
jornal, «levou uma formidável vaia na Praia do Flamengo».
E termina: « Tomavam parte nesta vaia até senhoritas » ( 5 ) .
E' inutil prolongar o commentario é melhor enfrentar
brevemente a questão sob o ponto de vista pratico.
Quem quer que estude o papel da imprensa no dominio
da policia, chegará á conclusão de que ella exerce, quasi
sempre, uma influencia má, nefasta, perigosa e apaixonada.
Esta situação advém de varias causas, muitas das quaes
II
Pelo que ficou dito, vê-se que a imprensa créa não pe-
quenos obstáculos á repressão.
A já alludida falta de selecção do pessoal concorre para
isso. Ha reporters que protegem gatunos, caftens e casas de
lavolagem. o que seria o menos, si, infelizmente não houvesse
autoridades que, receiosas de ataques ou por condescendência
injustificável, acquiescem a muitas das suas indevidas soli-
citações.
No próprio jornal, isto é, na materia escripta, esses obstá-
culos existem.
Si um auxiliar da imprensa não é attendido no pedido que
fez em favor de um vagabundo, é quasi certo que elle vae
defendel-o, accusando a policia de perseguil-o, ora dizendo-o
pessoa de boa conducta ora proclamando a sua rehabili-
taçao.
Na descoberta dos crimes, também não é raro a imprensa
prejudicar a acção da policia, como já ficou dito.
III
II
LOCALIZAÇÃO ©O MERETRÍCIO
il
III
3DBO.niiA.R,A.Ç!OES I D E VOTO
Sojòrs a autonomia da Polícia
II
* * *
II
Ill
PARECER DA COMMISSÃO
DPA-T^ECEI^ES
í
II
III
\
— 17 í —
INFORMAÇÕES E
 policia e o meretrício
JURISPRUDÊNCIA
Or,a, a offensa aos bons costumes pode ser feita, não só por pa-
lavras, gestos e acções, como ainda com exhibiçõcs impudicas de
mere'trizes nas janeHas e portas de suas casas, e, assim sendo, irre-
cusável é a competência da policia para agir em bem da ordem e
moralidade publicas, COCHO é aduiittido na nossa legislação c tem
sido consagrado em arestos dos nossos tribunaes, entre os quaes os
do Supremo Tribunal Federal, de 10 de jianeiro de 1900 e de 17 'Je
novembro da mesmo anno, (jur. do mesmo Supremo Tribunal, pa-
ginas 5 e 52).
Por estes fundamentos, julgo improcedente o pedido e, denegando
a ordem
1
impetrada, fica de nenhum effeito o salvo-conducto conce-
dido ; pagas >as custas pelo impetrante.
Publique-se e intirte-sc.
Rio de Janeiro, 3 de abril de 1915• — Antonio Paulino da Silva.»
Regimen disciplinai dos funccionarios públicos
JURISPRUDÊNCIA
RECURSO DE « HABEAS-CORPUS » N. 3-770
Districto Federal
DECISÃO RECORRIDA
ACCORDAM
vembro de 1901, li. fît. Foi ainda um appello á lei 11. 191 b, .
de 30 de setembro de 1893, feito por um conferente da Al-
fândega de Porto Alegre, nomeado por concurso e demittido,
seiii processo, em agosto de 1894, quando aquella lei estava
em pleno vigor. (O Direito, vol. 87, pags. 83-4).
Quanto ao accórdão n. 2.01o, de 1913, segundo o qual
« a demissão do funccionario publico só pôde ser dada com
observância da lei reguladora do caso, sendo nullo o acto do
Governo que a dá sem esse motivo e sem essa observância »,
muito apro\ eita elle ao critério por mim adoptado, porque
usei de uma attribuição que me assegurou o decreto legislativo
11. 1.631, de 3 de janeiro de 1907, e me conferiu o regula-
mento que baixou com o decreto n. 6.440, de 30 de março
do mesmo anno (respectivamente, art. i°, § 20, lettra a, e "ar-
tigo 9o, § 2o, ' n. I V ) .
Ainda quanto ao accórdão n. 2.443, de T^ de julho de
1915, segundo o qual « a clausula legal de ser conservado o
funccionario emquanto bem servir exclue o arbitrio na sua
demissão, que, para se justificar, é preciso se fundar em
faltas que denotem que o funccionario servia mal o cargo em
que fora imitíido », é argumento contra o autor, porque, o
que da sua lettra se deduz (e é justamente o que está assen-
tado), é que é necessário existir na lei a clausula emquanto
bem servirem, para que os funccionarios, não vitalícios, gosem
de estabilidade funccional, não podendo ser demittidos sem o
concurso de certas formalidades. Ora, tal clausula não existe
nem na lei n. 1.631, nem 110 regulamento n. 6.440, de 1907...
Finalmente, quanto ao accórdão de 8 de abril de 1915,
tratando elle da situação intermedia de funccionarios não vi-
talícios, mas também indemissiveis ad nutum, põe em relevo
o que eu não contesto, isto é, que taes funccionarios só
« podem ser destituídos do emprego em virtude de decisão
da propria autoridade administrativa, por motivos precisa e
taxativamente indicados em lei, mediante a observância de
formalidades que o direito processual estabelece para os
juizes ordinários». (Rev. de Direito, vol. 33, pag. 9 6 ) .
E' preciso, porém, que taes, « motivos » existam « taxativa-
mente indicados », para que a autoridade a elles se cinja, o que
não occorre no caso dos commissarios de Policia. Ahi a
«inimediata- resolução do Chefe de Policia» tudo dirime.
211 —
JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA
SUPREMO '1' R 1 B U K \ L V V. D K R A L
ACCORDAO
S
caso da "Jgüla Negra'
1
« Em 5 de junho de 1916 — Exmo. Sr. Desembargalor
Celso Aprigio Guimarães, DD. Presidente da Terceira Câ-
mara da Corte de Appeliação.— Acudindo pressuroso ao pe-
dido de informações emanado dessa Veneranda Cône de Jus-
tiça relativamente á prohibição por mim ordenada da repre-
sentação da Águia Negra, no theatro Recreio, preciso, antes
de mais nada, e como homenagem respeitosa ao Poder Judi-
ciário, salientar que a minha conducta, em todo esse caso,
jamais affectou o meu dever de obediência ás ordens da
Justiça.
E' certo que o funccíonarío encarregado da Policia dos
theatros e espectaculos públicos permittiu a enscenação da
peça e isto se verificou quatro vezes.
Factos, porém, occorreram, que fizeram certo que a
ordem publica seria alterada, se a peça continuasse no cartaz,
em conseqüência de scenas representadas de modo offensivo
a um dos paizes envolvidos na guerra europea. A autoridade
que presidiu ao ultimo espectaculo trouxe ao meu conheci-
mento que houve, na platéa. um começo, limitado embora,
de manifestações, que tenderiam, nas representações seguintes,
a augmentai- de intensidade, tomando um caracter grave, collo-
cando, além de mais. o Governo brasileiro, cuja attenção foi
solicitada para o caso, em situação vexatória no tocante aos
zelos da sua neutralidade.
Dahij a prohibição.
Intervindo o Poder Judiciário por meio de um man-
dado prohibitorio, expedido pelo Sr. Juiz de Direito Almeida
— 220 —
escripto de outros povos cultos, sem que. por isso. seja ferida
a Constituição.
Na Italia, por exemplo, apezar do art. 28 do estatuto,
garantindo a liberdade de imprensa, uma lei de Policia es-
tatue :
« Le opere, i drammi, le rappresentazioni coreographichc
e le altre produzioni teatral i non possano darsi o declamar si
in publico, senza essere prima communicate al prefctto delia
província.
11 prefeito potrá proibere Ia representazione o Ia decla
r
mazione per ragioni di morale o di ordine publico.» -
E' esta, dizem Racioppi e Brunelli, uma « categoria «tie
manifestações do pensamento para a qual se conserva a cen-
s u r a » . {Commenta alio Statuto del Reyno, vol. II. pags. 162
e segs.)
Na Bélgica é conferida ao Conselho Communal attri-
bttição para regulamentar as representações de toda a ordem
« e elle vela por que não se realize nenhuma contraria á ordem
publica », ou « pode, em casos extraordinários, prohibir qual-
quer representação para assegurar a manutenção da ordem
publica». (Errera: Traité de Droit Public Belge, pag. 469.)
Na França a situação é positivamente a mesma. Alli
está em pleno vigor o art. 3" do decreto de 6 de janeiro de
J864. segundo o qual « toda a obra dramática, que tenha de
ser representada, deverá ser examinada e autorizada pelo mi-
nistro das bellas-artes nos theatros de Paris e pelos Prefeitos
nos theatros dos departamentos.
Esta autorização poderá sempre ser retirada por motivos
de o r. de m p u b li ca ».
Commentando esta disposição, Duguit. talvez a mais alta
competência em direito constitucional da França moderna, e
que, seja dito. sob o ponto de vista abstracto. é contrario a
esse regimen, diz peremptoriamente : «.. .em direito o theatro
é submettido a um regimen de Policia. O art. 3 0 do decreto
de 6 de janeiro de 1864 não está abrogado. Emquanto existir
este texto, a autoridade administrativa conservará seu direito
de prohibir de antemão e discrecionariamente a representação
publica de uma peça. e de retirar, também discrecionaria-
mente a autorização dada tácita ou expressamente.» (Traité
de Droit Constitutionnel, vol. II, pags. 73-4.)
— 222 —
JURISPRUDÊNCIA
« HABEAS-CORPUS » X. 4 . 2 0 $
ACCORDÃO
ACCORDÃO RECORRIDO
«
Vistos estes autos de habeas-corpus em que são impetrante o
Dr. Henrique Inglez de- Souza Filho e pacientes José Loureiro
Jorge Gentil e outros :
tendo o Dr. Chefe 'de Policia prohibido a representação da peça
«. A Águia Negra», que estava sendo exhibida pela Companhia « Ruas»
no Theatro Recreio, depois de competentemente licenciada, enviou
o impetrante o presente recurso para ser garantido ao primeiro pa-
ciente, emprezario da companlhia, e aos demais artistas da mesma o
direito de representarem aquelía peça, assegurando-se ainda por
este meio o livre ingresso no theatro de todos aquelles que quizerem
assistir aos espectaculos. Allega o impetrante que tal prohibição
constitue constrangimento ülegitimo. Si á Policia compete velar
pela ordem e moralidade publicas, não lhe assiste o direito de sus-
pender, mediante representação de um consul estrangeiro, uma peça
licenciada, causando com isso grandes prejuízos á empreza que a
montou, fiada na autorização recebida. Affirma que a peça não
tem nenhuma allusão á Allemanha ou a qualquer nação, e, quando
tivesse, muitas outras peças teem sido levadas em todos os tempos
e em todos os paizes; contendo criticas a nações e a chefes de
Estado, sem que a censura as prohibisse. A Policia sem razões de
direito cerceou a liberdade de pensamento garantida na lei básica.
Não se justifica ainda a prohibição com fundamento na ordem pu-
blica, que permaneceu inalterada nas quatro vezes em que a peça foi
exhibida. Pedidas informações ao Dr. Chefe de Policia, prestou elle
as que se encontram á fil. 9. A peça «A Águia Negra» foi de facto
prohibida, depois de licenciada pelo encarregado da Policia dos
theatros, e de representada quatro vezes. Assim procedeu o Dr. Chefe
— 225 — ■ *
DE MERITIS
JURISRRUDENCIA
ACCORDA M N. 4.083
JURISPRUDÊNCIA
16
— 242 —
JURISPRUDÊNCIA
Vistos estes autos de habeas-corpus em que são impetrante o
bacharel Alberto Beaumont e Paciente F . . . ; Allega o impetrante na
inicial que o Dr. Chefe de Policia fez recolher o Paciente á Colônia
Correccional dos Dois Rios, por provocação de seu próprio pae o
coronel F . . . que não tendo sido tal internação precedida de sentença
de juiz competente, e não querendo o Paciente permanecer na Colônia,
a sua residência alli constitue constrangimento illégitime», cuja cessação
pede por este recurso. Ouvido o Dr. Chefe de Policia sobre o pedido,
prestou as minuciosas informações de fis. S em diante, acompanhadas
de documentos, em justificativa do seu acto. Par a ellas se vê que o
Paciente foi declarado interdicto pelo Dr. Juiz da 2 Vara de Orphãos,
que nomeou curador ao mesmo seu pae o coronel F . . . Este, na im-
possibilidade de manter no lar o paciente onde era causa de contínuos
sobresailos, de modificar-lhe os pendores muitas vezes de caracter
deiictuoso, não podendo recolhel-o ao Hospital Nacional de Alienados,
de onde fora retirado por entender o respectivo director que não con-
vinha ao doente o regimen do estabelecimento, carecendo elle antes de
uma psychotherapia de desusado rigor, raquereu ao Dr. Chefe de Po-
licia a internação de F . . . na Colônia Correccional dos Dois Rios.
A vista das circumstancias de que se revestiu o caso, tal solicitação
foi attendida, recommendando, porém, desde logo o Dr. Chefe de Po-
licia ao Director da Colônia que não tratasse o Paciente como correc-
cional, e para maior scguirança da regularidade dessa providencia
consultou, sobre cila, o illustre Director do Hospício, que, em officio
junto por copia, declarou nada contraindicar a solução adoptada, não
podendo o Paciente gosar de plena liberdade, não existindo no paiz
estabelecimento adequado ao tratamento de phrcnopathias delin-
qüentes, e desde que o Paciente não fosse submettido ao regimen
penitenciário.
Exposto assim o caso, verificando que o Paciente é um interdicto
que mão pôde gosar de inteira liberdade; que a sua internação na
Colônia foi solicitada por seu pae e curador, obrigado a velar pela
segurança do interdicto por dever natural e imposição da lei, e
ordenada por autoridade a quem por lei incumbe zelar pela segurança
publica, providenciando para que tenham os loucos o conveniente
destino (art. 41, n. XIX, do regulamento que baixou com o decreto
n. 6.440, de 30 de março de 1907) ; que a medida impugnada não
infringe o art. g", paragrapho único da lei n. 1.132, de 22 de de-
zembro de 1913, que veda a permanência de alienados nas cadeias
publicas ou entre criminosos, pois, como ponderou o Dr. Chefe de
Policia na sua informação, a Colônia Correccional é um estabeleci-
mento mixto, onde estão reclusos contraventores, mas onde tambem
se admittem, apartadamente, trabalhadores livres, sendo certo que o
paciente se acha separado dos detentos e isento de regimen peni-
tenciário; considerando assim não ser illegal o constrangimento por
elle soffrido, de modo a poder ser reparado por este recurso: Ac-
cordam os Juizes di Terceira Câmara da Corte de Appellação em
negar a ordem impetrada. Custas na fôrma da lei.
Rio de Janeiro, 13 de dezembro de 1916.— Celso Guimarães, pre-
sidente.— Bdmundo Rego.—Francellino Guimarães.—Blviro Car-
rilho .
Localisação de meetings
JURISPRUDÊNCIA
ACCORDAM
Il policia e o jogo
JURISPRUDÊNCIA
Vistos, etc.— Accórdão na Terceira Câmara da Corte de Ap-
pellação negar a ordem impetrada em vista das informaçÕe= minis-
tradas a fis. pelo Dr. Chefe de Policia, que justifica cabalmente a
medida ordenada, não causando assim constrangimento illegal á pa-
ciente, como allega o impetrante.
Custas na fôrma da lei.
Rio de Janeiro. 22 de dezembro de 1917.— Celso Guimarães, pre-
sidente com voto. — Eíviro Carrilho.— Pedro FranceUino Guimarães.
Os cônsules estrangeiros e o seu direito á assistência das
autoridades locaes
JURISPRUDÊNCIA
ACCÓRDÃO N. 4-579
pôde ser tolhida somente pela falta de uma lei especial, que
entre nós não existe. Casos como o de que se trata não são
regidos pelo direito commun)...»
Depois, em 1894, o Supremo Tribunal mudou de orien-
tação, sustentando em vários accórdãos que a expulsão admi-
nistrativa não se podia verificar á falta de uma lei ordinária
que regulasse o assumpto. Mas era o tempo da revolta de
1893... Veio. depois, a lei de 1907, em cujo domínio o
Supremo Tribunal proferiu o accórdão de 30 de janeiro de
1907 e também o de 28 de julho de 1908. respectivamente
relatados pelos Srs. Epitacio Pessoa e Amaro Cavalcanti, até
que, votada a lei 11. 2.641. de 8 de janeiro de 1913, foi ella
considerada inconstitucional pela suppressão do limite de re-
sidência a que alludia a lei de 1907.
Quatro phases se distinguem, pois. na jurisprudência do
Suprema Tribunal em materia de expulsão de estrangeiros:
I a . a da plenitude do poder de expulsão administrativa,
por exigência da ordem publica. (Accórdãos de 6 de julho de
1892 e 23 de junho de 1893.) Ainda em 1898 a nossa mais
alta corte judiciaria, interrompendo, talvez, a orientação de
1894, assim decidia: « . . . o direito de expulsar a qualquer es-
trangeiro, cuja permanência no paiz não seja conveniente, re-
sulta immediatamente da soberania da Nação » ; ao Poder
Executivo. . . compete o exercicio desse direito, por ser o
encarregado de zelar pela segurança e defesa da sociedade »
(Accórdão de 3 de agosto de 1898) ;
2a, a da exigência da lei ordinária permittindo a expulsão
(Accs., vários de 15 de setembro de 1894) : «. . .em razão de
não haver lei do actual ou antigo regimen que outorgue ao
Executivo a faculdade de deportação de estrangeiros como
medida administrativa...» ;
3 a , a do regimen da lei de 1907, em que a expulsão admi-
nistrativa era permittida aos estrangeiros residentes no paiz
por menos de dous annos contínuos ou por menos tempo,
quando casado com mulher brasileira, ou sendo viuvo com
filho brasileiro (Accs. de 30 de janeiro de 1907 e 29 de
julho de 1908) ;
4 a , a do regimen do decreto n. 2.64T, de 8 de janeiro
de 1913. em que a revogação do prazo de residência deter-
minou a sua inapplicação por inconstitucionalidade.
— 286 —
Liberdade de reunião
ENTREVISTAS
Ideas da administração policiai
18)
PAGS.
Explicação preliminar Ill
PRIMEIRA PARTE
Contribuição para a Conferência Judiciaria-Policj
Discursos :
discurso proferido no acto 3e inauguração da Conferência Judic>
licial, em 3 de maio de 1917
Discurso proferido no acto de encerramento da Conferência
Policial, em 9 de agosto de 1917
Theses :
As cartonu.....
Internação de loucos.
Localisação de meetings
Dissolução de sociedade anarchista
A policia e o jogo
Protecção á vida humana'. . . . . ' .
Os consoles estrangeiros e o seu direito ã assis'ten 1 dis a u t o r i d a d e s ' ^ ^
A expulsão dos estrangeiros no direito brasileiro
Sobre o inquérito policial
Liberdade de reunião . . . . . . ''
TERCEIRA PARTE
Entrevistas
as de administração policial
vo . . . . • !
* * •