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Apostila
Fisiologia animal
Aula 1 A célula e a homeostase dos
fluídos

2019
Curso Técnico em Veterinária
Módulo 1
Disciplina de Fisiologia animal
Aula 1: A célula e a homeostase dos fluídos

Conceito
A Fisiologia (do grego physis= natureza, função ou funcionamento; e logos =
palavra ou estudo) é a ciência que estuda as funções normais do corpo, ou seja, as
funções mecânicas, físicas, metabólicas e químicas que ocorrem no organismo do
ser humano e dos animais.
Seu estudo é de fundamental importância para compreender o
desenvolvimento das doenças que ocorrem no organismo. Conhecer o que é normal
nos auxilia a entender como ocorrem as alterações que levam às doenças.
Na medicina veterinária, bem como ocorre na medicina humana, o estudo da
fisiologia e da anatomia é a base para que o aluno consiga, no futuro, entender os
mecanismos de ações dos medicamentos (farmacologia), os processos patológicos
(patologia), os sinais e sintomas das doenças (semiologia), entre outros.

A célula
Para começarmos nosso estudo da fisiologia, primeiro temos que entender
como o organismo animal é estruturado.
Começaremos da menor parte funcional que compõe o organismo.
A unidade funcional e básica de todo sistema vivo é chamada de célula. Ela
possui todas as características morfológicas (forma) e fisiológicas (funcionamento)
de todos os organismos vivos.
O conjunto de determinadas células forma o tecido. Estes formam o órgão,
que juntos formam o sistema. Os sistemas funcionam em conjunto, formando o
organismo. Nenhum organismo consegue funcionar corretamente se não houver
uma complexa integração e comunicação entre os diferentes sistemas. Por exemplo:
sistema nervoso, sistema endócrino, sistema respiratório.

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As células possuem diferentes funções, ou seja, são especializadas. Temos,
por exemplo, as hemácias, que são as células responsáveis pelo transporte de
oxigênio no sangue; os neurônios, células que conduzem o impulso nervoso; o óvulo
e o espermatozoide, células responsáveis pela reprodução; entre outras milhares de
células.
No entanto, todas as células possuem uma estrutura comum, bem como
muitos processos metabólicos como replicação do material genético, síntese
proteica e produção de energia.
Nos animais, homem, plantas, fungos, protozoários (multicelulares), leveduras
e algas verdes (unicelulares), as células são chamadas de eucarióticas, pois
possuem núcleo verdadeiro, delimitado por uma membrana nuclear que protege o
núcleo.
As principais características dessas células são:
- Possuem organelas em seu interior com funções bem definidas;
- Possuem núcleo individualizado (carioteca), envolvido por uma membrana nuclear;
- Presença do material genético dentro do núcleo.

As células são compostas por diversas organelas que também possuem


funções específicas. As organelas encontram-se distribuídas no citoplasma,
composto por um fluído chamado citosol. O citoplasma tem a função de albergar as
organelas e favorecer seus movimentos. As principais organelas da célula são:
- Ribossomos: responsáveis pela produção das proteínas;
- Vesículas: responsáveis pelo transporte de substâncias para dentro ou fora da
célula.
- Retículo endoplasmático rugoso: participa da síntese e transporte de proteínas;
- Complexo de Golgi: faz a secreção celular;
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- Retículo endoplasmático liso: participa do processo de transporte celular, além de
participar da síntese de lipídios;
- Lisossomos: participam da digestão de substâncias orgânicas;
- Mitocôndrias: são responsáveis pela respiração das células, ou seja, pela produção
do combustível que manterá a célula funcionando. Produzem o ATP a partir do O 2
(oxigênio) e glicose (tipo de açúcar).
A célula também possui um núcleo, revestido por uma membrana nuclear e
que contêm todo o material genético. O material genético da célula guarda todas as
informações que a célula necessita para sobreviver e se reproduzir. Essas
informações comandam todas as atividades e determinam a estrutura celular. O
material genético é também conhecido como cromossomos, que possuem
moléculas de DNA, no qual estão inseridas as informações.

Comunicação celular
A partir das informações genéticas, a célula produzirá ou não determinadas
proteínas. Estas podem ter diversas funções: estruturais, hormonais, enzimáticas e
de transporte.
É dessa forma que a célula se comunica com outras células, tecidos e órgãos.
Uma célula produz determinada substância, que funciona como um sinal. Esse sinal
percorre o organismo através do sangue e chega a outra célula, que chamamos de
célula-alvo. Nesta, existem receptores (na maioria das vezes, proteínas) que podem
se localizar na membrana citoplasmática ou no interior da célula, que se ligam à
substância (sinal). A partir dessa ligação receptor-substância, a célula-alvo recebe a
informação, que gerará uma resposta da célula-alvo, que pode ser, por exemplo, o
aumento na produção de determinada proteína ou a diminuição da produção de
outra proteína, entre outras modificações no metabolismo celular.

Membrana citoplasmática
Toda a célula e seus componentes são circundados pela membrana celular
plasmática, formada basicamente por uma dupla camada de lipídios (gordura). Ela
é permeável a certos gases como O2 (oxigênio) e CO2 (gás carbônico), e
impermeável a muitas substâncias como o açúcar (glicose) e os aminoácidos
(constituintes das proteínas).
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A dupla camada lipídica possui também, em algumas regiões, proteínas que
formam canais por onde ocorre o transporte de certas substâncias para dentro ou
fora da célula. A água pode penetrar a célula livremente, e o faz através das
proteínas porosas que estão imersas na bicamada lipídica.

1- lipídeos; 2- proteínas

Composição celular
A célula também é composta por água, íons, minerais e substâncias. A água
é de vital importância para o funcionamento celular e, por isso, é o seu componente
mais abundante. Todos os processos fisiológicos ocorrem exclusivamente em meio
aquoso.
As substâncias das células podem ser de dois tipos: quando muito pequenas
são chamadas de moléculas, quando maiores, são chamadas de polímeros
biológicos.
Os polímeros biológicos são moléculas maiores compostas por cópias de
moléculas menores ligadas entre si, o que conhecemos por macromoléculas.
As principais classes de macromoléculas que compõem a célula e suas
moléculas são:
- Ácidos nucleicos (DNA: ácido desoxirribonucleico e RNA: ácido ribonucleico):
constituídos por nucleotídeos;
- Proteínas: constituídas por aminoácidos;
- Polissacarídeos: constituídos pelos açucares (glicose, frutose, lactose, maltose,
galactose);

Há ainda os lipídeos (gorduras) que são classificados como pequenas


moléculas. Principais polissacarídeos para sobrevivência dos organismos vivos:
glicogênio (origem animal, presente no fígado e músculo esquelético), amido e
celulose (origem vegetal).

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Compartimentalização dos fluídos no organismo
A água é o elemento mais abundante no organismo, perfazendo 60-70% do
peso corporal. De acordo com o estado nutricional e a idade do animal, ela pode
variar. Em animais recém-nascidos, pode chegar a 80% do peso total; em animais
adultos, 60-70% do peso total; e em animais mais idosos, 50% do peso total do
corpo. Ela é considerada o solvente universal, e todas as reações metabólicas
celulares ocorrem em meio aquoso.
A água é distribuída em dois compartimentos principais:
- Líquido Intracelular (LIC): este perfaz 2/3 de toda a água do organismo.
Compreende o líquido dentro das células. Em média, temos de 75 a 100 trilhões
de células.
- Líquido Extracelular (LEC): Este corresponde a 1/3 da água total. Ela é composta
pelo fluido intersticial (espaço entre as células nos tecidos), sangue e linfa.
O LEC é o responsável pelo transporte de oxigênio (O 2) e nutrientes para as
células nos tecidos, e o transporte de resíduos de excreção e dióxido de carbono
(CO2) dos tecidos para os órgãos responsáveis pela sua eliminação. Por isso, ele
permanece em constante movimento pelo corpo. Não é estático. Seu transporte é
realizado em duas etapas. Na primeira etapa, o movimento do sangue pelo sistema
circulatório até os capilares; na segunda, a linfa percorre os capilares sanguíneos
até as células.
As composições do LEC e do LIC são diferentes. É essa diferença nas
concentrações dos solutos que tornam as reações metabólicas possíveis, ou seja,
que propiciam a função normal do organismo. Tais diferenças são sempre mantidas
pelo organismo. Todos os órgãos e tecidos do corpo desempenham funções que
ajudam a manter os constituintes do líquido extracelular relativamente constantes, o
que conhecemos como homeostasia.

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Basicamente, o LIC contém grandes quantidades de íons potássio (K +),
magnésio (Mg++) e fosfato; enquanto o LEC contém grandes quantidades de íons
sódio (Na+) e cloro (Cl-).
São as membranas celulares e o transporte por meio delas que mantêm as
concentrações adequadas de cada íon nos respectivos compartimentos (LIC ou
LEC).

Homeostase
O termo homeostasia, formada pelos radicais gregos homeo (o mesmo) e
stasis (ficar), foi criado pelo fisiologista americano Walter Canon, em 1929, inspirado
no conceito de fixidez do meio interno, proposto por Claude Bernard em 1878, para
significar a manutenção de condições estáticas ou constantes no meio interno.
“A homeostasia é a propriedade autorreguladora de um sistema, ou organismo, que
permite manter o estado de equilíbrio de suas variáveis físico-químicas essenciais
ou de seu meio ambiente”. Ou ainda: “A homeostasia é a tendência permanente do
organismo a manter a constância do meio interno. É o estado de independência
relativa do organismo às oscilações do meio externo” (KLEIN, 2013).
Em outras palavras, a homeostase é a capacidade que o animal possui de
manter seu organismo estável, funcionando adequadamente, em equilíbrio.
Existem muitos mecanismos pelos quais os animais mantêm seus corpos em
equilíbrio como, por exemplo, a termorregulação em mamíferos, que é feita pela
pele e a circulação sanguínea; a osmorregulação, que é a regulação da quantidade
de água e minerais do corpo, feita principalmente pelos rins.
Quando o organismo animal sofre alguma injúria ou dano, seja ele de origem
interna (intrínseco) ou externa (extrínseco), o equilíbrio é perdido, e cabe ao
organismo recuperá-lo de alguma forma. Caso o equilíbrio não seja restabelecido,
processos patológicos podem ocorrer. A partir da doença, o organismo pode se
recuperar, voltando ao estado de equilíbrio, ou morrer.
Muitos podem ser os fatores intrínsecos: anomalias nas funções dos órgãos
ou sistemas, por exemplo, na diabetes mellitus, na qual o pâncreas perde a
capacidade funcional de produzir a insulina, um hormônio fundamental para
controlar os níveis de açúcar no sangue (glicemia).

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Os fatores extrínsecos podem ser os mais variados, desde agentes
patogênicos como bactérias, vírus, fungos, parasitas, desde agressões perfurantes,
mudanças climáticas como aumento ou diminuição da temperatura, da umidade do
ar, até fatores ambientais como poeiras, pólen, poluição, estresse.
Um dos principais mecanismos de ajustes para o controle da homeostasia é
realizado por meio de Feedback.
Feedback, ou retroalimentação, visa reestabelecer o equilíbrio do meio interno
de modo constante. O aumento ou a diminuição de uma variável no organismo (por
exemplo, a pressão arterial) provoca uma alteração (física ou química), e essa
alteração desencadeia uma reação para a correção funcional, garantindo o equilíbrio
funcional.

Transporte celular
Como as reações metabólicas ocorrem nas células, é imperativo que
entendamos os mecanismos pelos quais as células mantêm-se em equilíbrio, ou
seja, mantêm as concentrações de determinados íons adequadas para o seu correto
funcionamento e recebem aporte de oxigênio e nutrientes.
Todas essas atividades são realizadas por meio do transporte de íons e
moléculas de dentro para fora da célula e vice-versa.
A membrana celular, formada por uma bicamada lipídica na qual estão
inseridas proteínas, permite a livre passagem de substâncias lipossolúveis como os
hormônios esteroidais e pequenas moléculas sem carga, como o O 2 e N2.
Moléculas maiores não passam livremente pela membrana como as
moléculas de açúcar, aminoácidos e nucleotídeos.

Dois tipos básicos de transporte através da membrana celular


A Difusão é o transporte aleatório de moléculas através da membrana, sem o
gasto de energia e ocorre a favor do gradiente de concentração. As moléculas saem
de uma região de maior concentração para uma de menor concentração para que os
dois locais entrem em equilíbrio. Esse transporte também é conhecido como
transporte passivo.
A difusão pode ainda ser subdividida em:

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- Difusão simples: nesse tipo de transporte, não há o envolvimento de proteínas
transportadoras. O transporte ocorre pelos espaços entre as moléculas lipídicas da
membrana ou pelos canais porosos compostos por proteínas.

- Difusão facilitada: proteínas transportadoras auxiliam a passagem das moléculas


ao se ligarem a elas.

Por difusão, são transportados oxigênio, nitrogênio, dióxido de carbono, álcoois. A


água entra e sai da água através dos canais porosos.
No entanto, muitos íons precisam ter concentrações diferentes dentro e fora
da célula para que as reações metabólicas ocorram normalmente. Para isso, ocorre
o transporte de determinados íons contra o gradiente (diferença) de concentração,
ou seja, os íons serão deslocados dos locais de menor concentração para os locais
de maior concentração.
Esse tipo de transporte é chamado de transporte ativo e requer o gasto de
energia. Ele é realizado em combinação com proteínas transportadoras acopladas
na membrana celular.
Um exemplo clássico de transporte ativo é a bomba de sódio e potássio.
Essa bomba transporta íons sódio para fora da célula e íons potássio para
dentro da célula, contra seus gradientes de concentração. Esta está presente em
todas as células do corpo. Uma proteína carreadora se liga aos íons de sódio no
citoplasma da célula, e a porção externa se liga aos íons de potássio no meio
extracelular. Uma reação química, a clivagem (quebra) de uma molécula de ATP
(energia), libera a energia necessária para que a proteína mude sua forma e o
transporte seja efetuado.
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A bomba é extremamente importante para manter o volume celular, na
condução do impulso nervoso e na contração celular.

Referências
COLVILLE, T. P. Anatomia e fisiologia clínica para medicina veterinária. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2010.
HAFEZ, E. S. E.; HAFEZ, B. Reprodução animal. 7 ed. São Paulo: Manole, 2004.
KLEIN, B. G. C. Tratado de fisiologia veterinária. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
MENDONÇA, V. L. Biologia: os seres vivos. V. 2. 3. ed. São Paulo: AJS, 2016.
______. Biologia: o ser humano, genética e evolução. V. 3. 3. Ed. São Paulo: AJS,
2016.

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