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Faculdade Integrada Tiradentes - FITS

Psicologia Geral e Jurídica

Unidade I
Profª Nielky Nóbrega

Maceió - Al
Março 2014
Psiquiatria Forense

Proposta:

1. História da Psiquiatria forense


2. Psiquiatria forense no Brasil
3. Diagnóstico psiquiátrico
4. Exame psíquico
Psiquiatria Forense

 Psiquiatria forense é uma subespecialidade da


psiquiatria, que lida com a interface entre lei e
Psiquiatria.
Psiquiatria Forense

 A prática forense pode ser dividida em três áreas


específicas:
 Avaliação
 Tratamento
 Consultoria

 A avaliação forense normalmente consiste da


avaliação de um indivíduo na tentativa de auxiliar os
tribunais na abordagem de uma questão legal.
Psiquiatria Forense

 A psiquiatria forense atua nos casos:

 Dúvida sobre a integridade ou a saúde mental dos


indivíduos, em qualquer área do Direito.
 Busca esclarecer à justiça se há ou não a presença de
um transtorno ou enfermidade mental e quais as
implicações da existência ou não de um diagnóstico
psiquiátrico.
Psiquiatria Forense

 Os psiquiatras forenses trabalham com tribunais.

 Avaliando a capacidade do indivíduo para atos da vida


civil e também de sua capacidade de serem
responsabilizados criminalmente (quando não, são
chamados "inimputáveis"), baseando-se no estado
mental do indivíduo avaliado e determinando
recomendações.
Psiquiatria Forense

 Em Direito, chama-se de imputabilidade penal a


capacidade que tem a pessoa que praticou certo ato,
definido como crime, de entender o que está
fazendo e de poder determinar se, de acordo com
esse entendimento, será ou não legalmente punida.
HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA FORENSE
Psiquiatria Forense

 Psiquiatria forense é retroceder à Antiguidade


clássica e ultrapassá-la.

 Retroagir até o antigo Egito – IMOTHEP (cujo nome


significa “aquele que veio em paz”).

 O diálogo entre o Direito e a Psiquiatria remonta aos


tempos pré-hipocrático.
Psiquiatria Forense

 Na Babilônia, em aproximadamente 1850 a.C.,


ocorreu julgamento, no qual uma parteira participou
como perita.

 O “Código de Hamurabi” foi a primeira compilação


de leis que chegou até nós.

 O povo judaico, em sua sabedoria, levava em


consideração a intencionalidade do ato.
Psiquiatria Forense

 Os atos levados a cabo com deliberação eram


considerados equivalentes ao homicídio se resultasse
na morte de alguém.

 A contribuição romana e a colaboração dos filósofos


gregos à história da Psiquiatria forense.
Psiquiatria Forense

 Platão: Divide a alma em racional e irracional.


 Teoria das ideias
 Mito da Caverna

 O homem para Platão era dividido em corpo e alma.

 Enquanto o corpo está em constante mudança de


aparência, a alma não muda nunca.
 Dialética
Psiquiatria Forense

 Aristóteles: Afirma que uma pessoa é moralmente


responsável se, com conhecimento das
circunstâncias e, na ausência de forças externas, tal
pessoa deliberadamente escolheu cometer um ato
específico.

 Para Aristóteles, assim como a política, o direito


também é um desdobramento da ética.
Psiquiatria Forense

 A sociedade romana, através do Senado Romano,


estabelece em 460 a.C. a denominada “Lei das Doze
Tábuas”, a qual faz referência à incapacidade legal das
crianças e dos portadores de doenças mentais e
providencia tutores para os insanos.

 Importantes leis de Roma: a Lex Aquila e a Lex


Cornélia.
Psiquiatria Forense

 Lex Aquila: não levava a julgamento pessoa


responsável por dano a propriedade, quando tal
dano era causado na ausência de negligência ou
malícia.

 Lex Cornélia: punia quem atingia a moral de uma


pessoa, mas não punia crianças ou doentes mentais.

 O de Código de Justiniano, editado em 528 d. C.,


também protegia o doente mental e a criança.
Psiquiatria Forense

 No reinado de Eduardo I (1272) foi elaborado um


decreto denominado “Prerrogativa Real” ou “Direito
do Rei”.

 A primeira cidade europeia a estabelecer um serviço


de médicos peritos foi Bologna em 1292.

 Uma das primeiras autópsias médico-legais foi


realizada na Europa e documentada em 1302.
Psiquiatria Forense

 No começo do século XVI, mais precisamente 1507,


considera-se o início do período moderno na
Medicina legal, neste ano o Bispo de Bamberg
decreta que em todos os casos de morte violenta é
obrigatória a participação de peritos médicos.

 O imperador Carlos V segue tal norma e, na dieta de


Ratisbon, em 1532, requer a presença de peritos
médicos em todos os casos em que há injúria
pessoal, morte ou suspeita de gravidez.
Psiquiatria Forense

 Em 1648, o médico Paulo Zacchia publica, em Roma,


a 1ª edição de sua Monumental obra Questões
médico-legais. Atuou como perito para diversas
ordens religiosas e era médico pessoal do Papa.

 O julgamento de Earl Ferrers, em 1760, é o primeiro


julgamento criminal ocorrido na Inglaterra em que
um médico atua como perito para avaliar as
condições mentais do réu.
Psiquiatria Forense

 Em 1837, na França, Etiene Esquirol publica o


tratado Des maladies mentales com capítulos
dedicados à psiquiatria forense, e o médico Isaac Ray
um dos fundadores da APA (American Psychiatric
Association), publica, em 1838 o Tratado de
jurisprudência médica da loucura.

 Por volta da segunda metade de séc. XIX,


começaram a ser idealizados os primeiros institutos
voltados ao tratamento de doentes mentais
perigosos.
Psiquiatria Forense

 Em 1850 foi fundado o Instituto de Auburnque, e em


1863 surge na Inglaterra o Instituto de Bradmore,
que se tornou padrão para os institutos criados a
partir de então.

 A relação entre doença mental e as leis evoluiu sem


uma relação direta com o progresso dos
conhecimentos sobre as doenças mentais.
Psiquiatria Forense

 O surgimento da Psiquiatria como uma das


especialidades médicas, tomou para si todas as
relações entre a saúde Mental e a Justiça, e é neste
momento que surge a Psiquiatria Forense, podendo
ser definida, enfim como a subespecialidade que faz
uso dos conhecimentos psiquiátricos à luz da
legislação, ou como a utilização dos conhecimentos
psiquiátricos a serviço da justiça.
Psiquiatria Forense

 Por volta de 1876, Cesare Lombroso, demonstrou a


importância de conhecermos o homem, para que se
estabeleça a Justiça.

 Criador da antropologia criminal.

 Responsável por definir o perfil do criminoso.


PSIQUIATRIA FORENSE NO BRASIL
Psiquiatria Forense

 No início do Império, em 1835, a lei de 04 de junho cita


os que são juridicamente inimputáveis: os menores de
14 anos e os alienados.

 Em 1884, são publicados dois importantes livros:


 Raça humana e responsabilidade penal no Brasil (Nina
Rodrigues);
 Os menores e os alienados (Tobias Barreto).
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 Em 1887, o professor Francisco Franco da Rocha


assume o Serviço de Assistência aos Psicopatas do
Estado de SP.

 Em 1888 é inaugurado o maior e mais importante


hospital psiquiátrico brasileiro, modelo para o país e
para América Latina: o Juquery.
Psiquiatria Forense

 Francisco Franco da Rocha em 1904, publica suas


vivências e experiências em um tratado que
denomina “Esboço da psiquiatria forense”.

 Os “manicômios judiciários” são inaugurados.


 Rio de Janeiro (1921)
 Rio Grande do Sul e Minas Gerais (1924).

 O crescente número de doentes mentais criminosos


era motivo de preocupação.
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 Alcântara Machado (professor de Medicina Legal),


no dia 13 de dezembro de 1927, patrocina o projeto
de lei criando o Manicômio Judiciário do Estado de
SP.

 Hoje o Manicômio Judiciário é denominado


“Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico
Professor André Teixeira Lima”.
Psiquiatria Forense

 No caso das ciências médicas e mais


especificamente no universo do pensamento
psiquiátrico, o que foi reforçado no Brasil é um certo
conjunto eclético de conceitos e posturas científicas,
fruto da experiência dos pioneiros como Franco da
Rocha.
Psiquiatria Forense

 Foi esse o processo que norteou a substituição dos


asilos leigos criados nos séculos coloniais e imperial
de forma descentralizada e sem finalidade
terapêutica (depósitos de loucos) pelo grande
nosocômio moderno (Juquery).

 Organizado a partir da especialização médica como


um foro centralizado de classificação, pesquisa e
tratamento da loucura.
DIAGNÓSTICO PSIQUIÁTRICO
Psiquiatria Forense

“A arte começa quando de um grande número


de noções fornecidas pela experiência, se
forma uma só concepção geral que se aplica a
todos os casos semelhantes. “

(ARISTÓTELES)
Psiquiatria Forense

 Etimologicamente, o termo diagnóstico refere-se ao


reconhecimento do todo através de suas partes.

 O prefixo grego dia significa a separação de um


componente do outro e gnosis significa reconhecer,
perceber.

 A identificação de uma doença ou de um transtorno


é o objetivo final do processo diagnóstico.
Psiquiatria Forense

 A identificação do diagnóstico é um dos postulados


que o modelo médico impõe à psiquiatria, e desde a
década de 1950, o problema de sua elaboração
progrediu muito cientificamente.

 Estabelecer um diagnóstico psiquiátrico é a única


forma de conhecer as causas ou as hipóteses
explicativas, os mecanismos, a evolução da doença e
a melhor forma de determinar uma conduta
terapêutica e preventiva se possível.
Psiquiatria Forense

 A classificação baseia-se sempre em um passo


posterior ao da obtenção de informações sobre o
problema e da caracterização do quadro clínico do
paciente, mediante suas queixas e sofrimento, e é
um passo anterior à instituição do tratamento.

 Diagnóstico e classificação caminham juntos.

 São relevantes ao se discutir a questão do


diagnóstico: a confiabilidade e a validade.
Psiquiatria Forense

 Entende-se confiabilidade como a qualidade de uma


classificação com a qual avaliadores diferentes
cheguem ao mesmo diagnóstico e que esse
diagnóstico apresente resultados consistentes em
circunstâncias variadas, como com o passar do
tempo.

 A validade refere-se à qualidade ou à força que um


sistema ou instrumento diagnóstico é capaz de
reportar ao que de fato está ocorrendo.
Psiquiatria Forense

 Lotufo Neto Andrade e Gentil Filho afirmam que o


modelo utilizado para o diagnóstico médico é
hipotético-dedutivo, no qual as hipóteses
diagnósticas são geradas a partir do encontro com o
paciente na entrevista clínica.

 O critério norte-americano atual, DSM-IV-TR, lista


365 transtornos, divididos em 17 seções.
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CATEGORIAS CLASSIFICADAS PELO DSM-IV-TR


Transtornos da infância e adolescência - TDAH
Delirium, demência, transtornos cognitivos
Transtornos mentais causados por uma condição médica geral
Transtornos relacionados a substâncias
Esquizofrenia e outros transtornos psicóticos
Transtornos do Humor – Depressão e Bipolar
Transtornos de Ansiedade – TOC, Fobia Social, TEPT
Transtornos somatoformes – Dismórfico Corporal
Transtornos factícios
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CATEGORIAS CLASSIFICADAS PELO DSM-IV-TR


Transtornos Dissociativos
Transtornos da Alimentação – Anorexia e Bulimia
Transtornos Sexuais e da Identidade de Gênero - Vaginismo, Parafilias
Transtornos do Sono
Transtornos do Controle dos Impulso não classificados em outro local
Transtornos de Adaptação
Transtornos da Personalidade – Paranóide, Narcisista, Anti-Social
Outras condições que podem ser foco da atenção clínica
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Avaliação Multiaxial

 Um sistema multiaxial envolve uma avaliação em


diversos eixos, cada qual relativo a um diferente
domínio de informações capaz de ajudar o clínico a
planejar o tratamento e predizer o resultado.

 A classificação multiaxial do DSM-IV é composta de


cinco eixos.
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 Eixo I
Transtornos clínicos
Outras condições que pode ser foco de atenção clínica

 Eixo II
Transtornos da Personalidade
Retardo Mental

Eixo III
Condições médicas gerais
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Eixo IV
Problemas Psicossociais e Ambientais

Eixo V
Avaliação Global do Funcionamento
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Avaliação FORENSE

 As avaliações forenses são realizadas para auxiliar o


tribunal em resposta a uma questão legal particular.

1. Metas e objetivos;
2. Relação entre as partes;
3. Identidade do examinando;
4. Consequências;
5. Precisão das informações.
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 A avaliação normalmente consiste:

 Entrevista clínica (não estruturada, semiestruturada


ou estruturada);
 Testagem psicológica (testes para avaliar
personalidade, inteligência, déficits
neuropsicológicos ou instrumentos forenses
especializados);
 Informações de arquivos ou de terceiros.
EXAME PSÍQUICO
Psiquiatria Forense

 O exame psiquíco é a análise do estado mental do


indivíduo realizada por contato pessoal, na forma de
entrevista aberta.

 Embora aborde funções mentais específicas, este


exame difere dos testes psicológicos por ser menos
rigoroso do ponto de vista formal, por objetivar uma
avaliação global de todas as funções mentais e por
marcar o início da relação terapêutica.
Psiquiatria Forense

 Descreve separadamente funções mentais que são


por natureza interdependentes e que se mostram ao
observador todas ao mesmo tempo.

 Procura-se obter uma descrição detalhada dos


conteúdos mentais expressos, evitando-se quaisquer
interpretações teóricas dos mesmos.
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 Aparência e comportamento;

 Consciência;

 Atenção e orientação;

 Sensopercepção;
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 Pensamento:
 Forma do pensamento;
 Conteúdo do pensamento.

 Juízo e crítica;

 Afetividade;

 Pragmatismo.
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Aparência e comportamento

 O primeiro contato com o paciente costuma ser de


natureza visual, no qual seu estado geral é avaliado.

 Elementos como aparência física, movimentação,


agitação, inquietação, agressividade, maneira de se
vestir e expressões não verbais podem fornecer
informações importantes.
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Consciência

 O exame das funções mentais propriamente dito


começa com a avaliação do nível de consciência.

 O termo consciência é utilizado para descrever o


quanto o paciente está acordado, alerta ou vigilante,
em suma, o quanto está neurologicamente apto a
manter contato com o mundo ao seu redor.
Psiquiatria Forense

Atenção

 Capacidade de focalizar aspectos do ambiente e


coletar, armazenar e processar informações a seu
respeito.
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Sensopercepção

 Função dos diferentes órgãos dos sentidos.

 Uma percepção normal é aquela que ocorre de


forma adequada e proporcional ao estímulo externo
que a provoca.

 A percepção na ausência de estímulo é chamada


alucinação e pode envolver qualquer sistema
sensorial.
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Pensamento

 O pensamento é classicamente analisado em relação


a sua forma e conteúdo.

 O conceito de forma do pensamento refere-se à


estrutura intrínseca pela qual os conteúdos mentais
são expressos.
Psiquiatria Forense

 A análise do conteúdo do pensamento leva em conta o


significado das ideias expressas pelo paciente, com
especial atenção à compreensibilidade das mesmas
dentro do referencial de sua própria personalidade e
história de vida.

 Exemplo TP Anti-Social
 Comportamento cruel
 Impulsivos
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Juízo e Crítica

 Juízo é a capacidade de julgar os eventos ao redor,


valorizando-os de forma adequada.

 Crítica refere-se à capacidade do indivíduo de julgar


o próprio estado.
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Memória

 Capacidade de reter informações acerca das


experiências vividas e evocá-las na medida da
necessidade.
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Afetividade

 Avaliar a natureza do contato afetivo que o paciente


é capaz de manter com o examinador.

 Embotamento afetivo.

 Labilidade afetiva.
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Pragmatismo

 É a capacidade do indivíduo de realizar atividades


práticas, como cuidar da aparência, higiene e
alimentação.
Sugestões de leitura
CORDÁS, T. A; ABREU, C. N; SALZANO, F. T; VASQUES, F; CANGELLI, F. Síndromes
psiquiátricas – diagnóstico e entrevista para profissionais de saúde mental. São
Paulo: Artmed, 2006.

CUNHA, J. A. Psicodiagnóstico – V. Porto Alegre: Artmed, 2000.

JASPERS, K. Psicopatologia Geral. São Paulo: Atheneu, 2000.

FIORELLI, O. J. MANGINI, R. C. R. Psicologia Jurídica. São Paulo: Editora Atlas, 2010.

RIGONATTI, S. P; SERAFIM, A. P; BARROS, E. L. Temas em Psiquiatria Forense e


Psicologia Jurídica. São Paulo: Editora Vetor, 2003.

TRINDADE, J. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito. Porto


Alegre: Livraria do Advogado, 2004.

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