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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TURMAS RECURSAIS

@ (PROCESSO ELETRÔNICO)
LBMF
Nº 71009684358 (Nº CNJ: 0050618-55.2020.8.21.9000)
2020/CÍVEL

RECURSO INOMINADO. TERCEIRA TURMA


RECURSAL DA FAZENDA PÚBLICA. INFRAÇÃO
DE TRÂNSITO DE NATUREZA ADMINISTRATIVA.
SÚMULA 10 DAS TRFP/RS. INFRAÇÃO DOS ARTS.
164 C/C 162, I, DO CTB, É CORRELATA A
CONDUÇÃO DE TRÂNSITO. DIREITO NÃO
EVIDENCIADO.
1. Trata-se de Recurso Inominado interposto pela autora,
contra a sentença de improcedência da ação, onde postulava
pelo reconhecimento da infração elencada nos arts. 164 c/c
162, I, do CTB, como de natureza meramente
administrativa, nos fundamentos da Súmula 10 das Turmas
Recursais da Fazenda Pública do TJRS.
2. No mérito, a matéria ora ventilada já foi objeto de
Uniformização de Jurisprudência n. 71006837728, onde
restou fixado o entendimento de que as infrações de cunho
administrativo não são consideradas para fins de computo de
instauração do Processo de Suspensão do Direito de Dirigir.
Neste sentido, resta a verificação se a infração cometida se
trata de natureza meramente administrativa. Para tanto, o
CTB não elenca as infrações como administrativas ou não,
sendo, portanto, fixado o entendimento de que as infrações
cometidas na condução do veículo e, ou, em ato correlato,
não podem ser consideradas de cunho ou natureza
meramente administrativa, pois em risco à saúde da
coletividade no trânsito.
3. No caso em apreço, a infração autuada com base nos arts.
164 c/c 162, I, ou seja, por “permitir que pessoa nas
condições referidas nos incisos do art. 162 tome posse do
veículo automotor e passe a conduzi-lo na via” e dirigir
veículo “sem possuir Carteira Nacional de Habilitação,
Permissão para Dirigir ou Autorização para Conduzir
Ciclomotor”. Logo, entendo que se trata de infração
correlata à condução, e de responsabilidade exclusiva do
proprietário, sendo correto o computo dos seus pontos e
responsabilidade à autora.
4. Sentença de improcedência mantida por seus próprios
fundamentos, nos termos do art., 46 da Lei Federal n.
9.099/95.
RECURSO INOMINADO DESPROVIDO. UNÂNIME.

RECURSO INOMINADO TERCEIRA TURMA RECURSAL DA


FAZENDA PÚBLICA
Nº 71009684358 (Nº CNJ: 0050618- COMARCA DE SOLEDADE
55.2020.8.21.9000)

LARISSA GRADASCHI BETTIN RECORRENTE


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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TURMAS RECURSAIS

@ (PROCESSO ELETRÔNICO)
LBMF
Nº 71009684358 (Nº CNJ: 0050618-55.2020.8.21.9000)
2020/CÍVEL

DETRAN/RS - DEPARTAMENTO RECORRIDO


ESTADUAL DE TRANSITO

MINISTERIO PUBLICO INTERESSADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Juízes de Direito integrantes da Terceira Turma Recursal da
Fazenda Pública dos Juizados Especiais Cíveis do Estado do Rio Grande do Sul, à
unanimidade, em negar provimento ao Recurso Inominado.

Participaram do julgamento, além da signatária, os eminentes Senhores DR.ª


LÍLIAN CRISTIANE SIMAN (PRESIDENTE) E DR. ALAN TADEU SOARES
DELABARY JUNIOR.
Porto Alegre, 18 de março de 2021.

DR.ª LAURA DE BORBA MACIEL FLECK,


Relatora.

RELATÓRIO

Dispensado o relatório, nos termos do art. 38 da Lei n. 9.099/95 c/c art. 27


da Lei n. 12.153/2009.

VOTOS

DR.ª LAURA DE BORBA MACIEL FLECK (RELATORA)

Eminentes colegas.

Trata-se de Recurso Inominado interposto pela autora, contra a sentença de


improcedência da ação, onde postulava pelo reconhecimento da infração elencada nos arts.

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TURMAS RECURSAIS

@ (PROCESSO ELETRÔNICO)
LBMF
Nº 71009684358 (Nº CNJ: 0050618-55.2020.8.21.9000)
2020/CÍVEL

164 c/c 162, I, do CTB, como de natureza meramente administrativa, nos fundamentos da
Súmula 101 das Turmas Recursais da Fazenda Pública do TJRS.

Preenchidos os pressupostos de admissibilidade, conheço do Recurso


Inominado.

No mérito, a matéria ora ventilada já foi objeto de Uniformização de


Jurisprudência, onde restou fixado o entendimento de que as infrações de cunho
administrativo não são consideradas para fins de computo de instauração do Processo de
Suspensão do Direito de Dirigir. Segue:

INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE
JURISPRUDÊNCIA. DEPARTAMENTO ESTADUAL DE
TRÂNSITO DO RIO GRANDE DO SUL - DETRAN/RS.
PROCESSO DE SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR
POR PONTUAÇÃO. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA.
COMPUTO DA PONTUAÇÃO. As infrações de cunho
meramente administrativo - como conduzir veículo sem
licenciamento e não registrar o veículo no prazo de 30 dias -
não estão vinculadas à condução ou ato de dirigir e, por que
razão, não podem ser contabilizadas para fins de suspender o
direito de dirigir por pontuação. Neste sentido, as infrações
consideradas administrativas, ou seja, aquelas que quando
perpetradas não são capazes de colocar em risco o motorista, a
coletividade ou a segurança no trânsito, não podem ser
contabilizadas no PSDDP. POR MAIORIA, CONHECERAM
DO INCIDENTE E UNIFORMIZARAM O ENTENDIMENTO,
COM EDIÇÃO DE ENUNCIADO. (Incidente de Uniformizacao
Jurisprudencia Nº 71006837728, Turmas Recursais da Fazenda
Pública Reunidas, Turmas Recursais, Relator: Deborah Coleto
Assumpção de Moraes, Redator: Thais Coutinho de Oliveira,
Julgado em 07/11/2017)
Neste sentido, resta a verificação se a infração cometida se trata de natureza
meramente administrativa. Para tanto, o CTB não elenca as infrações como administrativas
ou não, sendo, portanto, fixado o entendimento de que as infrações cometidas na condução
do veículo e, ou, em ato correlato, não podem ser consideradas de cunho, ou natureza
meramente administrativa, pois em risco a saúde da coletividade no trânsito.

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Súmula 10: “As infrações de trânsito consideradas de cunho meramente administrativas
não podem integrar o somatório de pontos utilizados para a suspensão ou cassação do
direito de dirigir por pontuação-PSDDP.” Nº 71006837728 (Nº CNJ 0026129-
56.2017.8.21.9000) 2018/FAZENDA PÚBLICA

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Nº 71009684358 (Nº CNJ: 0050618-55.2020.8.21.9000)
2020/CÍVEL

No caso em apreço, a infração autuada com base nos arts. 164 c/c 162, I, ou
seja, “permitir que pessoa nas condições referidas nos incisos do art. 162 tome posse do
veículo automotor e passe a conduzi-lo na via” e dirigir veículo “sem possuir Carteira
Nacional de Habilitação, Permissão para Dirigir ou Autorização para Conduzir
Ciclomotor”. Logo, entendo que se trata de infração correlata à condução, e de
responsabilidade exclusiva do proprietário, sendo correto o computo dos seus pontos e
responsabilidade à autora.

Dito isso, tenho que o mérito foi bem analisado pelo juízo de origem ao
proferir a sentença ora vergastada, assim, não se verifica qualquer elemento apto a reformar
a decisão de primeiro grau.

Sendo assim, uma vez que a sentença do juízo de origem esgotou


corretamente a questão, deve ser mantida na íntegra, por seus próprios e jurídicos
fundamentos, nos termos do art. 46, da Lei 9.099/952. Transcrevo:

Dispensado o relatório, nos termos do artigo 38 da Lei n.º


9.099/95 (art. 27 da Lei n.º 12.153/09).
Trata-se de ação anulatória de auto de infração cumulada com
antecipação de tutela, por incurso nos artigos 164 e 162, I, do
CTB.
No caso dos autos, narra a demandante que teve a permissão do
direito de dirigir suspenso e impossibilidade de obtenção da
Carteira Nacional de Habilitação por ter supostamente entregue a
direção à pessoa não habilitada. Deste modo, menciona que seu
irmão teria, sem sua autorização, pego o veículo, mesmo sem ter
permissão/habilitação para tanto.
Refere que por ser uma infração meramente administrativa, não
estaria submetida à regra insculpida no parágrafo único do artigo
148 do Código de Trânsito Brasileiro.
Inicialmente, cumpres destacar que a permissão para condução de
veículos automotores é uma autorização conferida pelo Estado aos
cidadãos que preencherem os requisitos legais. Logo, não há
direito subjetivo à obtenção sem a anterior observância das
mencionadas exigências.
Neste diapasão, verifica-se que o parágrafo único do artigo 148
exige para a aquisição da permissão a inexistência de infração de
natureza grave ou gravíssima ou seja reincidente em infração
média.
2
Art. 46. O julgamento em segunda instância constará apenas da ata, com a indicação
suficiente do processo, fundamentação sucinta e parte dispositiva. Se a sentença for
confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão.
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Nº 71009684358 (Nº CNJ: 0050618-55.2020.8.21.9000)
2020/CÍVEL

No caso dos autos, a infração cometida pela parte autora possui


natureza gravíssima (art. 164 c/c 162, I, do CTB), uma vez que
permitiu pessoa não habilitada conduzir veículo de sua
propriedade, não se tratando de infração meramente
administrativa, já que tal conduta gera possível risco de dano à
coletividade.
É o entendimento:
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. TERCEIRA TURMA
RECURSAL DA FAZENDA PÚBLICA. TRÂNSITO. ARTIGO
164 C/C ARTIGO 162, I, AMBOS DO CTB. INFRAÇÃO NÃO
TIPIFICADA COMO ADMINISTRATIVA. RECURSO
INTERPOSTO CONTRA DECISÃO QUE INDEFERIU O
PEDIDO LIMINAR. INDEFERIDO O EFEITO SUSPENSIVO
EM SEDE RECURSAL. DECISÃO MANTIDA. 1. Para a
concessão da tutela provisória de urgência, devem ser observados
os requisitos previstos no art. 300 do Código de Processo Civil -
probabilidade do direito e demonstração de perigo de dano ou
risco ao resultado útil do processo. 2. A autuação capitulada no
artigo 164 c/c 162, I do CTB não se trata de infração de cunho
meramente administrativa. Isto porque a conduta do proprietário
de permitir que pessoa sem habilitação conduza veículo resulta em
potencial risco ao trânsito e a coletividade. 3. Requisitos do artigo
300 do CPC não vislumbrados. AGRAVO DE INSTRUMENTO
DESPROVIDO. UNÂNIME.(Agravo de Instrumento, Nº
71008275653, Terceira Turma Recursal da Fazenda Pública,
Turmas Recursais, Relator: Alan Tadeu Soares Delabary Junior,
Julgado em: 23-05-2019) (grifei)
No ponto, denota-se que a caracterização da infração prescinde de
autorização ou ato comissivo do proprietário do veículo, bastando
que sua responsabilidade exsurja com a simples omissão. Isso
porque, a responsabilidade pela guarda e posse do veículo é do
proprietário.
Deste modo, se o proprietário não possui sequer domínio sobre a
posse do veículo, ao passo que pessoa não habilitada conduza o
automóvel, colocando em risco a sociedade, não detém
capacidade para obter a Carteira Nacional de Habilitação, que
envolve não apenas a aptidão para conduzir o veículo, mas outras
responsabilidades anexas.
Outrossim, a jurisprudência colacionada pela demandante não se
sobsome ao caso em tela, porquanto refere a não aplicação do
parágrafo único do artigo 148 à penalidade prevista no artigo 233
do mesmo diploma legal, que prevê multa por deixar de efetuar o
registro de veículo no prazo de trinta dias.
Isso posto, julgo IMPROCEDENTE o pedido formulado pela
parte autora, com fundamento no inciso I do artigo 487 do Código
de Processo Civil.
[...]

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Nº 71009684358 (Nº CNJ: 0050618-55.2020.8.21.9000)
2020/CÍVEL

Pelo exposto, voto, pois, em NEGAR PROVIMENTO ao Recurso


Inominado.

Sucumbente, arcará a recorrente com o pagamento das custas processuais e


honorários advocatícios, arbitrados em 15% sobre o valor da causa atualizado, suspensa
exigibilidade face à AJG que expressamente defiro.

DR. ALAN TADEU SOARES DELABARY JUNIOR - De acordo com o(a) Relator(a).
DR.ª LÍLIAN CRISTIANE SIMAN (PRESIDENTE) - De acordo com o(a) Relator(a).

DR.ª LÍLIAN CRISTIANE SIMAN - Presidente - Recurso Inominado nº 71009684358,


Comarca de Soledade: "À UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO
INOMINADO."

Juízo de Origem: JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PUBLICA ADJ SOLEDADE -


Comarca de Soledade

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