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Oga - MICOTOXINAS EM ALIMENTOS Ok
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MICOTOXINAS EM ALIMENTOS
Myrna Sabino
na. As quatro principais são denominadas AFB 1, AFB 2 , AFG 1 e As possíveis alterações produzidas na biotransformação da
AFG 2 por apresentarem fluorescência azul e verde sob radiação aflatoxina B1 são:
ultravioleta. a) ataque redutivo ou hidratação da dupla ligação do éter
vinílico;
b) abertura da estrutura bifuranoide;
AFLATOX INAS c) desmetilação da estrutura metoxicumarina;
oli oli
d) fissão hidrolítica da lactona cumarínica;
~
e) redução da ciclopentanona;
f) hidroxilação em um ou mais pontos da molécula antes da
o o conjugação.
B,
(d) , o o
(f) li 11+ - - (e)
i
~ (f)
(a) ---+
oli oli ol i oli 1
o o
~ ~ Figura 2a.
r
(b)
Aflatoxina 8 1
3.4. Biotransformação da aflatoxina 8 1 NADPH
entre animais da mesma raça), de um dia para outro e de uma valor teórico zero, um nível sérico detectável poderia ainda ser
ordenha de leite para outra. Outro derivado hidróxi da aflato - encontrado em humanos após 280 dias decorridos de uma pri-
xina B1 foi detectado no leite comercializado na França, em meira exposição.
1986. Esse metabólito foi denominado aflatoxina M4 pela posi- Existem evidências de que a OTA esteja envolvida na etiolo-
ção do grupo hidróxi estar no carbono 4 do anel ciclopentano- gia da nefropatia endêmica dos Bálcãs (Bulgária, ex-Iugoslávia e
na da AFM1. Romênia), que afeta moradores de áreas rurais e é caracterizada
A contaminação do leite por AFM 1tem uma ocorrência sa- por uma desordem renal crônica que pode ser acompanhada de
zonal. Índices menores de contaminação foram encontrados retenção de sódio ou hipertensão de origem etiológica desco-
durante os meses de verão, quando os animais são geralmente nhecida e levar à morte. Em um estudo búlgaro, a presença de
alimentados em pastagens ao invés de rações concentradas. OTA nos alimentos e no soro humano foi reportada como mais
Sabe-se que AFM 1, além de ocorrer em leite de vaca, pode comum em famílias com nefropatia e tumores no trato urinário
também estar presente em leite de ovelha, cabra, búfala e came- do que nas famílias não afetadas. A International Agency for
la. Além disso, relatos mais recentes mostram que a micotoxina Research on Cancer (IARC) classificou a OTA como uma subs-
é detectada em leite humano, em vários países, algumas vezes tância do Grupo 2B, agente possivelmente carcinogênico para o
em níveis altos em amostras de regiões tropicais e subtropicais. homem. Humanos e animais podem absorver essa toxina atra-
A presença de AFM 1em leite materno é um excelente biomarca- vés do trato gastrintestinal após a ingestão de produtos conta-
dor quanto à exposição das mães à AFB 1 pelos alimentos. minados e também pela inalação de ocratoxina ambiental
(IARC, 1993; Halstensen et ai, 2004).
5. OCRATOXINAS
5.3. Ocorrência
5.1. Fungos produtores e estrutura química A OTA pode ser encontrada como contaminante principalmen-
As ocratoxinas formam um grupo de sete metabólitos tóxicos te nos cereais (cevada, arroz, milho, trigo, sorgo) e derivados,
produzidos por fungos dos gêneros Aspergillus e Penicillium. mas também tem sido relatada em café, uvas, cerveja, vinho,
Apesar de várias ocratoxinas serem conhecidas, somente a chocolate, frutas secas, carne, leite e derivados e especiarias.
ocratoxina A (OTA) possui importância toxicológica. Todas Tem sido também encontrada em tecidos animais, em virtude
são constituídas por uma ~-fenilalanina ligada a uma isocuma- de sua longa meia-vida em mamíferos e de alta afinidade da
rina por ligação amida. A OTA - C20 H 18 ClN0 6 apresenta um OTA pela albumina sérica e outras moléculas sanguíneas.
átomo de cloro responsável pela sua toxicidade. O Comitê Conjunto FAO/OMS de peritos em Aditivos Ali-
mentares e Contaminantes (JECFA) manteve o nível prévio re-
comendado de ingestão semanal tolerável (PTWI) de 100 ng/kg,
considerado adequado com os dados sobre ocorrência de OTA.
C(Xº" N
o
OH o
6. ZEARALENONA
A maior prevalência de ZEA tem sido reportada no Cana- Compreendem cerca de 200 compostos e apresentam vá-
dá, norte da Europa Central e Estados Unidos, embora tenha rios efeitos danosos aos animais e ao homem. São classificados
sido encontrada em alimentos no Egito, na Itália e na África. em macrocíclicos e não macrocíclicos. Os tricotecenos não ma-
A presença de ZEA em alimentos, na maioria das vezes, crocíclicos são os mais estudados e são classificados em tipos
está restrita a regiões que apresentam condições climáticas fa- A,B, CeD.
voráveis, particularmente clima temperado e principalmente Os principais tricotecenos do tipo A são toxina T-2, HT-2 e
nas estações frias e úmidas. diacetoxiscirpenol (DAS), enquanto os principais do tipo B são
o desoxinivalenol (DON ou vomitoxina) e nivalenol (NIV) . O
6.2. Ação biológica DON ocorre com mais frequência, enquanto a toxina T-2 é
A ação biológica dessa toxina está relacionada à sua capacidade mais tóxica.
de competir com o receptor específico de união do estradiol, nas
células brancas. Além disso, estimula a síntese de DNA, RNA e
proteínas em órgãos como útero e glândulas mamárias. Possui
H OH
atividade estrogênica, tanto em machos quanto em fêmeas. CH 3 o '
H
A zearalenona presente nos alimentos pode ser rápida e efi-
cientemente absorvida pelo trato gastrintestinal, sofrendo efei-
to de primeira passagem pelo fígado, onde ocorrem as primei- R'
-- H
ras fases de sua biotransformação. No organismo de mamíferos, CH 3COO-H 2C CH 3 OCOH 3
origina diversos compostos estereoisômeros, em especial o a e
~-zearalenol, sendo que o primeiro é cerca de 10 vezes mais
Diacetoxiscirpenol: R = H, Toxina T-2: R = CHCH coo-
2
7. TRICOTECENO S o -- H
7.1. Fungos produtores e estrutura química ÓH CH 3 R
Os tricotecenos formam um grupo de metabólitos tóxicos qui- CH 2 0H
micamente semelhantes, produzidos por várias espécies de Nivalenol: R =OH , Desoxinivalenol: R = H
fungos dos gêneros Fusarium, Cefalosporium, Myrothecium,
Stachybotrys e Trichoderma. São caracterizados por um esque-
Figura 7. Tricotecenos tipo B.
leto tetracíclico 12,13-epóxi-tricotec-9-eno e constituem uma
família de sesquiterpenoides com funções éster e álcool nas
porções externas da molécula. 7.2. Ocorrência
Suas estruturas podem variar de acordo com a quantidade
A ocorrência de tricotecenos como contaminante é conhecida
e a posição das hidroxilas e dos ésteres. Eles possuem em co-
mundialmente no trigo, arroz, milho, aveia, cevada e centeio.
mum um núcleo tetracíclico, chamado de tricotecano, que pos-
Essas micotoxinas podem afetar tanto homens quanto ani-
sui uma ligação dupla entre os carbonos 9 e 10 e um grupamen-
to epóxido nas posições 12 e 13, o que lhes confere grande mais. A presença de tricotecenos é relatada na Ásia, África,
reatividade e toxicidade. América do Sul e do Norte e Europa. A ocorrência desses con-
taminantes depende de diversos fatores, tais como cepas e sua
toxigenicidade e condições climáticas, incluindo a influência
da umidade. Ocorre principalmente quando a colheita é reali-
10 zada sob muita chuva e baixas temperaturas. No sul do Brasil,
16
os tricotecenos apresentam maior incidência em cereais culti-
vados no inverno, período em que os fungos encontram tempe-
ratura e umidade adequadas para o seu desenvolvimento.
R5
É possível haver contaminação concomitante por tricotece-
R4
15
14 nos e outras toxinas de Fusarium como fumonisinas. Geral-
1 mente, combinações de micotoxinas de Fusarium resultam em
R3
adição de efeitos, mas o sinergismo ou a potencialização de in-
terações têm sido observadas e são de interesse para a saúde e
Figura 5. Estrutura básica dos tricotecenos. produtividade de animais.
- Parte 5 TOXICOLOGIA DE ALIMENTOS
[COOHJ
~ [COOHJ
o Rl R2
CH 3 o~ o
1
NH2 ~ º/=
~~ R3
Figura 9. Estrutura quím ica da patu lina.
[HOOCJ [COOH J
[ -
5.2. Micotoxinas em Alimentos
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