Você está na página 1de 18

Drenagem urbana dentro do marco legal do saneamento básico: uma perspectiva florestal

Luiz César Ribas


Professor Assistente Doutor
Departamento de Engenharia Rural e Socioeconomia. Faculdade de Ciências Agronômicas
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Campus de Botucatu/SP
E-mail: luiz.c.ribas@unesp.br

Botucatu, 28 de julho de 2020

Resumo

A drenagem urbana, conforme disposto no novo marco legal do saneamento básico, bem como
dispositivos normativos correlatos de cunho habitacional-urbanístico e ambiental, deve sim
considerar tanto as águas pluviais quanto as águas fluviais, bem como, dentro de uma visão de bacia
hidrográfica, suas respectivas áreas de entorno.

Analisou-se, neste ensaio, a Lei n. 14.026/2020 com o intuito de se respaldar, inclusive com
respeito ao mecanismo de pagamento por serviços ambientais, políticas públicas relacionadas à
gestão ambiental da drenagem urbana.

Para tanto, foi conduzida uma pesquisa exploratória embasada numa abordagem dedutiva e pautada,
primordialmente, no marco legal do saneamento básico.

Verificou que a drenagem urbana pode ser enfocada sob diversos prismas integrados (funções
ambientais de áreas protegidas, funções sociais da cidade e das propriedades urbanas, serviços
ambientais/serviços ecossistêmicos, águas pluviais, águas fluviais, dentre outros).

Dentre os diversos aspectos a serem destacados do marco legal do saneamento básico, inclusive
para efeitos da construção de uma política pública de drenagem urbana que venha a se valer,
inclusive, do mecanismo de pagamento por serviços ambientais, ter-se-iam: i) formalização de
consórcios intermunicipais; ii) articulação dos temas saneamento básico, resíduos sólidos e recursos
hídricos (não se olvidando, naturalmente, dos recursos florestais a estes temas direta ou
indiretamente associados); iii) o foco não somente na drenagem, mas também, no manejo das águas
pluviais (de forma preferencialmente integrada às águas fluviais); iv) articulação com políticas de
desenvolvimento urbano e regional, inclusive com foco no combate à pobreza e melhoria da
qualidade de vida (remoção de moradias em áreas de risco e instituição de parques lineares, por
exemplo); v) aproveitamento (uso múltiplo e racional) das águas de chuva, e; vi) estímulo as fontes
e métodos alternativos de abastecimento de água, incluindo águas subterrâneas, de reuso ou
pluviais, desde que autorizados pelo órgão gestor competente e que promovam o pagamento pelo
uso de recursos hídricos, quando devido”, dentre outros.

Palavras chave

Águas pluviais; função social da cidade; pagamento por serviços ambientais; desenvolvimento
urbano sustentável; meio urbano
Abstract

Urban drainage, according to the new basic sanitation law and related urban-housing and
environmental legislation must contemplate, within a river basin and áreas surrounding it approach,
both pluvial and fluvial water resources.

Law n. 14.026/2020 was investigated in order to enforce, also under a Payment for environmental
services perspective, public policies related to environmental management of urban drainage.

It was developed, for this purpouse a exploratory research based on deductive method and
suppported by the new basic sanitation law.

It was found that the urban drainage can be focused by several integrated perspectives
(environmental functions of protected áreas, social functions of the city and urban properties,
environmental services, ecossystems services, pluvial water resources, fluvial water resources, etc.)

It was concluded that there are many aspects of the new basic sanitation law wich can be identified
for a urban drainage public policy´s construction, including a payment for environmental services
mechanism, such as: consortion of municipalities´s formalisation; ii) articulation of related subjetcs
(basic sanitation, solid waste, water resources) with the forestry resources consideration wich are
direct and indirect linked to them too; iii) focus not only on drainage but also on pluvial water
resources management (on a integrated approach of fluvial water resources); iv) articulation with
urban and regional development´s policies, including a focus on poverty combat and healthy life
improvement (remotion of houses in dangerous áreas and linear parks implementtion, for instance);
v) rainwater utilization (multiple and rational uses), and; vi) enforcement of alternative sources and
methods of water supply, including underground waters (reutilization and pluvial), according to
authorization of responsible managing office and that promote the eventual water resources use´s
payment, among other factors.

Key words

Pluvial water resources; social function of he city; payment for environmental services; sustainable
urban development; urban area
1. Introdução

Aos 15 de julho de 2020 foi aprovada a Lei n. 14.026, que dispõe sobre o marco legal do
saneamento básico do país1. O tema do saneamento básico tem diversas frentes que serão mais
adiante comentadas de uma forma mais detalhada. Destas frentes, no entanto, pretende-se aqui, a
partir de uma perspectiva da Engenharia Florestal, focar primordialmente a questão da drenagem
urbana.

A drenagem urbana tem a haver, a princípio, tanto com o controle das águas pluviais no meio
urbano, quanto com o devido e adequado escoamento subterrâneo e superficial. Com respeito,
particularmente, ao escoamento superficial, a rede de drenagem urbana se justapõe a uma rede
hídrica composta de cursos de água (e suas respectivas áreas de preservação permanente) 2 situado
em uma determinada bacia hidrográfica.

A justaposição entre águas pluviais e águas pluviais não é aqui interpretada necessariamente do
ponto de vista do saneamento básico3, mas sim, da gestão ambiental que os entes públicos4
deveriam impingir aos recursos hídricos e suas respectivas áreas de influência como um todo.

Tais aspectos vêm sendo considerados, como sugerem diversos trabalhos, como por exemplo, o do
IPT/FIPT (2020)5 de uma forma cada vez mais contundente para efeitos de uma adequada gestão
ambiental quer seja de municípios, de regiões, de territórios e, naturalmente, de bacias
hidrográficas.

Em assim sendo, a drenagem urbana aproxima/integra o ordenamento, controle e escoamento das


águas pluviais à proteção ambiental das águas fluviais dos cursos de água. A partir disto, uma boa
1
BRASIL. Lei n. 14.026, de 15 de julho de 2020. Atualiza o marco legal do saneamento básico e altera a Lei nº 9.984,
de 17 de julho de 2000, para atribuir à Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) competência para
editar normas de referência sobre o serviço de saneamento, a Lei nº 10.768, de 19 de novembro de 2003, para alterar o
nome e as atribuições do cargo de Especialista em Recursos Hídricos, a Lei nº 11.107, de 6 de abril de 2005, para vedar
a prestação por contrato de programa dos serviços públicos de que trata o art. 175 da Constituição Federal, a Lei nº
11.445, de 5 de janeiro de 2007, para aprimorar as condições estruturais do saneamento básico no País, a Lei nº 12.305,
de 2 de agosto de 2010, para tratar dos prazos para a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, a Lei nº
13.089, de 12 de janeiro de 2015 (Estatuto da Metrópole), para estender seu âmbito de aplicação às microrregiões, e a
Lei nº 13.529, de 4 de dezembro de 2017, para autorizar a União a participar de fundo com a finalidade exclusiva de
financiar serviços técnicos especializados. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-
2022/2020/Lei/L14026.htm >. Acesso: 27.07.2020
2
BRASIL. Lei n. 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis n.ºs
6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as
Leis nºs 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de
agosto de 2001; e dá outras providências. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12651.htm >. Acesso: 28.07.2020.
3
Os recursos hídricos não integram os serviços públicos de saneamento básico, conforme disposto no artigo 40, da Lei
n. 11.445/2007 (fonte: BRASIL. Lei n. 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece as diretrizes nacionais para o
saneamento básico; cria o Comitê Interministerial de Saneamento Básico; altera as Leis n os 6.766, de 19 de dezembro de
1979, 8.666, de 21 de junho de 1993, e 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; e revoga a Lei nº 6.528, de 11 de maio de
1978 (Redação pela Lei nº 14.026, de 2020). Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2007/lei/l11445.htm >. Acesso: 28.07.2020.
4
Inciso I, artigo 8º, da Lei n. 11.445/2007: “exercem, dentre outros, a titularidade dos serviços públicos de saneamento
básico, os Municípios e o Distrito Federal, no caso de interesse local” (BRASIL. 2007)
5
IPT (IPT/FIPT. Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – Fundação de Apoio ao Instituto de
Pesquisas Tecnológicas. Guia metodológico para implantação de infraestrutura verde [livro eletrônico] /
[organizadora Maria Lucia Solera]. – São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo: Fundação
de Apoio ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas, 2020 – (IPT Publicação; 3035). PDF
gestão ambiental da drenagem urbana, por parte do Poder Público Municipal também
aproxima/integra as funções ambientais das águas urbanas (rede de drenagem hídrica de áreas
urbanizadas) às funções ambientais das águas pluviais (dos cursos de água).

Ademais, as funções ambientais dos cursos das águas pluviais e fluviais, tanto em meio rural quanto
urbano, encontram-se, por seu turno, também atreladas às funções ambientais das suas respectivas
áreas de preservação permanente6, tais como emprestadas do novo código florestal 7. Da mesma
forma, as funções ambientais da rede de drenagem urbana devem ser consideradas em conjunto com
as suas respectivas, guardadas as devidas proporções, áreas de “preservação permanente”8.

A despeito do contexto das “áreas” ser praticamente o mesmo tanto em ambiente rural quanto
urbano (área “protegida”, coberta ou não por vegetação nativa), o contexto da “preservação
permanente” entre os meios rural e urbano pode não ser necessariamente o mesmo em conta das
dinâmicas nem sempre semelhantes entre o meio rural (proteção ambiental via propriedades rurais)
e o meio urbano (proteção ambiental via possibilidade da também consideração de elementos
urbanísticos e habitacionais)9.

O que deve imperar, em decorrência disto, é o contexto da “proteção ambiental”, no que diz
respeito à gestão ambiental das águas quer fluviais quer pluviais, tanto das áreas urbanas quanto das
áreas rurais, para fins do atendimento adequado das suas respectivas funções ambientais e mesmo
serviços ambientais e/ou serviços ecossistêmicos10.

Assim, dentro mais especificamente da ótica do tema central deste ensaio, à medida que nas áreas
urbanas deve haver uma boa gestão da drenagem das águas pluviais e fluviais, também deve haver
uma boa proteção ambiental das respectivas áreas de entorno e de influência (dento de uma leitura
pautada no conceito de bacias hidrográficas) destas águas.

Isto ocorrendo haverá, ademais, um bom desempenho das funções ambientais e serviços ambientais
e/ou ecossistêmicos das áreas protegidas a que se refere a rede de drenagem urbana, de maneira
especial11.

Entende-se, ato contínuo, que o contexto normativo previsto no novo Código Florestal para os
cursos de água e suas respectivas APP´s, particularmente no que diz respeito à possibilidade da
instituição do mecanismo de Pagamento por Serviços Ambientais 12, em áreas rurais, pode ser
6
“preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de
fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas” (Inciso II, do art. 3º, da Lei n.
12.651/2012).
7
Brasil (2012).
8
Uma das diversas perspectivas mais contemporâneas desta abordagem pode ser vislumbrada em IPT/FIPT (2020), por
exemplo.
9
Vide nota de rodapé 5.
10
Neste sentido, vide à propósito, ainda que não se pretendendo adentrar, neste momento, à discussão de serviços
ecossistêmicos (fornecidos pela natureza) e serviços ambientais (implementados por ação antrópica e que venham a
proporcionar, em futuro próximo, a prestação de serviços ecossistêmicos pela natureza), o disposto à páginas 22-26 de
IPT/FIPT (2020), por exemplo.
11
Vide, à propósito, nota de rodapé 8.
12
Pagamento ou incentivo a serviços ambientais como retribuição, monetária ou não, às atividades de conservação e
melhoria dos ecossistemas e que gerem serviços ambientais, tais como, isolada ou cumulativamente: a) o
sequestro, a conservação, a manutenção e o aumento do estoque e a diminuição do fluxo de carbono; b) a
conservação da beleza cênica natural; c) a conservação da biodiversidade; d) a conservação das águas e dos
também emprestado à rede de drenagem e suas respectivas áreas de proteção ambiental, em áreas
urbanas.

Esta interpretação, ainda que rápida e objetivamente dispostas, propicia a lógica, a fundamentação e
a argumentação técnicas minimamente razoáveis para fins destacar a relevância da drenagem
urbana. Propicia, ademais, o amparo legal tal como preceituado, por exemplo, em Brasil (1981) 13,
como por exemplo, determinados princípios ambientais (racionalização do uso do solo, do subsolo,
da água e do ar; controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;
incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos
recursos ambientais, e; proteção de áreas ameaçadas de degradação)14, além de certos objetivos
ambientais (difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e
informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de
preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico, e; preservação e restauração dos
recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo
para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida)15.

Este amparo legal, do ponto de vista ambiental, é reforçado por diversos dispositivos contidos em
Brasil (1988)16, sobretudo dentro da ótica da Municipalidade, a exemplo da proteção ao meio
ambiente e combate à poluição em qualquer de suas formas17, da defesa do meio ambiente, inclusive
mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus
processos de elaboração e prestação18, do controle da produção, da comercialização e do emprego
de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, para qualidade de vida e para o
meio ambiente19.

Afora o amparo técnico para a relevância para a boa gestão ambiental municipal da drenagem
urbana não se dá, do ponto de vista legal, tão somente dentro da ótica ambiental. Ele ocorre dentro
da via habitacional e urbanística também, conforme se verifica em Brasil (2001)20, por exemplo.
Assim, ao contexto das funções ambientais das águas pluviais e fluviais em área urbana (drenagem
urbana), também se agregam as funções sociais da cidade e das propriedades urbanas.

Isto porque, Brasil (2010), por exemplo, dispôs que “a política urbana te por objetivo ordenar o
pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante diretrizes

serviços hídricos; e) a regulação do clima; f) a valorização cultural e do conhecimento tradicional ecossistêmico; g) a


conservação e o melhoramento do solo, e; h) a manutenção de Áreas de Preservação Permanente, de Reserva
Legal e de uso restrito [Inciso I, artigo 41, da Lei n. 12.651/2012, conforme disposto em BRASIL (2012)].
13
BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e
mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6938.htm >. Acesso: 29.07.2020.
14
Incisos II, V, VI e IX, do artigo 2º, da Lei n. 6.938/81 (BRASIL, 1981).
15
Incisos V e VI, do artigo 4º, da Lei n. 6.938/81 (BRASIL, 1981).
16
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm >. Acesso: 29.07.2020
17
Inciso VI, do art. 23, da Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988).
18
Inciso VI, do artigo 170, da Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988).
19
Inciso V, do artigo 225, da Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988).
20
BRASIL. Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece
diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm >. Acesso: 28.07.2020.
gerais, tais como: i) garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido, dentre outros, como o
direito ao saneamento ambiental e à infraestrutura urbana; ii) planejamento do desenvolvimento das
cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do Município e do
território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano
e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente; iii) oferta de equipamentos urbanos e
comunitários21, transporte e serviços públicos adequados aos interesses e necessidades da população
e às características locais; iv) ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar, dentre outras
ações, o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação à
infraestrutura urbana, a deterioração das áreas urbanizadas, a poluição e a degradação ambiental,
bem como a exposição da população a riscos de desastres; v) integração e complementaridade entre
as atividades urbanas e rurais, tendo em vista o desenvolvimento socioeconômico do Município e
do território sob sua área de influência; vi) adoção de padrões de produção e consumo de bens e
serviços e de expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental, social e
econômica do Município e do território sob sua área de influência; vii) a justa distribuição dos
benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização; viii) a adequação dos instrumentos de
política econômica, tributária e financeira e dos gastos públicos aos objetivos do desenvolvimento
urbano, de modo a privilegiar os investimentos geradores de bem-estar geral e a fruição dos bens
pelos diferentes segmentos sociais; ix) a recuperação dos investimentos do Poder Público de que
tenha resultado a valorização de imóveis urbanos; x) a proteção, preservação e recuperação do meio
ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e
arqueológico; xi) a audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processos
de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o
meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população; xii) a regularização
fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda mediante o
estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação,
consideradas a situação socioeconômica da população e as normas ambientais; xiii) a simplificação
da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas edilícias, com vistas a permitir
a redução dos custos e o aumento da oferta dos lotes e unidades habitacionais; xiv) a isonomia de
condições para os agentes públicos e privados na promoção de empreendimentos e atividades
relativos ao processo de urbanização, atendido o interesse social; xv) o estímulo à utilização, nos
parcelamentos do solo e nas edificações urbanas, de sistemas operacionais, padrões construtivos e
aportes tecnológicos que objetivem a redução de impactos ambientais e a economia de recursos
naturais, e; xvi) o tratamento prioritário às obras e edificações de infraestrutura de energia,
telecomunicações, abastecimento de água e saneamento22.           

Se as funções ambientais das águas pluviais e fluviais em área urbana (drenagem urbana) são
integradas, seus serviços ambientais e ecossistêmicos, conforme discutido, também o são.

Se as funções ambientais das águas pluviais e fluviais em área urbana (drenagem urbana) são
integradas às funções sociais das cidades e das propriedades, os serviços ambientais e
ecossistêmicos das respectivas áreas de drenagem urbana também o são, tanto do ponto de vista
ambiental, quanto, por conta de Brasil (2010), do ponto de vista habitacional e urbanístico.

21
Lembrando que, nos termos do disposto no parágrafo 5º, do artigo 20, da Lei n. 6.766/79, os equipamentos urbanos,
entendidos dentro do contexto da infraestrutura básica dos parcelamentos, são constituídos de elementos relacionados
ao escoamento das águas pluviais (portanto, drenagem urbana), além de (dentro de uma leitura de integração)
iluminação pública, esgotamento sanitário, abastecimento de água potável, energia elétrica pública e domiciliar, bem
como vias de circulação (fonte: BRASIL. Lei n. 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Dispõe sobre o Parcelamento do
Solo Urbano e dá outras providências. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6766.htm >. Acesso:
29.07.2020.
22
Incisos I, IV, V, VI, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI, XVII e XVIII, do artigo 2º, da Lei n. 10.257/2010
(BRASIL. 2010)
Portanto, como aos serviços ambientais e ecossistêmicos das águas pluviais e fluviais, e suas
respectivas áreas, tanto por conta de Brasil (2012), quanto de Brasil (2010), acabam restando
também atrelados, ao mecanismo do Pagamento por Serviços Ambientais, dentre outros
instrumentos de política ambiental, habitacional e urbanístico aplicáveis ao meio urbano.

O desafio, a partir de agora, seria o de analisar se e como a abordagem da drenagem urbana tal
como vem sendo construída, amparada por este rol de dispositivos técnicos e legais, também
poderia se valer do marco legal do saneamento recentemente instituído.

Assim, pretendeu-se aqui, dentro de uma abordagem técnica e florestal, com base no marco legal do
saneamento básico, destacar alguns dos principais elementos normativos que poderiam respaldar,
tendo em vista o contundente contexto de interesse local, dos Poderes Públicos Municipais, a
elaboração de uma política pública voltada para a melhoria das condições da proteção ambiental da
drenagem urbana, inclusive com vistas à implementação do mecanismo de Pagamento por Serviços
Ambientais em áreas urbanas.

Para tanto, pretende-se desenvolver uma pesquisa exploratória pautada, primordialmente, no marco
legal do saneamento básico. A partir disto, utilizando-se uma abordagem dedutiva, partiu-se
genericamente da Lei n. 14.026/2020, para identificar e sistematizar os principais elementos deste
dispositivo legal que pudessem embasar, especificamente, a construção de uma política pública
voltada, de forma inclusive respaldada por instrumentos tais como o pagamento por serviços
ambientais, para o planejamento ambiental municipal da rede de drenagem urbana, bem como de
suas respectivas áreas de proteção, funções ambientais e serviços ecossistêmicos.

Em termos de materiais, buscou-se trabalhar com todo o aparato legal que gira em torno do novo
marco legal, particularmente em termos tanto da Lei n. 14.026/2020, quanto da Lei n. 11.447/2005,
além de dispositivos legais correlatos.

2. Resultados e Discussão

Conforme disposto em seu artigo 1º, a Lei n. 14.026, de 15 de julho de 2020, não só atualizou o
marco legal do saneamento básico do país, como também, alterou um conjunto de outras leis.

Assim, por exemplo, particularmente dentro do enfoque florestal que se pretende desenvolver neste
ensaio, atribuiu à Agência Nacional de Águas, competência para editar normas de referência sobre
saneamento básico. Ainda, buscou aprimorar as condições estruturais do saneamento básico no país,
alterou prazos para a disposição final ambientalmente adequada de rejeitos vinculados ao
saneamento básico. E por fim estendeu, por conta de elementos do novo marco legal do saneamento
básico, o tratamento propiciado pelo Estatuto da Metrópole, também às microrregiões.

2.1 Conjunto normativo de referência no novo marco legal do saneamento básico

No que pese tais aspectos, o impacto da atualização normativa do saneamento básico no país, de
qualquer forma, trouxe implicações, diretas e indiretas, particularmente no que se refere ao tema
central do presente ensaio, ao conjunto normativo tal qual estabelecido no quadro I.

Quadro I – Conjunto normativo de referência no novo marco legal do saneamento básico

Item Norma Assunto Contexto


1 Lei n. 4.591, de 16 de Condomínio e as incorporações imobiliárias J, F
dezembro de 1964

2 Lei n. 5.868, de 12 de Sistema Nacional de Cadastro Rural J


dezembro de 1972

3 Decreto n. 72.106, de 18 de Regulamenta a Lei nº 5.868, de 12 de J


abril de 1973 dezembro de 1972 - Sistema Nacional de
Cadastro Rural

4 Lei n. 6.766, de 19 de Parcelamento do solo F


dezembro de 1979

5 Lei n. 8.987, de 13 de Regime de concessão e permissão da J


fevereiro de 1995 prestação de serviços públicos previsto no
art. 175 da Constituição Federal

6 Lei n. 9.307, de 23 de Arbitragem F


setembro de 1996

7 Lei. 9.433, de 8 de janeiro de Política Nacional de Recursos Hídricos, F


1997 Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos, regulamentação do inciso
XIX do art. 21 da Constituição Federal, e
alteração do art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de
março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990,
de 28 de dezembro de 1989

8 Lei n. 9.984, de 17 de julho Agência Nacional de Águas e Saneamento J, F


de 2000 Básico (ANA), Instituição de normas de
referência para a regulação dos serviços
públicos de saneamento básico

9 Lei n. 11.079. de 30 de Normas gerais para licitação e contratação de J


dezembro de 2004 parceria público-privada no âmbito da
administração pública

10 Lei n. 11.107, de 6 de abril de Normas gerais de contratação de consórcios J


2.005 públicos e dá outras providências

11 Lei n. 11.445, de 5 de janeiro Diretrizes nacionais para o saneamento


de 2007 básico e Comitê Interministerial de F
Saneamento Básico

12 Lei n. 11.445, de 5 de janeiro Regulamenta as diretrizes nacionais para o F


de 2007 saneamento básico

13 Lei n. 12.305, de 2 de agosto Política Nacional de Resíduos Sólidos F


de 2010

14 Decreto n. 7.404, de 23 de Regulamenta a Lei no 12.305, de 2 de agosto F


dezembro de 2010 de 2010 (Política Nacional de Resíduos
Sólidos)

15 Lei n. 13.089, de 12 de Estatuto da Metrópole F


janeiro de 2015

16 Lei n. 13.465, de 11 de julho Regularização fundiária rural e urbana J, F


de 2017

17 Lei 13.529, de 4 de dezembro Participação da União em fundo de apoio à J


de 2017 estruturação e ao desenvolvimento de
projetos de concessões e parcerias público-
privadas

18 Decreto n. 10.000, de 3 de Conselho Nacional de Recursos Hídricos F


setembro de 2019

Obs.: para efeitos da perspectiva florestal do tema e do objetivo central deste ensaio ter-se-ia: J – Abordagem Jurídica;
F – Abordagem Florestal (onde J, F representaria uma abordagem jurídica, mas preferencialmente amparada por uma
abordagem florestal)

Ainda que neste ensaio, objetivamente, o foco central seja a Lei n. 14.026/2020, valeria a pena
comentar que o novo marco legal do saneamento diz respeito também a todo um conjunto
normativo tal qual relacionado no quadro I.

Isto sugere que, para efeito da análise da questão da drenagem urbana, tal como pretendida neste
ensaio, haveria que não somente focar a Lei n. 14.026/2020, como também, ainda que em um
segundo momento, o rol de normas listada no quadro acima.

De toda sorte, do conjunto de 18 normas do quadro I, com vistas ao objetivo central deste ensaio,
haveria que se ressaltar que 6 são de cunho preponderantemente jurídico. Todavia, as demais 12
normas devem ser submetidas a uma abordagem técnico-florestal (9) ou técnico-florestal e jurídica
(3).
2.2 Análise da drenagem urbana com amparo no novo marco legal do saneamento

O tema da drenagem urbana, para efeitos da melhoria da gestão ambiental pública municipal,
encontra-se, inclusive a partir de alguns contundentes aspectos quanto ao respaldo do poder público
federal, solidamente amparado pelo novo marco legal do saneamento.

E este respaldo, conforme a seguir se verificará, deve ser necessariamente considerado para efeitos
de se formular uma política pública que considere, inclusive a possibilidade de se instituir um
mecanismo de Pagamento por Serviços Ambientais atrelado à drenagem urbana, tanto no que diz
respeito às águas pluviais e fluviais, como também, suas respectivas áreas de proteção ambiental.

Caberia aqui ressaltar que o marco legal do saneamento básico “atualiza” o conceito de saneamento
básico em termos do conjunto de serviços públicos, infraestruturas e instalações operacionais
vinculadas ao abastecimento de água potável, ao esgotamento sanitário, à limpeza urbana e manejo
de resíduos sólidos e à drenagem e manejo das águas pluviais urbanas.

Haveria que se enfatizar da lei federal, particularmente, o entendimento que se deva emprestar à
drenagem urbana conforme abordagem no presente ensaio. Assim, nos termos da Lei b.
14.026/2020, drenagem e manejo das águas pluviais urbanas seriam os elementos constituídos pelas
atividades, pela infraestrutura e pelas instalações operacionais de drenagem de águas pluviais,
transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, tratamento e disposição
final das águas pluviais drenadas, contempladas a limpeza e a fiscalização preventiva das redes.

Ademais, o novo marco legal do saneamento básico considera como serviços públicos de manejo
das águas pluviais urbanas aqueles constituídos por 1 (uma) ou mais das seguintes atividades:

I - drenagem urbana;

II - transporte de águas pluviais urbanas;

III - detenção ou retenção de águas pluviais urbanas para amortecimento de vazões


de cheias; e

IV - tratamento e disposição final de águas pluviais urbanas23.

Desta forma, a drenagem e manejo das águas pluviais urbanas, dentro da terminologia apresentada
pelo novo marco legal do saneamento básico, ou simplesmente, a drenagem urbana (águas pluviais
e fluviais, como um todo)24, poderia bem contemplar, tanto com respeito às cidades e às
propriedades urbanas, suas inerentes funções ambientais, funções sociais, serviços ambientais e
serviços ecossistêmicos, dentre outros atributos ambientais, habitacionais e urbanísticos consoante
até aqui relacionados.

23
Note-se, em reforço ao disposto no contexto da discussão que se insere, logo no início do presente ensaio, a nota de
rodapé 3, que a disposição final das águas pluviais urbanas é quase sempre junto às águas fluviais, urbanas e/ou rurais.
Portanto, em reiteração ao já defendido neste ensaio, para efeitos da gestão e proteção ambiental das áreas de drenagem
urbana, as águas pluviais (e suas respectivas áreas de entorno) não devem ser dissociadas das águas fluviais (e suas
respectivas áreas de entorno).
24
Entende-se que, apesar do novo marco legal se referir, objetivamente, ao contexto das águas pluviais, o contexto de
sua integração e harmonização, para efeitos de proteção ambiental e urbanística, não pode ser facilmente partilhado do
contexto das águas fluviais, conforme, inclusive, no início deste ensaio apresentado em decorrência de todo um
arrazoado técnico e legal.
Caberia igualmente aqui um comentário que deve ser apresentado mas, evidentemente, deve sofrer
um melhor e mais apropriado tratamento jurídico, qual seja, o novo marco legal do saneamento é
um dispositivo normativo federal, o qual, em seu devido tempo e forma, deve vir a ser apropriado,
de uma forma (Lei n. 14.026/2020 e dispositivos regulamentares que vierem a ser processados) ou
de outra (normatização específica pelos Estados, Municípios e Distrito Federal).

Neste sentido observe-se, que o novo marco legal do saneamento básico permite a vinculação da
drenagem urbana com a questão do uso múltiplo dos recursos hídricos, especialmente em situações
críticas de escassez quantitativa ou qualitativa de recursos hídricos.

Note-se que a Lei n. 14.026/2020 estabeleceu a previsão legal de que “a ANA poderá recomendar,
independentemente da dominialidade dos corpos hídricos que formem determinada bacia
hidrográfica, a restrição ou a interrupção do uso de recursos hídricos e a prioridade do uso para o
consumo humano e para a dessedentação de animais”.

Para tanto, o Poder Público Federal deve agir (via estabelecimento e fiscalização de regras), e o
fará, tanto por intermédio da Agência Nacional das Águas (ANA), como também, por intermédio da
delegação de competências por meio de convênio ou outro instrumento, a outros órgãos e entidades
da administração pública federal, estadual e distrital.

Ademais, segundo a lei federal do saneamento básico, a ANA instituirá normas de referência para a
regulação dos serviços públicos de saneamento básico por seus titulares e suas entidades
reguladoras e fiscalizadoras.

2.3 O saneamento básico dentro da relação entre ANA e municípios

A regulação por parte da ANA, contemplando determinado número de Municípios a serem


atendidos e naquilo que diz respeito, no presente ensaio, especialmente à drenagem urbana,
contemplaria o estabelecimento de normas de referência sobre os seguintes elementos: i)padrões de
qualidade e eficiência na prestação, na manutenção e na operação dos sistemas de saneamento
básico; ii) uso racional de recursos naturais; iii) universalização do acesso ao saneamento básico;
iv) metas de qualidade, eficiência e ampliação da cobertura dos serviços, redução progressiva e
controle da perda de água, e; v) reuso dos efluentes sanitários tratados, em conformidade com as
normas ambientais e de saúde pública.

O marco legal do saneamento básico, introduziu modalidades inovadora de relacionamento


institucional, com ênfase especial neste ensaio à drenagem urbana, entre a ANA e municípios que
evidentemente poderiam sofrer um melhor tratamento com respeito especificamente à drenagem em
áreas urbanas como, por exemplo, a “prestação regionalizada”.

A prestação regionalizada seria a “modalidade de prestação integrada de um ou mais componentes


dos serviços públicos de saneamento básico em determinada região cujo território abranja mais de
um Município, podendo ser estruturada em: a) região metropolitana, aglomeração urbana ou
microrregião (unidade instituída pelos Estados mediante lei complementar); b) unidade regional de
saneamento básico (unidade instituída pelos Estados mediante lei ordinária, constituída pelo
agrupamento de Municípios não necessariamente limítrofes, para atender adequadamente às
exigências de higiene e saúde pública, ou para dar viabilidade econômica e técnica aos Municípios
menos favorecidos); c) bloco de referência (agrupamento de Municípios não necessariamente
limítrofes, estabelecido pela União).
Observe-se que, para efeitos da prestação regionalizada do serviço de saneamento básico, haverá a
condição da anuência dos Municípios que venham a integrar aquilo que se convencionou nominar,
no marco legal do saneamento básico, “Região Integrada de Desenvolvimento (Ride).

Dentro desta mesma linha de raciocínio haveria que se enfatizar, da referida lei, e com respeito à
novas modalidades de relacionamento institucional envolvendo os entes federativo nacional e
municipais, e, novamente aqui, com respeito ao foco mais específico na drenagem urbana, as
seguintes inovações:

i) Serviços públicos de saneamento básico de interesse comum: serviços de saneamento


básico prestados em regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões
instituídas por lei complementar estadual, em que se verifique o compartilhamento de
instalações operacionais de infraestrutura de abastecimento de água e/ou de esgotamento
sanitário entre 2 (dois) ou mais Municípios, denotando a necessidade de organizá-los,
planejá-los, executá-los e operá-los de forma conjunta e integrada pelo Estado e pelos
Munícipios que compartilham, no todo ou em parte, as referidas instalações operacionais, e;

ii) Serviços públicos de saneamento básico de interesse local: funções públicas e serviços
cujas infraestruturas e instalações operacionais atendam a um único Município.

Tais conceitos inovadores poderiam transparecer, num primeiro momento, até algo não
necessariamente relacionado à questão da drenagem urbana.

Todavia, eles deveriam ser considerados inclusive dentro do contexto de desconformidades


ambientais, urbanísticas e habitacionais25 tão comumente presente em uma miríade de municípios
brasileiros, igualmente previstos no novo marco legal do saneamento básico, a saber:

i) Núcleo urbano: assentamento humano, com uso e características urbanas, constituído por
unidades imobiliárias com área inferior à fração mínima de parcelamento prevista no art. 8º
da Lei nº 5.868, de 12 de dezembro de 1972, independentemente da propriedade do solo,
ainda que situado em área qualificada ou inscrita como rural;

ii) Núcleo urbano informal: aquele clandestino, irregular ou no qual não tenha sido possível
realizar a titulação de seus ocupantes, ainda que atendida a legislação vigente à época de sua
implantação ou regularização, e;

iii) Núcleo urbano informal consolidado: aquele de difícil reversão, considerados o tempo da
ocupação, a natureza das edificações, a localização das vias de circulação e a presença de
equipamentos públicos, entre outras circunstâncias a serem avaliadas pelo Município ou
pelo Distrito Federal;

Note-se, retomando-se a discussão da regulação dos serviços públicos de saneamento básico a


serem instituídas pela ANA, sobretudo em termos do envolvimento de um coletivo de Municípios,
que as normas de referência, deverão considerar, de modo especial, naquilo que concerne
objetivamente à drenagem urbana, os seguintes aspectos: i) utilização racional dos recursos
hídricos; ii) estímulo à cooperação entre os entes federativo; iii) possibilitar a adoção de métodos,
técnicas e processos adequados às peculiaridades locais e regionais; iv) incentivar a regionalização
da prestação dos serviços; v) criação de ganhos de escala e de eficiência, e; vi) indicadores de
qualidade e aos padrões de potabilidade, observadas as peculiaridades contratuais e regionais.

Até por conta de passivos, ônus e custos ambientais, econômicos, sociais, habitacionais e urbanísticos acarretados ao
25

Municípios e, principalmente, aos munícipes.


O relacionamento institucional entre a ANA e os municípios, para efeitos da questão do exercício
da titularidade dos serviços de saneamento, encontra-se também previsto na Lei n. 11.445/2007 sob
a modalidade da “gestão associada”, mediante consórcio público ou convênio de cooperação.
Entretanto, as seguintes condições deveriam ser observadas:

“I - fica admitida a formalização de consórcios intermunicipais de saneamento


básico, exclusivamente composto de Municípios, que poderão prestar o serviço aos
seus consorciados diretamente, pela instituição de autarquia intermunicipal;

II - os consórcios intermunicipais de saneamento básico terão como objetivo,


exclusivamente, o financiamento das iniciativas de implantação de medidas
estruturais de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana,
manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo de águas pluviais, vedada a
formalização de contrato de programa com sociedade de economia mista ou empresa
pública, ou a subdelegação do serviço prestado pela autarquia intermunicipal sem
prévio procedimento licitatório”

Observe-se que a adesão dos titulares dos serviços públicos de saneamento de interesse local (ou
seja, municípios e Distrito Federal) às estruturas das formas de prestação regionalizada (Ride) é
facultativa.

De toda sorte, a ANA “disponibilizará, em caráter voluntário e com sujeição à concordância entre
as partes, ação mediadora ou arbitral nos conflitos que envolvam titulares, agências reguladoras ou
prestadores de serviços públicos de saneamento básico”26.

Outro aspecto interessante, conforme o novo marco legal do saneamento básico, é que, quando
couber, haveria o compartilhamento dos ganhos de produtividade com os usuários dos serviços.

A ANA, por outro lado, deve se responsabilizar pela elaboração de “estudos técnicos para o
desenvolvimento das melhores práticas regulatórias para os serviços públicos de saneamento básico,
bem como guias e manuais para subsidiar o desenvolvimento das referidas práticas”.

A Agência Reguladora das Águas deve também se responsabilizar pela promoção da capacitação de
recursos humanos para a regulação adequada e eficiente do setor de saneamento básico. Ainda, “a
União poderá criar cursos de capacitação técnica dos gestores públicos municipais, em consórcio ou
não com os Estados, para a elaboração e implementação dos planos de saneamento básico”.

Os serviços públicos relacionados ao saneamento básico e, em especial, à drenagem e manejo das


águas pluviais em área urbana devem, por via da ANA, considerar a articulação entre o Plano
Nacional de Saneamento Básico, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos e o Plano Nacional de
Recursos Hídricos.

Para tanto, sob a ótica da drenagem urbana, os seguintes tópicos devem ser atentamente
considerados: i) abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos
resíduos sólidos realizados de forma adequada à saúde pública, à conservação dos recursos naturais
e à proteção do meio ambiente; ii) disponibilidade, nas áreas urbanas, de serviços de drenagem e
manejo das águas pluviais, tratamento, limpeza e fiscalização preventiva das redes, adequados à
saúde pública, à proteção do meio ambiente e à segurança da vida e do patrimônio público e

26
Os contratos que envolvem a prestação dos serviços públicos de saneamento básico poderão prever mecanismos
privados para resolução de disputas decorrentes do contrato ou a ele relacionadas, inclusive a arbitragem, a ser realizada
no Brasil e em língua portuguesa, nos termos da Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996.
privado; iii) articulação com as políticas de desenvolvimento urbano e regional, de habitação, de
combate à pobreza e de sua erradicação, de proteção ambiental, de promoção da saúde, de recursos
hídricos e outras de interesse social relevante, destinadas à melhoria da qualidade de vida, para as
quais o saneamento básico seja fator determinante; iv) estímulo à pesquisa, ao desenvolvimento e à
utilização de tecnologias apropriadas, consideradas a capacidade de pagamento dos usuários, a
adoção de soluções graduais e progressivas e a melhoria da qualidade com ganhos de eficiência e
redução dos custos para os usuários; v) segurança, qualidade, regularidade e continuidade; vi)
estímulo à racionalização de seu consumo pelos usuários, e; vii) aproveitamento de águas de chuva.

2.4 Políticas públicas e planos de saneamento básico

A drenagem urbana, agora inclusive considerada dentro de um contexto mais amplo, deverá fazer
parte, nos termos da Lei n. 14.026/2020, da respectiva política pública de saneamento básico 27. E,
neste sentido, entende-se que particularmente com respeito à drenagem urbana, alguns dos
principais aspectos que o titular dos serviços públicos municipais deveria considerar seriam: i)
prestar diretamente os serviços, ou conceder a prestação deles; ii) definir os parâmetros a serem
adotados para a garantia do atendimento essencial à saúde pública; iii) estabelecer os direitos e os
deveres dos usuários; iv) mecanismos e os procedimentos de controle social; v) sistema de
informações sobre os serviços públicos de saneamento básico, articulado com o Sistema Nacional
de Informações em Saneamento Básico (Sinisa), o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão
dos Resíduos Sólidos (Sinir) e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
(Singreh), observadas a metodologia e a periodicidade estabelecidas pelo Ministério, e; vi) intervir e
retomar a operação dos serviços delegados, por indicação da entidade reguladora.

Ademais, uma política de saneamento básico, em especial dentro de um contexto mais específico da
drenagem urbana, deve “priorizar, apoiar e incentivar planos, programas e projetos que visem à
implantação e à ampliação dos serviços e das ações de saneamento integrado, nos termos desta
Lei”.

Deve, ainda, observar diretrizes tais como: i) divulgação de melhores práticas; ii) garantia de meios
adequados para o atendimento da população rural, por meio da utilização de soluções compatíveis
com as suas características econômicas e sociais peculiares; iii) adoção de critérios objetivos de
elegibilidade e prioridade, considerados fatores como nível de renda e cobertura, grau de
urbanização, concentração populacional, porte populacional municipal, áreas rurais e comunidades
tradicionais e indígenas, disponibilidade hídrica e riscos sanitários, epidemiológicos e ambientais, e;
iv) aproveitamento de águas de chuva, em conformidade com as demais normas ambientais e de
saúde pública.

De toda sorte, conforme disposto na Lei n. 14.026/2020, “as políticas e ações da União de
desenvolvimento urbano e regional, de habitação, de combate e erradicação da pobreza, de proteção
ambiental, de promoção da saúde, de recursos hídricos e outras de relevante interesse social
direcionadas à melhoria da qualidade de vida devem considerar a necessária articulação, inclusive
no que se refere ao financiamento e à governança, com o saneamento básico.”

Em adição, a Lei n. 14.026/2020 instituiu que a União deverá elaborar, sob a coordenação do
Ministério do Desenvolvimento Regional, o Plano Nacional de Saneamento Básico (PNSB).

2.5 Contratos de prestação de serviços públicos vinculados ao saneamento básico

Uma vez estabelecida a referida política pública (mais um vez, enfatizando-se em especial o tema
da drenagem urbana), haveria que ser formalizado, no caso de entidade que não integre a
27
O titular poderá receber cooperação técnica do respectivo Estado.
administração do titular, mediante prévia licitação, o contrato de concessão para fins da prestação
dos serviços públicos de saneamento básico28.

Os contratos relativos à prestação dos serviços públicos de saneamento básico, particularmente no


que concerne à drenagem urbana, deverão conter, expressamente, sob pena de nulidade, não
somente as cláusulas essenciais previstas no art. 23 da Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995,
como também, disposições relativas aos seguintes aspectos: i) eficiência e de uso racional da água,
da energia e de outros recursos naturais, do reuso de efluentes sanitários e do aproveitamento de
águas de chuva; ii) possíveis fontes de receitas alternativas, complementares ou acessórias, bem
como as provenientes de projetos associados, incluindo, entre outras, a alienação e o uso de
efluentes sanitários para a produção de água de reúso, com possibilidade de as receitas serem
compartilhadas entre o contratante e o contratado, caso aplicável; iii) metodologia de cálculo de
eventual indenização relativa aos bens reversíveis não amortizados por ocasião da extinção do
contrato; e iv) repartição de riscos entre as partes, incluindo os referentes a caso fortuito, força
maior, fato do príncipe e álea econômica extraordinária.

Ademais, conforme dispõe a Lei n. 14.026/2020, “na hipótese de prestação dos serviços públicos de
saneamento básico por meio de contrato, o prestador de serviços poderá, além de realizar licitação e
contratação de parceria público-privada, nos termos da Lei nº 11.079, de 30 de dezembro de 2004, e
desde que haja previsão contratual ou autorização expressa do titular dos serviços, subdelegar o
objeto contratado, observado, para a referida subdelegação, o limite de 25% (vinte e cinco por
cento) do valor do contrato”. De qualquer forma, a comprovação técnica e o procedimento
licitatório não poderão ser afastados. E, por fim, foram proibidas, pela lei, as subconcessões ou
subdelegações que impliquem sobreposição de custos administrativos ou gerenciais a serem pagos
pelo usuário final.

O serviço regionalizado de saneamento básico, dentro do contexto de uma política pública de


saneamento básico (particularmente naquilo que se refere à drenagem urbana) poderá obedecer a
plano regional de saneamento básico elaborado para o conjunto de Municípios atendidos. Neste
caso, o plano regional de saneamento básico dispensará a necessidade de elaboração e publicação
de planos municipais de saneamento básico.

Um aspecto ao mesmo tempo interessante, pertinente e relevante refere-se à previsão, no novo


marco legal do saneamento básico, no sentido de que “os prestadores que atuem em mais de um
Município ou região ou que prestem serviços públicos de saneamento básico diferentes em um
mesmo Município ou região manterão sistema contábil que permita registrar e demonstrar,
separadamente, os custos e as receitas de cada serviço em cada um dos Municípios ou regiões
atendidas e, se for o caso, no Distrito Federal”.

Igualmente importante é a previsão legal de que “os planos de saneamento básico deverão ser
compatíveis com os planos das bacias hidrográficas e com planos diretores dos Municípios em que
estiverem inseridos, ou com os planos de desenvolvimento urbano integrado das unidades regionais
por eles abrangidas”.

Para efeitos da gestão e da proteção ambiental das áreas de drenagem urbana, será necessária uma
ponderação mais acentuada com respeito à previsão legal em termos de que “os serviços públicos
de saneamento básico terão a sustentabilidade econômico-financeira assegurada por meio de
remuneração pela cobrança dos serviços, e, quando necessário, por outras formas adicionais, como
subsídios ou subvenções29, vedada a cobrança em duplicidade de custos administrativos ou
gerenciais a serem pagos pelo usuário, nos seguintes serviços, dentre outros: de drenagem e manejo
28
Vedada a sua disciplina mediante contrato de programa, convênio, termo de parceria ou outros instrumentos de
natureza precária.
de águas pluviais urbanas, na forma de tributos, inclusive taxas, ou tarifas e outros preços públicos,
em conformidade com o regime de prestação do serviço ou das suas atividades”

Imagina-se que, para efeitos visando particularmente a sustentabilidade econômico-financeira da


drenagem urbana enquanto uma das modalidades de serviços públicos de saneamento básico, é a
previsibilidade legal quanto à possibilidade de uso, por parte das edificações para uso não
residencial, de “fontes e métodos alternativos de abastecimento de água, incluindo águas
subterrâneas, de reuso ou pluviais, desde que autorizados pelo órgão gestor competente e que
promovam o pagamento pelo uso de recursos hídricos, quando devido”.

Em termos da possibilidade da alocação de recursos públicos federais e dos financiamentos com


recursos da União, além do atendimento às diretrizes e objetivos de uma política pública de
saneamento básico, haveria que se observar a eficiência e eficácia na prestação dos serviços
públicos de saneamento básico.

De outra parte, tanto para efeitos dos serviços públicos de saneamento básico como um todo, como
também, para a drenagem urbana, a Lei n. 14.026/2020 institui que “na aplicação de recursos não
onerosos da União, serão priorizados os investimentos de capital que viabilizem a prestação de
serviços regionalizada, por meio de blocos regionais, quando a sua sustentabilidade econômico-
financeira não for possível apenas com recursos oriundos de tarifas ou taxas, mesmo após
agrupamento com outros Municípios do Estado, e os investimentos que visem ao atendimento dos
Municípios com maiores déficits de saneamento cuja população não tenha capacidade de
pagamento compatível com a viabilidade econômico-financeira dos serviços”.

Nesta mesma linha, “no fomento à melhoria da prestação dos serviços públicos de saneamento
básico, a União poderá conceder benefícios ou incentivos orçamentários, fiscais ou creditícios como
contrapartida ao alcance de metas de desempenho operacional previamente estabelecidas”.

A Lei n. 14.026/2020 previu, ainda, que a União fica “autorizada a participar de fundo que tenha
por finalidade exclusiva financiar serviços técnicos profissionais especializados, com vistas a apoiar
a estruturação e o desenvolvimento de projetos de concessão e parcerias público-privadas da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em regime isolado ou consorciado”.

Neste bojo, conforme se depreende do novo marco legal do saneamento básico, foram previstas,
inclusive, doações de qualquer natureza, inclusive de Estados, do Distrito Federal, de Municípios,
de outros países, de organismos internacionais e de organismos multilaterais, além de outros
recursos definidos em lei.

3. Considerações Finais

Verificou-se que, para fins de proteção ambiental, apesar da drenagem urbana, para efeitos de
saneamento básico, não considerar, por previsão legal, os recursos hídricos, ela não pode prescindir
da proteção e da gestão ambiental tanto das águas pluviais e de suas respectivas áreas de influência,
quanto das águas fluviais e suas respectivas áreas de entorno.

A consideração conjunta das águas pluviais e das águas fluviais, sobretudo para fins da drenagem
urbana, deve também necessariamente considerar as bacias hidrográficas.

29
“Poderão ser adotados subsídios tarifários e não tarifários para os usuários que não tenham capacidade de pagamento
suficiente para cobrir o custo integral dos serviços”.
Este entendimento pauta-se não somente em fundamentos técnicos, como também, em dispositivos
normativos de cunho ambiental, habitacional e urbanístico.

A partir disto analisou-se, neste ensaio, a Lei n. 14.026/2020 (marco legal do saneamento básico)
com o intuito de se identificar elementos que pudessem respaldar, em termos de políticas públicas, e
inclusive sob a perspectiva do mecanismo de pagamento por serviços ambientais, a melhoria das
condições da gestão ambiental da drenagem urbana.

Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa exploratória embasada numa abordagem dedutiva e
pautada, primordialmente, no marco legal do saneamento básico.

Verificou que a drenagem urbana pode ser enfocada sob diversos prismas integrados (funções
ambientais de áreas protegidas, funções sociais da cidade e das propriedades urbanas, serviços
ambientais/serviços ecossistêmicos, águas pluviais, águas fluviais, dentre outros).

Verificou que a abordagem da drenagem urbana deve considerar, de forma sistêmica e


multidisciplinar, aspectos de meio ambiente, de urbanismo, de recursos florestais, técnicos e legais
contemplados por dispositivos normativos tais como o próprio marco legal do saneamento básico,
as diretrizes nacionais para o saneamento básico, o novo código florestal, e o estatuto da cidade,
dentre outros.

Tais elementos ensejam a construção de uma política pública voltada (dentro as modalidades de
serviços públicos de saneamento básico) para à drenagem e manejo das águas pluviais urbanas (ou,
simplesmente, drenagem urbana). Adicionalmente, ensejam elementos relacionados à propositura
dos respectivos e pertinentes programas, contratos e instrumentos, tais como, particularmente, o
pagamento por serviços ambientais.

Note-se que, em termos da previsão legal do que seja o entendimento dos serviços públicos das
águas pluviais urbanas, consta o tratamento e disposição final de águas pluviais urbanas. Ocorre
que, neste contexto, deve-se enfatizar que a disposição final (ambientalmente adequada, por assim
também dizer) é, via de regra, junto às águas fluviais.

Por esta razão, dentre outras, é que se entendeu que o enfoque da drenagem urbana não pode
desconsiderar, dentro de uma visão sistêmica, multidisciplinar e integrada, além as águas pluviais,
também as águas fluviais.

Em decorrência, a drenagem urbana (e suas respectivas áreas de proteção ambiental), por via da
integração sistêmica das águas pluviais e das águas fluviais, “emprestaria”, guardadas as devidas
dimensões urbanísticas e habitacionais, todo o contexto de proteção ambiental, técnico e sobretudo
legal, das águas pluviais e suas respectivas áreas de entorno (dentre as quais, as áreas de
preservação permanente).

Com esta “transferência”, emprestados também poderiam ser os diversos dispositivos previstos para
a proteção ambiental das águas fluviais e suas áreas de entorno de preservação permanente. Isto
significaria dizer, dentre outros aspectos, emprestar também o contexto dos serviços ambientais e
respectivos mecanismos de pagamento por serviços ambientais, tais como previstos, dentre outras
fontes, no novo código florestal.

De qualquer maneira, para efeitos de se identificar alguns dos principais parâmetros da Lei n.
14.016/2020 que pudessem respaldar a construção de uma política pública para a drenagem urbana,
verificou-se que o papel do Poder Público Federal é determinante (ANA e Ministério da Integração
Regional).

Verificou-se, ademais, que há um enorme potencial para a inserção e atuação ativa e incisiva dos
Municípios em termos de, via Lei n. 14.0126/2020, proporem políticas públicas para a proteção
ambiental das áreas vinculadas à drenagem urbana.

Por fim, dentre os diversos aspectos a serem destacados do marco legal do saneamento básico,
inclusive para efeitos da construção de uma política pública de drenagem urbana que venha a se
valer, inclusive, do mecanismo de pagamento por serviços ambientais, ter-se-iam: i) formalização
de consórcios intermunicipais; ii) articulação dos temas saneamento básico, resíduos sólidos e
recursos hídricos (não se olvidando, naturalmente, dos recursos florestais a estes temas direta ou
indiretamente associados); iii) o foco não somente na drenagem, mas também, no manejo das águas
pluviais (de forma preferencialmente integrada às águas fluviais); iv) articulação com políticas de
desenvolvimento urbano e regional, inclusive com foco no combate à pobreza e melhoria da
qualidade de vida (remoção de moradias em áreas de risco e instituição de parques lineares, por
exemplo); v) aproveitamento (uso múltiplo e racional) das águas de chuva, e; vi) estímulo as fontes
e métodos alternativos de abastecimento de água, incluindo águas subterrâneas, de reuso ou
pluviais, desde que autorizados pelo órgão gestor competente e que promovam o pagamento pelo
uso de recursos hídricos, quando devido”, dentre outros.

Você também pode gostar