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LINGUAGEM MUSICAL I
respostas que desconsideram todo o seu conteúdo na área, focando apenas na falta
de conhecimento clássico e tradicional, ainda sendo visto como o mais importante.
Não significa que essa escrita não seja importante; significa apenas que é
inacessível e que, diante de uma sociedade específica em suas pluralidades e
histórico cultural, essa não é também a única forma de transmitir conhecimento
musical, ou sequer de escrevê-lo.
Independente do número de pessoas que possuem o domínio quanto à escrita e
leitura clássica, todo mundo passa pela experiência musical. Tanto quem se
encontra no meio quanto quem não se considera dele possui a habilidade de
experimentar a música: seja através da dança, do canto, ou do ato de simplesmente
ouvir. Independente da intenção ao fazer qualquer uma dessas coisas, a experiência
é comum a todos; da mesma forma que é possível reproduzir uma música sem
utilizar qualquer um desses recursos, evidenciando a existência de outros meios
para se adquirir a aprendizagem nesse âmbito, como em tradições transmitidas
oralmente.
Assim como os sistemas linguísticos, o surgimento da notação musical como a
conhecemos hoje se transformou e evoluiu com o passar do tempo, a partir da
necessidade de registrar as peças já existentes na época. Suas adaptações se
deram a partir da demanda de especificar mais as características da música; sendo
antes classificada apenas pela altura e por símbolos avulsos, passando por cada
tipo de definição até chegar na partitura que conhecemos hoje. Essa necessidade
serve como sustentação do argumento de que a grafia musical, o seu registro
escrito, é sim relevante, visto que eterniza a peça, tornando-a mais facilmente
transmitida de músico para músico. Além disso, a grafia musical de uma peça
permite que ela seja esquematizada, de forma a facilitar a análise da técnica e das
escolhas feitas pelo compositor. Assim como a leitura, a atividade de escrever e
transcrever ajuda, também, na apreensão de conteúdo e na memorização dele.
Percebe-se então que a notação musical tem seu papel no entendimento da música;
mas isso não é algo a ser discutido. Pelo contrário, considera-se conhecedor aquele
que possui esse tipo de conhecimento, não o que apenas vivencia, experimenta e
reproduz a música, mesmo sem saber o que está fazendo. Se uma pessoa
consegue ouvir e reconhecer um som, e raciociná-lo como parte de algo que ele já
ANNA LUISA GOLINO DE AZEVEDO; BEATRIZ RIBEIRO ROCHA; DÉBORA FASSARELLA VALADÃO; GUILHERME OLIVEIRA; LARISSA SILVA FIALHO.
conhece, mesmo sem saber exatamente do que se trata, como não considerar que
seu conhecimento seja válido?
Dessa forma, é importante ressaltar que não está em discussão se a grafia
musical é importante, e sim, a importância dos outros diversos tipos de aprender e
experimentar a música, que tão frequentemente são colocadas de lado. Há um
motivo pelo qual o conhecimento teórico clássico é considerado algo prestigioso e
de difícil acesso, principalmente em um país tão desigual quanto o Brasil - porque,
em sua maioria, quem tem acesso são pessoas de poder aquisitivo maior, o que
torna a acessibilidade dela escassa, além de ser um tipo de estudo somente
encontrado em locais específicos. Entrando nesse ponto, a autora ainda aprova a
possibilidade de se aplicar a noção teórica básica da música no ensino fundamental,
comparando esse processo de aprendizado à abordagem cognitiva dos conceitos
previamente conhecidos de quando a criança vai aprender a língua ou os
algarismos matemáticos. Quanto à forma de se fazer isso, é também necessário
ressaltar que teoria sem prática não transmite a música como um todo. Sim, é
possível aprender se baseando somente em conceitos teóricos, mas não se obtém
o que há de melhor na música: a experiência de vivenciá-la. Assim, a autora
defende que há formas mais atraentes de transmitir o conhecimento musical, que
levam em conta não apenas o teórico clássico, mas também a vivência do aluno em
questão e sua relação com a música em si, contemplando as diferentes formas de
experimentá-la: seja na reprodução, na recepção ou na produção, além da análise
sobre ela, de forma que a leitura e a escrita perpassaria por cada uma delas,
tornando o aprendizado mais completo e bem abordado.
Por fim, conclui-se que sim, ainda que seja importante, saber música não se
resume a saber ler e escrever, muito menos se tratando apenas de exemplos
ocidentais e eurocêntricos. Ainda que não possuam extenso conhecimento teórico,
é possível que cada indivíduo desfrute da música do seu jeito, estando o tempo todo
rodeados por ela, o que comprova que o empecilho não é a música em si, e sim sua
forma de ser abordada. Vale ressaltar que, entretanto, a escritura e a leitura tem sim
sua relevância e sua necessidade, embora possa ser realizada de outras formas.
Resta aos pesquisadores aprofundarem mais suas pesquisas acerca do ensino
formal da música, além de o debate ser continuado entre músicos e os professores
ANNA LUISA GOLINO DE AZEVEDO; BEATRIZ RIBEIRO ROCHA; DÉBORA FASSARELLA VALADÃO; GUILHERME OLIVEIRA; LARISSA SILVA FIALHO.
De acordo com a autora, a leitura, juntamente com a escrita musical, “[...] torna a
música mais compreensível, ao apresentar o seu lado matemático, ajudando a
perceber sua estrutura e organização.” (SOUZA, 2004, pág. 212).
Além disso, ler e escrever música permite que uma peça musical possa ser
modificada, executada e analisada por outras pessoas e pode servir como "auxílio
para um ouvir musical consciente, preocupado com os meios técnicos utilizados
pelo compositor, a estrutura da obra, o acompanhamento consciente do movimento
e as curvas de tensão.”(SOUZA, 2004, pág. 212). A prática da escrita musical
aparece também como um exercício de composição e audição, contribuindo para o
desenvolvimento do ouvir (SOUZA, 2004).