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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEIO AMBIENTE


DISCIPLINA PENSAMENTO CIENTÍFICO E CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA
2017.1

CASTORIADIS, Cornelius. A instituição imaginária da sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,


1982.
Autores: Cláudio Manuel Rodrigues
Vânia Maria Lourenço Sanches

Síntese

Uma visão geral da obra


O filósofo grego, radicado na França, Cornelius Castoriadis, é um crítico do marxismo,
sem deixar de buscar os mesmos ideais. Nessa obra, ele afirma que a sociedade é o produto de
uma instituição imaginária, ou seja, o imaginário é uma criação indeterminada de
figuras/formas/imagens, a partir das quais somente é possível falar-se de "alguma coisa".
Aquilo que denominamos "realidade" e "racionalidade" são seus produtos.
Depois de fazer um vasto balanço do marxismo, o autor continua sua discussão
dizendo que tudo o que nos apresentam, no mundo social-histórico, está indissociavelmente
entrelaçado com o simbólico. Não que se esgote nele, mas uns e outros são impossíveis fora
de uma rede simbólica. Dito de outra forma, as diversas instituições que existem numa
sociedade estão cheias de elementos simbólicos, e o simbolismo está cheio do imaginário (algo
inventado/construído). O imaginário deve utilizar o simbólico, não somente para "exprimir-se",
o que é óbvio, mas para "existir", para passar do virtual a qualquer coisa a mais. Mas também,
inversamente, o simbolismo pressupõe a capacidade imaginária. Pois implica na competência
de ver uma coisa o que ela não é, de vê-la diferente do que é.
O autor, ainda argumenta que toda sociedade existe instituindo o mundo como seu
mundo, ou seu mundo como mundo, e instituindo-se como parte deste mundo. Dessa
instituição, do mundo e da sociedade, pela sociedade, a instituição do tempo é sempre
componente essencial e complementa dizendo que tudo o que existe, em qualquer domínio,
se presta a uma organização conjuntista-identitária e não é congruente com esta. A
representação (de qualquer coisa) só pode formar-se na e pela psique (a emergência de
representações acompanhadas de um afeto e inseridas num processo intencional). Diferente
do que muitos pensam, o autor vai afirmar que o indivíduo não é um fruto da natureza, ele é
criação e instituição social. Sociedade e psique são inseparáveis e irredutíveis uma da outra.
Na última parte do livro, lembrando o que Marx chamou de "fetichismo da
mercadoria", Castoriadis diz que as coisas sociais são o que elas são mediante as significações
que elas figuram, imediatamente ou mediatamente, diretamente ou indiretamente, quer
dizer, a instituição da sociedade é toda vez instituição de um magma de significações
imaginárias sociais, que podemos e devemos denominar um mundo de significações.
Capítulo III "A Instituição e o Imaginário"

Para Castoriadis, a questão da instituição vai estar atrelada à temática do imaginário,


situada em uma discussão acerca de um projeto de autonomia que, por sua vez, é o ponto
central de um projeto político na construção de uma sociedade autônoma.
Entretanto, o problema da construção da autonomia está vinculado à problemática da
superação das diferentes formas de alienação nos planos individual e social ou coletivo, sendo
alienação entendida pelo autor como heteronomia, isto é, a legislação e a regulação pelo
outro.
Segundo Castoriadis (1992), o fato da alienação surgir como instituída, aponta para o
fato de que a instituição, uma vez criada pela sociedade, parece autonomizar-se através de
uma inércia e de uma lógica próprias, ultrapassando largamente em sua sobrevivência e em
seus efeitos, seus propósitos iniciais e suas ‘razões de ser’, levando a uma inversão, na qual o
que deveria ser visto inicialmente como um conjunto de instituições a serviço da sociedade, se
transforma em uma sociedade a serviço das instituições.
Tais observações, levam Castoriadis (1982) a contestar o fato de que as instituições se
limitem a um papel estritamente funcional, que se relaciona à visão econômico-funcional, na
qual se explicaria a existência e as características da instituição pela função que a mesma
exerce na sociedade. Nessa direção, o autor, vai entender a instituição como uma rede
simbólica, socialmente sancionada, onde se combinam em proporções e em relações variáveis
um componente funcional e um componente imaginário (p.159), constituindo em alienação,
de acordo com Castoriadis (1982), a dominância do momento imaginário na instituição, que
leva a autonomização e a dominância da instituição em relação à sociedade.
Dessa forma, o fato da funcionalidade buscar seu sentido fora de si mesma e o
simbolismo referir-se a algo que não é simbólico nem tampouco apenas real-racional, remete
a nada mais do que ao imaginário da sociedade ou da época considerada. O imaginário vai
constituir-se assim no elemento que fornece à funcionalidade dos sistemas institucionais a sua
orientação específica, que está na origem da escolha e das conexões das redes simbólicas,
criação de cada época histórica, sua singular maneira de viver, de ver e de fazer sua própria
existência, seu mundo e suas relações com ele... (p.175), fonte do que se define como sentido
indiscutível e indiscutido, do que vale e do que não vale e do que deve e não deve ser feito.
A instituição da sociedade para Castoriadis (1982), é a criação de um mundo de
significações, ou seja, a instituição social do indivíduo tem a função de dar a existência a um
mundo público e comum para a psique, que se torna imposto ao mesmo tempo em que cria a
possibilidade de encontrar sentido na significação social instituída.
Contudo, essa imposição que é a imposição da sociedade que a psique renuncie a um
sentido próprio para encontrar sentido nas significações imaginárias sociais e instituições
nunca é completo, não eliminando a imaginação radical, isto é, não eliminando a criatividade
do indivíduo, ou seja, a permanência do indivíduo como fluxo representativo, do qual surgem
permanentemente múltiplas representações, figurações e fantasias diferentes. O processo de
socialização implica então, por um lado, na satisfação da necessidade vital de sentido da
psique e, por outro, no fato de que a própria sociedade é a instituição de sentido na forma das
significações imaginárias sociais.

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