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O tempo

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da história da oc
humana da
de Desenvolv

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o dos O tempo dos
gmentos
patrões “brabos”: fragmentos
cupaçãoda história da ocupação
humana da Reserva
Reserva de Desenvolvimento
vimento Sustentável Amanã, AM 1

EDNA FERREIRA ALENCAR


Universidade Federal do Pará, Belém, Brasil

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Alencar, E. F.

Resumo
Este artigo tem como objetivo apresentar alguns aspectos da
história social e econômica que marcou a ocupação humana do
território da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no
período que compreende o final do século XIX e inicio do século
XX. O artigo se baseia em relatos orais dos moradores das várias
localidades que existem nesse território, coletados em intensa pes-
quisa de campo. Os relatos permitem conhecer as dificuldades
e os desafios encontrados por dezenas de famílias para garantir
sua subsistência, como eram realizadas as atividades extrativas
que constituíam a base da economia dessa região da Amazônia, e
também o papel desempenhado pelos comerciantes, os patrões,
no processo de ocupação desse território, e sua posterior substi-
tuição por outros agentes de desenvolvimento.
Palavras-chave: História da Amazônia, memória social, migração.

Abstract
This article aims to present some aspects of the social and eco-
nomic history that characterized the human occupation of the
Sustainable Development Reserve Amanã territory from the late
nineteenth century and early twentieth century. Data comes from
oral reports of people living in several towns, collected during
intensive field research. The oral stories tell about the difficulties
and challenges faced by dozens of families in order to guarantee
their subsistence; about the ways that extrativism was conducted
as the basic economic enterprise in the region; and also the role
played by the traders (the employers), in the process of occupa-
tion of that territory, and its subsequent replacement by other
agents of development.
Key Words: Amazonian history, social memory, migration.

Resumen
Este artículo tiene por objetivo presentar algunos aspectos de la
historia social y económica que marcó la ocupación humana del
territorio de la Reserva de Desenvolvimiento Sustentable Amanã
(Figura 1), desde fines del siglo diecinueve hasta el inicio del siglo
veinte. El artículo se basa en relatos orales de los moradores de
las varias localidades que existen en este territorio, recolectados
en intensa investigación de campo. Los relatos permiten cono-
cer las dificultades y los desafíos encontrados por docenas de fa-

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milias para garantizar su subsistencia, como eran realizadas las


actividades extractivas que constituían la base de la economía de
esta región de la Amazonía, y también el papel jugado por los
comerciantes, los patrones, en el proceso de ocupación del ter-
ritorio, y suya posterior substitución por otros agentes de desen-
volvimiento.
Palabras-clave: Historia de la Amazonía, memoria social, mi-
gración.

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Alencar, E. F.

Introdução tre três importantes sistemas fluviais:


Neste texto analisamos alguns aspec- os rios Japurá, Solimões e Negro, que
tos da história da ocupação humana interligam três grandes municípios:
do território onde hoje está situada a Maraã, Coari e Tefé. Através do rio
Reserva de Desenvolvimento Susten- Solimões, por exemplo, famílias que
tável Amanã2 (RDSA), no período que trabalhavam no alto rio Purus ou Ju-
compreende as ultimas décadas do sé- ruá podiam se deslocar até a região de
culo XIX e a primeira metade do sé- Amanã, levadas por comerciantes que
culo XX. A região da reserva Amanã é percorriam a região vendendo merca-
dominada pelo lago do mesmo nome, dorias e comprando a produção.
o lago Amanã, e por uma extensa ma- A história que apresentamos foi narra-
lha fluvial formada por lagos, igarapés, da a partir da perspectiva dos morado-
paranás e rios de curta extensão. Esses res das várias comunidades que estão
cursos de água banham extensas áreas situadas na RDSA. Os relatos daqueles
de várzea e cortam vastas áreas de terra que vivenciaram os fatos, ou apenas re-
firme ricas em florestas com espécies produzem uma memória que é repas-
que produzem látex, tais como a ma- sada através da oralidade ao longo das
çaranduba, a seringa, a sorva, a balata gerações, mostram a maneira como as
etc., além de florestas formadas por pessoas se situam num certo contexto
castanhais e espécimes madeireiras de social, político e econômico da região,
grande valor comercial. Por sua loca- e como interpretam as relações que es-
lização geográfica, o complexo hídrico tabeleciam com pessoas pertencentes a
de Amanã permite a comunicação en- outras categorias sociais, como é o caso

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dos patrões. Seus relatos foram tomados da produção exigia uma constante mo-
aqui como histórias ainda não documen- bilidade das pessoas entre ambientes
tadas de grupos sociais que historica- distintos e até entre regiões distantes
mente foram marginalizados, e podem geograficamente, e isso lhes possibili-
ser considerados como evidências orais e tava conhecer outras realidades e iden-
também um registro da história oculta da tificar oportunidades de trabalho, o que
migração (Thomson 2002) que ocorreu geralmente culminava com a migração
na Amazônia no final do século XIX e para locais onde houvesse fartura de
início do século XX. recursos naturais e condições de co-
mercializar a produção. Em suas falas
Pesquisar sobre a história de uma re-
os moradores destacaram os processos
gião como a Amazônia baseada apenas
de troca de informações sobre opor-
na memória dos moradores significa
tunidades econômicas, a articulação de
enfrentar muitos desafios, e o princi-
redes de sociabilidade e de parentesco;
pal deles é a profundidade da memória
apontaram os vários atores sociais que
social e a dificuldade encontrada pe-
participaram na construção de redes
los narradores para lembrarem-se dos
sociais que caracterizaram o processo
eventos passados e situá-los cronologi-
de ocupação da região, com destaque
camente. Essa dificuldade se deve não
para os patrões; revelaram também o
apenas à falta de referências materiais,
complexo entrelaçamento de fatores
como casas de alvenaria ou constru-
sociais, econômicos e ambientais que
ções públicas, por exemplo, mas prin-
influenciaram indivíduos e famílias nas
cipalmente à freqüente migração que as
decisões de migrar.
famílias realizaram ao longo de suas vi-
das, como resposta tanto às mudanças Ao buscarmos informações sobre a
que ocorreriam no sistema de produ- ocupação humana de Amanã foi pos-
ção econômico ou devido a problemas sível conhecer o tipo de memória cole-
fundiários, como também a mudanças tiva que as pessoas conservam do pas-
no próprio ambiente biofísico (Alencar sado, e que permite tecer a trama de
2007). A migração é uma característi- uma história que tem um tempo e um
ca importante da história dessa região, espaço bem definidos. Para Halbwa-
uma vez que a economia, principal chs (1990:71) a memória coletiva “tem
motor do processo migratório, estava tudo o que é preciso para constituir
baseada na exploração extrativista dos um quadro vivo e natural em que um
recursos naturais. Assim, à medida que pensamento pode se apoiar, para con-
os recursos explorados em uma região servar e reencontrar a imagem de seu
tornavam-se escassos, a tendência dos passado”. A memória coletiva é um
trabalhadores era partir em busca de conjunto de lembranças que um grupo
locais que fossem fartos em recursos ou sociedade conserva como referên-
naturais, seja por iniciativa própria ou cia de sua própria existência, e não a
com o estímulo e apoio de algum co- somatória de todas as memórias indi-
merciante. Além disso, a sazonalidade viduais. Como um processo coletivo, o

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grupo social tem um papel importante e ilhas) que alteram a configuração da


no sentido de reforçar as lembranças e paisagem física, mudam o curso dos
de estimular sua emergência. rios, formam paranás, e também for-
mam ou destroem lagos. A relação dos
O alcance da memória coletiva sobre
grupos humanos com esse tipo de am-
os eventos que constroem a trama da
biente é marcada pelas estratégias que
história dessa região remete a apenas
adotam para explorar os recursos na-
duas gerações ascendentes, pois foram
turais disponíveis e garantir sua subsis-
poucos os que se lembraram do nome
tência. Alguns fatores sociais também
e origem dos avós, um reflexo da cons-
tiveram um papel importante nesse
tante migração que realizavam, com a
processo, destacando-se os laços sociais
descontinuidade dos vínculos sociais no
e de parentesco; o sistema de produção
espaço e no tempo. Outro aspecto a ser
econômica; as estratégias econômicas
enfatizado é a migração dos moradores
e as redes de comercialização; a forma
mais antigos, e que são depositários da
de ocupação e controle do território
memória dos grupos sociais e dos lu-
e dos recursos naturais; a problemáti-
gares, para cidades como Tefé, Marãa,
ca da posse e da propriedade da terra,
Coari e Manaus. Como observado em
a presença ou não do Estado, dentre
outras regiões, a migração das gerações
outros. Tais fatores demonstram a rele-
mais velhas para a área urbana surge
vância do contexto social para compor
como um fator limitante no processo
um quadro demonstrativo do processo
de reprodução da memória social sobre de ocupação dessa região no período
os eventos passados para as novas gera- de quase cem anos.
ções (Alencar 2002, 2008). O não parti-
lhar a memória do passado resulta em A ocupação humana
lacunas e fragmentação da memória do da região de Amanã
passado por aqueles que hoje habitam
Antes de falar sobre a ocupação huma-
as comunidades da RDSA, e que não
na da região de Amanã convém falar,
vivenciaram os eventos narrados.
brevemente, do processo de ocupação
Para obter as informações tomamos colonial da região da Amazônia central,
como ponto de partida a história de destacando as mudanças no sistema de
formação das localidades3, com o ob- produção econômica, o predomínio de
jetivo de conhecer os fatores sociais e uma economia centrada no extrativis-
ambientais que influenciaram, de algu- mo de recursos naturais; a existência
ma maneira, na fixação ou na migração de um processo migratório formado
das famílias. Nesse contexto, o fator por pessoas oriundas de outras regiões
ambiental possui um papel importante do país, ou de regiões situadas na própria
devido às variações sazonais expres- Amazônia, e a ocupação de territórios já
sas nas cheias e vazantes dos rios, e as ocupados por populações indígenas, que
mudanças que ocorrem na paisagem foram obrigadas a se deslocar ou migrar
física causadas pela terra caída e pela para regiões mais centrais, ou seja, distan-
formação de novas terras (como praias tes das margens dos rios principais.

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A história da ocupação colonial da Ama- várias regiões do Brasil para a Amazônia,


zônia tem sido contada a partir de uma com destaque para migrantes oriundos
cronologia que usa como marcadores da região Nordeste, principalmente dos
os sistemas de produção econômica, estados do Ceará e do Maranhão. Esses
geralmente pensados na perspectiva imigrantes eram atraídos pelas notícias
de ciclos, numa referência à duração e de fartura de recursos naturais e por pro-
às características de determinadas for- messas de enriquecimento rápido; após
mas de exploração econômica que pre- uma parada na cidade de Manaus, eles
dominaram em determinado período eram enviados para os seringais localiza-
(Wagley 1967 apud Arnaud 1989; Oli- dos no alto dos rios Purus, Juruá e Japurá,
veira 1984). Essa história enfatiza que onde estavam concentrados os seringais
o processo de expansão da economia mais produtivos (Santos 1970, Weinstein
mercantil, fundada na exploração de 1993). Esses imigrantes contribuíram
recursos naturais, implicou no desloca- com o processo de ocupação de amplos
mento e no extermínio de populações territórios, já ocupados pela população
nativas que viviam às margens dos rios ameríndia, ao mesmo tempo em que
principais, e que eram as únicas vias de causavam o seu despovoamento, alteran-
acesso às áreas de extrativismo, tanto do significativamente o mapa demográfi-
das drogas dos sertões no século XVII, co da região ocidental da Amazônica. Se-
quanto da borracha no século XIX e gundo A. E. Oliveira, em 1820 o número
início do século XX. de imigrantes “foi estimado ao redor de
137 mil habitantes; em 1870 passou para
Com a expansão da economia extrati- 323 mil; em 1900 alcançou cerca de 695
vista centrada na exploração da borra- mil e em 1910 chegou a atingir 1.217.000
cha nas ultimas décadas do século XIX indivíduos” (Oliveira 1984:223). Nesse
e primeiras décadas do século XX, a processo de ocupação humana tiveram
ocupação da Amazônia ocorreu de destaque grandes empresas bancárias e
forma intensa, estimulada pelo próprio de comércio com sede em Belém e Ma-
Estado. Nesse momento houve um naus, mas vinculadas a empresas inglesas
aumento demográfico e uma expansão e americanas, que faziam o aviamento de
territorial na Amazônia, como parte de mercadorias para abastecer os pequenos
um processo mais amplo de expansão comerciantes espalhados em seringais si-
da economia capitalista monopolista tuados nas terras firmes, cujo acesso era
internacional, que investiu na indústria realizado através dos rios principais e dos
extrativista do látex chegando, inclusi- igarapés. Por estas vias também era esco-
ve, a financiar a entrada de imigrantes ada a produção da borracha. As empre-
para a região, através de empréstimos sas de navegação, diretamente vinculadas
feitos aos governos das províncias para às empresas estrangeiras que investiram
que estes facilitassem o transporte dos na indústria extrativa da borracha, tam-
mesmos (Weinstein 1993). A indústria da bém desempenharam um papel impor-
borracha, que se expandiu nas ultimas dé- tante nesse processo, por facilitar o esco-
cadas do século XIX, atraiu migrantes de amento da produção e o abastecimento

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dos trabalhadores espalhados nos vários no cultivo do cacau e na produção de


seringais localizados no interior da Ama- açúcar. A segunda fase (1870-1960) tem
zônia. É nesse contexto de expansão da como principal característica a existên-
indústria da borracha que ocorre a ocu- cia de um comércio centrado também
pação humana de Amanã, cuja história na extração de produtos florestais,
narrada pelos moradores remete a uma mas com a presença de um comércio
escala de tempo de quase cem anos: de na área rural constituído em torno
1900 a 2005 (Alencar 2007). do barracão dos patrões (Lima-Ayres
Para uma análise mais particularizada 1992: 112). A terceira fase (1970 – aos
da periodização histórica da região de dias atuais) tem como características a
Amanã, buscamos o trabalho de Lima- existência de um comércio centrado
Ayres (1992) que realizou uma carac- na extração de produtos florestais, um
terização da evolução da economia da padrão demográfico caracterizado por
região do médio Solimões, a qual pode uma população que residia nas áreas
ser estendida para a região do baixo Ja- rurais e urbanas, e ser o marco do fim
purá (Alencar 2007). Para essa caracte- do sistema econômico nucleado na fi-
rização a autora tomou um momento gura do patrão e seu barracão. Nesta
particular da história econômica e social fase o patrão foi substituído por pe-
marcado pela sujeição dos extratores a quenos comerciantes que realizavam o
um patrão, e usou como referências o comércio em seus próprios barcos, os
padrão de povoamento, o comércio e o regatões. Embora tenham introduzido
trabalho livre. Com isso a autora identi- a troca monetária, mantiveram o sis-
ficou três fases as quais correspondem tema de troca baseado em mercadoria
ao período de “consolidação e decadência versus produto, o escambo, e o sistema
do sistema de aviamento na região” (Lima- de aviamento como ocorria com os an-
Ayres 1992: 110). As datas de inicio e do tigos patrões, financiando a mercadoria
fim de cada uma são aproximações, não e recebendo o produto em pagamento
correspondendo a um momento exato (Lima-Ayres 1992: 116).
de transição entre elas. De modo geral, fica claro, nas diversas
A primeira fase (1760-1860) teve como tentativas de periodização da história
característica o predomínio de uma da ocupação colonial da Amazônia,
economia centrada na extração de pro- que o processo de expansão da econo-
dutos florestais, quando ocorriam as mia mercantil fundada na exploração
expedições de trabalhadores para reali- de recursos naturais e na utilização da
zar a extração (Lima-Ayres 1992: 111). população local como mão-de-obra es-
Nesta fase, o comércio e a residência crava resultou em profundas transfor-
concentravam-se na área urbana. No mações sócio-culturais e econômicas.
entanto, como vimos acima, Oliveira Inicialmente, a ocupação do território
(1984:221) destaca que nesse momento ocorreu com a exploração das terras si-
também houve uma produção que não tuadas às margens dos rios principais e
estava centrada no extrativismo, mas das áreas de terra firme, e implicou no

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deslocamento e no extermínio de popu- Alguns atores tiveram um papel impor-


lações nativas que viviam às margens de tante nesse processo, quer por garantir
rios como o Solimões, o Japurá, o Juruá, as condições mínimas de trabalho para
o Purus e o Madeira, usados como prin- as famílias que realizavam a extração
cipais rotas de acesso às áreas de extra- do látex, a caça, a pesca e a coleta da
tivismo. Na segunda metade do século castanha, quer por estimular a organi-
XIX adquiriu novos contornos quando zação dessas famílias em pequenos nú-
a ocupação ocorreu de forma intensa cleos de povoamento que receberam o
estimulada pela expansão da atividade nome de comunidades (Alencar 2007).
econômica centrada no extrativismo da São eles: i) os comerciantes (referidos
borracha e com as políticas dos gover- como patrões), que visando maximizar
nos provinciais voltadas para o povoa- uma economia extrativista e predatória
mento da Amazônia. Tudo isso alterou que estava fundada no lucro imediato
significativamente o mapa demográfico viabilizaram a ocupação das áreas mais
da região ocidental da Amazônica. As distantes; ii) a Igreja Católica, que atra-
políticas governamentais consistiram vés da Prelazia de Tefé estimulou a for-
no incentivo dado a imigrantes estran- mação de núcleos de povoamento, as
geiros e nacionais para ocupar terras e Comunidades, iniciando um trabalho
desenvolver a agricultura (Oliveira 1984, com um viés comunitário e de cunho
Weinstein 1993). ambientalista; iii) o Estado, que através
da criação de novos municípios e in-
A história da ocupação humana da re-
vestimentos em infraestrutura para as
gião de Amanã, no período alcançado
comunidades rurais, como a constru-
pela memória social dos moradores,
ção de escola, contribuiu para a redu-
não ocorre de modo diferente. Os pri-
ção do fluxo migratório em direção as
meiros povoados que existiram nessa
áreas urbanas (Alencar 2007).
região foram formados por imigran-
tes de origem nordestina, mais preci- A partir de uma análise do papel des-
samente por cearenses e paraibanos. ses atores é possível identificar dis-
Alguns vieram diretamente do Ceará tintos padrões de povoamento e dois
para essa região, fugindo da seca ou de momentos dessa história da ocupação:
algum conflito fundiário, enquanto ou- o primeiro momento, que podemos
tros, embora também de origem nor- chamar de “o tempo dos patrões”,
destina, vieram da região de seringais compreende o final do século XIX e a
situados nas cabeceiras dos rios Juruá primeira metade do século XX, quan-
e Purus, fugindo do alcance de alguns do predomina uma economia centrada
seringalistas que exploravam exaustiva- basicamente no extrativismo de produ-
mente sua força de trabalho. Em Ama- tos florestais (extração do látex e coleta
nã, eles encontravam vastas áreas de da castanha), e produtos de origem ani-
terras controladas por poucas pessoas, mal (caça e pesca). Nesse momento o
e sem a presença de qualquer grupo in- comércio estava centrado na área rural,
dígena (Alencar 2007). constituído em torno do barracão dos

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patrões, que também controlavam ex- dos recursos naturais, e a realizar o ma-
tensas áreas de terras firmes que eram nejo de recursos naturais5.
cortadas por vários cursos de água, os
Para cada um desses momentos cor-
igarapés, através dos quais era possível
responderam diferentes formas de
ter acesso a um amplo território rico
ocupação do espaço e de uso de re-
em castanheiras, seringueiras, sorveiras
cursos naturais, e também dinâmicas
e animais de caça (Alencar 2007). As
demográficas distintas. No primeiro
relações de trabalho são marcadas pela
momento havia a dispersão das famí-
sujeição dos trabalhadores aos grandes
lias que residiam isoladas em pequenos
comerciantes, os patrões, que contro-
povoados, que possuíam uma baixa
lavam grandes áreas de terra firme, e
densidade demográfica, sendo forma-
estabeleciam regras para a ocupação
dos por duas a três casas ocupadas por
dessas terras e para a exploração dos
casais de um mesmo grupo de parente-
recursos naturais nelas existentes.
la. As localidades maiores eram aquelas
O segundo momento, que é “o tempo onde estava localizado o comércio de
das comunidades”4, corresponde a se- um seringalista, referido como barra-
gunda metade do século XX, dos anos cão, onde era estocada a produção e
1960 em diante, quando são formadas as mercadorias que eram aviadas aos
as comunidades. O termo comunidade trabalhadores. A permanência das fa-
foi introduzido nessa região da Amazô- mílias nesses povoados era garantida
nia pela Igreja Católica nos anos 1970 pela presença do patrão que chegava
através das ações do MEB, que incen- até o local levando mercadorias e re-
tivou as famílias que viviam dispersas a colhendo a produção. No segundo
se juntarem em povoamentos e formar momento, quando ocorre a formação
uma organização política com forte viés das comunidades, as famílias se juntam
comunitário (Faulhaber 1987, Lima e tendem a fixar residência mais pro-
2000, Alencar 2004, 2007). Na concep- longada num mesmo lugar. Através da
ção local o conceito de comunidade organização comunitária conseguem
remete a um conjunto de famílias que reivindicar junto ao poder público mu-
moram juntas e partilham um territó- nicipal investimentos para a melhoria
rio comum, realizam ações conjuntas e da infraestrutura comunitária, como a
possuem uma forma de representação construção de escolas e a contratação
política na figura do presidente da co- de professores. A existência de escolas
munidade, que representa os interesses nas comunidades é um fator que per-
e encaminha as reivindicações dos mo- mite a estabilidade dos povoados e a fi-
radores junto ao poder público muni- xação das famílias, pois os pais buscam
cipal. Com a formação das comunida- investir na educação escolar dos filhos.
des as famílias foram estimuladas não Mas, neste trabalho, nos deteremos
apenas a se organizarem politicamente, nos primeiros personagens, os patrões,
como também a desenvolver atividades mostrando as representações que se
econômicas com menos dependência construíram sobre eles e que fazem

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parte do imaginário dos moradores das a fartura e as riquezas que lhes haviam
comunidades da Reserva Amanã. sido prometidas.
Para as três primeiras décadas do sécu-
A vida nas colocações:
lo XX há informações sobre a chegada
controle da produção
de algumas famílias oriundas de serin-
e do território
gais localizados nos rios Juruá, Jutaí e
Nos últimos cem anos o tipo de explo- Japurá para se estabelecerem em terras
ração econômica desenvolvida na região situadas às proximidades do lago Ama-
de Amanã foi um fator que determinou nã, ou às margens de rios e paranás que
a maneira como ocorreu a ocupação do davam acesso a esse lago. Essas famí-
espaço, influenciou no processo de es- lias foram atraídas pela notícia da exis-
colha dos locais para a construção dos tência de lagos fartos em pescado, e de
povoados, na variação do número dos amplas áreas de terra firme onde abun-
mesmos e na dinâmica populacional. davam florestas ricas em castanhais, se-
O processo de ocupação da região que ringueiras, sorveiras, animais de caça e
ocorreu entre o final do século XIX e lagos ricos em pescado.
o início do século XX reflete uma ca-
racterística do processo mais amplo de “Muitos vinha por notícia, né? Por-
ocupação humana da Amazônia pro- que aqui né, era isolado. O finado
papai contava que eles vieram por
movida por uma economia extrativista
notícia, que aqui era muito bom,
predatória centrada na exploração de muito farto de tudo. E era mesmo.
recursos naturais. Nesse momento hou- E quando um lugar é assim, o pes-
ve a ocupação das terras situadas nas soal trata logo porque tem o que
áreas mais centrais onde estavam locali- eles tirarem, tem produção, né? Aí
zados os seringais mais produtivos, que então por notícia eles vieram” (Se-
eram acessíveis através de rios menores nhor. S., Vila Nova).
que deságuam nos rios principais como
o Japurá, o Juruá, o Purus e o Solimões, “Aí muitos quando voltavam, cor-
tavam e iam pra Manaus. Muitos
e de dezenas de igarapés que cortam a
iam porque queriam conhecer. E
região. Com o declínio da produção da foi assim que foram chegando os
borracha que ocorreu a partir das pri- arigós. Chegavam aqui do Juruá.
meiras décadas do século XX, inicia-se Era no tempo da guerra. Os pa-
um novo fluxo migratório, que parte trões faziam pedidos de mercado-
das áreas de seringais situados nas cabe- ria dos arigós, mostravam o retrato
ceiras dos rios mencionados acima e se do cara ensapatado, todo bacana,
dirigia para as áreas de várzea ou de ter- só pra enganar. O cara quando
ra firme situadas nas regiões do médio chega assim leva na cara. E eles
chegavam e viam o retrato do se-
Solimões, baixo Japurá e Purus (Lima e
ringueiro e pensava: - Vou ganhar
Alencar 2000), famosas pela fartura de dinheiro, aí vinha aquela quanti-
pescado e de outros produtos extrati- dade. Muitos morreram aqui no
vos com grande valor de mercado. Mais Coracizinho, de muitas doenças;
uma vez os migrantes buscavam a terra, malária” (Senhor A., Matuzalém).

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Embora as mudanças no sistema de res dos povoados da região de Amanã


produção econômica apareçam como para trabalhar em seringais situados
um dos fatores que influenciaram as na região do rio Japurá, por exemplo.
decisões de migração das famílias, Geralmente se tratava de famílias que
como a falência de alguns dos prin- eram seus fregueses e tinham dividas a
cipais seringalistas que atuavam nessa acertar, e essas famílias se transforma-
região da Amazônia, os relatos dos vam em importantes elos de uma rede
moradores também revelam a exis- de troca de informações sobre oportu-
tência de complexos sistemas de troca nidades econômicas. Dentre os atuais
de informações e de articulação de re- moradores das comunidades existentes
des sociais que permitiam a circulação em Amanã muitos descendem de pes-
de informações sobre oportunidades soas que migraram da região do médio
econômicas. Nos relatos acima é pos- Japurá.
sível observar um aspecto que Thom- “O Joaquim Pachola ele veio uma
son (2002:345) ressalta em seus traba- viagem e trouxe uns índios lá do
lhos que é o fato de que “as narrativas Purê pra cá pro Centro Grande né.
dos migrantes evocam os ‘imaginários Ai destombou o pessoal pra lá. Ele
culturais’ sobre os futuros locais de trouxe esses índios pra cá, deixou
destino e explicam como estes imagi- lá no Centro Grande. Ai num deu
certo e depois andavam por ai, se
nários são produzidos, disseminados,
viravam e foram embora. Voltaram
recebidos e usados”. pro Purê” (Senhor S., Vila Nova).
Até os anos 60 do século XX os patrões
são os principais agentes do processo “Nasci ai pra cima, no Santo Anto-
migratório dessa região, ao divulgar as nio do Içá, no lugar Boiuçu Gran-
oportunidades de trabalho e viabilizar de. Nós chegamos pra cá em 53.
Eu vim com meu pai, porque o
o deslocamento das famílias. Eles tam-
vovô tava muito velho e queria se
bém garantiam o abastecimento dos mudar pra outro canto. Trabalha-
pequenos seringalistas que aviavam va era com sorva, castanha, com
mercadorias para os extratores e co- pirarucu. Quando não dava mais
letores6 (ou quebradores de castanha, pra gente, procuramos outro lu-
como são conhecidos regionalmente), gar. Viemos pro Japurá, mas não
e criando condições para o escoamen- deu certo e baixamos pro Valença.
to da produção retirada das áreas mais Não se demos bem porque não
distantes dos rios principais. Quando dava roça. Eu comecei a trabalhar
pretendiam aumentar a produção, eles com 11 anos com meu pai lá no
Japurá. Depois o Cinésio trouxe
chegavam a recrutar pessoas que re-
ele pra cá. Ele dizia que o lago do
sidiam na área urbana7 ou em outras
Amanã era bom, tinha muito pira-
regiões, para trabalhar na extração da rucu. Aqui tinha um comerciante,
sorva, da seringa, da maçaranduba ou o Jorge Gama, ai nós começamos a
na coleta de castanha, usando como trabalhar com ele (...) Nós viemos
argumento a fartura de produtos natu- pra cá em 53, foi esse homem que
rais. Eles também recrutavam morado- trouxe a gente. Essa terra era do

  190 Amazônica 1 (1): 178-199, 2009


O tempo dos patrões “brabos”: fragmentos da história da ocupação
humana da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, AM1

Alceu Gama, que eles eram irmãos. pirarucu, cuja carne era um dos produtos
Ele tinha um barracão, o Alceu mais valorizado naquele momento. Essa
Gama, e vinha de mês em mês pe- estratégia de combinar diferentes ativida-
gar castanha aqui. Naquela época des de acordo com a sazonalidade do am-
não tinha motor. Então o Alceu
biente contribuiu para que as famílias não
trazia mercadoria e ele aviava e
tinha freguês nessas comunidades mantivessem uma residência fixa apenas
todas. Trabalhamos pouco tempo em um local, pois geralmente passavam a
com eles, de 53 pra 70. Uns vinte metade do ano em locais distintos, situa-
anos. Ai quando eles saíram, ai o dos em ambientes também distintos, ou
pessoal foi viver fazendo produ- seja, na várzea e na terra firme. Como as
ção de peixe. Muitos lugares estão famílias não dispunham de tempo para
abandonados. Desses antigos só tá fazer roças de mandioca para a produção
nós e o pessoal dos Tavares lá do de farinha, elas dependiam dos patrões
Baré” (Senhor C., Boa Esperança).
para ter acesso a esse produto, principal
“Quando eu entrei aqui eu tinha 15 item de sua alimentação.
anos. Nós baixamos do Japurá, lá Algumas colocações eram referências
do Paraná da Igualdade pra cortar para as famílias que trabalhavam den-
seringa com o patrão Cinésio Ma- tro dos igarapés porque nelas estava
chado. Os comerciante trazia de lá
localizado o barracão de mercadoria e
as famílias pra cá falando que aqui
era bom. E ai ficava trabalhando de armazenamento da produção, con-
pra eles. Eles aviava os freguês ai a trolado por um gerente. Nesse tipo de
gente trabalhava pra pagar eles (...) economia, uma estratégia utilizada pe-
A produção era seringa, maçaran- los grandes comerciantes para melhor
duba e castanha” (Senhor A., Boa administrar o processo de produção
Esperança). extrativista nas terras que eles detinham
a posse, consistia em designar uma
As famílias que chegavam para traba- pessoa para controlar as atividades ex-
lhar na região do lago Amanã eram trativas realizadas nas colocações mais
conduzidas para trabalhar nas coloca- distantes, viabilizando o fornecimento
ções situadas dentro dos igarapés que de mercadorias e a coleta da produção.
dava acesso às áreas de extração do Esta pessoa era conhecida como “o
látex ou de coleta da castanha. Nessas gerente”. O fornecimento de merca-
colocações elas erguiam uma morada dorias garantia a permanência dos tra-
rústica, o tapiri, coberta de palha, com balhadores nas áreas de extrativismo e
assoalho e paredes de paxiúba, e ai re- de coleta durante todo o fábrico, sendo
sidiam durante alguns meses ao longo uma forma de maximizar a produção e
do ano, em períodos alternados. No pe- também de manter o trabalhador cativo,
ríodo do inverno trabalhavam realizan- com débitos.
do a coleta de alguns produtos, como
a castanha do Brasil, mas no verão se “Vendia o produto pro patrão
né? Só podia vender pra ele por-
dedicavam à extração da borracha, ao
que era ele que aviava a freguesia
cultivo de roças, à caça ou à pesca do

Amazônica 1 (1): 178-199, 2009 191


Alencar, E. F.

e comprava a produção, né? Era justamente era onde trabalhava o


com isso que nós ganhava” (Se- finado meu avô, e os dois avôs. Aí
nhor J. G., Iracema). num demorava, escutava a buzina,
era lá pra dentro no Juá Grande,
Periodicamente, enquanto durava a no Juazinho. Tudo pegando casta-
safra, os gerentes percorriam os po- nha daquele pessoal, né? Aí saiam
na canoa, iam espiar. Ai chegava
voados onde estavam os barracões a
diziam: ‘Ah! Ainda vem longe,
bordo de embarcações, sejam movidas mais num vem muito longe não,
a remo, conhecidas como voga8 , mo- parece que já vem lá no Gavião’.
vidas à lenha (os recreios ou gaiolas) O gavião é um aratizal. ‘Vem lá
e, posteriormente, movidas a diesel, defronte do Gavião ainda’. Chega
para recolher a produção que era leva- a luz vinha acesa lá naquele meião!
da para os mercados regionais de Coari ‘Mas vem chegar aí’. Todo mundo
e Tefé, e até para mercados mais dis- acordado. ‘Vamo fazer café, né?’
tantes como o de Manaus. Assim, os E eu escutando né, escutando. Até
patrões tinham o controle do processo que chegava, aí iam lá embarcar
castanha, aquelas horas da noite.
extrativista que implicava não apenas
Aí o finado papai nessas alturas já
na exclusividade do aviamento, como tava se arrumando, ele com o fina-
também no controle da comercializa- do meu avô, que era pra pegar re-
ção da produção. boque todo mundo né? Ele já tava
Os navios dos patrões são os principais no fim da castanha, né? Aí lá vai
símbolos da prosperidade que existiu nes- aquela penca de canoa danado no
reboque. Eita que ia embora! Ia fi-
se período, pois faziam a ligação do mun-
car tudo aqui fora, onde eles para-
do dos extratores com o mundo urbano, vam, né? Aí nós morava lá dentro
numa associação clara com o desenvolvi- do Itanga... Aí nós ia pra lá. Eu sei
mento, traduzido como animação. que era aquela animação daquele
“Porque o Amanã, antes de nós e de pessoal. Todo ano era assim esse
Marapatá. Todo final do fábrico
outros que tão aí do nosso tempo, isso
era assim. O pessoal entravam,
aí foi explorado com a borracha, casta- eles vinham aí vendendo a mer-
nha, sorva né. Exportava muita sorva cadoria ou antes do pessoal irem
daqui de dentro. Então tinha esse navio pra lá, né, trabalhar. Aí depois que
que vinha diretamente buscar a produ- vendia tudinho, ia embora. Aí só
ção aí dentro. Era muita produção, que vinha já pro final quando já tava
dava pra entrar navio né. Era produção tudo tirado, a castanha. Aí só vi-
grande mesmo. Lancha, tudo entrava nha buscar. Pra mim a modo era
aqui pra dentro” (Senhor J., Kalafate). animado. Depois o Marapatá deu
um problema lá, ai ele comprou
“Eu num trabalhei não, mas eu um tal de Cecílio. O Cecílio era o
andei com o papai na picada de batelão, que o nome era Cecílio,
castanha lá no Baré. Quando esse né? Aí eu sei que o bicho tinha a
Marapatá (navio) passava, aí ia avi- pôpa toró e andava com uma al-
sando. Encostava lá no Baré, que varenga na ilharga. A alvarenga

  192 Amazônica 1 (1): 178-199, 2009


O tempo dos patrões “brabos”: fragmentos da história da ocupação
humana da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, AM1

que eu digo é outro batelão, na rães, Tefé. Levava quase uma se-
ilharga. Aí ele andava já pegando mana. Eu ainda fui de remo. Nós
castanha. Depois disso, o bicho vi- fizemos uma viagem de remo pra
nha chapado, dava muita castanha Tefé. Naquele tempo o patrão, se
aqui dentro (...) Isso já faz muito por acaso ele passava aqui na mi-
tempo. Eu era novinho, era assim nha casa e vendia o rancho, pas-
como esse menino do Zé, esse que sava dois, três mês pro alto, pro
tá com 8 anos. Eu andava com o Japurá, Solimões, por aí. Então
velho na picada de castanha, ele, o dentro desses três mês faltava o
finado vovô, nós três” (Senhor S., rancho. Ai a gente ia embora pra
Vila Nova do Amanã). Tefé. Num tinha viajantes, num
O fornecimento de mercadorias tinha um canto né. Mas antes de
garantia a permanência dos tra- nós chegar aqui, disse que entra-
balhadores nas colocações durante va aqui por dentro desde navio”
todo o fábrico, sendo uma forma de (Jota, Kalafate)
maximizar a produção e também O controle que os patrões mantinham
de manter o trabalhador cativo, com sobre a ocupação da terra e a explo-
débitos. Quando o patrão não levava ração dos recursos naturais é um fator
as mercadorias até os acampamentos, que limitava o acesso à terra, e impedia
os trabalhadores necessitavam se des- a formação de povoados, pois apenas
locar para o povoado mais próximo a família que tinha autorização para
onde existisse comércio, para se abas- explorar a produção podia residir no
tecer, ou se dirigiam para a cidade local onde era construída a colocação.
mais próxima.
“Nós trazia o rancho de Alvarães “Vamos supor: se aqui fosse como
no remo. Era quase uma semana. era naquele tempo, ninguém tinha
Era quase 4 dias pra chegar lá na formado comunidade porque
boca (do lago Amanã). Dormia ai o dono da terra num deixava.
pela beira. Aqui era muito difícil, E se a pessoa chegasse e fizesse
quando não tinha mercadoria ti- uma colocação, sem falar com o
nha que ir comprar lá fora. Mas o dono, sem saber que tinha dono
patrão quando marcava a data ele e aparecesse o dono, era formada
chegava pra trazer a mercadoria. uma questão, que era invasor né?
Quando ele falhava a gente com- Aqui acontecia muito isso. Porque
prava fora. O Natanael ele ficava quando eu trabalhava com o meu
ai efetivo. Ele era o patrão de lá. avô, sempre dava esses conflito,
Vinha outro só pra trazer merca- de invadir o lugar dos outro assim
doria, pegar o produto e ir embo- pra tirar produção. Aí a gente era
ra” (Tomaz, Várzea Alegre). acusado como invasor. E aí quan-
do tava bem no trabalho e apare-
“Tinha muitas dificuldades. O cia o dono do terreno, ele fazia
pessoal que ia fazer o fábrico ficava questão do terreno, com a gente.
seis meses trabalhando. E quando Como ainda aconteceu várias ve-
o patrão falhava, eles iam a remo zes o dono do terreno questionar
comprar mercadoria lá em Alva- por causa de seringa, castanha,

Amazônica 1 (1): 178-199, 2009 193


Alencar, E. F.

sorva, madeira. Ainda houve um Os patrões “brabos”


monte de gente em questão lá por e o trabalho cativo:
causa disso. Num tomava a pro- quando a lei era o rifle
dução, mas questionava. Aí tinha
Nas lembranças que os moradores
que pagar a renda e o dono pedia
o lugar, aí liberava. Aqui no Casta- conservam da história do passado, a
nho acontecia com nós” (Senhor localização dos eventos no espaço e
J., Kalafate). no tempo é marcada pelas figuras dos
patrões, pela fartura dos recursos na-
“Um patrão trazia o pessoal, aí turais e pelo volume da produção que
colocava lá pra trabalhar pra ele. era extraído das terras de Amanã, prin-
Quando o terreno não era dele, ele cipalmente da castanha, da seringa e da
arrendava de quem era o dono. Na sorva. Mas essa memória do passado é
época que nós trabalhava lá dentro marcada não apenas pela lembrança da
do Centro Grande o terreno era
fartura de recursos naturais, como tam-
arrendado pra tirar a produção.
Ai vendia o produto pro patrão bém pela lembrança das dificuldades
né? Só podia vender pra ele. Por- enfrentadas pelos trabalhadores, pelas
que era ele que aviava a freguesia doenças, pelas péssimas condições de
e comprava a produção, né? Era trabalho e pela sujeição ao patrão. Os
com isso que nós ganhava” (Se- excessos cometidos por alguns patrões
nhor J., Kalafate). considerados mais rígidos hoje são
parte do imaginário e da memória so-
O controle do acesso a terra e aos re- cial dessa região, que é reproduzida por
cursos naturais contribuiu, por exem- pessoas que apesar de não terem pre-
plo, para que as terras onde hoje estão senciado tais excessos, reproduzem em
situadas as comunidades mais antigas detalhes os relatos daquelas que teste-
de Amanã ficassem concentradas em munharam ou sofrerem algum episó-
mãos de algumas famílias, que não dio de violência cometida por algum
permitiam que pessoas de fora do seu patrão. Os excessos referem-se princi-
grupo de parentesco estabelecessem palmente ao modo como era explora-
residência ou explorassem os recursos da a mão de obra visando maximizar a
naturais (Alencar 2007). produção, e o não-pagamento daqueles
Além dos fatores sociais ligados à posse e trabalhadores que conseguiam obter
ao controle da terra, os narradores apon- uma produção suficiente para saldar
taram alguns fatores ambientais para ex- suas dívidas junto ao barracão.
plicar o povoamento escasso de Amanã A violência que predominava naque-
e como limitantes à fixação de morado- la época tinha o aval do Estado, pois
res nas áreas mais distantes das principais muitos patrões eram investidos de au-
vias fluviais de comunicação, dentre eles toridade policial, como delegados de
estão as doenças (malária e febre amare- policia, nomeados por administradores
la) e o isolamento geográfico. municipais. Eram eles que ditavam as
regras e que faziam cumprir a lei com

  194 Amazônica 1 (1): 178-199, 2009


O tempo dos patrões “brabos”: fragmentos da história da ocupação
humana da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, AM1

violência, afinal vivia-se num tempo jogar lá na água! Ta vendo? Lá era


onde “a lei era o rifle”. assim mesmo, num queria pagar o
saldo do homem, mandava matar”
“Eu não alcancei isso né, mas aque- (Senhor F. São José Urini).
la dona Maria Modesto, que era
mãe desse Zé Antonio, ela me con- “Tinha um patrão ai nesse Amanã
tou muitas vezes que quando o fre- que disse que quando os empre-
guês tirava saldo o patrão dizia pro gado dele iam tarrafear, ele subia
capanga dele: “- Você leva esse cara pelo meio do mato e atirava, o que
assim e vai fazer um serviço com andava pescando com ele. Mas ele
ele”. E lá ela me contou que tinha atirava neles pra espantar. Ah mi-
um lugar que tinha um apuizeiro, nha irmã, aqui já foi lugar de gente
uma árvore grande que bota a raiz malvado. Só morava arigó aqui.
pra cá, bota pra acolá e haja rama- Aqueles arigó de num conversar
lhudo. Lá que ele matava e depo- com ninguém não. Com eles era
sitavam lá pra urubu comer. Assim tudo resolvido na faca. Eu ainda
que ela me contou, né? Agora num era pequeno, mas me lembro. Eles
é uma coisa que eu visse. Ela con- chegavam aqui, conseguiam essas
tava isso, essa mãe do Zé Antonio” terras e o pessoal começava a tra-
(Senhor P. Pereira, Comapara). balhar com eles. Ai eles chamavam
os outros. Eu tinha um tio que
“O meu pai contava que o pai dele era isso. Eu conto porque eu sei.
vinha baixando do Juruá pra vim Era um arigó que era uma coisa!
pra cá, parou no porto duma casa, Com ele não tinha esse negócio
no barracão. Ele trabalhava pra lá, de ‘lá vem o bicho’ não! O bicho
ele também era filho do Juruá. Aí era ruim! Ele trabalhava lá no Belo
ele saiu assim, tinha um açaizeiro Monte, lá dentro do Arauiri. Bem
assim como esse aí, e o sangue as- na boca do Arauiri era a casa dele.
sim embaixo. Ia um curumim com No dia que ele amanhecia brabo,
ele, aí ele perguntou do curumim: - nem galinha num vinha em casa”
Sangue de que é isso menino? Aí o (Senhor J. A., São José do Urini).
menino disse: - É sangue dum ho-
mem que o seu fulano matou aqui. “O J. D. Silva era um patrão brabo
- E pra que ele faz isso? Já tava no Juazinho, mandava matar o pes-
rapazinho, o menino, ele disse: - É soal que devia ele. Matava como se
porque quando o freguês dele tira fosse macaco. Tinha outro que era
saldo, ele manda ele subir aqui nes- o Machado Cabeça de Onça. Era lá
se açaizeiro e diz: - Vê se o açaizei- no Ubim que morava. Tinha aqui
ro vai dar cacho este ano? Ele se um velho chamado Meireles, ele so-
embalando numa rede. O menino freu muito. Quando vimos pra cá o
contou pro papai isso. Aí ele che- negócio tava menos brabo” (Senhor
gava lá: - Repara bem no toco do M., Boa Esperança, Lago Amanã).
cabo da folha. Ele pegava o rifle e
pôôôôuu e pêêii no chão! Aí cha- Esse imaginário sobre os patrões tra-
mava o capanga: - Hei, vem puxar duz de forma clara o papel que desem-
o macaco e vai jogar no rio! Pode penhavam na sociedade local e na eco-

Amazônica 1 (1): 178-199, 2009 195


Alencar, E. F.

nomia extrativista. Eles simbolizavam vida que existiu no passado, das estra-
o desenvolvimento, a modernidade e tégias econômicas utilizadas pelas famí-
eram o braço longo e frágil que o Es- lias para garantir sua sobrevivência, dos
tado utilizava para alcançar os lugares eventos que marcaram a vida dos gru-
mais distantes da Amazônia. Nos anos pos sociais que formaram os povoados.
1970, com o declínio do comércio ru-
Nesse trabalho, as narrativas dão ênfa-
ral, os patrões abandonaram suas ter-
se a uma lembrança do passado que é
ras, tendo inicio um processo migrató-
pontuada pela memória da produção
rio cujo fluxo se dirigia para as áreas
econômica, uma memória marcada
urbanas. Nesse momento, muitos po-
pela fartura de recursos naturais, e pela
voados localizados nas áreas mais dis-
tantes, e que eram assistidos pelos pa- presença da figura dominante dos pa-
trões, deixaram de existir quando seus trões, alguns considerados “brabos” e
moradores buscaram outras fontes de outros “mansos. Através dos relatos é
renda e outros lugares para morar. Co- possível conhecer aspectos da história
meçava assim o tempo das comunida- econômica da região, destacando as
des, quando o patrão é substituído pelo principais atividades econômicas e as
Estado, na figura dos administradores relações de trabalho que sustentavam o
municipais, os prefeitos, e mais recen- comércio rural naquele momento. No
temente, um novo personagem, a Re- início do século XX a economia dessa
serva. Mas essa é uma outra história. região do baixo Japurá estava centra-
da nas atividades extrativistas como a
Conclusão caça, a pesca do pirarucu, a extração de
A partir dos vários depoimentos é pos- seringa, sorva e madeira, e na coleta da
sível conhecermos um pouco da his- castanha do Brasil. A dependência do
tória social dessa região da Amazônia, comércio regional por esses produtos
narrada na perspectiva dos moradores e extrativos, e a pressão dos patrões para
a partir das lembranças de certos even- manter o mesmo nível de produtivida-
tos que foram conservados na memória, de, resultou na ocupação dispersa do
e que foram marcantes para suas vidas. território que hoje é ocupado pela Re-
O conjunto dessas memórias permite serva de Desenvolvimento Sustentável
conhecer aspectos da história do pro- Amanã. As pessoas que trabalhavam
cesso de ocupação humana da Reserva com a extração desses produtos rea-
de Desenvolvimento Sustentável Ama- lizavam uma mobilidade sazonal que
nã, e também permite conhecer um ocorria de acordo com o período da
momento da história social, econômica safra, ou fábrico. A busca por melhores
e ambiental da região do baixo Japurá, oportunidades de trabalho fazia dos
conhecer aspectos da história dos povo- moradores dessa região verdadeiros
ados e da trajetória de vida dos morado- nômades, sempre à procura de lugares
res mais antigos e prováveis fundadores fartos em recursos naturais extrativos
desses povoados. São memórias que de origem animal e vegetal. A mobili-
conservam a lembrança de um modo de dade constante das famílias, sempre se

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O tempo dos patrões “brabos”: fragmentos da história da ocupação
humana da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, AM1

deslocando em busca de locais fartos em parte do imaginário da população local,


recursos naturais, dificultava a forma- e traduzem de forma clara o papel que
ção e a estabilidade dos povoados, e as desempenhavam na sociedade local e na
tornavam dependentes dos patrões que economia extrativista. Se, para alguns,
eram a base de sustentação dessa mo- eles simbolizavam o desenvolvimento, a
bilidade. Os comerciantes, os patrões, modernidade e funcionavam como um
financiavam a compra dos artefatos de porta-voz que o Estado utilizava para
trabalho e de mantimentos para os tra- alcançar os lugares mais distantes da
balhadores, e garantiam a subsistência Amazônia, para outros eles simboliza-
dos demais membros das famílias du- vam o terror, a sujeição.
rante as longas ausências dos homens.
No presente, o patrão não é mais o
Eles tinham o monopólio da produção
comerciante que fazia o aviamento de
e da venda de mercadorias, e também
mercadorias e garantia o trabalho ex-
de vastas extensões de terras.
trativo, mas o Estado que estabelece
A falência desse sistema econômico normas e regras a serem cumpridas
coincide com a falência do comércio por aqueles que desejam permanecer
rural, com a migração de muitas famí- na Reserva Amanã. Assim, a mudan-
lias para a área urbana, e também com ça do tempo do “patrão brabo” para o
a formação e estabilidade de alguns tempo da Reserva, exige dos morado-
povoados localizados às margens dos res uma série de adequações que muitas
rios principais. Se no passado as pes- vezes podem dar a impressão de re-edi-
soas conseguiam produzir e morar em tar situações vivenciadas no passado. A
povoados localizados nos lugares mais reivindicação de direitos sobre o uso de
inacessíveis, porque contavam com o certos territórios por parte de famílias
apoio logístico do patrão, e dependiam que historicamente estão vinculadas à
quase que exclusivamente dele para sua abertura de um lugar onde teve origem
sobrevivência, no presente a existência o grupo social do qual fazem parte, se
dos povoados está condicionada à sua depara com as regras de uso dos recur-
localização às margens dos rios princi- sos naturais.
pais, e à assistência dos governos mu-
Decorridos quase um século, a popula-
nicipais. A localização dos povoados
ção que habita na Reserva de Desenvol-
às margens dos rios facilita as trocas
vimento Sustentável Amanã tem partici-
comerciais não apenas com uma pes-
pado como protagonista dos processos
soa, mas com vários comerciantes ou
de tomada de decisão que visam o orde-
regatões que regularmente percorrem
namento do território, o acesso à terra
a região vendendo mercadorias e com-
e aos recursos naturais. Nesse sentido,
prando produtos diversos.
a definição das fronteiras territoriais
As representações construídas sobre os e a exploração dos recursos existentes
patrões “brabos”, considerados mais nos territórios não são determinadas
tiranos porque exerciam o terror como por um único patrão, seja ele brabo ou
forma de maximizar a produção, fazem manso. Elas são socialmente constitu-

Amazônica 1 (1): 178-199, 2009 197


Alencar, E. F.

ídas e legitimadas através da participa- volvimento Sustentavel Mamirauá, órgao


ção e controle da população local que do MCT que administra a RDSA.
aderiu à proposta socioambientalista de 6
Na região de Amanã a atividade de coleta
preservação dos recursos naturais. da castanha do Brasil é conhecida como
“quebrar castanha” e a atividade de extra-
NOTAS ção do látex, seja da seringa, da sorva ou da
1
As informações que fundamentam este balata, é conhecido como “cortar” seringa,
artigo foram coletadas em pesquisa realiza- sorva etc.
da na área focal da Reserva Amanã, através 7
Muitos deles haviam migrado de antigos
do projeto “Estudo da ocupação humana seringais localizados nos altos rios Japurá,
e mobilidade geográfica de comunidades Juruá e Purus.
rurais da Reserva de Desenvolvimento 8
Embarcação a remo, com vários remado-
Sustentável Amanã” que contou com o res, sentados de costas para a proa.
financiamento do Instituto de Desenvolvi-
mento Sustentável Mamirauá (IDSM) um
Referências Bibliográficas
órgão vinculado ao Ministério da Ciência
Alencar, E.F. 2002. Terra caída: Encante, luga-
e Tecnologia –MCT. Algumas das infor-
res e identidades. Tese de doutorado em An-
mações aqui apresentadas fazem parte do
tropologia, Universidade de Brasília, Depar-
relatório final da pesquisa (Alencar 2007).
tamento de Antropologia. Brasília. 245p.
2
A Reserva de Desenvolvimento Sustentá-
____. 2004. Estudo Estratégico Situação Sócio-
vel Amanã, doravante RDSA, é uma unida-
de de conservação criada pelo governo do Econômica: diagnóstico dos tipos de assentamentos,
Estado do Amazonas através do Decreto demografia e atividades econômicas. Municípios de
19.021/98, administrada pelo Instituto de São Paulo de Olivença, Tabatinga, Amaturá e
Proteção Ambiental do Amazonas, IPA- Benjamin Constant. Segundo Relatório de
AM, e implementada pela Sociedade Civil Campo. Santarém, PA: Provárzea/Ibama.
Mamirauá – SCM. A RDSA está localizada ____. 2007. Estudo da ocupação humana e mobi-
entre o rio Negro e o baixo curso do rio lidade geográfica de comunidades rurais da Reserva
Japurá, e possui uma área total de 2.313.000 de Desenvolvimento Sustentável Amanã – RDSA.
ha abrangendo terras dos municípios de Relatório Final. Santarém / Tefé. 168p.
Maraã, Coari, Barcelos e Codajás. ____. 2008. Paisagens da memória: narrati-
3
Está previsto a publicação de uma co- va oral, paisagem e memória social no pro-
letânea com as histórias das localidades, cesso de construção da identidade. Teoria
através do Instituto de Desenvolvimento & Pesquisa XVI(2): 95-110.
Sustentável Mamirauá. Arnaud, E. 1979. O índio e a expansão nacio-
4
Os moradores onseguem estabelecer um nal. Belém: CEJUP.
diferença bem clara desses dois momentos Faulhaber, P. l987. O navio encantado: etnia e
quando procuram precisar a cronologia de alianças em Tefé. Coleção Eduardo Galvão.
algum evento dizendo: “nesse tempo nao Belém: Museu Goeldi/CNPq-MCT.
tinha esse negócio de comunidade”.
Halbwachs, M. 1990. A memória coletiva. São
5
Propostas de modelos para o manejo de Paulo: Vértice.
lagos apresentadas pelos agentes do MEB
IDSM Mamirauá. 1996. Plano de Manejo.
ainda na decada de 1970, foram adotadas
Ed. Brasilia: SCM:CNPq/MCT. Manaus:
posteriormente pelos programas de mane-
IPAAM. 96p.
jo desenvolvidos pelo Instituto de Desen-

  198 Amazônica 1 (1): 178-199, 2009


O tempo dos patrões “brabos”: fragmentos da história da ocupação
humana da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, AM1

Lima-Ayres, D. 1992. The social category ca-


boclo: History, social organization, identity and
outsider's social classification of the rural popu-
lation of an Amazonian region (the middle Soli-
mões). Tese de Doutorado, Universidade de
Cambridge, Inglaterra.
Lima, D. de M. & E. F. Alencar. 2000.
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