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o dos O tempo dos
gmentos
patrões “brabos”: fragmentos
cupaçãoda história da ocupação
humana da Reserva
Reserva de Desenvolvimento
vimento Sustentável Amanã, AM 1
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Alencar, E. F.
Resumo
Este artigo tem como objetivo apresentar alguns aspectos da
história social e econômica que marcou a ocupação humana do
território da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no
período que compreende o final do século XIX e inicio do século
XX. O artigo se baseia em relatos orais dos moradores das várias
localidades que existem nesse território, coletados em intensa pes-
quisa de campo. Os relatos permitem conhecer as dificuldades
e os desafios encontrados por dezenas de famílias para garantir
sua subsistência, como eram realizadas as atividades extrativas
que constituíam a base da economia dessa região da Amazônia, e
também o papel desempenhado pelos comerciantes, os patrões,
no processo de ocupação desse território, e sua posterior substi-
tuição por outros agentes de desenvolvimento.
Palavras-chave: História da Amazônia, memória social, migração.
Abstract
This article aims to present some aspects of the social and eco-
nomic history that characterized the human occupation of the
Sustainable Development Reserve Amanã territory from the late
nineteenth century and early twentieth century. Data comes from
oral reports of people living in several towns, collected during
intensive field research. The oral stories tell about the difficulties
and challenges faced by dozens of families in order to guarantee
their subsistence; about the ways that extrativism was conducted
as the basic economic enterprise in the region; and also the role
played by the traders (the employers), in the process of occupa-
tion of that territory, and its subsequent replacement by other
agents of development.
Key Words: Amazonian history, social memory, migration.
Resumen
Este artículo tiene por objetivo presentar algunos aspectos de la
historia social y económica que marcó la ocupación humana del
territorio de la Reserva de Desenvolvimiento Sustentable Amanã
(Figura 1), desde fines del siglo diecinueve hasta el inicio del siglo
veinte. El artículo se basa en relatos orales de los moradores de
las varias localidades que existen en este territorio, recolectados
en intensa investigación de campo. Los relatos permiten cono-
cer las dificultades y los desafíos encontrados por docenas de fa-
dos patrões. Seus relatos foram tomados da produção exigia uma constante mo-
aqui como histórias ainda não documen- bilidade das pessoas entre ambientes
tadas de grupos sociais que historica- distintos e até entre regiões distantes
mente foram marginalizados, e podem geograficamente, e isso lhes possibili-
ser considerados como evidências orais e tava conhecer outras realidades e iden-
também um registro da história oculta da tificar oportunidades de trabalho, o que
migração (Thomson 2002) que ocorreu geralmente culminava com a migração
na Amazônia no final do século XIX e para locais onde houvesse fartura de
início do século XX. recursos naturais e condições de co-
mercializar a produção. Em suas falas
Pesquisar sobre a história de uma re-
os moradores destacaram os processos
gião como a Amazônia baseada apenas
de troca de informações sobre opor-
na memória dos moradores significa
tunidades econômicas, a articulação de
enfrentar muitos desafios, e o princi-
redes de sociabilidade e de parentesco;
pal deles é a profundidade da memória
apontaram os vários atores sociais que
social e a dificuldade encontrada pe-
participaram na construção de redes
los narradores para lembrarem-se dos
sociais que caracterizaram o processo
eventos passados e situá-los cronologi-
de ocupação da região, com destaque
camente. Essa dificuldade se deve não
para os patrões; revelaram também o
apenas à falta de referências materiais,
complexo entrelaçamento de fatores
como casas de alvenaria ou constru-
sociais, econômicos e ambientais que
ções públicas, por exemplo, mas prin-
influenciaram indivíduos e famílias nas
cipalmente à freqüente migração que as
decisões de migrar.
famílias realizaram ao longo de suas vi-
das, como resposta tanto às mudanças Ao buscarmos informações sobre a
que ocorreriam no sistema de produ- ocupação humana de Amanã foi pos-
ção econômico ou devido a problemas sível conhecer o tipo de memória cole-
fundiários, como também a mudanças tiva que as pessoas conservam do pas-
no próprio ambiente biofísico (Alencar sado, e que permite tecer a trama de
2007). A migração é uma característi- uma história que tem um tempo e um
ca importante da história dessa região, espaço bem definidos. Para Halbwa-
uma vez que a economia, principal chs (1990:71) a memória coletiva “tem
motor do processo migratório, estava tudo o que é preciso para constituir
baseada na exploração extrativista dos um quadro vivo e natural em que um
recursos naturais. Assim, à medida que pensamento pode se apoiar, para con-
os recursos explorados em uma região servar e reencontrar a imagem de seu
tornavam-se escassos, a tendência dos passado”. A memória coletiva é um
trabalhadores era partir em busca de conjunto de lembranças que um grupo
locais que fossem fartos em recursos ou sociedade conserva como referên-
naturais, seja por iniciativa própria ou cia de sua própria existência, e não a
com o estímulo e apoio de algum co- somatória de todas as memórias indi-
merciante. Além disso, a sazonalidade viduais. Como um processo coletivo, o
patrões, que também controlavam ex- dos recursos naturais, e a realizar o ma-
tensas áreas de terras firmes que eram nejo de recursos naturais5.
cortadas por vários cursos de água, os
Para cada um desses momentos cor-
igarapés, através dos quais era possível
responderam diferentes formas de
ter acesso a um amplo território rico
ocupação do espaço e de uso de re-
em castanheiras, seringueiras, sorveiras
cursos naturais, e também dinâmicas
e animais de caça (Alencar 2007). As
demográficas distintas. No primeiro
relações de trabalho são marcadas pela
momento havia a dispersão das famí-
sujeição dos trabalhadores aos grandes
lias que residiam isoladas em pequenos
comerciantes, os patrões, que contro-
povoados, que possuíam uma baixa
lavam grandes áreas de terra firme, e
densidade demográfica, sendo forma-
estabeleciam regras para a ocupação
dos por duas a três casas ocupadas por
dessas terras e para a exploração dos
casais de um mesmo grupo de parente-
recursos naturais nelas existentes.
la. As localidades maiores eram aquelas
O segundo momento, que é “o tempo onde estava localizado o comércio de
das comunidades”4, corresponde a se- um seringalista, referido como barra-
gunda metade do século XX, dos anos cão, onde era estocada a produção e
1960 em diante, quando são formadas as mercadorias que eram aviadas aos
as comunidades. O termo comunidade trabalhadores. A permanência das fa-
foi introduzido nessa região da Amazô- mílias nesses povoados era garantida
nia pela Igreja Católica nos anos 1970 pela presença do patrão que chegava
através das ações do MEB, que incen- até o local levando mercadorias e re-
tivou as famílias que viviam dispersas a colhendo a produção. No segundo
se juntarem em povoamentos e formar momento, quando ocorre a formação
uma organização política com forte viés das comunidades, as famílias se juntam
comunitário (Faulhaber 1987, Lima e tendem a fixar residência mais pro-
2000, Alencar 2004, 2007). Na concep- longada num mesmo lugar. Através da
ção local o conceito de comunidade organização comunitária conseguem
remete a um conjunto de famílias que reivindicar junto ao poder público mu-
moram juntas e partilham um territó- nicipal investimentos para a melhoria
rio comum, realizam ações conjuntas e da infraestrutura comunitária, como a
possuem uma forma de representação construção de escolas e a contratação
política na figura do presidente da co- de professores. A existência de escolas
munidade, que representa os interesses nas comunidades é um fator que per-
e encaminha as reivindicações dos mo- mite a estabilidade dos povoados e a fi-
radores junto ao poder público muni- xação das famílias, pois os pais buscam
cipal. Com a formação das comunida- investir na educação escolar dos filhos.
des as famílias foram estimuladas não Mas, neste trabalho, nos deteremos
apenas a se organizarem politicamente, nos primeiros personagens, os patrões,
como também a desenvolver atividades mostrando as representações que se
econômicas com menos dependência construíram sobre eles e que fazem
parte do imaginário dos moradores das a fartura e as riquezas que lhes haviam
comunidades da Reserva Amanã. sido prometidas.
Para as três primeiras décadas do sécu-
A vida nas colocações:
lo XX há informações sobre a chegada
controle da produção
de algumas famílias oriundas de serin-
e do território
gais localizados nos rios Juruá, Jutaí e
Nos últimos cem anos o tipo de explo- Japurá para se estabelecerem em terras
ração econômica desenvolvida na região situadas às proximidades do lago Ama-
de Amanã foi um fator que determinou nã, ou às margens de rios e paranás que
a maneira como ocorreu a ocupação do davam acesso a esse lago. Essas famí-
espaço, influenciou no processo de es- lias foram atraídas pela notícia da exis-
colha dos locais para a construção dos tência de lagos fartos em pescado, e de
povoados, na variação do número dos amplas áreas de terra firme onde abun-
mesmos e na dinâmica populacional. davam florestas ricas em castanhais, se-
O processo de ocupação da região que ringueiras, sorveiras, animais de caça e
ocorreu entre o final do século XIX e lagos ricos em pescado.
o início do século XX reflete uma ca-
racterística do processo mais amplo de “Muitos vinha por notícia, né? Por-
ocupação humana da Amazônia pro- que aqui né, era isolado. O finado
papai contava que eles vieram por
movida por uma economia extrativista
notícia, que aqui era muito bom,
predatória centrada na exploração de muito farto de tudo. E era mesmo.
recursos naturais. Nesse momento hou- E quando um lugar é assim, o pes-
ve a ocupação das terras situadas nas soal trata logo porque tem o que
áreas mais centrais onde estavam locali- eles tirarem, tem produção, né? Aí
zados os seringais mais produtivos, que então por notícia eles vieram” (Se-
eram acessíveis através de rios menores nhor. S., Vila Nova).
que deságuam nos rios principais como
o Japurá, o Juruá, o Purus e o Solimões, “Aí muitos quando voltavam, cor-
tavam e iam pra Manaus. Muitos
e de dezenas de igarapés que cortam a
iam porque queriam conhecer. E
região. Com o declínio da produção da foi assim que foram chegando os
borracha que ocorreu a partir das pri- arigós. Chegavam aqui do Juruá.
meiras décadas do século XX, inicia-se Era no tempo da guerra. Os pa-
um novo fluxo migratório, que parte trões faziam pedidos de mercado-
das áreas de seringais situados nas cabe- ria dos arigós, mostravam o retrato
ceiras dos rios mencionados acima e se do cara ensapatado, todo bacana,
dirigia para as áreas de várzea ou de ter- só pra enganar. O cara quando
ra firme situadas nas regiões do médio chega assim leva na cara. E eles
chegavam e viam o retrato do se-
Solimões, baixo Japurá e Purus (Lima e
ringueiro e pensava: - Vou ganhar
Alencar 2000), famosas pela fartura de dinheiro, aí vinha aquela quanti-
pescado e de outros produtos extrati- dade. Muitos morreram aqui no
vos com grande valor de mercado. Mais Coracizinho, de muitas doenças;
uma vez os migrantes buscavam a terra, malária” (Senhor A., Matuzalém).
Alceu Gama, que eles eram irmãos. pirarucu, cuja carne era um dos produtos
Ele tinha um barracão, o Alceu mais valorizado naquele momento. Essa
Gama, e vinha de mês em mês pe- estratégia de combinar diferentes ativida-
gar castanha aqui. Naquela época des de acordo com a sazonalidade do am-
não tinha motor. Então o Alceu
biente contribuiu para que as famílias não
trazia mercadoria e ele aviava e
tinha freguês nessas comunidades mantivessem uma residência fixa apenas
todas. Trabalhamos pouco tempo em um local, pois geralmente passavam a
com eles, de 53 pra 70. Uns vinte metade do ano em locais distintos, situa-
anos. Ai quando eles saíram, ai o dos em ambientes também distintos, ou
pessoal foi viver fazendo produ- seja, na várzea e na terra firme. Como as
ção de peixe. Muitos lugares estão famílias não dispunham de tempo para
abandonados. Desses antigos só tá fazer roças de mandioca para a produção
nós e o pessoal dos Tavares lá do de farinha, elas dependiam dos patrões
Baré” (Senhor C., Boa Esperança).
para ter acesso a esse produto, principal
“Quando eu entrei aqui eu tinha 15 item de sua alimentação.
anos. Nós baixamos do Japurá, lá Algumas colocações eram referências
do Paraná da Igualdade pra cortar para as famílias que trabalhavam den-
seringa com o patrão Cinésio Ma- tro dos igarapés porque nelas estava
chado. Os comerciante trazia de lá
localizado o barracão de mercadoria e
as famílias pra cá falando que aqui
era bom. E ai ficava trabalhando de armazenamento da produção, con-
pra eles. Eles aviava os freguês ai a trolado por um gerente. Nesse tipo de
gente trabalhava pra pagar eles (...) economia, uma estratégia utilizada pe-
A produção era seringa, maçaran- los grandes comerciantes para melhor
duba e castanha” (Senhor A., Boa administrar o processo de produção
Esperança). extrativista nas terras que eles detinham
a posse, consistia em designar uma
As famílias que chegavam para traba- pessoa para controlar as atividades ex-
lhar na região do lago Amanã eram trativas realizadas nas colocações mais
conduzidas para trabalhar nas coloca- distantes, viabilizando o fornecimento
ções situadas dentro dos igarapés que de mercadorias e a coleta da produção.
dava acesso às áreas de extração do Esta pessoa era conhecida como “o
látex ou de coleta da castanha. Nessas gerente”. O fornecimento de merca-
colocações elas erguiam uma morada dorias garantia a permanência dos tra-
rústica, o tapiri, coberta de palha, com balhadores nas áreas de extrativismo e
assoalho e paredes de paxiúba, e ai re- de coleta durante todo o fábrico, sendo
sidiam durante alguns meses ao longo uma forma de maximizar a produção e
do ano, em períodos alternados. No pe- também de manter o trabalhador cativo,
ríodo do inverno trabalhavam realizan- com débitos.
do a coleta de alguns produtos, como
a castanha do Brasil, mas no verão se “Vendia o produto pro patrão
né? Só podia vender pra ele por-
dedicavam à extração da borracha, ao
que era ele que aviava a freguesia
cultivo de roças, à caça ou à pesca do
que eu digo é outro batelão, na rães, Tefé. Levava quase uma se-
ilharga. Aí ele andava já pegando mana. Eu ainda fui de remo. Nós
castanha. Depois disso, o bicho vi- fizemos uma viagem de remo pra
nha chapado, dava muita castanha Tefé. Naquele tempo o patrão, se
aqui dentro (...) Isso já faz muito por acaso ele passava aqui na mi-
tempo. Eu era novinho, era assim nha casa e vendia o rancho, pas-
como esse menino do Zé, esse que sava dois, três mês pro alto, pro
tá com 8 anos. Eu andava com o Japurá, Solimões, por aí. Então
velho na picada de castanha, ele, o dentro desses três mês faltava o
finado vovô, nós três” (Senhor S., rancho. Ai a gente ia embora pra
Vila Nova do Amanã). Tefé. Num tinha viajantes, num
O fornecimento de mercadorias tinha um canto né. Mas antes de
garantia a permanência dos tra- nós chegar aqui, disse que entra-
balhadores nas colocações durante va aqui por dentro desde navio”
todo o fábrico, sendo uma forma de (Jota, Kalafate)
maximizar a produção e também O controle que os patrões mantinham
de manter o trabalhador cativo, com sobre a ocupação da terra e a explo-
débitos. Quando o patrão não levava ração dos recursos naturais é um fator
as mercadorias até os acampamentos, que limitava o acesso à terra, e impedia
os trabalhadores necessitavam se des- a formação de povoados, pois apenas
locar para o povoado mais próximo a família que tinha autorização para
onde existisse comércio, para se abas- explorar a produção podia residir no
tecer, ou se dirigiam para a cidade local onde era construída a colocação.
mais próxima.
“Nós trazia o rancho de Alvarães “Vamos supor: se aqui fosse como
no remo. Era quase uma semana. era naquele tempo, ninguém tinha
Era quase 4 dias pra chegar lá na formado comunidade porque
boca (do lago Amanã). Dormia ai o dono da terra num deixava.
pela beira. Aqui era muito difícil, E se a pessoa chegasse e fizesse
quando não tinha mercadoria ti- uma colocação, sem falar com o
nha que ir comprar lá fora. Mas o dono, sem saber que tinha dono
patrão quando marcava a data ele e aparecesse o dono, era formada
chegava pra trazer a mercadoria. uma questão, que era invasor né?
Quando ele falhava a gente com- Aqui acontecia muito isso. Porque
prava fora. O Natanael ele ficava quando eu trabalhava com o meu
ai efetivo. Ele era o patrão de lá. avô, sempre dava esses conflito,
Vinha outro só pra trazer merca- de invadir o lugar dos outro assim
doria, pegar o produto e ir embo- pra tirar produção. Aí a gente era
ra” (Tomaz, Várzea Alegre). acusado como invasor. E aí quan-
do tava bem no trabalho e apare-
“Tinha muitas dificuldades. O cia o dono do terreno, ele fazia
pessoal que ia fazer o fábrico ficava questão do terreno, com a gente.
seis meses trabalhando. E quando Como ainda aconteceu várias ve-
o patrão falhava, eles iam a remo zes o dono do terreno questionar
comprar mercadoria lá em Alva- por causa de seringa, castanha,
nomia extrativista. Eles simbolizavam vida que existiu no passado, das estra-
o desenvolvimento, a modernidade e tégias econômicas utilizadas pelas famí-
eram o braço longo e frágil que o Es- lias para garantir sua sobrevivência, dos
tado utilizava para alcançar os lugares eventos que marcaram a vida dos gru-
mais distantes da Amazônia. Nos anos pos sociais que formaram os povoados.
1970, com o declínio do comércio ru-
Nesse trabalho, as narrativas dão ênfa-
ral, os patrões abandonaram suas ter-
se a uma lembrança do passado que é
ras, tendo inicio um processo migrató-
pontuada pela memória da produção
rio cujo fluxo se dirigia para as áreas
econômica, uma memória marcada
urbanas. Nesse momento, muitos po-
pela fartura de recursos naturais, e pela
voados localizados nas áreas mais dis-
tantes, e que eram assistidos pelos pa- presença da figura dominante dos pa-
trões, deixaram de existir quando seus trões, alguns considerados “brabos” e
moradores buscaram outras fontes de outros “mansos. Através dos relatos é
renda e outros lugares para morar. Co- possível conhecer aspectos da história
meçava assim o tempo das comunida- econômica da região, destacando as
des, quando o patrão é substituído pelo principais atividades econômicas e as
Estado, na figura dos administradores relações de trabalho que sustentavam o
municipais, os prefeitos, e mais recen- comércio rural naquele momento. No
temente, um novo personagem, a Re- início do século XX a economia dessa
serva. Mas essa é uma outra história. região do baixo Japurá estava centra-
da nas atividades extrativistas como a
Conclusão caça, a pesca do pirarucu, a extração de
A partir dos vários depoimentos é pos- seringa, sorva e madeira, e na coleta da
sível conhecermos um pouco da his- castanha do Brasil. A dependência do
tória social dessa região da Amazônia, comércio regional por esses produtos
narrada na perspectiva dos moradores e extrativos, e a pressão dos patrões para
a partir das lembranças de certos even- manter o mesmo nível de produtivida-
tos que foram conservados na memória, de, resultou na ocupação dispersa do
e que foram marcantes para suas vidas. território que hoje é ocupado pela Re-
O conjunto dessas memórias permite serva de Desenvolvimento Sustentável
conhecer aspectos da história do pro- Amanã. As pessoas que trabalhavam
cesso de ocupação humana da Reserva com a extração desses produtos rea-
de Desenvolvimento Sustentável Ama- lizavam uma mobilidade sazonal que
nã, e também permite conhecer um ocorria de acordo com o período da
momento da história social, econômica safra, ou fábrico. A busca por melhores
e ambiental da região do baixo Japurá, oportunidades de trabalho fazia dos
conhecer aspectos da história dos povo- moradores dessa região verdadeiros
ados e da trajetória de vida dos morado- nômades, sempre à procura de lugares
res mais antigos e prováveis fundadores fartos em recursos naturais extrativos
desses povoados. São memórias que de origem animal e vegetal. A mobili-
conservam a lembrança de um modo de dade constante das famílias, sempre se