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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA

COMARCA DE IGACI – ALAGOAS.

ÂNGELO DANIEL BEZERRA DA SILVA, brasileiro, menor, portador do RG nº 4442633-


0 SSP/AL e inscrito no CPF sob o nº 140.897.574-28, neste ato representado por sua genitora JOSEFA
MARIA BEZERRA DA SILVA, brasileira, do lar, portadora do RG nº 4313924-8 SSP/AL e inscrita no
CPF sob o nº 718.250.004-33, ambos residentes e domiciliados na Rua Monsenhor Macêdo, nº 05, centro,
CEP: 57.620-000, Igaci/AL, por meio de seus advogados que esta subscrevem, com endereço profissional
situado à Av. Desportista Aloísio Guimarães de Albuquerque, s/n, Bairro Juca Sampaio, Palmeira dos
Índios/AL, onde receberão as intimações e publicações, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência,
propor

AÇÃO COMINATÓRIA COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA

Em face de ESTADO DE ALAGOAS, pessoa jurídica de direito público interno, CNPJ


12.379.285/0001-00, na pessoa do Procurador Geral do Estado, com endereço na Av. Assis
Chateaubriand, 2578, Prado, na cidade de Maceió, CEP: 57010-070, fone: 082 3315 1002, e-mail:
procuradorgeral@pge.al.gov.br em face das razões a seguir articuladas:

I – DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA:

Inicialmente, requer a concessão dos benefícios da Gratuidade da Justiça, nos termos do art. 98
e seguintes do CPC e do art. 4º da Lei nº 1.060/50, por não possuir a autoracondições financeiras de arcar
com as despesas e custas processuais, sem prejuízo do próprio sustento e de seus familiares (declaração
de hipossuficiência em anexo).

II – DA DESNECESSIDADE DE AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO:

Informa, de início, que não há possibilidade de acordo, motivo pelo qual torna-se desnecessária
a audiência de conciliação. A hipótese mais claramente prevista pela lei reside na circunstância de a causa
se pautar em direito que não “admite composição” (CPC, art. 4º, II).

A vedação de audiência nas causas que não admitem autocomposição deve ser compreendida,
fundamentalmente, para evitar perda de tempo e gasto inútil de recursos, especialmente quando a Fazenda
Pública não tem autorização para composições. O princípio da legalidade exige ao advogado público que
somente transija nas hipóteses em que há autorização expressa em ato normativo. Não havendo, a causa
não admitirá autocomposição, sendo viável que – mediante requerimento unilateral ou mesmo de ofício –
o juiz determine a citação direta para contestação.
Inexistindo autorização no referido ente para a autocomposição, a audiência de conciliação ou
de mediação não deve ser marcada. Não apenas pelo desinteresse das partes, mas pela inadmissão da
autocomposição (artigo 334, parágrafo 4º, II, CPC/2015), do contrário, seriam marcadas um sem número
de audiências que não teriam qualquer utilidade, eis que o procurador não teria autorização para fazer
qualquer proposta de acordo. Essa é uma interpretação que está de acordo com a duração razoável do
processo (artigo 6º, CPC/2015).

Afinal, já seria uma espécie de fato notório judicial, que, nos casos relativos à saúde pública, o
ente público não tem qualquer autorização para conciliar Ou mediar.

III– DOS FATOS:

O requerente possui diagnostico de autismo, necessitando, do uso constante dos seguintes


medicamentos: RISPERIDONA 01 mg/mle NEULEPTIL Pediátrico 10 mg/ml, tendo que fazer uso
dos mesmos pela manhã e à noite (conforme receitas médicas em anexo).

Entretanto, a mãe do paciente não possui condições financeiras de arcar com o custo do
tratamento, que, a depender da prescrição médica bem como do preço na farmácia, pode chegar a ter o
custo mensal de até de R$ 600,00 (seiscentos reais), veja-se das notas fiscais em anexo.

De efeito, o direito à saúde é direito fundamental. O fornecimento do tratamento buscado pela


paciente, individualmente nesta ação, é na verdade a expressão do direito público à saúde, difuso em
todos os que necessitam dele para a própria sobrevivência.

Assim, certo que a demora no início do tratamento do Autor acarreta sérias complicações em
seu estado de saúde, não lhe resta outra solução senão recorrer à força coercitiva do Poder Judiciário,
que, no tema, é de se reconhecer, possui papel único e enobrecedor.

IV – DO DIREITO:

O tema em julgamento já se encontra pacificado no Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO


COMINATÓRIA. NECESSIDADE DE MEDICAMENTOS.
PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE PASSIVA DO ESTADO DE
ALAGOAS E CHAMAMENTO À LIDE DA UNIÃO E DO
MUNICÍPIO DE PILAR REJEITADAS. DIREITO FUNDAMENTAL
À SAÚDE E À VIDA. INTERVENÇÃO DO JUDICIÁRIO NO
MÉRITO DO ATO ADMINISTRATIVO. SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. À UNANIMIDADE.1.
Existe entendimento
consolidadonajurisprudênciapátriadequesubsisteresponsabilidadesolidári
adetodos os Entes da Federação consoante dispõe o art. 196 da
Constituição Federal de 1988, que trata do direito à saúde e à vida.
Assim, hão de ser rejeitadas as preliminares arguidas, pois é cabível ao
Apelado pleitear em face de qualquer um dos Entes da Federação,
motivoestequeafastaanecessidadedechamamento,àlide,doMunicípiodePi
lareda União;

Se um ato administrativo, à luz da apreciação do caso concreto,


restringe algum direito fundamental, neste caso, a saúde, tem por
pertinente a intervenção do Poder Judiciário, com o fito de ofertar a
aplicação imediata ao referido direito fundamental, conforme preconiza
o § 1º, do art. 5º, da CartaMagna;

Depreende-se, tanto das normas constitucionais, como das


infraconstitucionais, o direito à saúde, compreendido nesse conceito o
fornecimentode fármacos para manutenção da vida de todos os
indivíduos que compõem a sociedade,
motivopeloqualnãoháquesevislumbrar,nocasoemdeslinde,aexistênciaden
ormas que possam vir a limitar os direitos de garantiaconstitucional;

Em que pese o medicamento requerido não fazer parte da lista oficial do


Ministério da Saúde, este há de ser garantido ao tratamento do
Recorrido pois de suma importância para a manutenção da vida e saúde
deste, conforme se observa do receituário médico (fls.9/10);

Preliminares rejeitadas;

Recursoconhecidoenãoprovido.Àunanimidade.(ApelaçãoCível n°
2011.000894-5. Relator: Des. Alcides Gusmão da Silva. Data do
julgamento: 01/06/2011)

***

O desembargador Alcides Gusmão da Silva, da 2ª Câmara Cível do


Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL), negou seguimento ao recurso
interposto pelo município de Maceió e determinou que a prefeitura
forneça medicamento a paciente com tumor cerebral pelo prazo mínimo
de três meses.

A paciente teve sentença favorável em decisão da 14ª Vara Cível da


Capital, no qual fora determinado o fornecimento do medicamento pelo
município, que exigiu, entre outras coisas, a corresponsabilidade do
Estado e da União para este caso
Além disso, o município afirmou que não lhe são destinadas verbas
específicas para
aquisição dos referidos medicamentos e, de acordo com a previsão
orçamentária do governo, caberia à administração pública definir quais
medicamentos seriam oferecidos gratuitamente.
Para o desembargador Alcides Gusmão, relator do processo, o Estado
está obrigado a providenciar o medicamento à paciente, a fim de
garantir-lhe o mínimo existencial para preservar sua dignidade, já que a
mesma não possui condição de custear o tratamento e sofre de grave
enfermidade, não podendo aguardar a decisão final da presente demanda
em virtude da urgência do pedido.
“A paciente possui poucos recursos financeiros e, portanto, não deve
ficar sem o medicamento indispensável ao seu tratamento. O município
poderá ainda fornecer medicamento genérico, desde que possua o
mesmo princípio ativo e seja atestado por meio de perícia médica e
deverá ainda apresentar, a cada quatro meses, receituário médico que
ateste a continuidade do tratamento médico prescrito”, salientou.

A Constituição Federal preceitua que a República Federativa do Brasil


constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como um dos fundamentos a dignidade da
pessoa humana (art. 1º, III).

A saúde é direito humano fundamental, cuja proteção se inicia de modo


específico no artigo 6º da CF/88. Garantir o direito à saúde é concretizar, pois, um dos principais
fundamentos de nosso país, a dignidade da pessoa humana.

IngoSarlet(AEficáciadosDireitosFundamentais,LivrariadoAdvogado,2005,p.3
26)explicacom propriedade a relação umbilical do direito à vida e à saúde com o princípio da
dignidade da pessoahumana:

Em que pese a inequívoca relevância das posições jurídico-


fundamentais ora
referidas,énoâmbitododireitoàsaúde,igualmenteintegrantedosistemadeproteçã
odaseguridade social que se manifesta de forma mais contundente a
vinculação de seu objeto (prestações materiais
naesferadaassistênciamédica,hospitalar,etc.),comodireitoàvidaeaoprincípioda
dignidadeda
pessoahumana.Comefeito,adespeitodoreconhecimentodecertosdireitosdecorre
ntesdadignidade
dapessoahumanamesmoapósasuamorte,ofatoéqueadignidadeéessencialmenteu
maqualidade inerente à pessoa humana viva, mais precisamente, expressão e
condição da própria humanidadeda pessoa. A vida (e o direito à vida)
assume, no âmbito dessa perspectiva, a condição de verdadeiro direito a ter
direitos, constituindo, alem disso, condição da própria dignidade da pessoa
humana.
Paraalémdavinculaçãocomodireitoàvida,odireitoàsaúde(aquiconsideradoems
entidoamplo) encontra-
seumbilicalmenteatreladoàproteçãodaintegridadefísica(corporalepsicológica)
doser humano, igualmente posições jurídicas de
fundamentalidadeindiscutível.

Omestrepondera,ainda,queemborareconheçaaexistênciadelimitesfáticos(reserv
adopossível)e
jurídicos(reservaparlamentaremmatériaorçamentária),seuentendimentoédequesempreaonosencon
trarmosdiante de prestações de cunho emergencial, cujo indeferimento acarretaria o
comprometimento irreversível ou mesmo o sacrifício de outros bens essenciais, notadamente –
em se cuidando de saúde – da própria vida, integridade física e dignidade da pessoa humana,
haveremos de reconhecer um direito subjetivo do particular à prestação reclamada em Juízo.
Argumentos em contrário não podem se sustentar com base numa alegada insuficiência de
recursos, se acabem virtualmente condenando àmortea pessoa cujoúnico crimefoiode
servítimade umdanoà saúde enão tercondições de arcar com otratamento.

Neste particular, os fundamentos básicos do direito à saúde estão elencados


nos arts. 196 a 200, da
ConstituiçãoFederal.Dispõeoart.196que:AsaúdeédireitodetodosedeverdoEstado,garantidomedia
ntepolíticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos
e ao acesso universal eigualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção
erecuperação.

Dessa feita, os serviços e ações de saúde tiveram sua relevância pública


reconhecida constitucionalmente, em especial pelo artigo 197. Sobre essa condição, destaca
Marlon Weichert (Saúde e Federação na Constituição Brasileira. RJ: Lumen Juris, 2004, p.129):

Ao se qualificar um serviço público como de relevância


pública indica-se a existência de uma importância adicional nesse serviço, o
qual deverá ser prestigiado pela
administração.Logo,quandosetratardeserviçopúblicorelevanteemeventualconf
rontocomoutro que não tenha essa qualificação, o administrador público
deverá privilegiar aquele, como, por
exemplo,nadestinaçãoderecursos.Comisso,aConstituiçãovedaumainversãodep
rioridadescom base em critérios supostamente discricionários. O serviço de
relevância pública deve, pois, ser privilegiado no conjunto da atuação do
PoderPúblico.

Poroutrolado,acriaçãodoSistemaÚnicodeSaúdetambémfoideterminadapelaCart
ade1988que, nos termos do artigo 198 dispôs: “as ações e serviços públicos de saúde integram
uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistemaúnico”.

O direito à saúde, aí compreendida a assistência farmacêutica, tem status de direito


fundamental em
nosso ordenamento e como tal merece e exige plena eficácia.

A Constituição Federal de 1988 trouxe a dignidade da pessoa humana como o


valor maior doEstado, o núcleo constitucional supremo em torno do qual gravitam os demais
direitos. Os direitos fundamentais, incluindo aí
osdireitossociais,seriam,pois,osguardiõesdadignidadehumana.Asaúdeé,portanto,verdadeirodireit
ofundamental social,cujoconceitoserelacionacomum“completoestadodebem-
estarfísico,mentalesocial”dohomem,semoqual não se imagina possível uma vidadigna.

Para cumprimento desse dever que a Constituição lhe impõe, o Estado instituiu
entidades públicas,
orapertencentesàAdministraçãodireta,oraàAdministraçãoindireta,bemcomocrioumecanismosdec
ooperaçãoentre essas entidades e entre entidades do setor privado, de modo que a execução das
políticas públicas de saúde se efetive de modo universal e igualitário, observando as
peculiaridades regionais e sociais da população queatende.

A prestação de assistência farmacêutica, ou, melhor dizendo, a falta ou a falha


na prestação da assistência farmacêutica é um fator que evidencia a ineficiência da estrutura do
SUS - Sistema Público de Saúde e caracteriza patente afronta ao direito fundamental à saúde.

DentreosprincípiosediretrizesdoSUSestãoauniversalidadeeaintegralidade,diretr
izestareforçada pela Lei 8080/90 que assimprescreve:

Art.6.EstãoincluídasaindanocampodeatuaçãodoSistemaÚnic

odeSaúde(SUS) I – a execução deações:


(...)

d) de assistência terapêutica integral, inclusivefarmacêutica.

A integralidade de assistência deve ser entendida como um conjunto articulado


e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, em todos os
níveis de complexidade do sistema. A rede pública deve propiciar aos indivíduos atendimento
integral, ou seja, deve agir desde a prevenção de doenças, possibilitando o acesso aos
medicamentos e exames necessários ao tratamento e à cura.

Cumpre ressaltar que o artigo 23, II, da Constituição Federal estabelece que
cuidar da saúde é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios. Assim, estabeleceu-se de forma peremptória a responsabilidade solidária dos entes
federativos que deverão atuar em cooperação administrativa recíproca.

A legitimidade passiva da União, Estado e Municípios confere a qualquer um


deles, isoladamente ou não, a responsabilidade pela prestação do serviço de saúde, os quais,
entre si, estabelecerão a melhor forma de atender ao comando previsto no art. 196 da CF/88,
assim como ao art. 2º da Lei 8.080/90.

Sendo assim, a legitimidade passiva da Fazenda Pública ora Requerida resta


comprovada, não procedendo quaisquer alegações em sentido contrário. Eventuais discussões
acerca de qual o ente administrativo responsável pelo fornecimento deste procedimento
específico, com base em normas (portarias e regulamentos) de organização do SUS, devem ser
rechaçadas por este D. Juízo.
Ora,diantedetaisargumentos,eventuallitisconsórciocomosdemaisentestambémr
esponsáveispor atender ao pedido aqui solicitado, além de desnecessário, implicaria em atraso
no andamento processual, em prejuízo da saúde da parterequerente.

A implementação de políticas públicas por determinação judicial também não


representa invasão de poderes nem ofensa à Constituição Federal, pois realizada dentro das
peculiaridades do caso concreto e lastreada na dignidade da pessoa humana, ou seja, pela
necessidade de preservação do núcleo essencial dos direitos fundamentais, em que se inserem os
chamados direitos de subsistência, quais sejam, saúde, moradia, educação e alimentação. Além
disso,éprecisoreconhecerqueaatividadeimplementadoradoPoderJudiciárionãolheautorizacriarpolí
ticaspúblicas, mas apenas implementar as jáexistentes.

Essa atuação do Poder Judiciário, aliás, por mais paradoxal que isso possa
parecer, permite uma correta leitura – e até mesmo uma confirmação – da regra da separação
dos poderes, pois no sistema de “freios e contrapesos” que essa regra encerra, é cabível ao
judiciário controlar os abusos (seja por ação ou por omissão) dos demais poderes no exercício de
suas competências.”

As normas de caráter programático não podem converter-se em promessa


constitucional
inconsequente,sobpenadeoPoderPúblico,fraudandojustasexpectativasneledepositadaspelacoletivi
dade,substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável dever, por um gesto
irresponsável de infidelidade governamental ao que determina a própria Lei Fundamental
doEstado.

No âmbito constitucional, os arts. 165 a 169, prevêem, inclusive, situações de


realização de despesas que excedam os créditos orçamentários (art. 167, inc. II), além da
possibilidade de transposição, o remanejamento oua
transferênciaderecursosdeumacategoriadeprogramaçãoparaoutraoudeumórgãoparaoutro,semprév
iaautorização legislativa (art. 167, inc.VI).

Vê-se, portanto, que o problema não é de ausência de normas a disciplinarem a


forma de gastar do Poder Público. O problema talvez seja mais de gestão administrativa do que
propriamente jurídico-constitucional. A verdade é que o Poder Público arrecada muito, porém,
também gasta muito, e muito mal, por sinal.

Alimitaçãoorçamentárianãopodeseróbiceaimpediraconcretizaçãododireitofund
amentalàsaúde
peloPoderJudiciárioque,nabelaliçãodoMin.CelsodeMello,quandosevirdividido“entreprotegerainv
iolabilidade do direito à vida e à saúde, que se qualifica como direito subjetivo inalienável
assegurado a todos pela própria Constituição da República (art. 5º, caput e art. 196), ou fazer
prevalecer, contra essa prerrogativa fundamental, um interesse financeiro e secundário do
Estado, (...) impõem ao julgador uma só e possível opção: aquela que privilegia o respeito
indeclinável à vida e à saúdehumana.”

A dignidade da pessoa humana, insculpida no art. 1º, III, da Constituição


Federal representa o valor constitucional supremo, o epicentro de todo o ordenamento jurídico
em tornodo qual gravitam as demais normas. Este
valoréguarnecidopordeterminadosdireitos,comoosdireitosdapersonalidade,osdireitosfundamentai
seospróprios direitossociais.

Ricardo Lobo Torres ensina que o direito à saúde, à educação e à alimentação


seriam os três pilares que sustentam o conceito de mínimo existencial. Deixar de concretizar
algum desses direitos significa aportar duro golpe ao princípio da dignidade da pessoa humana.

IV.I – DA NÃO INCLUSÃO DE OUTRO ENTE PÚBLICO NO PÓLO PASSIVO –


IMPOSSIBILIDADE DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO:

Diante das argumentações acima, para dar celeridade processual, evitando a


intimação da parte para se manifestar com base no julgamento do tema 793 STF, o/a requerente
vem informar expressamente que NÃO TEM INTERESSE EM INCLUIR ENTE PÚBLICO
DIVERSO NO POLO PASSIVO DA PRESENTE DEMANDA.
Isto porque a ementa do tema 793/STF, por sua vez, ficou com a seguinte redação:
"EMENTA:CONSTITUCIONALEADMINISTRAT
IVO.EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL
RECONHECIDA. AUSÊNCIA DE OMISSÃO, CONTRADIÇÃO
OU OBSCURIDADE. DESENVOLVIMENTO DO PROCEDENTE.
POSSIBILIDADE. RESPONSABILIDADE DE SOLIDÁRIA NAS
DEMANDAS PRESTACIONAIS NA ÁREA DA SAÚDE.
DESPROVIMENTO DOS EMBARGOS DEDECLARAÇÃO.

É da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que o tratamento


médico adequado aos necessitados se insere no rol dos deveres do
Estado, porquanto responsabilidade solidária dos entes federados. O
polo passivo pode ser composto por qualquer um deles, isoladamente,
ouconjuntamente.

A fim de otimizar a compensação entre os entes federados, compete à


autoridadejudicial,diantedoscritériosconstitucionaisdedescentralização
ehierarquização, direcionar, caso a caso, o cumprimento conforme as
regras de repartição de competências e determinar o ressarcimento a
quem suportou o ônusfinanceiro.

As ações que demandem fornecimento de medicamentos sem registro


na ANVISA deverão necessariamente ser propostas em face da
União. Precedente específico: RE 657.718, Rel. Min. Alexandre de
Moraes. Embargos de declaração desprovidos."
Atente-
sequearesponsabilidadesolidáriadosdevedoreséumavantagemqueoordenamentojurídico traz para
o credor, nunca podendo ser interpretada de forma prejudicial aeste.
AprópriaementadoSTF,notemaacima,falaexpressamenteque"opolopassivopode
sercomposto por qualquer um deles, isoladamente, ou conjuntamente." Então, não pode este
juízo exigir que a parte autora inclua a União no polo passivo da demanda. Afinal, o polo
passivo pode ser composto por qualquer um dos entes federados (União, Estado ou Município)
isoladamente, ou por dois deles ou pelos três, cabendo tal escolha ao credor. Isto é a
responsabilidade solidária. Negar isso é negar a própria responsabilidade solidária, o que não
pode ocorrer diante da Constituição, da jurisprudência reiterada do STF e agora do Tema 793
desse mesmoTribunal.
Deste modo, é possível o ressarcimento de quem suportou o ônus financeiro.
Ouseja,ocidadãovaiescolherqualentedemandar.Porexemplo,digamosqueeleescolhaproporaaçãoco
ntraoEstado
deAlagoas.EntãooprocessovaicorrercontraoEstadodeAlagoaseesteentevaiforneceraprestaçãodesa
údedevida. Depois, se conforme as regras de repartição de competências (listas e portarias do
SUS), se constatar que administrativamente aquela prestação de saúde cabia à União, então o
Estado de Alagoas poderá requerer o ressarcimento desse ônus financeiro que elesuportou.
E isso poderia ser feito de forma administrativa, através das Câmaras de
Compensação, ou, se necessário, poderia ser feito judicialmente, através de ação, cabendo ao
Judiciário nesse caso "determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro".
Oimportanteéqueestaquestãodoressarcimento(compensação)nãopodeserfeitade
umaformaque
prejudiqueocidadãoemconseguirseudireitoasaúde,sobpenadeseviolaraquestãodasolidariedadejáex
tremamente consolidada peloSTF.
Então, o ente que for demandado terá que suportar o ônus financeiro, por força
da solidariedade e, depois, se quiser, deverá buscar ser ressarcido pelo ente que seria o
responsável por aquela prestação conforme as normas de divisão de atribuições do SUS.
Ou seja, essas regras jamais podem ser utilizadas contra o cidadão. Tais regras
somente podem ser utilizadas entre os entes federados e em momento posterior à resolução da
questão de saúde propriamente dita. Estafoi a proteção que a Constituição buscou trazer ao
cidadão quando se trata de direito à saúde. E tal proteção foireafirmada mais uma vez peloSTF.
Neste termos:
PROCESSOCIVIL.AGRAVOINTERNONORECURSOESPECIAL.FORNE
CIMENTO DE MEDICAMENTO. SÚMULA 7/STJ AFASTADA.
OBRIGAÇÃOSOLIDÁRIA. LEGITIMIDADE DO ESTADO-MEMBRO.
ORIENTAÇÃO RATIFICADA PELO STF.
TEMA793/STF.RECURSONÃOPROVIDO.1.Nocaso,nãohouvecontrovérsia
nosautos
sobreofatodeorecorrenteefetivamentenecessitardousodamedicaçãoquelhefoipr
escrita. A recusa apresentada pelo ente público em fornecê-la fundamentou-se
nos critérios de repartição das responsabilidades administrativas entre os
entes federativos que integram o SUS. Em tal contexto, a discussão travada
no apelo especial possui natureza eminentemente de direito, devendo-se
afastar o óbice da Súmula 7/STJ. 2. É pacífico na jurisprudência o
entendimento segundo o qual a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios possuem responsabilidade solidária nas demandas prestacionais
na área de saúde, o que autoriza que sejam demandados isolada ou
conjuntamente pela parte interessada. 3. A ressalva contida na tese firmada
no julgamento do Tema 793 pelo Supremo Tribunal Federal, quando
estabelece a necessidade de se identificar o ente responsável a partir dos
critérios constitucionais de descentralização e hierarquização do SUS,
relaciona-se ao cumprimento de sentença e às regras de ressarcimento
aplicáveis ao ente público que suportou o ônus financeiro decorrente do
provimento jurisdicional que assegurou o direito à saúde. Entender de
maneira diversa seria afastar o caráter solidário da obrigação, o qual foi
ratificado no precedente qualificado exarado pela Suprema Corte. 4. Agravo
interno a que se nega provimento. (AgInt no REsp 1043168/RS, Rel.
Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/03/2020,
DJe 17/03/2020)

Ademais, recentemente, o STF e o TJ/AL, e não se esperava algo diverso,


trouxeram novamente os bons parâmetros interpretativos e o bom senso de volta, derrubando o
entendimento absurdo em decisões isoladas de piso:

E M E N T A: DIREITO À VIDA E À SAÚDE – NECESSIDADE


IMPERIOSA DE SE PRESERVAR, POR RAZÕES DE CARÁTER ÉTICO-
JURÍDICO, A INTEGRIDADE DESSE DIREITO ESSENCIAL -
FORNECIMENTO GRATUITO DE MEIOS INDISPENSÁVEIS AO
TRATAMENTO E À PRESERVAÇÃO DA SAÚDE DE PESSOAS
CARENTES – DEVER CONSTITUCIONAL DO ESTADO (CF, ARTS. 5º,
“CAPUT”, E 196) – PRECEDENTES (STF) – RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA DAS PESSOAS POLÍTICAS QUE INTEGRAM O ESTADO
FEDERAL BRASILEIRO – CONSEQUENTE POSSIBILIDADE DE
AJUIZAMENTO DA AÇÃO CONTRA UM, ALGUNS OU TODOS OS
ENTES ESTATAIS – REPERCUSSÃO GERAL DA MATÉRIA QUE O
PLENÁRIO DO SUPREM TRIBUNAL FEDERAL RECONHECEU NO
JULGAMENTO DO RE 855.178- RG/SE, REL. MIN. LUIZ FUX –
REAFIRMAÇÃO, QUANDO DA APRECIAÇÃO DE MENCIONADO
RECURSO, DA JURISPRUDÊNCIA QUE O SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL FIRMOU NO EXAME DESSA CONTROVÉRSIA (STF
AGRAVO 1.226.326. Relator MIN. CELSO DE MELLO em 04/05/2020).
(...) Sobre a responsabilidade solidária existente entre os entes públicos, o
SupremoTribunal Federal fixou a seguinte tese de repercussão geral, no RE
855178-SE, Tema793/STF, em 23.05.2019: Os entes da federação, em
decorrência da competênciacomum, são solidariamente responsáveis nas
demandas prestacionais na área da saúdee, diante dos critérios constitucionais
de descentralização e hierarquização, compete àautoridade judicial direcionar
o cumprimento conforme as regras de repartição decompetências e
determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro.
Assim,qualquer um dos entes poderá ser demandado, devendo eventuais
ressarcimentos seremsolucionados fora do âmbito da presente lide, nos
termos da própria tese fixada.” (págs.164–166 do documento eletrônico) STF
Rcl 41677 / GO – GOIÁS RECLAMAÇÃORelator(a): Min. RICARDO
LEWANDOWSKI. Julgamento: 30/06/2020
(..) Ademais, não se há mais discutir qualquer questão acerca da existência
desolidariedade, uma vez que o posicionamento do Supremo Tribunal Federal
há muitojá pacificou-se, inclusive em reafirmação de jurisprudência em
julgamento deRepercussão Geral, em idêntico sentido ao quanto definido no
acórdão recorrido: “otratamento médico adequado aos necessitados se insere
no rol dos deveres do Estado,sendo responsabilidade solidária dos entes
federados, podendo figurar no polo passivoqualquer um deles em conjunto ou
isoladamente” (Tema nº 793). Assim, não caberecurso extraordinário na
hipótese, pois: 1) o custo do medicamento não é alto e talmatéria não foi
discutida (pontos a serem objeto de análise no RE 566.471, Tema nº 06);2) a
orientação do Supremo Tribunal Federal em julgamento proferido em sede
derepercussão geral assentou, há muito, a existência de solidariedade (Tema
nº 793); 3)não há relação com o RE 657.718 (Tema nº 500), tendo em vista
não se tratar demedicamento com ausência de registro pela ANVISA (...).
RECURSOEXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 1.241.806. RIO
GRANDE DO NORTE. RELATORA: MIN. ROSA WEBER em 28 de
fevereiro de 2020.
(...) ALEGAÇÃO DE ILEGITIMIDADE PASSIVA DO ESTADO DE
ALAGOAS, SOB O ARGUMENTO DE QUE A TESE FIXADA NO TEMA
793 DO STF, ORIUNDODO JULGAMENTO DOS EMBARGOS
DECLARATÓRIOS EM RE Nº 855178, JUSTIFICARIA A
INEXISTÊNCIA DA SOLIDARIEDADE DOS ENTES FEDERATIVOS
PARA IMPLEMENTAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE. NÃO ACOLHIDA
INTERPRETAÇÃO DA SUPREMA CORTE QUE, EM
VERDADE,
REAFIRMA A FACULDADE DE O DEMANDANTE DIRECIONAR A
AÇÃO CONTRA UM OU MAISENTES FEDERATIVOS. (Apelação n.
0700903-96.2019.8.02.0001 Saúde 1ª Câmara Cível Relator: Des. Fábio
José
Bittencourt Araújo em 20/05/2020.”

V – DO ORÇAMENTO:

Conforme cotação acostada, o tratamento total da paciente custa em média R$


600,00 (seiscentos reais) mensais.
VI – DA NECESSIDADE DA CONCESSÃO DA TUTELA ANTECIPADA:

O art. 300 do NCPC, que preconiza o pedido de Tutela Antecipatória, afirma:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando


houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo.

§ 1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode,


conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os
danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada
se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.

 A probabilidade do direito decorre da prova


inequívoca acostada aosautos (receitas e exames médicos) e das regras de
experiência comum (é pública e notória, e tema recorrente nos Tribunais
Pátrios, a omissão do Estado em fornecer os medicamentos reclamados pela
sociedadecarente);

 da mesma forma, é inconteste o perigo de dano e


risco ao resultado útil do processo uma vez que a demora no fornecimento do
medicamento e manutenção do tratamento, pode acarretar irreversíveis danos
Autor, que é criança e portador de autismo; sem falar, é claro, na prorrogação
da sua dor esofrimento, o que compromete diretamente seu direito à vida.

Considerando-
se,portanto,que,asaúdeéumdireitosocial(Art.6ºdaConstituiçãoFederal)e,ainda, direito de todos e
dever do Estado (Art. 196 da Carta Magna), sobrepondo-se a vida humana a todo e qualquer
outro direito, preenchido está o requisito do fumus bonijuris.

A tutela de urgência torna-se imprescindível, no propósito de proteger a


SAÚDE e a VIDA da paciente, direitos fundamentais indissociáveis garantidos pela Lei Maior,
na perspectiva de realização do princípio
fundamentaldeproteçãodadignidadedapessoahumana(arts.1º,III,e5ºCRFB/88),nocasodeperigonai
ntegridade física e mental e da vida, restando comprovado, in casu, o estado de saúde da
Requerente mediante laudo médico (em anexo), impõe-se a prevalência do DIREITO À VIDA
sobre questões burocráticas e principalmenteeconômicas.

O atestado médico do profissional devidamente habilitado constitui prova


suficiente para embasar a pretensão de fornecimento de medicamentos. Qualquer dos entes
políticos da federação tem o dever na
promoção,prevençãoerecuperaçãodasaúde.Aausênciadeinclusãodomedicamentoemlistasprévias,
querreferente a remédios considerados excepcionais, quer relativos à rede básica, não pode
obstaculizar o seu fornecimento por qualquer dos entes federados. É direito de todos e dever dos
entes públicos promover os atos indispensáveis à concretização do direito à saúde, tais como
fornecimento de medicamentos, acompanhamento médico e cirúrgico, quando não possuir o
cidadão meios próprios paraadquiri-los.

Domesmomodo,presentetambémopericuluminmora,jáqueasituaçãodopaciente
aquidefendida éderisco efetivoà situação psicológica e de vida emfaceda possibilidade patente
da perda da,eaespera dadecisão transitadaemjulgadolevará algum tempo, tempo esse que o
assistido não possui para vencer a doença.

O perigo de que, não sendo provavelmente concedida a medida pleiteada,


ocorram graves danos à paciente, de molde a que a sentença ao final, ainda que lhe conceda
pedido, terá sua eficácia concreta prejudicada pelo lapso de tempo decorrido entre a propositura
de ação e o seu desfecho. A medida desta "irreparabilidade" é a perspectiva futura de sentença
ter poder e força de satisfazer a pretensão do requerente "innatura".

Irreversibilidade não há. Agora, salvo a invenção de uma máquina de viagem


no tempo, o que será irreversíveléanegativadaliminar,pois,
apacientecorreconcretorisco,enaremotahipótesedeelaperderademanda, o réu poderá cobrar os
valores do tratamento. O que há aqui é a irreversibilidadeinversa.

VII – DA IMPOSIÇÃO DE MULTA AO AGENTE PÚBLICO:

Sendo urgente e inadiável o início do tratamento solicitado, sob pena de


comprometimento grave da saúde da Paciente, é legítima a determinação judicial de bloqueio
de verbas públicas para efetivação do direito,bem como a fixação de Astreintes contra a pessoa
física do agente público, diante da omissão do agente do Estado, que de já serequer.

A boa ou má administração não é atribuída à pessoa jurídica, autarquia,


fundação, sociedade de economia mista, Prefeitura, Estado, União, mas sim aos seus
governantes.

Daí porque indispensável o direcionamento da penalidade ao agente político


ou administrador, único responsável pelo retardamento da eficácia judicial e único capaz de
efetivar o cumprimento da obrigação imposta. E o raciocínio é muito simples: a pena anotada
pelo julgador destina-se a fazer com que alguém cumpra decisão judicial; somente este alguém,
pessoa que pensa, sente e pode ser convencida a tomar essa ou aquela posição, somente esse
agente político, é capaz de imprimir qualquer direcionamento à pessoa jurídica, ente inanimado
e, portanto, destituído de vontade para praticar ato, muito menos para intimidar-se com a pena. E
tanto é assim, que o magistrado ao aplicar a multa deverá observar o caráter psicológico, social e
econômico do agente.

Desta forma, o administrador público, quando desobedece à ordem judicial,


age com sua própria vontade, contrariando os princípios traçados pelo próprio órgão público,
vez que este forma o próprio Estado e não pode impedir decisão do Estado-Juiz. Dessa forma, na
representação, o agente não pode desvestir-se da condição de membro integrante da ordem
constitucional.

O STJ entende, pois que a astreinte fixada em liminar não depende do


julgamento do mérito para ser executada. Assim, o descumprimento de obrigação de fazer
imposta por liminar pode levar à cobrança da multa diária nos próprios autos da ação,
independentemente do trânsito em julgado da sentença final.

VIII – DA BUSCA PELA EFETIVIDADE DA DECISÃO JUDICIAL PROLATADA:

A atuação judicial vem sendo objeto de destaque pelos legisladores nacionais e


estrangeiros. Com
efeito,asúltimasreformasprocessuaistrouxeramrelevanteincrementodospoderesgerenciais,instrutó
riosedecisórios dojuiz.

O CPC/15 dedica um capítulo para tratar dos poderes, dos deveres e da


responsabilidade do juiz, e traz no art. 139uma correspondência ao art. 125, do CPC/73, mas
com maior amplitude, estabelecendo os poderes de direção do juiz, imputando-lhe a
incumbência de: a) zelar pela igualdade; b) GARANTIR A DURAÇÃO RAZOÁVEL
DOPROCESSO; c) prevenir ato atentatório à dignidade da justiça e procrastinatórios; d)
DETERMINAR MEDIDASCOERCITIVAS PARA ASSEGURAR A OBTENÇÃO DA
TUTELA DE DIREITO; e) promover a autocomposição; f) adequar o procedimento dilatando
prazos e alterando ordem de produção dos meios de prova; g) exercer o poder de polícia; h)
determinar o comparecimento pessoal das partes para inquirição; i) controlar os defeitos
processuais; e j) atentar para as demandas individuais repetitivas.

Olegisladoracrescentoucinconovashipótesesdeatuaçãodomagistrado,sendotrêsd
elasdebastante
relevânciaparagarantiraadequadagestãoprocessual,constantesdosseguintesincisos:a)IV-
DETERMINARTODASAS MEDIDAS INDUTIVAS, COERCITIVAS,
MANDAMENTAIS OU SUB-ROGATÓRIAS NECESSÁRIAS PARA ASSEGURAR O
CUMPRIMENTODEORDEMJUDICIAL,INCLUSIVENASAÇÕESQUETENHAMPOROB
JETOPRESTAÇÃOPECUNIÁRIA;b)VI

– dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os
às necessidades do conflito de modo A CONFERIR MAIOR EFETIVIDADE À TUTELA
DO DIREITO; e c) IX – determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento
de outros vícios processuais.

A novidade mais impactante restou inserida no inciso IV, e tem despertado


polêmicas na doutrina e agora também na jurisprudência, já que confere ao juiz amplas
possibilidades de efetivação de suas ordens judiciais. Isso porque o inciso IV antes aplicável às
obrigações de fazer e não fazer previu a possibilidade de determinação das medidas ali previstas
também nas ações que tenham por objeto uma prestação pecuniária.

Assim, a inclusão acabou suscitando inúmeras possibilidades de atuação do


juiz, como forma de conferir efetividade à ordem judicial. Ressalte-se que por “ordem judicial”
deve se entender por qualquer tipo de pronunciamento judicial, seja decisão, sentença ou
acórdão.

Uma das justificativas do legislador para a instituição da reforma processual


foi a necessidade de redefinição ideológica do CPC, conformando-o aos valores da Constituição
de 1988, consolidando, assim, um modelo constitucional do processo. E no capítulo que trata
das normas fundamentais do processo civil, restou estabelecido no art. 4º que as partes têm o
direito de obter em prazo razoável a resolução do mérito e sua satisfação. Em outros termos,
prevê o dispositivo que os direitos devem ser reconhecidos e também efetivados. Esta norma
fundamental deve guiar os sujeitos processuais, mas em especial o magistrado, em toda sua
atuação, QUEBRANDO A DICOTOMIA COGNIÇÃO X EXECUÇÃO, A FIM DE QUE OS
DOIS MOMENTOS SEJAM CONSIDERADOS SOB A PREMISSA ÚNICA DA
FINALIDADE OU DO RESULTADO FINAL PRETENDIDO.

Sob outro prisma, com o estabelecimento de uma parte geral aplicável a todos
os institutos processuais, não há dúvidas de que os preceitos envolvendo os poderes do juiz
podem ser aplicáveis também à execução, de forma inclusive cumulativa com as previsões
específicas relativas a esta última.

Estabelece-se, pois, uma cláusula geral de efetivação das ordens judiciais,


inclusive no que concerne ao processo de execução ou cumprimento de sentença. Importante
contextualizar que, entre as inúmeras alterações do CPC/15, o processo de execução foi o que
menos sofreu modificação, embora tenha havido aperfeiçoamentos pontuais. Isso porque as
reformas processuais de 2005 (Lei n. 11.232/05) e 2006 (Lei n. 11.382/06) já haviam tratado dos
principais aspectos da sistemática executiva, muitas delas ainda em estágio de assimilação pela
comunidade jurídica.

Desse modo, o CPC/15 empenhou esforços em melhorar aspectos processuais


já bastante ultrapassados, de acordo com a evolução da doutrina e jurisprudência, bem como
pelo advento da Constituição da República de 1988. Porém, procurou respeitar a solidificação de
modificações legislativas ainda em processos de amadurecimento, como foi caso da reforma
processual relativa à execução.

Marcelo Abelha Rodrigues, ao tratar do tema, distingue com muita


propriedade as medidas processuais punitivas das medidas processuais coercitivas, ambas
aplicáveis ao executado, por meio de um “duplo dever do magistrado”. As primeiras, aplicáveis
às situações que atentem ao dever de lealdade e boa-fé estariam previstas no inciso III, do art.
139, e as segundas, destinadas à promoção das ordens judiciais, se enquadrariam no inciso IV,
do mesmo dispositivo legal. Nesse contexto, se o comportamento do executado estiver voltado
para atos de improbidade processual (arts. 77, IV e 774), aplica-se uma medida processual de
caráter punitivo (art. 139, III). Contudo, se a conduta do executado se relacionar ao
descumprimento da ordem judicial, cabível se torna a aplicação de medidas processuais
coercitivas ou sub-rogatórias (art. 139, IV), desde que adequadas, proporcionais e razoáveis para
atingir sua finalidade.

De toda sorte, as medidas processuais punitivas devem seguir o regime de


tipicidade, pois ela é a própria consequência (fim), em contraposição à aplicação de medidas
processuais coercitivas, que adotam o regime de atipicidade, sendo apenas um instrumento
(meio) para o alcance do resultado pretendido, embora ambas possam ser cumuladas.

IX – DOS PEDIDOS:

Destarte, requer a V. Exa.:

1. Inicialmente, que DETERMINE LIMINARMENTE ao réu, através de


intimação pessoal de seu secretário de saúde, para que no prazo de 12
horas a contar da intimação, independente de processo licitatório E
INDEPENDENTE DE QUALQUER ENTRAVE BUROCRÁTICO, que
providencie/custeieRISPERIDONA 01 mg/mle NEULEPTIL
Pediátrico 10 mg/ml, para o tratamento total do Autor;

2. Caso a decisão liminar não seja cumprida no tempo determinado, pede-se


de logo a aplicação da PENALIZAÇÃO EM CASO DE
DESCUMPRIMENTO, CONTEMPT OF COURT, ou seja, sanção
pessoal naqueles AGENTES que descumprirem o §§ 1º e 2º do inciso IV,
com as consequências dos §§§ 3º, 4º e 5º, todos do novel Art. 77 do CPC,
ou seja, multa na própria pessoa que descumprir a decisão E,
concomitantemente, a determinação imediata do BLOQUEIO do valor
necessário para o custeio do medicamento solicitado para a
concretização do tratamento, diretamente das contas do ente estatal,
conforme precedentes da corte superior. Requer-se ainda, em caso de
descumprimento e após o BLOQUEIO NA CONTA DO ESTADO DE
ALAGOAS, seja expedido ALVARÁ EM FAVOR DA AUTORA OU
DO PRESTADOR DE SERVIÇOS para a retirada do referido valor,
comprometendo-se os mesmos a prestarem contas do valor no prazo de
trinta dias, além da condução, através de força policial, da pessoa física do
Secretário de Saúde ao Distrito Policial para lavratura de TCO – Termo
Circunstanciado de Ocorrência, por crime de desobediência, na forma do
previsto no art.26, da Lei nº12.016/2009;
3. Sem prejuízo das medidas anteriormente solicitadas, requer ainda a
aplicação de MEDIDAS COERCITIVAS: findo o prazo para
cumprimento, sem que tenham obedecido a ordem, COMINE multa de
R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por dia, que deverá incidir individualmente
na pessoa do secretário de Saúde.

4. Ressalta mais uma vez a IMPOSSIBILIDADE DE ACORDO, motivo


pelo qual não será necessário o agendamento da audiência de conciliação.

IX.I - DOS PEDIDOS PROCESSUAIS E PEDIDO FINAL:

a) A confirmação dos efeitos da liminar concedida, julgando-se PROCEDENTE O


PEDIDO IN TOTUM, declarando-se o direito da paciente de receber gratuitamente,
IMEDIATAMENTE, independente de processo licitatório E INDEPENDENTE DE
QUALQUER ENTRAVE BUROCRÁTICO, do Sistema Único de Saúde, através da
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE, ou instituição que o venha a substitui-los,
RISPERIDONA 01 mg/mle NEULEPTIL Pediátrico 10 mg/ml, – PARA O
TRATAMENTO TOTAL, incluindo, ainda, devido à gravidade da doença, a
determinação da obrigação do ESTADO DE ALAGOAS de fornecer todo e qualquer
tratamento médico relacionado ao tratamento da doença entendidos como necessários
para a manutenção da vida da paciente devidamente prescritos por médicos legalmente
habilitados;

b) A não intimação da parte autora para se manifestar sobre a inclusão de ente público
diverso no polo passivo desta demanda;

c) A cominação de medidas coercitivas antes menionadas, em caso de descumprimento da


decisão judicial;

d) Acitaçãodoréunapessoadeseusrepresentanteslegaispara,querendo,noprazolegal,apresentar
contestação, sob pena de revelia e confissão quanto à matéria defato;

e) A intimação do representante do MinistérioPúblico;

f) Requer os benefícios da justiça gratuita;

g) Protestaprovaroalegadocomosdocumentosacostados,testemunhas,depoimentopessoal,perí
ciaepor todas as provas em direito admitidas, provas que ficam, de logo, protestadas
erequeridas.

Dá-se á causa o valor de R$ 1.100,00 (mil e cem reais), para efeitos de alçada.

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Igaci/AL, 09 denovembro de 2021.


Arthur José Oliveira Soares Ferro
Advogado – OAB/AL nº 15.810

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