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Integração em Variedades


Rodrigo Carlos Silva de Lima

rodrigo.uff.math@gmail.com

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Sumário

1 Integração em variedades 5
1.1 Formas diferenciais em R n
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.1.1 Diferencial exterior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.2 Integração em variedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.2.1 Fibrado tangente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.3 Variedades diferenciáveis orientáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
1.4 Integração em variedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.4.1 Propriedades básicas da integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
1.5 Teorema de Stokes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
1.5.1 Semi-espaços e variedade com bordo . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
1.5.2 Teorema de Stokes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
1.6 Lema de Poincaré . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
1.6.1 Formas exatas e fechadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
1.7 Teorema da divergência e teoremas de Green . . . . . . . . . . . . . . . . 58
1.8 Introdução a teoria do potencial em R3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
1.9 O plano projetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

3
4 SUMÁRIO
Capı́tulo 1

Integração em variedades

1.1 Formas diferenciais em Rn

m Definição 1 (Espaço tangente de Rn ). Seja p ∈ Rn

Rnp = {q − p | q ∈ Rn }

é chamado espaço tangente de Rn em p. Identificamos ek ((ek )n1 a base canônica


de Rn0 = Rn ) com sua translação (ek )p .

m Definição 2 (Campo vetorial em Rn ). Um campo vetorial em Rn é uma


função V : Rn → Rnp

n
v(p) = ak (p)ek .
k=1

Definindo n funções coordenadas ak : Rn → R, caracterizamos um campo vetorial


v.

m Definição 3 (Campo vetorial diferenciável). Dizemos que um campo V :


Rn → Rn é diferenciável se cada ak , função coordenada é diferenciável.

5
6 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

m Definição 4. Definimos (dxk )p : Rnp → R, k ∈ In como

(dxk )p (ej ) = δ(k, j)

(dxk )n1 é base de (Rnp )∗ o espaço dual, das funções lineares de Rnp em R.

m Definição 5 (Forma exterior de grau 1). Uma forma exterior de grau 1 em


Rn é um mapa (diremos mapa no lugar de função) w : Rn → (Rnp )∗ com


n
w(p) = ak (p)(dxk )p .
k=1

Cada ak : Rn → R.

m Definição 6 (Forma diferencial de grau 1). Uma forma diferencial de grau 1


em Rn é um mapa (diremos mapa no lugar de função) w : Rn → (Rnp )∗ com


n
w(p) = ak (p)(dxk )p .
k=1

Cada ak : Rn → R diferenciável .

m Definição 7. Denotaremos por Λk (Rnp )∗ o conjunto de todos mapas k-lineares


alternados, isto é, mapas da forma

φ : Rnp × Rnp → R
| {z }
k−vezes

linear em cada bloco Rnp do produto cartesiano e (alternado)

φ(x1 , · · · , xt , xt+1 , · · · , xk ) = −φ(x1 , · · · , xt+1 , xt , · · · , xk ),

o sinal muda com a troca de argumentos consecutivos.


1.1. FORMAS DIFERENCIAIS EM RN 7

b Propriedade 1. Λk (Rnp )∗ é um espaço vetorial.

ê Demonstração.

Z Exemplo 1. Λ (R ) 1 n ∗
p = (Rnp )∗ é o espaço dos funcionais lineares em Rnp .

b Propriedade 2. Dados φ1 , · · · , φk ∈ (Rnp )∗, isto é, funções de Rnp → R


podemos obter um elemento em Λk (Rnp )∗ denotado por φ1 ∧ · · · ∧ φk com

φ1 ∧ · · · ∧ φk (v1 , · · · , vk ) = det(φt (vj ))t, j ∈ Ik .

O determinante é tomado como o determinante da matriz A = (at,j ) ∈ Mk×k .

ê Demonstração. Segue das propriedades de determinantes que φ1 ∧ · · · ∧ φk é


k-linear e alternada.

$ Corolário 1. Em particular

(dxj1 )p ∧ · · · ∧ (dxjk )p ∈ Λk (Rnk )∗

onde cada jt ∈ In .

m Definição 8. Denotaremos

(dxj1 )p ∧ · · · ∧ (dxjk )p = (dxj1 ) ∧ · · · ∧ dxjk )p .

b Propriedade 3. O conjunto

{(dxj1 ) ∧ · · · ∧ dxjk )p , j1 < j2 < · · · < jk , Jt ∈ In }

é uma base para Λk (Rnp ) ∗ .

ê Demonstração. O conjunto é LI. Se


8 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES


aj1 ···jk dxj1 ∧ · · · ∧ dxjk = 0
j1 <···<jk

onde é a soma sobre todas as combinações com j1 < · · · < jk , jt ∈ In . Aplicamos
j1 <···<jk
tal função à (et1 , · · · , etk ) com t1 < · · · < tk , tk ∈ In , obtemos que


aj1 ···jk dxj1 ∧ · · · dxjk (et1 , · · · , etk ) = 0 = at1 ···tk
j1 <···<jk

isto pois, das combinações, existe uma que possui termo exatamente at1 ···tk dxt1 ∧
· · · dxtk e pela definição por determinante

dxt1 ∧ · · · dxtk (et1 , · · · , etk ) = det(dxtj (etl )) = 1 , j, l ∈ Ik

para outros valores o determinante se anula.


Mostramos agora que tal conjunto gera o espaço. Dado f ∈ Λk (Rnp )∗ então

f= aj1 ···jk dxj1 ∧ · · · dxjk .
j1 <···<jk

Temos que g ∈ Λk (Rnp )∗ e que

g(ej1 , · · · , ejk ) = f(ej1 , · · · , ejk ) ∀ j1 , · · · , jk

daı́ f = g, tomando
f(ej1 , · · · , ejk ) = aj1 ···jk

obtemos expressão para f.

( )
b Propriedade 4. dimΛ (R ) =
n
k
. k n ∗

ê Demonstração.

b Propriedade 5. Se I1 < I2 < · · · < Ik , J1 < J2 < · · · < Jk então



 1 se Is = Js ∀ s
(dxi1 ∧ · · · dxik )(ej1 , · · · , ejk ) =
 0caso contrário
1.1. FORMAS DIFERENCIAIS EM RN 9

ê Demonstração. A expressão é escrita como determinante da matriz


 
dxi1 (ej1 ) dxi1 (ej2 ) ··· dxi1 (ejt ) ···
dxi1 (ejk )
 
 .. .. 
 . ··· ··· ··· ··· . 
 
 0
z }| { z}|{ 0 z }| { 
0
 
 dxit (ej1 ). dxit (ej2 ). · · · dxit (ejt ) · · · dxit (ejk ). 
 .. .. .. 
 .. 
 . 
dxik (ej1 ) dxik (ej2 ) · · · dxik (ejt ) · · · dxik (ejk )
suponha It ̸= Jt , então temos I1 < · · · < It < Jt < · · · < Jk

m Definição 9 (k-forma exterior em Rn ). Uma k-forma exterior em Rn é um


mapa w que associa a cada p ∈ Rn um elemento w(p) ∈ Λk (Rnp )∗, que pelo que já
mostramos pode ser escrito como


w(p) = aj1 ···jk (p)(dxj1 ∧ · · · dxjk )p
j1 <···<jk

onde cada função coordenada aj1 ···jk : Rn → R.

m Definição 10 (k-forma diferencial). Se cada função coordenada aj1 ···jk , de w


k-forma exterior, é diferenciável, então w é chamada k-forma diferencial.
Uma forma diferencial de grau r numa superfı́cie M é uma aplicação que
( )
m
a cada parametrização φ : U0 → U em M associa funções aj : U0 → R
r
chamadas as coordenadas da forma relativamente a φ.

$ Corolário 2. Se se o grau r da forma é igual ao da dimensão m, neste


caso a forma possui apenas uma coordenada em cada parametrização. Para todo
x = φ(U) = Ψ(V) ∈ U ∩ V temos

m ∧
m
w(x) = a(u) dxk = b(v) dvk
k=1 k=1
10 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

a : v0 → R e b : v0 → R, então

∂vi
a(u) = det( )b(v)
∂uj

∂vi
u ∈ φ−1 (U ∩ V), v = Ψ−1 ◦ φ(u) e det( ) é o jacobiano do difeomorfismo ψ−1 ◦ φ
∂uj
calculado em u.
∑ ∑ ∑ ∂vi
Em geral w(x) = a(u)duj = bI (v)dVI então aj (u) = det( )bI (v)
I I I
∂uj
∂vi ∂vi (v)
onde ( ) é a matriz r × r formada por elementos ( ) tais que I ∈ I e j ∈ J.
∂uj ∂uj

$ Corolário 3. As fórmulas de mudança implicam que se as coordenadas de w


numa parametrização ψ ∈ Cs são funções de classe Ck , k < s então ainda serão
de classe Ck em qualquer outra parametrização.

$ Corolário 4. A fórmula de mudança de coordenadas assegura que a integral


de uma forma de grau m é bem definida sobre uma variedade diferenciável de
dimensão m como veremos na seção de integração.

m Definição 11 (Forma de classe Ck ). Uma forma w é de classe Ck quando


cada coordenada aI é função de classe Ck .

m Definição 12. Denotaremos I pela k-upla (j1 , · · · , jk ) | (j1 < · · · jk ), jt ∈ In e a


seguinte notação para uma k-forma


w= aI dxI
I

denotaremos dessa forma para simplificar a escrita.


1.1. FORMAS DIFERENCIAIS EM RN 11

m Definição 13. Definimos uma 0-forma como uma função diferenciável f :


Rn → Rn .

Z Exemplo 2. Em R 4
temos os seguintes tipos de formas exteriores.

• 0- formas, funções f : R4 → R.

• 1-formas
a1 dx1 + a2 dx2 + a3 dx3 + a4 dx4

• 2-formas.

a12 dx1 ∧ dx2 + a13 dx1 ∧ dx3 + a14 dx1 ∧ dx4 + a23 dx2 ∧ dx3 +

a24 dx2 ∧ dx4 + a34 dx3 ∧ dx4 .

• 3 -formas.

a123 dx1 ∧ dx2 ∧ dx3 + a124 dx1 ∧ dx2 ∧ dx4 + a134 dx1 ∧ dx3 ∧ dx4 +

+a234 dx2 ∧ dx3 ∧ dx4

• 4-formas.
a1234 dx1 ∧ dx2 ∧ dx3 ∧ dx4 .

Iremos nos restringir agora a formas diferenciais, definiremos operações com tais
formas.

∑ ∑
m Definição 14 (Soma). Se w e φ são k-formas, w = aI dxI , φ = bI dxI ,
I I
definimos sua soma como


w+φ= (aI + bI )dxI .
I
12 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

m Definição 15 (Produto exterior). Se w é uma k-forma e φ uma s-forma, seu


produto exterior, denotado por w ∧ φ é uma (s + k)-forma, definida da seguinte
maneira


w= aI dxI , I = (j1 , · · · , jk ), j1 < · · · jk

φ= bJ dxJ , J = (l1 , · · · , lk ), l1 < · · · lk

definimos

w∧φ= aI bJ dxI ∧ dxJ
IJ

onde tal soma é o produto das combinações das formas. Perceba que nessa
definição a ordem em que aplicamos o produto importa (feita da esquerda para
direita).

b Propriedade 6. Vale que

dxk ∧ dxj = −dxj ∧ dxk

em especial
dxk ∧ dxk = 0.

ê Demonstração.

( )
dx1 (v1 ) dx1 (v2 )
dx2 ∧ dx1 (v1 , v2 ) = det = dx1 (v1 )dx2 (v2 ) − dx1 (v2 )dx2 (v1 ).
dx2 (v1 ) dx2 (v2 )

( )
dx2 (v1 ) dx2 (v2 )
dx1 ∧ dx2 (v1 , v2 ) = det = dx2 (v1 )dx1 (v2 ) − dx2 (v2 )dx1 (v1 ).
dx1 (v1 ) dx1 (v2 )

dai podemos perceber que dx2 ∧ dx1 = −dx1 ∧ dx2 . Se x1 = x2 então se anula.
1.1. FORMAS DIFERENCIAIS EM RN 13

Z Exemplo 3. Seja w = x1 dx1 + x2 dx2 + x3 dx3 uma 1-forma em R3 e φ =


x1 dx1 ∧ dx2 + dx1 ∧ dx3 uma 2-forma em R3 então usando a definição de produto
exterior e as propriedades anteriores tem-se

w ∧ φ = (x1 x3 − x2 )dx1 ∧ dx2 ∧ dx3 .

b Propriedade 7. Sejam w uma k-forma , φ uma s-forma e θ uma r forma,


então valem as propriedades

1. Associatividade
(w ∧ φ) ∧ θ = w ∧ (φ ∧ θ).

2.
w ∧ φ = (−1)ks (φ ∧ w).

3. Distributividade, se r = s

w ∧ (φ + θ) = w ∧ φ + w ∧ θ.


ê Demonstração. Sejam w = aI dxI , I = (i1 , · · · , ik ), i1 < · · · ik , φ =
∑ I
aJ dxJ , J = (j1 , · · · , js ), j1 < · · · js
J

1.

2. Temos que

w∧φ= aI bJ dxi1 ∧ · · · ∧ dxik ∧ dxj1 ∧ · · · ∧ dxjs =
IJ


=− aI bJ dxi1 ∧ · · · ∧ dxik−1 ∧ dxj1 ∧ dxik ∧ · · · ∧ dxjs =
IJ

k
∑ z }| {
= (−1) k
aI bJ ∧ dxj1 dxi1 ∧ · · · ∧ dxik−1 ∧ dxik ∧dxj2 ∧ · · · ∧ dxjs =
IJ
14 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

como J possui s elementos, obtemos o resultado repetindo o argumento para


cada dxjl , jl ∈ J, disso segue que

w∧φ= bj aI (−1)ks dxj1 ∧ · · · ∧ dxjs ∧ dxi1 ∧ · · · ∧ dxik = (−1)ks φ ∧ w.
JI

3.

$ Corolário 5. Se w = φ ambas k-formas, então

w ∧ w = (−1)k (w ∧ w)

daı́ se k é ı́mpar

w ∧ w = −w ∧ w ⇒ 2w ∧ w = 0 ⇒ w ∧ w = 0.

Z Exemplo 4. Sabemos que vale dxk ∧ dxk = 0 mas não vale sempre que
w ∧ w = 0, por exemplo, se

w = x1 dx1 ∧ dx2 + x2 dx3 ∧ dx4

então
w ∧ w = 2x1 x2 dx1 ∧ dx2 ∧ dx3 ∧ dx4 .

m Definição 16 (Pullback). Seja f : Rn → Rm diferenciável, então f induz um


mapa f∗ que leva k-formas em Rm em k-formas em Rn , que é definido como se
segue. Seja w uma k-forma em Rm , f∗ (w) é a k-forma em Rn dada por

(f∗ w)(p)(v1 , · · · , vk ) = w(f(p))(dfp (v1 ), · · · , dfp (vk ))

p ∈ Rn , v1 , · · · , vk ∈ Rnp e dfp : Rnp → Rm


f(p) é a diferencial do mapa f em p.

Definimos que se g é uma 0-forma

f∗ (g) = g ◦ f.
1.1. FORMAS DIFERENCIAIS EM RN 15

f∗ é chamado de Pullback. A diferencial df é dada por


∑n
∂f
df = dxk
k=1
∂x k

em p

n
∂f(p)
dfp = (dxk )p
k=1
∂xk
aplicado em ej tem-se


n
∂f(p) ∂f(p)
dfp (ej ) = (dxk )p (ej ) = (dxj )p (ej ) =
k=1
∂xk ∂xj | {z }
1

∂f(p)
=
∂xj
é a derivada parcial de f em p, em relação à j-ésima coordenada.
O pullback pode ser pensando informalmente em "puxa para trás"uma forma
de Rm em uma forma em Rn onde f : Rn → Rm , a ação de ser "para trás"pelo fato
de "puxar"a forma de Rm (a direita) para Rn (a esquerda).

m Definição 17. Se M ⊂ N e i : M → N é a aplicação de inclusão i(x) = x


então para toda forma diferencial w em N seu pullback é a forma i∗ w chamada
de forma induzida por w em N ou restrição de w a M, podendo ser denotada por
w|M .

b Propriedade 8. Sejam φ : U0 → U ⊂ M parametrização local de M, ψV0 →


V ⊂ M outra parametrização com U ∩ V ̸= ∅. Se x = φ(u) = ψ(v) ∈ U ∩ V então

∑ ∑
w(x) = aj (u)dvj = bI (v)dvI ⇒
j I

ambas são r -formas


∑ ∂vI
aj (u) = det[ ]bI (v)
I
∂uj
16 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

∂vI ∂vI
onde [ ] é a matriz r × r formada pelos elementos da matriz Jacobiana
∂uj ∂uj
da mudanã de parametrização ψ−1 ◦ φ tais que i ∈ I e j ∈ J, as derivadas são
calculadas u ∈ φ−1 (U ∩ V).
Estamos usando ainda a notação duI = du1 ∧ · · · ∧ dur , I = {i1 < · · · < ir } ⊂ Im ,
J = {j1 < · · · < jr } ⊂ Im .

ê Demonstração.

$ Corolário 6. Se w é uma m-forma em M de dimensão m, então

w(x) = a(u)du1 ∧ · · · ∧ dum = b(v)dv1 ∧ · · · dvm ⇒

a(u) = det[Jη(u)]b(v)

onde J[η(u)] é a matriz jacobiana do difeomorfismo η = φ−1 ◦ φ calculado no


ponto u ∈ φ−1 (U ∩ V).

m Definição 18. A notação

dk ∧ · · · ∧ dur
du1 ∧ · · · ∧ du

simboliza
du1 ∧ · · · ∧ duk−1 ∧ duk+1 ∧ · · · ∧ dur

também usamos a notação


r
uj = du1 ∧ · · · ∧ dur
j=1

e

r
uj = du1 ∧ · · · ∧ duk−1 ∧ duk+1 ∧ · · · ∧ dur .
j=1,j̸=k
1.1. FORMAS DIFERENCIAIS EM RN 17

b Propriedade 9. Seja f : U ⊂ Rm → Rn diferenciável, assuma m < n e w uma


k forma em Rn com k > m, então f∗ (w) = 0.

( )ê Demonstração. Como f∗ (w) é uma k forma em Rm e k > m, dimΛk (Rm )∗ =


m
= 0 se k > m, portanto f∗ (w) é nula.
k

b Propriedade 10. Seja f : Rn → Rm , diferenciável, w e φ k-formas em Rn e


g : Rm → R uma 0-forma em Rn , então

• f∗ (w + φ) = f∗ (w) + f∗ (φ).

• f∗ (gw) = f∗ (g)f∗ (w).

• Se (φs )k1 são 1-formas em Rm então

f∗ (φ1 ∧ · · · φk ) = f∗ (φ1 ) ∧ · · · ∧ f∗ (φk ).

O pullback define uma transformação linear.

ê Demonstração. Seja p ∈ Rn e (vs )k1 ∈ Rnp então

1.
f∗ (w + φ)(p)(v1 , · · · , vk ) = (w + φ)(f(p))(dfp (v1 ), · · · , dfp (vk )) =

= w(f(p))(dfp (v1 ), · · · , dfp (vk )) + φ(f(p))(dfp (v1 ), · · · , dfp (vk )) =

= (f∗ w + f∗ φ)(p)(v1 , · · · , vk )

logo segue a identidade f∗ (w + φ) = f∗ (w) + f∗ (φ), pois ambas aplicações se


igualam em pontos quaisquer.

2.
f∗ (gw)(p)(v1 , · · · , vk ) = (gw)(f(p))(dfp (v1 ), · · · , dfp (vk )) =

= (g ◦ f)(p)f∗ (w)(p)(v1 , · · · , vk ) = f∗ g(p)f∗ (w(p))(v1 , · · · , vk )

pois g é função, 0-forma, então apenas multiplica os coeficientes da forma w


no produto exterior das formas.
18 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

3. Omitindo a indicação ao ponto p, obtemos

f∗ (φ1 ∧ · · · ∧ φk )(v1 , · · · , vk ) =

= (φ1 ∧ · · · ∧ φk )(dfp (v1 ), · · · , dfp (vk )) = det(φi (df(vj ))) =


= det(f∗ φi (vj )) = (f∗ φ1 ∧ · · · ∧ f∗ φk )(v1 , · · · , vk ).

$ Corolário 7. Sejam (x1 , · · · , xn ) ∈ Rn , (y1 , · · · , ym ) ∈ Rm e f : Rn → Rm ,

f(x1 , · · · , xn ) = (f1 (x1 , · · · , xn ), · · · , fm (x1 , · · · , xn ))


| {z } | {z }
y1 ym


seja w = aI dyI uma k-forma em Rm , usando as propriedades provadas para
I
f∗ , obtemos (provar com detalhes depois)


f∗ (w) = (aI ◦ f)dfi1 ∧ · · · ∧ dfik
I

f∗ (w) = (aI (f1 (x1 , · · · , xn ), · · · , fm (x1 , · · · , xn )))dfi1 ∧ · · · ∧ dfik
I
onde

w= aI dyi1 ∧ · · · ∧ dyik .
I

Z Exemplo 5 (Coordenadas polares). Sejam w uma 1-forma em R 2


\ {0, 0} com

y x
w=− dx + 2 dy
x2 +y2 x + y2

U = {r > 0, | θ ∈ (0, 2π)}, f : U → R2 com f(r, θ) = (rcos(θ), rsen(θ)). Vamos


| {z } | {z }
x y
∑n
∂f

calcular f (w). Usamos a expressão df = dxk ,
k=1
∂xk

∂x ∂x
dx = dθ + dr = cos(θ)dr − rsen(θ)dθ
∂θ ∂r
∂y ∂y
dy = dθ + dr = sen(θ)dr + rcos(θ)dθ
∂θ ∂r
1.1. FORMAS DIFERENCIAIS EM RN 19

substituindo e simplificando tem-se

f∗ (w) = dθ.

b Propriedade 11. Seja f : Rn → Rm uma mapa diferenciável então

1. O pullback é compatı́vel com o produto exterior. f∗ (w ∧ φ) = f∗ (w) ∧ f∗ (φ)


onde w e φ são formas em Rm .

2. (f ◦ g)∗ (w) = g∗ (f∗ w) onde g : Rp → Rn é um mapa diferenciável.

ê Demonstração.

1. Tomando (y1 , · · · , ym ) = (f1 (x1 , · · · , xn ), · · · fm (x1 , · · · , xn )) ∈ Rm , (x1 , · · · , xn ) ∈


Rn ,
∑ ∑
w= aI dyI , φ = bJ dyj
I J

obtemos
∑ ∑
f∗ (w ∧ φ) = f∗ ( aI bJ dyI ∧ dyJ ) = aI ◦ fbJ ◦ fdfI ∧ dfJ =
IJ IJ

∑ ∑
= aI ◦ fdfI ∧ bJ ◦ fdfJ = f∗ (w) ∧ f∗ (φ).
I J

2.

(f ◦ g)∗ (w) = aI ◦ (f ◦ g)d(f ◦ g)I = g∗ (f∗ (w)).
I

b Propriedade 12. Sejam h : U → V um difeomorfismo, U, V abertos de Rn .


y = (y1 , · · · , yn ) pontos de V , (dy1 , · · · , dyn ) diferenciais de suas coordenadas, os
pontos de U da forma x = (x1 , · · · , xn ) e dx1 , · · · , dxn as diferenciais correspon-
dentes. Dada a forma diferencial

w(y) = a(y)dy1 ∧ · · · ∧ ym ∈ V
20 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

para todo x ∈ U temos

(h∗ w)(x) = a(h(x))det[Jh(x)]dx1 ∧ · · · ∧ dxm

onde det[jh(x)] é o determinante da matriz jacobiana de h no ponto x.

ê Demonstração.

$ Corolário 8. O teorema de mudança de variáveis se escreve como


∫ ∫

h w= w
X h(X)

se det[jh(x)] > 0 ∀ x ∈ U pois

∫ ∫

h w= a(h(x))det[Jh(x)]dx1 ∧ · · · ∧ dxm =
X X
∫ ∫
= w= a(x)dy1 ∧ · · · ∧ dym .
h(X) h(X)

1.1.1 Diferencial exterior



m Definição 19 (Diferencial exterior). Seja w = aI dxI uma k-forma C∞ em
I
Rn a diferencial exterior de w denotada por dw é definida por

dw = daI ∧ dxI .
I

A exigência de que as formas diferenciais em Λk (M) sejam de classe C∞ é feita


a fim de que w ∈ Λk (M) implique dw ∈ λr+1 (M) e possamos aplica a diferencial
exterior diversas vezes a forma gerada pelo processo.

A diferencial exterior dw de uma forma w é definida de maneira a se poder


escrever vários teoremas do cálculo (Green, Gauss, stokes) numa única expressão
∫ ∫
dw = i∗ w
M ∂M
chamado de Teorema de Stokes;
1.1. FORMAS DIFERENCIAIS EM RN 21

Z Exemplo 6. Seja w = xyzdx + yzdy + (z + x)dz, vamos calcular dw.

dw = d(xyz) ∧ dx + d(yz) ∧ dy + d(z + x) ∧ dz =

calculando as derivadas e simplificando

= −xzdx ∧ dy + (1 − xy)dx ∧ dy − ydy ∧ dz.

b Propriedade 13. Valem as seguintes propriedades para derivada exterior

1. d(w1 + w2 ) = dw1 + dw2 onde w1 e w2 são k-formas.

2. d(w ∧ φ) = (dw) ∧ φ + (−1)k w ∧ dφ onde w é k-forma e φ é uma s-forma.

3. d(dw) = d2 w = 0.

4. O pullback é compatı́vel com a diferencial exterior d(f∗ (w)) = f∗ (dw) onde


w é uma k-forma em Rm e f : Rn → Rm é um mapa diferenciável.

A diferencial exterior é uma transformação linear d : Λr (M) → Λr+1 (M)

ê Demonstração.
∑ ∑
1. Sejam w1 = aI dxI , w2 = Ci dxI então
I I
∑ ∑ ∑ ∑
d(w1 +w2 ) = d( (aI +cI )dxI ) = d(aI +CI )∧dxI = daI ∧dxI + dcI dxI = d(w1 )+d(w2 ).
I I I I

∑ ∑
2. Seja w = aI dxI , φ = bj dxj então
I J


d(w ∧ φ) = d(aI bJ ) ∧ dxI ∧ dxJ =
IJ

∑ ∑
= bJ daI ∧ dxI ∧ dxJ + aI dbJ ∧ dxI ∧ dxJ =
IJ IJ

= (dw) ∧ φ + (−1)k e ∧ dφ
22 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

onde usamos que


∑ ∑
aI dbJ ∧ dxI ∧ dxJ = aI db ∧dxi1 ∧ · · · dxik ∧ dxJ
|{z}J
IJ IJ
uma função

temos que "mover os k elementos ∧dxit , de onde resulta o sinal (−1)k .

3. Seja w uma 0-forma, isto é, w é uma função de Rn → R , então


∑n
∂f ∑n
∂f
d(df) = d( dxj ) = d( ) ∧ dxj
j=1
∂xj j=1
∂xj

∑n
∂g ∂f
sabemos que dg = dxk então tomando g = temos
k=1
∂x k ∂x j

∂f ∑ ∂ ∂f n
d( )= dxk =
∂xj k=1
∂xk ∂xj


n
∂2 f
= dxk
k=1
∂xk ∂xj
substituindo na expressão anterior temos

n ∑
n
∂2 f
d(df) = dxk ∧ dxj
j=1 k=1
∂xk ∂xj

∂2 f ∂2 f
usamos agora que dxk ∧ dxj = −dxj ∧ dxk , k ̸= j e = a soma
∂xk ∂xj ∂xj ∂xk
∂2 f
dupla é a soma dos elementos em uma matriz n × n onde ai,j = dxi ∧ dxj
∂xi ∂xj
 
∂2 f ∂2 f ∂2 f
 ∂x1 ∂x1 dx1 ∧ dx1 ∂x1 ∂x2 dx1 ∧ dx2 · · · ∂x1 ∂x1 dx1 ∧ dxn 
 
 ∂2 f ∂2 f ∂2 f 
 dx ∧ dx1 dx2 ∧ dx2 · · · dx2 ∧ dxn 
 ∂x2 ∂x1 2 ∂x2 ∂x2 ∂x2 ∂xn 
 . . . 
 .. .. · · · .. 
 
 ∂2 f ∂2 f ∂2 f 
dxn ∧ dx1 dxn ∧ dx2 · · · dxn ∧ dxn
∂xn ∂x1 ∂xn ∂x2 ∂xn ∂xn
os elementos na diagonal se anulam, os outros elementos possuem um simétrico
ak,j + aj, k = 0, portanto a soma é nula.

Seja w = aI dxI por (1) podemos nos restringir ao caso em que w = aI dxI
por linearidade, com aI ̸= 0, por (2) temos que

dw = d(aI ) ∧ dxI + aI dd(xI )


1.2. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES 23

pois aI é 0-forma (aplicação da propriedade (2)), porém

d(xI ) = d(1xI ) = d(1) ∧ dxI = 0

portanto

d(dw) = d(daI ∧ dxI ) = d(daI ) ∧dxI + daI ∧ d(dxI ) = 0


| {z } | {z }
0 0

com isso fica provado o resultado.

1.2 Integração em variedades

m Definição 20 (Variedade diferenciável de dimensão n.). Uma variedade


diferenciável de dimensão n é um conjunto M munido de uma famı́lia de mapas
injetivos fα : Uα ⊂ Rn → M, cada Uα aberto em Rn , tal que

1.

fα (Uα ) = M.
α

A união das imagens cobre M.

2. Para cada par α, β com fα (Uα ) ∩ fβ (Uβ ) = W ̸= ∅ os conjuntos f−1


α (W) e

β (W) são abertos de R e os mapas fα ◦ fβ de fα (W) em fβ (W) e fβ ◦ fα


1 −1 −1 −1 −1
f− n

1 −1
de f−
β (W) em fα (W) são diferenciáveis, tais mapas são chamados mapas

de transição .

3. A famı́lia {(Uα , fα )}α é maximal em relação as duas primeiras condições. Tal


famı́lia é chamada de Atlas e seus elementos de cartas.

Podemos denotar a variedade diferencial de dimensão n por Mn .

m Definição 21 (Variedade diferenciável de classe Ck .). Uma variedade dife-


renciável de classe Ck é uma variedade diferenciável equipada com um atlas cujos
24 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

mapas de transição são todos funções Ck .

m Definição 22 (Parametrização-sistema de coordenadas). Nas condições


da definição anterior. Um par (Uα , fα ) com p ∈ fα (Uα ) é chamado de uma
parametrização ou sistema de coordenadas de M no ponto p.

m Definição 23 (Vizinhança coordenada). Nas condições da definição anterior.


fα (Uα ) é chamada de vizinhança coordenada do ponto p.

m Definição 24 (Estrutura diferenciável). Como na definição de variedade


diferenciável, uma famı́lia (fα , vα ) satisfazendo as condições 1) e 2) é chamada de
estrutura diferenciável em M.

m Definição 25 (Topologia natural da variedade). Uma estrutura diferencial


em M induz de maneira natural uma topologia em M. Definimos que A ⊂ M é

α (A ∩ fα (Uα )) é um aberto de R para cada α.


1
aberto se f− n

Z Exemplo 7. O espaço Rn é uma variedade diferenciável com estrutura


diferenciável dada pela função identidade. Sejam A e B abertos em Rn tais que
A ∪ B = Rn , A ̸= B, então fα : A → Rn , fb : B → Rn com fα (x) = x, fb (x) = x,
ambas são injetivas e
fα (A) ∪ fb (B) = A ∪ B = Rn

fα (A) ∩ fb (B) = A ∩ B aberto em Rn por ser interseção de abertos

α ◦ fB e fb ◦ fα são ambas função identidade no seu domı́nio logo são dife-


1 −1
f−
renciáveis, por isso Rn é uma variedade diferenciável.
1.2. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES 25

b Propriedade 14. Cada fα (Uα ) é aberto e fα contı́nua.

ê Demonstração.
Tomando A = fα (Uα ) temos

β (fα (Uα ) ∩ fβ (Uβ ))


1
f−

se β = α resulta em Uα que é aberto. Se vazio é aberto. Se possuem interseção não


B (W) é aberto em R .
1
vazia W , pela condição 2 de variedade diferencial f− n

Sendo B um aberto qualquer de M, fα é contı́nua ⇔ f− 1 −1


α (B) é aberto, f (B) é

aberto, porém

α (B) = fα (B ∩ fα (Uα ))
1 −1 −1
f−

que é aberto por definição, logo f é contı́nua.

m Definição 26. Iremos considerar variedades em que valem as propriedades

• Axioma de Hausdorff. Dados dois pontos distintos em M existem vizinhanças


desses pontos que não se intersectam.

• Axioma de base contável . M pode ser coberto por uma quantidade contável
de vizinhanças coordenadas. Nesse caso dizemos que M possui uma base
contável

A condição 1) garante a unicidade da existência de limites de sequências. Iremos


considerar variedade de Haussdorf de base contável .

m Definição 27. Sejam Mn1 , Mm


2 variedades diferenciáveis. Uma função φ :

M1 → M2 é diferenciável em um ponto p ∈ M1 se dada uma parametrização


g : V ⊂ Rm → M2 em torno de φ(p) existe uma parametrização f : U ⊂ Rn → M1
em torno de p tal que
φ(f(U)) ⊂ g(V)
26 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

e o mapa
g−1 ◦ φ ◦ f : U ⊂ Rn → Rm

é diferenciável em f−1 (p).


O mapa é diferenciável em um aberto de M1 se é diferenciável em todos seus
pontos.
O mapa g−1 ◦ φ ◦ f é a expressão de φ nas parametrizações f e g.

b Propriedade 15. A troca de parametrização é diferenciável, daı́ na definição


anterior φ ser diferenciável não depende da escolha da parametrização .

Denotaremos I um intervalo real contendo 0.

m Definição 28 (Vetor Tangente). Seja α : I → M uma curva diferenciável na


variedade diferenciável M, com α(0) = p ∈ M, D o conjunto das funções de M
em R que são diferenciáveis em p. O vetor tangente à curva α no ponto p é o
mapa
α ′ (0) : D → R

dado por

d
α ′ (0)φ = (φ ◦ α)|t=0 , φ ∈ D
dt
perceba que φ ◦ α : I → R pois α : I → M, φ : M → R.
O vetor tangente, no caso, é uma função que leva as funções diferenciáveis
em p em R, sendo portanto um operador.

b Propriedade 16. O conjunto de vetores tangentes em um ponto p ∈ M é um


espaço vetorial real de dimensão n .

ê Demonstração. Escolha uma parametrização f : U ⊂ Rn → M ao redor de


1.2. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES 27

p = f(0, · · · , 0), a curva α : I → M e uma função φ ∈ D, temos

f−1 ◦ α(t) = (x1 (t), · · · , xn (t))

pois f−1 ◦ α(t) : I → Rn , isso implica também que α(t) = f(x1 (t), · · · , xn (t)), tem-se
também

φ ◦ f(q) = φ(x1 , · · · , xn ), q = (x1 , · · · , xn ) ∈ U

pois φ ◦ f : U ⊂ Rn → R, portanto

d d
α ′ (0)φ = (φ ◦ α)|t=0 = φ(x1 (t), · · · , xn (t))|t=0 =
dt dt
∑n ( )
′ ∂
=[ xk (0) ]φ
k=1
∂xk 0
a expressão acima pela regra da cadeia. Com isso chegamos na expressão para o
operador α ′ (0)

n ( )
′ ∂
α (0) = [ xk′ (0) ].
k=1
∂xk 0


Seja Tf o espaço vetorial gerado por {( )0 }k∈In . O conjunto Tp M dos vetores
∂xk
tangentes à M em p é igual à Tf .
Já mostramos, na dedução acima que Tp M ⊂ Tf agora iremos mostrar a outra
inclusão. Seja v ∈ Tf , então

n

v= λk ( )0
k=1
∂xk
seja α : I → M dado pela parametrização f por xk = λk t, então

n
∂ ∑ n


α (0) = xk′ (0)( )0 = λk ( )0 = v ∈ Tp M.
k=1
∂xk k=1
∂xk

Disso segue que Tp M é espaço vetorial n-dimensional. (Falta mostrar que o


conjunto de geradores é LI ) .

m Definição 29 (Espaço tangente). Tp M é chamado de espaço tangente de



M em p {( )0 }k∈In é chamada de base associada à parametrização f, como na
∂xk
propriedade anterior.
28 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

m Definição 30 (Diferencial de funções entre variedades). Sejam Mn1 , Mm


2

variedades diferenciáveis e φ : M1 → M2 um mapa diferenciável. Para cada


p ∈ M a diferencial de φ em p é o mapa linear

dφp : Tp M1 → Tφ(p) M2

que associa a cada v ∈ Tp M1 o vetor dφp (v) ∈ Tφ(p) M2 definido como se segue:
Escolha uma curva diferenciável α : (−ε, ε) → M1 com α(0) = p, α ′ (0) = v
então
dφp (v) = (φ ◦ α) ′ (0).

Para a definição fazer sentido é necessário mostrar que (φ ◦ α) ′ (0) não depende
da escolha de α e que dφp e que dφp é mapa linear (provar).

m Definição 31 (Difeomorfismo entre variedades). Sejam M1 e M2 variedades


diferenciáveis, um mapa φ : M1 → M2 é um difeomorfismo se é diferenciável,
bijetor e sua inversa φ−1 é diferenciável.

m Definição 32. Difeomorfismo local entre variedades] O mapa φ é um dife-


omorfismo local em p ∈ M se existem vizinhanças U de p e V de φ(p) tal que
φ : U → V é um difeomorfismo.

1.2.1 Fibrado tangente

m Definição 33 (Fibrado tangente). Seja Mn uma variedade diferenciável,

TM = {(p, v), p ∈ M, v ∈ Tp M}
1.2. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES 29

introduziremos em TM uma estrutura diferencial de dimensão 2n e com essa


estrutura TM é chamada de fibrado tangente de M.

b Propriedade 17. Seja fα : Uα ⊂ Rn → M uma parametrização de M com


(xα1 , · · · , xαn ) ∈ Uα para w ∈ Tfα (q)M, q ∈ Uα podemos escrever

n

w= yαk ,
k=1
∂xαk

definimos um mapa
gα : Uα × Rn → TM

por

n

gα (xα1 , · · · , xαn , yα1 , · · · , yαn ) = (fα (xα1 , · · · , xαn ), yαk )
k=1
∂xαk
se {(Uα , fα )} é uma estrutura diferenciável para M então {(Uα × Rn , gα )} é uma
estrutura diferenciável para TM.

ê Demonstração. Seja (p, v) ∈ gα (Uα × Rn ) ∩ gα (Ub × Rn ), isto é,

(p, v) = (fα (qα ), dfα (vα )) = (fb (qb ), dfb (vb ))

onde qα ∈ Uα , qb ∈ Ub , vα , vb ∈ Rn então

b ◦ gα (qα , vα ) = gb (fα (qα ), dfα (vα )) =


1 −1
g−

b ◦ fα (qα ), dfb ◦ fα (vα ))


1 −1
= (f−

b ◦ fα é diferenciável e d(fb ◦ fα ) também (porque?) segue que gb ◦ gα é


1 −1 −1
como f−
b ◦ fα ) segue que gb ◦ gα é diferenciável, isto prova a condição (2)
1 −1
diferenciável e d(f−
de variedade diferenciável a (1) é verdadeira pela maneira que definimos TM.

m Definição 34 (Imersão). Sejam Mm e Nn variedades diferenciáveis. Um


mapa diferenciável φ : M → N é uma imersão se dφp : Tp M → Tφp N é injetora
para cada p ∈ M.
30 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

m Definição 35 (Mergulho). Se φ : Mm → Nn é uma imersão e um homeo-


morfismo em φ(M) ⊂ N, onde φ(M) possui topologia induzida por N, φ é dito
mergulho.

m Definição 36 (Subvariedade). Se M ⊂ N e g : M ⊂ N é um mergulho


dizemos que M é uma subvariedade de N.

m Definição 37 (Superfı́cies regulares em Rn ). Um subconjunto Mk ⊂ Rn é


uma superfı́cie regular k-dimensional se para cada p ∈ M existe uma vizinhança
V de p em Rn e um mapa
f : U ⊂ Rk → M ∩ V

U aberto em Rk , tal que

1. f é um homeomorfismo diferenciável.

2. (df)q : Rk → Rn é injetivo ∀ q ∈ U.

b Propriedade 18. Dadas duas parametrizações f1 : U1 ⊂ Rk → M, f2 : U2 ⊂


Rk → M com f1 (U1 ) ∩ f2 (U2 ) = W ̸= ∅ a troca de parâmetros f−
1 ◦ f2 : f2 (W) →
1 −1

1
f−
1 (W) é um difeomorfismo.

ê Demonstração.

Z Exemplo 8. A garrafa de Klein é uma 2-superfı́cie em R . 4

⋆ Teorema 1 (Whitney). Toda variedade diferenciável , Hausdorf com base


contável pode ser mergulhada em R2n+1 e possui imersão em R2n .
1.2. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES 31

m Definição 38 (k-forma exterior em espaço vetorial). Dado V espaço vetorial,

| × ·{z
denotamos por Λk (V) o conjunto dos mapas k-lineares, w : V · · × V} → R
k parcelas
alternados.

m Definição 39 (k -forma exterior em variedade). Seja Mn uma variedade


diferenciável, uma k-forma exterior w em M é um elemento w(p), p ∈ M, do
espaço Λk (Tp M)∗ , de formas k-lineares do espaço tangente Tp M.

m Definição 40 (Representação de k-forma exterior). Dada uma k-forma ex-


terior w e uma parametrização fα : Uα → Mn ao redor de p ∈ fα (Uα ) definimos a
representação como a k-forma exterior wα em Uα ⊂ Rn dada por

wα (v1 , · · · , vk ) = w(dfα (v1 ), · · · dfα (vk )), v1 , · · · , vk ∈ Rn

se trocarmos coordenadas para fb : Ub → Mn , p ∈ fb (Ub ) obtemos


b ◦ fα ) wb (v1 , · · · , vk ) = wb (dfb ◦ fα )(v1 ), · · · , dfb ◦ fα )(vk )) =
1 −1 −1
(f−

= w(dfb ◦ df−
b ◦ fα )(v1 ), · · · , dfb ◦ dfb ◦ fα )(vk )) =
1 −1

= wα (v1 , · · · , vk ),


b ◦ fα ) wb = wα .
1
isto é, (f−

m Definição 41 (k-forma diferencial em variedade). Uma k-forma diferencial


em uma variedade diferenciável Mn é uma k-forma exterior tal que em algum
sistema de coordenadas (logo em todos) sua representação é diferenciável.
32 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

m Definição 42 (Campo vetorial). Um campo vetorial X em uma variedade


diferenciável M é uma correspondência que associa a cada ponto p ∈ M um
vetor Xp ∈ Tp M. O campo vetorial X é diferenciável se cada função diferenciável
φ : M → R, Xφ é diferenciável.


$ Corolário 9. Seja fα : Uα raMn uma parametrização de M e Xk = , k ∈ In
∂xk
uma base associada a parametrização. Um campo vetorial X pode ser escrito em
fα (Uα ) como


n
∂ ∑ n
X= ak = ak Xk .
k=1
∂xk k=1

Onde cada ak é função diferenciável. Um campo vetorial X em M é um operador


no espaço D das funções diferenciáveis em M .

b Propriedade 19. Seja X e Y campos vetoriais diferenciáveis em uma varie-


dade diferenciável M, então existe um único campo vetorial Z em M tal que para
cada φ ∈ D, Zφ = (XY − YZ)φ. D o espaço de funções diferenciáveis em M.

ê Demonstração. Suponha inicialmente que Z exista, vamos provar a unicidade.


Seja f : U → M uma parametrização e


n
∂ ∑ n

X= aj , Y= bk
j=1
∂xj k=1
∂xk

as expressões de X e Y na parametrização f, então


n
∂φ
XYφ = X bk =
k=1
∂xk

usando derivada do produto de funções


n ∑
n
∂bk ∂φ ∑ ∑
n n
∂2 φ
= aj + aj bk
j=1 k=1
∂xj ∂xk j=1 k=1
∂xj ∂xk
1.2. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES 33

de maneira semelhante
∑ n
∂φ
YXφ = Y( aj )=
j=1
∂X j


n ∑
n
∂aj ∂φ ∑ ∑
n n
∂2 φ
= bk + bk aj
k=1 j=1
∂xk ∂xj k=1 j=1 ∂xk ∂xj
disso segue

n ∑
n
∂bj ∂aj ∂
(XY − YX)φ = (ak − bk ) )φ
k=1 j=1
∂xk ∂xk ∂xj

m Definição 43 (Comutador). O campo vetorial determinado pela propriedade


acima é chamado de comutador, [X, Y] = XY − YX, de X e Y .

b Propriedade 20. Valem as seguintes propriedades para o comutador. Sejam


X, Y, Z campos vetoriais diferenciáveis, a, b ∈ R, φ e θ funções diferenciáveis,
então

1. O comutador é diferenciável.

2. Anticomutatividade [X, Y] = −[Y, X].

3. Linearidade [aX + bY, Z] = a[X, Z] + b[Y, Z].

4. Identidade de Jacobi

[[X, Y], Z] + [[Y, Z], X] + [[Z, X], Y] = 0.

Que pode ser denotada também

[[X1 , X2 ], X3 ] + [[X2 , X3 ], X1 ] + [[X3 , X1 ], Y2 ] = 0

entendida como permutar os elementos X1 , X2 , X3 em ordem.


34 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

5.
[θX, φY] = θφ[X, Y] + θX(φ)Y − φ(Y(θ))X.
ê Demonstração.

1.

2.

3.

4. Temos que

[[X, Y], Z] = [XY − YX, Z] = XYZ


|{z} − YXZ
|{z} − ZXY
|{z} + ZYX
|{z}
1 2 3 4

que é igual à (marcamos com sub ı́ndices identificar os termos)

[X, [Y, Z]]+[Y, [Z, X]] = [X, YZ−ZY]+[Y, ZX−XZ] = XYZ


|{z} −XZY−YZX+ZYX
|{z} +YZX−YXZ
|{z} − ZXY
|{z} +X
1 4 2 3

os termos não marcados se cancelam, usando a propriedade 1) segue o resultado.

5.

b Propriedade 21. Seja w uma 1-forma diferenciável em uma variedade dife-


renciável M, X e Y campos de vetores diferenciáveis em M, então

dw(x, y) = Xw (y) − yw(x) − w[x, y] (1).

ê Demonstração.

1.3 Variedades diferenciáveis orientáveis

m Definição 44 (Variedade diferenciável orientável). Uma variedade dife-


renciável M é orientável se M possui uma estrutura diferenciável {(Uα , fα )} tal
que para cada par α, β com

fα (Uα ) ∩ fβ (Uβ ) ̸= ∅
1.3. VARIEDADES DIFERENCIÁVEIS ORIENTÁVEIS 35

β ◦ fα possui determinante positivo, caso


1
o jacobiano da troca de coordenadas f−
contrário M é dita não-orientável.

m Definição 45 (Orientação). Se M é orientável, a escolha de uma estrutura


diferenciável {(Uα , fα )} satisfazendo as condições da definição anterior ( condição
de orientabilidade ) é chamada de orientação de M.

b Propriedade 22. Uma superfı́cie regular compacta em R3 é orientável .

ê Demonstração.

Z Exemplo 9. O plano projetivo e a garrafa de Klein não são orientáveis.

b Propriedade 23. Se f : M → N é um difeomorfismo local de M em N,


ambas orientadas, então f preserva orientação quando ∀ x ∈ M

f ′ (x) : TxM → Tf(x) N

transforma bases positivas de Tx M em bases positivas de Tf(x) N. Onde M e N são


superfı́cies.

ê Demonstração.

m Definição 46. Quando ∀ x ∈ M f ′ (x) transforma bases positivas em bases


negativas, então o difeomorfismo local f inverte orientação .

b Propriedade 24. Se M é convexa, então um difeomorfismo local de M em


N (ambas orientáveis) preserva ou inverte orientação. Se M é desconexa f pode
preservar orientação numa componente e inverter em outra.

ê Demonstração.
36 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

1.4 Integração em variedades

m Definição 47 (Suporte de uma forma diferencial). Seja w uma forma dife-


rencial definida em U ⊂ Mn , aberto, o suporte K de w é o conjunto

K=A

onde
A = {p ∈ Mn | w(p) ̸= 0}.

Também sendo denotado por suppw.

m Definição 48 (Integral de uma n-forma em Rn ). Seja w uma n-forma e


Mn = Rn , então
w = a(x1 , · · · , xn )dx1 ∧ · · · ∧ dxn .

Se K o suporte de w é compacto e está contido em U, definimos

∫ ∫
w= adx1 · · · dxn
U K

no lado direito temos a integral múltipla em Rn .

m Definição 49 (Integral em variedade-primeiro caso). Seja w uma n-forma


em Mn , supomos M compacto, logo K é compacto pois é fechado em compacto.
Assumimos também que M é orientável, isto é, M é coberta por uma famı́lia
de vizinhanças coordenadas {Vα } tal que as mudanças de coordenadas possuem
jacobiano positivo.
Se K está contido em uma vizinhança coordenada Vα = fα (Uα ) então a
representação local wα de w em Uα é

wα = aα (x1 , · · · , xn )dx1 ∧ · · · ∧ dxn


1.4. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES 37

definimos
∫ ∫ ∫
w= wα = aα dx1 · · · dxn
M Vα Uα

em que do lado direito temos uma integral em Rn .

b Propriedade 25. A integral da definição anterior está bem definida, pode


acontecer de K estar contida em outra vizinhança coordenada Vb = fb (Ub ) da
mesma famı́lia, devemos mostrar que a definição independe da escolha do sistema
de coordenadas.

ê Demonstração. Podemos assumir contraindo Uα e Ub se necessário que


Vα = Vb , seja a troca de coordenadas

α ◦ fb : Ub → Uα
1
f = f−

com xk = fk (y1 , · · · , yn ) k ∈ In , (x1 , · · · , xn ) ∈ Uα , (y1 , · · · , yn ) ∈ Ub como wb = f∗ (wα )


obtemos que wb = det(Jf)ab dy1 ∧ · · · ∧ dyn (resultado de aplicação do pullback)
onde ab = aα (f1 (y1 , · · · , yn ), · · · , fn (y1 , · · · , yn )) = a ◦ f pela fórmula de mudança de
variáveis em integrais múltiplas em Rn temos que
∫ ∫
aα dx1 · · · dxn = det(Jf)αb dy1 · · · dyn
Uα Ub

pois det(Jf) > 0 por termos orientação positiva ( logo podemos retirar o módulo na
expressão da integral de mudança de coordenadas), disso segue que
∫ ∫
wα = wb
Vα Vb

daı́ a independência desejada.

m Definição 50 (Partição diferenciável da unidade). Dada uma cobertura


{vα } de uma variedade diferenciável compacta M uma famı́lia finita de funções
diferenciáveis (φk )m
1 tais que


m
1. φk = 1
k=1

2. 0 ≤ φk ≤ 1 ∀ k e o suporte de cada φk está contido em algum vαk = vk .


38 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

A famı́lia {φk } é chamada de partição diferenciável da unidade subordinada a co-


bertura {vα }, no caso de M orientável escolhemos {vα } compatı́vel com a orientação
da variedade.
Vamos provar ainda a existência da partição da unidade.

m Definição 51 (Integral em variedade-caso geral). Seja M uma variedade


diferenciável orientável de dimensão n, definimos a integral de w uma n-forma
em Mn como se segue: O suporte da forma φk .w está contido em vk , pela
definição de partição diferenciável da unidade faz sentido definir

∫ m ∫

w= φk .w.
M k=1 M

b Propriedade 26. A definição anterior é independente da escolha da função


partição da unidade e cobertura da variedade.

ê Demonstração.
Considere outra cobertura {wb } de M que determina em M a mesma orientação
que {vα } e seja (ψk )s1 uma partição da unidade subordinada à {wb } então {vα ∩ wb } é
uma cobertura de M e a famı́lia (φk ψj ) será uma partição da unidade subordinada
à (vα ∩ wb ) então
m ∫
∑ ∑ s ∫
m ∑
φk .w = φk .ψj .w
k=1 M k=1 j=1 M

de forma similar
s ∫
∑ ∑ m ∫
s ∑
φk .w = φk .ψj .w
j=1 M j=1 k=1 M

que é igual à anterior, logo temos independência de cobertura e partições.

♣ Lema 1. Existe uma função diferenciável φ : B3 (0) → R tal que

1. φ(p) = 1 se p ∈ B1 (0).

2. 0 ≤ φ(p) ≤ 1 se p ∈ B2 (0).
1.4. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES 39

3. φ(p) = 0 se p ∈ B3 (0) \ B2 (0).


−1
ê Demonstração. Considere a função α : R → R dada por α(t) = e (t+1)(t+2) , t ∈
(−2, −1), α(t) = 0, t ∈
/ (−2, −1) tal função é uma modificação da função bem
−1
conhecida e x2 que é C∞ em todo ponto, tomemos a integral de α
∫t
γ(t) = α(s)ds
−∞

obtemos uma função diferenciável γ que possui máximo em t = −1, dado por
∫ −1 ∫ −1
γ(−1) = α(s)ds = α(s)ds = A
−∞ −2

γ(t)
tomando B(t) = obtemos uma função diferenciável com as propriedades
A
0
∫−2 z}|{
α(s) ds
1. B(t) = 0 se t ≤ −2 pois −∞ = 0.
A
2. 0 < B(t) ≤ 1 se t ∈ (−2, −1), pois
∫t ∫t ∫1
α(s)ds α(s)ds α(s)ds A
0 ≤ −∞ ≤ −2
≤ −2
= = 1.
A A A A

3. B(t) = 1 se t ≥ −1, pois


A
z∫ }| {
−1 0
∫t α(s)ds ∫t z}|{
α(s)ds α(s) ds
−∞
= −∞
+ −1 = 1.
A A A

A função φ : B3 (0) → R requerida pode ser obtida tomando-se φ(p) = B(−|p|), p ∈


B3 (0). Se p ∈ B1 (0) então |p| ≤ 1 o que implica −|p| ≥ 1 e implica B(−|p|) = 1 = α(p) se
p ∈ B2 (0). Se p ∈ B2 (0) então |p| ≤ 2 implica −|p| ≥ −2 o que implica 0 ≤ B(−|p|) ≤ 1
agora se 2 ≤ |p| ≤ 3 temos −2 ≥ −|p| ≥ −3 daı́ B(−|p|) = α(p) = 0.

b Propriedade 27. Seja Mn uma variedade diferenciável , p ∈ M e g :


U ⊂ Rn → M uma parametrização ao redor de p, então é possı́vel obter uma
parametrização f : B3 (0) → M ao redor de p tal que f(B3 (0)) ⊂ g(U) e f−1 (p) =
40 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

(0, · · · , 0).
ê Demonstração. Sejam (x01 , · · · , x0n ) = x0 ∈ U tal que g(x01 , · · · , x0n ) = p como
U é aberto existem r > 0 tal que Br (x01 , · · · , x0n ) ⊂ U. Sejam T a translação em Rn
que leva (x01 , · · · , x0n ) em (0, · · · , 0), isto é, T (x) = x − x0 e H : Rn → Rn o mapa com
3p
H(p) = . H ◦ T leva Br (x01 , · · · , x0n ) em B3 (0), pois, dado y ∈ Br (x01 , · · · , x0n ) temos
r
||y − x0 || < r daı́ pela translação T , tem-se que ||T (y)|| < r e pela aplicação de H que
3
se modifica a distância em fator de , temos
r
3 3
||H(T (y))|| = ||T (y)|| <r =3
r r
então definimos a parametrização f = g ◦ T −1 ◦ H−1 , que satisfaz as condições
requeridas.

b Propriedade 28 (Existência da partição diferencial da unidade). Seja M


uma variedade compacta e {Vα } uma cobertura de M por vizinhanças coordenadas,
então existem funções (φk )m
1 tais que

1.

m
φk = 1
k=1

2. 0 ≤ φk ≤ 1 e o suporte de cada φk está contido em algum Vαk da cobertura


{Vα }.

ê Demonstração. Para cada p ∈ M considere a parametrização fp : B3 (0) → M


dada pela propriedade anterior, definimos fp (B3 (0)) = Vp ⊂ Vα para algum Vα da
cobertura {Vα } da variedade, ponha wp = fp (B1 (0)) ⊂ Vp .
A famı́lia {wp } é uma cobertura aberta de M, como M é compacta podemos
tomar uma subcobertura finita (Wk )m m
1 de M e (Vk )1 também é uma cobertura de M.

Definimos funções θk : M → R, k ∈ Im com θk = φ ◦ f−


k em Vk e θk = 0 em M \ Vk
1

onde φ : B3 (0) → R é a função que construı́mos anteriormente, com as propriedades

• φ(p) = 1 se p ∈ B1 (0).

• 0 < φ(p) ≤ 1 se p ∈ B2 (0).

• φ(p) = 0 se p ∈ B3 (0) \ B2 (0)


1.4. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES 41

θk : φ ◦ f−
k : Vk → R pois fk : B3 (0) → Vk logo fk → B3 (0) e φ : B3 (0) → R . As
1 + −1 +

funções θk são diferenciáveis e o suporte de θk está contido em Vk , definimos

θk (p)
φk (p) = ∑
m , π ∈ M.
θj (p)
j=1
Temos que

1.

m


m ∑
m θk
θk k=1
φk (p) = ∑
m = ∑
m =1
k=1 k=1 θj (p) θj (p)
j=1 j=1

θk (p)
2. Temos θk (p) ≥ 0 por construção e φk (p) = ≤ 1 pois

m
θj (p)
j=1


m
θk (p) ≤ θj (p).
j=1

O suporte de φk é igual ao suporte de θk (p) que está contido em algum Vαk da


cobertura da variedade.

1.4.1 Propriedades básicas da integral

b Propriedade 29. A integral é um número real e se w é contı́nua, não


negativa e não-nula então

w > 0.
M

Se w ≤ 0 e não-nula então w < 0.
M

ê Demonstração.

b Propriedade 30. Valem as seguintes propriedades para para um integral de


uma forma contı́nua com suporte compacto numa superfı́cie orientada.
42 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

• Linearidade, se c ∈ R
∫ ∫ ∫

(cw + w ) = c w+ w.
M M M

• Se h : M → N é um difeomorfismo que preserva orientação então


∫ ∫

h w= w.
M N
∫ ∫

Se h inverte orientação então h w=− w.
M N

ê Demonstração.

1.5 Teorema de Stokes


⋆ Teorema 2 (Teorema de Stokes-Dimensão 2). Sejam w uma 1-forma dife-
renciável, definida em uma variedade diferenciável orientável M2 de dimensão
2, dw sua diferencial exterior. Considera a região Rc de M2 limitada por uma
curva fechada regular Cs = ∂Rc . A orientação de Rc induz uma orientação em
Cs , a inclusão ic : Cs → M nos permite considerar a restrição i∗c w de w em Cs ,
nessas condições o teorema de stokes afirma que a integral da 2-forma dw em Rc
é igual a integral i∗ w em ∂Rc = Cs , em certo sentido os operadores d aplicado a
formas e ∂ aplicado a domı́nios suaves são duais. Em particular se M2 = R2 e
w = pdx + qdy o teorema de stokes se reduz ao teorema de Gauss

∫∫ ∫
∂q ∂p
− dxdy = (pdx + qdy)
Rc ∂x ∂y Cs

o caso geral sendo


∫ ∫
dw = i∗ w
M ∂M

temos que

∂P ∂P ∂Q ∂Q
dw = ( dx + dy) ∧ dx + ( dx + dy) ∧ dy =
∂x ∂y ∂x ∂y
1.5. TEOREMA DE STOKES 43

usando que dx ∧ dx = 0 = dy ∧ dy e dy ∧ dx = −dx ∧ dy então simplificamos a


expressão acima em
∂q ∂p
( − )dx ∧ dy
∂x ∂y
de onde segue a identidade integral acima.

1.5.1 Semi-espaços e variedade com bordo

m Definição 52 (Semi-espaço). Um semi-espaço de Rn é o conjunto

Hn = {(x1 , · · · , xn ) ∈ Rn | x1 ≤ 0}.

m Definição 53 (Abertos de Hn .). Um conjunto aberto de Hn é a interseção


com Hn de um conjunto aberto U de Rn .

m Definição 54 (Função diferenciável em Hn .). Uma função f : V ⊂ Hn → R,


V aberto de Hn é diferenciável se existe um conjunto aberto U de Rn com V ⊂ U
e uma função diferenciável f em U tal que a restrição f|V = f.

m Definição 55 (Diferencial de função em Hn ). Nas condições da definição


anterior a diferencial dfp , p ∈ V de f em p é definida como

dfp = dfp .

Quando V não contém pontos da forma (0, x2 , · · · , xn ), V é um aberto de Rn e


a definição de dfp é idêntica a usual. Lembramos que

∑n
∂fp
dfp = dxk .
k=1
∂x k
44 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

m Definição 56 (Variedade n-dimensional com fronteira regular). Uma vari-


edade n-dimensional com fronteira regular é um conjunto M e uma famı́lia de
mapas injetivos fα : Uα ⊂ Hn → M de conjuntos abertos de Hn em M tais que


1. fα (Uα ) = M
α

2. Para todos os pares α, b com fα (Uα ) ∩ fb (Ub ) = W ̸= ∅ os conjuntos f− 1


α (W)

b (W) são abertos de H e os mapas fb ◦ fα , fα ◦ fb são diferenciáveis.


1 −1 −1
e f− n

3. A famı́lia {(Uα , fα )} é maximal relativamente as primeiras duas condições.

m Definição 57 (Ponto de fronteira da variedade). Um ponto p ∈ M é dito ser


um ponto na fronteira de M se para alguma parametrização f : U ⊂ Hn → M ao
redor de p temos que f(0, x2 , · · · , xn ) = p.

b Propriedade 31. A definição de ponto de fronteira não depende da parametrização


.

ê Demonstração. Seja f1 = U1 → M uma parametrização ao redor de p tal que


f1 (q) = p, q = (0, x2 , · · · , xn ). Suponha por absurdo que temos outra parametrização
f2 : U2 → M ao redor de p tal que temos f−
2 (p) = q2 = (x1 , · · · , xn ) com x1 ̸= 0.
1

Seja W = f1 (U1 ) ∩ f2 (U2 ), que é não vazio pois possuem mesmo ponto na imagem
1 ◦ f2 : f2 (W) → f1 (W) é um difeomorfismo. Como x1 ̸= 0 existe uma
1 −1 −1
p. O mapa f−
vizinhança U de q2 , U ⊂ f−
2 (W) que não intercepta o eixo x1 . restringindo f1 ◦ f2
1 −1

1 ◦ f2 : U → H tal que o determinante de d(f ◦ f2 )q2 não


1 −1
em U teremos um mapa f− n

1 ◦ f2 leva uma
1
é nulo (não entendi essa parte), pelo teorema da função inversa f−
vizinhança V ⊂ U de q2 em f−
1 ◦ f2 (V) ao redor de q, daı́ f1 ◦ f2 (V) ⊂ f1 (W) ⊂ H
1 −1 −1 n

(essa últimas inclusões pela definição da variedade com bordo) irá conter pontos da
forma (x1 , · · · , xn ) com x1 > 0, pois imagem leva abertos em aberto, só que pontos
dessa forma não estão em Hn , o que contradiz a hipótese .
1.5. TEOREMA DE STOKES 45

m Definição 58 (Fronteira de variedade). O conjunto de pontos de fronteira


de M é bem definido (propriedade anterior) sendo chamado de fronteira de M
e denotado por ∂M, o conjunto de fronteira também é chamado de bordo da
variedade.

b Propriedade 32. Se ∂M = ∅ a definição de variedade com fronteira coincide


com a de variedade sem fronteira como definimos anteriormente.

ê Demonstração.

z Observação 1. As definições de funções diferenciáveis entre variedades, espaço


tangente, orientabilidade e outros para variedades com bordo podem ser definidas de
maneira similar, com o cuidado adicional de trocar Rn por Hn .

b Propriedade 33. O bordo ∂M de uma variedade diferenciável de dimensão


n é uma variedade diferenciável de dimensão n − 1.
Se M é orientável, uma orientação para M induz uma orientação para ∂M.

ê Demonstração. Seja p ∈ M um ponto no bordo de M e fα : Uα ⊂ Hn → Mn


α (p) = q = (0, x2 , · · · , xn ) ∈ Uα , seja Aα =
1
uma parametrização ao redor de p. Então f−
Uα ∩ {(x1 , · · · , xn ) ∈ Rn | x1 = 0} identificando o conjunto {(x1 , · · · , xn ) ∈ Rn | x1 = 0}
com Rn−1 podemos ver que Aα é aberto em Rn−1 , pois Uα é aberto de Rn então Uα ∩Rn−1
é aberto de Rn−1 .
Denotando por fα = fα |Aα , podemos ver que fα (Aα ) ⊂ ∂M. Deixando p variar nos
pontos de ∂M podemos checar facilmente que a famı́lia {(Aα , fα )} é uma estrutura
diferenciável para ∂M( fazer com detalhes).
Assuma que M é orientável e escolha uma orientação para M, uma estrutura
diferenciável {(Uα , fα )} tal que a troca de coordenadas possui Jacobiano positivo .
Considere os elementos da famı́lia que satisfazem a condição fα (Uα ) ∩ ∂M ̸= ∅ então
a famı́lia {(Aα , fα )} é uma estrutura diferenciável para ∂M. Queremos mostrar que
se
fα (Aα ) ∩ fb (Ab ) ̸= ∅,
46 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

então a troca de coordenadas possui jacobiano positivo, isto é, que

−1
det(J(fα ◦ fb )q ) > 0 ∀ q

tal que sua imagem pela parametrização está na borda. Observe que a troca de
coordenadas (continuar depois)

b Propriedade 34. Sejam A ⊂ H e B ⊂ K, H e K semi-espaços. Se h : A → B


é um difeomorfismo de classe Ck , k ≥ 1, então h(∂A) = ∂B, isto é, o bordo ∂A de
um aberto A num semi-espaço é invariante por difeomorfismos.

m Definição 59 (Orientação induzida). A orientação em M determina em ∂M


uma orientação chamada de orientação induzida por M .

ê Demonstração. Seja x ∈ A\∂A, existe um aberto U ⊂ Rm+1 tal que x ∈ U ⊂ A.


Como h ′ (x) : U ⊂ Rm+1 → Rm+1 é um isomorfismo, podemos tomar U tão pequeno,
com x ∈ U, que V = h(U) ⊂ B seja um aberto em Rm+1 contendo h(x) então h(x) ∈
/ ∂B,
logo h(A \ ∂A) ⊂ B \ ∂B, da mesma forma podemos provar h−1 (B \ ∂B) ⊂ A \ ∂A.

b Propriedade 35. Se M é uma superfı́cie de classe Ck e dimensão m + 1


com bordo então seu bordo ∂M é uma superfı́cie de classe Ck e dimensão m, sem
bordo .

ê Demonstração.

Z Exemplo 10. Um semi-espaço H m


⊂ Rm+1 é uma superfı́cie com bordo na
qual basta considerar a aplicação identidade I : Hm → Hm seu bordo é

∂H = Rm = {x ∈ Rm+1 | x0 = 0}.

Z Exemplo 11. No intervalo [a, b] daremos duas parametrizações para mostrar


que é uma superfı́cie com bordo. Elas são por exemplo, φ : (−1, 0] → (a, b] e
1.5. TEOREMA DE STOKES 47

ψ : (−1, 0] → [a, b) com φ(t) = (b − a)t + b e ψ(t) = (a − b)t + a, o bordo de [a, b]


é o conjunto {a, b} com dois elementos.

Z Exemplo 12. Seja B a bola fechada de centro 0 e raio 1 em R m+1


, B = B1 (0).
B é uma superfı́cie de dimensão m+ 1 cujo bordo é a esfera unitária Sm . O interior
de B pode ser parametrizado pela aplicação identidade.

b Propriedade 36. O produto cartesiano M × N de uma superfı́cie com bordo


M por uma uma superfı́cie sem bordo N, é uma superfı́cie com bordo, sendo
∂(M × N) = (∂M) × N. Se U0 ⊂ H é um aberto no semi-espaço H ⊂ Rm+1 e
V0 um aberto em Rn então U0 × V0 é aberto no semi-espaço H × Rn ⊂ Rm+n+1 .
Dadas as parametrizações φ : U0 → U em M e ψ : V0 → U em N, as aplicações
φ × ψ : U0 × V0 → U × V formam um atlas em M × N.
O produto cartesiano de duas superfı́cies com bordo não é uma superfı́cie com
bordo, pois o produto de dois semi-espaços possui vértices angulosos ou arestas,
por isso não é um semi-espaço.

ê Demonstração.

m Definição 60. Se M possui dimensão 1 então seu bordo ∂M possui dimensão


zero, Orientar uma superfı́cie de dimensão zero é atribuir a cada um dos seus
pontos um sinal + ou −.
Se a curva M, superfı́cie unidimensional é orientada, a orientação induzida
no bordo é por definição aquela que atribui ao ponto x ∈ ∂M o sinal + quando
para uma ( e por isso para todas) parametrizações positivas φ : J0 → J em M com
x = φ(u) o vetor velocidade φ ′ (u) aponta para forma de M, caso contrário x
recebe o sinal − .
48 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

Z Exemplo 13. O intervalo [a, b] é uma superfı́cie unidimensional orientada


pelo atlas {φ, ψ} onde φ : (a, b] → (a, b] e ψ : [a, b) → [a, b) são restrições da
função identidade de [a, b]. A orientação dada por u chama-se natural, ela induz
no bordo ∂[a, b] = {a, b} a orientação {+b, −a}, pois o vetor φ+′ (a) = 1 aponta
para dentro de [a, b] enquanto o vetor ψ− (b) = 1 aponta para fora, onde 1 = e0 o
único vetor na base canônica de R.

Z Exemplo 14. A faixa de Moebius incluindo sua fronteira é uma superfı́cie


compacta não-orientável, cujo bordo é difeomorfo a uma circunferência, sendo
portanto orientável.

1.5.2 Teorema de Stokes

⋆ Teorema 3 (Teorema de Stokes). Seja Mn uma variedade diferencial com


bordo, compacta e orientável. Seja w uma n − 1-forma diferencial em M e i :
∂M → M o mapa inclusão da borda ∂M em M, então

∫ ∫

i w= dw
∂M M

n ∧
n
onde w = aj dxk .
j=1 k=1,k̸=j

ê Demonstração.
Seja K o suporte de w consideramos os seguintes casos:

1. K está contido em alguma vizinhança coordenada V = f(U) de uma parametrização


∑n ∧
n
f : U ⊂ Hn → M em U. w = aj dxj onde aj = aj (x1 , · · · , xn ) é uma
j=1 k=1,k̸=j
função diferenciável em U, então


n ∧
n
dw = daj ∧ dxk
j=1 k=1,k̸=j
1.5. TEOREMA DE STOKES 49

onde aj = aj (x1 , · · · , xn ) pela expressão de diferencial temos



n
∂aj
daj = dxl
l=1
∂xl

substituı́do em dw, sobra apenas o termo com l = j, daı́ trocando a ordem de


j − 1 parcelas temos o resultado

n
∂aj ∧
n
dw = (−1)j−1 ∧ dxk .
j=1
∂xj k=1

• 1-1). Assumindo que f(U) ∩ ∂M = ∅ então w é zero em ∂M pois não possui


pontos no suporte K e i∗ w = 0 = 0 ◦ i (por definição) então

i∗ w = 0.
∂M

Vamos mostrar que


∫ ∫ ∑
n
∂aj
dw = (−1)j−1 dx1 · · · dxn = 0
M U j=1 ∂xj

estendemos as funções aj para Hn tomando

aj (x1 , · · · , xn ) = aj (x1 , · · · , xn ) se (x1 , · · · , xn ) ∈ U

aj (x1 , · · · , xn ) = 0 se (x1 , · · · , xn ) ∈ Hn \ U

como f−1 (K) ⊂ U , f−1 (K) é o conjuntos dos pontos onde a função não se
anula, em U \ f−1 (K) a função se anula, então ela se estende diferenciavel-
mente para Hn , se a função for nula em U também não temos problema,
pois neste caso ela será a função constante nula, que é diferenciável. Agora
seja Q ⊂ Hn um paralelepı́pedo fechado dado por x1j ≤ xj ≤ x0j , j ∈ In e
contendo f−1 (K) no seu interior, que pode ser tomado assim pois K é fe-
chado, f−1 (K) é fechado em um limitado U logo é compacto, por isso não
é o semi-espaço todo. Então
∫ ∑ n ∑
n ∫
j−1 ∂aj ∂aj
(−1) dx1 · · · dxn = (−1)j−1
dx1 · · · dxn =
U j=1
∂xj Q ∂xjj=1

pelo teorema fundamental do cálculo na j-ésima coordenada e teorema de


fubini, tem-se

n ∫
= (−1) j−1
aj (x1 , · · · , xj−1 , x0j , xj+1 , · · · , xn )−
j=1
50 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

aj (x1 , · · · , xj−1 , x1j , xj+1 , · · · , xn )dx1 · · · dxj−1 dxj · · · dxn = 0

pois aj (x1 , · · · , xj−1 , x0j , xj+1 , · · · , xn ) = aj (x1 , · · · , xj−1 , x1j , xj+1 , · · · , xn ) = 0 ∀ j


pela extensão da definição que fizemos, pois os pontos pertencem à Hn \ U.

• 1-2) Assuma que f(U) ∩ ∂M =


̸ ∅, então o mapa inclusão i pode ser escrito
como x1 = 0, xj = xj , j ̸= 1. Usando a orientação induzida na Borda

i∗ w = a1 (0, x2 , · · · , xn )dx2 ∧ · · · ∧ dxn .

Como no caso 1 − 1) iremos estender a função para Hn e iremos considerar


o paralelepı́pedo Q dado por

x11 ≤ x1 ≤ 0 = x01 , x1j ≤ xj ≤ x0j , j de 2até n

e tal que a união do interior de Q com o hiperplano x1 = 0 com o interior


de Q contém f−1 (K), então
∫ ∑
n ∫
∂aj
dw = (−1)j−1
dx1 · · · dxn =
M j=1 Q ∂xj

abrimos j = 1 no somatório acima , aplicamos teorema fundamental do


cálculo para derivada parcial e teorema de Fubini

= a1 (0, x2 , · · · , xn ) − a1 (x11 , x2 , · · · , xn )dx2 · · · dxn +
Q


n ∫
+ (−1) j−1
a1 (x1 , · · · , x0j , · · · , xn )−a1 (x1 , · · · , x1j , · · · , xn )dx1 · · · dxj−1 dxj · · · dxn
j=2 Q

como a1 (x1 , · · · , x0j , · · · , xn ) = a1 (x1 , · · · , x1j , · · · , xn ) = 0 para j = 2 até n e


a1 (x11 , x2 , · · · , xn ) = 0, disso obtemos que
∫ ∫ ∫
w = a1 (0, x2 , · · · , xn )dx2 · · · dxn = i∗ w.
M ∂δM

2. Vamos agora considerar o caso geral. Sejam {vα } uma cobertura de M por
vizinhanças coordenadas compatı́veis com a orientação e (φk )m
1 uma partição

diferenciável da unidade subordinada à {vα }. As formas wj = φj w j ∈ In


satisfazem as condições do caso 1), como


n ∑
n
φj = 1 ⇒ dφj = 0
j=1 j=1
1.5. TEOREMA DE STOKES 51

tem-se ainda

n ∑
n
wj = ( φj ) w = w
j=1 j=1
| {z }
=1
e

n ∑
n ∑
n
dwj = ( dφj ) w + ( φj ) dw = dw
j=1 j=1 j=1
| {z } | {z }
0 1
então

∫ n ∫
∑ n ∫
∑ ∫ ∑
n ∫
∗ ∗
dw = dwj = i wj = i wj = i∗ w.
M j=1 M j=1 ∂M ∂M j=1 ∂M

Caso a dimensão de M seja 1 sendo M uma curva (superfı́cie de dimensão 1)


orientada e w tendo grau zero, logo w é uma função f : M → R de classe C1 . Se cada
vizinhança coordenada é conexa ∂M consiste em um único ponto ±p então

f = ±f(p)
±p
∫ ∫
se a parametrização padronizada é positiva temos df = f = f(p) se é negativa
∫ ∫ M p

df = f = −f(p).
M −p

$ Corolário 10. Provamos acima no primeiro caso que w uma forma diferencial
de Classe C1 , grau m e suporte compacto em M variedade diferenciável com borda
vazia de dimensão m + 1, então
∫ ∫
dw = 0 = i∗ w.
M ∂M

$ Corolário 11. Seja w uma forma diferencial de grau m e classe C1 , numa


variedade orientada e compacta ( bordo vazio ), de dimensão m. Se w não é
identicamente nula mas w(x) ≥ 0 ∀ x ∈ M então w não é exata, embora seja

fechada, pois no caso dw ∈ Λ (M) = {0}, pois temos
m+1
w > 0, se fosse exata
M
52 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

haveria B ∈ Λm−1 (M) tal que dB = w e daı́


∫ ∫
dB = 0 = w>0
M M

absurdo. O mesmo vale se w ≤ 0 não nula pois w < 0.
M

1.6 Lema de Poincaré

1.6.1 Formas exatas e fechadas

m Definição 61 (Forma exata). Sejam Mn uma variedade diferenciável , w uma


k-forma diferenciável é dita exata se existe uma k − 1- forma B tal que dB = w.
Em sı́mbolos, w ∈ Λk (M) é uma forma exata quando existe B ∈ Λk−1 (M) tal
que dB = w.

m Definição 62 (Forma fechada). Sejam Mn uma variedade diferenciável , w


uma k-forma diferenciável é dita fechada se dw = 0.
As formas fechadas compõe o núcleo do operador d e as formas exatas compõe
a imagem de d.

$ Corolário 12. Toda forma exata w é fechada. Pois w = dB daı́ dw == d2 B =


0 pois já mostramos em outra seção que d2 = 0.
Uma forma exata é fechada.

Z Exemplo 15. Nem toda forma fechada é exata. Como exemplo


xdy − ydx
w=
x2 + y2

em R2 \ {(0, 0)} = U.(Desenvolver ).


1.6. LEMA DE POINCARÉ 53

Z Exemplo 16. Toda forma w ∈ Λ m


(M), m = dimM é fechada pois Λr (M) =
{0} quando r > m, daı́ dw ∈ Λm+1 (M) = {0} força a forma a ser nula.


m
Z Exemplo 17. A forma w = dxk em Rm é exata pois w = dα onde
k=1

1 ∑ ∧
m m
j+1
α= (−1) xj dxk
m j=1 k=1,k̸=j
pois
1 ∑ ∧ ∧
m j−1 m
dα = (−1)j+1 dxj dxk ∧ dxk =
m j=1 k=1 k=j+1

1 ∑ ∧ ∧
m j−1 m
= j+1
(−1) (−1) j−1
dxk ∧ dxj ∧ dxk =
m j=1 k=1 k=j+1

1
m ∧
∑ m
1 ∧
m ∧
m
= dxk = m dxk = dxk
m j=1 k=1
m k=1 k=1

como querı́amos.

b Propriedade 37. Se w ∈ Zr (M) e w ′ ∈ Zs (M) são formas fechadas em M


então o produto exterior w ∧ w ′ também é uma forma fechada.

ê Demonstração. A propriedade vale pois

d(w ∧ w ′ ) = |{z}
dw ∧d ′ + (−1)r w ∧ |{z}
dw ′ = 0.
0 0

m Definição 63 (Variedade contrátil). Uma variedade diferenciável M é dita


contrátil em um ponto p0 ∈ M se existe uma mapa diferenciável H : M × R → M,
H(p, t) ∈ M, p ∈ M, t ∈ R tal que

H(p, 0) = p0 H(p, 1) = p ∀ p ∈ M.
54 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

b Propriedade 38. Rn é contrátil .

ê Demonstração. ∀ p ∈ Rn tomando H : Rn × R → Rn com H(p, t) = p0 + (p −


p0 )t, H é diferenciável e

H(p, 0) = p0 H(p, 1) = p.

b Propriedade 39. A bola Br (0) = {p ∈ Rn | |p| < r} é contrátil para origem 0 .

ê Demonstração.

b Propriedade 40. Qualquer variedade é localmente contrátil .

ê Demonstração.
Iremos provar agora o lema de Poincaré , para isso iremos demonstrar alguns
lemas que devem nos ajudar neste processo .
Seja Π : M × R → M a projeção Π(p, t) = p e w a k-forma em M × R dada por
w = H∗ w onde H é o mapa dado pela definição de contratibilidade . (Considerando
no caso M variedade contrátil).

♣ Lema 2. Toda K-forma w em M × R pode ser escrita de forma única como

w = w1 + dt ∧ η

onde w1 é uma k forma em M × R tal que w1 (v1 , · · · , vk ) = 0 se algum vt pertence ao


Kernel de dΠ e η é uma k − 1-forma com propriedade similar.

ê Demonstração.
Seja p ∈ M e f : U → M uma parametrização ao redor de p, então f(U) × R é uma
vizinhança coordenada de M × R com coordenadas, digamos

(x1 , · · · , xn , t)

em f(U) × R, w pode ser escrita como

∑ ∑
w= ai1 ···ik dxi1 ∧ · · · ∧ dxik + dt ∧ bj1 · · · bjk−1 = w1 + dt ∧ η.
i1 ···ik

(falta demonstrar detalhes)


1.6. LEMA DE POINCARÉ 55

m Definição 64. Seja it : M → M × R o mapa dado por it (p) = (p, t), it é dito
inclusão de M em M × R no nı́vel t. Definimos uma mapa I que leva k-formas
de M × R em k − 1-formas de M, como se segue: Se p ∈ M e (vs )k1 ∈ Tp M então
em p
∫1
(Iw)(v1 , · · · , vk−1 ) = η(p, t)(dit (v1 ), · · · , dit (vk−1 ))dt
0

onde η é dado pela decomposição w = w1 + dt ∧ η, w é uma k-forma em M × R


e η uma k − 1-forma em M.

♣ Lema 3. Vale que i∗1 (w) − i∗0 (w) = d(Iw) + Id(w)

ê Demonstração. Seja p ∈ M, iremos usa o sistema de coordenadas (x1 , · · · , xn , t)


do lema anterior. O operador I é aditivo, valendo

I(w1 + w2 ) = I(w1 ) + I(w2 )

por propriedade de integral. Disso segue que é suficiente mostrar dois caos

1. w = fdxi1 ∧ · · · ∧ dxik .

2. w = fdxt ∧ dxi1 ∧ · · · ∧ dxik−1 .

1. Se w = fdxi1 ∧ · · · ∧ dxik então


∂f
dw = dt ∧ dxi1 ∧ · · · ∧ dxik + termo sem dt
∂t
pois

n+1
∂f
df = dxk
k=1
∂x k

basta então aplicar a diferencial exterior. No sistema de coordenadas (x1 , · · · , xn , t)


o operador I integra a representação local de w ao longo do fator t, então
∫1
∂f
I(dw)(p) = ( dt)dxi1 ∧ · · · ∧ dxik =
0 ∂t

= (f(p, 1) − f(p, 0))dxi1 ∧ · · · ∧ dxik = i∗1 w(p) − i∗0 w(p)

como temos Iw = 0 pois w = fdxi1 ∧ · · · ∧ dxik portanto η(p, t) = 0 a integral


se anula logo dIw = 0, disso segue o que querı́amos mostrar

i∗1 (w) − i∗0 (w) = d(Iw) +Id(w)


| {z }
0
56 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

2. Se w = fdxt ∧ dxi1 ∧ · · · ∧ dxik−1 então i∗1 w = 0 = i∗0 w (a diferencial no tempo se


anula?), de outro modo
∑n
∂f
dw = ( dxα ) ∧ dxt ∧ dxi1 ∧ · · · ∧ dxik−1
α=1
∂x α

∑ ∫ 1 ∂f
(Idw)(p) = − ( dt)dxα ∧ dxi1 ∧ · · · ∧ dxik−1
α 0 ∂xα
e ∫1
d(Iw)(p) = d( fdt)dxi1 ∧ · · · ∧ dxik−1 =
0
∑ ∫ 1 ∂f
= ( dt)dxα ∧ dxi1 ∧ · · · ∧ dxik−1
α 0 ∂xα

e daı́ d(Iw) + I(dw) = 0 valendo a identidade , como querı́amos provar .

⋆ Teorema 4 (Lema de Poincaré). Seja M uma variedade diferenciável contrátil


e w uma forma em Λk (M) com dw = 0 (a forma é fechada), então w é exata, isto
é, existe uma forma α em Λk−1 (M) tal que dα = w.
Toda forma fechada numa variedade contrátil é exata.

ê Demonstração. Temos que H(p, 1) = p e H(p, 0) = p0 pela definição da


função H, temos ainda it (p) = (p, t) portanto i1 (p) = (p, 1), i0 (p) = (p, 0) disso segue
que
H ◦ i 0 = p0 ∈ M

H ◦ i1 = identidade.

Então
w = (H ◦ i1 )∗ w = i∗1 (H∗ w) = i∗1 w

lembrando que H∗ w = w por definição e a propriedade (H ◦ i1 )∗ = i∗1 H∗ por


propriedade já vista, temos também que

0 = (H ◦ i0 )∗ w = i∗0 (H∗ w) = i∗0 w

como dw = 0 obtemos que

dw = d(H∗ w) = H∗ dw = 0
1.6. LEMA DE POINCARÉ 57

onde usamos a propriedade d(f∗ w) = f∗ dw, pelo lema anterior temos

i∗1 w − i∗0 w = d(Iw) + I(|{z}


dw )
|{z} |{z}
w 0 0

o que implica d(Iw) = w logo tomando α = Iw temos

d(α) = w.

$ Corolário 13. Toda forma fechada, de grau qualquer r, num aberto convexo
é exata.

Z Exemplo 18. Uma forma de grau > 1 numa superfı́cie simplesmente conexa
pode ser fechada sem ser exata, como exemplo o elemento de volume de uma
superfı́cie compacta orientada.

b Propriedade 41. Sejam f, g : M → N aplicações C∞ - homotópicas, para toda


forma diferencial fechada w ∈ Λr (N) existe α ∈ Λr−1 (M) tal que

g∗ w − f∗ w = dα.

ê Demonstração.

b Propriedade 42. Sejam M, N superfı́cies compactas orientadas de mesma


dimensão m, de bordo vazio. Se as aplicações f, g : M → N de classe C∞ são
homotópicas então ∀ forma diferencial fechada w de grau m e classe C∞ em N,
tem-se
∫ ∫

f w= g∗ w
M M

ê Demonstração. Existe α ∈ Λm−1 (M) tal que g∗ w − f∗ w = dα portanto


∫ ∫ ∫ ∫
∗ ∗ ∗ ∗
g w− f w= g w−f w= dα = 0 ⇒
M M M M
∫ ∫
g∗ w = f∗ w.
M M
58 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

1.7 Teorema da divergência e teoremas de Green

⋆ Teorema 5 (Teorema da divergência). Seja F : Rn → Rn um campo vetorial


sobre Rn de classe C1 em M ⊂ Rn , região fechada, conexa, simplesmente conexa
de dimensão n, então

∫ ∫
div(F)dv = < F, N > ds
M ∂M

onde ∂M é a fronteira de M e N(r) é o vetor unitário que aponta para fora


da superfı́cie ∂M no ponto r ∈ ∂M.

ê Demonstração.

⋆ Teorema 6 (Primeira identidade de Green). Sejam g : R3 → R, f : R3 → R


funções difrenciáveis e M3 ⊂ R3 uma variedade diferenciável compacta com bordo
∂M3
então vale

∫ ∫ ∫
< ∇f, ∇g > dv + 2
f∇ gdv = f < ∇g, N > ds
M M ∂M

onde dv é o elemento de volume de M, ds é o elemento de área de ∂M, N é


o vetor unitário normal de ∂M

∇2 f = fxx + fyy + fzz .

∂f(a)
Estamos simbolizando ∇f = ( ) ,como o gradiente da função f (vetor cujos
∂xk
componentes são derivadas parciais) .

ê Demonstração.
No teorema da divergência
∫ ∫
div(F)dv = < F, N > ds
M ∂M
tomamos F = f∇g, o que garante
∫ ∫
div(f∇g)dv = < f∇g, N > ds
M ∂M
1.7. TEOREMA DA DIVERGÊNCIA E TEOREMAS DE GREEN 59

agora usamos a identidade conhecida para divergente

div(f⃗h) =< ∇f, ⃗h > +fdiv(⃗h)

tomando ⃗h = ∇g, na identidade anterior, segue

div(f∇g) =< ∇f, ∇g > +fdiv(∇g) =

agora usando que div(∇g) = ∇2 g o laplaciano, chegamos finalmente em

div(f∇g) =< ∇f, ∇g > +f∇2 g

substituindo essa expressão na integral e usando linearidade dela, tem-se


∫ ∫ ∫
< ∇f, ∇g > + 2
f∇ gdv = f < ∇g, N > ds
M M ∂M
observe que também usamos < f∇g, N >= f < ∇g, N > propriedade de produto
interno, pois f assume valor real (escalar) .

⋆ Teorema 7 (Segunda identidade de Green). Nas condições da primeira iden-


tidade, temos

∫ ∫
2
f∇ g − g∇ fdv =2
f < ∇g, N > −g < ∇f, N > ds.
M ∂M

ê Demonstração. Pela primeira identidade de Green, temos que


∫ ∫ ∫
< ∇f, ∇g > dv + 2
f∇ gdv = f < ∇g, N > ds
M M ∂M
substituindo o papel de f e g, tem-se
∫ ∫ ∫
< ∇f, ∇g > dv + 2
g∇ fdv = g < ∇f, N > ds
M M ∂M
, onde usamos que < ∇f, ∇g >=< ∇g, ∇f > , subtraindo a primeira da segunda
chegamos em
∫ ∫
2
f∇ g − g∇ fdv = 2
f < ∇g, N > −g < ∇f, N > ds
M ∂M

como querı́amos demonstrar.


60 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

1.8 Introdução a teoria do potencial em R3

m Definição 65 (Função harmônica). Uma função diferenciável g : R3 → R é


dita ser harmônica em B ⊂ R3 se ∇2 g(p) = 0 ∀ p ∈ B.

b Propriedade 43. Seja M ⊂ R3 uma região limitada com fronteira regular se


g1 e g2 são harmônicas em M e g1 = g2 em ∂M então g1 = g2 em M.

ê Demonstração. Tomamos a primeira identidade de Green com f = g = g1 −g2 ,


então ficamos com

∫ ∫ ∫
< ∇g1 −g2 , ∇g1 −g2 > dv+ g1 −g2 ∇ (g1 − g2 ) dv =
2
(g1 − g2 ) < ∇g1 −g2 , N > ds = 0
M M | {z } ∂M | {z }
0 0

portanto ∫
< ∇(g1 − g2 ), ∇(g1 − g2 ) > dv = 0
M

por isso |∇(g1 − g2 )| = 0 o que implica g1 = g2 + c em M mas como g1 = g2 em ∂M,


então c = 0 e vale g1 = g2 em M.

m Definição 66. Sejam g : R3 → R diferenciável, M ⊂ R3 uma região limitada


com fronteira regular, N vetor normal de ∂M, definimos

∂g
=< ∇g, N > .
∂N

b Propriedade 44. Sejam g : R3 → R diferenciável, g harmônica em M ⊂ R3


uma região limitada com fronteira regular, N vetor normal de ∂M, se

∂g
=0
∂N

em ∂M, então g é constante em M.


1.8. INTRODUÇÃO A TEORIA DO POTENCIAL EM R3 61

ê Demonstração. Usamos a primeira identidade de Green


∫ ∫ ∫
< ∇f, ∇g > dv + 2
f∇ gdv = f < ∇g, N > ds
M M ∂M
com f = g harmônica e < ∇g, N >= 0, isso implica
∫ ∫ ∫
< ∇g, ∇g > dv + g ∇ g dv =
2
g < ∇g, N > ds = 0
M M
|{z} ∂M
| {z }
0 0

então novamente |∇g| = 0 ⇒ ∇g = 0 em M e daı́ g = c uma constante .

b Propriedade 45. Se g1 e g2 são harmônicos em M e

∂g1 ∂g2
= ∈ ∂M
∂N ∂N
então g1 = g2 + c ∈ M.

ê Demonstração. Por definição temos que


∂(g1 − g2 )
< g1 , N >=< g2 , N >⇒< g1 − g2 , N >= 0 =
∂N
e também ∇2 (g1 − g2 ) = 0 por linearidade, então pelo resultado anterior aplicado a
função g1 − g2 temos que g1 − g2 = c em M e daı́ g1 = g2 + c ∈ M como querı́amos
demonstrar.

b Propriedade 46. Se g é harmônica em M então


∂g
ds = 0.
∂M ∂N

ê Demonstração. Tomamos f = 1 e g = g na primeira identidade de Green, daı́


∇f = 0, ∇2 g = 0, daı́
∫ ∫ ∫
0= < ∇f, ∇g > dv + f ∇ g dv =
2
f < ∇g, N > ds
|{z}
M
| {z } M
|{z} ∂M
0 0 1
portanto

< ∇g, N > ds = 0
∂M
como querı́amos demonstrar.
62 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

Z Exemplo 19. A função f : R 3


\ {0} → r com f(x, y, z) =
1
1 é
(x2 + y2 + z2 ) 2
harmônica .
Vamos mostrar que

∂2 f ∂2 f ∂2 f
+ + =0
∂x2 ∂y2 ∂z2
por simetria, vamos calcular apenas uma das derivadas parciais.

∂f −x
= 3
∂x (x2 + y2 + z2 ) 2
onde aplicamos regra da cadeia, agora derivamos novamente em relação à x
aplicando regra da cadeia e derivada do produto, obtemos

∂2 f −1 3 x2
= 3 + 5 =
∂x2 (x2 + y2 + z2 ) 2 (x2 + y2 + z2 ) 2

multiplicamos o numerador e denominador da primeira fração por (x2 + y2 + z2 ) =


2 5
(x2 + y2 + z2 ) 2 , daı́ seu denominador se torna (x2 + y2 + z2 ) 2 e podemos somar as
frações resultando em
2x2 − y2 − z2
= 5 .
(x2 + y2 + z2 ) 2
As outras derivadas parciais são similares, por simetria, então o laplaciano é

2x2 − y2 − z2 2y2 − x2 − z2 2z2 − y2 − x2


∇2 f = 5 + 5 + 5 =0
(x2 + y2 + z2 ) 2 (x2 + y2 + z2 ) 2 (x2 + y2 + z2 ) 2

os termos se anulam, logo a função é harmônica.

⋆ Teorema 8 (Teorema do valor médio para funções harmônicas). Seja f


harmônica na região Br = {p ∈ R3 | |p − p0 |2 ≤ r2 } cuja borda é a esfera Sr
com centro em p0 , então


1
f(p0 ) = fds.
4πr2 sr
1.8. INTRODUÇÃO A TEORIA DO POTENCIAL EM R3 63

ê Demonstração. Usamos a segunda identidade de Green


∫ ∫
2
f∇ g − g∇ fdv = 2
f < ∇g, N > −g < ∇f, N > ds
M ∂M
1
com f = f e g = na região M = Br \ Bp , r > p , f e g são harmônicas (g pelo
r
exemplo que calculamos anteriormente), então
∫ ∫
∇ f dv =
2
f∇ g −g |{z} 2
f < ∇g, N > −g < ∇f, N > ds = 0
M
| {z } ∂M
0 0
por isso
∫ ∫
f < ∇g, N > −g < ∇f, N > ds = f < ∇g, N > −g < ∇f, N > ds =
Sp Sr

∂r−1 ∂r−1 1
como = = − 2 usando a relação de que se f é harmônica então
∫ ∂N ∂r r
< f, n > ds = 0
∂M

∫ ∫ ∫ ∫
1 1 1 1
=− f 2 ds − < ∇f, N > ds = − f 2 ds − 2 < ∇f, N > ds ⇒
Sp p p Sr r r Sr
Sp
| {z } | {z }
0 0
∫ ∫ ∫ ∫
1 1 1 1
fds = 2 fds ⇒ fds = fds.
p2 Sp r Sr 4πp2 Sp 4πr2 Sr

Tomando p suficientemente pequeno como f é continua, f tende à f(p0 ), por


continuidade, com p pequeno f ≃ f(p0 ) ∈ Sp , logo
∫ ∫
1 f(p0 ) f(p0 )4πp2
fds = ds = = f(p0 )
4πp2 Sp 4πp2 Sp 4πp2
portanto segue que

1
fds = f(p0 )
4πr2 Sr

como querı́amos demonstrar .

⋆ Teorema 9 (Princı́pio do máximo). Seja f uma função harmônica não cons-


tante, numa região limitada e fechada M ⊂ R3 (M é união de um conjunto aberto
conexo limitado com sua fronteira que não é necessariamente regular). Então f
64 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

atinge o máximo e o mı́nimo na borda ∂M de M .

ê Demonstração. f é função contı́nua definida em compacto, logo atinge


máximo e mı́nimo .
Suponha que f possui um máximo em um ponto p ∈ M \ ∂M e considere uma
bola Br (p) ⊂ M \ ∂M com centro em p, vale f(p) ≥ f(q)∀ q ∈ Br . Br é um aberto
conexo.
Seja o conjunto
A = {x ∈ Br | f(x) = f(p)}

tal conjunto é fechado por continuidade de f, vamos mostrar que A também é aberto
em Br , daı́ por conexidade deve valer A = Br . Seja z0 ∈ A e l > 0 tal que Bl (z0 ) ⊂ Br ,
escolha b ∈ Bl (z0 ), tomamos s = |b − z0 | a propriedade do valor médio garante
∫ 2π
1
f(z0 ) = f(z0 + seiθ )dθ
2π 0

( por escolha de parametrização em [0, 2π) ) o integrando é contı́nuo e menor que


f(z0 ) = f(p) (que é o máximo), então para a igualdade se verificar, devemos ter
f(z0 + seiθ ) = f(z0 ), ∀ θ ∈ [0, 2π), com θ = 0 temos f(z0 ) = f(z0 + s) = f(b), como b foi
tomado arbitrário em Bl (z0 ) temos Bl (z0 ) ⊂ A, logo A é aberto e fechado, por isso
A = Br e a função assume valor constante na bola, o que é absurdo, pois M pode ser
coberta por um número finito de bolas ( compacidade) e f é contı́nua . Então o ponto
máximo não pode ser atingido no interior e deve portanto ser atingido na fronteira.

1.9 O plano projetivo

m Definição 67 (O plano projetivo). O plano projetivo real ou apenas plano


projetivo, denotado por RP2 é o conjunto de todas as retas que passam pela
origem no espaço Euclidiano tridimensional R3 , cada reta que passa pela origem
é um ponto no plano projetivo. Podemos ver essas construções como tomar R3 ,
remover a origem (0, 0, 0) e considerar dois pontos (x, y, z), (x ′ , y ′ , z ′ ) de R3 \{0, 0}
como equivalentes ⇔ eles estão sobre a mesma reta pela origem, que equivale a
existência de uma constante k ̸= 0 tal que x ′ = kx, y ′ = ky, z ′ = kz.
1.9. O PLANO PROJETIVO 65

Por exemplo (1, 1, 1) e (2, 2, 2) são pontos equivalentes. A um ponto do plano


projetivo chamamos de ponto projetivo.
Denotamos um ponto projetivo usando colchetes, por exemplo o ponto projetivo
contendo os pontos de R3 , (1, 1, 1) e (2, 2, 2) pode ser denotado por [1, 1, 1] , [2, 2, 2],
ou em geral [k, k, k], k ̸= 0.
Vejamos outra visualização do plano projetivo. Começamos tomando uma
esfera de raio 1, como na figura,

Figura 1.1:

cada reta pela origem gera um diâmetro nessa esfera que toca a esfera em
exatamente dois pontos antipodais (p, q, r) e (−p, −q, −r). Então podemos pensar
no plano projetivo como conjunto de pares de todos os pontos antipodais na
esfera unitária e o ponto projetivo [p, q, r] correspondendo há dois pontos (p, q, r)
e (−p, −q, −r) de R3 na esfera, tal identificação fornece uma relação natural, "dois
para um"da esfera no plano projetivo, que envia os pontos (p, q, r) e (−p, −q, −r)
no ponto projetivo [p, q, r].
Então podemos considerar o plano projetivo como composto de pares de pontos
na esfera.
Infelizmente, não é considerado existir uma maneira natural de pensar exa-
tamente metade dos pontos da esfera. Poderı́amos pensar certamente nos pontos
66 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

[p, q, r] com r ̸= 0 estando no hemisfério superior, assim poderı́amos simplesmente


associar cada ponto projetivo [p, q, r] a um dos pontos (p, q, r) ou (−p, −q, −r) ,
na esfera, que tivesse a terceira coordenada positiva. Porém se r = 0, temos um
problema, o ponto projetivo [p, q, r] é associado aos pontos (p, q, 0) e (−p, −q, −0)
da esfera, e não temos a princı́pio modo satisfatório de escolher tais pontos.
Então procedemos da seguinte maneira. Representamos o plano projetivo como
o hemisfério superior junto de pontos antipodais no equador (r = 0) identificados.
Então mapeamos espaço no disco unitário projetando verticalmente para baixo o
hemisfério superior usando o mapa (x, y, z) → (x, y, 0), como mostrado na figura.

Figura 1.2:

Então representamos o plano projetivo como um disco com pontos antipodais


p e p ′ na borda identificados. Finalmente projetamos o disco radialmente em um
quadrado que o circunscreve. Isso nos permite representar o plano projetivo como
um quadrado com pontos diagonalmente opostos p e p ′ na borda identificados,
como na figura.
1.9. O PLANO PROJETIVO 67

Figura 1.3:

Esticando o quadrado para um retângulo obtemos a descrição do plano proje-


tivo como um retângulo com lados opostos identificados em direções opostas.

$ Corolário 14. O plano projetivo é não orientável, pois ele contém uma faixa
de Mobius. Considerando a representação de RP2 como um retângulo com lados
opostos identificados em direçõs opostas como na figura. Quando identificamos
os lados denotados por b a tira sombreada se torna uma faixa de mobius, então o
plano projetivo é não orientável, pois contém uma faixa de mobius (uma superfı́cie
que possui uma faixa de mobius é não orientável) .

$ Corolário 15. Qualquer caminho Γ juntando dois pontos antipodais na es-


fera define um caminho fechado em RP2 que satisfaz o requerimento de ser não
contrátil, não sendo homotópico ou se retraindo a um ponto .
68 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO EM VARIEDADES

Figura 1.4:

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