Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Edição Brasileira
© Editora Apostolado da Divina Misericórdia
www.misericordia.org.br/editora
editora@misericordia.org.br
Gestão Editorial:
Pe. Silvio R. Roberto, MIC
Tradução:
Guilherme Ferreira Araújo
Primeira Edição:
Agosto de 2019
À minha comunidade,
Os Marianos da Imaculada Conceição
e todos os nossos membros leigos e Auxiliares Marianos.
Que possamos amar ainda mais a Imaculada!
“Todos deveriam ter uma verdadeira devoção a Maria e confiar
suas vidas ao seu cuidado maternal”.
Concílio Vaticano II
Agradecimentos
Há mais ou menos três semanas dei uma conferência sobre
temas espirituais para os novos membros de minha comunidade
religiosa: os Marianos da Imaculada Conceição. Falei sobre nosso
carisma, missão e identidade e expliquei que, por sermos uma
comunidade particularmente ativa, temos de nos dedicar ao trabalho
apostólico por Cristo e pela Igreja. Então perguntei a eles: “De onde
deveria vir nosso zelo por esse trabalho?” Um deles respondeu: “De
nosso amor por Jesus Cristo.” É claro que ele estava absolutamente
certo, mas fui além disso. Expliquei o seguinte: “Como Marianos da
Imaculada Conceição, uma das fontes fundamentais de nossa
energia e zelo também deveria ser um grande amor por Maria
Imaculada.” Em seguida, fiz uma confissão. Disse: “Rapazes, por
favor, rezem por mim. Apesar de ter dito isso a vocês, também
preciso crescer nesse ponto. Tenho um profundo amor por Jesus e
tenho certeza de que Maria tem muito a ver com isso, mas preciso
de um estímulo em minha devoção a ela.”
Menciono essa história porque, em razão de seu profundo amor
por Maria, essas novas vocações marianas têm rezado por mim.
Creio nisso porque comecei a escrever este livro menos de um mês
após ter pedido que rezassem por mim. Não consigo explicar o que
ocorreu; sei apenas que há uma semana acordei com o plano
completo deste livro em minha mente e em meu coração.
Providencialmente, isso aconteceu exatamente antes do início de
minha semana de férias. Portanto, tenho escrito sem parar desde
então.
O que mais me surpreende em tudo isso é que, embora eu tenha
levado dez anos para finalizar meu último livro, Consoling the Heart
of Jesus [Consolando o Coração de Jesus], escrevi metade deste em
menos de uma semana. Por essa razão, sou muito grato aos novos
membros de nossa comunidade. Embora as orações deles tenham
estragado as minhas férias, estou feliz porque o meu zelo morno por
Maria está sendo reavivado. Espero que este livro – escrito com
pressa, mas com cuidado – inflame outras almas mornas para que
tenham um amor maior por Maria.
Antes de finalizar, quero agradecer às outras pessoas cujas
orações e cujo encorajamento têm me ajudado neste projeto,
particularmente a Maria Imaculada, Santa Bernadete Maria Allain-
Dupre, FM, Pe. Gregory Staab, OMV, e Erin Flynn. Também faço um
agradecimento especial àqueles que aceitaram revisar o texto,
particularmente a Sarah Chichester, que já fez muitos comentários e
sugestões úteis. Finalmente, agradeço ao Pe. Angelo Casimiro, MIC,
e a Curtis Bohner por terem ajudado a elaborar a capa, a Kathy
Szpak, que fará o trabalho de editoração e à equipe da editora, que
cuidará da edição: David Came e Andy Leeco. Agradeço à minha
família religiosa – Congregação dos Padres Marianos da Imaculada
Conceição – por ter me dado a oportunidade de escrever e publicar
este retiro. Finalmente, agradeço profundamente a Deus por seus
inúmeros favores, sendo a nossa Mãe Imaculada um dos maiores
deles.
Por que “Amanhecer Glorioso”? Quando você viu este livro pela
primeira vez, talvez tenha se perguntado: “Por que ele se chama 33
Dias para um Amanhecer Glorioso?” Agora já deve estar claro a que
se referem os 33 dias – aos dias de preparação –, mas talvez ainda
não esteja tão clara a parte do título que se refere ao “amanhecer
glorioso”. Escolhi essa parte do título porque creio que ela traduz da
melhor forma possível o que é realmente a consagração mariana: um
novo modo de vida em Cristo. O ato de se consagrar a Jesus por
Maria marca o início de um dia gloriosamente novo, um novo
amanhecer, uma nova manhã na jornada espiritual de uma pessoa. É
um recomeço que muda tudo.
Experimentei essa manhã gloriosamente nova em minha jornada
espiritual quando me consagrei a Maria[4] pela primeira vez no dia 8
de dezembro de 1995, no final do meu semestre de calouro na
faculdade. No início daquele semestre, um amigo me havia dado
uma cópia do Tratado da Verdadeira Devoção..., de São Luís Maria
Grignion de Montfort. Quando li o texto da contracapa do livro,
segundo o qual a obra apresentava um caminho “curto, fácil, seguro
e perfeito” para alguém se tornar santo, fiquei entusiasmado. Pensei:
“Este é o tipo de caminho de que preciso!” Então, comecei a lê-lo,
embora estivesse sobrecarregado com lições de casa. Antes mesmo
de chegar à metade do livro tomei a firme decisão de fazer a
consagração. Após o término da leitura, escolhi a festa mariana mais
próxima, fiz os 33 dias de preparação e me consagrei com imenso
fervor. Aquele dia mudou minha vida por completo. Ao me lembrar
dele hoje posso realmente dizer que tudo mudou. Tudo se renovou.
Foi um amanhecer gloriosamente novo em minha caminhada com
Cristo, desde então acompanhado também por Maria.
São João Paulo II diz que a consagração a Maria teve um efeito
semelhante nele. Ele inclusive diz que a leitura do livro de São Luís
foi um “ponto de inflexão” em sua vida.[5] Na verdade, a consagração
a Jesus por Maria foi tão importante em sua vida, que ele adotou
como lema papal as próprias palavras de São Luís que sintetizam a
consagração total a Jesus por Maria: “Totus Tuus” (“Todo Teu”). Além
disso, dizem que o Papa recitava diariamente a versão longa da
oração de consagração escrita por São Luís.
Conheci muitas pessoas que se consagraram a Maria, e elas se
identificam completamente com as palavras do Papa sobre ela ser
um ponto de inflexão na vida – ou, como disse, “uma manhã
gloriosamente nova” na vida espiritual de alguém. Ela realmente faz
diferença. Ela realmente é o “caminho mais seguro, mais fácil, mais
curto e mais perfeito” para chegar à santidade, e isso me leva a
apresentar mais uma razão pela qual decidi incluir “Amanhecer
Glorioso” no título.
O amanhecer de gloriosos novos santos. Como disse na
introdução de Consoling the Heart of Jesus, São Luís de Montfort
previu duas coisas interessantes sobre o Tratado... Em primeiro
lugar, ele disse que depois de sua morte demônios furiosos
esconderiam o manuscrito não publicado a fim de que ninguém
pudesse lê-lo – e, na verdade, após a morte dele o manuscrito ficou
perdido por mais de um século. O santo escreveu: “Vejo claramente
que bestas ferozes virão para destroçar este pequeno livro com seus
dentes diabólicos... ou ao menos para escondê-lo na escuridão e no
silêncio de um cofre, para que ele não possa aparecer”.[6]
São Luís também disse que seu manuscrito seria finalmente
descoberto e publicado, e que sua espiritualidade mariana ajudaria a
formar os maiores santos da história da Igreja. Além disso, sua
profecia sobre esses santos não dizia que seriam poucos, mas que
haveria um verdadeiro exército desses grandes santos: “Essa visão
me encoraja e me dá esperança de um grande triunfo, isto é, de que
um enorme esquadrão de valentes e corajosos soldados de Jesus e
Maria, de ambos os sexos, combaterão o mundo, o diabo e a
natureza corrompida naqueles perigosíssimos tempos que se
aproximam”.[7]
Nessa passagem São Luís descreve esses “perigosíssimos”
tempos que se aproximavam. Não creio que ninguém duvidaria que
vivemos numa época perigosa. Na verdade, os tempos em que
vivemos são marcados, sob muitos aspectos, por males sem
precedentes. Mas não se preocupe, porque tenho uma boa notícia:
em épocas de males sem precedentes Deus quer conceder graças
sem precedentes. Pois, como diz São Paulo: “Onde abundou o
pecado, superabundou a graça” (Rm 5,20). E em nossa época, uma
das maneiras por meio das quais Deus concede uma graça
superabundante é pela formação de alguns dos maiores santos da
história. São Luís descreve esses santos da seguinte maneira: “O
Altíssimo, com sua Santíssima Mãe, formará para Si grandes santos
que superarão a maioria dos outros santos em santidade, tal como
os cedros do Líbano ultrapassam em estatura pequenos arbustos”.[8]
Como isso pode ser possível? Os santos que nos precederam
com certeza são impressionantes. Além disso, a virtude e a
santidade das pessoas em nossa época não são exatamente
excepcionais – inclusive as deste autor. Porém, isso é que é incrível.
Deus quer formar santos a partir de almas pequenas. Ele quer formar
santos segundo o padrão da Imaculada Conceição de Maria. Veja
isso por este ângulo: a Imaculada Conceição de Maria, a graça por
meio da qual ela foi concebida sem a mancha do pecado original, é
um incrível dom de misericórdia. É particularmente notável que Maria
não tenha feito nada para merecer essa graça. Foi um dom completo
– obtido pelos méritos de seu Filho. E durante o período em que foi
um embrião no ventre de sua mãe, Santa Ana, Maria não rezava o
Rosário a fim de receber esse dom. Ao contrário, ela o recebeu no
momento em que foi concebida, no exato momento em que passou a
existir. Portanto, ela não fez nada para merecê-lo. Foi Deus quem
teve a iniciativa de lhe conceder esse dom maravilhoso e
completamente gratuito.
O mesmo acontece conosco. Deus oferece às pessoas de nossa
época um caminho poderoso e eficaz para que se tornem grandes
santos, e isso não acontece por sermos bons. Ao contrário, isso
ocorre porque vivemos em tempos perigosos, e Deus quer que sua
misericórdia triunfe por meio de Maria. Assim, Ele nos dá, almas
pobres e pecaminosas, um dom espetacular: aquilo que São Luís
chama de “segredo” pouco conhecido:
Ó pobres filhos de Maria, a vossa fraqueza é extrema,
grande a vossa inconstância e bem corrompida a vossa
natureza. Fostes tirados, é certo, do mesmo barro corrompido
que os filhos de Adão e Eva. Mas não desanimeis por isso.
Consolai-vos e alegrai-vos! Eis que vos ensino este segredo
desconhecido da maioria dos cristãos, até mesmo dos mais
piedosos.[9]
O que é esse “segredo” abençoado? É a espiritualidade da
verdadeira devoção a Maria, uma espiritualidade de total
consagração a Jesus por Maria. É disso que este retiro trata. Antes
de começarmos, explicarei resumidamente o que é a consagração
mariana (a compreensão dela ficará mais profunda ao longo de
nosso retiro).
O que é a consagração mariana? Segue abaixo o resumo da
consagração mariana que apresentei em meu livro Consoling the
Heart of Jesus. Se você já o tiver lido, sinta-se à vontade para pular
esta seção. Porém, não há mal algum em revisá-lo, certo?
Para que possamos entender adequadamente a essência da
consagração total a Jesus por Maria, teremos de refletir,
primeiramente, sobre um ponto importante: Jesus quer incluir todos
nós em sua obra salvífica. Noutras palavras, Ele não somente nos
redime e espera que então cruzemos os braços e relaxemos. Ao
contrário, Ele nos põe a trabalhar; quer que todos nós trabalhemos
na vinha de seu Pai, de um modo ou de outro. Não sabemos por que
Ele simplesmente não estalou seus dedos e ordenou as coisas a fim
de que todas as pessoas escutassem e compreendessem
individualmente o Evangelho por meio de alguma revelação mística e
privada. O que realmente sabemos é que Jesus confia em outras
pessoas para disseminar seu Evangelho e delega a seus discípulos
a tarefa de pregá-lo ao mundo inteiro (Mt 28,19-20). Basicamente,
Ele diz a todos nós: “Mãos à obra!” Naturalmente, que Deus queira
nossa participação em sua obra salvífica é um imenso dom e um
glorioso privilégio. Em verdade, não há trabalho mais importante a
ser feito.
Embora todas as pessoas sejam chamadas a colaborar com a
grande obra de salvação, nem todas desempenham o mesmo papel.
Por exemplo, São Paulo diz: “Os ministérios são diversos, mas um
só é o Senhor. Há também diversas operações, mas é o mesmo
Deus que opera tudo em todos” (1 Cor 12,5-6). Ele prossegue
dizendo que Deus escolheu para a obra da salvação “primeiramente
os apóstolos, em segundo lugar os profetas, em terceiro lugar os
doutores, depois os que têm o dom dos milagres, o dom de curar, de
socorrer, de governar” (1 Cor 12,28). Deus escolheu cada um de nós
para uma tarefa especial em sua grande obra, independentemente
de quem somos.
Dentre as diversas funções delegadas por Deus a seus filhos há
uma que é radicalmente mais importante do que todas as outras: a
função que Ele deu a Maria. Todos sabemos que Deus abençoou
Maria de um modo singular ao escolhê-la para conceber, portar e
nutrir Jesus Cristo, nosso Salvador. Mas temos consciência de que
sua tarefa abençoada não terminou depois que Jesus deixou a casa
e iniciou seu ministério público? Após os três anos da vida oculta de
Maria durante a vida pública de Jesus, Ele a inseriu novamente no
quadro de sua obra de salvação, em seu momento mais crucial: a
Paixão. Podemos dizer que naquele momento Ele revelou
completamente a função especial de Maria – a mesma que ela havia
iniciado 33 anos antes e que ainda continua.
Pouco antes de morrer, Jesus revelou plenamente a função
especial de Maria. Isso aconteceu quando Ele, do alto da Cruz, olhou
para baixo e disse a Maria, que estava ao lado de São João: “Mulher,
eis aí teu filho”, e a João: “Eis aí tua mãe” (Jo 19,26-27). Naquele
momento, Jesus nos deu um de seus maiores dons: deu-nos por
mãe sua própria mãe. É claro que Maria não é nossa mãe biológica.
Ela é nossa mãe espiritual. Em outras palavras, assim como há
cerca de 2 mil anos sua missão foi dar à luz o Cristo, alimentá-lo,
nutri-lo, ajudá-lo a crescer a se tornar um homem, do mesmo modo,
desde quando aceitou se tornar a mãe de Jesus até o fim dos
tempos, a missão de Maria passou a ser gerar espiritualmente os
cristãos, alimentá-los e nutri-los com a graça, bem como ajudá-los a
crescerem para atingir a plena estatura em Cristo. Em suma, a tarefa
de Maria é nos ajudar a crescer em santidade. Sua missão é fazer
com que nos tornemos santos.
Alguém poderia dizer: “Espere um pouco, não é tarefa do Espírito
Santo fazer com que nos tornemos santos?” Com certeza, o Espírito
Santo é o Santificador. Ele é quem nos transforma em nosso
Batismo, para que deixemos de ser meras criaturas e nos tornemos
membros do Corpo de Cristo; e Ele é quem nos ajuda na nossa
progressiva transformação em Cristo pela contínua conversão.
Formidável. Então, qual é o papel de Maria nessa história?
Ela é a esposa do Espírito Santo. Na Anunciação, o anjo Gabriel
disse a Maria que ela conceberia um filho e que o Espírito Santo a
envolveria com sua sombra (Lc 1,31-35). Quando Maria diz: “Eis aqui
a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc
1,38), compreendemos de forma clara que ela é a esposa do Espírito
Santo, pois naquele momento ela deu ao Espírito Santo permissão
para conceber Cristo em seu ventre. Assim, naquele momento o já
insondavelmente profundo vínculo entre Maria e o Espírito Santo, o
qual fora estabelecido (no tempo) desde o primeiro momento de sua
Imaculada Conceição, foi revelado como nada menos que uma união
marital na qual dois se tornam um (Gn 2,24). Por causa dessa união,
o Espírito Santo se apraz em trabalhar e agir por meio de sua
esposa, Maria, para a santificação da espécie humana.
Naturalmente, para fazer isso Ele não precisava estar tão unido a
Maria. Trata-se de uma escolha livre dele (e também do Pai e do
Filho) com a qual Ele se satisfaz.
Portanto, a grande tarefa dada por Deus a Maria, em união com o
Espírito Santo e por meio de seu poder, é fazer com que cada ser
humano se torne “outro Cristo”, isto é, unir todas as pessoas ao
Corpo de Cristo e fazer com que cada uma delas se torne um
membro plenamente maduro desse Corpo.[10] Portanto, cada ser
humano é convidado a repousar no ventre de Maria e, pelo poder do
Espírito Santo, a se tornar de modo mais perfeito a própria imagem
de Cristo. Se quisermos nos tornar mais plenamente Cristo, então
nós necessitamos pertencer mais plenamente a Maria. Quando nos
dirigimos a ela e com ela permanecemos, permitimos que ela cumpra
sua missão em nós. Permitimos que nos transforme em outros
Cristos, em grandes santos. Mas como fazemos isso? Como
podemos pertencer a Maria de modo mais pleno e permitir que ela
cumpra em nós sua missão? É simples. Basta darmos o nosso “sim”,
tal como ela o fez.
Maria tem um profundo respeito pela liberdade humana. Ela sabe,
por sua própria experiência em Nazaré, o que um “sim” dado a Deus
livremente é capaz de fazer (Lc 1,38). Por isso ela não faz nenhum
tipo de pressão para lhe darmos nosso “sim”. É claro que ela sempre
se preocupa com seus filhos, mas jamais nos forçará a ter uma
relação mais profunda com ela. Não há dúvida de que ela nos
convida a aprofundar essa relação e espera pacientemente que
aceitemos seu convite, mas não deixa de ser respeitosa. Apesar
disso, se conseguíssemos ver o anseio por trás de seu silêncio,
diríamos sim a ela mesmo que fosse para deixá-la aliviada. Na
verdade, se lhe dermos o nosso “sim”, ela ficará mais que aliviada.
Ficará feliz, imensamente feliz. E quanto mais o nosso “sim” for
pleno, mais alegre ela ficará. Pois nosso “sim” dá a ela a liberdade
para completar em nós sua obra, a liberdade de nos transformar em
grandes santos. Isso nos mostra qual é a essência da consagração
mariana.
Fundamentalmente, a consagração mariana significa dar a Maria
permissão total (o quanto pudermos) para que ela complete sua
tarefa maternal em nós, isto é, transformar-nos em outros Cristos.
Portanto, quando nos consagramos a Maria cada um de nós diz a
ela:
Maria, eu quero me tornar santo. Sei que você também quer
que eu me torne santo e que Deus lhe deu a missão de me
formar na santidade. Portanto, Maria, neste momento, neste dia,
escolho livremente dar-lhe permissão completa para que você
realize sua obra em mim junto com seu Esposo, o Espírito
Santo.
Tão logo ela vê que tomamos essa decisão, vem imediatamente
até nós e começa a realizar uma obra-prima da graça em nossas
almas. Ela continua essa obra enquanto não escolhemos
deliberadamente mudar nossa decisão de um sim para um não,
enquanto nós não revogamos nossa permissão e não a
abandonamos. Dito isto, devemos sempre nos esforçar para
aprofundar nosso “sim” a Maria. Porque quanto mais nós o
aprofundamos, mais ela pode realizar maravilhosamente suas obras
da graça em nossas almas.
Um dos aspectos mais importantes da consagração a Maria é o
fato de ela ser uma mãe bondosa. Ela torna suaves as lições da Cruz
e derrama em cada uma de nossas feridas seu consolo e seu amor
maternal. O caminho “mais certo, mais fácil, mais curto e mais
perfeito” para nos tornarmos santos é realmente ir até ela e lhe dar
permissão para fazer seu trabalho. É uma imensa alegria ser
consagrado a Jesus por Maria!
Agora estamos prontos para iniciar o retiro e aprender mais sobre
esse “segredo” abençoado e sobre o homem que o proclama de
modo tão vigoroso ao mundo: São Luís Maria Grignion de Montfort.
Primeira Semana
São Luís de Montfort
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Ajudai-me a fazer este retiro com generosidade e zelo.
2º dia
A influência de São Luís na Igreja
Há um episódio da vida de São Luís que expressa de modo
singular seu zelo, sobre o qual refletimos ontem. Na vila de
Pontchâteau, São Luís inspirou os camponeses a construírem um
grande monumento em homenagem à Paixão de Cristo em uma
colina próxima. Ao longo de 15 meses, centenas de camponeses
trabalharam voluntariamente para construí-lo. Ao término da obra,
percebia-se que o monumento tinha uma estrutura maciça e que era
o resultado de algo feito verdadeiramente com amor. Porém, um dia
antes de sua dedicação pelo bispo, São Luís soube que seus
inimigos haviam convencido o governo a destruir o monumento.
(Eles haviam mentido para as autoridades, dizendo que na verdade a
estrutura fora feita para ser um forte contra o governo.) Quando São
Luís recebeu a notícia frustrante, disse o seguinte aos milhares de
pessoas que haviam se reunido para a cerimônia de bênção do
monumento: “Esperávamos construir um calvário aqui. Construamo-
lo em nossos corações. Louvado seja Deus.”
Devo dizer uma coisa importante sobre o trabalho do Senhor:
nem sempre ele sai de acordo com os nossos planos. Por exemplo:
São Luís com certeza havia planejado seu monumento a Cristo para
que durasse mais de um dia. Apesar disso, o santo aceitou
obedientemente a destruição de seu plano e louvou a Deus. Por
causa desse desapego em relação à sua vontade e desse amor à
vontade de Deus, São Luís se tornou um instrumento de Deus para a
realização de obras ainda mais grandiosas. Portanto, embora seu
monumento físico tenha sido destruído, ao fim e ao cabo seus
ensinamentos se tornaram um enorme edifício na Igreja, tendo
exercido grande influência em muitos Papas e na espiritualidade
católica. Na verdade, as obras apaixonadas de São Luís acabaram
dando frutos, mesmo que ele mesmo não os tenha visto.
Como estamos no início de nossa preparação para a
consagração a Jesus por Maria, examinemos algumas das
manifestações de apoio de vários Papas aos ensinamentos de São
Luís. Que o testemunho do apoio dos Papas fortaleça nossa
determinação em nossa jornada rumo ao Dia da Consagração e que
ele nos ajude a acreditar que nossa consagração dará realmente
muitos frutos em nossas vidas, ainda que não compreendemos o
modo como isso ocorrerá.
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Preparai-me para que eu me dedique plenamente à vivência
dessa verdadeira e sólida devoção.
3º Dia
A Consagração de São Luís de Montfort (1ª parte)
Muito bem, no primeiro dia desta semana nós pedimos um maior
zelo e paixão na realização de nossa preparação para a
consagração. Ontem, nós meditamos sobre a incrível influência que
a breve vida de São Luís exerceu sobre a Igreja. O poderoso
testemunho dos Papas deve ter inflamado nosso zelo e nos levado a
fazer a seguinte pergunta: “O que é essa doutrina incrivelmente
influente, pregada por um sacerdote que só viveu até os 43 anos de
idade?” É claro que se trata de sua doutrina sobre a consagração
mariana, mas o que ela significa exatamente?
Lembre-se do resumo da consagração mariana apresentado na
introdução a este retiro. Nele eu apresentei a consagração como
nosso “sim” dado a Maria, permitindo que ela complete em nós a
tarefa que Deus lhe deu: a de nos transformar em outros Cristos.
Isso é verdadeiro, mas não é tudo. São Luís enfatiza dois pontos
fundamentais de sua doutrina sobre a consagração mariana que
ampliam o que já lemos sobre ela. Os dois pontos são (1) a
renovação de nossas promessas de batismo e (2) uma oferta
particularmente íntima de nós mesmos a Maria. Veremos cada um
deles separadamente (um hoje e outro amanhã).
O dia de nosso Batismo é o mais importante de nossas vidas. Foi
o dia em que nós – criaturas pobres e pecadoras – fomos não
somente purificados do pecado, mas também recebemos a incrível
dignidade e honra de sermos transformados em filhos do Deus Todo-
Poderoso. Naquela feliz ocasião, antes de recebermos essa graça
maravilhosa, prometemos solenemente (ou, se éramos crianças,
outros prometeram em nosso nome) rejeitar Satanás; em seguida,
nós (ou outros em nosso nome) professamos nossa fé e
compromisso com Jesus Cristo. Desde então, em toda Páscoa
renovamos solenemente essa promessa e esse compromisso. Mas
nós os mantemos? Somos fiéis às nossas palavras? Não. Todos nós
pecamos. Infelizmente, todos nós cedemos às “pompas e obras” de
Satanás e rejeitamos Nosso Senhor, ao menos em pequenas coisas.
Por que isso acontece? A resposta, muito simples, é: por causa
do pecado original. Nós temos uma natureza caída e por isso
tendemos a pecar. Isso é verdade, mas São Luís nos convida a ir
mais fundo e fazer um exame de consciência. Se o fizermos,
descobriremos que a principal razão que nos leva a pecar é o
esquecimento de nossa promessa e de nosso compromisso com
Cristo no Batismo. São Luís afirma que se renovarmos pessoal e
sinceramente nossas promessas batismais e se as colocarmos nas
mãos de Maria, esse ato será de grande utilidade na vitória contra o
pecado. Portanto, ele faz dessa renovação das promessas batismais
um elemento essencial da oração de consagração. Na verdade, no
primeiro parágrafo da oração ele faz com que nos dirijamos a Maria e
da seguinte maneira:
Eu, [nome], infiel pecador, renovo e ratifico hoje, nas Vossas
mãos, as promessas do meu Batismo: renuncio para sempre a
Satanás, às suas pompas e suas obras, e dou-me inteiramente
a Jesus Cristo, a Sabedoria Encarnada, para segui-Lo, levando
a minha Cruz, todos os dias da minha vida. E a fim de lhe ser
mais fiel do que até agora tenho sido, escolho-Vos neste dia, ó
Maria Santíssima, na presença de toda a Corte Celeste, por
minha Mãe e Senhora.[14]
Portanto, São Luís nos leva a atacar a raiz do pecado – Satanás,
suas pombas e obras – e a renovar nosso compromisso com Cristo,
tudo isso por meio de Maria. Por que por meio dela? Porque Deus
pôs inimizade entre ela e Satanás (Gn 3,15), e este não consegue
suportá-la. Na verdade, de acordo com São Luís, Satanás a teme
não apenas mais do que aos anjos e santos, mas, em certo sentido,
ainda mais do que ao próprio Deus! Por quê? Porque, como ele diz,
Satanás, porque é orgulhoso, “sofre incomparavelmente mais, por
ser vencido e punido pela pequena e humilde escrava de Deus, cuja
humildade o humilha mais que o poder divino”.[15] Portanto, São Luís
nos apresenta um modo prático e eficaz de vencermos o pecado em
nossas vidas: renunciar formalmente a Satanás e recomendar-nos a
Cristo por Maria.
No último dia dessa semana falarei mais sobre o poder de Maria
sobre o mal. Amanhã refletiremos sobre o segundo elemento da
consagração de São Luís: a oferta particularmente íntima de nós
mesmos a Maria. Reflitamos sobre a promessa que fizemos em
nosso Batismo: rejeitar Satanás e amar e seguir Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Dai-me a graça de rejeitar Satanás e seguir Cristo ainda mais de
perto.
4º Dia
A Consagração de São Luís de Montfort (2ª parte)
Ontem eu disse que São Luís enfatiza dois pontos fundamentais
de sua doutrina sobre a consagração mariana: (1) uma renovação de
nossas promessas batismais e (2) uma oferta particularmente íntima
de nós mesmos a Maria. Falamos sobre a primeira ênfase ontem.
Agora vamos falar sobre a segunda, começando pela pergunta: “Por
que devemos nos entregar a Maria?”
Devemos nos entregar a Maria para imitarmos Nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo. Afinal, Ele não se entregou a Maria desde o
momento da Encarnação? Sim. E nós não somos chamados a imitar
Cristo? Sim. Mas Maria não é uma criatura? Sim, mas ela é única.
Maria é não apenas livre de pecado e inteiramente conformada à
vontade de Deus, mas em função de Sua vontade e desígnio – como
vimos na introdução – ela tem um papel especial em nossa
santificação. Portanto, devemos nos entregar à Mãe de Deus para
que ela nos ajude a nos tornarmos santos, outros Cristos. Devemos
dar-lhe nosso sim. Porém, São Luís leva isto um passo à frente. Seu
sim a Maria é particularmente profundo, é uma doação
especialmente íntima de si a Maria:
Esta devoção consiste, portanto, em entregar-se inteiramente
à Santíssima Virgem, a fim de, por ela, pertencer inteiramente a
Jesus Cristo. É preciso dar-lhe (1) nosso corpo, com todos os
seus membros e sentidos; (2) nossa alma, com todas as suas
potências; (3) nossos bens exteriores, que chamamos de
fortuna, presentes e futuros; (4) nossos bens interiores e
espirituais, que são nossos méritos, virtudes e nossas boas
obras passadas, presentes e futuras.[16]
O quarto ponto é o mais interessante. De acordo com São Luís,
esse aspecto de nossa consagração a Maria faz com que o dom de
nós mesmos que oferecemos a ela vai além até mesmo daquilo que
é exigido das pessoas que se oferecem a Deus por meio de votos
religiosos. Por exemplo: em virtude dos votos de pobreza, castidade
e obediência, uma religiosa não dá a Deus o direito de dispor da
graça de todas as suas boas obras, nem ela abre mão de seus
próprios méritos. Permita-me mostrar com mais clareza quão radical
é essa doação de si, ou seja, a consagração mariana.
Em primeiro lugar, com relação aos outros, se dermos a Maria o
direito de dispor das graças de nossas boas obras, não poderemos
aplicá-las incondicionalmente a quem quisermos. Por exemplo: se
faço essa oferta a Maria, não posso insistir em que as graças
advindas de uma doença que eu venha a oferecer sejam aplicadas à
pessoa que eu escolher. Em segundo lugar, com relação a nós, se
nos consagrarmos a Maria, quando morrermos não apareceremos
perante Deus revestidos dos méritos de nossas orações e boas
obras. Na verdade, apareceremos diante de Deus de mãos vazias,
porque teremos dado todos os nossos méritos a Maria.
Se a natureza radical dessa oferta lhe causou preocupação, fique
em paz. Amanhã veremos por que não devemos temer essa oferta e,
em verdade, por que ela é incrivelmente bela e por que ela vale a
pena. Até lá podemos refletir sobre a segunda parte da fórmula da
consagração mariana redigida por São Luís, a qual fala dessa oferta
íntima de nós mesmos a Maria:
E a fim de lhe ser mais fiel do que até agora eu tenha sido,
escolho-vos neste dia, ó Maria Santíssima, na presença de toda
a Corte Celeste, por minha Mãe e Senhora. Entrego-vos e
consagro-vos, na qualidade de escravo, o meu corpo e a minha
alma, os meus bens interiores e exteriores, e até o valor de
minhas boas obras passadas, presentes e futuras, deixando-Vos
direito pleno e inteiro de dispor de mim e de tudo o que me
pertence, sem exceção, a Vosso gosto, para maior glória de
Deus, no tempo e na eternidade.[17]
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Ajudai-me a entregar-me inteiramente a Jesus por Maria.
5º Dia
Deveríamos realmente dar tudo a Maria? (1ª parte)
A segunda parte da fórmula de consagração de São Luís diz que
deveríamos dar tudo a Maria, inclusive os nossos “bens interiores e
exteriores, e o próprio valor das nossas boas obras passadas,
presentes e futuras”. Isso não é um pouco exagerado? Não. É
perfeito. É maravilhoso. Vejamos o porquê entendendo como a oferta
afeta os outros e a nós mesmos.
Com relação aos outros, quando nos consagramos plenamente a
Maria, perdemos o direito incondicional de distribuir o valor das
nossas orações e boas ações aos outros. Em outras palavras,
damos a Maria os direitos à graça (mérito) de nossas orações.
Dizemos a ela: “Maria, dou-te o direito de distribuíres a graça das
minhas orações da maneira que considerares mais adequada.”
Há um enorme benefício em oferecer esse dom a Maria. Ao fazê-
lo, temos a certeza de que o mérito das nossas orações será usado
da melhor maneira possível. Funciona desta maneira: por causa de
sua posição privilegiada no céu e de sua intimíssima comunhão com
seu Divino Filho, Maria consegue decidir da melhor forma possível
quais pessoas mais necessitam das nossas orações. Por exemplo:
ao ver alguma pessoa abandonada na China prestes a morrer em
desespero, Maria pode tomar a graça das nossas orações (e dos
nossos sofrimentos “oferecidos”) e usá-la para ajudar essa pessoa
moribunda a confiar em Deus e aceitar sua misericórdia.
Ora, talvez essa ideia nos tenha feito pensar o seguinte:
“Isso é excelente. Fico feliz em ajudar aquela pessoa moribunda
na China, a quem não conheço, mas sentiria certa frustração se por
causa disso não pudesse usar a graça das minhas orações e boas
obras para ajudar as pessoas que conheço, como meus familiares e
amigos. Tenho receio de que, se der a Maria o direito de distribuir as
graças das minhas orações e boas obras, perderei o direito de rezar
pelas pessoas que amo de modo especial, ainda que não tenham
tanta necessidade quanto outras pessoas espalhadas ao redor do
mundo.”
Trata-se de uma preocupação legítima, mas não há motivo para
isso. Por quê? Por duas razões: (1) Maria torna perfeitas as boas
coisas que oferecemos a ela. Em outras palavras, ela aumenta,
incrementa e purifica os méritos e dons espirituais que lhe
oferecemos. Como ela os torna mais perfeitos, mais graças e méritos
são distribuídos. São Luís usa uma analogia inesquecível para
explicar isso:
É como se um camponês, querendo ganhar a amizade do
rei, se dirigisse à rainha, e lhe apresentasse uma maçã, que
representasse toda a sua fortuna, e lhe pedisse que a
oferecesse ao rei. A rainha, acolhendo a pobre dádiva do
camponês, punha-a no centro de um grande e magnífico prato
de ouro, e apresentava-a assim ao rei, da parte do ofertante.
Nestas circunstâncias, a maçã, indigna por si mesma de ser
oferecida a um rei, torna-se um presente digno de sua
majestade, devido ao prato de ouro e à importância da pessoa
que a apresenta.[18]
Esta é a segunda razão por que não deveríamos nos preocupar:
Maria jamais se deixa superar em generosidade. Portanto, se formos
tão generosos a ponto de dar-lhe o direito de distribuir as graças das
nossas orações e boas obras, ela com certeza será particularmente
generosa com as pessoas que amamos. Na verdade, ela cuidará
ainda mais daqueles que amamos do que nós mesmos poderíamos
fazê-lo. Por exemplo, digamos que um dos nossos familiares ou
amigos necessite de orações, embora não o saibamos. Ora, Maria
sabe disso e se certificará de que a pessoa não ficará sem as
orações de que precisa. Dar a Maria o direito de distribuir a graça
das nossas orações e boas obras não implica que não possamos
mais rezar por nossos entes queridos. Nós podemos e devemos
rezar por eles, mas concedemos a Maria o poder de decidir a quem e
com que propósito as graças das nossas orações e boas obras serão
aplicadas.
Lembre-se de que Maria não se deixa superar em generosidade.
Ela escuta especialmente as orações daqueles que lhe entregam
tudo – inclusive o valor de suas boas obras – e quer que falem com
ela sobre as pessoas e as intenções que levam em seus corações.
Se dermos tudo a ela, podemos duvidar de que ela será generosa ao
distribuir qualquer bem que pedirmos por nossos entes queridos?[19]
Oração de hoje
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Ajudai-me a ser generoso, dando a Maria tudo o que tenho.
6º Dia
Deveríamos realmente dar tudo a Maria? (2ª parte)
Ontem compreendemos como – ao nos consagrarmos a Maria –
abrimos mão do direito de oferecer a outras pessoas as graças das
nossas orações e méritos. Vimos, porém, que no final das contas
tudo fica ainda melhor. Hoje voltamo-nos para nós. Não seria loucura
entregar a Maria todo o valor das nossas boas ações e orações e,
assim, aparecer de mãos vazias perante Deus? De modo algum.
Lembre-se de que Maria não se deixa ganhar em generosidade. Se
lhe dermos todos os nossos méritos, ela nos dará todos os seus. E
isso é um excelente negócio.
Certa vez li uma história sobre uma santa que havia tido uma
visão do paraíso. Ela viu os santos no céu e seus diferentes níveis
de glória. Ela ficou admirada com alguns santos porque eles haviam
atingido uma glória tão elevada, que adoravam a Deus junto com os
serafins, o coro mais elevado dos anjos. Noutra ocasião, li uma
passagem no Diário de Santa Faustina na qual a santa tivera uma
visão semelhante do céu. Ela disse que, se víssemos os diferentes
níveis de glória que há no céu, sofreríamos voluntariamente qualquer
coisa nesta vida apenas para subir um nível.[20] Depois de ler esses
testemunhos, digo a mim mesmo: “Quero não apenas ir para o céu,
mas também atingir o mais elevado grau de glória de que for capaz.”
Há meio fácil de conseguir isso: dar tudo a Maria, confiando nos
méritos dela, e não nos nossos. São Luís explica:
A Santíssima Virgem, Mãe de doçura e misericórdia, que
jamais se deixa vencer em amor e liberdade, vendo que alguém
se lhe entrega inteiramente, para honrá-la e servir-lhe,
despojando-se do que tem de mais caro para com isso adorná-
la, entregasse também inteiramente e dum modo inefável, a
quem tudo lhe dá. Ela o faz imergir no abismo de suas graças,
reveste-o de seus merecimentos, dá-lhe o apoio do seu poder,
ilumina-o com sua luz, abrasa-o no seu amor, comunica-lhe suas
virtudes: sua humildade, sua fé, sua pureza, etc; constitui-se seu
penhor, seu suplemento, seu tudo para com Jesus. Como,
enfim, essa pessoa consagrada é toda de Maria, Maria também
é toda dela.[21]
Ora, apesar dessas palavras consoladoras, alguém ainda poderia
ficar preocupado e dizer: “Excelente! Estou plenamente de acordo
em atingir um grau elevado de glória no céu. Porém, preocupo-me
com o purgatório. Temo que, se abrir mão de todos os meus méritos,
mesmo que seja para entregá-los a Maria, eu tenha de sofrer no
purgatório por muito tempo.” São Luís responde:
Esta objeção, produto do amor próprio e da ignorância
acerca da liberdade de Deus e de sua Mãe Santíssima, destrói-
se por si mesmo. Uma alma cheia de fervor e generosa, que
antepõe os interesses de Deus aos seus próprios, que tudo o
que tem dá a Deus inteiramente, sem reservas, que só aspira à
glória e ao Reino de Jesus Cristo intermédio de sua Mãe
Santíssima, e que se sacrifica completamente para obtê-lo, esta
alma gêneros, repito, e liberal, será castigada no outro mundo
por ter sido mais liberal e desinteressada que as outras? Muito
ao contrário, é a esta alma, como veremos a seguir, que Nosso
Senhor e sua Mãe Santíssima se mostram mais generosos
neste mundo e no outro, na ordem da natureza, da graça e da
glória.[22]
Muito bem, isso resolve o assunto. Ainda por cima levamos uma
gentil repreensão. São Luís repete este importante ponto: Maria não
se deixa vencer em generosidade! Se formos particularmente
generosos com ela, então ela será particularmente generosa
conosco. Ele também ressalta outro aspecto positivo: a repreensão
gentil. Ele diz que esse tipo de preocupação vem do amor próprio.
Portanto, devemos almejar as coisas mais elevadas; devemos ter
uma santa ambição e desejar alcançar o cume da santidade. Mas
nossa motivação não deve ser o amor próprio; ao contrário, deve ser
nosso desejo de agradar e glorificar a Deus. Devemos nos lembrar
disso amanhã, quando lermos sobre alguns dos incríveis benefícios
da consagração a Maria.
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Ajudai-me a glorificar a Deus, dando a Maria tudo o que tenho.
7º Dia
Um caminho rápido, fácil e seguro para a santidade
Nos últimos dois dias, aprendemos sobre os belos benefícios da
consagração a Jesus por Maria, benefícios concedidos a nós e aos
nossos entes queridos. Hoje, neste último dia de meditação sobre a
doutrina de São Luís, vamos nos concentrar em outros benefícios da
consagração mariana. Vamos aprender, especificamente, em que
medida a consagração mariana é um meio rápido, fácil e seguro para
chegar à santidade. À medida que avançarmos na leitura, deveremos
nos lembrar de que o dom desses benefícios não nos dá direito a
relaxar na vida espiritual. (Este seria um exemplo de amor-próprio
repreendido por São Luís na leitura de ontem.) Ao contrário, quando
testemunhamos a generosidade de Deus ao recebermos um dom tão
grandioso como a consagração mariana, devemos nos esforçar
ainda mais para colocá-lo em prática e crescer em santidade.
Comecemos com a parte rápida e fácil: a consagração a Jesus
por Maria é um caminho rápido e fácil para chegar à santidade. Mas
o que é a santidade? É morrer para si. Isso, definitivamente, não é
algo fácil. Mesmo assim, a consagração mariana é um caminho
relativamente fácil e rápido em um trajeto que não é fácil por
natureza e, muitas vezes, leva muito tempo para ser percorrido. São
Luís diz o seguinte sobre esse tema:
Do mesmo modo que a natureza tem segredos para fazer em
pouco tempo, sem muitos gastos e com facilidade, certas
operações naturais, há segredos, na ordem da graça, pelos
quais se fazem, em pouco tempo, com doçura e facilidade,
operações sobrenaturais, como despojar-nos de nós mesmos,
encher-nos de Deus, e tornar-nos perfeitos.[23]
Portanto, como percorrermos esse caminho rápido e fácil? Basta
entregarmo-nos a Jesus por Maria, que ela nos leva a Jesus e torna
fácil e rápida a estrada para a santidade, embora não elimine nossas
cruzes. Na verdade, aqueles que são particularmente amados por
Maria têm mais cruzes que outras pessoas, mas Maria torna as
cruzes mais agradáveis e leves:
Respondo-lhes que é bem verdade que os mais fiéis servos
da Santíssima Virgem, porque são seus grandes favoritos,
recebem dela as maiores graças e favores do céu, isto é, as
cruzes; mas sustento que são também os servidores de Maria
que levam estas cruzes com mais facilidade, mérito e glória; e
mais que, onde outro qualquer pararia mil vezes e até cairia,
eles não se detém e, ao contrário, avançam sempre, porque
esta boa Mãe, cheia de graça e unção do Espírito Santo, adoça
todas as cruzes no mel de sua doçura maternal e na unção do
puro amor; deste modo, eles as suportam alegremente, como
nozes confeitadas, que, de natureza são amargas (...); do
mesmo modo que uma pessoa não poderia, sem uma grande
violência, impossível de manter indefinidamente, comer nozes
verdes que não fossem saturadas de açúcar.[24]
Avançamos mais, em pouco tempo de submissão e
dependência a Maria, do que em anos inteiros de vontade
própria e contando apenas com o próprio esforço.[25]
Por meio desta prática, fielmente observada, você dará a
Jesus maior glória em um mês do que por meio de qualquer
outra prática, por mais difícil que seja, ao longo de muitos anos.
[26]
[Os verdadeiros devotos de Maria] têm tanta facilidade em
carregar o jugo de Jesus Cristo, que quase não lhe sentem o
peso.[27]
Portanto, o caminho da consagração mariana é, em certo sentido,
verdadeiramente rápido é fácil. Como diz São Luís em outro lugar, é
como a diferença entre um escultor que talha uma estátua ao longo
de várias semanas de trabalho e um artista que faz a mesma estátua
rápida e facilmente por meio de um molde. Maria é o molde que nos
transforma, de modo mais perfeito, rápido e fácil, em outras imagens
de Cristo.[28]
Terminaremos estas reflexões sobre os maravilhosos benefícios
da consagração mariana deixando que São Luís descreva em que
medida esse caminho também é seguro, ou seja, quando o
percorremos somos particularmente protegidos e defendidos dos
ataques do demônio:
[Maria] protege-os contra as garras do gavião e do abutre;
acompanha-os como um exército em linha de batalha (Ct 6,3).
Pode um homem, garantido por um exército de cem mil homens,
ter receio de seus inimigos? Menos ainda há de recear um fiel
servo de Maria, rodeado que está da proteção e força de sua
Mãe Santíssima. Esta Mãe e Princesa poderosa enviaria antes
batalhões de milhares de anjos em socorro de um só de seus
servos, para que se não dissesse que um servo fiel de Maria,
que a ela se confiou, sucumbiu à malícia, ao número e à força
do inimigo.[29]
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Ajudai-me a louvar-Vos por causa de um caminho tão rápido, fácil
e seguro para a santidade!
Segunda semana
São Maximiliano Kolbe
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Mostrai-me o significado da Imaculada Conceição.
10º Dia
Quem sois vós, ó Imaculada Conceição? (2ª parte)
Vimos, então, que o Espírito Santo é a Imaculada Conceição
incriada e Maria é a Imaculada Conceição criada. Por que não
facilitamos as coisas e simplesmente dizemos que o Espírito Santo é
a Imaculada Conceição e Maria foi concebida imaculadamente? Mais
uma vez, isso tem a ver com Lourdes. É culpa de Santa Bernadete!
Brincadeira à parte, deveríamos agradecer profusamente a Santa
Bernadete e a São Maximiliano Kolbe, porque sua fidelidade à graça
permite que nos seja revelada agora uma verdade gloriosa que
fortalece em sua integralidade a teologia da consagração mariana.
Essa verdade tem a ver com a união entre o Espírito Santo e Maria.
Kolbe explica isso em uma passagem longa e difícil, mas
incrivelmente rica e digna de uma profunda reflexão:
Que espécie de união é essa [entre o Espírito Santo e
Maria]? É, sobretudo, uma união interior, a união da essência
dela com a “essência” do Espírito Santo, que habita e vive nela.
Isso é verdadeiro desde o primeiro instante da existência dela.
Sempre foi e sempre será verdadeiro.
Em que consiste essa vida do Espírito em Maria? Ele mesmo
é o Amor incriado presente nela; o Amor do Pai e do Filho, o
Amor por meio do qual Deus ama a si mesmo, o próprio amor da
Santíssima Trindade. Ele é um Amor fecundo, uma
“Concepção”. Nas criaturas feitas à imagem de Deus, a união
resultante do amor conjugal é a mais íntima de todas (ver Mt
19,6). O Espírito Santo vive, de um modo muito mais preciso,
interior e essencial, na alma da Imaculada, nas profundezas de
seu próprio ser. Ele a torna fecunda desde o primeiro instante de
sua existência e assim a mantém durante toda a sua vida e por
toda a eternidade.
Essa “Imaculada Conceição” eterna – que é o Espírito Santo
– gera de um modo imaculado a própria vida divina no seio (ou
nas profundezas) da alma de Maria, fazendo dela a Imaculada
Conceição, a Imaculada Conceição humana. E o seio virginal de
Maria permanece sagrado para ele; lá ele concebe no tempo –
porque tudo o que é material ocorre no tempo – a vida humana
do Homem-Deus.
Se a esposa toma o sobrenome de seu marido por pertencer
a ele, por ser uma com ele, por se tornar igual a ele e, junto
dele, ser a fonte de novas vidas, não haveria uma razão muito
maior para que o nome do Espírito Santo, que é a Imaculada
Conceição divina, seja usado como o nome daquela em quem
ele vive como Amor incriado, o princípio da vida na ordem
sobrenatural da graça?[37]
Gostaria de destacar três pontos à luz desse trecho notável.
Primeiro, medite sobre ele novamente de modo profundo e
contemplativo. Enquanto estiver meditando, lembre-se de que são as
palavras finais de um dos maiores santos marianos de todos os
tempos, por meio das quais ele respondeu à pergunta à qual
dedicara sua vida e suas energias. Segundo, não se preocupe se
você tiver ficado com a impressão de que Kolbe foi um pouco
extravagante ao falar sobre Maria e a união dela com o Espírito
Santo. O Papa Paulo VI se esforçou por tranquilizar os fiéis a
respeito da consistência da doutrina de Kolbe.[38] Terceiro, se você
só conseguir compreender um ponto desse trecho desafiador, que
seja este: Maria é a Esposa do Espírito Santo. Na verdade, a união
dela com o Espírito Santo é ainda mais profunda do que aquilo que
entendemos por relação matrimonial. Vamos abordar esse tópico
amanhã.
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Mostrai-me o significado da Imaculada Conceição.
11º Dia
A Imaculada sempre cumpre perfeitamente a vontade de
Deus
Ontem aprendemos algo sobre a união íntima entre o Espírito
Santo e Maria, entre a Imaculada Conceição incriada e a criada.
Talvez agora estejamos pensando: “Muito bem, o que isso implica?”
Precisamente isto: Maria cumpre perfeitamente a vontade de Deus –
e isso é muito importante. Vamos dar um passo atrás e contextualizar
isso por meio da observação do quadro geral da realidade.
De acordo com Santo Tomás de Aquino, toda a criação realiza
um grande movimento circular que parte de Deus e retorna a Ele,
algo que os teólogos chamam de “O Grande Círculo do Ser”. Diz
Santo Tomás:
Procedendo do Princípio Primordial, as criaturas realizam
uma espécie de circuito, um movimento giratório que funciona
de tal modo que todas as coisas, quando tendem ao seu fim
próprio, retornam ao Princípio do qual vieram (...). Nós fomos
criados pelo Filho e pelo Espírito Santo e, portanto, é por meio
deles que somos levados novamente ao nosso fim.[39]
Ora, como São Maximiliano Kolbe foi um bom teólogo, descreve
esse quadro geral da realidade de forma semelhante. Ele começa
ressaltando nossa própria experiência do mundo:
Percebemos que em todos os lugares do mundo está
presente a ação (...) partida e regresso; ida e retorno; separação
e reunião. A separação sempre anseia pela reunião, que é
criativa. Tudo isso é simplesmente uma imagem da Santíssima
Trindade na atividade das criaturas.[40]
O que Kolbe descreve nesse trecho é verdadeiro. É a estrutura
do cosmos. Tudo vem de Deus e volta para Ele, de modo mais ou
menos perfeito. Costumamos chamar esse movimento de a grande
“Saída e Retorno”. Embora Kolbe use o termo “separação” em vez
“saída”, trata-se da mesma ideia:
Primeiro, Deus cria o universo, e isso é uma espécie de
separação. Quando as criaturas seguem a lei natural implantada
nelas por Deus, atingem sua perfeição, tornam-se semelhantes
a Ele e retornam para Ele. As criaturas inteligentes [os seres
humanos] amam-No de forma consciente. Por meio desse amor
elas se unem a Ele de forma ainda mais íntima e assim
encontram o caminho de volta para Ele.[41]
Dentre todas as criaturas no universo, Kolbe acredita que a
Imaculada é digna de uma menção especial:
A criatura que possui esse amor de forma mais plena, por ser
preenchida pelo próprio Deus, é a Imaculada, que não teve
sequer a menor mancha de pecado e nunca se afastou por
menos que seja da vontade de Deus. Unida ao Espírito Santo,
seu esposo, ela é uma com Deus de um modo incomparável,
que não pode ser predicado de nenhuma outra criatura.[42]
Reflitamos por um momento a respeito dessa visão da realidade:
primeiro, tudo tem origem em Deus. Pense em toda a criação. Deus
fala e as coisas surgem Dele. Então, as plantas e os animais
retornam a Deus ao realizarem suas respectivas naturezas, isto é,
sendo aquilo que foram criados para ser. Eles fazem isso sem
pensar ou deliberar e o fazem com certa facilidade. Isso ocorre por
meio de uma espécie de piloto automático instintivo. Os seres
humanos, por sua vez, são diferentes. Embora haja momentos em
que agimos por instinto, também agimos de um modo diferente do
dos animais. Agimos por meio da razão e da vontade e quando o
fazemos temos consciência disso, ou seja, estamos presentes para
nós quando agimos. Isto significa ser feito à imagem de Deus:
podemos conhecer e amar a Deus. Além disso, enquanto os animais
fazem a vontade de Deus por instinto, nós podemos fazê-la de modo
livre e consciente.
O problema é que nós abusamos da liberdade que Deus nos deu.
Nem sempre escolhemos fazer a vontade dele e, assim, não
retornamos a ele tal como deveríamos. Nós pecamos, e se o
fazemos em matéria grave e não nos arrependemos plenamente,
então não retornamos a Deus. Isso é uma grande tragédia na vida
humana, mas agradeçamos a Deus! Ele enviou seu Filho único e o
poder de seu Espírito para nos salvar, para que retornemos ao nosso
Pai no céu. E agradeçamos a Deus também porque, após a queda
do homem, Ele fez uma criatura concebida sem pecado, que se
conforma plenamente à sua vontade de forma livre e perfeita, pois
ela está perfeitamente unida ao Espírito Santo. Ela nos ajuda a
todos, pobres pecadores, em nossa caminhada; ajuda-nos a superar
a tragédia do pecado, a fazer a vontade de Deus e a trilhar o
caminho da santidade. Falaremos mais sobre isso amanhã.
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Renovai a face da terra para que toda a criação possa retornar a
Deus.
12º Dia
Quem sois vós, ó santos de Deus?
São Maximiliano costumava realizar conferências sobre
espiritualidade aos noviços de sua comunidade religiosa. Certo dia
ele ensinou-lhes uma lição de que jamais se esqueceriam: “Como se
tornar um Santo.” O futuro santo começou dizendo aos seus ouvintes
que a santidade não é algo tão difícil. É o resultado de uma simples
equação: que ele escreveu no quadro negro: “V + v = s.” O V
maiúsculo se refere à vontade de Deus. O v minúsculo se refere à
nossa vontade. Quando as duas se unem, o resultado é a Santidade.
Essa não foi uma lição só para os noviços. Kolbe a repetia
inúmeras vezes, de modos diferentes, a toda a comunidade. Kolbe
fundou na Polônia o maior monastério franciscano do mundo, que ele
chamou de Niepokolanow (“Cidade da Imaculada”). Ele exortava
continuamente os mais de 600 frades que lá viviam a se tornarem
soldados-santos para Deus sob o comando de Maria Imaculada. Por
que sob o comando de Maria Imaculada? Porque, dentre todas as
criaturas, ela é a única que faz a vontade de Deus com perfeição.
Portanto, quando nossa vontade está unida à dela, está
necessariamente unida à vontade de Deus. Apresento agora dois
dentre inúmeros exemplos do modo como Kolbe expressava esse
ponto importantíssimo:
Rezemos muito para que compreendamos cada vez mais o
que a Imaculada disse na Anunciação: “Eis aqui a escrava do
Senhor, faça-se em mim [fiat mihi] segundo a vossa palavra.”
Faça-se conforme a vontade de Deus. Toda a felicidade está
contida nesse pensamento, inclusive aqui na terra, e todo o
destino está consumado.
(...)
Imploremos a Santíssima Virgem para que ela nos ensine
como nossa alma pode ser uma “escrava” do Senhor, tal como o
foi a dela. Deus não se revelou diretamente para a Mãe de
Deus, mas por meio de um mensageiro. Nós também temos
mensageiros divinos (...). Rezemos para que saibamos como
dizer a cada um desses mensageiros: seja feita a vontade de
Deus. Tudo o que temos de aprender nesta vida está contido aí.
[43]
Quando a nossa vontade se torna uma só com a de Maria,
que deu o grande fiat e é o único ser humano cuja vontade
jamais se desviou, pela sua escolha, da vontade de Deus,
unimo-nos perfeitamente à vontade Dele. E é este alinhamento
da sua vontade com a Dele que é o negócio mais urgente de
sua vida.[44]
Não é fácil fazer a vontade de Deus, a menos que recebamos o
auxílio da Imaculada. “Por meio da Imaculada, podemos nos tornar
grandes santos e, além do mais, de um modo fácil.[45] O principal
objetivo de Kolbe era tornar-se santo. Literalmente. Nas anotações
que fez no retiro de preparação para sua ordenação, Kolbe fez uma
lista de seus objetivos espirituais. O primeiro objetivo diz: “Desejo ser
um santo, um grande santo.”[46] Ele sabia que a Imaculada não só o
ajudaria, mas tornaria fácil o caminho para a santidade.
Como Maria torna fácil a santidade? Na semana passada,
falamos sobre muitas explicações sobre esse fato em nossa última
reflexão sobre a doutrina de São Luís de Montfort. Porém, Kolbe
enfatizou outra razão por que Maria torna fácil a santidade. Isso está
ligado ao fato de ela ser a Medianeira de todas as graças, uma ideia
expressa por ele em sua fórmula para a consagração mariana: “Deus
quis confiar a Maria toda a ordem da misericórdia.”[47] É vontade de
Deus que ela distribua suas graças. Por quê? Porque é a vontade de
Deus unir-se a Maria pelo Espírito Santo. “O Espírito Santo só age
por meio da Imaculada, sua esposa. Portanto, ela é a medianeira de
todas as graças do Espírito Santo.”[48] Desse modo, fica fácil
tornarmo-nos santos quando ficamos pertos de Maria e pedimos as
graças de que necessitamos àquela cujo trabalho é precisamente
distribuí-las por Deus.
Podemos ter uma ideia mais adequada sobre Maria como
Medianeira de todas as graças se olharmos para sua imagem na
medalha milagrosa, que chegou até nós por meio das aparições dela
a Santa Catarina Labouré. Essa imagem deixava Kolbe
profundamente comovido, porque nela Maria aparece sobre um
globo, com raios de luz (graças) saindo dos anéis em seus dedos.
Em uma das aparições, Catarina percebeu que os raios não saíam
de todos os anéis de Maria, que explicou que os raios e graças
estavam disponíveis, mas não apareceram porque ninguém havia
pedido por eles. O caminho de Kolbe não é somente o de pedir
essas graças, mas também permitir que Maria nos tome
completamente em suas mãos, para fazer de nós canais dessas
mesmas graças para o mundo inteiro. Aprenderemos mais sobre
esse caminho amanhã.
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Uni minha vontade à da Imaculada, que é uma só convosco.
13º Dia
Ser um instrumento; melhor, ser instrumentos
Mais uma vez, São Maximiliano não queria somente pedir graças
à Imaculada; ele queria ser as graças da Imaculada. Não queria
apenas fazer a vontade da Imaculada, mas queria ser a vontade da
Imaculada. Calma, ser as graças e a vontade da Imaculada? Isso
não é um pouco exagerado? De acordo com o raciocínio de Kolbe,
não. Ele pensava da seguinte maneira: “Se as pessoas podem se
entregar a Satanás de modo a serem possuídas por ele e serem
seus instrumentos do mal, por que as pessoas não podem se
entregar a Deus para serem possuídas por Ele e serem seus
instrumentos de amor?” Ele também pensava que a Imaculada, mais
do que qualquer outra pessoa, está “possuída” pelo Espírito Santo;
[49] sendo assim, por que não podemos pedir para ser “possuídos”
por ela para estarmos perfeitamente unidos à vontade de Deus? Em
outras palavras, para ele não bastava ser apenas um “escravo” de
Maria, como costumava dizer São Luís de Montfort. Ele queria algo
mais profundo: queria ser um instrumento nas mãos da Imaculada.
Ser um instrumento nas mãos da Imaculada. Essa é a ideia
central do modo como Kolbe entendia a consagração mariana.
Desse modo, ele registra isso diretamente em sua oração de
consagração: “Permite que eu seja um instrumento adequado em
tuas mãos imaculadas e misericordiosas.” Com que propósito? A
conversão do mundo inteiro.
Por favor! Kolbe não está perdendo o controle? Quero dizer, o
que apenas um homem pode fazer? Isso, no entanto, nos leva ao
principal ponto de Kolbe, à sua principal estratégia. Ele não era a
única parte de seu plano-mestre. Na verdade, ele queria
arregimentar um exército inteiro de cavaleiros combatentes e
soldados que se doam para serem instrumentos nas mãos cheias de
graça da Imaculada. Ele queria criar uma “Milícia da Imaculada”, que
descreve da seguinte maneira:
Os Cavaleiros da Imaculada desejam se tornar, de modo
cada vez mais verdadeiro, propriedade da Imaculada; desejam
pertencer a ela de um modo ainda mais perfeito, sem exceção
alguma sob quaisquer aspectos. Querem desenvolver sua
compreensão do que significa pertencer a ela para que possam
iluminar, revigorar e inflamar as almas que vivem em seus
respectivos ambientes, tornando-as semelhantes a eles.
Desejam conquistar essas almas para a Imaculada para que
estas, por sua vez, possam pertencer a ela sem reservas e
possam, assim, ganhar para ela um número ainda maior de
almas – para que, na verdade, possam ganhar o mundo inteiro e
fazê-lo o mais rápido possível.[50]
Genial! Repare na lógica brilhante que está na base da estratégia
de Kolbe: se realmente amamos a Deus, se realmente desejamos
trabalhar por seu reino, então devemos encontrar o caminho mais
rápido e mais fácil para nos tornarmos santos e, deste modo,
retornar a Ele. Ora, o caminho mais rápido e fácil para fazer isso –
como aprendemos de São Luís de Montfort – é a consagração
mariana.
Contudo, Kolbe vai ainda além disso, pois não pensou apenas em
si, não guardou para si o grande segredo de como fazer santos.
Pense deste modo: o que é melhor, um ou dois santos? Mil ou um
milhão de santos? Pense no que um milhão de santos totalmente
consagrados a Maria poderiam fazer. Imagine se Maria tivesse um
milhão de instrumentos por meio dos quais pudesse fazer a vontade
perfeita de Deus. É uma ideia extraordinária. Por isso Kolbe
exclamava: “Ensinai este caminho aos outros! Conquistai mais almas
para a Imaculada!” Se esse é o caminho mais rápido e fácil para
alguém se tornar santo, também é o caminho mais rápido e fácil para
conquistar o mundo inteiro para Cristo, desde que o ensinemos a
outras pessoas. Portanto, Kolbe diz: “Mãos à obra!” Comecemos
aprendendo a viver essa consagração e, em seguida, apresentemo-
la a outras pessoas.
Muito bem, primeiramente, as coisas mais importantes.
Precisamos aprender a viver essa consagração à Imaculada.
Precisamos “pertencer a ela de um modo ainda mais perfeito”. Como
fazemos isso? É simples. Basta aprendermos a amar a Imaculada.
Como? Confiando em sua poderosa intercessão, experimentando
seu cuidado carinhoso, falando com ela em nossos corações,
deixando que ela nos conduza, recorrendo a ela em todas as coisas
e confiando nela completamente. Sim, deveríamos confiar
particularmente na Imaculada e nela nos alegrarmos. Deveríamos
seguir o exemplo de Kolbe, narrado por um de seus irmãos
religiosos:
Quando as coisas iam bem, ele se alegrava com todos
profundamente e agradecia à Imaculada com fervor pelas
graças recebidas por meio da intercessão dela. Quando as
coisas iam mal, ele se alegrava do mesmo jeito e costumava
dizer: “Por que deveríamos nos entristecer? A Imaculada, nossa
mãezinha, não sabe de tudo o que está acontecendo?[51]
Amanhã aprenderemos mais sobre a fórmula de consagração a
“nossa mãezinha” escrita por Kolbe. Terminemos hoje refletindo com
estas palavras: “Meus queridos irmãos, nossa mãezinha, Maria
Imaculada, pode fazer qualquer coisa por nós. Somos filhos dela.
Voltemo-nos para ela, que superará qualquer coisa.”[52]
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Preparei-me para que eu me torne um instrumento adequado nas
mãos da Imaculada.
14º Dia
A oração de consagração de Kolbe
Para concluirmos as reflexões desta semana sobre a doutrina de
São Maximiliano a respeito da consagração mariana, é bom
conhecer a oração de consagração elaborada por ele. Vamos
analisar as três partes dela: (1) invocação, (2) súplica a Maria para
que ela nos receba como sua propriedade e (3) súplica a Maria para
que ela nos use a fim de ganharmos outras almas para ela.
A oração começa com uma invocação:
Imaculada Conceição, Rainha do céu e da terra, refúgio dos
pecadores e Mãe amantíssima, a quem Deus quis confiar toda a
Misericórdia.[53]
Aqui temos o título predileto de Kolbe para Maria, “Imaculada”.
Como aprendemos de sua aparição em Lourdes, essa é a identidade
dela. Para Kolbe, essa é a identidade mais importante dela, porque
enfatiza sua união íntima com o Espírito Santo. Essa invocação
também menciona outra parte da identidade de Maria: sua
Maternidade. Maria é a mãe mais humilde, gentil, carinhosa e
amável. Finalmente, Kolbe menciona também outro de seus títulos
prediletos para Maria: Medianeira de Todas as Graças. Pois “Deus
quis confiar a Maria toda a ordem da misericórdia”.
A segunda parte da oração de consagração expressa uma
súplica para que Maria nos receba como sua propriedade:
Eis-me aqui aos vossos pés, eu ________________ , pobre
pecador. Eu vos suplico: aceitai todo o meu ser como bem e
propriedade vossa. Fazei de mim, de todos as minhas potências
da alma e do corpo, de toda a minha vida, morte e eternidade, o
que quer que desejardes.[54]
Lembre-se de que São Luís, em sua fórmula e consagração, falou
mais sobre o que oferecia a Maria: corpo, alma, bens, méritos. Kolbe
tem em mente as mesmas coisas que São Luís, mas ele simplifica
seu modo de expressar o dom de si oferecido a Maria com uma frase
concisa: “Imploro que me tomes com tudo o que sou e tenho”. Por
outro lado, quando se refere ao propósito de sua consagração, Kolbe
desenvolve aquilo que São Luís descreve por meio de uma frase
simples e sucinta: “para a maior glória de Deus”. Assim, na terceira
parte de sua oração de consagração, Kolbe descreve o propósito de
sua oferta não apenas como sendo “para a maior glória de Deus”,
mas também com o seguinte objetivo:
Se vos aprouver, disponde de tudo o que sou e possuo sem
reservas, para que se realize, enfim, o que de vós foi dito:
“Somente vós vencereis todas as heresias no mundo inteiro.”
Que em vossas mãos imaculadas e misericordiosas eu
possa me tornar um instrumento capaz de reanimar e de fazer
aumentar vossa glória ao máximo em todas as muitas almas
afastadas e indiferentes, assim ajudando a estender tanto
quanto possível o reino do Sacratíssimo Coração de Jesus.
Onde quer que entrais, vós obtendes a graça da conversão e da
santificação, pois que é por vossas mãos que todas as graças
do Sacratíssimo Coração de Jesus nos vêm.[55]
A audácia da primeira frase pode ser facilmente negligenciada,
mas quando a compreendemos plenamente essa audácia pode ser
surpreendente. Kolbe está pedindo a Maria que o use para esmagar
completamente o reino de Satanás! Talvez ele recue (um pouco)
nessa incrível ambição quando afirma que quer que ela o utilize para
expandir “tanto quanto possível o reino bendito do Sacratíssimo
Coração de Jesus”. Mesmo assim, a audácia dele é incrível. Ele quer
que Maria o use como instrumento – tanto quanto possível – para
esmagar Satanás e expandir o reino de Deus, o reino do amor do
Coração de Jesus.
É interessante o fato de Kolbe focar no Coração de Jesus,
mencionando-o duas vezes. Não se trata de um capricho passageiro.
Por exemplo, ele aparece novamente quando Kolbe elabora o lema
de seu exército de Cavaleiros da Imaculada, a Milícia da Imaculada:
“Conduzir todas as pessoas ao Sacratíssimo Coração de Jesus por
meio de Maria.”[56] Aprenderemos mais sobre o Coração de Jesus
como o fim mais perfeito de nossas vidas espirituais quando
refletirmos, na próxima semana, a respeito de Santa Teresa de
Calcutá e seus ensinamentos.
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Preparei-me para que eu dê tudo à Imaculada em prol do reino.
Terceira semana
Santa Teresa de Calcutá
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Ajudai-me a encontrar o amor do Coração de Jesus escondido na
escuridão.
16º Dia
O dom recebido de Deus no dia 10 de setembro
Lembremo-nos de um evento crucial que vimos no resumo da
vida de Madre Teresa sobre o qual refletimos ontem: o “chamado
dentro de um chamado”, a experiência da sede que Jesus tem de
amor e de almas. Durante muitos anos, a única pessoa com quem
Madre Teresa conversou sobre essa experiência foi seu diretor
espiritual. Então, quatro anos antes de falecer, no dia 25 de março de
1993, após a leitura de uma mensagem para a Quaresma do Papa
João Paulo II, sobre o trecho da Paixão em que Cristo diz “tenho
sede”[66], ela sentiu vontade de revelar seu segredo às Missionárias
da Caridade por meio de uma carta. Como essa carta parece
mostrar, melhor do que qualquer outra coisa, como era o coração de
Madre Teresa, vou citar um longo trecho dela. A reflexão de hoje
será baseada nesse trecho:
Depois de ler a mensagem do Santo Padre sobre o trecho
em que Nosso Senhor diz: “tenho sede”, fiquei tão impactada,
que não consigo vos dizer exatamente o que senti. A mensagem
dele me fez compreender mais do que nunca quão bela é nossa
vocação (...). Nós fazemos com que o mundo se lembre de Sua
sede, que vinha sendo esquecida (...). A carta do Santo Padre é
um sinal (...) para que reflitamos ainda mais na imensa sede que
Jesus sente por cada pessoa. É também, para a Madre, um
sinal de que chegou o momento de falar abertamente sobre o
dom que Deus deu no dia 10 de setembro – explicar, da melhor
maneira possível, o que para mim significa a sede de Jesus.
Jesus quer que eu vos diga novamente quanto Ele ama cada
uma de vós – muito mais do que podeis imaginar. Temo que
algumas de vós ainda não haveis tido um real encontro pessoal
com Jesus. Podemos passar um tempo na capela, mas haveis
enxergado com os olhos de vossas almas como Ele vos olha
com amor? Conheceis realmente o Jesus vivo, não por meio de
livros, mas por trazê-Lo em vossos corações? Escutastes as
palavras de amor que Ele vos dirige? Pedi esta graça, pois Ele
anseia por concedê-la. Só sereis capazes de escutá-Lo dizendo,
nos corações dos pobres, “tenho sede” quando conseguirdes
escutá-Lo no silêncio de vossos corações. Jamais renunciais a
esse contato íntimo diário com Jesus enquanto pessoa
realmente viva, não apenas como uma ideia. Como podemos
sobreviver um único dia sem escutar Jesus dizendo “eu te
amo”? Impossível. Nossa alma precisa disso assim como o
corpo precisa do ar. Se não fizermos isso, nossa oração não terá
vida e a meditação será apenas uma reflexão. Jesus quer que
cada uma de vós o escute – quando Ele falar no silêncio dos
vossos corações.
Cuidado com tudo o que pode obstruir esse contato pessoal
com Jesus vivo. O Demônio pode tentar usar as mágoas da
vida, e às vezes nossos próprios erros a fim de voz fazer crer
que é impossível que Jesus realmente vos ama, que Ele
realmente é fiel a vos. É um risco que nós todas corremos, e é
algo muito triste, pois é o oposto do que Jesus realmente deseja
e quer vos dizer: não apenas que Ele vos ama, mas ainda mais:
Ele vos deseja, sente falta de vós quando não vos aproximais
Dele, Ele tem sede de vós e vos ama sempre, mesmo quando
não vos sentis dignas. Quando não sois aceitas pelos outros, ou
às vezes até mesmo por vós mesmas, é Ele quem sempre vos
aceita. Minhas filhas, não é necessário que sejais diferentes
para que Jesus vos ame. Basta que acrediteis: vós sois
preciosas para Ele. Levai todos os vossos sofrimentos aos pés
Dele. Basta abrirdes os vossos corações para que sejais
amadas por Ele como vós sois. Ele fará o resto.
Vós todas sabeis que Jesus vos ama, mas nesta letra a
Madre quer tocar vossos corações... Por isso peço que leiais
esta carta diante do Santíssimo Sacramento, o mesmo lugar
onde ela foi escrita, para que o próprio Jesus possa falar com
cada uma de vós.
As palavras Dele (“tenho sede”) gravadas nas paredes de
cada capela das Missionárias da Caridade não dizem respeito
apenas ao passado, mas estão vivas aqui e agora, pois são
ditas a vós. Credes nisto? Se credes, escutareis, sentireis a
presença Dele. Permiti que ela se torne, para cada uma de vós,
tão íntima quanto o é para a Madre – esta é a maior alegria que
poderíeis me dar. A Madre tentará vos auxiliar a compreender
isso, mas é o próprio Jesus quem deve vos dizer: “tenho sede”.
Escutai vosso próprio nome, não apenas uma vez, mas todos os
dias. Se escutardes com o coração, entendereis.
Por que Jesus diz: “tenho sede”? O que isso significa? É algo
tão difícil de explicar por meio de palavras (se lembrardes de
algum trecho da carta da Madre, lembrai disto)! Quando Jesus
diz “tenho sede”, está dizendo algo muito mais profundo que “eu
te amo”. Só podeis começar a entender quem Ele quer ser para
vós quando compreenderdes que Ele tem sede de vós, ou que
deseja que pertençais a Ele.
A Santíssima Virgem (junto de São João e, tenho certeza,
também de Maria Madalena) foi a primeira pessoa a escutar
Jesus clamando “tenho sede”. Por ter estado presente no
Calvário, ela sabe quão real e quão profundo é o desejo que Ele
sente por vós e pelos pobres. E nós? Também sabemos disso e
o sentimos tanto quanto ela? Pedi ajuda a ela, pois seu papel é
vos colocar face a face – tal como João e Madalena – com o
amor presente no Coração de Jesus crucificado. Outrora a
Santíssima Virgem suplicou à Madre; agora é a Madre que
suplica a vós, em nome dela: “dai atenção à sede de Jesus”.
Que ela seja para cada uma de vós uma Palavra de Vida.
Como podemos nos aproximar da sede de Jesus? Só há um
segredo: quanto mais nos aproximarmos Dele, mais
conheceremos a sede que Ele sente por nós. “Arrependei-vos e
crede”, diz-nos Jesus. De que temos de nos arrepender? De
nossa indiferença, de nossa dureza de coração. Em que
devemos crer? Que Jesus tem sede, agora mesmo, em vossos
corações e nos pobres – Ele conhece vossas fraquezas, Ele
quer apenas vosso amor, apenas a chance de vos amar. O
tempo não é um limite para Ele. Sempre que nos aproximamos
nos tornamos companheiros de Nossa Senhora, de São João,
de Maria Madalena. Escutai-O, escutai vosso próprio nome.
Tornai plena a minha e a vossa alegria.[67]
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Ajudai-me a dar atenção à sede de Jesus.
17º Dia
As visões de 1947
Vários meses após ter sentido o “chamado dentro do chamado”,
Madre Teresa teve três visões que expressaram de modo ainda mais
claro o chamado que havia recebido. Na primeira visão, ela viu uma
imensa multidão de todos os tipos de pessoas, incluindo crianças e
pobres. As pessoas tinham as mãos levantadas e apontadas para
ela e gritavam: “venha, venha, salve-nos – leve-nos até Jesus”.[68]
Na segunda visão, a mesma multidão estava presente, e desta
vez Madre Teresa podia ver a profunda tristeza e o imenso
sofrimento em seus semblantes. Ela estava ajoelhada perto de
Nossa Senhora, que olhava para a multidão. Embora não pudesse
ver o rosto de Maria, ela pôde ouvir que Nossa Senhora disse:
“Cuida deles, pois eles são meus. Leva-os até Jesus – leva Jesus
até eles. Não tenhas medo”.[69]
Na terceira visão, a mesma multidão estava presente outra vez,
mas uma escuridão a envolvia. Porém, isso não impedia Madre
Teresa de enxergar a multidão. Nesta mesma cena, Jesus aparecia
pendurado na Cruz e Nossa Senhora estava um pouco distante.
Madre Teresa aparecia como uma criança e estava diante de Nossa
Senhora. A mão esquerda da Santíssima Virgem repousava sobre o
ombro esquerdo de Madre Teresa, e com a mão direita ela segurava
o braço direito de Teresa. Ambas olhavam para a Cruz, e Jesus disse
a Teresa:
Eu te pedi. Eles te pediram e ela, Minha Mãe, te pediu. Recusar-
te-ás a fazer isto por Mim: cuidar deles e conduzi-los até Mim?[70]
Repare no papel desempenhado por Nossa Senhora nessas
visões. Ela ajuda Teresa a escutar o desejo do Coração do Senhor e
a enxergar o sofrimento da multidão. Ela está lá como uma Mãe com
sua “pequena filha”, olhando para Jesus e para a multidão. Ela dá
conforto e apoio a Teresa, assim como o fez com São João ao pé da
Cruz. O padre Joseph Langford, MC, cofundador dos Padres
Missionários da Caridade, reflete sobre o significado dessas visões:
Sem Nossa Senhora, ficaríamos sozinhos nas cruzes que
temos de carregar ao longo da vida e não perceberíamos que
Jesus está no meio de nós. Em períodos de tribulação, muitas
vezes ficamos envoltos em trevas, tal como os pobres da visão
de Madre Teresa, inconscientes da presença de Jesus no meio
de nós. Sem a fidelidade que Nossa Senhora deu a Madre
Teresa, o mundo não teria ouvido aquelas palavras [tenho sede],
nem teria percebido que elas perduram até hoje.[71]
Acontece que Nossa Senhora esteve presente, de um modo
especial, não apenas nessas visões, mas também durante a graça
original do dia 10 de setembro. No 50º aniversário daquele dia
abençoado, Madre Teresa divulgou algo novo: “Se Nossa Senhora
não estivesse comigo naquele dia, eu jamais compreenderia o que
Jesus quis dizer com as palavras ‘tenho sede’”.[72] O que Madre
Teresa queria dizer com isso? Compreendemos o que ela quis dizer
quando refletimos novamente sobre a dimensão mariana da carta do
dia 25 de março sobre as palavras “tenho sede”:
A Santíssima Virgem (junto de São João e, tenho certeza,
também de Maria Madalena) foi a primeira pessoa a escutar
Jesus clamando “tenho sede”. Por ter estado presente no
Calvário, ela sabe quão real e quão profundo é o desejo que Ele
sente por vós e pelos pobres. E nós? Também sabemos disso e
o sentimos tanto quanto ela? Pedi ajuda a ela, pois seu papel é
vos colocar face a face – tal como João e Madalena – com o
amor presente no Coração de Jesus crucificado. Outrora a
Santíssima Virgem suplicou à Madre; agora é a Madre que
suplica a vós, em nome dela: “dai atenção à sede de Jesus”.
Essa passagem toca o cerne do relacionamento entre Madre
Teresa e Nossa Senhora, e ela pode ser perfeitamente resumida por
meio desta frase preciosa: O papel [dela] é vos colocar face a face
(...) com o amor presente no Coração de Jesus crucificado.
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Colocai-me face a face com o amor presente no Coração de
Jesus crucificado.
18º Dia
O Imaculado Coração de Maria
O papel de Maria é nos colocar face a face com o amor presente
no Coração de Jesus crucificado. Mas o que aconteceria se, quando
estivéssemos com Ele “face a face”, não nos sentíssemos tocados?
O que aconteceria se, diante de um crucifixo, refletindo sobre a
Paixão do Senhor, não sentíssemos nada ou quase nada? E se
nossos corações se tornassem duros e insensíveis por causa de
nossos pecados? Isso pode acontecer. Todos nós pecamos, e o
pecado endurece nosso coração. A aridez e a desolação também
podem ocorrer apesar de nossos pecados. Qualquer que seja o
motivo, nossos corações podem se tornar frios e insensíveis, e isso
pode ser um problema. Felizmente, aquela que possui um coração
livre do pecado, perfeito e imaculado pode nos ajudar. Ela nos dará
seu coração compassivo. Ela até nos permitirá viver em seu coração!
Basta que lhe demos o nosso.
Ao longo de nossa semana com São Luís de Montfort,
aprendemos que, ao nos consagrarmos a Maria, entregamo-nos
inteiramente a ela, e ela se entrega inteiramente a nós. Naquela
semana enfatizamos os méritos: se entregarmos nossos méritos a
Maria, ela nos entregará os dela. Isso é extraordinário. Porém, Madre
Teresa dá uma ênfase um pouco diferente a esse fato. Sua maior
preocupação é com o coração. Em outras palavras, sua versão da
consagração total a Maria se concentra numa espécie de troca de
corações: damos nossos corações a Maria, e ela nos dá seu
Imaculado Coração. Para Madre Teresa, esse dom do coração de
Maria recebido por meio da consagração significa essencialmente
duas coisas, que podem ser expressas por duas orações simples:
“Dai-me o vosso coração” e “guardai-me em vosso puríssimo
coração”.
Em primeiro lugar, reflitamos sobre “dai-me o vosso coração”. Por
meio dessa oração, Madre Teresa pediu a Nossa Senhora que lhe
desse o amor do coração dela. Em outras palavras, é como se ela
dissesse: “Maria, ajudai-me a amar com o amor perfeito de vosso
Imaculado Coração”. Lembremo-nos de que o desejo ardente de
Madre Teresa era saciar a sede de Jesus por amor, e queria fazê-lo
da melhor maneira possível. Haveria um modo mais perfeito de amar
a Jesus do que com o coração perfeito, humilde e imaculado de Sua
mãe? Foi desse modo que Madre Teresa descobriu o segredo de
como viver plenamente sua vocação: “Maria, dai-me o vosso
Imaculado Coração”.
Mas Maria pode realmente nos dar seu coração? É claro que há
algo piamente poético nessa ideia, mas mesmo assim há uma
verdade nela. Quando Madre Teresa dizia com frequência a Maria:
“Dai-me o vosso coração”, estava falando sério. Por acaso ela
achava que Maria removeria seu coração físico e desceria do céu
para lho entregar? É claro que não. O órgão físico é, nesse caso,
apenas um símbolo de uma realidade mais profunda e espiritual. “O
coração” simboliza a vida interior de uma pessoa e a sede do
Espírito Santo na alma. O Espírito Santo. Agora chegamos ao
coração do coração do tema.
Lembremo-nos de nossa semana com São Maximiliano Kolbe e
de como ele enfatizava o vínculo entre o Espírito Santo e Maria. Ele
dizia que Maria é a esposa do Espírito Santo e que a união deles é
ainda mais profunda do que uma união nupcial. Ele dizia coisas
como estas: “O Espírito Santo só age por meio da Imaculada, sua
esposa. Portanto, ela é a Medianeira de todas as graças do Espírito
Santo”.[73] Por essa razão, se quisermos amar Jesus de um modo
pleno, fervoroso e perfeito – tal como o fez Madre Teresa –,
precisaremos de Seu Espírito de Amor, e é Maria Imaculada que O
traz a nós. Oremos: “Maria, dai-nos o vosso coração; traga-nos o
Espírito Santo. Rogai para que nossos corações endurecidos
queimem de amor por Jesus. Ajudai-nos a fazer com que nossos
corações ardam de amor por Ele.”
A segunda oração é: “guardai-me em vosso puríssimo coração”.
Há que utilize uma versão mais completa: “Imaculado Coração de
Maria, guardai-me em vosso puríssimo coração, para que eu possa
agradar a Jesus por meio de vós, em vós e convosco.”[74] Essa é a
parte mais profunda da consagração de Madre Teresa a Nossa
Senhora. Ela não pede apenas que o coração de Maria permaneça
no dela, mas que seu coração permaneça no de Maria! Portanto, é
uma oração para que amemos a Jesus por Maria, em Maria e com
Maria. É algo mais do que simplesmente ter Maria dando-nos seu
coração. Compreender e viver isso requer uma dependência
amorosa de Maria e uma profunda união com ela. Depois de amanhã
explicaremos o sentido dessa afirmação e como podemos alcançá-
la. Amanhã aprenderemos mais sobre a disposição do coração de
Maria.
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Guardai-me no puríssimo e Imaculado Coração dela.
19º Dia
Oração contemplativa
Você está preparado para a sua consagração a Maria? Se não
estiver, prepare-se! Como disse no início do livro, tudo muda após o
Dia da Consagração. Um glorioso novo dia amanhece em nossas
vidas espirituais. Na verdade, quando damos nosso “sim” a Maria,
ela começa a dispor todos os acontecimentos e detalhes de nossas
vidas de um modo belo, carinhoso e amável. Portanto, precisamos
nos preparar. Precisamos nos preparar especificamente para
reconhecer a plenitude de favores que receberemos por meio de seu
Esposo, o Espírito Santo.
É comum não reconhecermos os muitos dons que Deus derrama
em nós diariamente. Reconhecemos apenas os aborrecimentos, os
fardos, as dificuldades e as inconveniências diárias. São eles que
atraem nossa atenção e provocam em nós uma atitude de queixa.
Além disso, deixam-nos de mau humor e acabam com nossa
energia. Não seria trágico se, depois de começar a receber um
número ainda maior de dons e graças por causa de nossa
consagração, não mudássemos essa atitude negativa? É claro que
seria. Portanto, precisamos nos preparar, e Madre Teresa nos
ajudará.
Ela viveu em alguns dos lugares mais pobres do planeta. Teve de
lidar com calor lancinante, mau hálito, cômodos abafados, cansaço
permanente, infindáveis responsabilidades, comida insossa, camas
duras, mau cheiro, banho com água fria e uma profunda e
agonizante aridez espiritual. No entanto, apesar de tudo isso, ela
irradiava alegria e sorria. Ela ficava admirada com as boas coisas
que Deus fazia em sua vida e nas vidas de outras pessoas, e
ponderava sobre os inúmeros detalhes amorosos preparados por
Nossa Senhora. Como via e reconhecia essas coisas, ela não se
queixava.
Como Madre Teresa desenvolveu tamanha sensibilidade
espiritual e atitude de gratidão? Qual era seu segredo? Duas coisas.
Em primeiro lugar, ela seguiu o exemplo de Maria, que sempre
“meditava em seu coração” as “coisas boas” que Deus fazia na vida
dela (ver Lc 2,19;51). Naturalmente, Maria – tal como Madre Teresa
– viveu na pobreza e com certeza teve de lidar com momentos de
escuridão na oração. Mesmo assim ela encontrava Deus nos
detalhes, meditava sobre Sua bondade no seu coração e respondia
com o louvor: “Magnificat!” Ela com certeza louvava e agradecia a
Deus em todas as coisas, porque O encontrava em todas as coisas e
meditava profundamente em seu coração sobre os inúmeros sinais
de amor Dele.
Em segundo lugar, Madre Teresa seguiu o exemplo de Santo
Inácio de Loiola, o soldado santo e mestre da oração eficaz.
Especificamente, ela vivia o método do exame de consciência diário,
desenvolvido por Santo Inácio, por meio do qual a pessoa revisa
suas ações, no fim do dia, na presença do Senhor. Ao contrário do
que as pessoas costumam pensar do exame, não se trata de uma
simples lista de pecados. Na verdade, Santo Inácio leva as pessoas
a usarem a maior parte do tempo para refletir sobre as bênçãos
recebidas ao longo do dia, não sobre os pecados. Trata-se de um
verdadeiro exercício para reconhecer as coisas boas que Deus faz
em nossas vidas e como nós respondemos – ou deixamos de
responder – a esse amor. É uma imitação da oração contemplativa
de Maria. (Veja nesta nota ao final do livro um método para fazer o
exame de consciência.)[i]
Deus sempre derrama Seu amor e Sua misericórdia em nós de
muitos modos diferentes. É importante começarmos a reconhecer
essas bênçãos e a agradecê-Lo por elas, particularmente porque
essa torrente de bênçãos se transformará em uma torrente de graças
quando nos consagrarmos a Maria. Portanto, vamos nos preparar.
Lembremos que, de acordo com Madre Teresa, um modo importante
de viver nossa consagração é por meio do reconhecimento das
bênçãos recebidas de Deus e de uma profunda meditação sobre elas
em nossos corações, em união com Maria. Essa oração meditativa
nos leva a louvar e a agradecer, e o louvor e o agradecimento nos
inflamam com o amor divino.
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Ajudai-me a reconhecer e a meditar em meu coração sobre todo
o bem que fazeis por mim.
20º Dia
A aliança de consagração
Ontem eu disse que devemos nos preparar para nossa
consagração a Maria aprendendo a reconhecer todas as bênçãos
que começarão a ser derramadas. Hoje mudaremos um pouco nosso
foco. Vamos nos preparar para o dia da consagração refletindo sobre
a verdadeira seriedade da consagração mariana. Esta é uma parte
importante de nossa preparação porque quanto mais a levarmos a
sério, mais a sério a Mãe de Deus a levará. Madre Teresa nos será
particularmente útil hoje, pois ela levou muito a sério sua
consagração a Maria.
Um dos motivos pelos quais Madre Teresa levou tão a sério sua
consagração tem a ver com suas raízes na cultura albanesa. Uma
palavra-chave dessa cultura é “besa”. Traduzida literalmente,
significa “fé”, mas seu sentido mais completo é “palavra de honra” e
“manter uma promessa”. Madre Teresa explica: “Besa significa o
seguinte: se você matar meu pai e eu lhe der minha palavra de que
não direi nada à polícia – caso ela esteja atrás de você –, nem se os
policiais quiserem me matar eu direi seu nome a eles”.[75]
Em outras palavras, na mente de Madre Teresa, se você der sua
palavra a alguém, você se dá a si mesmo a ela. Na verdade, besa
tem um caráter sagrado, tal como um voto, um juramento ou uma
aliança. Reflitamos sobre a última palavra: “aliança”. Foi com ela que
Madre Teresa descreveu sua consagração a Maria. É uma palavra
que possui um rico sentido bíblico: ela descreve o elo estabelecido
entre Deus e Seu povo ao longo da história da salvação. Esse elo é
mais do que um contrato, tal como explica Scott Hahn, um estudioso
da Sagrada Escritura:
A principal diferença entre os contratos e as alianças pode
ser identificada em suas distintas formas de troca. Um contrato é
uma troca de propriedade sob a forma de bens e serviços
(“Aquilo é meu e isto é seu”); ao passo que uma aliança supõe o
intercâmbio de pessoas (“Eu sou seu e você é meu”), criando
um elo comum de comunhão interpessoal.[76]
Outra característica de uma aliança é que ela normalmente supõe
certos direitos e obrigações. Por exemplo, na aliança marital, marido
e mulher têm direito a usufruírem um do outro no abraço esponsal de
autodoação amorosa, mas também têm a obrigação de cuidar um do
outro e apoiar-se mutuamente “nos bons e maus momentos”. Madre
Teresa também entendia que sua “Aliança de Consagração” com
Maria tinha certos direitos e obrigações. Ela transmitiu essa
espiritualidade mariana a sua família religiosa: as Missionárias da
Caridade.
O padre Joseph Langford, MC, inspirado pelos ensinamentos de
Madre Teresa sobre a Aliança de Consagração, explica
detalhadamente os direitos e deveres de uma missionária da
caridade em seu relacionamento com Maria, listando 12 direitos e
deveres correspondentes. É importante observar que a lista começa
com o dever de Maria de dar “seu espírito e coração” e termina com
o “direito” de cada Missionária da Caridade de entrar no coração de
Maria e participar da vida interior dela. Consequentemente, os dois
suportes dessa aliança com Maria são as duas orações de Madre
Teresa que aprendemos acima: “dai-me o vosso coração” e “guardai-
me em vosso puríssimo coração”. Entre esses dois suportes estão os
termos do relacionamento.
Concluamos, portanto, com a meditação sobre a Aliança de
Consagração das Missionárias da Caridade a Maria, começando por
seu parágrafo introdutório:
Movido(a) por um ardente desejo de viver convosco uma
união mais próxima possível nesta vida, para que possa me unir
ao vosso Filho de modo mais pleno e seguro, eu, pelo presente,
me comprometo a viver o espírito e os termos da seguinte
Aliança de Consagração do modo mais generoso e fiel que
puder.[77]
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Ajudai-me a realizar com fervor uma Aliança de Consagração a
Maria.
21º Dia
Seja aquele que consola Jesus (com Maria)
É possível que a lista de 12 deveres que vimos ontem tenha nos
impressionado. Portanto, hoje nos concentraremos em um modo
mais simples de recordar a essência da consagração de Madre
Teresa a Maria: “seja aquele”, ou, de modo mais específico, “seja
aquele, com Maria”. O que isso significa? A principal pista vem do
versículo do Ofertório (Sl 68,21) para a Missa da Festa do Sagrado
Coração:
Meu coração esperou censura e sofrimento. Esperei em vão
quem tivesse compaixão de mim, quem me consolasse, e não
encontrei.[78]
Madre Teresa responde: “seja esta pessoa”. Seja aquela pessoa
que consola Jesus saciando Sua profunda sede de amor. Ela diz:
Diz a Jesus: “eu serei essa pessoa”. Eu O confortarei, O
encorajarei e O amarei. Estarei com Jesus. Ele orou
incessantemente e em seguida foi em busca de consolação,
mas não encontrou ninguém... Sempre escrevo a frase: “Esperei
em vão quem me consolasse, e não encontrei”. Em seguida,
escrevo: “seja essa pessoa”. Agora seja você essa pessoa.
Procura ser a pessoa que ficará com Ele, que O confortará e O
consolará. Peçamos a Nossa Senhora que nos ajude a
compreender isso.[79]
A última frase é a mais importante. Precisamos da ajuda de
Nossa Senhora para compreendermos a sede de Jesus. É ela que
melhor O consola, pois é a esposa do Consolador, o Espírito Santo.
Por meio de Maria, o Espírito Santo pode nos ajudar a compreender
o que significa ser um consolador do Coração de Jesus:
Tentemos, de um modo especial, chegar o mais perto que
um coração humano pode chegar ao Coração de Jesus a fim de
tentar compreender o mais que pudermos, a terrível dor que
nossos pecados causaram em Jesus e a Sua Sede por nosso
amor (...) Graças a Deus Nossa Senhora esteve presente [no
Calvário] para compreender plenamente a sede de Jesus por
amor. Ela deve ter dito imediatamente: “eu sacio Tua sede com
meu amor e com o sofrimento do meu coração”.[80]
Sim, nós podemos agradecer a Deus por nossa Senhora. Ela nos
ensinar a “ser aquela pessoa”, com ela, consolando Jesus no
Calvário. Ela nos ajuda a dizer “imediatamente”: “Jesus, eu sacio Tua
sede”. Mas o que isso significa exatamente? O que significa saciar a
sede de Jesus? Duas coisas: consolar Jesus, Cabeça de Seu Corpo
Místico, e consolá-Lo nos membros de Seu Corpo.
Como consolamos Jesus, Cabeça do Corpo? Sendo apóstolos da
alegria, que equivale a “consolar o Sagrado Coração de Jesus por
meio da alegria”. E fazemos isso de um modo especial com a alegria
de Maria, pois Madre Teresa prossegue: “por favor, pede que Nossa
Senhora me dê o coração dela”.[81] Maria é aquela que louva e
agradece a Deus em todas as coisas, sorri para Ele e O consola com
seu amor, apesar da própria escuridão que tem de enfrentar em sua
provação. É algo simples e belo, que Madre Teresa resume por meio
de suas três virtudes características: total entrega a Deus, confiança
amorosa e perfeita alegria. Basicamente, trata-se de ser como uma
criança, com Maria, sorrindo para Jesus e amando-O ao pé da Cruz.
Ora, como consolamos Jesus nos membros de Seu Corpo?
Reconhecendo a sede deles. Todas as pessoas têm sede: ricos e
pobres, jovens e idosos, crentes e céticos. Todas as pessoas estão
em busca de Deus, pois o homem tem uma sede inesgotável.
Consolar Jesus no próximo é responder ao seu sofrimento,
especialmente ao mais profundo e universal sofrimento: a sede de
amor. Não deveríamos responder com indiferença a essa sede que
há em outras pessoas, mas com um sorriso amável que diz: “alegro-
me por você existir e também compreendo a dor da sede”. Madre
Teresa explica:
O maior dos males é a falta de amor e de caridade, a terrível
indiferença com o próximo... Atualmente, as pessoas estão
ávidas por amor, por compreender o amor, isto é, algo muito
elevado e que oferece a única resposta à solidão e à grande
pobreza.[82]
Por ter reconhecido, com a ajuda de Maria, que também tinha
essa sede e por não ter fugido dela, Madre Teresa conseguia
compreender a sede das outras pessoas – tanto a de Jesus na Cruz
como a de Jesus no próximo. Assim, ela se tornou uma verdadeira
apóstola da misericórdia e da alegria: uma verdadeira missionária da
caridade.
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Ajudai-me a “ser a pessoa” que consola Jesus com Maria.
Quarta semana
São João Paulo II
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Tende misericórdia de nós e do mundo inteiro!
23º Dia
Mediação maternal
São João Paulo II, como um de nossos guias para o Dia da
Consagração, é um dom triplo. Ele não é apenas um santo mariano,
tal como nossos outros três guias; não é apenas brilhante e
profundamente versado em teologia, como São Luís de Montfort e
São Maximiliano Kolbe, mas é também Papa. Portanto, as palavras
dele têm a autoridade magisterial do sucessor de São Pedro... e o
peso de um Concílio Ecumênico! Bem, isso é verdadeiro porque
seus ensinamentos sobre a Mãe de Deus são profundamente
enraizados na Mariologia assertiva do Concílio Vaticano II. Em
função dessa dependência em relação ao Concílio, antes de
examinarmos a doutrina de São João Paulo II sobre a consagração
mariana, vejamos o que o Concílio tem a dizer sobre Maria. (Amanhã
começaremos a refletir sobre o quanto João Paulo II desenvolve o
ensinamento do Vaticano II.)
Os ensinamentos marianos do Concílio Vaticano II estão no
último capítulo da Constituição Dogmática sobre a Igreja, conhecida
pelo título em latim Lumen Gentium. O núcleo desses ensinamentos
está relacionado ao que normalmente chamamos de “mediação
maternal” de Maria. Isso significa, basicamente, que ela é nossa mãe
espiritual (daí o adjetivo “maternal”) que nos auxilia lá do céu com
suas orações e seu cuidado maternal para levar-nos a Deus (daí o
termo “mediação”). Embora o termo “maternal” deva ser familiar,
“mediação” requer alguma explicação.
Um mediador é alguém que se coloca entre duas pessoas a fim
de uni-las. Portanto, Jesus Cristo é um mediador. Ele é aquele que,
depois da queda, se coloca entre Deus e a humanidade caída para
levar-nos novamente a comunhão com Deus. E há apenas um, como
São Paulo deixa claro: “Há um só mediador entre Deus e os homens:
Jesus Cristo, homem” (1Tm, 2,5).
Se há apenas um mediador entre Deus e o homem, e se esse
mediador é Jesus Cristo, por que o Concílio Vaticano II descreve
Maria como mediadora? Porque Deus é generoso. Em outras
palavras, Jesus não guarda para si Seu papel de mediador. Ele quer
que Maria – não somente ela, mas todos os cristãos – participe de
Sua única mediação, mas de um modo subordinádo. Por exemplo,
cada um de nós participa da mediação única de Cristo quando
rezamos uns pelos outros “em Cristo”. Mencionei um ponto
semelhante na introdução quando escrevi que Deus quer que todos
nós participemos de sua obra de salvação. Também disse que Maria
tem um papel singular nessa obra. Mais uma vez, de acordo com o
Concílio Vaticano II, a expressão “mediação maternal” expressa esse
papel especial.
Entre as criaturas, o papel de Maria na contínua obra de salvação
é sem dúvida o mais importante. Esse papel tão importante foi
confiado a ela “não por causa de alguma necessidade intrínseca” da
parte de Deus, mas porque “Deus se compraz nisso”.[85] Aqui
podemos ver, mais uma vez, a generosidade de Deus ao nos incluir
na obra da redenção; nós, as mesmas criaturas que Ele veio redimir.
A seguinte passagem da Lumen Gentium sintetiza a cooperação de
Maria com essa obra de salvação quando ela estava na terra e agora
que está no céu:
A Virgem Santíssima, predestinada para Mãe de Deus desde
toda a eternidade simultaneamente com a encarnação do Verbo,
por disposição da divina Providência foi na terra a nobre Mãe do
Divino Redentor, a Sua mais generosa cooperadora e a escrava
humilde do Senhor. Concebendo, gerando e alimentando a
Cristo, apresentando-O ao Pai no templo, padecendo com Ele
quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a
sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para
restaurar nas almas a vida sobrenatural. É por esta razão nossa
mãe na ordem da graça.
Esta maternidade de Maria na economia da graça perdura
sem interrupção, desde o consentimento, que fielmente deu na
anunciação e que manteve inabalável junto à cruz, até à
consumação eterna de todos os eleitos. De fato, depois de
elevada ao céu, não abandonou esta missão salvadora, mas,
com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os
dons da salvação eterna. Cuida, com amor materno, dos irmãos
de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na
terra, até chegarem à pátria bem-aventurada. Por isso, a Virgem
é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora,
socorro, medianeira. Mas isto entende-se de maneira que nada
tire nem acrescente à dignidade e eficácia do único mediador,
que é Cristo.[86]
Portanto, enquanto estava na terra, Maria cooperou com o plano
salvador de Deus “mais do que qualquer outra criatura”,
particularmente ao dar à luz e cuidar de Jesus. Agora que está no
céu ela continua cooperando, de um modo especial, com o plano
salvador de Deus. Por meio de sua “constante intercessão” e
“caridade maternal”, ela nos traz graça, misericórdia e os “dons da
salvação eterna”. Amanhã começaremos a ver como São João Paulo
II desenvolve esse ensinamento sobre a maternidade de Maria na
ordem da graça. Por ora podemos refletir sobre este imenso dom de
Deus: Maria é nossa mãe espiritual cujo papel dado por Deus é
cuidar de nós com seu carinho maternal e com os dons e graças que
nos são concedidos por meio de suas amorosas orações.
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Enchei meu coração de louvor a Deus por ter me dado Maria
como minha mãe espiritual.
24º Dia
O retiro de Maria (primeiro dia)
Ao longo deste retiro, temos meditado em nossos corações sobre
certas verdades de nossa fé que estão relacionadas à consagração
mariana. Alguém poderia dizer que estamos em uma espécie de
“peregrinação da fé” rumo ao Dia da Consagração. Durante sua vida
terrena, Maria também esteve em uma espécie de retiro e
peregrinação da fé. Ela também meditou em seu coração sobre
diferentes verdades relacionadas à consagração mariana. Afinal de
contas, ela não descobriu de uma vez só sua vocação de mãe
espiritual e mediadora. Maria, assim como cada um de nós,
precisava caminhar na fé enquanto meditava em seu coração. Ela
também precisou de um tempo de preparação considerando o seu
papel especial de nossa “mãe na ordem na graça”.
Como a mediação maternal de Maria é central para uma
compreensão adequada da consagração mariana, ao longo dos
próximos dias nós faremos um retiro dentro do nosso retiro. Faremos
isso examinando com atenção o retiro de Maria. Em outras palavras,
acompanharemos Maria ao longo do caminho pelo qual Deus a guiou
para que ela descobrisse gradualmente sua vocação para ser nossa
mãe espiritual e nossa mediadora.
Em certo sentido, o retiro de Maria começa na Anunciação. Com
seu “sim” a Deus, seu fiat, ela aceitou sua vocação para ser a mãe
de Jesus. No entanto, ela sabia também que havia aceitado o
chamado para ser a mãe espiritual de todos os cristãos? Eu não sei.
O que de fato sei é que o mistério da Anunciação deu a Maria algo
maravilhoso sobre o qual ela podia meditar, algo que está
profundamente ligado à confiança e à consagração mariana.
Permita-me explicá-lo desta maneira: quem foi a primeira pessoa a
confiar-se a Maria? Não foi São Luís de Montfort. Foi Deus Pai. João
Paulo II explica: “Com efeito, importa reconhecer que, primeiro do
que quaisquer outros, o próprio Deus, o Pai eterno, se confiou à
Virgem de Nazaré, dando-lhe o próprio Filho no mistério da
Encarnação.”[87] Sem dúvida alguma Maria ficou admirada com esse
ato de humildade de Deus. Será que, à medida que ficava admirada
e meditava sobre esse ato, ela teria começado a suspeitar de que,
posteriormente, Deus desejaria que aqueles que Ele viera redimir
seguissem seu exemplo?
Maria teve de meditar sobre muitas outras coisas durante sua
preparação para se tornar, de um modo mais completo, nossa mãe
na ordem da graça. Os Evangelhos Sinópticos (Mateus, Marcos e
Lucas) apresentam vários pontos de reflexão que dizem respeito à
maternidade espiritual de Maria. Vejamos, por exemplo, a passagem
no Evangelho de Marcos (3,31-35) na qual Maria e os primos de
Jesus, querendo vê-Lo, pedem que alguém O chame. Jesus
responde, perguntando: “Quem é minha mãe e quem são meus
irmãos?” Então, olhando para os que estão sentados ao Seu redor,
Ele diz: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Aquele que faz a
vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.”
Jesus portou-se mal como filho ao dar essa resposta? Não. Ele
portou-se exatamente como Seu Pai queria que se portasse. Ao
mesmo tempo, Ele estava preparando Sua mãe para ser quem Ele
queria que ela fosse. Para ser mais específico, ao portar-se daquele
modo Ele começou a revelar a ela o novo vínculo filial do reino, que
vai além dos vínculos carnais. Em outras palavras, Ele sublinhou a
primazia do espírito sobre a carne, a primazia da Paternidade
sobrenatural de Deus sobre a paternidade (ou maternidade) natural
dos seres humanos. É provável que Maria tenha compreendido
imediatamente ao menos alguma parte do que Jesus estava
tentando ensinar a ela. Afinal de contas, durante anos ela meditou
em seu coração outra resposta estranha de Jesus, dada quando ela
O encontrou no Templo após três dias de uma busca dolorosa: “Não
sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?” (Lc 2,49).
Durante Seu ministério público, Jesus de fato se ocupou
plenamente com as coisas do Pai. Ora, uma parte fundamental disso
foi a preparação de Sua mãe para o novo papel que ela teria de
desempenhar no reino de Deus. Jesus sabia que “a maternidade [de
Maria], vista na dimensão do Reino de Deus, na irradiação da
paternidade do próprio Deus, alcança um outro sentido”.[88] Nas
palavras reportadas por Marcos lidas acima, Jesus se refere a esse
sentido: “Aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão,
minha irmã e minha mãe.” Maria com certeza meditou sobre essas
palavras em seu coração e compreendeu que, por meio delas, Jesus
não quis rejeitá-la, mas prepará-la.
Podemos ter certeza de que Jesus não estava rejeitando Maria?
Podemos. Embora as palavras de Jesus deem a impressão de que
Ele está rejeitando Maria, na verdade não é isso o que elas querem
dizer. De fato, se levarmos em conta um trecho semelhante presente
no Evangelho de Lucas (11,27-28), fica claro que Jesus está, na
verdade, abençoando Sua mãe. Nessa passagem, “uma mulher
levantou a voz do meio do povo e lhe disse: Bem-Aventurado o
ventre que te trouxe, e os peitos que te amamentaram!” Jesus
responde de um modo semelhante ao que lemos em Marcos: “Antes
bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a
observam!” À primeira vista, isso pode parecer uma repreensão
dirigida a Maria. Mas não é. Afinal de contas, quem escutou a
palavra de Deus e a guardou melhor do que Maria? Ninguém.
Portanto, Jesus na verdade está abençoando Sua mãe, e ela
certamente compreendeu isso.
Maria é uma mulher incrivelmente perspicaz, e prestava bastante
atenção a cada palavra e ação de Jesus. As sutilezas dos
ensinamentos Dele não lhe escapavam, e ela foi compreendendo
gradualmente o desenrolar do mistério de sua maternidade singular:
Mas, à medida que se ia esclarecendo aos seus olhos e no
seu espírito a missão do Filho, ela própria, como Mãe, se ia
abrindo cada vez mais para aquela «novidade» da maternidade,
que devia constituir a sua «parte» ao lado do Filho. Não
declarara ela, desde o princípio: «Eis a serva do Senhor! Faça-
se em mim segundo a tua palavra»? (Lc 1, 38). Maria
continuava, pois, mediante a fé, a ouvir e a meditar aquela
palavra (...) E assim, Maria Mãe tornava-se, em certo sentido, a
primeira «discípula» do seu Filho, a primeira a quem ele parecia
dizer: “Segue-me...”[89]
Quanta alegria Jesus não deve ter sentido por ter tido uma
discípula que O compreendeu plenamente! Que consolação para o
Seu Coração ter encontrado tamanha atenção à Palavra de Deus!
Amanhã continuaremos nossa reflexão sobre essa atenção de
Maria e veremos como isso a levou a descobrir outro aspecto de sua
“parte” ao lado de seu filho em Sua obra de salvação. Tal como
escreveu São João Paulo II, essa parte de fato está relacionada à
“nova dimensão da maternidade dela”. Portanto, em Caná veremos
que ela dá à luz a fé dos discípulos ao desencadear o primeiro
milagre de Jesus, que é realizado por meio de seu desvelo maternal
com as necessidades humanas.
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Ajudai-me a ser fiel à oração meditativa, tal como o foi Maria
25º Dia
O retiro de Maria (Segundo dia)
Ontem nós começamos um “retiro dentro de nosso retiro”, unindo-
nos ao retiro de Maria. Em outras palavras, começamos a meditar
sobre como Jesus preparou Maria para compreender e abraçar
plenamente seu novo papel maternal no reino de Deus. Hoje nós
continuamos este retiro nas bodas de Caná, onde a mediação
maternal de Maria brilha gloriosamente. Relembremos a cena (Jo
2,1-12).
A mãe de Jesus está em uma festa de casamento, para a qual
também foram convidados Jesus e Seus discípulos – possivelmente
por causa de Maria. Começa a faltar vinho. Maria se dá conta disso e
chama a atenção de Jesus para o fato: “Eles já não têm vinho”.
Jesus parece repreendê-la: “Mulher, isso compete a nós? Minha hora
ainda não chegou”. Apesar disso, Maria diz aos servos: “Fazei o que
Ele vos disser”. Os servos seguem as ordens de Jesus para
encherem com água os jarros de pedra. Em seguida, a água se
transforma em vinho e os discípulos creem.
Reflitamos profundamente sobre o comentário de João Paulo II
sobre essa cena. As palavras dele tocam o âmago do papel de Maria
em nossas vidas e explicam por que deveríamos nos consagrar a
ela:
Naquele evento é bem certo que já se delineia bastante
claramente a nova dimensão, o sentido novo da maternidade de
Maria (...) a partir da descrição dos fatos de Caná, esboça-se
aquilo em que se manifesta concretamente esta maternidade
nova, segundo o espírito e não somente segundo a carne, ou
seja, a solicitude de Maria pelos homens, o seu ir ao encontro
deles, na vasta gama das suas carências e necessidades. Em
Caná da Galileia torna-se patente só um aspecto concreto da
indigência humana, pequeno aparentemente e de pouca
importância («Não têm mais vinho»). Mas é algo que tem um
valor simbólico: aquele ir ao encontro das necessidades do
homem significa, ao mesmo tempo, introduzi-las no âmbito da
missão messiânica e do poder salvífico de Cristo. Dá-se,
portanto, uma mediação: Maria põe-se de permeio entre o seu
Filho e os homens na realidade das suas privações, das suas
indigências e dos seus sofrimentos. Põe-se de «permeio», isto
é, faz de mediadora, não como uma estranha, mas na sua
posição de mãe, consciente de que como tal pode ― ou antes,
«tem o direito de» ― fazer presente ao Filho as necessidades
dos homens. A sua mediação, portanto, tem um carácter de
intercessão: Maria «intercede» pelos homens. E não é tudo:
como Mãe deseja também que se manifeste o poder messiânico
do Filho, ou seja, o seu poder salvífico que se destina a socorrer
as desventuras humanas, a libertar o homem do mal que, sob
diversas formas e em diversas proporções, faz sentir o peso na
sua vida.
Outro elemento essencial desta função maternal de Maria
pode ser captado nas palavras dirigidas aos que serviam à
mesa: «Fazei aquilo que ele vos disser». A Mãe de Cristo
apresenta-se diante dos homens como porta-voz da vontade do
Filho, como quem indica aquelas exigências que devem ser
satisfeitas, para que possa manifestar-se o poder salvífico do
Messias. Em Caná, graças à intercessão de Maria e à
obediência dos servos, Jesus dá início à «sua hora». Em Caná,
Maria aparece como quem acredita em Jesus: a sua fé provoca
da parte dele o primeiro «milagre» e contribui para suscitar a fé
dos discípulos.
(...) o evento de Caná da Galileia nos oferece como que um
prenúncio da mediação de Maria, toda ela orientada para Cristo
e propendente para a revelação do seu poder salvífico.[90]
Quero destacar alguns pontos importantes dessa passagem para
que possamos meditá-los. (1) A “escrava do Senhor”, que faz a
vontade do Pai perfeitamente, tem – não por necessidade, mas pela
escolha de Deus – o “direito”, como mãe e medianeira, de indicar ao
seu Filho quais são as necessidades da humanidade. Não
deveríamos todos recorrer a uma Mãe de Misericórdia tão poderosa
em nossas necessidades e intenções? (2) Maria precisa de servos
que obedecerão as suas palavras: “Fazei o que Ele vos disser”.
Estamos preparados para ser servos dela, a fim de que Jesus possa
iniciar Sua “hora” em nosso dia? (3) As palavras “Fazei o que Ele vos
disser” deixam claro que o papel de Maria “orienta-se plenamente a
Cristo” e tende a revelar o poder salvífico Dele. A mediação de
Maria, portanto, está unida e subordinada à única mediação de
Jesus Cristo, nosso Salvador.
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Fazei que eu me lembre de pedir a poderosa intercessão de
Maria nos momentos de necessidade.
26º Dia
O retiro de Maria (terceiro dia)
Ontem, nas bodas de Caná, vimos um exemplo glorioso da
mediação maternal de Maria. Depois desse episódio, Maria com
certeza meditou sobre ele profundamente e descobriu muitas coisas
a respeito de sua mediação maternal. Porém, Caná não foi a parte
mais importante da preparação dela. O “momento de coroação” da
preparação de Maria – em verdade, sua realização plena – foi o
Calvário.
No Calvário, Maria sofre com Cristo. Pela fé, ela “se uniu
perfeitamente a Cristo no Seu despojamento”. Por meio da fé, ela
compartilha todo o “mistério trágico” do dom do próprio Jesus por
amor a nós. Pela fé, a “Mãe participa na morte do Filho, na sua morte
redentora”.[91] Antes de morrer, Jesus ainda tem de ensinar mais
uma lição à sua discípula perfeita, que O seguiu até a Cruz e aceitou
plenamente sofrer junto com Ele. Ao vê-la ao pé da Cruz junto de
Seu discípulo amado, João, Ele diz: “Mulher, eis aí teu filho” (Jo
19,26-27). Em seguida, diz a João: “Eis aí tua mãe” (Jo 19,26-27).
Por meio dessas palavras, Jesus dá Maria como mãe a “todos e a
cada um dos homens”.[92]
De acordo com João Paulo II, essa “nova maternidade de Maria”
é o “é fruto do «novo» amor, que nela amadureceu definitivamente
aos pés da Cruz, mediante a sua participação no amor redentor do
Filho”.[93] Esse “novo amor”, diz João Paulo II, na verdade causa uma
“transformação” tão grande na maternidade de Maria, que ela passa
a amar ainda mais intensamente aqueles por quem Jesus sofreu e
morreu.
Essa ideia de que Maria, ao pé da Cruz, recebeu um novo e
ardoroso amor pelas almas pode nos remeter a profunda
compreensão de Madre Teresa sobre Maria. Lembre-se de que, para
Teresa, Maria foi aquela que compreendeu e meditou de modo mais
profundo as palavras de Jesus “tenho sede”. Ela também ajuda
outras pessoas a fazerem o mesmo. Seja como for, São João Paulo
II aprofunda a reflexão sobre a transformação de Maria no amor:
aos pés da Cruz, foi-se realizando, ao mesmo tempo, com as
suas ações e os seus sofrimentos, a sua cooperação materna e
esponsal em toda a missão do Salvador. Ao longo do caminho
de tal colaboração com a obra do Filho-Redentor, a própria
maternidade de Maria veio a conhecer uma transformação
singular, sendo cada vez mais cumulada de «caridade ardente»
para com todos aqueles a quem se destinava a missão de
Cristo. Mediante essa «caridade ardente», visando cooperar, em
união com Cristo, na restauração «da vida sobrenatural nas
almas», Maria entrava de modo absolutamente pessoal na única
mediação «entre Deus e os homens», que é a mediação do
homem Cristo Jesus.[94]
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Preparai-me para que eu possa confiar-me completamente a
Maria a fim de que ela me aproxime ainda mais de Cristo.
28º Dia
Confiar-se a Maria (segunda parte)
Retornemos a Fátima, onde iniciamos esta semana, mas desta
vez na companhia de São João Paulo II.
Exatamente um ano depois de ser baleado na Praça de São
Pedro, São João Paulo II foi a Fátima “para agradecer pelo fato de a
misericórdia de Deus e a proteção da Mãe de Cristo” terem salvado
sua vida.[101] Naquela ocasião, ele proferiu uma homilia tão profunda,
que é uma fonte rica da teologia da consagração e confiança
mariana. A íntegra da homilia e do Ato de Confiar-se são muito
longos para serem citados aqui. Portanto, terei de resumi-los. Para
ser mais específico, extrairei deles a associação que o Papa faz
entre a consagração a Maria, a Divina Misericórdia e a consagração
redentora de Cristo. Comecemos pela associação entre Maria e a
Divina Misericórdia.
Antes de iniciarmos, é necessário dizer algumas coisas sobre a
Divina Misericórdia: (1) De acordo com João Paulo II, a Divina
Misericórdia é o limite imposto por Deus ao mal, o amor de Deus
perante o mal; (2) a Divina Misericórdia é simbolizada pelo lado
trespassado de Cristo e pelo sangue e água que jorraram dele; (3)
uma parte essencial da devoção moderna à Divina Misericórdia é o
Terço da Misericórdia, que oferece reparação e implora a
misericórdia pelos nossos pecados e os do mundo inteiro. Veja a
seguir como esses três aspectos da Divina Misericórdia ocupam o
lugar central da mais importante homilia do Papa sobre a
consagração mariana.
O contexto da homilia é o mal generalizado, “quase apocalíptico”,
de nossa época, um mal que “ameaça”, que “se difunde” e paira
“como uma nuvem negra sobre a humanidade”. O Papa confessa
que esse mal deixa o coração dele “apreensivo”. Apesar disso, ele
encontra esperança num “Amor mais poderoso que o mal”, que
“nenhum pecado do mundo jamais poderá superar”. Ele chama esse
Amor de “Amor misericordioso”.[102]
O que dizer desse Amor misericordioso? O que ele tem a ver com
a consagração mariana? Tudo. Ele tem tudo a ver com a
consagração porque Maria é aquela que nos leva à fonte do Amor
misericordioso. Maria é aquela que nos leva ao amor que é mais
poderoso que o mal. Na verdade, como João Paulo II diz em sua
homilia, consagrar-se ao Imaculado Coração significa “aproximar-se,
pela intercessão da Mãe, da própria Fonte da Vida que brotou do
Gólgota”.[103] O que é essa fonte da vida? O Papa a chama de
“Fonte de Misericórdia”.[104] É o lado trespassado de Cristo, do qual
jorraram sangue e água como fontes de graça e misericórdia. É por
meio dessa ferida no Coração de Jesus que “a reparação pelos
pecados do mundo é feita continuamente”. Além disso, é por meio
dessa Fonte de Misericórdia que encontramos “uma fonte
inesgotável de vida nova e santidade”.[105]
Em seguida, o Papa explica que consagrar-se ao Imaculado
Coração de Maria significa “retornar à Cruz do Filho”. Significa
conduzir o mundo e todos os seus problemas e sofrimentos ao
“Coração trespassado do Salvador” e, portanto, “à própria fonte de
sua Redenção”. Significa conduzir o mundo, por meio de Maria, à
Divina Misericórdia! O poder da Redenção, o poder do Amor
misericordioso “é sempre maior que o pecado do homem e o pecado
do mundo”, e é “infinitamente superior a toda a extensão do mal no
homem e no mundo”.
Ora, Maria conhece melhor que ninguém o poder da Redenção, o
poder do Amor misericordioso. Na verdade, João Paulo II diz que ela
conhece esse poder “mais que qualquer outro coração em todo o
universo, visível e invisível”. Portanto, ela nos chama não apenas à
conversão, mas a “aceitar sua ajuda maternal para retornarmos à
fonte da Redenção”. Pois, novamente, o papel de Maria é nos
conduzir à Fonte de Misericórdia, ao lado trespassado de Cristo, ao
Seu Coração Misericordioso.
Portanto, consagrarmo-nos a Maria significa, em essência,
“aceitar sua ajuda para oferecermo-nos – e a humanidade inteira”[106]
– ao Deus infinitamente Santo. Significa confiarmo-nos àquela que
esteve mais profundamente unida à própria consagração de Cristo:
“Louvada sejas tu que estás plenamente unida à consagração
redentora de teu Filho!”[107] Significa confiarmo-nos às orações de
Maria, para que ela possa “nos ajudar a viver toda a verdade da
consagração de Cristo por toda a família humana do mundo
moderno”.[108] Em outras palavras, consagrarmo-nos a Maria
significa confiar em sua intercessão maternal para que ela nos ajude
a oferecermo-nos mais plenamente a Cristo em Sua própria
consagração redentora.
Depois de colocar a si mesmo e o mundo nas mãos e no Coração
de Maria, depois de dar-se àquela que está mais plenamente unida à
consagração de Jesus, o Papa reza o núcleo de seu ato de
confiança. Como conclusão, proponho que o meditemos
profundamente em nossos corações:
Porque Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu
Filho unigénito, para que todo aquele que n’Ele crer, não pereça,
mas tenha a vida eterna (Jo 3,16).
Precisamente este amor fez com que o Filho de Deus se
tenha consagrado a si mesmo: “Eu consagro-me por eles, para
eles serem também consagrados na verdade” (Ibid. 17, 19).
Em virtude desta consagração, os discípulos de todos os
tempos são chamados a empenhar-se pela salvação do mundo,
a ajuntar alguma coisa aos sofrimentos de Cristo em benefício
do Seu Corpo, que é a Igreja (Cf. 2Cor 12,15; Col 1,24).
Diante de Vós, Mãe de Cristo, diante de Vosso Coração
Imaculado, desejo eu, hoje, juntamente com toda a Igreja, unir-
me com o nosso Redentor nesta sua consagração pelo mundo e
pelos homens, a qual só no seu Coração divino tem o poder de
alcançar o perdão e de conseguir a reparação.[109]
Oração de hoje:
Vinde, Espírito Santo, que viveis em Maria.
Fazei que eu mergulhe na Fonte de Amor e Misericórdia com
Maria e por meio de Maria.
últimos cinco dias
Síntese e revisão
Batismo
São Luís coloca sua devoção a Maria justamente dentro do
mistério de Cristo. O melhor exemplo é o modo como ele inicia sua
fórmula de consagração com uma renovação das promessas
batismais, pois o Batismo está essencialmente vinculado a Cristo.
Neste sacramento nós somos transformados em membros do Corpo
de Cristo, tornamo-nos “outros Cristos”.
O Batismo também tem a ver com o Espírito Santo. Digo isso
porque foi o Espírito Santo quem primeiro formou Cristo, e é Ele
quem continua a formar outros Cristos – os membros do Corpo de
Cristo – em cada Batismo.
Ora, quem o Espírito Santo usa para formar Cristo? Ele usa
Maria, embora Ele não dependa dela em nada. Então, por exemplo,
ele usou Maria na Anunciação, levando ao nascimento de Jesus
Cristo Nosso Salvador. Ele usou Maria no dia de Pentecostes,
levando ao nascimento do Corpo de Cristo, a Igreja. Ele usou Maria
em cada Batismo, o que leva ao nascimento de “outros Cristos”,
membros de Seu Corpo. O Espírito Santo sempre usa Maria para dar
à luz a Cristo! E quanto mais Ele encontra uma alma unida a Maria,
“mais operante e poderoso se torna para produzir Jesus Cristo nessa
alma, e essa em Jesus Cristo”.[112]
Portanto, é justo que São Luís queira que renovemos nossas
promessas batismais ao nos entregarmos a Maria. Pois é função
dela, junto com o Espírito Santo, levar à plenitude a graça do
Batismo, já que ele não é o fim, mas um início maravilhoso, uma
nova e gloriosa manhã. É verdade que ele nos transforma, tornando-
nos membros do Corpo de Cristo, mas há mais a ser feito. O Batismo
é uma realidade que ainda não chegou à plenitude. Ele já nos inseriu
em Cristo (como membros de Seu Corpo), embora ainda não
estejamos plenamente formados em Cristo. Depois do Batismo,
ainda temos de crescer em Cristo, e é função de Maria acompanhar
e nutrir esse crescimento, junto com o Espírito Santo. Portanto, a
devoção a Maria ensinada por São Luís de modo algum “nos afasta
de Cristo”.[113] O único objetivo de Maria é nos aproximar de Cristo a
ponto de podermos dizer com São Paulo: “Não sou eu que vivo, mas
é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). O único objetivo da verdadeira
devoção a Maria é a nossa contínua transformação em Cristo após o
Batismo.
Dom
Se tivermos a coragem de entregarmo-nos completamente a
Maria, viveremos a consagração mariana como um dom
inacreditável. Além disso, quanto mais nos entregarmos a ela, mais
experimentaremos a grandeza desse dom.
Nós damos, e em troca ela dá infinitamente mais. Damos a ela
nossa natureza pecadora, e ela nos dá seu Imaculado Coração.
Damos a ela nossos méritos escassos, e ela não apenas os aumenta
e purifica com seu perfeito amor, mas nos dá seus méritos e graças,
infinitamente maiores. Ficamos vazios depois de entregarmos tudo a
Maria, e ela nos enche com o Espírito de Deus. Ela cuida de nossa
família, dos nossos amigos e das pessoas que amamos – ainda
melhor do que nós mesmos podemos fazê-lo. Ela prevê nossas
necessidades e ordena cada detalhe de nossas vidas para a maior
glória de Deus. Quando trilhamos o caminho da santidade junto dela,
ele se torna um “caminho de rosas e mel”, ao contrário de quando o
trilhamos sem nos consagrarmos a ela. Na verdade, ela torna mais
suaves nossas cruzes e tribulações. Ademais, ela nos protege das
tentações e dos ataques do maligno.
Pertencer completamente a Maria é o caminho mais rápido, fácil
e seguro para alcançar Jesus. Se compreendêssemos plenamente a
grandeza do dom da consagração a Jesus por Maria, quase nunca
deixaríamos de sorrir e louvar a Deus por tê-lo recebido.
Oração de hoje:
Passe o dia meditando sobre a doutrina mariana de São Luís
resumida por estas três palavras: Paixão, Batismo e Dom.
30º Dia
São Maximiliano Kolbe
Três palavras resumem o que aprendemos com São Maximiliano
Kolbe: (1) Mistério, (2) Milícia e (3) Amor. Meditemos sobre cada uma
delas.
Mistério
Quem és tu, ó Imaculada Conceição? São Maximiliano oferece-
nos uma chave para esse mistério: o Espírito Santo é a Imaculada
Conceição incriada, e Maria é a Imaculada Conceição criada. Ela
está perfeitamente unida ao Espírito Santo, porque foi concebida
sem pecado, jamais pecou e sempre cumpre com perfeição a
vontade de Deus. Ela permite que o Espírito Santo a cubra, tome
posse de sua alma e dê frutos por meio dela. O Espírito Santo se
alegra por agir sempre em e por meio de Maria para salvar todas as
outras criaturas feitas à imagem de Deus, primeiro realizando a
Encarnação no ventre dela e, em seguida, usando-a para formar a
imagem de seu Filho em todos os batizados. Embora Kolbe nos
forneça a chave do mistério, ele não o desvenda plenamente. Em
vez disso, ele nos convida a meditar mais profundamente sobre a
relação entre Maria e o Espírito Santo, uma relação ainda mais
profunda que a do matrimônio.
Milícia
O nome “Maximiliano” significa “o maior”. São Maximiliano Kolbe
recebeu esse nome porque os superiores dele reconheceram seus
grandes dons naturais e espirituais. Ele o aceitou porque isso
correspondia ao coração dos corações: “Não quero apenas render a
Deus uma grande glória, mas a maior glória possível.”
Kolbe reconhecia que o melhor caminho para glorificar a Deus é
unir-se à criatura que O glorifica da maneira mais perfeita: Maria
Imaculada. Ele também entendia que a maneira de render a Deus a
maior glória possível não era fazê-lo como uma só pessoa, mas junto
com exército (“Milícia”) de pessoas que rendem a Deus a maior
glória possível. Na verdade, ele queria que esse exército da
Imaculada (Militia Immaculata) levasse o mundo inteiro a render a
Deus a maior glória possível, por meio dela e o mais rápido possível.
Embora a meta do projeto de Kolbe seja a conversão do mundo
inteiro, ele deve começar por alguém. Primeiro essa pessoa tem de
se entregar completamente à Imaculada como posse e propriedade
dela, permanecendo unida a ela e inteiramente dependente dela. Em
seguida, terá de inspirar outros para que se entreguem a ela e vivam
em total dependência dela, de modo que ela possa usá-los como
instrumentos consagrados para levar o mundo inteiro ao Coração
Misericordioso de Jesus.
“Por meio da Imaculada, atingiremos o objetivo final da Militia
Immaculata, isto é, render a Deus a maior glória possível.”[114]
Amor
Kolbe estava unido a Maria por uma dependência de amor. Ele
diz que também devemos amar a Imaculada. Como? Confiando em
sua poderosa intercessão, experimentando seu cuidado maternal,
falando com ela em nossos corações, permitindo que ela nos guie,
recorrendo a ela em todas as coisas e confiando nela
completamente. Lembre-se destas palavras: “Meus queridos irmãos,
nossa mãezinha, Maria Imaculada, pode fazer tudo por nós. Somos
filhos dela. Voltem-se para ela, pois ela resolverá tudo.”[115]
Quando experimentarmos o cuidado maternal de Maria por nós,
poderemos amá-la ainda mais. Porém, temos de falar com ela,
temos de pedir a ela. E se mesmo após tantos sinais de amor e
cuidado ainda conseguirmos amar a Imaculada ou perceber o quanto
ela nos ama? Kolbe explica:
Não se preocupem se não sentirem esse amor. A simples
vontade de amar já é uma prova de amor. O que importa é a
vontade de amar. O sentimento externo é também fruto da
graça, mas ele nem sempre acompanha a vontade. Às vezes,
meus caros, este pensamento, um triste anseio semelhante a
uma súplica ou a uma queixa, pode lhes ocorrer: “A Imaculada
ainda me ama?” Meus filhos muito amados! Digo a todos e a
cada um individualmente, em nome dela (veja bem: em nome
dela!): ela ama cada um de vocês. Ela ama muito todos vocês a
todo momento e sem exceção alguma. Repito isso a vocês em
nome dela.[116]
Oração de hoje:
Passe o dia meditando sobre a doutrina mariana de São
Maximiliano resumida por estas três palavras: Mistério, Milícia e
Amor.
31º Dia
Santa Teresa de Calcutá
Três palavras resumem o que aprendemos com Madre Teresa:
(1) Sede, (2) Coração e (3) Aliança. Meditemos sobre cada uma
delas.
Sede
A Santíssima Virgem (junto de São João e, tenho certeza,
também de Maria Madalena) foi a primeira pessoa a escutar
Jesus clamando “tenho sede”. Por ter estado presente no
Calvário, ela sabe quão real e quão profundo é o desejo que Ele
sente por vós e pelos pobres. E nós? Também sabemos disso e
o sentimos tanto quanto ela? Pedi ajuda a ela, pois seu papel é
vos colocar face a face – tal como João e Madalena – com o
amor presente no Coração de Jesus crucificado. Outrora a
Santíssima Virgem suplicou à Madre; agora é a Madre que
suplica a vós, em nome dela: “dai atenção à sede de Jesus”.
Tentemos, de um modo especial, chegar o mais perto
possível do Coração de Jesus a fim de tentar compreender o
mais que pudermos a terrível dor que nossos pecados causaram
em Jesus e a Sua Sede por nosso amor (...) Graças a Deus
Nossa Senhora esteve presente [no Calvário] para compreender
plenamente a sede de Jesus por amor. Ela deve ter dito
imediatamente: “eu sacio Tua sede com meu amor e com o
sofrimento do meu coração”.
Portanto, peçamos a Nossa Senhora que nos ajude a
compreender.
Coração
Uma chave para compreendermos a doutrina de Madre Teresa
sobre a consagração é o “coração”, particularmente o Imaculado
Coração. Lembre-se das duas orações que ela dirigia a Maria: “Dai-
me o vosso coração” e “guardai-me em vosso puríssimo coração”.
Lembre-se também de como é importante imitarmos o coração
contemplativo de Maria. Comecemos com as duas orações e em
seguida revisemos a postura contemplativa de Maria.
Dai-me o vosso coração. Com essa oração, Madre Teresa pedia
a Nossa Senhora que lhe desse o amor presente no coração dela.
Em outras palavras, ela diz: “Maria, ajudai-me a amar com o amor
perfeito de vosso Imaculado Coração”. Lembre-se: o desejo ardente
de Madre Teresa era saciar a sede de Jesus por amor, e ela queria
fazer isso da melhor maneira possível. Haverá melhor forma de amar
Jesus do que com o coração perfeito, humilde e imaculado de Sua
mãe? Madre Teresa encontrou aqui o segredo de como viver
plenamente sua vocação: “Maria, dai-me o vosso Imaculado
Coração.”
Guardai-me em vosso puríssimo coração. Ou, dito de modo mais
completo, reza-se: “Imaculado Coração de Maria, guardai-me em
vosso puríssimo coração, para que eu possa agradar a Jesus por
meio de vós, em vós e convosco.”[117] Esta parte da consagração de
Madre Teresa a Maria é a mais profunda. Ela não pede apenas que o
coração de Maria permaneça nela, mas que ela permaneça no
coração de Maria! Portanto, esta é uma oração para amar a Jesus
por Maria, em Maria e com Maria. Compreender e viver isso exige de
nós uma dependência amorosa e uma profunda união com Maria.
Isso é expresso de modo mais completo na próxima seção
(“aliança”).
Coração contemplativo. Madre Teresa desenvolveu uma “atitude
de gratidão” ao seguir o exemplo de Maria, que estava sempre
“meditando em seu coração” as “coisas boas” que o Senhor fazia em
sua vida (Lc, 2,19;51). Madre Teresa seguiu especificamente esse
exemplo por meio de sua fidelidade ao exame de consciência. Em
outras palavras, no fim de cada dia, ela meditava em seu coração
todas as coisas boas que Deus lhe havia feito naquele dia, e depois
avaliava se estava ou não correspondendo ao amor Dele.
Aliança
Movido(a) por um ardente desejo de viver convosco na união
mais perfeita possível nesta vida, para que possa me unir ao
vosso Filho de modo mais pleno e seguro, eu pelo presente me
comprometo a viver o espírito e os termos da seguinte Aliança
de Consagração do modo mais generoso e fiel que puder.
Deveres de Maria Meus deveres
1. Entregar tudo o que sou e tudo o
1. Dar seu espírito e coração.
que tenho.
2. Possuir-me, proteger-me e transformar-
2. Total dependência dela.
me.
3. Capacidade de corresponder ao
3. Inspirar-me, guiar-me e iluminar-me.
espírito dela.
4. Compartilhar sua experiência de oração e
4. Fidelidade à oração.
louvor.
5. Responsabilizar-se por minha
5. Confiança na intercessão dela.
santificação.
6. Responsabilizar-se por tudo o que
6. Aceitar tudo como vindo dela.
acontecer comigo.
7. Compartilhar as virtudes dela comigo. 7. Imitar o espírito dela.
8. Socorrer-me em minhas necessidades
8. Recorrer constantemente a ela.
espirituais e materiais.
9. Lembrar sempre da presença
9. Unir-me ao coração dela.
dela.
10. Pureza de intenção;
10. Purificar a mim e as minhas ações.
abnegação.
11. Direito a dispor de mim, de minhas 11. Direito a servir-me dela e de
orações, intercessões e graças. suas energias em prol do reino.
12. Total liberdade em mim e em meu 12. Direito a entrar no coração dela
entorno, já que ela se alegra em todas as coisas. para participar de sua vida interior.
Oração de hoje:
Passe o dia meditando sobre a doutrina mariana de Madre Teresa
resumida por estas três palavras: Sede, Coração e Aliança.
32º Dia
São João Paulo II
Três palavras resumem o que aprendemos com São João Paulo
II: (1) Mãe, (2) “Confi-gração” e (3) Misericórdia. Meditemos sobre
cada uma delas.
Mãe
A doutrina de João Paulo II sobre a consagração mariana está
revestida não apenas da autoridade dele, mas também da autoridade
de um Concílio Ecumênico, por que ele repete e aprofunda a
doutrina do Vaticano II sobre Maria. Portanto, a doutrina dele
representa a mente e o coração da Igreja atualmente, e deveríamos
prestar bastante atenção nela. Então, qual é o ensinamento central
da Igreja sobre Maria? Ela destaca a mediação maternal de Maria.
Ela diz que Maria é nossa mãe na ordem da graça. Ela proclama a
Boa-Nova de que Deus nos deu uma mãe espiritual que cuida, com
amor e oração, de nosso crescimento na graça e na santidade. Essa
nova maternidade de Maria na vida da Igreja, na vida de cada um de
nós, é o belo, consolador e permanente pano de fundo para tudo o
que dissemos sobre a consagração mariana, que São João Paulo II
costumava chamar de “confiar-se”.
“Confi-gração”
Vendo Maria ao pé da Cruz junto de João, Seu discípulo amado,
Jesus disse: “Mulher, ei aí teu filho.” Em seguida, disse a João: “Eis
aí tua mãe” (Jo, 19,26-27). Essas palavras resumem o que já vimos
no ponto anterior: Maria é nossa mãe espiritual. Depois lemos no
seguinte versículo: “E dessa hora em diante o discípulo a levou para
a sua casa.” Este é o coração de nossa resposta ao fato de Jesus ter
nos confiado Maria como nossa mãe: estamos também confiando-
nos a ela, levando-a para “nossa casa”. Em outras palavras, temos
de trazê-la para nossa vida interior, para tudo o que nos diz respeito.
Temos de deixar que ela participe de nossas alegrias e tristezas,
esperanças e medos, planos e atividades.
Quando permitimos que Maria entre em nossas vidas, quando
nos confiamos ao seu cuidado, ela intercede por nós, nos consola e
nos dá coragem e força para que nos unamos de modo mais pleno à
própria consagração que Jesus fez de si mesmo pela vida do mundo.
Em outras palavras, ela nos leva à Cruz de Jesus, que é o sentido
último da autoconsagração de Jesus, e ela nos inspira a devotarmo-
nos à salvação do mundo, a fazer a nossa parte na obra de
redenção. Quando tomamos nossa cruz e passamos a viver na
própria consagração de Cristo, podemos ficar espiritualmente
sedentos, desolados e cansados. É nesse momento que Maria nos
conduz ao lado trespassado de Cristo, a Fonte de Misericórdia, onde
encontramos uma fonte inesgotável de força e santidade.
Portanto, para São João Paulo II, a confiar-se a Maria nos conduz
à nossa consagração a Cristo. Em outras palavras, alguém poderia
dizer que se trata de um movimento de “Confi-gração”.
Misericórdia
Enfim, a consagração mariana nos leva à Divina Misericórdia.
Atos de consagração ao Imaculado Coração de Maria levam a atos
de confiança no Coração Misericordioso de Jesus. Vemos isso na
história de Fátima e de São João Paulo II, e particularmente na
homilia que o Papa proferiu em sua peregrinação a Fátima em 1982,
uma peregrinação de agradecimento “à misericórdia de Deus e à
Mãe de Cristo” por terem salvado a vida dele.
Naquela homilia, o Papa mostrou diversas vezes como a
consagração mariana nos conduz ao Coração trespassado de Jesus,
a Fonte da Misericórdia. Esse vínculo pertence à vontade de Jesus,
que disse à Irmã Lúcia em 1936 que deseja a consagração ao
Coração de Maria “porque quero que minha Igreja inteira reconheça
aquela consagração [que minha mãe pediu em Fátima] como um
triunfo do Imaculado Coração de Maria, para que ela [a Igreja]
dissemine a veneração a esse Imaculado Coração e a ponha ao lado
da devoção ao Meu Sagrado Coração”.[118] Jesus quer ampliar a
veneração e a devoção ao Imaculado Coração de Maria porque ela
nos conduz a Ele de modo mais perfeito e nos ajuda a acolher a
infinita misericórdia de Seu Coração.
Oração de hoje:
Passe o dia meditando sobre a doutrina mariana de São João
Paulo II resumida por estas três palavras: Mãe, “Confi-gração”,
Misericórdia.
33º Dia
Ordenando todas as partes
Ao longo dos últimos quatro dias, nós revisamos as quatro
semanas anteriores de nosso retiro. Durante esses dias, nós não
apenas revisamos o material, mas também começamos a ordenar
tudo o que aprendemos. Eu disse que começamos a ordenar tudo.
Provavelmente, ainda não atingimos um ponto em que podemos
compreender “com um único olhar” – como disse São Paulo II – a
multiforme verdade sobre a consagração mariana. Para chegarmos a
esse ponto, talvez seja útil uma declaração unificadora, semelhante
ao “Princípio e Fundamento” que Santo Inácio estabeleceu para
resumir, esclarecer e dar foco à sua espiritualidade.
Na verdade, creio que precisamos de mais do que uma
declaração. Precisamos de uma oração, algo que possamos repetir
com frequência, inclusive diariamente, que não apenas nos ajude a
recordar o sentido de nossa consagração, mas de fato expresse o
dom de nós mesmo a Jesus por Maria.
Embora muitos dos santos com os quais aprendemos ao longo
das últimas semanas tenham escrito excelentes orações ou
“fórmulas” de consagração, não as apresentarei aqui. (Se tiver
interesse em usá-las, você pode encontrá-las no Apêndice 1). Em
vez disso, apresentarei aqui uma versão atualizada da oração de
consagração, combinando todas as compreensões sobre os quais
meditamos durante o retiro. Embora eu não seja um santo, sinto-me
confiante para fazer isso porque recorro das palavras e das ideias
dos quatro santos marianos de nosso retiro. Além disso, sinto-me
encorajado a compor essa nova oração por causa das palavras
proferidas pelo Papa Pio XII na canonização de São Luís de
Montfort:
Antes da Consagração
Parabéns! Você chegou ao Dia da Consagração. Agora prepara-
se para um novo amanhecer glorioso em sua vida espiritual.
Naturalmente, você já se preparou. Você se preparou fielmente para
este momento ao longo dos últimos 33 dias. Portanto, recomendo
três coisas a modo de preparação final: (1) Faça uma boa confissão
– mas se você não tiver tempo de fazê-la antes da consagração,
então diga ao Senhor, de coração, que você se arrepende de seus
pecados e faça uma resolução de confessar tão logo seja possível.
(2) Escreva ou imprima a oração de consagração, para que você
possa assiná-la depois de recitá-la. (3) Obtenha uma medalha
milagrosa para usar como sinal de sua consagração – ou ao menos
guarde uma em sua bolsa ou carteira. (Veja a explicação sobre a
medalha milagrosa no Apêndice 2). Essas três coisas são apenas
recomendações, ou seja, não são essenciais para a consagração.
Oração de Consagração
Muito bem, você está preparado(a) para fazer sua consagração.
Agora você precisará da oração adequada. Você pode usar a que
apresento abaixo, alguma escrita por um santo ou alguma que você
tenha escrito. Independentemente da oração que você escolher,
recomendo que a recite após participar da Missa ou mesmo após
receber a Eucaristia (se houver tempo). Se você não puder ir à
Missa, ainda assim poderá fazer a consagração – a Missa é
altamente recomendável, mas não é essencial [neste caso]. Com ou
sem a Missa, após recitar a oração de consagração, sugiro que
assine o papel, anote a data e o guarde em um local seguro.
(Quando eu renovo minha consagração anualmente, gosto de recitar
a oração a partir do original e, em seguida, assiná-la e datá-la outra
vez). Seja como for, eis novamente a Oração de Consagração de 33
Dias para um Amanhecer Glorioso, a qual resume as principais
ideias de nossos quatro gigantes marianos:
Depois da Consagração
O que acontece depois de nos consagrarmos a Maria?
Recebemos muitas graças e vivemos um novo amanhecer glorioso!
Mas à medida que a manhã avança, podemos nos perguntar como
deveríamos viver nossa consagração. Será que a fazemos uma
única vez e depois a esquecemos? Não. Os três pontos seguintes
nos ajudarão a vivê-la plenamente: renovação, atitude e devoção.
Renovação
São Luís de Montfort recomenda que renovemos nossa
consagração ao menos uma vez por ano no mesma data, embora ele
nos encoraje a renová-la com uma frequência ainda maior. São João
Paulo II renovava sua consagração a Maria diariamente. Para a
renovação diária, podemos usar a mesma fórmula completa que
recitamos no Dia da Consagração ou podemos usar uma versão
mais breve, tal como esta:
À vossa proteção
À vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus. Não
desprezeis as súplicas que em nossas necessidades Vos dirigimos,
mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e
bendita. Amém.
Lembrai-vos
Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria, de que nunca se ouviu
dizer que algum daqueles que tivesse recorrido à vossa proteção,
implorado a vossa assistência, reclamado o vosso socorro, fosse por
vós desamparado. Animado eu, pois, com igual confiança, a vós,
Virgem das virgens, como a Mãe recorro; de vós me valho e,
gemendo sob o peso dos meus pecados, me prostro a vossos pés.
Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Filho de Deus
humanado, mas dignai-vos de as ouvir propícia e de me alcançar o
que vos rogo. Amém.
Salve Rainha
Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança
nossa, salve! A vós bradamos, os degredados filhos de Eva. A vós
suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois,
advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei, e
depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso
ventre. Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria. Amém.
V. Rogai por nós, santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
Ângelus
(Rezado tradicionalmente de manhã, ao meio-dia e ao final da tarde)
V. O Anjo do Senhor anunciou a Maria.
R. E Ela concebeu do Espírito Santo.
Ave-Maria...
Regina Caeli
(Rezado durante o tempo Pascal em lugar do Ângelus)
Ao cego iluminai,
Ao réu livrai também,
De todo mal guardai-nos
E dai-nos todo o bem.
Ladainha Lauretana
Senhor, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos.
Deus Pai dos Céu,
tende piedade de nós.
Deus Filho Redentor do mundo,
tende piedade de nós.
Deus Espírito Santo,
tende piedade de nós.
Santíssima Trindade, que sois um só Deus,
tende piedade de nós.
Santa Maria,
rogai por nós.
(A partir daqui, repete-se a mesma resposta.)
Santa Mãe de Deus,
Santa Virgem das Virgens,
Mãe de Jesus Cristo,
Mãe da Divina Graça,
Mãe puríssima,
Mãe castíssima,
Mãe imaculada,
Mãe intacta,
Mãe amável,
Mãe admirável,
Mãe do bom conselho,
Mãe do Criador,
Mãe do Salvador,
Virgem prudentíssima,
Virgem venerável,
Virgem digna de louvor,
Virgem poderosa,
Virgem clemente,
Virgem fiel,
Espelho da justiça,
Sede da sabedoria,
Causa da nossa alegria,
Vaso espiritual,
Vaso honorífico,
Vaso insigne de devoção,
Rosa mística,
Torre de Davi,
Torre de marfim,
Casa de ouro,
Arca da aliança,
Porta do Céu,
Estrela da manhã,
Saúde dos enfermos,
Refúgio dos pecadores,
Consoladora dos aflitos,
Auxílio dos cristãos,
Rainha dos Anjos,
Rainha dos Patriarcas,
Rainha dos Profetas,
Rainha dos Apóstolos,
Rainha dos Mártires,
Rainha dos Confessores,
Rainha das Virgens,
Rainha de todos os Santos,
Rainha concebida sem pecado original,
Rainha do Santíssimo Rosário,
Rainha da Família,
Rainha da Paz,
Oremos:
Senhor Deus, nós Vos suplicamos, concedais aos vossos servos
perpétua saúde de alma e de corpo; e que, pela gloriosa intercessão
da bem-aventurada sempre Virgem Maria, sejamos livres da
presente tristeza e gozemos da eterna alegria. Por Cristo Nosso
Senhor. Amém.
Orações de Fátima
O que é o Rosário?
O Rosário é um instrumento que nos ajuda a rezar. Ele é feito de
um fio com cerca de 60 contas, cada qual representando uma oração
particular a ser rezada. A maioria das contas marca a oração da Ave-
Maria. Outras, o Pai-Nosso, o Glória ao Pai, etc. Mas o Rosário é
muito mais do que a soma dessas orações. Na verdade, ele nos leva
a uma meditação e contemplação profunda da face de Cristo. Além
disso, ele nos ajuda a entrar na escola de Maria, que ensinou Jesus
a rezar e quer também ensinar-nos a rezar. Alguma vez você já se
perguntou como se reza? O Rosário oferece um caminho completo,
o qual inclui as três formas de oração: a oração vocal, a meditação e
até mesmo a contemplação.
A completude, a simplicidade e a profundidade do Terço derivam
de sua estrutura. Ela consiste em 20 séries de 10 Ave-Marias –
comumente chamadas “dezenas” – intercaladas por Pai-Nossos,
Glórias ao Pai e a oração de Fátima (“Ó meu Jesus...”). Cada uma
das séries de 10 Ave-Marias é dedicada a um acontecimento
particular, ou “mistério”, das Sagradas Escrituras, que deve ser
meditado e contemplado enquanto as orações são ditas. Por
exemplo, enquanto se recitam as 10 Ave-Marias, pode-se refletir e
meditar sobre o Nascimento de Jesus.
Os 20 acontecimentos ou mistérios do Rosário dividem-se em
quatro categorias: os mistérios gozosos, os luminosos, os dolorosos
e os gloriosos que, juntos, oferecem um resumo completo da vida de
Jesus. Pode parecer um exagero pretender meditar sobre toda a vida
de Jesus de uma só vez. É por essa razão que a maioria das
pessoas que fazem essa oração diariamente não meditam todos os
20 mistérios no mesmo dia. Em vez disso, elas dividem o Rosário,
rezando diariamente apenas uma dentre as quatro categorias de
mistérios, ou seja, ¼ dele – ou 1/3, antes do acréscimo dos mistérios
luminosos, o que levou, no Brasil, a chamarem de “Terço” a oração
de apenas um conjunto de mistérios do Rosário. Isso parece ter sido
estimulado por uma tradição da Igreja que dedica certos dias da
semana à oração de um dos quatro grupos de mistérios do Rosário:
- às segundas e sábados, os mistérios gozosos
- às terças e sextas, os dolorosos
- às quartas e domingos, os gloriosos
- às quintas, os luminosos
Os luminosos são rezados apenas uma vez por semana, ao
passo que os outros mistérios são rezados mais de uma vez. Isso se
dá porque os mistérios luminosos são novos, acrescentados
recentemente (em 2002) pelo Papa João Paulo II. Em sua belíssima
carta apostólica sobre o Rosário (Rosarium Virginis Mariae), o Papa
explica por que os acrescentou. Essa carta pode ser facilmente
encontrada online.[131]
O acréscimo dos mistérios luminosos foi a maior mudança já feita
ao Rosário desde que a Igreja aprovou sua forma atual em 1569.
Antes de 1569, o Rosário passou por um período de
desenvolvimento que se seguiu à inspiração original recebida por
São Domingos da própria Virgem Maria no séc. XIII.
Mistérios do Terço
Os mistérios gozosos
Os mistérios luminosos
Os mistérios dolorosos
Os mistérios gloriosos
Escapulários
Escapulários são sacramentais
Os escapulários inserem-se na categoria geral de “sacramentais”.
Portanto, antes de sabermos o que são os escapulários, vamos
primeiro revisar o que são sacramentais. O Catecismo da Igreja
Católica ensina que “[sacramentais] são sinais sagrados por meio
dos quais, imitando de algum modo os sacramentos, se significam e
se obtêm, pela oração da Igreja, efeitos principalmente de ordem
espiritual.”[135] Mais especificamente, sacramentais são objetos
(água, óleo, sal, crucifixos, escapulários, medalhas, etc.) abençoados
por um bispo, padre ou diácono ou suas ações (bênçãos, imposição
de mãos) que melhor nos dispõem a receber a graça. Eles “atuam”
orientando nossos corações e mentes na direção de Deus quando
quer que os usemos com fé.
Sacramentais não são sacramentos. Eles não comunicam graças
sacramentais como fazem os sacramentos. Os sacramentais
tampouco são mágica: a bênção realizada sobre um objeto, como
um escapulário, não lhe dá poderes especiais, místicos. Mas Deus
frequentemente ouve nossos pedidos por graças especiais quando
usamos com fé objetos abençoados.
Escapulários em geral
O termo “escapulário” vem da palavra latina scapulae, que
significa “ombros”. Há duas principais categorias de escapulários: (1)
aquele usado por religiosos consagrados como parte de seu hábito e
(2) aquele usado pelos fiéis como uma forma de devoção. O primeiro
consiste em uma peça longa de roupa que geralmente é pendurada
nos ombros e chega aos joelhos. O segundo, o escapulário
devocional, é muito menor, e consiste em duas pequenas peças de
roupa unidas por finas tiras ou fitas, e geralmente representa algum
tipo de associação com a comunidade religiosa que usa aquele
escapulário. O “escapulário marrom”, por exemplo, está relacionado
à Ordem Carmelita, cujos membros consagrados usam um hábito
marrom.
O escapulário azul é, de certo modo, único. Isso porque nenhuma
das comunidades religiosas associadas a ele (como, por exemplo, as
Irmãs Concepcionistas, os Teatinos ou os Padres Marianos da
Imaculada Conceição) usa hábitos azuis. Eles usam o escapulário
azul – em sua forma menor, devocional – sob sua habitual veste
religiosa. Esse escapulário azul, “escapulário oculto”, como foi
chamado, não indica adesão a uma comunidade religiosa. Significa,
antes, uma devoção especial a Maria e a sua Imaculada Conceição.
Há muitos tipos diferentes de escapulários: preto, marrom, azul,
vermelho, verde e branco. Porém, como nosso espaço aqui é
limitado, trataremos apenas de dois deles: o marrom e o azul.
O escapulário marrom
O escapulário marrom, também conhecido como escapulário de
Nossa Senhora do Monte Carmelo, é o escapulário devocional mais
popular. Sua popularidade deve-se em grande parte à famosa
aparição de Maria a São Simão Stock, carmelita inglês, que viveu no
séc. XIII.
Nessa aparição, segundo o relato, Maria trazia nas mãos o hábito
marrom da Ordem Carmelita e ofereceu-o a São Simão Stock,
dizendo: “Eis um privilégio para ti e para todos os carmelitas: aquele
que morrer trajando este hábito será salvo.” As palavras-chave são
estas: “aquele que morrer trajando este hábito será salvo.” Em outras
palavras, a promessa de Nossa Senhora muito provavelmente
significa o seguinte: um fiel religioso carmelita que mantém seus
votos e vive de acordo com as constituições de sua ordem, da qual
sua veste religiosa é um símbolo, morrerá em estado de graça. Essa
promessa não nos parece lá tão extraordinária quando consideramos
que um fiel religioso carmelita está, por seus votos e pelas
constituições da ordem, preso a uma vida de renúncia, dedicação à
oração e amor a Deus e ao próximo.
Em certo momento, a Ordem Carmelita, que consistia de uma
Primeira Ordem (sacerdotes e freis) e de uma Segunda Ordem
(irmãs), expandiu-se para incluir a Ordem Terceira, para leigos que
se comprometiam a viver certas normas da espiritualidade carmelita.
Acredita-se amplamente que a promessa feita por Maria a São
Simão aplica-se também aos membros da Ordem Terceira,
conquanto estes leigos permaneçam fiéis a seu compromisso de
oração e boas obras, um compromisso representado pelo
escapulário devocional que usam.
Além de seu uso pelos membros da Ordem Terceira, o
escapulário marrom também é usado pelos membros da
Confraternidade do Escapulário Marrom. Uma confraternidade é um
grupo de pessoas unidas com uma profissão ou propósito em
comum, e é normalmente um grupo religioso que partilha de uma
espiritualidade comum e que coopera em certas boas obras. Os
membros dessa comunidade lutam pela perfeição da caridade de
acordo com o espírito da Ordem Carmelita e, desse modo,
participam de seus benefícios espirituais, tais como a promessa de
Nossa Senhora a São Simão quanto aos carmelitas.
Há que lembrar que é possível ingressar no rito do escapulário
marrom sem, contudo, fazer parte de uma confraternidade. Em 1996,
em uma declaração aprovada pela Congregação para o Culto Divino
e a Disciplina dos Sacramentos, a Igreja declarou que qualquer um
que receber o escapulário marrom torna-se membro da Ordem
Carmelita e compromete-se a viver aquela espiritualidade de acordo
com seu estado de vida.
Assim, todos os carmelitas são livres para acreditar na promessa
feita por Nossa Senhora a São Simão. Contudo, eles têm de se
empenhar para se manterem fiéis às exigências da caridade e para