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VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E OS DIREITOS DA PARTURIENTE: O OLHAR DO


PODER JUDICIÁRIO

CECÍLIA MARIA COSTA DE BRITO*∗


ANA CAROLINA GONDIM DE A. OLIVEIRA***

RESUMO

O presente trabalho teve por objetivo analisar a violência obstétrica, através de alguns
julgados, verificando qual a posição do poder judiciário sobre esta violência no Brasil, a qual
se caracteriza como grave problema social e pode ser classificada como uma violência de
gênero, simbólica e institucional. Muitas mulheres passaram por situação de violência
obstétrica, todavia, não conseguiam compreender que os acontecimentos vivenciados eram
violentos e mitigadores de direitos, em razão de ela ser naturalizada pela sociedade e pelas
instituições de saúde, públicas e privadas, diante das relações médico-pacientes ainda serem
hierarquizadas, nas quais o/a paciente está sempre em situação de subordinação e dominação.
A pesquisa, na sua coleta de dados, é de revisão bibliográfica, na qual foram selecionadas
quarenta e cinco referências, entre artigos científicos, livros, legislação e julgados extraídos
do sítio eletrônico jusbrasil, dos quais três foram citados no decorrer da pesquisa com o
intuito de demostrar de forma mais profícua o posicionamento do judiciário sobre o tema
investigado. Foi possível identificar, nos julgados, o aumento de denúncias específicas, assim
como o desconhecimento dos magistrados ao julgar os processos devido à falta de
informações sobre o tema, o que redunda, em algumas ocasiões, na mitigação de direitos pelo
próprio judiciário.

PALAVRAS-CHAVE: Violência Obstétrica. Violência de Gênero. Poder Judiciário. Brasil.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Historicamente, as mulheres estão inseridas em contextos de violência, nos quais são


sujeitos passivos, ou seja, sofrem a violência, que pode ocorrer de diversificadas formas, em
todas as classes sociais e em todas as faixas etárias. No Brasil, os índices de violência contra
as mulheres ainda são altos, mesmo a despeito da vigência da lei nº 11.340/2006 (Lei Maria
da Penha) e da lei nº 13.104/2015 (Lei do Feminicídio).

*Trabalho elaborado para atender exigência curricular para conclusão do Curso de Bacharelado em Direito da
Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP, sob a orientação da profª Ms. Ana Carolina Gondim de
Albuquerque Oliveira, na área de direitos humanos, semestre 2018.2.
** Aluna regularmente matriculada sob o nº 2015110118, no 10º período do Curso de Bacharelado em Direito da
Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP, semestre 2018.2. E-mail: cecilia.brito@fespfaculdades.edu.br
*** Doutoranda em Direitos Humanos e Desenvolvimento pela Universidade Federal da Paraíba
(PPGCJ/UFPB). Mestra em Ciências Jurídicas, área de concentração em Direitos Humanos pela UFPB.
Professora da Graduação e da Pós-graduação da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba (FESP). Coordenadora
de Pesquisa e Extensão da FESP Faculdades. E-mail: anagondim@fespfaculdades.edu.br.
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Neste sentido, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) divulgou que, no ano de 2016,
tramitaram no Brasil mais de um milhão de processos referentes à violência contra a mulher,
o que equivale, em média, a 1 (um) processo para cada 100 (cem) mulheres brasileiras.
Contudo, conforme relatório do CNJ (2018) sobre o cadastro nacional de presos, publicado
em agosto do mesmo ano, apenas 0.96% dos presos foram condenados em razão de violência
contra a mulher.
Entretanto, para além das espécies de violências elencadas por lei, existe um tipo que
cada vez mais se constata na sociedade contemporânea: a violência obstétrica. Esta se
consubstancia como o conjunto de condutas que causa constrangimento ou danos às mulheres
durante o trabalho de parto, o parto propriamente e o pós-parto. Este tipo de violência é
caracterizado por agressões verbais, procedimentos médicos desnecessários e abusivos, lesões
corporais e negação dos direitos da parturiente, dentre outros.
Não obstante ser uma questão relativamente recente, já é possível encontrar estudos a
respeito do assunto. Todavia, a carência de lei específica que permita criminalizar o ato ainda
é um fator que desfavorece o processo de humanização nas relações médico-pacientes. Nessas
circunstâncias, faz-se necessário se valer de alguns pontos da legislação relativa à violência de
gênero ou à saúde da mulher para assegurar, ainda que minimamente, o cumprimento dos
direitos femininos. Nesse norte de ideias, para compreender o cenário da violência obstétrica,
imperioso se faz conhecer alguns dos motivos que ensejam a prática desses atos abusivos e
como se verifica a relação entre médicos e pacientes.
Há de se ressaltar que muitas mulheres passaram por situações de violência
obstétrica, mas não tinham consciência do que estava ocorrendo, em razão de desconhecerem
e naturalizarem o comportamento abusivo do médico ou da equipe médica, composta também
por enfermeiros (as), fisioterapeutas, técnicos (as) em enfermagem e outros profissionais da
saúde.
A inexistência de lei que criminalize a violência obstétrica leva as mulheres a
provocarem o Poder Judiciário, para que este se pronuncie e promova efetivamente algum
tipo de reparação. Dessa forma, esta pesquisa parte da seguinte problemática: qual a posição
do Poder Judiciário brasileiro sobre a violência obstétrica?
Para responder ao problema formulado, no que tange aos procedimentos
metodológicos, o presente artigo se configura como uma pesquisa bibliográfica na sua coleta
de dados, sendo utilizado o método dedutivo na sua análise, cujas fontes principais foram
artigos científicos, livros e alguns julgados, além de resultados de pesquisas desenvolvidas
por fundações acerca dos índices da violência obstétrica. Foi utilizado ainda um dossiê
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elaborado para subsidiar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), cujo objeto foi a
violência contra a mulher, a qual comprovou a urgente necessidade de políticas públicas que
tratem também da conscientização e prevenção da violência nos hospitais. Para maior
embasamento da pesquisa, foram utilizadas quarenta e cinco referências, dentro de uma
margem média de cinco meses de pesquisa.
Por fim, visando tornar mais objetiva a reflexão proposta, foram analisados julgados,
a partir do sítio eletrônico do Jusbrasil, no sentido de compreender se as decisões proferidas
pelo Poder Judiciário brasileiro cumprem seu dever de ceifar as atitudes inerentes à violência
obstétrica, verificando qual a sua incidência e frequência neste âmbito. A amostragem se deu
através dos resultados de busca pelo termo “violência obstétrica”, que gerou um universo de
catorze julgados, dos quais três foram selecionados como amostra para o desenvolvimento da
presente pesquisa.

2 VIOLÊNCIA OSBTÉTRICA: ASPECTOS SOCIAIS E CONCEITUAIS

A violência, muitas vezes vista como um fenômeno comum pela sociedade, tem se
proliferado nas mais diversas vertentes da vida social. No âmbito da saúde, especificamente
na área da obstetrícia, os questionamentos inerentes aos procedimentos durante a gestação da
mulher, quando estes são desrespeitosos e até mesmo violentos, deram origem ao termo
violência obstétrica.
Referida violência cresce imensuravelmente e, consoante a Fundação Perseu Ábramo
(2010), a cada quatro mulheres, uma sofre ou já sofreu violência obstétrica. Todavia,
concomitantemente ao crescimento da violência obstétrica, a luta pela humanização do parto
vem galgando espaço na busca pelo respeito e por condições dignas em uma fase tão
importante na vida da mulher.
A violência obstétrica é um termo utilizado para descrever diversas formas de danos
causados à mulher durante a gestação, no parto e no pós-parto. Considerada como uma “[...]
forma de violência de gênero que implica em desrespeito aos direitos humanos e da mulher,
caracteriza-se pela imposição de intervenções danosas à integridade física e psicológica das
parturientes” (SAUAIA; SERRA, 2016, p. 128). Sob esse liame de compreensão, Sousa
(2015, p. 7) preconiza que:

[...] a violência obstétrica se caracteriza pela apropriação do corpo e processos


reprodutivos das mulheres pelos profissionais de saúde, através do tratamento
desumanizado, abuso da medicalização e patologização dos processos naturais,
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causando a perda da autonomia e capacidade das mulheres de decidir livremente


sobre seus corpos e sexualidade, impactando negativamente na qualidade de vida
das mulheres.

Por sua vez, Nazário e Hammasrstron (2015, p. 4) estabelecem:

[...] a violência obstétrica integra um gênero de violência contemporânea, a qual


aborda três fenômenos cruciais para mulher, qual seja, a vida, a morte e a
sexualidade. O tema diz respeito a toda sociedade, uma vez que o ato de nascer é
primordial.

Esta violência se manifesta nas mais diversas formas de procedimentos que, na


maioria das vezes, são realizados sem o consentimento das pacientes ou sem a existência de
um mínimo de informação adequada acerca das possibilidades. É importante salientar que tal
prática é estritamente realizada pelos profissionais de saúde, em instituições públicas ou
privadas, nas quais as referidas mulheres são atendidas (PEREIRA et al., 2016; SAUAIA;
SERRA, 2016; TESSER et al., 2015; ZANARDO et al., 2017). Nesse sentido, as definições
de violência obstétrica passam por dois pontos importantes: a falta de informação; e de
consentimento das pacientes quanto aos procedimentos em razão do parto, pré-parto e pós-
parto.
Ademais, as formas mais comuns de violência obstétrica são: tratamento
desumanizado e grosseiro; agressões verbais; humilhações; episiotomia (corte na vulva para
facilitar a saída do bebê); kristeller (manobra utilizada para agilizar a saída do bebê através de
empurrões na barriga da mulher); imobilização; posição horizontal durante o trabalho de
parto; negação do direito ao acompanhante e/ou da doula; separação do bebê da mãe nos
primeiros minutos de vida; tricotomia (raspagem dos pelos pubianos); lavagem intestinal;
exame de toque vaginal excessivo e por diversos profissionais; rompimento da bolsa
propositalmente durante o toque (PEREIRA et al., 2016; NAZÁRIO e HAMMASRSTRON,
2015; SAUAIA; SERRA, 2016; TESSER, et al. , 2015; ZANARDO et al, 2017).
Para Pulhez (2013), algumas formas de violência parecem ser mais evidentes, como
agressões verbais e amarração de mulheres em macas, não havendo como negar que tais atos
têm essência violenta. Todavia, outros procedimentos, ditos de rotina, não são tão facilmente
reconhecidos como atos violentos, como é o caso das cesáreas indicadas por conveniência
médica.
Em junho de 2013, foi divulgado o relatório final de uma CPMI, apresentado no
senado, tendo como relatora a senadora Ana Rita (PT/ES), com a finalidade de investigar as
situações de violência contra a mulher no Brasil e apurar denúncias de omissão por parte do
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poder público com relação à aplicação de instrumentos instituídos em lei para proteger as
mulheres em situação de violência (BRASIL, 2013).
Para o inquérito, a CPMI recebeu o dossiê “Parirás com Dor” da Organização Não
Governamental (ONG) Parto do Princípio (Rede Parto do Princípio, 2012). Através dessa
CPMI, foi possível observar várias denúncias de violência no parto, principalmente contra
mulheres indígenas e negras, o que embasa as questões relativas à violência obstétrica como
violência de gênero. Ainda segundo o dossiê (2012), as mulheres são submetidas a inúmeros
procedimentos desnecessários que violam direitos, no entanto, essa realidade parece ser
ignorada pelos serviços e profissionais de saúde.
No segundo semestre de 2014, a Organização Mundial da Saúde (OMS) se
pronunciou a respeito da temática, não sendo essa a primeira vez, publicando em seis idiomas
uma declaração acerca da violência obstétrica, exigindo políticas e promoção à assistência
obstétrica humanizada, além de indicar a adoção de medidas governamentais no sentido de
abolir o desrespeito e abuso contra as mulheres durante o parto (SAUAIA; SERRA, 2016).
Portela e Silva (2017) e Estumano et al (2016) remetem às possíveis configurações
da violência obstétrica, sendo elas: violência obstétrica física, violência obstétrica psíquica e
violência obstétrica sexual. Com efeito, “independentemente das desculpas que a sociedade
dá, a violência contra a mulher não deve ser tolerada” (PARTO DO PRINCÍPIO, 2014, p. 4).
Os relatos citados a seguir foram extraídos da cartilha desenvolvida pela rede Parto
do Princípio, com o intuito de orientar mulheres para identificar e denunciar situações de
violência sofridas por elas. Tais depoimentos elucidarão as possíveis configurações da
violência obstétrica.
Eis um dos depoimentos: “veio um homem e subiu em cima da minha barriga. Eu só
gritava e pensava que ia morrer. Foi uma situação horrível” (Parto do Princípio, 2014, p. 16).
Situações como a deste relato são caracterizadoras de violência obstétrica física, que, segundo
Portela e Silva (2017), são ações que incidem sobre o corpo da mulher e causem dor ou dano
físico sem recomendação baseada em evidências científicas. Ainda segundo as autoras, no que
tange à violência psicológica, esta pode ser definida como toda ação verbal ou
comportamental que cause na mulher sentimentos de inferioridade, vulnerabilidade,
abandono, insegurança (PORTELA; SILVA, 2017).

Eu lembro que falavam assim pra mim: ‘Na hora de fazer, você tava gostando, não
é?’ É muita humilhação. Você tá lá sozinha, com dor, com medo, e as pessoas ainda
ficam falando desse jeito. Silvana, Rio de Janeiro-RJ (PARTO DO PRINCÍPIO,
2014, p.16)
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Por violência obstétrica sexual pode-se entender toda ação imposta à mulher que
“viole sua intimidade ou pudor, incidindo sobre seu senso de integridade sexual e reprodutiva,
podendo ter acesso ou não aos órgãos sexuais e partes íntimas do seu corpo” (SANTOS,
2015, p. 9), conforme se depreende do relato a seguir: “o médico disse que tinha que cortar
(episiotomia) porque se ele não cortasse, eu ia ficar com a vagina larga e meu marido ia me
trocar por uma outra na rua” (PARTO DO PRINCÍPIO, 2014, p. 17).
Portanto, é possível observar quão cerceada é a autonomia da mulher em um
momento que deveria ser de total empoderamento. Segundo Guimarães (2016), é de
fundamental importância para a mulher a conquista dessa autonomia, para que possa se
expressar através do próprio corpo. Entretanto, existe uma constante dificuldade em perceber
a emoção do outro, o que mecaniza o trabalho de parto e gera consequências degradantes.
Partindo dessa premissa e com o intuito de firmar entendimento acerca do que vem a
ser a violência obstétrica, faz-se necessário o uso da definição utilizada pelas leis da
Venezuela e Argentina, países onde esta violência é tipificada, estando, inclusive, bem à
frente do Brasil, no que se refere às questões relativas à criminalização, identificação e
conceitos da violência em comento. Nesse diapasão, Leite (2016, p. 55) assevera que:

[...] é possível observar que a violência obstétrica é um fato presente que merece
grande atenção, tanto no âmbito jurídico quanto no hospitalar. Durante o ciclo
gravídico e puerperal as mulheres encontram-se em um estado extremamente
vulnerável, a salientar, psicológico e físico. Tal situação dificulta as possibilidades
reativas às questões de violência, concomitante agrava os danos psicológicos
causados. A violência obstétrica corresponde a uma forma específica da violência de
gênero, uma vez que há utilização arbitrária do saber por parte de profissionais da
saúde no controle dos corpos e da sexualidade das parturientes (Ley Organica sobre
el derecho de las mujeres a una vida libre de violência, Cap. III, Art. 14, Parágrafo
13, 2007).

É importante acrescentar que, na Venezuela, a execução da lei é extremamente


efetiva, tendo em vista que o delito é bem caracterizado e são previstas sanções para os
profissionais que descumprirem a norma, além de responsabilidades civis para quem comete o
delito, assegurando à mulher e aos herdeiros total direito à reparação pelos danos causados e
indenização (Parto do Princípio, 2012). Entretanto, Leite (2016) salienta o fato de faltar à
legislação venezuelana maior explicitação do entendimento acerca da humanização da
assistência ao parto e ao nascimento. Nesse ponto, a legislação argentina indica um caminho
mais seguro. Para esta, as definições sobre violência obstétrica são:

Esta modalidade de violência caracteriza-se pela apropriação do corpo e dos


processos reprodutivos da mulher pelos agentes de saúde, mediante um tratamento
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desumanizado, abuso de medicalização e patologização dos processos naturais,


causando a perda de autonomia da parturiente e da sua capacidade de decidir
livremente sobre seu corpo e sexualidade, o que pode culminar com consequências
negativas e desastrosas para a qualidade de vida das mulheres. (Ley de Protección
Integral para Prevenir, Sancionar, y Erradicar la Violencia Contra las Mujeres en los
Ámbitos en que Desarrollen sus Relaciones Interpersonales, Art. 6, 2009)
(Argentina, 2009).

Diante do exposto e da atual falta de respaldo legal no Brasil, no que diz respeito ao
tema, é irrefutável o fato de que a situação crítica das mulheres que tem seus direitos violados,
no momento do parto, necessita ser combatida. Para Leite (2016), o modelo ideal a ser
considerado, seria uma legislação que se inspirasse em ambos os países supracitados,
aproveitando os acertos de cada um.
Consigne-se ainda que, além de ferir a dignidade das mulheres, a violência obstétrica
também pode atingir o nascituro, colocando em risco a integridade física e outros direitos.
Existem vários procedimentos que são elencados como violadores também dos direitos do
bebê, tais como: negativa do clampeamento (corte) tardio do cordão, após o término das
pulsações; a interrupção do contato pele a pele com a mãe assim que nasce; e a mitigação da
amamentação na primeira hora de vida (Conversando..., 2015).
A lei nº 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA) estabelece que
crianças e adolescentes têm direito à proteção, à vida e à saúde, mediante a efetivação de
políticas públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso,
portanto, digno. O ECA ainda determina que os estabelecimentos de saúde, públicos e
particulares, sejam obrigados a manter o alojamento conjunto, ou seja, possibilitar que o
recém-nascido permaneça todo o tempo junto de sua mãe (BRASIL, 1990).
Ainda neste sentido, a portaria nº 371/2014 do ministério da saúde assegura que o
bebê deverá ser colocado imediatamente no colo das mães após o nascimento (contato pele a
pele), devendo lá permanecer na primeira hora de vida, fortalecendo o vínculo entre os dois e
incentivando a amamentação. O cordão umbilical só deverá ser cortado quando parar de
pulsar, garantindo que a criança receba mais oxigênio nos primeiros momentos de vida.
Procedimentos de rotina só deverão ser realizados após este contato, exceto quando forem
necessários cuidados especiais.
As cesarianas desnecessárias e a manobra de kristeller, além de violentas com a mãe,
também causam danos ao bebê. Sousa (2015, p. 22) remete à constatação de que os bebês
nascidos de cirurgia apresentam maior taxa de morbidade neonatal, além de serem propensos
a problemas respiratórios (por terem sido retirados da barriga antes dos pulmões estarem
totalmente prontos, sem nenhum aviso do corpo, ou seja, sem a mãe entrar em trabalho de
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parto). No que se refere à manobra de kristeller, os empurrões sofridos podem lesionar


fisicamente o bebê que, pelo pouco tempo de vida, ainda tem sua estrutura óssea bastante
delicada.
Ademais, a violência obstétrica tem se tornado uma constante no Brasil
(ESTUMANO et al, 2016), sendo um modo de manifestação desta violência os partos
cirúrgicos, muitas vezes desnecessários. Nesse sentido, Pulhez (2013) afirma que a liderança
mundial do Brasil em cesariana é uma realidade, vez que mais da metade dos partos são feitos
por via cirúrgica, quando o recomendado pela OMS seria, no máximo, 15% dos partos. Esse
índice alarmante é fato irrefutável de uma conduta de desrespeito e conveniência unilateral.
Com efeito, a violência pode se iniciar ainda no ciclo gravídico e puerperal da
mulher, podando seus limites e direitos de forma tão corriqueira que se enquadra nos padrões
da normalidade para a sociedade. Isto se dá em razão de se constituir um tipo peculiar de
violência, com tripla faceta: é uma violência de gênero, simbólica e, institucional,
simultaneamente.

2.1 VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA COMO VIOLÊNCIA DE GÊNERO

Partindo da premissa de uma tripla faceta constitutiva, de características peculiares


que concernem à violência obstétrica e, no intuito de compreender de forma mais profícua
como a citada violência se dá, há de se destacar o que vem a ser violência de gênero. Morera
et al (2014) aborda que a violência de gênero consiste em qualquer ação ou conduta, baseada
no gênero, que cause morte, dano, sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no
âmbito público como no privado. Tal violência está intimamente arraigada nas relações de
poder que são historicamente desiguais entre homens e mulheres. É a manifestação de uma
cultura histórica mundial, resultando em uma subordinação do feminino em face do
masculino.
Ao observar a história, é possível perceber o árduo caminho percorrido pelas pessoas
vulneráveis em busca da igualdade material de direitos. Destarte, é inegável que, mesmo
diante das conquistas, os reflexos de uma dura desigualdade insistam em prevalecer. Nessa
vertente, segundo Santos (2016), a violência obstétrica é classificada como violência de
gênero por basear-se, fundamentalmente, no tratamento estereotipado dispensado à mulher,
fruto de uma construção histórica e social extremamente machista e patriarcal, enxergando-a
como objeto das ações de outrem, em uma postura ideal sempre passiva e submissa, sem a
possibilidade efetiva de manifestar livremente suas vontades e preferências.
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Mariani e Nascimento Neto (2016, p. 49-50) enfatizam a crítica situação da violência


de gênero agregada à violência obstétrica e destacam que importantes desigualdades sociais
de cor, escolaridade, região e fonte de pagamento influenciam na forma como as mulheres são
tratadas pelos profissionais de saúde durante a internação para o parto e puerpério. A pesquisa
realizada pela Fundação Perseu Ábramo (2010) comprovou a íntima ligação entra a violência
obstétrica e de gênero ao apontar nas estatísticas que, sendo negra, muito jovem e de baixo
poder aquisitivo, as possibilidades de violência são maiores, restando comprovadas a presença
de discriminação e atitudes violentas inerentes ao gênero.
É importante observar ainda que a violência obstétrica, como violência de gênero,
deve ser tratada pelo Poder Judiciário, tendo em vista os deveres assumidos pelo estado
brasileiro de assegurar juridicamente o livre e pleno exercício dos direitos humanos, em
especial atendendo às demandas femininas contra inúmeras formas de opressão,
discriminação e exploração baseadas nas diferenças de gênero, conforme afirma Leite (2016).

2.2 VIOLÊNCIA OSBTÉTRICA COMO VIOLÊNCIA SIMBÓLICA

Além dos aspectos relativos ao gênero, é possível perceber outro tipo de violência
que caminha lado a lado com a obstétrica. Esta resulta em suposta camuflagem de atos que
dificultam a identificação e o combate da aludida violência. Tal espécie de violência é
apresentada por Bordieu (1998) e pode ser entendida como uma forma de coação, na qual há
imposição de algo que é aceito devido a crenças criadas no processo de socialização, ou seja,
o indivíduo reproduz os padrões e discursos impostos pelos costumes dominantes sem
questionamentos, por internalizá-los e considerá-los verdades. Nesse sentido, Rocha (2015,
[s/p]) complementa:

A violência simbólica, portanto, é uma violência que não é percebida como tal,
mesmo por quem a exerce, e consiste justamente no poder de inculcar disposições
duráveis, princípios de visão e de divisão de acordo com suas próprias estruturas,
disposições estas que não raras vezes são assimiladas passivamente pelos juristas,
tanto mais fortemente quanto mais bem inseridos estiverem no campo jurídico.

Brandt et al (2018) alerta que, apesar desta violência não ser tão visível quanto a
violência física, não é menos nociva, pois exerce grande poder psicológico sobre o indivíduo
que poderá permanecer na posição de dominado. A violência simbólica pode, desse modo, ser
compreendida como um meio mais sutil de dominação e exclusão social, uma vez que a
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sociedade criou concepções que influenciam no processo de socialização do indivíduo,


através de padrões legitimadores do discurso dos dominantes sobre os dominados.
É possível, diante do exposto, traçar paralelo com relação ao índice de cesarianas no
Brasil. A cultura imposta sinaliza que o parto cirúrgico é mais seguro do que o parto vaginal,
priorizando a praticidade em detrimento da saúde da mãe e do bebê. Esse tipo de parto, por
sua vez, é uma forma de manifestação das violências obstétrica e simbólica, tendo em vista
que, segundo a pesquisa “Nascer no Brasil” (2014), 70% das mulheres desejavam parto
vaginal no início da gravidez, mas ao longo do pré-natal são sugestionadas a mudar de
decisão.

2.3 VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA COMO VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL E A RELAÇÃO


MÉDICO PACIENTE

No que concerne à violência institucional, Santos (2016) classifica como a mais


corriqueira, de difícil diagnóstico e combate, tendo em vista que, por ser fruto de uma relação
hierárquica e muitas vezes privada, no caso médico-paciente, há certa relutância das vítimas
em denunciá-la e até mesmo em reconhecê-la. Fundindo-se à violência sistêmica, ainda
acompanhando o raciocínio de Santos (2016), a violência institucional exacerba a
vulnerabilidade da vítima, pois estas deveriam ser acolhidas pelos agentes que perpetram as
agressões, que, além de acolher, também deveriam garantir os direitos que eles mesmos
desrespeitam. Em suma, consoante Santos (2015, p. 64), “[...] o profissional que deveria
passar segurança e confiança para a parturiente, com sua conduta, aguça seus medos e
anseios”.

Uma vez que a violência institucional se dá, portanto, nas relações desiguais de
poder, pode-se considerar a medicina como saber legitimado em meio a nossa
sociedade, como um aspecto que demonstra as violências sobre a relação entre
médico e paciente (QUEIROZ et al, 2017, p. 68).

Até a metade do século XVIII, as pessoas não saiam do hospital. Ingressavam nele
para morrer. A técnica médica do século XVIII não permitia que o indivíduo hospitalizado
abandonasse a instituição com vida. O hospital era um claustro para morrer, um verdadeiro
“morredouro” (FOUCAULT, 2010). Nessa mesma época, acompanhando o momento de
mudança, o parto e o nascimento, que eram vistos como um evento fisiológico e feminino,
começaram a ser encarados como um evento médico e masculino, incluindo a noção do risco
e da patologia como regra e não mais exceção (ZANARDO et al, 2017). Com a inserção
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irrestrita da medicina no trabalho de parto, o protagonismo da mulher foi ceifado, resultando


em total entrega do fazer nascer para as mãos médicas.
Conforme é possível observar, o crescimento da medicina não se restringiu ao
objetivo de salvar vidas. Ao se mesclar com o capitalismo, a vida do paciente se tornou
apenas um ponto a ser considerado diante de tantos outros. Com isso, percebe-se que a relação
entre médico e paciente sempre foi restrita à necessidade, à última opção, ao único meio de
salvação.
Entretanto, ao se tornar presença comum no cotidiano da sociedade, estando ela
doente ou não, a relação que deveria ser mais respeitosa e leve, partindo do pressuposto que,
na maioria das vezes, não se trata mais de vida ou morte, fizeram permanecer a imposição e o
ato de autoridade, resultando em desrespeito e autonomia da vontade médica, como se verifica
nas questões relativas ao parto:

Quando o médico chegou, pedi para deixar o meu marido entrar. Ele não quis
deixar, mas meu marido estava com o papel da Lei que permite acompanhante no
parto e ele mostrou para o médico. O médico se virou para o meu marido e disse
‘Então eu vou embora e você faz o parto’. C.M., atendida na rede pública,
Barbacena (MG) (PARTO DO PRINCÍPIO, 2014, p. 65).

Logo, é nítido que a saúde se converteu em um objeto de intervenção médica. De


fato, a medicina de intervenção autoritária em um campo cada vez mais amplo da existência
individual ou coletiva é um fato absolutamente característico. Hoje, a medicina está dotada de
um poder autoritário com funções normalizadoras que vão bem além da existência das
doenças e da demanda do doente (FOUCALT, 2010).
Nesse contexto, Guimarães (2016) alerta para a possibilidade do avanço e da
modernidade trazerem coisas diferentes, destacando a importância de reconhecer o indivíduo
e assegurar seus direitos como paciente, construindo uma relação de respeito mútuo, cuidando
e orientando a partir de uma biografia singular. Guimarães (2016, p. 40) acrescenta ainda que
“[...] em 90% dos casos a mulher deixa que o médico conduza sua história, aceitando-o como
hierarquicamente superior. E nunca há negociação”.
Contrariamente ao que caberia esperar, a relação médico-paciente não evoluiu em
conjunto com a medicina, estagnou no século XVIII diante da medicina avançada do século
XXI, o que resulta em situações complexas e em sua maioria ilícitas. Tais situações são
caracterizadas por Mariani e Nascimento Neto (2016, p. 51) da seguinte forma:

Caracteriza-se pela intervenção institucional indevida, não autorizada ou sequer


informada, até mesmo abusiva, sobre o corpo ou processo reprodutivo da mulher,
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que violam sua autonomia, informação, liberdade de escolha e participação nas


decisões sobre o seu próprio corpo.

Nesse norte de ideias, pode-se dizer que a negativa de direitos, agregada à uma
cultura de soberania médica, resulta em um sistema de assistência ao parto caótico e
desrespeitoso. Tal situação se torna ainda mais crítica quando observados os direitos da
mulher e a apatia do sistema jurídico diante do cenário calamitoso que infringe claramente o
estado democrático de direito.

3 TUTELA DO DIREITO À SAÚDE DAS MULHERES

No Brasil, atualmente, não existem leis específicas que caracterizem a violência


obstétrica. Entretanto, já é possível observar algumas jurisprudências, ainda que mínimas,
relacionadas ao assunto. Tais casos estão registrados como negligência médica, violência
obstétrica ou lesão corporal durante o parto. Nesse sentido, é de suma importância se debruçar
sobre as legislações vigentes que embasam o acionamento da intervenção jurídica nos casos
de violência obstétrica. Assim, Sauaia e Serra (2016, p. 143) pontuam:

Salienta-se, que a ausência de legislação específica não impede que os aplicadores


do Direito possam punir a prática, uma vez que resta caracterizada a violação de
princípios e direitos basilares do Estado Democrático de Direito, podendo haver a
aplicação da responsabilidade civil da equipe hospitalar e do Estado (art. 927 e
seguintes do CC/02) ou ainda aplicação da lei penal em caso de constrangimento
ilegal (art. 146, CP), lesão corporal (art. 129, CP) ou homicídio (art. 121, CP).

À luz desse entendimento, Cunha (2015) considera que a ausência de legislação que
defina e puna a violência obstétrica pode ser suprida pelos princípios gerais do direito, bem
como pelos princípios constitucionais, também considerados normas, embora mais amplos e
com maior abertura de discussão sobre seu alcance e significado.
É importante salientar que, no sistema jurídico brasileiro, já existem algumas leis que
norteiam procedimentos relativos ao atendimento das necessidades básicas das gestantes,
como a lei nº 9.263/1996, a qual determina que as instâncias do Sistema Único de Saúde
(SUS) têm obrigação de garantir, em toda a sua rede de serviços, programa de atenção integral
à saúde, incluindo atividades básicas, assistência à concepção e contracepção, atendimento
pré-natal e assistência ao parto, ao puerpério e ao neonato. Desse modo, Sauaia e Serra (2016,
p. 130) estabelecem que:

A parturiente, como sujeito de direitos possui uma série de prerrogativas: a


dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CRFB/88) como fundamento do Estado
13

Democrático de Direito; o princípio da igualdade (art. 5º, I, CRFB/88) que a protege


de todas as formas de discriminação; o princípio da legalidade (art. 5º, II, CRFB/88)
que assegura autonomia à mulher; e ainda a proteção à vida, à saúde (acesso,
segurança), à maternidade e à infância (Princípio da Beneficência).

É possível acrescentar ainda leis municipais e estaduais específicas sobre violência


que já estão sendo sancionadas no Brasil. Em Santa Catarina, a lei nº 17.097/2007 cria
mecanismos de divulgação e combate à violência obstétrica no Estado. Leis que asseguram a
presença das doulas (profissionais com certificação ocupacional que visem prestar suporte à
gestante) nas maternidades, sempre que solicitadas pelas gestantes, já se encontram em
vigência em diversas cidades do Brasil (BALOGH,2016).
Cumpre ressaltar, por oportuno, que o Brasil é o país com maior número de
cesarianas, além de apresentar um elevado índice de incidência de violência obstétrica,
segundo as pesquisas “Nascer no Brasil” (2014) e o “Dossiê Parto do Princípio” (2012).
Ademais, o fato da inexistência de legislação específica sobre o tema torna mais complexo o
combate a esta prática. Não obstante, é necessário salientar que tais atos ferem a legislação
brasileira, a exemplo da Constituição Federal, do Código Civil, bem como dos tratados e
convenções internacionais, os quais norteiam os processos jurídicos na ausência de leis
específicas. Nesse liame de compreensão, Sousa (2015, p. 30) aduz que:

As condutas equivocadas na condução dos partos e nascimentos pelos profissionais


de saúde no país infringem a garantia constitucional à vida e à saúde das mulheres e
de seus bebês (arts. 5º, 6º e 196), violando ainda outras garantias constitucionais
como a Dignidade da Pessoa Humana (art. 1º, inciso III) e a Segurança contra a
violência (art. 6º). Considerando que o direito à saúde é um dever do Estado
conferido a todos, homens e mulheres, sem distinção, o não cumprimento das
diretrizes de saúde no parto e nascimento atinge diretamente as mulheres, constitui
uma violência de gênero e fere o direito à isonomia previsto no art. 5º da
Constituição Federal.

Desse modo, é possível, ainda que de forma complexa, buscar vertentes jurídicas que
resguardem a mulher com relação à prática da violência obstétrica, para isso, é necessária a
disseminação da informação e dos direitos da mulher no que diz respeito ao tema. Além disso,
é imperioso encorajá-las a denunciar as práticas abusivas, tendo em vista que apenas tornando
presente o tema na seara jurisdicional é que se ganhará enfoque no intuito de desenvolver
vertentes que previnam, combatam e punam efetivamente esse tipo de violência.
A lei nº 9.263/1996 prevê, em seu artigo 3º, que o planejamento familiar é parte
integrante do conjunto de ações de atenção à mulher, ao homem ou ao casal, dentro de uma
visão de atendimento global e integral à saúde. Ainda consta na lei o direito à assistência no
14

pré-natal, parto e pós-parto (BRASIL, 1996). Já a lei nº 11.108/2005, conhecida como “lei do
acompanhante”, garante à parturiente o direito de indicar um acompanhante, de qualquer
sexo, durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato (BRASIL,
2005).
Por sua vez, a lei nº 11.634/2007 determina que toda gestante assistida pelo SUS tem
direito ao conhecimento e à vinculação prévia à maternidade na qual será realizada seu parto,
bem como à maternidade na qual ela será atendida nos casos de intercorrência pré-natal
(BRASIL, 2007). No âmbito municipal, há de se destacar a lei nº 13.080/2015, que assegura
nas maternidades do município de João Pessoa a presença da doula durante todo o período do
pré-parto, parto e pós-parto, se solicitada pela parturiente, inclusive em caso de parto
cirúrgico (PARAÍBA, 2015).
No que tange às normas internacionais, das quais o Brasil é signatário estão: o Pacto
de San José da Costa Rica, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas e
Discriminação contra a Mulher e a Convenção de Belém do Pará (Convenção Interamericana
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra Mulher, 1994). Nesse sentido, pode-se
dizer que:

A violência obstétrica fere os Direitos da Mulher, e fere, principalmente, sua


integridade pessoal, liberdade e consciência, protegidos, inclusive, pela Convenção
Americana de Direitos Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica) de 22/11/1969,
ratificada pelo Brasil em 25/09/1992, conforme dispõe no art. 7 – direito à liberdade
pessoal, art. 12 – direito à liberdade de consciência e art. 17 – direito à proteção da
família (NAZÁRIO, HAMMARSON, 2015, p. 4).

Leite (2016, p. 83-85) salienta alguns quesitos constantes na convenção de Belém do


Pará que enfatiza o direito à liberdade, a necessidade do combate à violência e a importância
do compromisso destinado aos Estados signatários em garantir que tais quesitos sejam
respeitados.

4 VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA EM FACE DO PODER JUDICIÁRIO

A partir de uma busca exploratória, no ano de 2018, usando como palavras-chave


“violência obstétrica”, “episiotomia”, “manobra de kristeller” e “lesão corporal no parto”,
foram selecionados alguns julgados no intuito de evidenciar a problemática em questão. Foi
possível observar, a partir da análise dos julgados, que o poder judiciário tem reproduzido a
naturalização da violência obstétrica, ao considerar improcedentes denúncias, compostas por
15

fatos que comprovam a existência de condutas violentas, julgando-as inviáveis ou sem nexo.
Ainda, a falta de correlação entre a violência obstétrica e outros tipos de violência,
especialmente a de gênero, limita a possibilidade de analogia e cerceia a oportunidade de a
mulher se sentir minimamente compensada.
Ademais, segundo a Fundação Perseu Ábramo (2010), o índice de violência é maior
na rede pública que na rede privada de saúde. Inegavelmente, a maioria da população
brasileira utiliza o sistema de saúde pública e muitas dessas pessoas são hipossuficientes
economicamente. Muitas usuárias da estrutura da saúde pública não possuem alta
escolaridade, tampouco são conhecedoras de seus direitos, fatores que, somados, possibilitam
a ocorrência da violência obstétrica. A falta de condição financeira, aliada ao
desconhecimento de direitos, também, por si só, são fatores mitigadores do exercício do
direito ao acesso à justiça, significando dizer que a violência obstétrica está entrecortada e
protegida por uma série de direitos violados ou cerceados das mulheres.
Para tanto, Leite (2016) alerta para a imprescindível necessidade de investimento na
capacitação das pessoas pertencentes ao poder judiciário para que possam enfrentar tais casos
de maneira a abarcar toda a sua complexidade, dando à temática relevância e tratamento
adequados, além de oportunizar um respaldo jurídico para as mulheres vítimas dos atos
violentos.
Com efeito, a disseminação de uma cultura de desrespeito ao corpo faz com que a
população aceite passivamente tudo o que o profissional de saúde fizer, achando que,
justamente por sua condição de detentor do conhecimento técnico, tudo o que ele fizer estará
correto. Este é um dos fatores que levam ao baixo índice de denúncias de violência obstétrica
(SANTOS, 2016).
Conforme será possível observar no julgado a seguir, a falta de preparação acerca do
assunto, ao julgar como ausência de ato ilícito uma conduta médica totalmente condizente aos
atos de violência obstétrica, cerceia o direito da mulher à justiça, além de ferir completamente
o que preconizam os direitos humanos e as convenções para erradicar as violências contra a
mulher:

APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS CONTRA O


ESTADO DE SANTA CATARINA. PARTO DE ALTO RISCO. AUTORA QUE
TEVE LACERAÇÃO DO PERÍNEO EM GRAU 2. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA. RECURSO DA AUTORA. ALEGAÇÃO DE
CERCEAMENTO DE DEFESA ANTE NÃO REALIZAÇÃO DE NOVA
PERÍCIA E OITIVA DE TESTEMUNHAS. MATÉRIA CONTROVERTIDA
QUE NÃO CARECE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA, POIS DEVERIA TER
SIDO ESCLARECIDA POR OCASIÃO DA PROVA TÉCNICA.
16

DESNECESSÁRIA A OITIVA DE TESTEMUNHAS PARA O DESLINDE DO


FEITO. PRELIMINAR RECHAÇADA. ALEGAÇÃO DE QUE SOFREU
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA DURANTE A REALIZAÇÃO DO PARTO
NORMAL. IMPERTINÊNCIA. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO MÉDICA PARA
FOSSE REALIZADO CESARIANA. LAUDO PERICIAL FUNDAMENTADO,
OBJETIVO E CONCLUSIVO, QUE AFIRMA A POSSIBILIDADE DE
LACERAÇÃO DO PERÍNEO CASO O BEBÊ SEJA GRANDE OU A MÃE
CONTRAIA O MÚSCULO PERINEAL NO MOMENTO DA EXPULSÃO.
FRATURA NA CLAVÍCULA DO INFANTE QUE, CONFORME DESCRIÇÃO
DA LITERATURA MÉDICA, PODE OCORRER. A RECUPERAÇÃO DA
LESÃO OCORRE EM POUCO TEMPO, MESMO EM CASOS NÃO
TRATADOS, SEM DEIXAR DEFORMIDADES. AUSÊNCIA DE APLICAÇÃO
DE ANESTESIA PARA CONTER A DOR PROVENIENTE DA LACERAÇÃO
PÉLVICA. ATO MÉDICO, CUJAS CONSEQUÊNCIAS DEVEM SER
ANALISADAS CASO A CASO PELO OBSTETRA E ANESTESISTA QUE
ESTÃO ACOMPANHANDO O PARTO. ADOÇÃO DE TODAS AS MEDIDAS
NECESSÁRIAS E CABÍVEIS AO CASO. PROCEDIMENTOS
ADEQUADAMENTE REALIZADOS PELA EQUIPE OBSTÉTRICA DA
ENTIDADE HOSPITALAR. AUSÊNCIA DE FALHA NOS SERVIÇOS
PRESTADOS PELO NOSOCÔMIO E DE PROVAS DO DANO ALEGADO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA NÃO VERIFICADA. ERRO MÉDICO NÃO
CONFIGURADO. ATO ILÍCITO NÃO CARACTERIZADO. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO.
(TJ-SC - AC: 10223977020138240023 Capital 1022397-70.2013.8.24.0023,
Relator: Pedro Manoel Abreu, Data de Julgamento: 25/09/2018, Primeira Câmara
de Direito Público).

Configuram-se, dentre os atos constantes no processo acima, a fratura na clavícula


do nascituro, assim como a laceração de períneo grau 2. Tais atos, de acordo com o estudo
desenvolvido por Carvalho e Santos (2015), decorrem da manobra de kristeller,
procedimento não recomendando pela OMS e característico de violência obstétrica. Um
segundo fato a ser elucidado é a negação de analgesia para realizar o fechamento da
laceração do períneo. Nesse sentido, para Carvalho e Santos (2015, p. 1) “[...] os traumas
perineais após o parto estão intimamente relacionados às práticas de violência obstétrica
institucional, o que, por sua vez, têm sequelas físicas e emocionais muito importantes na vida
da puérpera”.
Sousa (2015) salienta o despreparo do judiciário ao lidar com o tema, frustrando a
capacidade de garantir a efetividade dos direitos básicos das mulheres e crianças vítimas da
violência obstétrica, conforme se verifica a seguir:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. PRELIMINAR E MÉRITO.


MÉDICO. ERRO MÉDICO. Parto normal. EPISIOTOMIA. POSTERIOR
INCONTINÊNCIA FECAL. AUSÊNCIA DE PROVA DO NEXO CAUSAL.
INEXISTÊNCIA DE CULPA MÉDICA NO PROCEDIMENTO. 1. PRELIMINAR.
Não há falar em nulidade da sentença, por ofensa ao princípio da identidade física do
juiz, quando substituído aquele que presidiu a instrução do feito por outro
magistrado que prolatou a sentença. Inexistente qualquer prejuízo especificado às
partes. Relatividade do princípio conhecida. 2. Na pretensão indenizatória fundada
em erro médico, movida contra a profissional incide o art. 14, § 4º, do CDC,
17

segundo o qual ‘a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada


mediante a verificação da culpa’. 3. Na hipótese em análise, demonstrada a
inexistência de falha no serviço, já que foi observada a técnica adequada, seguindo-
se os procedimentos médicos recomendado, não havendo como imputar-se
responsabilidade. A arte médica, no caso, autoriza e até recomenda a realização de
episiotomia justamente para facilitar a expulsão como também para prevenir
lacerações aleatória no assoalho pélvico, não raras e decorrentes muitas vezes da
própria gestação. Prova pericial que não estabelece nexo causal entre o
procedimento e a lesão, demonstrando, ainda, que não houve incorreção. 4. Provas
pericial e testemunhal confirmatórias da retidão dos procedimentos realizados,
afastando de forma contundente a existência de indícios de culpa nos atos da
profissional demandada. Sentença de improcedência que se mantém. Apelação
desprovida (Apelação Cível nº70049094063 – 9ª Câmara Cível – Comarca de Santa
Cruz do Sul – TJ/RS).

Sobre o julgado supracitado, é importante pontuar que a federação brasileira de


ginecologia e obstetrícia reconhece o dano de incontinência fecal como dano decorrente de
episiotomia (SOUSA, 2015). A lei federal nº 8.080/1990 evidencia que, obrigatoriamente, os
procedimentos de saúde devem ser definidos a partir de evidências científicas que comprovem
sua eficácia, a acurácia, a efetividade e a segurança, não se enquadrando nesses termos a
episiotomia. Ressalte-se ainda que o julgado em comento serviu de base para outros
subsequentes, desencadeando uma série de negativas a processos que trariam um mínimo de
conforto para as mulheres após o trauma sofrido.

PENAL. LESÃO CORPORAL CULPOSA E HOMICÍDIO CULPOSO


(ART. 121, §§ 3º E 4º, E ART. 129, §§ 6º E 7º, AMBOS DO CÓDIGO PENAL).
RECURSO DO MP. NEGLIGÊNCIA MÉDICA. ASFIXIA PERINATAL GRAVE
DO FETO. IMPERÍCIA. REALIZAÇÃO DA MANOBRA KRISTELLER.
CONDENAÇÃO. INVIABILIDADE. NÃO COMPROVAÇÃO.
Presentes elementos probatórios suficientes a apontar a ausência de
responsabilidade das rés, restando comprovado nos autos por laudos médicos,
documentos e testemunhos que todos os procedimentos realizados foram
discutidos e supervisionados pelos staffs de plantão, comparecendo absolutamente
corretos no que diz com as avaliações e as condutas adotadas, inviável a
condenação requerida. Apelação não provida (TJ-DF 20160111065154 DF
0030204-96.2016.8.07001, Relator: Mário Machado, Data de
Julgamento:21/06/2018, 1ª TURMA CRIMINAL, Data da Publicação: Publicado
no DJE: 04/07/2018. p. 133/143).

Neste julgado, observa-se um caso claro de erro médico, acompanhado de


violência, que culminou na morte do nascituro. Feridos os direitos da criança, além dos
direitos da mulher, a justiça não vislumbrou comprovações de viabilidade para a
condenação. Em pesquisa desenvolvida por Aguiar et al. (2013), com profissionais da área
obstétrica, foi constatado que a maioria não classifica os atos como violentos e, sim, como
rotineiros, sendo uma forma de manter a ordem e organização. Tal constatação remete-se à
um ponto importante a ser observado: atos violentos corriqueiros que resultam na cultura do
18

desrespeito, passada a cada nova geração, e visto como conduta adequada e inviável de
condenação.
Vale a pena destacar ainda que tramita no congresso nacional o projeto de lei (PL)
nº 7.633/2014, que dispõe sobre a humanização da assistência à mulher e ao neonato e dá
outras providências. O projeto de lei trata também do parto humanizado e combate a prática
indiscriminada de cirurgias cesarianas, com intuito de mantê-las no patamar recomendando
pela OMS, ou seja, em 15% dos casos (ZANARDO et al, 2017; LEITE, 2016). A aprovação
do referido projeto de lei representa um marco na evolução das questões inerentes à
violência obstétrica, inclusive na seara jurídica. Entretanto, diante da ausência de legislação
específica, conforme salienta Sauia e Serra (2016), não há motivos para impedir que os
aplicadores do direito possam punir a prática, uma vez que a norma constitucional está
fundada em princípios que devem ser aplicados em caso de omissão legislativa.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mundo passa por um momento crítico de normalização da violência. As questões


inerentes ao desrespeito e à desumanidade estão tão presentes no cotidiano que acabam por
serem vistas como situações comuns por muitas pessoas. No cenário obstétrico,
especificamente onde a vida se inicia, a receptividade tem deixado bastante a desejar. O
caso fica ainda mais crítico ao se analisar as questões de gênero, vez que as mulheres que
vivem um cotidiano de desigualdade são as mais atingidas pelos atos violentos na hora do
parto.
Como fatores da violência obstétrica destacam-se: a falta de informações em
relação aos direitos das usuárias; a estrutura precária dos hospitais no que diz respeito ao
preparo para condução do parto e à soberania médica que impossibilita, na maioria das
vezes, uma melhor relação com o paciente e o reconhecimento dos direitos destes. Destarte,
é de extrema importância ressaltar que tais condições não se aplicam, de forma genérica, à
classe média ou às elites econômicas. Todavia, mesmo a despeito desta realidade, é possível
encontrar médicos humanizados e que respeitam os direitos femininos, principalmente na
hora do parto.
Outra perspectiva que deve ser considerada em razão da violência obstétrica é o
despreparo do Poder Judiciário ao conduzir as questões relativas à violência no parto. A
lacuna legislativa, a falta de conhecimento dos juízes, os preconceitos de gênero, a posição
cultural de superioridade dos médicos, a falta de informação das parturientes e as
19

subnotificações são fatores que se comunicam e redundam em muitos indeferimentos das


ações judiciais que têm por objeto a reparação da aludida violência.
Esta realidade desencoraja as novas denúncias, deixando o judiciário de exercer
corretamente a sua função social, situação que coloca mulheres e crianças a mercê da
violência, da indignidade humana e, em muitos casos, até ceifando o direito à vida.
Ademais, a inexistência de comunicação ou provocação do Poder Judiciário também
provoca a subnotificação e oculta o número real de casos.
A partir da análise dos julgados, percebe-se que o judiciário brasileiro é deficiente
no que se refere aos pareceres das questões sobre violência obstétrica. A ausência de
legislação específica sobre a temática e também de falta de conhecimento dos magistrados
sobre o tema, ainda com a possibilidade de analogia no intuito de penalizar os atos
corretamente, concorrem para o desamparo das parturientes na perspectiva mínima de
proteção dos direitos fundamentais.
É importante salientar, todavia, a evolução no que se refere ao uso da nomenclatura
‘violência obstétrica’ nos processos judiciais. Pesquisas como as de Sauia e Serra (2016) e
Leite (2016) apresentaram julgados por lesão corporal no parto ou situações inerentes à
violência, cadastradas sem o uso do referido termo. Na presente pesquisa, em 2018, foram
encontrados catorze julgados com utilização do termo, o que denota avanço do tema na área
jurídica.
Por fim, é possível concluir que a violência obstétrica está se publicizando e sendo
reconhecida na esfera jurídica, de forma gradativa. Este avanço pode ser comparado ao de
outros tipos de violência que hoje já são reconhecidos e tipificados. Apesar de direitos
frustrados diante do despreparo do judiciário, é notório o avanço das denúncias, o que pode
significar maior conhecimento das mulheres sobre o tema e a conscientização de seus
direitos. Entretanto, ainda se faz necessário um incessante investimento em informações e
conscientização da sociedade, de modo geral, bem como das equipes médicas e do poder
judiciário, posto que o conhecimento deste último sobre a violência obstétrica ultrapassa a
perspectiva indenizatória, possuindo efeito pedagógico no sentido de promover o respeito
do corpo e dos direitos da mulher.
20

OBSTETRIC VIOLENCE AND THE RIGHTS OF THE PARTURIENT: THE LOOK


OF THE JUDICIARY

ABSTRACT

The present work developed a study on obstetric violence. It was sought through some judges
to observe the position of the Judiciary on obstetric violence in Brazil. The violence under
study is characterized as a serious social problem and can be classified as a symbolic,
institutional and gender violence. Many women suffered from obstetric violence, however,
they could not understand that the events experienced were violent and rights-damaging
because they were naturalized by society and by public and private health institutions, as the
medical-patient relationships were still hierarchical, where the patient is always in a situation
of subordination
and domination. The research was a bibliographical review where forty-five references were
selected among scientific articles, books, legislation and judgments extracted from the
JusBrasil website, of which three were cited in the course of the research in order to
demonstrate in a more profitable way the position of the Judiciary on the subject investigated.
Among other factors, misinformation about women's rights regarding childbirth results in
apathy regarding the violence suffered. However, it was possible to identify the increase in
specific complaints regarding the presence of the term Obstetric Violence in the judges, as
well as the existence of the lack of knowledge of magistrates in judging cases due to a lack of
knowledge about the subject matter, which some occasions, in mitigation of rights by the
Judiciary itself.

KEYWORDS: Brazil. Obstetric Violence. Gender Violence. Judicial Power.

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da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e
da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher;
dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera
o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras
providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 08.08.2006

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conhecimento e a vinculação à maternidade onde receberá assistência no âmbito do Sistema
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22

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TERMO DE RESPONSABILIDADE/DIREITOS AUTORAIS

Eu, CECÍLIA MARIA COSTA DE BRITO, RG nº 3033609 SSP/PB, acadêmica do Curso


de Bacharelado em Direito, autora do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, intitulado
por “VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E OS DIREITOS DA PARTURIENTE: O OLHAR
DO PODER JUDICIÁRIO”, orientado pela Professora Ms. Ana Carolina Gondim de
Albuquerque Oliveira, declaro para os devidos fins que o TCC que apresento atendem às
normas técnicas e científicas exigidas na elaboração de textos, indicadas no Manual para
Elaboração de Trabalho de Conclusão de Curso da Fesp Faculdades. As citações e
paráfrases dos autores estão indicadas e apresentam a origem da ideia do autor com as
respectivas obras e ano de publicação. Caso não apresentem estas indicações, ou seja,
caracterize crime de plágio, estou ciente das implicações legais decorrentes deste
procedimento.

Declaro, ainda, minha inteira responsabilidade sobre o texto apresentado no TCC,


isentando a professora orientadora, a Banca examinadora e a instituição de qualquer
ocorrência referente à situação de ofensa aos direitos autorais.

Cabedelo, PB, 07 de Novembro de 2018.

__________________________________________
CECÍLIA MARIA COSTA DE BRITO
Mat. 2015110118

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