PARA SANCHEZ: a expansão do direito penal está relacionada, na sociedade
contemporânea, à busca por uma forma de solucionar de modo rápido os problemas sociais, e responder à demanda punitiva de amplas camadas sociais, que identificam no sistema penal a função de promotor de segurança e diminuição de ansiedades sociais A sociedade atual é marcada pelo risco social, que se mostram na individualização e no sentimento de insegurança e medo. Fatores que incentivam e acentuam esses sentimentos: 1) o desenvolvimento dos meios de comunicação: a) TV – “a televisão seria responsável pela difusão de uma cultura de massas, na qual, ao mesmo tempo em que se tem acesso fácil a informações de vários tipos, os indivíduos iriam tornando-se, paulatinamente, receptores passivos de manipulação ideológica, fato que inibiria as idéias de movimentos sociais e de mudanças sociais” b) informática –causa uma diferenciação social e cultural entre usuários: uma crescente estratificação social pode ser verificada através deste processo. 2) o crescimento do poder de mercado 3) A interdependência das esferas de organização social, assim como a crescente utilização da ordem jurídica como instância de intermediação para a resolução dos conflitos entre indivíduo e sociedade O Estado passa a ser cobrado para resolver o sentimento de insegurança vivido pela sociedade, e visando atender a tais demandas utiliza-se do direito penal. A punição dos culpados, que é uma das demandas da sociedade, simboliza a superação do trauma gerado pelo delito. Com as mudanças nos sistemas econômicos, as desigualdades de renda aumentaram drasticamente, sendo que tal diferenciação gerou tanto um sentimento de privação relativa entre os pobres, fator responsável tanto pelo incremento da criminalidade, quanto pelo nascimento do sentimento de ansiedade entre aqueles que se encontravam em uma situação economicamente mais favorecida, fator que fomentou a cultura da punição e da intolerância. A frustração social gerada pela impossibilidade de consumir determinados bens une-se a privação relativa, junção esta que tende a se tornar uma fonte de desvio. A globalização gerou modificações no mercado de trabalho.A exclusão do mercado de trabalho traz como conseqüência direta a eliminação da cidadania, a negação dos direitos sociais, não somente por parte da comunidade, mas também por parte das autoridades. FASCISMO SOCIAL: (Souza Santos) conjunto de processos sociais, mediante os quais extensos setores da população mundial são colocados de maneira irreversível no exterior de qualquer tipo de controle social. Assim, estes grupos são socialmente rejeitados e permanentemente excluídos e, muito provavelmente não voltarão a ser reintegrados pela sociedade. Solução p/ o problema:construção de um novo padrão de relações locais, nacionais e transnacionais, cujas bases estariam na redistribuição de renda e no reconhecimento social. Os princípios jurídicos do direito penal passa ser questionados pela sociedade moderna. Sendo necessário novos mecanismos de controle social. Processo Penal de emergência: tentativa de adaptar o sistema às novas necessidades de controle social. Para que o direito penal passa a ser influenciado pela política e pela mídia, buscando atender às demandas sociais punitivas através do endurecimento da legislação penal, transformando-a na principal forma de combate aos problemas sociais. Consequências: - garante a legitimidade do poder punitivo do Estado; - leva a justiça penal a uma situação de grande complexidade. Verifica-se enorme morosidade, muitos casos de impunidade, com o conseqüente descrédito da ameaça penal.
1.6 A Globalização e a Transformação das Relações Sociais
Globalização: gerou como conseqüências o aumento da desigualdade social e econômica entre países ricos e pobres, migração internacional crescente, esvaziamento do poder dos estados. Com a mudança no sistema capitalista, que era fundamentado pelo trabalho, houve o surgimento do desemprego estrutural. O trabalho passa a definir as situações de exclusão social. Polarização social: a sociedade passou a ser expressivamente dual. O apartheid social entre as classes motiva o punitivismo social e o apoio à criminalização de condutas. No decorrer do processo de mudança no sistema estatal, a criminalidade urbana cresce expressivamente, assim como o tráfico e o consumo de drogas, fatos que, paradoxalmente, acabaram por legitimar o corte de gastos sociais, bem como o endurecimento penal. O encarceramento massivo passa a ser utilizado como uma ferramenta fundamental na dinâmica das sociedades neoliberais de Modernidade Tardia. é um modo civilizado‖ e constitucional de segregar as populações problemáticas que foram criadas pelas instâncias econômicas e sociais atuais. O encarceramento cumpre a função de satisfazer os sentimentos de retribuição, sendo ainda mecanismo capaz de controlar‖ o risco e de confinar o perigo‖. (Bauman) o critério de é relativo à aptidão de que se possa participar do mercado de consumo. Já o critério de perigo ou impureza está ligado àqueles indivíduos chamados consumidores falhos‖, os quais não possuem recursos suficientes para consumir. a busca pela pureza é verificada através da crescente ação punitiva contra as classes consideradas perigosas (moradores de rua, de zonas urbanas consideradas proibidas) O aumento da criminalidade seria o principal produto de uma sociedade de consumidores em pleno desenvolvimento, a qual é legitimada por todos os indivíduos que fazem parte da sociedade, inclusive os excluídos.
1.7 O Encarceramento e a Exclusão Social
Encarceramento: Através dele, são separados e isolados aqueles indivíduos que não possuem condições econômicas para participar do jogo do consumo capitalista. Funções da prisão: retribuição, prevenção e recuperação. E existe uma quarta função não explicitada nos ordenamentos legais, a de repasse ideológico dos valores e padrões sociais vigentes nas sociedades na qual a prisão está inserida. O aumento massivo da utilização do encarceramento enquanto mecanismo de controle social e separação é conseqüência direta do fato de haver novos e amplos setores sociais que são vistos como uma ameaça à ordem social. Sua expulsão forçada do meio social pelo encarceramento é verificada como uma forma eficaz de neutralizar a ansiedade pública provocada por essa ameaça. Passou-se a ocorrer a criminalização da pobreza. A prisão deixou de ter a função de reeducação, passando a ter um papel de segregação, de defesa social. O sistema carcerário torna-se um dos maiores propulsores do aumento da violência. as prisões têm contribuído para o aumento das taxas de criminalidade. O encarceramento produz a reincidência. A privação de liberdade não consegue atualmente cumprir a função de reinserir socialmente ou mesmo de prevenir o delito. Ao contrário disso, tem sido propiciado o surgimento e desenvolvimento de organizações internas, as facções prisionais, que surgem das carências e da incapacidade do sistema para garantir os direitos fundamentais dos presos, e acabam resultando em grupos hierárquicos que dominam o ambiente carcerário e estendem suas atividades para fora das prisões, em atividades como o tráfico de drogas, assaltos e seqüestros nos grandes centros urbanos. “A questão da exclusão social afeta grande parte da populaçã brasileira e é resultante da convergência de vários aspectos, mas tem como resultado comum a exacerbação da pobreza. A população carcerária, de modo geral, é formada por indivíduos em situação de vulnerabilidade social e econômica, e que em condições normais já teriam dificuldades de garantir a sua própria subsistência e vincular-se a redes sociais de apoio e solidariedade social. Soma-se a estas dificuldades o fato de que, ao sair da prisão, passam a carregar o estigma de ex-presidiários, o que se torna um obstáculo quase intransponível para a maioria dos egressos. Além disso, a baixa escolaridade, que é característica da quase totalidade da população carcerária, e não é enfrentada de forma efetiva pelas políticas carcerárias, dificulta ainda mais a recolocação do egresso no mercado de trabalho.”