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EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

Pergunta: Quais as excludentes de responsabilidade civil do


Estado? Dê exemplos.

A responsabilidade civil da administração pública, na perspectiva da


Constituição de 1988, destina-se às pessoas jurídicas de direito público e às de
direito privado, prestadoras de serviços públicos. A responsabilidade do Estado
pode se manifestar de diversas formas, sendo elas: por atos omissivos de seus
agentes, danos de obra pública, conduta abusiva de agentes públicos, atos
legislativos, atos judiciais, dentre outros.

Entretanto existem situações, onde não se configura a relação de


causalidade entre o dano e a conduta comissiva ou omissiva do poder público.
Essas ocasiões constituem as excludentes da responsabilidade civil do Estado,
que são: culpa exclusiva da vítima, caso fortuito e força maior. Se o Estado
não é o causador, ou pelo menos, não é o único responsável pelo dano, sua
responsabilidade será extinta ou poderá ser atenuada.

A culpa da exclusiva da vitima ocorre quando o dano não se qualifica


como injusto, pois se originou exclusivamente no procedimento doloso ou
culposo do próprio lesado.

Quando o evento danoso é causado pela própria vitima, não há


responsabilidade do Estado, porém se a causa for concorrente, entre vítima e
poder público, é possível que a responsabilidade da Administração Pública seja
atenuada proporcionalmente com a culpa.

Nesse sentido, Renan Miguel Saad afirma que:

 "[...] haverá uma concorrência de responsabilidade, partilhando-se a


obrigação de indenizar até a proporção que corresponde à parcela de culpa da
vítima, sendo o restante imputado ao agente do ato danoso".

Para melhor demonstrar a aplicação prática dessa excludente, cabe


citar a jurisprudência dos tribunais:
“3ª Câmara Cível Desembargador Paulo Habith 17.01.11 DCMR
APELAÇÃO CIVEL Nº 809533-6, DA 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE
CASCAVEL APELANTE: ALTAIR DA SILVA APELADO:
DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM DO ESTADO DO
PARANÁ. 
RELATOR: DESEMBARGADOR PAULO HABITH 
RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MATERIAL E MORAL. ACIDENTE
NA RODOVIA. QUEDA DO VEÍCULO EM VALETA. INEXISTÊNCIA DE
CULPA DO DER. APLICAÇÃO DA EXCLUDENTE DE CULPA
EXCLUSIVA DA VÍTIMA. IMPERÍCIA. EXISTÊNCIA DE ACOSTAMENTO.
DESCUIDO DO MOTORISTA. RECURSO NÃO PROVIDO. 
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n°. 809533-6,
da 2ª Vara Cível da comarca de CAscavel, em que figuram como Apelante:
Altair da Silva, e como Apelado: Departamento de Estradas de Rodagem
do Estado do Paraná. 
RELATÓRIO 
Trata-se de Apelação Cível deduzida contra sentença proferida nos autos
nº 735/08 de Ação de Indenização de danos, que julgou improcedente o
pedido formulado, por não existir nexo causal entre o resultado e o evento. 
Pela sucumbência, condenou o autor ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios fixados em R$1.600,00. 
Inconformado, recorre o Apelante, sustentando que há responsabilidade da
recorrida pelo evento O recurso foi recebido em ambos os efeitos. 
Desembargador Paulo Habith 17.01.11 DCMR Foram apresentadas as
contra-razões ás fls.
116/118. 
A Douta Procuradoria Geral de Justiça em parecer de fls. 132/135, aduz
não vislumbrar interesse público relevante a ensejar sua manifestação.”

Outra excludente considerada é o caso fortuito e a força maior. Há uma


grande discussão na doutrina quanto a esses dois conceitos. Alguns
doutrinadores consideram ambas expressões sinônimas, outros afirmam ter
significado diverso e entre estes há divergência quanto quais seriam estes
significados.

De acordo com Maria Helena Diniz, a força maior caracteriza-se por ser
um fato da natureza, e com isso pode-se conhecer o motivo ou a causa que
deu origem ao acontecimento, como por exemplo, um raio que provoca um
incêndio. Já no caso fortuito possui não é possível identificar sua causa, esta
tem origem desconhecida, como um cabo elétrico que sem motivo aparente
caio sobre fios telefônicos causando incêndio e explosão.

Segundo o nosso código civil de 2002 em seu artigo 393 “O caso


fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era
possível evitar ou impedir”.

Para uma parte da doutrina nos casos de força maior, admite-se a


exclusão da responsabilidade da Administração Pública, por se tratar de fato
externo, estranho ao serviço. Já no caso fortuito, a vontade aparece na
organização e no funcionamento do serviço. A exclusão da responsabilidade da
Administração Pública no caso fortuito é caracterizada pela interioridade,
imprevisibilidade e irresistibilidade. Já nos casos por força maior, verificam-se
os seguintes elementos essenciais: exterioridade, imprevisibilidade e
irresistibilidade.

O Supremo Tribunal Federal, porém, não faz distinção entre os dois


significados. Podemos ver exemplos de casos nas seguintes jurisprudências:

Referente ao caso fortuito:

Apelação TJSP em 26 de abril de 2012

Ementa: Responsabilidade civil do Estado Pretensão à indenização por


danos materiais e morais Acidente em transporte coletivo da
Municipalidade Morte súbita do motorista Ausência de falha mecânica
Hipótese incontroversa de causa excludente ao dever de indenizar, tendo
em vista o caso fortuito, apto a romper o nexo de causalidade, elemento
imprescindível para a reparação postulada Sentença de improcedência
mantida Recurso improvido.

Referente à força maior:

APELAÇÃO TJMS 06 DE JUNHO DE 2012


E M E N T A -APELAÇÃO CÍVEL -AÇÃO INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS DECORRENTES DE ACIDENTE DE VEÍCULO DE VIA
TERRESTRE -NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO -ALEGAÇÃO DE
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE -PRELIMINAR
AFASTADA -RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DO ESTADO EM
RELAÇÃO À AUTARQUIA -AUTONOMIA ADMINISTRATIVA E
FINANCEIRA DESTA -ILEGITIMIDADE PASSIVA DO ESTADO MANTIDA
-ABERTURA DE CRATERA EM RODOVIA PROVOCADA POR CHUVA
TORRENCIAL -NEXO DE CAUSALIDADE INEXISTENTE -CASO
FORTUITO OU FORÇA MAIOR -SENTENÇA MANTIDA -RECURSO NÃO
PROVIDO.

INEXISTENTE O NEXO CAUSAL, SENDO DEMONSTRADO, AO


CONTRÁRIO, A OCORRÊNCIA DE FORÇA MAIOR, RELACIONADA À
CHUVA IMPREVISÍVEL E ANORMAL, A IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO
É MEDIDA QUE SE IMPÕE, NÃO HAVENDO QUE SE FALAR EM
PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO.

"Responsabilidade civil - Indenização por danos materiais - Enchente -


Caracterizada a força maior (fato da natureza) - Precipitação pluviométrica
excepcional - Causa excludente da responsabilidade - Inexistência de
nexo de causalidade entre o dano e o comportamento da Administração
Municipal - Precedentes - Ação julgada improcedente - Sentença mantida -
Recurso improvido." (TJSP, Ap. 6759705200, 6ª Câmara de Direito
Público, rel. des. Leme de Campos, j. 31.03.09);

Diante de tais hipóteses, podemos notar que a responsabilidade civil do


Estado não é absoluta e portanto deve ser analisada com meticulosidade em
todos os casos. É preciso observar o caso concreto, para aferir a
responsabilidade correta e não cometer assim injustiças com nenhuma das
partes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito civil Brasileiro: Responsabilidade Civil.


Vol.7. 17°ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 

MALTA, Marcus. Excludentes da responsabilidade do Estado.2008. Disponível


em: < http://www.webartigos.com/artigos/excludentes-da-reponsabilidade-do-
estado/6099/> Acesso em: 20 mar. 13.

SARTORI, Ivan Ricardo Garisio. Responsabilidade civil objetiva e excludente.


2009. Disponível em:<http://jus.com.br/revista/texto/12734/responsabilidade-
civil-objetiva-e-excludente#ixzz2NTE99pbt> Acesso em: 20 mar. 13.

JURISPRUDÊNCIA. JUS BRASIL. Disponível em:


<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21413750/8095336-pr-809533-6-
acordao-tjpr/inteiro-teor> Acesso em: 20 mar. 13.

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