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quinta-feira, 10 de abril de 2014

Olá amigos do Dizer o Direito,

O STF, após quase três anos, aprovou no dia de ontem um novo


enunciado de jurisprudência. Trata-se da Súmula Vinculante n.  33.
Vamos entender sobre o que ela trata?

SÚMULA VINCULANTE 33-STF:


Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras do Regime
Geral de Previdência Social sobre aposentadoria especial de que trata o
artigo 40, parágrafo 4º, inciso III, da Constituição Federal, até edição
de lei complementar específica.

ENTENDENDO O SENTIDO DA SV 33-STF:

O que é aposentadoria especial?


Aposentadoria especial é aquela cujos requisitos e critérios exigidos do
beneficiário são mais favoráveis que os estabelecidos normalmente para as
demais pessoas.

Quem tem direito à aposentadoria especial no serviço público?

Onde estão previstos os requisitos e


Quais servidores têm direito?
condições mais favoráveis?

Professores exclusivos do magistério infantil e dos ensinos fundamental


Na própria CF/88.
e médio (art. 40, § 5º).

Servidores que sejam portadores de deficiência (art. 40, § 4º, I). A CF exige que seja editada uma lei
complementar.

Servidores que exerçam atividades de risco (art. 40, § 4º, II).

Servidores que exerçam atividades sob condições especiais que


prejudiquem a saúde ou a integridade física (art. 40, § 4º, III).

Logo, com exceção dos professores, a CF/88 exige a edição de uma LEI
COMPLEMENTAR definindo os critérios para a concessão da aposentadoria
especial aos servidores públicos. A Lei deverá, inclusive, elencar as carreiras
que se encontram em situação de risco ou cujas atividades prejudiquem a
saúde ou integridade física.

Essa lei complementar já foi editada?


NÃO.

O que acontece, já que não existe a LC?


Como ainda não há a referida lei complementar disciplinando a aposentadoria
especial do servidor público, o STF reconheceu que o Presidente da República
está em “mora legislativa” por ainda não ter enviado ao Congresso Nacional o
projeto de lei para regulamentar o art. 40, § 4º, III da CF/88.

Diante disso, o STF, ao julgar o Mandado de Injunção n. 721/DF (e vários


outros que foram ajuizados depois), determinou que, enquanto não for editada
a LC regulamentando o art. 40, § 4º, III, da CF/88, deverão ser aplicadas, aos
servidores públicos, as regras de aposentadoria especial dos trabalhadores em
geral (regras do Regime Geral de Previdência Social - RGPS), previstas no art.
57 da Lei nº 8.213/91.

Assim, se o servidor público exerce suas atividades em condições insalubres,


poderá requerer aposentadoria especial e a Administração Pública deverá
analisar o requerimento com base nos requisitos do RGPS trazidos pelo art. 57
da Lei n. 8.213/91. Veja o que diz a referida Lei:

Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência
exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições
especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze),
20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei.
§ 1º A aposentadoria especial, observado o disposto no art. 33 desta Lei,
consistirá numa renda mensal equivalente a 100% (cem por cento) do salário-
de-benefício.
Logo, os servidores públicos que exerçam atividades sob condições especiais
que prejudiquem a sua saúde ou integridade física (art. 40, § 4º, III da CF/88)
terão direito de se aposentar com menos tempo de contribuição que os demais
agentes públicos.

Ex: a CF/88 prevê que o servidor homem possa se aposentar, voluntariamente,


com 60 anos de idade e 35 anos de contribuição (art. 40, § 1º, III, a da
CF/88). No entanto, se o servidor público tiver trabalhado durante 25 anos sob
condições insalubres, poderá ter direito à aposentadoria especial, nos termos
do art. 40, § 4º, III da CF c/c o art. 57 da Lei nº 8.213/91.

Vale ressaltar que a SV 33-STF somente trata sobre a aposentadoria especial


do servidor público baseada no inciso III do § 4º do art. 40 da CF/88
(atividades sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade
física), não abrangendo as hipóteses do incisos I (deficientes) e II (atividades
de risco).

Em rápidas linhas, é esse o sentido da SV 33-STF.

Espero que eu tenha conseguido me desincumbir do dever de ser claro e que


você tenha entendido, mas reconheço que não é um assunto fácil.

Agora, se você quiser/precisar aprofundar um pouco mais o tema, continue


lendo abaixo. Faço, porém, um alerta: vai ficar mais difícil.

APROFUNDANDO O TEMA:

As regras do RGPS aplicam-se aos servidores públicos apenas “no que


couber”
A SV 33-STF afirma expressamente que as regras do RGPS sobre aposentadoria
especial aplicam-se ao servidor público, no que couber. Em outras palavras,
nem todas as normas do RGPS serão cabíveis para a aposentadoria especial do
servidor público.

Um importante exemplo de regra que é válida para a aposentadoria especial no


RGPS, mas não se aplica aos servidores públicos é a CONVERSÃO DO TEMPO
ESPECIAL EM TEMPO COMUM.
Imagine a seguinte situação:
A lei prevê a aposentadoria especial para aqueles que trabalharam durante 25
anos em condições insalubres.
Maria trabalhou, em uma empresa privada, durante 20 anos em atividades
especiais (trabalho exposto a radiação) e 6 anos em atividade comum (não
insalubres). Logo, não terá direito à aposentadoria especial, que exige 25 anos
de atividades especiais para o caso de radiação (item 1.1.4 do Decreto nº
53.831/64).

Poderá ela somar os 20 anos de atividades insalubres com os 6 anos de


atividades comuns? SIM.

Ao converter estes 20 anos de atividades especiais em tempo de


atividades comuns, haverá algum tipo de acréscimo (contagem de
tempo diferenciada)?
SIM. O tempo de trabalho exercido sob condições especiais consideradas
prejudiciais à saúde ou à integridade física será convertido em “tempo comum”
(exercido em atividade comum) e nesta conversão vão ser aplicados alguns
índices matemáticos que farão com que o tempo se torne maior. Ex: 20 anos =
7.300 dias de tempo comum. No entanto, como esses 20 anos foram prestados
em atividade especial, para serem convertidos em tempo comum, eles devem
ser multiplicados por 1,2. Assim, teremos 7.300 x 1,2 = 8.760.
Logo, 7.300 dias trabalhados sob o regime especial podem se transformar em
8.760 dias caso este período de tempo especial seja convertido em tempo
comum.

No exemplo que demos acima, Maria trabalhou 20 anos (7.300 dias) em


atividades especiais e 6 anos (2.190 dias) em atividade comum. Logo, não
conseguirá a aposentadoria especial (que exige 25 anos de atividade especial).
Maria irá, então, somar os períodos para ver se consegue a aposentadoria comum (não especial).
Os 7.300 dias trabalhados irão virar 8.760 dias.
Dessa forma, ela irá somar 8.760 + 2.190 = 10.950 dias (30 anos) para fins de
aposentadoria.

Onde está previsto este índice de conversão de 1,20?


Os índices de conversão de “tempo especial” em “tempo comum” estão
previstos no art. 70 do Decreto nº 3.048/99. Ressalte-se que há outros índices,
além deste de 1,20 e eles irão variar de acordo com a atividade especial (obs:
há muitas polêmicas sobre isso, mas elas não interessam para o que estamos
discutindo aqui).

Feitos os esclarecimentos acima, indaga-se: os servidores públicos que


exerçam atividades sob condições especiais que prejudiquem a saúde
ou a integridade física (art. 40, § 4º, III da CF/88) podem se valer
destes índices para fazer a conversão do “tempo especial” trabalhado
em “tempo comum”?
NÃO. O STF afirmou que não se extrai da norma contida no art. 40, § 4º, III da
CF/88 que exista o dever constitucional de que o Presidente da República e o
Congresso Nacional editem uma lei, em favor dos servidores públicos, prevendo
contagem diferenciada para quem trabalhou parte de sua vida em atividades
insalubres e, ao final, averbe (registre e some) este período de forma maior
para fins de aposentadoria.

Em outras palavras, para o STF, o art. 40, § 4º, III não garante
necessariamente aos servidores este direito à conversão com contagem
diferenciada de tempo especial em tempo comum. O que este dispositivo
garante é apenas o direito à “aposentadoria especial” (com requisitos e critérios
diferenciados).

Dessa feita, não se pode aplicar as regras de conversão do tempo especial em


tempo comum, previstas para os trabalhadores em geral (RGPS), para os
servidores públicos, considerando que a lei que vier a ser editada
regulamentando o art. 40, § 4º, III da CF/88 não estará obrigada a conceder
este fator de conversão aos servidores. Foi assim que decidiu o STF. Confira:

(...) A concessão do mandado de injunção, na hipótese do art. 40, § 4º, da Lei


Fundamental, reclama a demonstração pelo Impetrante do preenchimento dos
requisitos para a aposentadoria especial e a impossibilidade in concrecto de
usufruí-la ante a ausência da norma regulamentadora. 
2. O alcance da decisão proferida por esta Corte, quando da integração
legislativa do art. 40, § 4º, inciso III, da CRFB/88, não tutela o direito à
contagem diferenciada do tempo de serviço prestado em condições prejudiciais
à saúde e à integridade física. 
3. Não tem procedência injuncional o reconhecimento da contagem diferenciada
e da averbação do tempo de serviço prestado pelo Impetrante em condições
insalubres por exorbitar da expressa disposição constitucional. Precedentes.
(...)
STF. Plenário. MI 3788 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2013.

Daí, o enunciado da SV 33 dizer, corretamente, que aplicam-se ao servidor


público, no que couber, as regras do RGPS.

INFORMAÇÃO ADICIONAL: APOSENTADORIA ESPECIAL DE DEFICIENTE


E LC 142/2013

A SV 33-STF somente trata sobre a aposentadoria especial do servidor público


baseada no inciso III do § 4º do art. 40 da CF/88 (atividades sob condições
especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física).

Infelizmente, as hipóteses de aposentadoria especial de servidores deficientes


(inciso I) e que exercem atividades de risco (inciso II) não foram objeto da SV.

Vale ressaltar que, no dia 09/11/2013, entrou em vigor a LC 142/2013,


regulamentando o § 1º do art. 201 da CF/88 no tocante à aposentadoria da
pessoa com deficiência segurada do RGPS.

Em princípio, o regime jurídico da LC 142/2013 não se aplicaria aos servidores


públicos, porque a referida Lei é restrita ao RGPS (trabalhadores em geral,
filiados ao regime administrado pelo INSS). No entanto, como a Lei
Complementar de que trata o art. 40, § 4º, I, da CF/88 ainda não foi editada, o
STF, em um mandado de injunção, reconheceu que o Presidente da República
está em “mora legislativa” por ainda não ter enviado ao Congresso Nacional o
projeto de lei para regulamentar o art. 40, § 4º, I da CF/88 (aposentadoria
especial para servidores deficientes). Com base nisso, determinou que sejam
aplicadas aos servidores públicos portadores de deficiência os critérios e
condições previstos nesta LC 142/2013. Nesse sentido: STF MI 5126-DF, DJe
02/10/2013.

Vale ressaltar que esse tema (e muitos outros) foram explicados, com
detalhes, no Livro Principais Julgados de 2013 do STF e STJ
comentados.

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