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RESUMO: As teorias motivacionais acusam dois enfoques diferentes a respeito do estudo do comportamento hu-
mano. O primeiro tende a considerar o ser humano como sendo passível aos estímulos vindos do meio ambiente,
sendo conhecido como enfoque behaviorista. O segundo enfoque explora a energização e a direção do comporta-
mento humano. A energia na teoria motivacional é fundamentalmente uma questão de satisfação das necessida-
des internas. A direção do comportamento motivacional é uma questão de processos e estruturas que dão sentido
aos estímulos internos ou externos, dirigindo a ação humana no sentido da satisfação de necessidades. Durante a
busca da satisfação motivacional as pessoas enfrentam problemas que são realmente de difícil resolução. Para
manterem-se a salvo de ter que enfrentar tais problemas, as pessoas procuram usar algum tipo de ilusão perceptiva.
Assim, socorrem-se dos mitos para poder acreditar que a realidade vista não seja verdadeira.
ABSTRACT: Motivation theories point out two different approaches about this subject. The first one tends to view the
human being as passive to environmental stimuli - this approach is known as the behaviourist view. The second
approach explores the energization and direction of motivational behaviour. The energy in motivational theory is
fundamentally a question of intrinsic needs. The direction of motivational behaviour is known as a question of
processes and structures that give meaning to internai and externai stimuli directing human action towards the
satisfaction of these needs. During the search of motivational satisfaction people face problems which are really
hard to solve. To avoid the discomfort of having to face these problems people tend to use myths that allow them to
believe that the reality they see is different from the truth. These are the iIIusions they use to keep on living without
the problems they don't want to face.
KEY WOROS: motivation, energization, behaviour, intrinsic needs, satisfaction, iIIusions, myths.
6 RAE - Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 38, n. 1, p. 6-17 Jan./Mar. 1998
A DIFíCIL ADMINISTRAÇÃO DAS MOTIVAÇÕES
É muito comum que se caia na tentação deres eficazes façam por suas empresas, caso
de afirmar que uma das principais responsa- pretendam ajudá-las. As condições em que as
bilidades dos gerentes seja a de motivar seu mudanças estão ocorrendo são, sem dúvida
pessoal. Por anos a fio, vem-se tentando con- alguma, claramente adversas ou, como pro-
seguir sucesso nesse tipo de empreitada e, põem alguns autores, "mais turbulentas, mais
embora praticamente nada se tenha conse- caóticas e mais desafiadoras do que nunca".'
guido, os conselhos continuam a brotar de
todos os lados e receitas das mais variadas
têm sido oferecidas para que se obtenha aqui-
lo que um grande número de publicações em
o fim dos empregos é uma
psicologia considera um verdadeiro milagre. realidade, tendo em vista que,
A primeira preocupação que surge é saber
se todos aqueles que descrevem a atividade
após anos de previsões otimistas e
gerencial como geradora de motivação es- alarmes falsos, a nova tecnologia
tão falando a respeito do mesmo assunto.
É difícil acreditar que, apesar de muito uti- de informática e comunicação faz
lizada e discutida nas organizações, a moti- finalmente sentir seu violento
vação seja objeto de considerações tão dife-
rentes entre si. Isso indica, não há dúvida, que impacto.
o interesse pelo assunto é grande. Não há
como negar: esse é o tema que há mais de
uma década está em grande evidência! Algo,
no entanto, é comum entre muitas dessas in- Já há algum tempo tenta-se transmitir a
terpretações que as pessoas, no geral, ofere- magnitude dos desafios com os quais se de-
cem quando falam do assunto: raramente as frontam as organizações quando se conside-
opiniões, crenças e mitos nasceram de infor- ra tudo aquilo que está ocorrendo. Mesmo
mações oferecidas pelas pesquisas científicas. assim está fora de cogitação que se consiga
Assim, o que a maioria das pessoas sabe ou ver com exatidão as dimensões daquilo que
diz saber a respeito da motivação pede maior está sendo necessário enfrentar.
esclarecimento e cautela, levando em conta A tecnologia, particularmente no tocan-
tudo o que se tem estudado sobre ela. te às comunicações, está hoje mudando em
Por outro lado, muitas vezes não é tão um ritmo mais rápido do que nunca na his-
fácil descobrir porque as pessoas agem de tória da humanidade. Nos últimos 50 anos,
determinadas maneiras. Isso provavelmente não se havia visto tal agilidade em mudar,
se deve ao fato de que nem sempre cada uma sendo essa reviravolta de cenário considera-
delas faz as mesmas coisas exatamente pe- da a maior e mais rápida até então.
las mesmas razões. Pesquisas feitas sobre o Até certo ponto atônitas, as pessoas e as
comportamento motivacional revelam que organizações, em conjunto, têm sido cons-
não somente os objetivos que cada um pro- trangidas a viver sob a pressão da procura
cura atingir são diferentes daqueles que ou- de alguma estratégia que lhes permita do-
tros almejam, mas também que as fontes de minar esses novos desafios. Acontece, no
energia responsáveis por disparar esse tipo entanto, que o instrumental, os processos e
de comportamento são diferentes. Assim a própria tecnologia disponível ao alcance
sendo: o estudo da motivação humana diz dos administradores estão, igualmente, se
respeito à descoberta do porque as pessoas modificando. Tudo isso delineia um cená-
se movimentam e qual a fonte de energia que rio que, de certa forma, já havia sido ante-
estão usando para tanto. cipado, mas, que por alguma desatenção de
nossa parte, não se acreditava tão iminen-
QUAL É O CENÁRIO DE TRABALHO te. O desafio chegou de fato e, ainda expe-
ATUAL? rimentando algum despreparo, as pessoas
parecem dispostas a ensaiar os primeiros,
o mundo todo vive um momento em que mas ainda hesitantes, passos para não su-
o grande desafio é, sem dúvida, conseguir do- cumbirem nem serem definitivamente tra- 1. KANTER, R. M. Managing lhe human
síde Df change. In: KOLB, D. A., Osland, J.
minar a mudança. Ultrapassar essa etapa é gadas - ou pegas de surpresa - por ele quan- 5., RUBIN, I. M. The Organizational
aquilo que de melhor se pode esperar que lí- do não houver mais tempo para reagir. Behavior Reader, N.J., 1995.
© 1998, RAE - Revista de Administração de Empresas / EAESP / FGV, São Paulo, Brasil. 7
Um bom número de obras contendo os lugar daqueles que usavam suas capacidades
mais variados tipos de análise sobre as difi- a serviço de uma atividade criativa.
culdades de inserção no mercado de traba- Resulta disso tudo que os empregados não
lho tem sido divulgado e consumido rapida- podem mais acalentar as mesmas expectati-
mente. Da mesma forma que, no caso dos vas de um relacionamento em longo prazo
livros de auto-ajuda, as pessoas estão mais com uma determinada instituição de traba-
desejosas do que nunca de encontrar uma lho. De um momento para o outro, sem que
solução para suas aflições existenciais, que seja possível ter tempo suficiente para pre-
são as prováveis barreiras à realização pes- parar-se, a promessa de um emprego para
soal. Uma dessas aflições diz respeito ao re- toda a vida torna-se cada vez mais difícil de
ferencial de auto-estima representado pelo ser sustentada.
significado que o trabalho tem para cada um Alguns autores como Leboyer,:' por
dos seres humanos. exemplo, salientam que pesquisas atuais
O fim dos empregos é uma realidade, ten- apontam para uma crise de motivação que
do em vista que, após anos de previsões oti- afeta indistintamente todas as categorias pro-
mistas e alarmes falsos, a nova tecnologia fissionais. Ouve-se em todos os setores de
de informática e comunicação faz finalmen- atividade queixas do desaparecimento dos
te sentir seu violento impacto. As pessoas valores tradicionais e do fato de a consciên-
custaram a entender que não se tratava de cia profissional parecer não mais existir: de-
simples e inocentes exercícios de futurologia. votar-se ao trabalho parece em desuso e até
Esse desfecho já havia sido prognosticado há ridículo. Para a autora, o significado do tra-
muito, a partir do momento em que se pro- balho está enfraquecido, portanto seu valor
curou cotejar a permeabilidade do mercado freqüentemente se limita às vantagens mate-
de trabalho em face da globalização da eco- riais que ele traz e suportá-lo se prende à
nomia vigente no mundo inteiro. Como re- necessidade de ganhar a vida. O trabalho vem
sultado chegou-se ao delineamento de uma rea- sendo considerado uma atividade desprovi-
lidade na qual milhões de trabalhadores têm da de qualquer dimensão ética, boa apenas
sido diariamente eliminados do processo eco- para assegurar o futuro econômico. A
nômico ativo, fazendo com que funções e ca- constatação desse cenário deixa perplexos
tegorias inteiras de trabalho venham sendo aqueles que acreditam no trabalho como re-
drasticamente reduzidas, assim como outras ferencial de auto-estima; parece impossível
se tenham reestruturado, exigindo competên- gerir qualquer atividade humana quando o
cias inéditas até então, sem falar naquelas que trabalho perdeu o sentido para tantos.
definitivamente já desapareceram.' Como conseqüência, nas mais variadas
Mais do que nunca cada um de nós está culturas surgem conclusões claras de que atual-
se vendo compelido a ter que comprovar seu mente os empregados sejam menos leais,
valor diante de um mercado de trabalho no menos comprometidos com suas antigas fi-
qual, além de outros concorrentes rivais, há delidades e finalmente menos estáveis do que
que se procurar valer mais do que as máqui- nunca. É como se acreditassem que suas car-
nas que nos ameaçam como nossos prová- reiras dentro das organizações não têm a
veis substitutos. Deixando de lado a espe- mesma vida longa nem o mesmo significado
cialização em profundidade torna-se impor- de antes. Para sobreviver, por outro lado, as
tante a visão generalista e interdisciplinar. próprias organizações têm procurado adap-
Reinterpretando a história, registra-se que tar-se de maneira a adotarem estruturas mais
no início deste século foi necessário que os flexíveis, uma vez que as reorganizações es-
trabalhadores lutassem para se saírem ven- tão, mais que nunca, presentes no cenário
cedores no defrontamento entre o ser huma- atual. Tal habilidade de mudança assegura
no e a máquina, exatamente no momento em condições de se entrar ou sair de um certo
que novas tecnologias industriais ameaçavam tipo de negócio e permite também um rápi-
2. RIFKIN, J.o fim dos empregos, o
substituir sua força muscular. Atualmente, do planejamento de novos produtos no mo-
declínio inevitável dos níveis de embora menos pesadas, mas igualmente amea- mento em que as circunstâncias vigentes num
empregos e a redução da força global
de trabalho. São Paulo: Makron Books,
çadoras e de maneira muito mais refinada determinado mercado também se alteram.
1996. do que antes, as tecnologias em informática Assim sendo, como um tipo de resposta
3. LEVY-LEBOYER, C. A crise das
parecem prontas para substituir as mentes absolutamente conseqüente, os empregados
motivações. São Paulo: Atlas, 1994. humanas e colocar máquinas inteligentes no mostram-se mais exigentes quanto aos ní-
gir sua própria auto-realização através do tra- féricos está se garantindo apenas o bem-estar
balho. Conseqüentemente, a empresa, segun- físico das pessoas. É necessário ir além disso
do McGregor, deve dispor de recursos que e oferecer às pessoas oportunidade de garan-
facilitem o amadurecimento motivacional de tir sua chegada aos objetivos de satisfação
seus assalariados. Para ele, se as pessoas fo- interior, responsáveis pela verdadeira moti-
rem impedidas de satisfazer suas necessida- vação. Todos esses fatores intrínsecos perten-
des através do trabalho, comportar-se-ão cem a um tipo de necessidades de mais alto
com indolência, passividade e má vontade, nível e não de necessidades primárias consi-
ficando sob a responsabilidade da empresa deradas como básicas à subsistência física.
os níveis de imaturidade motivacional dos Isso ressalta a importância de um estudo
seus trabalhadores. É como se essas organi- mais específico a respeito de quais os efei-
zações acabassem presas aos laços que elas tos dos diferentes tipos de reconhecimento a
mesmas prepararam. empresa pode oferecer aos seus empregados.
No decorrer da década de 70, Herzberg"
abre uma nova perspectiva com suas pesqui-
sas propondo que existem dois tipos de ob-
jetivos motivacionais qualitativamente dife- Considerando também que a
rentes. Segundo sua teoria, existem objeti-
tecnologia de comunicação tem feito
vos motivacionais cujo papel é simplesmente
o de manter a insatisfação das pessoas no com que o mundo pareça ter
nível mais baixo possível. Esses fatores es-
tão ligados ao ambiente periférico ou
encolhido e que um grande número
extrínseco ao indivíduo. Além dos fatores de atividades rotineiras tenham sido
extrínsecos ao indivíduo, existem outros que
tratam da busca de um máximo de satisfa- engolidas pelos avanços no campo
ção motivacional e estão ligados ao próprio
da computação, o redesenho de um
indivíduo e ao tipo de trabalho que ele de-
senvolve, sendo reconhecidos como os ver- grande número de cargos impôs-se
dadeiros fatores de satisfação da motivação
intrínseca.
como condição de sobrevivência das
A importância desse tipo de pesquisa de- organizações.
senvolvida por Herzberg é permitir que se
perceba a diferença entre os fatores chama-
dos de higiene, que não motivam, mas tão
somente neutralizam a insatisfação e aque-
les que representam a verdadeira fonte de Esses estudos permitem chegar à conclusão
satisfação motivacional. Com isso, Herzberg de que existem dois tipos de motivação:
conclui que o contrário de insatisfação não aquela conhecida como interna ou endógena
é satisfação, mas nenhuma insatisfação, as- e aquela conhecida como externa ou
sim como o contrário de satisfação não é in- exógena.
satisfação, mas nenhuma satisfação. Isso sig- Archer? propõe que "a motivação [... ]
nifica que aquilo que deixa as pessoas insa- nasce somente das necessidades humanas
tisfeitas quando está ausente, não as satisfaz e não daquelas coisas que satisfazem es-
quando presente. E aquilo que deixa as pes- sas necessidades". O autor considera fa-
soas satisfeitas quando presente, não as dei- tores de satisfação endógenos como aque-
xa insatisfeitas quando ausente. Se, por les que são providos pelo intelecto e fato-
exemplo, as políticas administrativas forem res de satisfação exógenos aqueles que
justas, ninguém estará mais motivado por vêm de fora do intelecto e pertencem ao
causa disso, pois é considerado como obri- meio ambiente. Embora seu artigo tenha
gação da empresa, mas, se forem injustas, sido publicado em 1978, muito pouca gente 8. HERZBERG, F., MAUSNER, B.,
instala-se um clima de insatisfação geral. parece ter dado a devida importância a essa SYDERMAN, B. The molivalions lo work.
New York: John Wiley, 1964.
Ao caracterizar a diferença entre esses dois caracterização oferecida pelo autor. Uma
fatores, Herzberg pretende demonstrar que retribuição tipo exógena a uma necessida- 9. ARCHER, E. D mito da motivação. In:
BERGAMINI, C, CODA, R. Psicodinâmica
não basta oferecer fatores de higiene para se de endógena pode representar um tipo de da vida organizacional: motivação e
obter motivação. Atendidos os fatores peri- frustração motivacional. Dentro de uma re- liderança. São Paulo: Atlas, 1997.
to de partida para se estimar o valor da recom- des metas que se persegue é a preservação
pensa. Assim, o nível de satisfação a ser obti- da identidade que cada um carrega consigo
do está ligado à percepção que cada um tem durante o passar dos anos. Isso equivale a
da resposta que o meio ambiente oferecerá conhecer o papel crucial do processo moti-
como retribuição aos esforços dispendidos por vacional na busca do porquê de cada um
uma pessoa. proteger a si mesmo em busca da própria
Também conhecida como VIE (Valência, autonomia motivacional.
Instrumentalidade e Expectativa), essa for- Essa imagem individualizada que as pes-
ma de compreensão do processo motivacio- soas buscam ter a respeito de si mesmas é que
nal é criticada por certos autores tais como dá a cada uma delas parâmetros da própria
Michel,lo por exemplo, na medida em que valorização pessoal, também conhecida como
afirmam ser esse esquema insuficiente para auto-estima. Levy-Leboyer" deixa suficien-
explicar o aspecto existencial da relação en- temente claro que o conceito que cada um tem
tre a motivação e a construção de uma iden- sobre si representa o principal ponto de parti-
tidade pessoal. Outra crítica é que tal enfoque da de seu equilíbrio pessoal. A autora propõe
não leva em conta as possíveis distorções do textualmente que "quanto mais a estrutura do
intelecto humano no processo de percepção auto-conceito for rica e complexa, mais o in-
da realidade na qual as pessoas se sentem divíduo contará com registros de identidade
envolvidas. disponíveis, mais ele estará protegido contra
os choques afetivos e mais tenderá ao equilí-
AUTO-ESTIMA É A GRANDE META brio; isso, é lógico, ocorre contanto que os
diferentes aspectos da sua própria identida-
Sendo a motivação uma dinâmica de ca- de estejam bem interligados". Tal proposição
ráter eminentemente interior, um ponto de supõe que a mudança comportamental não
partida importante é entender o sentido que ocorra senão com certa lentidão e a partir do
as pessoas atribuem àquilo que fazem. Al- momento em que o indivíduo esteja desejoso
guns pesquisadores como Maccoby, II por que essa modificação ocorra.
exemplo, admitem que o trabalho seja o re- Embora se acredite no processo de trans-
ferencial que reata o homem ao mundo da formação das próprias atitudes, a imagem
realidade, fornecendo referências das quais que cada um faz de si mesmo tem uma evi-
necessita para conhecer quais expectativas, dente continuidade. Por outro lado, a forma-
concepções ou ideais fazem ou não sentido ção dessa individualidade é complexa e va-
para cada um. Conhecendo esse referencial riada, uma vez que é composta de inúmeras
é possível disciplinar talentos, buscar o do- representações de naturezas diferentes. O
mínio dos impulsos e aguardar o momento mais importante, no entanto, é caracteriza-
mais conveniente para chegar à recompen- do pela dimensão afetiva que leva à valori-
sadora satisfação motivacional. zação de si mesmo, que é a auto-estima.
Alguém que se engaja numa determina- Muito dessa auto-estima é também formado
da atividade que faça sentido para si mesmo pelas informações que vêm das outras pes-
espera ser recompensado no sentido de fa- soas sobre cada um de nós.
zer jus ao prazer de uma reputação. Isso sig- Embora não muito conhecidos no Brasil,
nifica reconhecimento, independência e alguns estudiosos do comportamento humano
acesso a um mundo melhor que possa ser nas organizações lançaram as bases daquilo que
considerado como um tipo de necessidade preferiram chamar de motivação intrínseca.
diretamente ligado ao potencial criativo já Nesse novo enfoque, a fonte de energia interior
existente no interior de cada um. O desejo constitui um aspecto central, capaz de ativar o
de trabalhar passa a representar uma neces- comportamento motivacional. Partindo dessa
10. MICHEL, S. Op. cít.
sidade de ordem afetiva que continuamente fonte, cada um segue seus próprios interesses.
se submete ao império dos valores que re- Para Deci,13 a motivação intrínseca baseia-se 11. MACCOBY, M. Travailler, pourquoi?
Une nouvelle théorie de la motivation.
presentam o objetivo almejado. nas necessidades inatas dos seres vivos na bus- Paris: Inter Editions, 1987.
Explorar os aspectos de ordem interior ca da competência e da autodeterminação. Ela
12. LEVY-LEBOYER, C. Op. cit,
tem facilitado conhecer algumas faces não supre de energia uma ampla variedade de com-
tão claramente perceptíveis na observação portamentos e processos psicológicos para os 13. DECI, E., RYAN, R. Intrinsic
motivation and self-determination in
do dia-a-dia das pessoas. Esse quais a principal recompensa são as experiên- human behavior. New York: Plenum
aprofundamento mostra que uma das gran- cias de realização e autonomia. Press, 1990.
momento entram em jogo processos siste- sário refletir sobre o lado mau das organiza-
máticos de negação da realidade gerando, as- ções. Dentro disso, elas têm uma espécie de
sim, entendimentos desvirtuados daquilo que efeito anestésico a quem as assume a fim de
se passa no mundo em geral. A distorção des- não ter que atentar senão para aspectos bons
sa realidade parece aliviar, pelo menos tem- do problema a ser enfrentado.
porariamente, o mal-estar produzido pelo
falso ajustamento.
As distorções perceptivas adotadas por Estar motivado não deve ser
longos períodos de tempo vão distanciando
cada vez mais o indivíduo da possibilidade confundido com situações em
da adoção de comportamentos positivos e
produtivos. Como Lucas" propõe: "A per-
que se experimenta momentos
cepção não é a realidade. Percepção é per- de alegria, de entusiasmo, de
cepção e pode ser ao mesmo tempo correta
ou errada, boa ou má, útil ou inútil, depen- bem-estar ou de euforia.
dendo do tanto que se esteja mais próximo
da verdadeira realidade. Nossas percepções
têm valor intrínseco somente quando corres-
pondem de perto à realidade que nos cerca. Analisando como as pessoas reagem dian-
Ilusões levam à confusão, inconsistência e te de diferentes situações, muitas vezes se
sabotagem do objetivos já estabelecidos". pode qualificar certos comportamentos
Tais ilusões permeiam os comportamentos como irracionais, pois escapam ao habitu-
das pessoas mais do que normalmente quei- al. São os comportamentos que não podem
ram admitir. Elas estão por toda parte no am- ser racionalmente compreendidos e muito
biente em que se vive e têm o papel de aju- menos explicados por um desencadeamento
dar, embora de maneira precária, a enfrentar lógico de atitudes que mais chamam a aten-
as verdades desagradáveis. ção pelo fato de não se conhecer as possí-
A ilusão é uma falsa idéia ou concepção veis justificativas para certas atitudes de
inadequada, uma aparência ou imagem irreal falso ajustamento. Ao distorcer a realidade
e enganosa. É o próprio Lucas'? que acres- as pessoas passam a enfrentar sérias
centa que "as ilusões podem, em última aná- ambivalências que lhes são altamente
lise, levar as pessoas a um ponto no qual elas desgastantes. Em tais circunstâncias, cada
não queiram mais ouvir a verdade". Assim uma delas, de um lado, é dirigida por suas
sendo, elas conseguem impedir que se pro- fantasias pessoais que são a cristalização
movam as mudanças necessárias na vida pes- das percepções falsas e que levam também
soal de cada um, o que, em grande parte, le- àquilo que se chama de falsa motivação. Por
vará a organização como um todo a se tornar outro lado tais pessoas se vêem compelidas
também refratária à mudança. A partir do a atender as solicitações do meio ambiente,
momento em que as ilusões passam a ser usa- consideradas, neste caso, como sendo de
das de forma permanente, o próprio sujeito natureza perversa à tentativa de busca do
perde o controle sobre as mesmas, passando equilíbrio pessoal.
a considerar como verdadeiras aquelas idéias Os comportamentos denominados irracio-
que tem sobre si mesmo bem como a respeito nais têm, na maioria das vezes, origem na
do mundo que o rodeia. problemática individual e inconsciente de
Tratando-se de um equilíbrio instável, as cada pessoa. Não sendo originados por acon-
ilusões são utilizadas, por exemplo, para que tecimentos presentes, acabam por manifes-
se consiga evitar o defrontamento com os tar-se a qualquer momento, determinando,
problemas, conseguir chegar a um estado assim, inconveniências comportamentais que
menos penoso produzido pelas dificuldades, com grande freqüência dificultam uma con-
evitar que o indivíduo não se sinta vivência mais produtiva. Isso poderá tornar
responsável pelo ocorrido, evitar conflitos e o ambiente de trabalho bastante penoso, se-
16. LUCAS, J. R. Fatal illusions:
salvaguardar as pessoas de possíveis ataques não insuportável. Isso nos leva a entender shredding a dozen unrealilies that can
e cobranças vindas do meio. Em ultima aná- como alguém que é considerado problema é keep your organizalion from success.
New York: Amacom, 1997. p.8
lise essas ilusões são como que compradas antes de mais nada uma pessoa com proble-
pelas pessoas para que não lhes seja neces- mas de ajustamento à realidade. D 17. Idem, ibidem, p.17