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O Século das Luzes – Iluminismo

O Estado absolutista alimenta-se do conflito entre nobreza e a burguesia, procurando administrá-lo para
preservar uma situação de equilíbrio de forças entre elas. Tirando o máximo proveito dessa coexistência de
forças, garantindo o poder supremo da monarquia.

Isso explica certas contradições do Estado absolutista, como, por exemplo, conceder monopólios de
comércio à burguesia, estimular as atividades comerciais e, ao mesmo tempo, oferecer pensões para sustentar
uma nobreza cortesã, parasitária e improdutiva. Com o desenvolvimento do capitalismo, nos séculos XVII e
XVIII, a burguesia continuou sua ascensão econômica em importantes países europeus, como Inglaterra e
França. Consciente de seus interesses, passou a criticar o Antigo Regime.

Com a diminuição significativa da entrada de metais preciosos na Europa, pois as minas americanas
começavam a dar sinais de esgotamento, daí decorrendo problemas para a economia europeia. Uma crise na
atividade comercial das regiões tradicionais, já que a população européia ainda permanecia basicamente
“feudal” , cada família produzindo o necessário para seu sustento, em vez de produzir para o mercado; e um
declínio demográfico, provocado principalmente pela fome e pelas epidemias pioravam essa situação de crise.

Precisamente nesse momento, uma revolução silenciosa se operava no terreno científico. Muitos cientistas
renascentistas ainda estavam vivos na primeira metade do século XVII, como é o caso de Galileu, Ticho
Brahe, Kepler. Mas os grandes nomes do século foram os de René Descartes (1596 – 1650) e Issac Newton
(1642 – 1727).

O iluminismo foi um movimento global, ou seja, filosófico, político, social, econômico e cultural, que
defendia o uso da razão como o melhor caminho para se alcançar a liberdade, a autonomia e a emancipação. O
centro das ideias e pensadores Iluministas foi a cidade de Paris. Este movimento surgiu na França do século
XVII e defendia o domínio da razão sobre a visão teocêntrica que dominava a Europa desde a Idade Média.
Segundo os filósofos iluministas, esta forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas em que se
encontrava a sociedade.

O iluminismo foi um movimento de reação ao absolutismo europeu, que tinha como características


as estruturas feudais, a influencia cultural da Igreja Católica, o monopólio comercial e a censura das “ideias
perigosas”. O nome “iluminismo” fez uma alusão ao período vivido até então, desde a Idade Média, período
este de trevas, no qual o poder e o controle da Igreja regravam a cultura e a sociedade. O movimento
iluminista utilizou da razão no combate a fé na Igreja e a ideia de liberdade para combater o poder
centralizado da monarquia. Com essa essência transformou a concepção de homem e de mundo.

Entre o final do século XVII e a primeira metade do século XVIII, a principal influência sobre a filosofia
do iluminismo proveio das concepções mecanicistas da natureza que haviam surgido na sequência da
chamada revolução científica do século XVII. Neste contexto, o mais influente dos cientistas e filósofos da
natureza foi então o físico inglês Isaac Newton. Em geral, pode-se afirmar que a primeira fase do Iluminismo
foi marcada por tentativas de importação do modelo de estudo dos fenômenos físicos para a compreensão dos
fenômenos humanos e culturais.

Iluministas eram deístas, isto é, acreditavam que Deus está presente na natureza, portanto no próprio
homem, que pode descobri-lo através da razão. Para encontrar Deus, bastaria levar vida piedosa e virtuosa; a
Igreja tornava-se dispensável. Os seguidores do iluminismo criticavam-na por sua intolerância, ambição
política e inutilidade das ordens monásticas (vinda de monges, autoridades religiosas).

O princípio organizador da sociedade deveria ser a busca da felicidade; ao governo caberia garantir
direitos naturais: a liberdade individual e a livre posse de bens; tolerância para a expressão de ideias;
igualdade perante a lei; justiça com base na punição dos delitos. A forma política ideal variava: seria a
monarquia inglesa, segundo Montesquieu e Voltaire; ou uma república fundada sobre a moralidade e a virtude
cívica, segundo Rousseau.
Para os filósofos iluministas, o homem era naturalmente bom, porém, era corrompido pela sociedade com
o passar do tempo. Eles acreditavam que se todos fizessem parte de uma sociedade justa, com direitos iguais a
todos, a felicidade comum seria alcançada. Por esta razão, eles eram contra as imposições de caráter religioso,
contra as práticas mercantilistas, contrários ao absolutismo do rei, além dos privilégios dados a nobreza e ao
clero. 

Os burgueses foram os principais interessados nesta filosofia, pois, apesar do dinheiro que possuíam, eles
não tinham poder em questões políticas devido a sua forma de participação limitada. Uma destas formas de
impedimento aos burgueses eram as práticas mercantilistas, onde, o governo interferia ainda nas questões
econômicas. 

No Antigo Regime, a sociedade era dividida da seguinte forma: Em primeiro lugar vinha o clero, em
segundo a nobreza, em terceiro a burguesia e os trabalhadores da cidade e do campo. Com o fim deste poder,
os burgueses tiveram liberdade comercial para ampliar significativamente seus negócios, uma vez que, com o
fim do absolutismo, foram tirados não só os privilégios de poucos (clero e nobreza), como também, as
práticas mercantilistas que impediam a expansão comercial para a classe burguesa. 

Segundo o sociólogo Lucien Goldman, os princípios do Iluminismo estão relacionados ao comércio, uma
das principais atividades econômicas da burguesia.

Assim, o Iluminismo defendia:

I. Igualdade: no comércio, isto é, no ato de compra e venda, todas as eventuais desigualdades sociais entre
compradores e vendedores não tinham importância. Na compra e venda, o que importava era a igualdade
jurídica dos participantes do ato comercial. Por isso, os iluministas defendiam que todos deveriam ser iguais
perante a lei. Ninguém teria, então, privilégios de nascença, como os da nobreza. Entretanto, a igualdade
jurídica não significava igualdade econômica. No plano econômico, a maioria dos iluministas acreditava que
a desigualdade correspondia à ordem natural das coisas.

II. Tolerância religiosa ou filosófica: na realização do ato comercial, não importavam as convicções
religiosas ou filosóficas dos participantes do negócio. Do ponto de vista econômico, a burguesia compreendeu
que seria irracional excluir compradores ou vendedores em função de suas crenças ou convicções pessoais.
Fosse mulçumano, judeu, cristão ou ateu, a capacidade econômica das pessoas definia-se pelo ter e não pelo
ser.

III. Liberdade pessoal e social: a atividade comercial burguesa só poderia desenvolver-se numa economia
de mercado, ou seja, era preciso que existisse o livre jogo da oferta e da procura. Por isso, a burguesia se
opôs à escravidão humana e passou a defender uma sociedade livre. Afinal sem trabalhadores livres, que
recebessem salários, não podiam haver mercado comercial.

IV. Propriedade privada: comércio só era possível entre os proprietários de bens ou de dinheiro. O


proprietário podia comprar ou vender porque tinha o direito de usar e dispor livremente de seus bens. Assim, a
burguesia defendia o direito à propriedade privada, que era uma característica essencial da sociedade
capitalista.

Em alguns Estados europeus, especialmente naqueles em que a classe burguesa ainda não havia
conseguido criar condições para um desenvolvimento econômico autônomo, alguns governantes tomaram
medidas visando uma reforma administrativa. O despotismo esclarecido foi adotado por monarcas europeus,
influenciados pelas ideias do iluminismo procuravam modernizar seus Estados, sem abandonar o poder
absoluto. Em parte, tocados pelas novas ideias, mas, principalmente, tentando impedir que descontentamento
dos setores conscientes da população, como a burguesia, se generalizassem em revolução. Para atingir seus
objetivos, realizaram algumas reformas de caráter social, como a construção de hospitais e asilos e o aumento
da divulgação da educação e cultura. Tentaram desenvolver os recursos econômicos de seus países,
incentivando o comércio e a indústria.
As reformas realizadas pelos déspotas esclarecidos buscavam conciliar a autoridade absoluta do monarca
com as propostas de liberdade dos iluministas, que combatiam os privilégios e o parasitismo da aristocracia e
o obscurantismo do clero. Esses monarcas, porém, não foram bem-sucedidos. Isso porque queriam forçar o
desenvolvimento de seus países, saltando as etapas naturais desse processo. Assim, por exemplo, além de
impedir qualquer participação popular, tentavam conduzir uma política econômica sem a participação da
burguesia e, portanto, sem capitais para desenvolver a indústria e fazer o país produzir. Ao contrário do que
pretendiam os déspotas esclarecidos, seus países não chegaram a se tornar nações modernas, em condições de
igualdade com a Inglaterra e a França.

Os principais déspotas esclarecidos foram: Frederico II, rei da Prússia; Catarina II, czarina da Rússia e
Marquês de Pombal, ministro de Dom José I de Portugal.

Os pensadores que defendiam estes ideais acreditavam que o pensamento racional deveria ser levado
adiante substituindo as crenças religiosas e o misticismo, que, segundo eles, bloqueavam a evolução do
homem. O homem deveria ser o centro e passar a buscar respostas para as questões que, até então, eram
justificadas somente pela fé. 

Os principais pensadores iluministas foram:

Crítico do regime absolutista, Locke desenvolveu a teoria de que deveria existir


um contrato entre governantes e governados, pelo qual aqueles deveriam
John Locke (1632-1704) garantir a defesa dos direitos naturais do homem (vida, liberdade e
propriedade). Caberia aos governados o direito de rebelar-se contra o governo
que desrespeitasse esses direitos naturais. Em seu livro Tratado do Governo
Civil, defende essas ideias e apresenta, em linhas gerais, a teoria da separação
dos poderes, com a predominância do Parlamento, que foi mais bem
desenvolvido por Montesquieu.

Barão de Montesquieu, é um nobre que ficou conhecido por ter desenvolvido a


teoria originalmente apresentada por Locke, da separação dos poderes.
Afirmava que os poderes do governo eram três: o Executivo (a ser exercido
Montesquieu (1689-1755) pelo monarca ou presidente), o Legislativo (Parlamento) e o Judiciário (juízes e
Tribunais). Havendo essa separação, impedia-se o poder absoluto de
autoridade. De acordo com a teoria dos “pesos e contrapesos”, o Legislativo
poderia decretar o impeachment (impedimento) da autoridade Executiva a
quem cabia o direito de vetar leis do Legislativo. O Poder Judiciário deveria ter
independência para defender os direitos individuais e arbitrar os conflitos entre
os dois outros poderes. Sua obra mais famosa é O espírito das leis.

Defensor dos direitos individuais. Tornou-se conhecido por suas críticas ao


Absolutismo e ao clero, o que lhe valeu ter seus livros colocados no Índice dos
Voltaire (1694-1778) Livros Proibidos, além de ter sido perseguido e preso várias vezes. Autor de
várias obras, entre as quais destaca o Dicionário filosófico, Voltaire influenciou
vários monarcas europeus, tendo se correspondido com Catarina II da Rússia e
Frederico II da Prússia.
Apesar de ser contemporâneo dos iluministas, é, muitas vezes, apontado como
um elemento estranho ao grupo, pois não admitia certos princípios, como, por
exemplo, o que considerava “exagerada submissão à razão”. Além disso, mais
do que liberal, Rousseau pode ser considerado um democrata, na medida em
Rousseau (1712-1778) que definiu que a soberania do Estado deve ser a soberania popular. O
pensamento da maioria é que deve ser considerado, nunca o da minoria.
Defende essa idéia em seu livro O contrato social. Em outra obra, Discurso
sobre a origem da desigualdade entre os Homens, procura demonstrar que a
desigualdade existente na sociedade está diretamente relacionada com o
surgimento da propriedade privada dos meios de produção. Rousseau é também
um nome importante no que se refere às teorias educacionais, tais como a
educação dos sentidos, a valorização da experiência, a produção do
conhecimento, a necessidade do aspecto lúdico na educação .

Foram os principais organizadores de uma obra colossal, a Enciclopedia


Diderot (1713-1784) e (Dicionário crítico das ciências, das artes e dos ofícios), que contou com a
D’Alembert (1717-1783) colaboração de dezenas de autores, muitos deles de inspiração liberal. Essa obra
contribuiu muito para a divulgação das ideias liberais, além de fornecer
indicações preciosas sobre os conhecimentos então existentes no campo da
Filosofia, da Política, da Economia, das Artes.

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