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Teologia

Sistemática:

Pneumatologia

(A apostila segue a exposição feita pelo livro Introdução à Teologia Sistemática


de Millard Erickson, Edições Vida Nova, com algumas modificações).

Pr. Kenneth Eagleton

Escola Teológica Batista Livre


(ETBL)
Campinas, SP
1

2010
O ESPÍRITO SANTO (Pneumatologia)

A pessoa do Espírito Santo

“Há vários motivos pelos quais o estudo do Espírito Santo é especialmente significativo para
nós”1:

1. O Espírito Santo “é o ponto em que a Trindade torna-se pessoal para o que crê”. Ele
“é a pessoa específica da trindade por meio de quem toda a Divindade Triúna atua
em nós” – 1 João 3:24.

2. “Vivemos no período em que a obra do Espírito Santo é mais proeminente que a dos
outros membros da Trindade”. No Antigo Testamento foi Deus Pai. Nos Evangelhos
foi Jesus Cristo. A partir do dia de Pentecoste é a obra do Espírito Santo que está em
maior proeminência.

3. “A cultura atual dá muito valor à experiência, e é principalmente por meio do


Espírito Santo que experimentamos Deus. É por meio da obra dele que sentimos a
presença de Deus dentro de nós e a vida cristã” se torna uma realidade.

“Embora o estudo do Espírito Santo seja especialmente importante, nossa compreensão é


em geral mais incompleta e confusa nesse ponto que na maioria das outras doutrinas. Um
dos motivos para isso é que temos na Bíblia menos revelações explícitas acerca do Espírito
Santo do que encontramos acerca do Pai e do Filho. Em parte, talvez isso se deva ao fato de
que uma grande fatia do ministério do Espírito Santo consiste em proclamar e glorificar o
Filho (Jo 16:14)”2. A discussão mais ampla dele é o discurso de Jesus em João capítulos 14-
16.

“Outro problema é a falta de um quadro concreto de figuras. Deus Pai é compreendido...


por causa da figura do pai. [...] O Filho não é de difícil conceituação porque realmente
apareceu em forma humana. [...] Mas o Espírito Santo é intangível e difícil de visualizar. [...]
Durante a era presente, o Espírito exerce um ministério de servir ao Pai e ao Filho,
executando a vontade deles”3. Mas isso não deve ser visto como o Espírito Santo sendo
inferior aos outros dois membros da trindade. O próprio Jesus Cristo ensinou a importância
do serviço. Jesus disse que não veio para ser servido, mas para servir.

1
ERICKSON, p. 344.
2
ERICKSON, p. 345.
3
ERICKSON, p. 345.

Teologia Sistemática 2 Prof.: Pr. Kenneth Eagleton


2

A Natureza do Espírito Santo

A divindade do Espírito Santo – a comprovação da divindade do Espírito Santo não é tão


abundante quanto para o Pai e o Filho.

1. “Várias referências ao Espírito Santo são intercambiáveis com referências a Deus”4.


Exemplos: At 5:3-4; 1 Co 3:16; 6:19.

2. “O Espírito Santo possui os atributos ou as qualidades de Deus”5 e faz as obras de


Deus:

o Onisciência – 1 Co 2:10-11.

o Poder de Deus – Lc 1:35; Rm 15:19; poder para convencer do pecado – Jo 16:8-


11; poder para regenerar corações – Jo 3:5-8.

o Eternidade – Hb 9:14.

o Atua na criação, tanto na origem com na manutenção – Sl 104:30.

o Regeneração do coração humano – Jo 3:5-8.

o Intermediador da revelação divina – 2 Pe 1:21.

o Igualdade com o Pai e o Filho – Mt 28:19; 2 Co 13:13; 1 Co 12:4-6.

A personalidade do Espírito Santo

“A Bíblia deixa claro de várias maneiras que o Espírito Santo é uma pessoa e possui todas as
qualidades inerentes a isso”6.

1. “O uso do pronome masculino para representá-lo”7. No grego, a palavra pneuma


(“espírito”) é do gênero neutro (no grego se tem 3 gêneros: masculino, feminino e
neutro) e se esperaria que o pronome concordasse em gênero com o substantivo
quando fosse empregado para representar o Espírito Santo. Mas em Jo 16:13-14
Jesus usa o gênero masculino onde se esperaria um pronome neutro.

2. O termo parakletos (conselheiro, advogado) é usado para se referir ao Espírito


Santo. Este termo descreve uma pessoa, não uma influência ou uma energia – Jo
14:16, 26; 15:26 e 16:7.

3. Tem função de glorificar outra pessoa da Trindade – isto só pode ser feito por uma
pessoa – Jo 16:14; 17:4.

4
ERICKSON, p. 346.
5
ERICKSON, p. 346.
6
ERICKSON, p. 347.
7
ERICKSON, p. 348.

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3

4. Mantém relacionamentos pessoais com os outros membros da trindade e com


pessoas humanas – Judas 20-21; 1 Pe 1:2; Mt 3:16-17 e 12:28.

5. O Espírito Santo possui características pessoais: inteligência (Jo 14:26), vontade (1 Co


12:11) e emoções (Ef 4:30), tradicionalmente entendidas como os elementos
fundamentais que formam uma pessoa.

6. É possível cometer atos contra o Espírito Santo, como se faz a uma pessoa: é possível
mentir ao Espírito Santo (At 5:3-4), apagar o Espírito (1 Ts 5:19), resistir ao Espírito
(At 7:51) e blasfemar contra o Espírito Santo (Mt 12:31; Mc 3:29).

7. O Espírito Santo nos assiste em nossas orações – Rm 8:26 – isso só pode ser feito por
uma pessoa.

Implicações da doutrina do Espírito Santo8

1. “O Espírito Santo é uma pessoa, não uma força vaga. Portanto, ele é alguém com
quem podemos ter um relacionamento pessoal, alguém a quem podemos e
devemos orar”.

2. “O Espírito Santo, sendo plenamente divino, deve receber a mesma honra e respeito
que dispensamos ao Pai e ao Filho”, podendo ser adorado. Ele não é inferior em
essência aos outros membros da trindade, “embora seu papel esteja às vezes
subordinado ao deles”.

3. “O Espírito Santo é um com o Pai e o Filho. Sua obra é a expressão e a execução do


que os três planejaram juntos. Não há tensão entre as três pessoas ou suas
atividades”.

4. “Deus não está distante. No Espírito Santo, o Deus Triúno chega perto de nós, tão
perto que, de fato, entra em cada pessoa que crê. Deus é até mais íntimo de nós
agora que na encarnação. Por meio da operação do Espírito, ele de fato torna-se o
Emanuel, ‘Deus conosco’”.

A obra do Espírito Santo

“A obra do Espírito Santo é de especial interesse para os cristãos, pois é particularmente por
seu trabalho que Deus se envolve de forma pessoal e atua na vida do crente”9.

A obra do espírito Santo no Antigo Testamento

“Muitas vezes é difícil identificar o Espírito Santo dentro do Antigo Testamento, pois este
reflete os primeiros estágios da revelação progressiva”10. O termo mais freqüente é “o

8
ERICKSON, p. 349-350.
9
ERICKSON, p. 351.
10
ERICKSON, p. 351-2.

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4

Espírito de Deus”. Como se pode ter certeza que o Espírito de Deus no Antigo Testamento é
a mesma pessoa que o Espírito Santo no Novo Testamento? Algumas referências do Novo
Testamento ao Antigo Testamento nos dão esta certeza. Uma delas é a passagem de At.
2:16-21, onde Pedro diz que o que está acontecendo no dia de Pentecostes é o
cumprimento da profecia de Joel 2:28. É o cumprimento também da promessa de Jesus de
que os discípulos receberiam poder ao descer sobre eles o Espírito Santo (At 1:8).

Obras do Espírito Santo no Antigo Testamento:


1. O Espírito Santo estava presente na criação (Gn 1:2) e continua a atuar nela (Jó
26:13).

2. A atuação do Espírito Santo na transmissão de profecias e das Escrituras – 1 Sm


19:20; 2 Cr 15:1; 24:20; Ez 2:2 e 2 Pe 1:21.

3. “Transmissão de certas habilidades necessárias para várias tarefas”11 – Ex 31:3-5; Gn


41:38-39; Jz 6:34; 14:6, 19; 15:14 (a habilidade para guerrear foi dada a vários dos
juizes dessa época).

4. Permaneceu entre os israelitas para providenciar as suas necessidades – Ne 9:20.

5. O Espírito Santo não habitava continuamente na vida das pessoas, mas permanecia
por um tempo determinado para cumprir uma missão. Davi pede que Deus não
retire o seu Espírito Santo (Sl 51:11). No caso de Saul, temos o registro de quando o
Espírito Santo veio e quando se afastou dele – 1 Sm 10:6 e 16:14. A presença do
Espírito Santo em uma pessoa está aparentemente ligado à sua unção (separação,
consagração) para Deus para alguma obra específica. Veja os exemplos dos juízes,
Saul (1 Sm 10:6), Davi (1 Sm 16:13) e outros.

Apesar dessa ação limitada do Espírito Santo no Antigo Testamento, há profecias de que ele
atuaria mais universalmente: através de Jesus (Is 58:6; 61:1-2) e através do seu povo de uma
maneira geral (Joel 2:28-29).

Obra do Espírito Santo na vida de Jesus:


1. Presente na concepção física de Jesus – Lc 1:35.

2. Presente no seu batismo – Mt 3:16; Mc 1:10; Lc 3:22; Jo 1:32.

3. Conduziu Jesus ao deserto, local em que foi tentado – Mc 1:12.

4. O ministério de Jesus foi conduzido no poder do Espírito Santo – Lc 4:14.

5. Jesus expulsava demônios pelo poder do Espírito Santo – Mt 12:28.

6. É interessante notar que nem na prática de Jesus e nem no seu ensino vemos alguma
evidência do dom de falar em línguas.

11
ERICKSON, p. 352.

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A obra do Espírito Santo no Novo Testamento

A obra do Espírito Santo na vida do ímpio: o Espírito Santo age no mundo trazendo
convicção do que é errado, do que desagrada a Deus (Jo 16:8-11). Ele age atraindo o homem
para Deus. Sem a influência do Espírito Santo o homem não procura Deus por si mesmo (Rm
3:10-12).

A obra do Espírito Santo na vida do cristão12:


1. O Espírito Santo opera a obra de regeneração do que chega a Deus em
arrependimento – o novo nascimento – Jo 3:5-8. “A regeneração é a transformação
miraculosa do indivíduo e a instalação da energia espiritual”13. É o Espírito Santo que
transforma o coração e a mente.

2. O Espírito Santo nos dá o poder necessário para viver a vida cristã e testificar – At
1:8. Foi após a descida do Espírito Santo que os discípulos tiveram a coragem e o
poder para falar abertamente de Jesus, apesar dos perigos.

3. O Espírito Santo habita em nós – Jo 14:16-17 – a habitação do Espírito nos dá a


presença constante de Deus em nossa vida. Não estamos sozinhos. A permanência
de Cristo em nós se dá através do Espírito Santo – 1 João 3:24.

4. O Espírito Santo tem uma função de ensino, nos lembrando das palavras de Jesus e
nos esclarecendo o seu sentido (iluminação) – Jo 14:26. Ele nos dirige em toda a
verdade – Jo 16:13-14.

5. O Espírito Santo intercede por nós diante de Deus Pai – Rm 8:26-27.

6. O Espírito Santo produz a santificação na vida do crente, tornando-o cada vez mais
como Cristo – Rm 8:1-17. O crente deve andar no Espírito (Gl 5:16) e este produz o
seu fruto na vida do cristão (Gl 5:22-23).

7. “O Espírito também concede certos dons especiais aos crentes dentro do corpo de
Cristo”14. Estes dons são habilidades especiais que incluem as áreas intelectuais,
espirituais e atividades ministeriais.

12
ERICKSON, p. 356-7.
13
ERICKSON, p. 355.
14
ERICKSON, p. 357.

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6

Dons do Espírito Santo

Os dons do Espírito Santo são uma fonte de confusão e divisão nos dias de hoje. No entanto,
este não é o intuito da concessão destes dons. Existem 3 passagens onde vemos listas de
dons: Rm 12:6-8; 1 Co 12:4-11; Ef 4:11. Antes de olhar para os dons individuais, algumas
considerações devem ser feitas:

1. Os dons espirituais são importantes. O apóstolo Paulo escreveu aos Coríntios e


queria que soubessem a esse respeito (1 Co 12:1). Lá os dons estavam dividindo a
igreja. No entanto, os dons são imprescindíveis à Igreja.

2. A utilidade dos dons. Ef 4:12 nos ensina que os dons são para:
o O aperfeiçoamento dos santos,
o A obra do ministério,
o A edificação do corpo de Cristo (a Igreja). Os dons não são para a edificação
ou o prazer daquele que o possui, mas para a edificação da Igreja (1 Co 14:5,
12; 12:7).

3. A fonte dos dons. Os dons são sobrenaturais, se originando em Deus e distribuídos


pelo Espírito Santo. O homem não pode produzí-los.

4. Os dons e a espiritualidade. Os dons não são o termômetro espiritual de um crente,


nem quanto ao número de dons que a pessoa tem e nem quanto a intensidade da
manifestação desses dons. O termômetro espiritual de um crente é o fruto do
Espírito. É isso que demonstra se a pessoa é espiritual ou não.

5. A distribuição dos dons. É o Espírito Santo que faz a distribuição dos dons segundo a
sua vontade (1 Co 12:11; Hb 2:4). Não adianta ficar orando e suplicando por um dom
específico.

6. A interdependência. Nenhuma pessoa, sozinha, possui todos os dons (1 Co 12:14-


21), nem acontece de um dos dons ser concedido a todas as pessoas (12:28-30).
Portanto, cada membro da igreja precisa dos outros.

7. A diversidade dos dons (1 Co 12:4-6). A palavra grega para “dons” é carisma, que
significa “graça”. Os dons são uma dádiva gratuita. A palavra “ministérios”
(diakonion), significa “serviço”. Os diversos dons são usados para servir a Deus e ao
próximo. Diversidade de “operações” ou “formas de atuação” (energeo), de onde
tiramos nossa palavra “energia”. O Espírito Santo é quem “energiza” o seu povo a
viver a vida cristã e a fazer sua obra.

8. Todos os dons são importantes. Embora não sejam igualmente notáveis, todos os
dons são importantes (1 Co 12:22-26).

9. As listas de dons não são exaustivas. Repara-se que as listas de dons não são iguais.
Elas são provavelmente representativas. O Espírito Santo pode conceder qualquer
dom, mesmo os que não são especificamente mencionados na Bíblia. Dependendo
do local e das circunstancias, poderemos perceber a manifestação de dons

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diferentes entre o povo de Deus. Mesmo de uma época a outra, as necessidades


podem ser diferentes.

Os dons mencionados na Bíblia:


1. O dom de apóstolo. Apostolos significa “enviado”, “enviado com uma mensagem” ou
“comissionado”. Existem duas possibilidades de interpretação para este dom.

o Sentido restrito: os 12 discípulos de Jesus eram chamados de apóstolos (Mt


10:2), mais Matias (At 1:26) e Paulo (Rm 1:1). A condição para ser apóstolo
neste sentido restrito seria alguém que tivesse sido chamado pessoalmente
por Jesus, convivido com ele durante seu ministério e fosse testemunha da
ressurreição de Jesus (At 1:21-22). Eles são a fundação da Igreja (Ef 2:20; 3:5;
Hb 2:3-4). Não existem mais apóstolos neste sentido restrito, por razões
óbvias.

o Sentido amplo: a palavra “missionário” vem do latim e significa “enviado” ou


“comissionado”. Portanto, a palavra grega “apóstolo” e a palavra latina
“missionário” têm o mesmo sentido. Alguém enviado por uma igreja com a
missão de anunciar o evangelho, um missionário, poderia ser considerado um
“apóstolo”. Neste sentido o apóstolo não seria alguém que recebe revelações
de doutrina diretamente de Deus. Por ser um sentido ambíguo, é melhor
reservar este termo ao seu uso restrito.

2. O dom de profeta ou de profecia. “Profeta” significa “aquele que fala” ou “aquele


que anuncia”. Este dom também tem duas possibilidades de interpretação:

o Sentido restrito: Os profetas do Antigo Testamento falavam como porta-


vozes de Deus. Eles recebiam revelações diretamente de Deus que os
utilizava com a “sua boca”. Eles denunciavam o pecado e o erro de Israel e
pregavam arrependimento, avivamento e o castigo de Deus se não
ouvissem. A frase característica dos profetas era: “assim diz o Senhor”, ou
alguma frase equivalente. Em Israel também existiam falsos profetas (Jr
14:14-16; 23:28-32). No Novo Testamento, ao que tudo indica, o exercício do
dom de profecia consistia em dar uma mensagem inspirada ou revelação de
Deus durante o culto para a edificação da igreja (1 Co 14:3-4, 31). Este dom
era extremamente necessário em uma igreja jovem que geralmente não
contava com a presença de um apóstolo e não tinha o cânon do Novo
Testamento (o conjunto de todos os livros). Uma vez que o Novo
Testamento estava à disposição de todas as igrejas, este dom não era mais
necessário. Os profetas, como os apóstolos originais, eram a fundação da
igreja (Ef 2:20; 3:5). No sentido restrito de profetas que recebem revelações
diretas de Deus, já não existem mais.

o Sentido amplo: Como vimos, um profeta é alguém que fala por Deus,
portanto, que prega a Palavra de Deus. Este dom se confunde também com
o dom de exortação ou da pregação poderosa da Palavra de Deus. Existem

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aqueles que têm um dom de Deus para a pregação poderosa da Palavra,


denunciando o pecado e chamando o povo ao arrependimento. Neste
sentido podemos falar em um dom de profecia. O profeta deve conhecer
bem a Palavra de Deus para pregar “segundo os oráculos de Deus” (1 Pe
4:10-11). Em Rm 12:6 – “segundo a proporção da fé” não é a fé do profeta,
mas sim, de acordo com a fé cristã. O profeta deve ter o controle do que diz
(1 Co 14:32) e deve ser de acordo com os mandamentos de Deus (v. 37).

o Profecia hoje não é o recebimento de novas revelações de Deus (novas


doutrinas), uma previsão do futuro e nem conhecer os segredos de pessoas
que estão na sala. Ser profeta também não consiste em entrar em transe. A
Bíblia nos exorta contra os falsos profetas (Mt 24: 11, 24). Devemos rejeitar
os falsos profetas e as falsas profecias que divergem da Palavra de Deus.

3. O dom de evangelista. Evangelista é todo o que anuncia o evangelho ou as boas


novas. Todos os cristãos têm o dever de evangelizar, mas existem alguns que têm
um dom especial para o evangelismo. Conseguem anunciar o evangelho às pessoas
com facilidade e naturalidade e com bons resultados. Dois evangelistas são
mencionados no Novo Testamento: Filipe (At 21:8; 8:4-6, 35) e Timóteo (2 Tm 4:5).

4. O dom de pastor. Duas possibilidades de interpretação de Ef 4:11: pastor-professor


(mestr)como um só dom ou pastor e professor (mestre) como dois dons separados.
Aqui vamos tratá-los separadamente. O trabalho de um pastor se resume em
proteger e alimentar as suas ovelhas – At 20:28-31; 1 Pe 5:1-4; 1 Tm 3:1-7; Hb
13:17. Não devemos confundir o dom de pastor com a função ou título de pastor.
Nem todos que exercem a função de pastor têm o dom de pastor (pode ser que
tenham o dom de profeta, de ensino ou de evangelista) e muitos que têm o dom não
são pastores de função ou de título. Toda igreja precisa de uma ou mais pessoas que
têm o dom de pastor.

5. O dom de professor (mestre) ou de ensino. Em Rm 12 este dom aparece


separadamente. A igreja precisa de várias pessoas com este dom para ajudar em
todas as diferentes áreas de ensino da igreja. Fomos comissionados por Jesus para
fazer discípulos e ensiná-los (Mt 28:19-20). Paulo discipulou Timóteo e depois o
comissionou a fazer o mesmo – 2 Tm 2:2. A Bíblia nos adverte para tomar cuidado
com os falsos mestres e com os falsos ensinamentos – 1 Tm 4:1-3; 2 Tm 4:3-4; 2 Pe
2:1-3; 1 Tm 1:6-7; Tt 1:10-11. Devemos ser como os ouvintes de Beréia,
“examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim” –
At 17:11.

6. O dom de ministério ou de serviço. A palavra grega diakonion significa “serviço”. É o


dom de servir, de ajudar. São serviços de todos os tipos: domésticos, sociais, ajuda
aos servidores de Deus, ajuda financeira, serviços manuais na igreja, etc. Este dom
está relacionado com os bens materiais. Na Bíblia temos menção de pessoas que
serviram Jesus e seus discípulos durante o seu ministério terreno. Temos também
vários exemplos de pessoas que ajudaram o apóstolo Paulo e seus companheiros de

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ministério – Rm 16:1-4; At 16:14-15; Fp 2:25, 30. Muitas vezes este dom não tem
muita visibilidade.

7. O dom de exortação. O sentido da palavra exortação é variado. Ela significa:


consolar, ajudar, dar, aconselhar, fortificar e encorajar. Um bom exemplo deste dom
se encontra em 1 Ts 5:14: admoestar os insubmissos, consolar (encorajar) os
desanimados, amparar (ajudar) os fracos (Hb 12:12-13) e ser paciente com todos. A
igreja precisa muito de pessoas com este dom. É fácil achar os que se prontificam a
criticar e destruir. É mais difícil achar pessoas com o dom de encorajar e fortalecer as
pessoas.

8. O dom de contribuição ou de ofertar: “... o que contribui, faça-o com liberalidade...”


Rm 12:8. Deus capacitou alguns para contribuirem com liberalidade (ou
generosidade) e alegria. Os que têm este dom fazem muito mais do que a sua parte
e vão muito além da sua obrigação. A contribuição generosa não é feita para
aparecer, mas por prazer. Exemplos bíblicos: Maria (Jo 12:3-5), os filipenses (Fp
4:18), os macedônios (1 Co 8:1-14) e a viúva pobre Lc 21:1-4.

9. O dom da presidência (Rm 12:8) ou governos (1 Co 12:28). As palavras presidir,


dirigir e governar (no sentido de conduzir) são sinônimos. É o dom da liderança. É a
pessoa que vê uma necessidade, produz um plano de ação, mobiliza a pessoas e as
motiva a atingir um objetivo. Os que são chamados por Deus para uma posição de
liderança são capacitados por Deus com este dom (I Ts 5:12, I Tm 5:17). O líder que
tem este dom não é um ditador e não preside por ganância ou motivos egoístas.
Tanto o Antigo como o Novo Testamento estão repletos de exemplos de homens e
mulheres com este dom. Moisés, por exemplo, não tinha aptidões naturais para a
liderança, mas Deus o capacitou para a tarefa a que foi chamado.

10. O dom de misericórdia, compaixão ou socorros. O dom de misericórdia dá uma


sensibilidade especial para ajudar aqueles que sofrem. Jesus exerceu a misericórdia
(Mt 9:27-29), assim como o bom samaritano (Lc 10) e Tabita (ou Dorcas – At 9:36-
41).

11. O dom da palavra de sabedoria. É aplicar o conhecimento bíblico na prática. Quando


existe um problema ou uma situação complicada, Deus pode manifestar através de
alguém uma palavra de sabedoria que ajuda uma pessoa ou a igreja a agir
corretamente. Jesus demonstrou palavras de sabedoria (Mc 6:2), Estevão agiu assim
(At 5:9-10) e Jesus promete nos dar sabedoria quando precisarmos – Lc 21:13-15; Tg
1:5.

12. O dom da palavra de conhecimento. Este dom parece ter sido mais importante na
igreja primitiva por causa da falta do Novo Testamento que temos hoje. Em Ef 3:3-5
o apóstolo Paulo parece relacionar este dom com as revelações que os apóstolos e
profetas recebiam (v. 5). Hoje temos o Novo Testamento completo e não precisamos
mais desse dom como na igreja neotestamentária. Mas podemos falar da palavra de
conhecimento como um dom que nos dá a capacidade de conhecer a Bíblia. A frase
“... conheça todos os mistérios e toda a ciência...” (1 Co 13:2) pode nos ajudar a

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entender a palavra de conhecimento como um discernimento ou uma noção clara da


natureza de algum mistério bíblico.

13. O dom da fé. Não é o dom da fé que salva, pois esta é acessível a todos. É, no
entanto, uma manifestação especial de confiança em Deus em alguma circunstância
difícil ou quase impossível. O dom não é só para edificação pessoal, mas para a
edificação de toda a igreja. Exemplos bíblicos: Noé, Abraão, Daniel, etc.

14. O dom de curar (1 Co 12:9, 28, 30).


o Deus (através de seu Espírito Santo) é quem opera a cura. A cura pode ser
miraculosa ou através de meios convencionais. O dom de cura é a cura
miraculosa. Ele opera este tipo de cura se ele quiser e quando ele
determinar.

o A cura não é para todos (v. 30). Ela continua excepcional. A maneira
corriqueira de agir é através de meios convencionais.

o O dom é transitório, não permanente. O apóstolo Paulo foi agraciado com o


dom de cura em certas circunstâncias (At 19:11-12), mas não em outras (no
caso de Epafrodito, Fp 2:25-27; Trófimo, 2 Tm 4:20; e Timóteo, 1 Tm 5:23.

15. Operações de milagres (1 Co 12:10, 28, 29). Milagres são intervenções sobrenaturais
nas leis que regem a natureza. Na Bíblia temos três termos que designam
intervenções sobrenaturais: sinais, prodígios e milagres.

o Milagres não aparecem em todas as épocas bíblicas. Estão agrupados em


três épocas: saída do povo de Israel do Egito e entrada na terra prometida;
dias de Elias e Elizeu (época de grande descrença no país) e no ministério de
Jesus e começo da igreja (evangelhos e Atos).

o O objetivo dos milagres na Bíblia é geralmente para provar que Deus está
falando ou está agindo. Os milagres de Jesus foram para autenticar a sua
pessoa e a sua obra.

o Hoje em dia a autenticação do que uma pessoa prega é facilmente feita pela
Bíblia. Não é necessário milagres para confirmar o ministério de alguém. No
entanto, Deus é soberano e pode realizá-los quando bem entende. Milagres
continuam sendo eventos excepcionais.

o Chama muito a atenção o fato de que quando a Bíblia fala dos últimos
tempos, ela menciona com insistência os milagres feitos pelo inimigo e pelos
seus seguidores – Mt 24:24; 2 Ts 2:9-10; Ap 13:13-14. Nos dias de hoje é
muito comum ver religiões e movimentos que não têm nada com o
cristianismo promovendo milagres e curas milagrosas, sem contar as
inumeráveis igrejas evangélicas duvidosas. Como vivemos nos últimos dias,
precisamos muito do dom de discernimento (abaixo) para discernir o que
provem de Deus e o que provem do enganador de nossas almas.

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16. O dom de discernimento de espíritos (1 Co 12:10; 1 Jo 4:1).


o O dom de discernimento de espíritos é poder discernir entre uma palavra ou
ação motivada pelo Espírito Santo e uma motivada por um espírito mau ou
falso. O espírito de que se fala aqui é uma personalidade, não uma atitude
ou comportamento (ex: espírito de vingança, espírito de desânimo).

o O apóstolo Paulo instruiu os coríntios a julgar os profetas; isto é, julgar se o


que diziam vinha de Deus.

o O apóstolo exerce este dom em At 16:16-18.

o Satanás se disfarça para poder nos enganar – 2 Co 11:14. Ele faz de tudo
para nos enganar. Devemos examinar todas as coisas pela Palavra de Deus.

o Critérios para discernir os espíritos:


▪ Espíritos que confessam ao Senhor Jesus Cristo – Jo 4:2-3,
▪ O Espírito de Deus testemunha a nosso espírito,
▪ A presença do fruto do Espírito,
▪ A doutrina – comparar com a Palavra de Deus.

17. O dom de variedade de línguas (1 Co 12:10, 28, 30).


o O que é a manifestação de falar uma variedade de línguas?

o No Novo Testamento vemos esta manifestação no livro de Atos e em 1


Coríntios. São quatro referências:
▪ At 2:1-12 – a narração do dia de Pentecostes. Os 120 discípulos se
reuniam esperando o cumprimento da promessa de Jesus, a vinda do
Espírito Santo (At 1:1-14). Quando o Espírito Santo desceu sobre eles
“passaram a falar em outras línguas” (v. 4).
▪ At 10:44-48 – Pedro foi para a casa de Cornélio, um gentio, depois que os
seus receios foram anulados por uma visão de Deus. Depois da
apresentação do evangelho por Pedro a Cornélio e seus amigos, eles
aceitaram a Cristo, receberam o Espírito Santo e falaram em línguas.
▪ At 19:1-7 – o apóstolo Paulo rebatiza 12 homens que foram
anteriormente batizados “no batismo de João”, isto é, João Batista. Após
receberem instruções sobre Jesus, foram batizados novamente no nome
de Cristo e o Espírito Santo “veio sobre eles” e “falavam em línguas como
profetizavam”.
▪ 1 Coríntios, capítulos 12, 13 e 14 – Estes 3 capítulos nos apresentam um
resumo dos dons espirituais. É a única epístola (carta) que fala deste
assunto.

o De acordo com estes versículos, podemos dizer que o dom de línguas era a
capacidade milagrosa dada pela Espírito Santo de falar em outros idiomas
estrangeiros que não tivessem aprendido.

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12

o Em nenhum lugar do Novo Testamento encontramos uma exortação para


procurar este dom ou mesmo de esperá-lo.

o O sentido da palavra línguas: no grego, a palavra língua tem o sentido de


idiomas humanos conhecidos. É a mesma palavra de Ap 7:9. A interpretação
de que as línguas não eram conhecidas é errônea. A palavra interpretação
usada em 1 Coríntios também tem o sentido de interpretação de um idioma
conhecido. Este dom só se manifestava quando a pessoa não conhecia
anteriormente a língua que ele interpretava.

o Línguas no plural: em todas as quatro passagens que falam sobre “falar em


línguas”, o plural é empregado. Isso nos demonstra que mais de uma língua
foi falada.

o O Dia de Pentecostes: uma leitura de At 2:1-11 confirma que os discípulos


falavam uma variedade de línguas conhecidas dos povos que os escutavam.
Lucas enfatiza que haviam muitos judeus em Jerusalém nesta época “vindos
de todas as nações debaixo do céu” (v. 5). Estes judeus falavam as línguas
destas nações. Uma lista dessas nações se encontra nos versos 9-11. Está
claro que o povo estava confuso, “porquanto cada um os ouvia falar na sua
própria língua” (v. 6).

o A variedade de línguas como um sinal (1 Co 14:21-22): o versículo 22 diz


“que as línguas constituem um sinal”. É o único versículo na Bíblia que nos
dá uma razão pela qual Deus deu a variedade de línguas. O apóstolo Paulo
baseia sua afirmação nos versículos do Antigo Testamento citados no v. 21
(Is 28:11-12). Estes versículos dizem que é “por homens de outras línguas”
(idiomas) que a Palavra de Deus seria anunciada ao povo de Israel. No
entanto, os eleitos de Deus não ouviriam. São eles os incrédulos do v. 22;
não os incrédulos não judeus de modo geral. A manifestação do dom de
línguas tinha, portanto, o intuito de testemunhar contra a incredulidade dos
judeus. Era um sinal para os judeus que a nação incrédula de Israel não seria
mais o povo eleito de Deus. Foi um choque para os judeus ouvirem a Palavra
de Deus anunciada nas línguas pagãs.

o O dom de línguas nunca foi para todos (1 Co 12:8-11). É evidente que o dom
de falar uma variedade de línguas não foi concedido a todos os crentes (veja
também v. 28-30). Hoje, alguns dizem que cada crente deve falar em línguas
como sinal do batismo do Espírito Santo. Isso é totalmente errôneo. O dom
de línguas não deve ser exigido de cada crente.

o Mais algumas observaçòes sobre o dom de línguas:

▪ O dom de línguas não é uma evidência de possuir o Espírito Santo.


▪ O dom de línguas não edifica a igreja. Devemos procurar os dons que
edificam a igreja (1 Co 14:12).
▪ Nos versículos 7-9 Paulo comparou as línguas a instrumentos que não
fazem um som distinto.

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13

▪ No verso 9 ele compara as línguas ao falar ao ar (inúteis).


▪ Nos versos 10-11 ele comparou os que falam em línguas a estrangeiros
(bárbaros) que falam coisas imcompreensivas.
▪ Nos versos 14 e 15 ele diz que se oramos em línguas, nossa mente fica
infrutífera. Ele prefere não falar em línguas.
▪ No verso 15 ele diz que prefere não cantar em línguas.
▪ Nos versos 16-17 ele prefere não adorar (bendizer, dar graças) em
línguas.
▪ Nos versos 18-19 ele prefere falar 5 palavras compreensíveis do que falar
10 mil palavras em outra língua (palavras incompreensíveis).
▪ Se o dom de línguas não tem tanto valor na igreja, porque foi dado? A
resposta é que as línguas foram dadas como um sinal para os judeus
incrédulos. Se esta é a razão, o dom de línguas passa a não ter utilidade
na igreja de hoje.

o Conclusões:
▪ O dom de línguas na Bíblia se refere a idiomas humanos conhecidos no
mundo.
▪ Estas línguas foram dadas como sinal aos judeus incrédulos.
▪ Este objetivo não tem mais sentido para os nossos dias.
▪ O dom de línguas não é para todos os crentes.
▪ O dom de línguas não é uma evidência de possuir o Espírito Santo ou do
batismo do Espírito Santo.
▪ O dom de línguas não edifica a igreja.
▪ Se alguém fala em línguas, a interpretação é obrigatória.

18. O dom de interpretação de línguas.


o Os que praticam o falar em línguas geralmente não praticam a interpretação de
línguas. Se alguém fala em línguas, a interpretação é obrigatória (1 Co 14:13, 26-
28).

o Este dom é a capacidade milagrosa dada pela Espírito Santo de interpretar o que
se diz em outros idiomas estrangeiros que não tivessem aprendido.

Hoje, no meio evangélico, existe uma discussão a respeito da validade de todos os dons para
os nossos dias. Alguns diriam que todos os dons mencionados no Novo Testamento são para
os nossos dias (posição comum entre os Pentocostais). Outros diriam que não e
argumentariam que alguns dons mais extraordinários (tais como profecia, línguas e
interpretação, e talvez cura e expulsão de demônios) foram dados somente durante a era
apostólica, como “sinais” para credenciar os apóstolos durante o estágio inicial de pregação
do evangelho. Estes últimos são chamados de “cessacionistas”. Afirmam que esses dons não
são mais necessários hoje como sinais e cessaram no final da era apostólica, provavelmente
no final do primeiro século dC ou começo do segundo.

Devemos também notar que existe um grande grupo “intermediário” com relação a
essa questão, o grupo dos “evangélicos históricos”, que não são nem carismáticos ou
pentecostais por um lado nem estão entre os “cessacionistas” por outro lado, mas estão

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14

simplesmente indecisos ou inseguros de que essa questão possa ser decidida a partir das
Escrituras.

Muito tem sido discutido acerca da continuidade ou não de certos dons usando as
seguintes palavras de Paulo:

“O amor jamais acaba; mas havendo profecias desaparecerão; havendo línguas


cessarão; havendo ciência passará; porque em parte conhecemos, e em parte profetizamos.
Quando, porém, vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado” (1 Coríntios
13: 8-10).

O ponto principal dessa passagem pode muito bem ser que o amor permanece para
sempre, mas outro ponto, com certeza também importante, é que o versículo 10 declara
não apenas que esses dons imperfeitos vão desaparecer algum dia, mas que eles vão cessar
“quando vier o que é perfeito”. Paulo especifica um tempo: “Quando, porém, vier o que é
perfeito, então, o que é em parte será aniquilado”. E esta expressão: “Quando vier o que é
perfeito” em 1 Coríntios 13:10 refere-se ao tempo da volta de Cristo.

Alguns argumentam que “quando vier o que é perfeito” significa uma de várias coisas, tais
como “quando a igreja estiver madura” ou “quando as Escrituras estiverem completas” ou
“quando os gentios forem incluídos na igreja”. Para os que defendem a idéia de que
“quando vier o que é perfeito” significa “quando as Escrituras estiverem completas”. As
coisas imperfeitas mencionadas nos versículos 9-10 (profecia, línguas e conhecimento) são
meios incompletos de revelação, todos eles relacionados com o ato pelo qual Deus torna
sua vontade conhecida à sua igreja. Para eles, “o que é perfeito” nesse contexto deve
referir-se a algo na mesma categoria de “o que é imperfeito”. Portanto, “o que é perfeito”
nesse contexto deve referir-se a um meio de revelação, mas um meio completo. E esse meio
completo pelo qual Deus dá a conhecer sua vontade à igreja é a Bíblia. Então, por isso, para
os defensores dessa linha de pensamento “quando vier o que é perfeito” refere-se ao tempo
em que o cânon das Escrituras estiver completo.

Essas propostas não conseguem encontrar nenhum apoio no contexto imediato. Enquanto a
volta de Cristo é mencionada claramente no versículo 10, nenhum versículo neste trecho
menciona alguma coisa sobre o fechamento das Escrituras ou coleção de livros do Novo
Testamento ou ainda sobre a inclusão dos gentios na igreja ou acerca da “maturidade” da
igreja. Todas essas sugestões introduzem novos elementos não encontrados no contexto a
fim de substituir o único elemento, que é na verdade, a volta de Cristo.

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15

O Batismo do Espírito Santo

Definição: O batismo do Espírito Santo é o ato pelo qual Deus nos torna membros do corpo
de Cristo. Esta definição é tirada do texto mais claro no Novo Testamento com relação a
este assunto – 1 Co 12:12-13. Estas palavras do Apóstolo Paulo são dirigidas aos coríntios, os
quais ele acusa de serem carnais e bebês em Cristo.

1 Co 3:1-3 é mais uma prova de que o batismo do Espírito Santo não tem relação com o
estado espiritual do crente, mas com a sua posição em Cristo.
o O batismo do Espírito Santo é o ato pelo qual Deus dá ao crente a sua posição
em Jesus Cristo.

o Não se deve confundir o batismo nas águas com o batismo do Espírito.


▪ O batismo do Espírito é um fato interior, no coração do homem, o que
ocorre no momento da conversão.
▪ O batismo nas águas é um sinal externo do que já ocorreu no coração e
praticado algum tempo após a conversão.

o A palavra batismo significa “imersão”, “mergulho”. Da mesma forma que alguém


é mergulhado na água no batismo das águas, esta pessoa é também
“mergulhada” no corpo de Cristo. Ela tem uma nova família, uma nova união e
uma nova identificação em Cristo.

Quem batiza? (Não “quem é batizado?”, mas, “quem batiza?”).


o Falando de Jesus, João Batista diz: “... ele, porém, vos batizará com o Espírito
Santo” – Mc 1:8; Mt 3:11; Lc 3:16 e Jo 1:33.

o É Jesus Cristo que nos batiza pelo Espírito Santo.

o Jesus repete esta afirmação quando ele instrui seus discípulos a não se
afastarem de Jerusalém, mas esperarem a promessa do Pai – At 1:4-5.

o Atos 2:32-33 – É Jesus que batiza e não o Espírito Santo. Ele nos batiza pelo
Espírito Santo e nos coloca no seu corpo, a Igreja. Não há nenhum versículo na
Bíblia que ensina que o Espírito Santo realiza o batismo.

Quando e como se recebe o batismo do Espírito Santo?


o Como o batismo do Espírito Santo nos coloca no corpo de Cristo, fica evidente
que nós o recebemos no momento em que aceitamos Jesus como Salvador e nos
convertemos. O batismo do Espírito Santo acontece no memento da conversão.
É por isso que nenhum texto ensina buscar o batismo do Espírito Santo.

o Observe que em todas as passagens onde o apóstolo Paulo fala aos crentes
sobre o batismo do Espírito ele usa o verbo no passado, pois é uma experiência
já realizada (1 Co 12:13; Cl 2:12; Gl 3:27). Muitos hoje denominam “batismo do
Espírito Santo” um evento que acontece algum tempo após a conversão, mas
este não é o ensino bíblico.

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o A experiência que temos com o Espírito Santo após a conversão é chamada


“plenitude do Espírito Santo”. É um encher do Espírito.

O batismo do Espírito Santo é para todos? – 1 Co 12:13 e Gl 3:26-27 – Sem dúvida. Todos os
salvos são batizados com o Espírito Santo. É isto que une o crente a Cristo, o coloca no seu
corpo e o permite ser habitado pelo Espírito Santo. Todos os que não têm o Espírito Santo
não são salvos – Rm 8:9.

É necessário que alguma manifestação exterior acompanhe o batismo do Espírito Santo?


o Nas epístolas, que são a exposição da doutrina cristã, nenhuma passagem nos
indica esta necessidade. Em Atos, a expressão “batismo do Espírito Santo” é
acompanhada três vezes do falar em línguas – At 1:5 e 2:4; 10:46 e 11:15-16; At
19:5-6. Nestes três casos era necessário um sinal externo, senão os judeus não
saberiam que o Espírito Santo tinha descido e nem que ele poderia ser dado aos
gentios.

o Atos 8:12-17 – Os samaritanos receberam o Espírito Santo sem falar em línguas.

o Paulo, depois de ter declarado que todos são batizados pelo Espírito (1 Co
12:13), diz expressamente que nem todos falam em línguas (v. 30).

o A Bíblia não nos narra que o batismo do Espírito Santo fosse acompanhado de
gritos, agitação, tremedeiras, quedas no chão ou contorções. Pelo contrário,
Deus é um Deus de paz, decência e ordem (1 Co 14:33 e 40).

Porque foi necessário que os 120 discípulos em Atos 1 esperassem o batismo do Espírito
Santo após a sua conversão? Até o dia de Pentecostes o Espírito Santo não tinha vindo
habitar permanentemente os crentes. Jesus tinha prometido que o Espírito Santo viria após
o seu retorno ao Pai. O dia de Pentecostes foi o cumprimento dessa promessa. O dia de
Pentecostes não se repetirá mais, pois o Espírito Santo agora habita permanentemente nos
crentes.

Porque houve um espaço de tempo entre a conversão dos samaritanos e a sua recepção do
Espírito Santo (Atos 8:14-17)? O plano de Deus era que eles deveriam esperar o
recebimento do Espírito Santo até que os judeus e os apóstolos pudessem testemunhá-lo e
saber que eles também tinham recebido o mesmo Espírito.

Porque os discípulos de Atos 19:1-7 não tinham recebido o Espírito Santo? Estes homens
não eram crentes. Eles eram discípulos de João Batista e não conheciam os ensinos de Jesus
e nem sabiam que existia um Espírito Santo. O apóstolo Paulo os evangelizou e eles se
converteram a Jesus e receberam o Espírito Santo de imediato.

Conclusão: O batismo do Espírito Santo não é uma experiência, mas um fato que acontece
quando alguém se converte. Deus o coloca no seu Filho, Jesus, pelo Espírito Santo.

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A Plenitude do Espírito Santo

Definição: “Plenitude do Espírito Santo” significa ser cheio do Espírito Santo.

1. É indispensável que todo cristão seja cheio do Espírito.


Ef 5:18 – “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do
Espírito”.

Deus quer nos encher com seu Espírito. Seu desejo é que seu Espírito inteiramente o nosso
ser para que ele possa nos transformar à sua imagem e nos santificar.

2. Jesus avisou com antecedência que o Espírito Santo traria plenitude ao cristão.
“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10:10b).

“Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a
água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna”(Jo 4:14).

“Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá
sede... Se alguém tem sede, venha a mim e beba. 38 Quem crer em mim, como diz a
Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. 39 Isto ele disse com respeito ao Espírito
que haviam de receber os que nele cressem (Jo 6:35; 7:37b-39a)”.

3. O Novo Testamento nos dá vários exemplos de cristãos que estavam cheios do Espírito
Santo.
Pedro – Atos 4:8
Os diáconos – Atos 6:3
Estevão – Atos 7:55
Barnabé – Atos 11:24
Paulo – Atos 13:9

4. O significado de ser cheio do Espírito Santo.


Ser cheio do Espírito não significa ter mais do Espírito, mas, ao contrário, que o Espírito
tenha mais de nós e que estejamos inteiramente a sua disposição.

O Espírito ocupa toda parte de nosso ser que entregamos a ele. Podemos imaginar o Espírito
como sendo água. Quando derramamos água dentro de um recipiente, ela ocupa todo o
espaço vazio que não bloqueamos. O Espírito faz a mesma coisa na nossa vida. Jesus Cristo
compara o Espírito a uma fonte que jorra no nosso coração, ocupa-o todo e transborda em
rios de água viva. Mas o Espírito não pode encher as partes da nossa vida que bloqueamos.
Podemos impedir que o Espírito controle certas áreas da nossa vida e o Espírito não agirá
contra a nossa vontade.

Não devemos esquecer que o Espírito em nós é também a presença de Cristo. Se o Espírto
nos enche, é o próprio Cristo que nos enche. Sabemos que “nele, habita, corporalmente,
toda a plenitude da Divindade” e que nele recebemos a plenitude (Cl 2:9-10).

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5. O que se deve fazer para ser cheio do Espírito Santo.


• Deve-se confessar a Deus todo o nosso pecado consciente e permitir que sejamos
purificados pelo sangue da cruz.
• Deve-se desejar e procurar a plenitude do Espírito. “Se alguém tem sede, venha a
mim e beba” (Jo 7:37a).
• Deve-se entregar a Deus sem reserva e se abrir a influência do Espírito em todas as
áreas de sua vida.

6. A plenitude do Espírito pode ser perdida, mas também readquirida.


Um filho de Deus cheio do Espírito não o é necessariamente para sempre e nem uma vez
por todas. É possível entristecer o Espírito que o habita. O Espírito não deixa o cristão, mas
pode ter a sua atividade limitada na vida do cristão. O Espírito deve encher o cristão cada
dia mais.

7. O resultado da plenitude do Espírito.


Quando um cristão se submete ao Espírito, este produz o fruto do Espírito de sua vida.
“Mas, o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, fidelidade,
mansidão e domínio próprio” (Gl 5:22-23).

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