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ISOLADA COMEÇANDO DO ZERO

PROCESSO CIVIL DE ACORDO COM O NOVO CPC


AULA 05

CURSO DE PROCESSO CIVIL

COMEÇANDO DO ZERO

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ISOLADA COMEÇANDO DO ZERO
PROCESSO CIVIL DE ACORDO COM O NOVO CPC
AULA 05

DO JUIZ

O juiz é o sujeito imparcial da relação processual, o qual está equidistante das


partes.

a) Poderes-deveres

Ele dirigirá o processo, competindo-lhe:

I - assegurar às partes igualdade de tratamento: é o que se chama de “isonomia”.


Como condutor do processo, o juiz não pode dar tratamento diferenciado às partes, a
não ser quando a lei previamente estabeleça. É o caso, por exemplo, da concessão
de prazos diferenciados (artigos 180, 183 e 186, CPC).

II - velar pela duração razoável do processo: o juiz deve resolver a lide no lapso
temporal mais breve possível, fazendo com que a prestação jurisdicional seja eficaz.
Esse é o motivo pelo qual poderá o está autorizado a indeferir diligências inúteis ou
meramente protelatórias (art. 370, parágrafo único, CPC).
III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça:
considerando que é o juiz quem preside o feito, deverá o mesmo cuidar para que haja
o zelo e respeito para com a justiça. Assim, deve o juiz punir os atos que vão de
encontro à dignidade da justiça, como, por exemplo, o ato que de embaraço à ordem
judicial, punido com multa. Outro exemplo é visto no artigo 360, CPC. Aqui o legislador
apontou que o juiz exerce o poder de polícia nas audiências, competindo-lhe manter
a ordem e o decoro, podendo ordenar que se retirem da sala os que se comportarem
inconvenientemente e até mesmo requisitar, quando necessário, a força policial.

IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-


rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial,
inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária: aqui o CPC de
2015 procurou legitimar o uso, pelo magistrado, de todas as medidas necessárias à
efetivação da ordem judicial. É o que a doutrina tem chamado de “medidas atípicas
de efetivação”.

Assim, dentro de um poder geral de efetivação, poderá o magistrado valer-se,


tanto das medidas típicas do artigo 831 (penhora de bens) e do artigo 536, § 1º, CPC
(multa diária, remoção de pessoas ou coisas, impedimento de atividade nociva e uso
de força policial) quanto outras que julgar convenientes para compelir o devedor ao
cumprimento da obrigação. Tem sido comum a adoção de medidas atípicas, a
exemplo do bloqueio de cartão de crédito, apreensão de passaporte e da suspensão
de CNH do devedor.

Ressalte-se que, seguindo as diretrizes traçadas no Enunciado 12 do Fórum


Permanente dos Processualistas Civis, a jurisprudência do STJ tem posto três
condições para a adoção das medidas atípicas: a) que as medidas típicas tenham sido
esgotadas; b) que haja o contraditório; c) que a medida a ser adotada seja
proporcional. Assim, por exemplo, não se deve determinar a apreensão do passaporte

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do devedor se ainda não se tentou a penhora de seus bens ou valores financeiros


(medidas típicas); Ou se não foi concedida a oportunidade para indicar bens passíveis
de penhora (contraditório); ou, finalmente, se o crédito é de valor muito baixo
(ausência de proporcionalidade).

V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com


auxílio de conciliadores e mediadores judiciais: é o que se chama de “dever de
composição”. Por mais que o juiz tenha a função de resolver lides, é indicado que o
mesmo tente sempre, primeiramente, uma solução por meio da atividade das próprias
partes. Para tanto, o CPC aponta que o juízo estará auxiliado por conciliadores e
mediadores judiciais.

VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de


prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior
efetividade à tutela do direito: ressalte-se que, aqui, o magistrado poderá prorrogar
os chamados “prazos dilatórios” e não os peremptórios, os quais são improrrogáveis,
salvo as exceções legais.

VII - exercer o poder de polícia, requisitando, quando necessário, força policial,


além da segurança interna dos fóruns e tribunais;

VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes, para


inquiri-las sobre os fatos da causa, hipótese em que não incidirá a pena de
confesso;

IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de


outros vícios processuais;

X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o


Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros
legitimados a que se referem as leis 7.347/85 e 8.078/90, para, se for o caso,
promover a propositura da ação coletiva respectiva.

B) Responsabilidades

O artigo 143 do CPC estipula que o magistrado responderá, civil e


regressivamente, por perdas e danos nas seguintes hipóteses:

I – quando, no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude:


perceba que não existe, em nosso ordenamento jurídico, a possibilidade de
responsabilização pessoal do juiz por ato culposo, mas tão somente doloso ou
fraudulento. Isto quer dizer que, se o jurisdicionado tiver prejuízo em virtude de
atividade jurisdicional culposa, poderá voltar-se com ação de indenização contra o
Estado (se a justiça for estadual) ou contra a União (sendo a justiça federal), mas o
juiz não responderá civil e regressivamente.

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II – quando recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que


deva ordenar de ofício, ou a requerimento da parte: reputar-se-ão verificadas
essas hipóteses somente depois que a parte, por intermédio do escrivão, requerer ao
juiz que determine a providência e este não lhe atender ao pedido dentro de 10 (dez)
dias.

C) Atuação processual

O legislador procurou estabelecer diretrizes para a regular atuação do juiz no


curso da relação processual. Eis as regras:

I- indeclinabilidade: o juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna


ou obscuridade no ordenamento jurídico. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as
normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios
gerais de direito (art. 140, CPC).

II- equidade: é o senso de justiça do juiz. Julgar por equidade seria adotar a solução
que ele - o juiz - acredite ser mais justa. O julgamento por equidade, em regra, não é
admitido em nosso ordenamento pátrio (pois a regra é a de que o juiz julgue com base
no que diz a lei). Excepcionalmente, o juiz decidirá por equidade, desde que a lei lhe
permita. É o que ocorre, por exemplo, com a fixação de honorários advocatícios nas
causas de valor inestimável ou irrisório (artigo 85, par. 8º, CPC).

III- inércia: o juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso
conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte
(art. 141, CPC).

IV- simulação: convencendo-se, pelas circunstâncias da causa, de que autor e réu


se serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim proibido por lei,
o juiz proferirá sentença que obste aos objetivos das partes e ainda poderá aplicar, de
ofício, as penalidades por litigância de má-fé. É o que determina o artigo 142, CPC.
Imagine, por exemplo, que marido e mulher utilizaram do processo para simular uma
separação com partilha de bens, com o intuito de fraudar credores. Percebendo a
simulação, deverá o juiz extinguir o feito sem resolução de mérito.

V- impulso oficial: caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar


as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou
meramente protelatórias (art. 370, CPC). A jurisdição necessita de provocação da
parte apenas para instaurar e não para resolver a relação processual. Isto quer dizer
que, uma vez provocado, o juiz passará a atuar por impulso oficial, ou seja, “por dever
do cargo”.

VI- princípio da livre convicção motivada (persuasão racional): o juiz apreciará a


prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver produzido, e
indicará na decisão os motivos que lhe formaram o convencimento.

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Em outros termos, significa dizer que o juiz é “livre” para formar o seu convencimento
com base no meio de prova constante dos autos (testemunhal, pericial, documental,
etc.), mas, na decisão, ele deverá informar quais foram essas razões, ou seja, deverá
dar publicidade ao raciocínio que utilizou para chegar àquela conclusão. Essa
“publicidade” serve para que a parte inconformada possa conhecer do raciocínio
empregado pelo juiz na decisão e, por consequência, possa “combatê-la” por meio do
recurso cabível.

VII- identidade física do juiz: por esta regra, o juiz, titular ou substituto, que concluir
a audiência julgará a lide. A regra é de fácil assimilação: se o juiz colheu toda a prova,
esteve “cara a cara” com as partes e testemunhas, ninguém estará tão apto a emitir a
decisão senão ele próprio.

Interessante que a regra da identidade física do juiz, presente no artigo 132 do CPC/73
não foi repetida no CPC de 2015. Porém a mesma não foi abolida. Primeiro, porque
tal mandamento é decorrente do princípio da oralidade. Em segundo lugar, porque, ao
que parece, o artigo 366 do CPC manteve a identidade física ao determinar que
“encerrado o debate ou oferecidas as razões finais, o juiz proferirá sentença em
audiência ou no prazo de 30 (trinta) dias”.

Agora, é claro que se o juiz estiver convocado, licenciado, afastado por


qualquer motivo, promovido ou aposentado, deverá passar os autos ao seu sucessor.
Nesta hipótese, o juiz que proferir a sentença, se entender necessário, poderá mandar
repetir as provas já produzidas.

DO MINISTÉRIO PÚBLICO

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional


do Estado, prevista na Carta Maior de 1988 (artigos 127 ao 130-A) com a tripla função
de defender: 1) a ordem jurídica; 2) o regime democrático; 3) os interesses sociais e
individuais indisponíveis.
A constituição federal trata desta instituição de forma ampla, consagrando
regras acerca de suas funções, princípios informadores, composição, etc.
Considerando, no entanto, o objetivo deste curso começando do zero, é
necessário que abordemos apenas os aspectos relativos à atuação do ministério
público no processo civil, cuja disciplina vem encartada nos artigos 176 a 181 do CPC.
Pela leitura dos referidos artigos, perceberemos que o Ministério Público
poderá atuar na qualidade de parte ou de fiscal da ordem jurídica.

1. O Ministério Público na qualidade de “parte”

Em primeiro lugar, o legislador estabeleceu que o Ministério Público exercerá


o direito de ação nos casos previstos em lei.

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Apesar de não ser “pessoa” (mas, sim, “órgão”, sem personalidade jurídica,
portanto), o Ministério público é dotado de “personalidade judiciária” para figurar como
parte na defesa de suas prerrogativas institucionais, previstas em lei. Assim, o
Ministério Público está autorizado a atuar como parte nas ações de investigação de
paternidade (Lei nº 8.560/92), anulação de casamento (artigo 1.549, CC), ação civil
pública (Lei nº 7.347/85), ação civil de improbidade administrativa (Lei nº 8.429/92),
etc.
Atuando na qualidade de parte, cabe-lhe, no processo, os mesmos poderes e
ônus que às partes. Isto quer dizer que, além de gozar dos mesmos favores
processuais (poder de recorrer, participar de audiência, juntar rol de testemunhas,
impugnar documentos, etc.), o órgão ministerial também se sujeitará aos mesmos
encargos.
Mas não podemos equiparar totalmente o tratamento do representante do
ministério público àquele dado aos particulares. É que, em virtude dos interesses
relevantes que defende, o ministério público deve gozar de certas prerrogativas, não
concedidas aos litigantes particulares. É o que ocorre, por exemplo, com o prazo
dobrado para se manifestar-se nos autos (artigo 180, CPC), isenção no pagamento
das custas do recurso (artigo 1.007, parágrafo 1º, CPC) e a intimação pessoal, com
vista dos autos (artigo 180, CPC).

2. O Ministério Público na qualidade de “Fiscal da ordem jurídica”

O ministério público ainda pode intervir na qualidade de fiscal da ordem


jurídica. Neste caso ele será um “zelador” ou “cuidador” do interesse que justificou a
sua intervenção.
Quando a lei considerar obrigatória a intervenção do Ministério Público, a
parte promover-lhe-á a intimação sob pena de nulidade do processo. O legislador
levou tão a sério esse comando, que estipulou como hipótese ensejadora de ação
rescisória a não participação do representante do Ministério público nos casos em que
a lei exija (artigo 967, III, “a”, CPC).

Compete ao Ministério Público intervir:

 nas causas em que há interesses de incapazes: vale ressaltar que deverá o


Ministério público estar presente no feito, independentemente de estar o incapaz
representado ou assistido pelo respectivo representante legal. Ora, não podemos
confundir capacidade de estar em juízo (realização de atos, pelo representante, em
nome do representado, já que este, por si só, não pode praticar atos) com a
intervenção ministerial (fiscalização da preservação do interesse do incapaz).

 nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural ou urbana
e nas demais causas em que há interesse público ou social: o objetivo foi proteger
o interesse público, o qual não se confunde com o mero interesse patrimonial da
fazenda pública. O simples fato de uma pessoa jurídica de direito público figurar como
parte numa demanda não significa que haja interesse público que justifique a
intervenção ministerial (artigo 178, parágrafo único, CPC). É por isso que, em certas

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ações, o representante do MP se manifesta no sentido de dizer que não há relevante


razão que justifique a sua participação no feito.
Atuando como fiscal da ordem jurídica, o Ministério Público terá vista dos
autos depois das partes, sendo intimado de todos os atos do processo. Poderá,
também, juntar documentos e certidões, produzir prova em audiência e requerer
medidas ou diligências necessárias ao descobrimento da verdade.

3. Responsabilidade

O órgão do Ministério Público será civilmente responsável quando, no


exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude (artigo 181, CPC).

Perceba que, assim como ocorre com o juiz, não existe, em nosso
ordenamento jurídico, a possibilidade de responsabilização pessoal do representante
do Ministério Público por ato culposo, mas tão somente doloso ou fraudulento. Isto
quer dizer que, se o jurisdicionado tiver prejuízo em virtude de ato culposo do
representante do Ministério Público, poderá apenas voltar-se com ação de
indenização contra o Estado (em se tratando do MP estado) ou contra a União (acaso
se trate de MP federal), não havendo que se falar em responsabilidade civil regressiva
em face do representante do MP.

DA ADVOCACIA PÚBLICA

Incumbe à Advocacia Pública, na forma da lei, defender e promover os


interesses públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, por
meio da representação judicial, em todos os âmbitos federativos, das pessoas
jurídicas de direito público que integram a administração direta e indireta.

Quanto às prerrogativas, a União, os Estados, o Distrito Federal, os


Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de
prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá
início a partir da intimação pessoal. O legislador considera como intimação pessoal a
carga, remessa ou meio eletrônico.

Ressalte-se que não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei


estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para o ente público.

Por fim, assim como ocorre com o juiz e membro do Ministério Público, o membro
da Advocacia Pública será civil e regressivamente responsável quando agir com dolo
ou fraude no exercício de suas funções

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