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27/01/2021 Unidade 4 – Notas introdutórias sobre a cooperação internacional

Unidade 4 – Notas introdutórias sobre a


cooperação internacional

Unidade 4 – Notas introdutórias sobre a cooperação internacional

Plataforma: ANP Cidadã


Evento: Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil
Livro: Unidade 4 – Notas introdutórias sobre a cooperação internacional
Impresso por: CHARRY ALVES DA SILVA JUNIOR
Data: quarta, 27 janeiro 2021, 18:45

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27/01/2021 Unidade 4 – Notas introdutórias sobre a cooperação internacional

Sumário
Apresentação da Unidade 4
Tráfico de pessoas e a importância da cooperação internacional
Sobre as diferentes formas de cooperação internacional
Os princípios da cooperação jurídica internacional
Os instrumentos de cooperação jurídica internacional
A homologação de sentença penal estrangeira
A carta rogatória e o auxílio direto
A equipe conjunta de investigação (ECI)
A cooperação policial internacional
A Operação Fada Madrinha
Conclusão e Referências Bibliográficas
Considerações finais

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27/01/2021 Unidade 4 – Notas introdutórias sobre a cooperação internacional

Apresentação da Unidade 4

Sejam bem-vindas e bem-vindos à quarta unidade do curso Enfrentamento ao Tráfico de


Pessoas no Brasil.

Na primeira unidade, introduzimos temas transversais e de significativa importância para a


compreensão do tráfico de pessoas: apresentamos conceitos essenciais ao campo das migrações
internacionais, trouxemos considerações sobre a legislação nacional e internacional e a conjuntura
atual no âmbito da mobilidade humana e finalizamos com uma reflexão sobre o impacto das políticas
migratórias restritivas para as pessoas migrantes em situação de vulnerabilidade.

Na segunda unidade do curso, abordamos o conceito de tráfico de pessoas, suas modalidades, a


legislação interna e internacional referente ao tema – incluindo especialmente o Protocolo de Palermo
e a Lei de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (Lei n.º 13.344/16) –, exemplos de alguns crimes que
são correlatos, a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e o III Plano Nacional de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, a conjuntura de ocorrência do tráfico de pessoas, o conceito de
contrabando de migrantes e as diferenças entre estes dois últimos.

Na terceira unidade do curso, refletimos sobre a subnotificação do crime de tráfico de pessoas, o


perfil das vítimas e dos traficantes e a existência de vítimas diretas e indiretas. Relembramos, ainda,
os elementos constitutivos do crime, apresentamos possíveis caminhos de investigação, trazendo seus
indicadores, os desafios na interlocução com as vítimas e, por fim, observações sobre a realização de
entrevistas na investigação do tráfico de pessoas.

Nesta quarta e última unidade serão tecidas considerações sobre a importância da cooperação
internacional para o enfrentamento do tráfico de pessoas, apresentadas diferentes formas de
cooperação internacional – dentre elas a extradição, a carta rogatória, equipes conjuntas de
investigação, etc. – e um caso prático a partir da Operação Fada Madrinha.

Ao final desta unidade, a expectativa é que você esteja apto a identificar situações que sugerem a
necessidade da cooperação internacional para o enfrentamento ao tráfico de pessoas, assim como as
diferentes formas de cooperação.

Ao longo desta unidade serão apresentadas sugestões de artigos, vídeos, sites, publicações para
complementar o conteúdo apresentado no curso. A ideia é aprofundar as discussões e trazer exemplos
concretos.

Procure explorar e conhecer o material indicado! Ele pode tornar mais rico o processo de
aprendizado e merece uma atenção especial.

Vamos começar!

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Tráfico de pessoas e a importância da cooperação internacional


Mencionamos ao longo do curso que o tráfico de pessoas é uma modalidade de crime organizado
que em muitas situações se apoia em uma rede articulada, em âmbito nacional e transnacional. Você
se lembra?

Dentre diferentes possibilidades, o crime de tráfico de pessoas pode se materializar por meio de
uma infração transnacional:

Cometida em mais de um Estado;


Cometida em apenas um Estado, mas tendo uma parte substancial da sua preparação,
planejamento, direção e controle realizados em outro Estado;
Cometida em apenas um Estado, mas com a participação de um grupo criminoso organizado
que exerça atividades criminosas em mais de um Estado;
[1]
Cometida num só Estado, mas com efeitos substanciais em outro Estado.

A presença significativa de redes transnacionais, assim como os efeitos do crime em diferentes


países, manifesta a importância do tema da cooperação internacional e justifica a merecida atenção em
diferentes documentos legais que tratam do tráfico de pessoas.

O Protocolo de Palermo, por exemplo, traz a promoção da cooperação entre os Estados partes no
enfrentamento ao tráfico de pessoas como um dos seus objetivos.[2] O documento ainda incentiva a
cooperação bilateral ou multilateral para a redução de fatores que tornam as pessoas vulneráveis ao
tráfico, como a pobreza, o subdesenvolvimento e a desigualdade de oportunidades,[3] assim como
para a tomada de medidas no sentido de desencorajar a procura que promove a exploração de pessoas.
[4] Há, ainda, o indicativo de que os Estados partes devem procurar intensificar a cooperação entre os

serviços de controle de fronteiras.[5]

É importante mencionar também os Princípios e Diretrizes Recomendados Sobre Direitos


Humanos e Tráfico de Pessoas, apresentados no ano de 2002 pelo Alto Comissariado das Nações
Unidas para os Direitos Humanos ao Conselho Econômico e Social. Estes destacam como prioridades
os direitos humanos das pessoas traficadas e a prevenção e combate ao tráfico e recomendam como
diretriz a cooperação e a coordenação entre Estados e regiões.[6]

Nesse mesmo sentido e em âmbito nacional, o Brasil conta com a já mencionada Lei n.º
13.344/2016 – a primeira lei específica brasileira que dispõe sobre o enfrentamento ao tráfico de
pessoas –, que afirma como uma de suas diretrizes o estímulo à cooperação internacional,[7] bem
como com a Constituição Federal, que estabelece como um dos princípios que regem as relações
internacionais a cooperação entre os povos.[8]

A cooperação internacional é uma importante ferramenta para o enfrentamento do tráfico de


pessoas, especialmente pela inexistência de um órgão internacional, soberano sobre todos os Estados,
com competência para investigar e propor ações penais, somada à impraticabilidade dos Estados
combaterem individualmente o crime, uma vez que sua prática pode, muitas vezes, ocorrer ou ter
efeitos em diferentes países.[9]

Há muitos fatos que podem sugerir uma investigação criminal que demande cooperação
internacional: até mesmo em situações de tráfico interno de pessoas, as vítimas ou traficantes
envolvidos podem ter nacionalidades diferentes do Estado em que o crime ocorreu.[10]

Entendendo a importância da cooperação internacional para o enfrentamento ao tráfico de pessoas,


dedicaremos esta última unidade do curso à reflexão sobre o que motiva a necessidade da cooperação
internacional em casos de tráfico de pessoas e a apresentação de algumas das suas modalidades.
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Antes de seguir para o próximo tópico, leia a seguinte notícia sobre os três pastores
evangélicos brasileiros presos em Portugal por suspeita de tráfico humano, que indica a
diversidade de situações em que o tráfico internacional de pessoas pode se mostrar presente.
Os pastores, dois homens e uma mulher, teriam usado a estrutura da igreja para convencer
brasileiros a migrarem para Portugal por meio de falsas promessas de trabalho e de
assistência na regularização migratória.

[1] Conferir artigo 3º da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, promulgada no Brasil por meio do Decreto n.º 5015/2004.

[2] Conferir artigo 2º, c, Protocolo de Palermo.

[3] Conferir artigo 9, “4”, Protocolo de Palermo.

[4] Conferir artigo 9, “5”, Protocolo de Palermo.

[5] Conferir artigo 11, “6”, Protocolo de Palermo.

[6] PIOVESAN, Flávia; KAMIMURA, Akemi. Tráfico de pessoas sob a perspectiva de direitos humanos: prevenção, combate, proteção às vítimas e cooperação
internacional. p. 105-132. In: Brasil. Secretaria Nacional de Justiça. Tráfico de pessoas: uma abordagem para os direitos humanos. Brasília: Ministério da Justiça,
2013. p. 114-115.

[7] Conferir artigo 3º, VI, Lei n.º 13.344/2016.

[8] Conferir artigo 4º, IX, Constituição Federal.

[9] DODGE, Raquel Elias Ferreira (Coord. e Org.). Roteiro de atuação: tráfico internacional de pessoas. Brasília: MPF, 2014. p. 86.

[10]Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime. Manual contra o tráfico de pessoas para profissionais do sistema de justiça penal. Módulo 6. Organização
das Nações Unidas: Nova Iorque, 2009.

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Sobre as diferentes formas de cooperação internacional


Os conceitos principais

A cooperação internacional em matéria penal pode se manifestar sob diferentes formas.

Há a cooperação direta e a indireta. A primeira se dá por meio do contato direto entre a


autoridade requerente – a que faz o pedido – e a requerida – a que deve cumprir o pedido. Já a
cooperação indireta se dá mediada por um tribunal designado para julgar a admissibilidade e
exequibilidade do pedido e direcionar ao órgão competente para cumprir a medida. Os pedidos e as
medidas cumpridas devem estar de acordo com as regras internas de distribuição de atribuições e
competências de cada Estado.[1]

Sobre a cooperação indireta, a designação por cada Estado de uma autoridade com a incumbência
de ser o canal de recebimento e encaminhamento de solicitações de cooperação, denominada
autoridade central, é tradicionalmente prevista em tratados de cooperação internacional. Não cabe a
ela solicitar ou cumprir a medida de cooperação ou se manifestar quanto ao seu mérito, mas somente
garantir que esta chegue à autoridade competente.[2]

No Brasil, o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional


(DRCI), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, foi designado para exercer a função de
autoridade central, com competência para coordenar e instruir pedidos de cooperação jurídica
internacional em matéria civil e penal.[3]

É importante destacar também os pontos de contato, que são órgãos que tornam mais simples a
cooperação internacional, divulgando medidas informais de cooperação, tendo como função
especialmente o treinamento, o armazenamento e o compartilhamento de dados e informações. Em
muitas situações, o conteúdo por eles compartilhado já dá conta da solicitação de cooperação.[4]

Outra forma de classificação da cooperação é indicar se esta é jurídica ou administrativa .


A cooperação administrativa internacional pretender estabelecer a troca de informações e/ou a
realização de atos apartados de processo judiciário. Este tipo de cooperação se caracteriza pela
comunicação direta entre instituições homólogas de dois países, prescindindo de submissão de
solicitações formais de cooperação. Ela é fundamental para fins de inteligência, permitindo avançar
em investigações de crimes transnacionais, ainda que seus atos não tenham valor judicial.
Já a cooperação jurídica internacional exige que alguns procedimentos sejam estritamente
observados, sob pena de nulidade ou invalidade dos atos praticados. A cooperação jurídica em matéria
penal tem, portanto, o objetivo de viabilizar a troca de informações e produção de atos processuais
entre instituições dos países cooperantes que buscam processar e julgar crimes.

[1] DODGE, op. cit., 2014, p. 89-90.

[2] DODGE, op. cit., 2014, p. 90-91.

[3] Conferir artigo 14, Decreto nº 9.662/2019.

[4] DODGE, op. cit., 2014, p. 92.

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Os princípios da cooperação jurídica internacional


1. Princípio da reciprocidade

O princípio da reciprocidade permite que a tramitação e a execução de pedidos de cooperação


jurídica internacional sejam fundamentadas com base no direito interno, prescindindo de tratado
firmado entre o Estado requerente e o Estado requerido. A importância desse princípio reside na
dificuldade em haver tratados firmados por todos os países abordando especificidades temáticas em
matéria penal. Dessa maneira, os Estados negociam bilateralmente assuntos específicos de seus
interesses, como, por exemplo, a extradição de nacionais. Na ausência de tratado, a reciprocidade é,
portanto, princípio essencial para a consagração da cooperação jurídica internacional.

2. Princípio da dupla tipicidade

O princípio da dupla tipicidade (ou da dupla incriminação) parte do pressuposto da diferenciação


em criminalizar condutas por parte dos países: algo criminalizado por um Estado pode não ser por
outro (por exemplo, o aborto). Sendo assim, alguns países condicionam a execução do pedido de
cooperação à existência da dupla tipicidade, ou seja, o país requerido apenas presta cooperação
jurídica caso o crime em questão também seja tipificado no país requerente. Há, portanto, a
necessidade de que a conduta delituosa tratada no pedido de cooperação seja tipificada em ambos os
ordenamentos jurídicos penais.

3. Princípio do reconhecimento mútuo de decisões judiciais

O princípio do reconhecimento mútuo de decisões judiciais preceitua que atos emanados por
autoridades judiciais competentes de um país são revestidos de legalidade e validade em outro país em
âmbito de cooperação internacional. Esse princípio é condição fundamental para o bom
funcionamento da cooperação jurídica internacional, tendo como base a confiança mútua entre as
nações. Há, no entanto, obstáculos invocados em muitos casos para impedir sua implementação: a
soberania dos Estados e a ordem pública no sentido do direito internacional.[1] Tais obstáculos podem
impedir, eventualmente, que os sistemas de cooperação jurídica em matéria penal avancem mais
rapidamente.

4. Princípio da especialidade

O princípio da especialidade determina que as provas obtidas por meio de cooperação jurídica
internacional somente poderão ser utilizadas no procedimento que ensejou o pedido, salvo autorização
expressa. Ou seja, não é permitido divulgar informações provenientes de cooperação jurídica
internacional e/ou utilizar documentos por meio dela obtidos para sustentar qualquer outra
investigação ou processo sem prévia autorização.

Na hipótese de o Estado requerente necessitar das mesmas provas obtidas para a instrução de outro
procedimento não discriminado no pedido inicial, deverá ser providenciada pela autoridade
interessada uma solicitação de auxílio jurídico ao Estado requerido, visando o compartilhamento
dessas provas. Somente após a autorização deste, tais elementos probatórios poderão ser
legitimamente utilizados no processo para o qual se pediu o compartilhamento. A validade é sujeita ao
deferimento da autoridade competente.[2]

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[1] No Direito Internacional Privado, a doutrina da ordem pública engloba um corpo de princípios que remete aos valores sociais, morais e econômicos de uma
sociedade e que a mantém coesa. Esses valores variam de uma cultura para outra e também são mutáveis no tempo.

[2] Ministério da Justiça e Segurança Pública. Secretaria Nacional de Justiça. Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional.
Manual de Cooperação Jurídica Internacional: Matéria Penal e Recuperação de Ativos. 4° ed. Brasil, 2019. p. 14.

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Os instrumentos de cooperação jurídica internacional


A extradição

O mais antigo instituto de cooperação internacional, e que pode ser considerado o mais oneroso
por compreender de forma direta a liberdade de uma pessoa, é a extradição.[7] Por um longo período,
esta foi entendida como uma questão de reciprocidade ou cortesia. Atualmente – apesar da tendência
de reconhecimento do dever de extraditar ou julgar, especialmente em determinados crimes
transnacionais como o tráfico de pessoas – não há uma obrigação internacional de extraditar caso não
exista um tratado vinculativo.[8]

No Brasil, de acordo com a Lei de Migração, a extradição é conceituada como “medida de


cooperação internacional entre o Estado brasileiro e outro Estado pela qual se concede ou solicita a
entrega de pessoa sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de instrução de
processo penal em curso”.[9]

Há situações em que o Brasil não concede a extradição, como por exemplo, se a pessoa cuja
extradição é solicitada ao Brasil for brasileira nata, se o fato que motivar o pedido não for considerado
crime no Brasil ou no Estado requerente, se o extraditando for beneficiário de refúgio, dentre outras.
[10]

A Constituição Federal brasileira estabelece que compete ao Supremo Tribunal Federal o


julgamento dos pedidos de extradição solicitada por Estado estrangeiro.[11]

A extradição é classificada como passiva, sob a perspectiva do Estado requerido, e ativa, sob a
perspectiva do Estado requerente. Ela é regida pela legislação interna da cada país e pelos tratados
internacionais de que este seja parte. Nos casos de extradição instrutória, o pedido de extradição
deve especificar os crimes que o extraditando deverá responder. Nos casos de extradição executória
(em função de condenação), o pedido deve qualificar e quantificar a pena que será cumprida, uma vez
que há Estados que não concedem a extradição para o cumprimento de pena entendida como cruel ou
violadora dos direitos humanos.[12]

Você se lembra do caso de Cesare Battisti? Leia sobre este caso que teve repercussão
internacional, com fugas e refúgio em diferentes países, incluindo o Brasil. Battisti, que está
preso na Itália, foi localizado na Bolívia por uma equipe da Interpol, formada por agentes
italianos e brasileiros. Sua prisão cautelar com fins de extradição havia sido determinada no
Brasil pelo Supremo Tribunal Federal em 2018.

[7] FORNAZARI JUNIOR, Milton. Cooperação jurídica internacional: auxílio direto penal. 2 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017. p. 23.

[8] Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, op. cit., 2009, p. 6.

[9] Conferir artigo 81, Lei n.º 13.445/2017.

[10] Conferir artigo 82, Lei n.º 13.445/2017.

[11] Conferir artigo 102, I, “g”, Constituição Federal.

[12] DODGE, op. cit., 2014, p. 93.

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A homologação de sentença penal estrangeira


Outra modalidade de cooperação jurídica internacional é a homologação de sentença penal
estrangeira. Em razão do princípio da territorialidade, a sentença penal produz, a princípio, efeitos
somente no território do Estado em que foi proferida. Por meio dessa medida de cooperação
internacional – a homologação de sentença penal estrangeira –, a decisão judicial pode ter efeitos
extraterritoriais (no território de outro Estado).[13]

No Brasil a homologação de sentença penal estrangeira é admitida desde a promulgação do Código


Penal. Por meio dela, há um processo de nacionalização de uma decisão judicial estrangeira que é
transformada em um título brasileiro para que seu conteúdo possa ser executado no Brasil.[14]

Nos termos do Código Penal, a sentença estrangeira pode ser homologada no Brasil quando a
aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências e cuja finalidade seja obrigar o
condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis ou sujeitá-lo a medida de
segurança.[15] Compete ao Superior Tribunal de Justiça processar e julgar a ação de homologação
de sentença penal estrangeira.[16]

Não devemos confundir a homologação de sentença penal estrangeira com a transferência de presos
ou condenados. Nesta última, um condenado que está cumprindo a pena em um Estado é transferido
para o seu Estado de origem para o cumprimento do restante da pena em sua terra natal, possibilitando
a proximidade com familiares. É, portanto, também diferente da medida de extradição, uma vez que o
extraditando está em liberdade em um Estado estrangeiro e vem a ser preso e encaminhado ao seu
Estado de origem para cumprir pena estabelecida pelo mesmo.[17]

A transferência de presos ou condenados é motivada por razões humanitárias e permite que a


pessoa condenada por um crime praticado no exterior possa cumprir a pena em seu país de origem ou
de residência. Em grande parte dos casos, a medida interessa ao Estado em que o crime foi cometido,
uma vez que este se desonera das despesas em razão do cumprimento de pena do estrangeiro.[18]

[13] FORNAZARI JUNIOR, op. cit., 2017, p. 34-35.

[14] DODGE, op. cit., 2014, p. 100.

[15] Conferir artigo 9º, Código Penal.

[16] Conferir artigo 105, I, “i”, Constituição Federal.

[17] DODGE, op. cit., 2014, p. 100-114.

[18] FORNAZARI JUNIOR, op. cit., 2017, p. 39.

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A carta rogatória e o auxílio direto


Outra modalidade de cooperação jurídica internacional é a carta rogatória. Ela é um recurso
empregado por um Estado soberano para pedir – sendo a solicitação expedida por uma autoridade
judicial à outra equivalente – a realização de atos processuais em outro Estado soberano, tendo como
objetivo a produção e coleta de provas ou de qualquer outro ato de instrução processual.[19]

A carta rogatória – de competência do Superior Tribunal de Justiça no Brasil[20] – foi a ferramenta


encontrada pelas autoridades de diferentes Estados soberanos para concretizar a cooperação
internacional na execução de diligências para a produção de provas nas fases de investigação ou
judicial.[21]

Para afastar tentativas de protelação desnecessária do inquérito policial ou o processo penal por
meio da carta rogatória, o Código de Processo Penal [22] estabelece que esta será expedida apenas se
demonstrada previamente a sua imprescindibilidade, devendo arcar a parte requerente com os custos
de envio.[23]

Em razão da centralidade da cúpula do Poder Judiciário e da burocracia e morosidade, a carta


rogatória se mostra pouco eficaz em situações que necessitam de uma rápida atuação estatal para dar
conta do combate ao crime e da coleta de provas.[24]

Uma medida de cooperação jurídica internacional, cuja proposta é trazer maior celeridade e
eficácia no combate aos crimes transnacionais, é o auxílio direto. Este é um instituto previsto no
Brasil em tratado internacional,[25] por meio do qual se permite o intercâmbio de documentos, provas,
atos e medidas processuais entre países, ou entre estes e organizações internacionais, a partir da
atuação de uma Autoridade Central. Trata-se da realização de atos processuais penais em outro país –
tendo como objeto qualquer medida processual, com exceção da extradição e prisão – na fase de
investigação criminal ou na fase processual.[26]

O auxílio direto não passa por uma corte, uma vez que o cumprimento se dá pelas autoridades
administrativas. As autoridades brasileiras conhecem o fato narrado pela autoridade requerente,
adotam providências para o atendimento do pedido, e nas situações em que se mostra necessário,
proferem uma decisão própria, em âmbito nacional.[27]

Na carta rogatória, há o exame dos requisitos formais – sem o exame de mérito do processo
judicial do país requerente – e o cumprimento pela Justiça de 1º instância. Já no auxílio direto, há o
exame de mérito do pedido para a adoção das medidas solicitadas e o cumprimento pelas autoridades
administrativas.[28]

Grandes operações investigativas internacionais utilizam o auxílio direto penal? Sim, é


provável. Veja esta notícia do mês de abril de 2020, informando a deflagração de uma
operação da Polícia Federal para cumprir diligências no caso de uma adolescente paraguaia
submetida a trabalho em condições análogas à de escravo e à exploração sexual em São
Paulo. A Dirección General de Asuntos Internacionales do Ministerio de Salud Publica y
Bienestar Social do Paraguai apurou a denúncia de que a vítima fora aliciada, recrutada e
transportada de sua cidade no Paraguai, passando por Cidade do Leste, fronteira com Foz do
Iguaçu, até a cidade de São Paulo, no Brasil. Por meio de trocas de informações entre as
autoridades paraguaias e a Polícia Federal, foi possível garantir a concessão de mandados de
busca e apreensão junto à Justiça Federal no Brasil.

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Como preencher uma solicitação de pedido de auxílio direto?


O Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI)
publicou o Manual de Cooperação Jurídica Internacional: Matéria Penal e Recuperação de
Ativos, cujo conteúdo é de enorme utilidade prática para aqueles que precisam formular
pedidos de cooperação internacional penal em suas rotinas profissionais. O Manual traz uma
lista dos acordos multilaterais e bilaterais em matéria penal vigentes, orientações sobre
particularidades a serem consideradas ao realizar pedidos com 54 países e um modelo de
formulário de auxílio jurídico em matéria penal que traz orientações sobre as principais
informações a serem incluídas no pedido.
Disponibilizamos na biblioteca virtual o Manual de Cooperação Jurídica Internacional:
Matéria Penal e Recuperação de Ativos (2019, 4ª edição).
Acesse para buscar informações sobre como solicitar cooperação jurídica com outro país!

[19] FORNAZARI JUNIOR, op. cit., 2017, p. 27.

[20] Conferir artigo 105, I, “i”, Constituição Federal.

[21] DODGE, op. cit., 2014, p. 99.

[22] Conferir artigo222-a, Código de Processo Penal.

[23] FORNAZARI JUNIOR, op. cit., 2017, p. 29.

[24] FORNAZARI JUNIOR, op. cit., 2017, p. 44.

[25] Cf. artigo 18, Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, promulgada no Brasil por meio do Decreto n.º 5015/2004.

[26] FORNAZARI JUNIOR, op. cit., 2017, p. 47-48; 53.

[27] CARMO, André. Tráfico de Pessoas e a Cooperação Internacional. In: 5º Curso de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas sob o novo marco legal (Lei n.º
13.344/2016). Foz do Iguaçu/PR, 28 de novembro de 2019.

[28] CARMO, op. cit., 2019.

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A equipe conjunta de investigação (ECI)


As equipes conjuntas de investigação (ECIs) são concebidas como uma inovadora modalidade de
cooperação jurídica internacional em matéria penal, respaldadas por acordo entre autoridades judiciais
de dois ou mais Estados. A ECI é estabelecida por um determinado período de tempo com uma
finalidade específica e seu principal objetivo é a realização de investigações criminais nos Estados
envolvidos no acordo, cujo conteúdo deverá definir o escopo, objetivo e critérios da operação. As
ECIs constituem um instrumento eficiente na coordenação de investigações e ações judiciais
conduzidas paralelamente em vários Estados.

Há, portanto, um trabalho de parceria entre autoridades de investigação de dois ou mais Estados na
produção de provas, atenuando entraves impostos pela soberania e tornando mais dinâmico, célere e
objetivo o combate ao crime.[30]

A Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, promulgada no Brasil
por meio do Decreto n.º 5015/2004, prevê a possibilidade de investigações conjuntas nas situações em
que:

A matéria seja objeto de investigação, processos ou ações judiciais em um ou mais Estados;


Tenha como base um acordo internacional formal celebrado entre os participantes ou, na sua
ausência, uma decisão da realização de investigação conjunta em cada nova investigação;
Garanta que a soberania do Estado que acolhe a investigação seja plenamente respeitada.[31]

No plano jurídico internacional, três principais tratados governam as ECIs. São eles: a
Convenção contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substancias Psicotrópicas (Convenção de
Viena, artigo 9º), a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (Convenção de Mérida, artigo
49) e a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (Convenção de
Palermo, artigo 19).[32] O Brasil ratificou todas as convenções citadas.

No plano jurídico regional, o Acordo Quadro de Cooperação entre os Estados-Partes do Mercosul


e Estados Associados para a Criação de Equipes Conjuntas de Investigação, assinado em 2010, entrou
em vigor apenas em maio de 2020 e deve servir para impulsionar os acordos de ECIs na região.

No plano doméstico, o único diploma legal que expressamente prevê a formação de ECI é a Lei
13.344/16, legislação brasileira de enfrentamento ao tráfico de pessoas.[33]

[30] GIACOMET JÚNIOR, Isalino Antonio. Equipes Conjuntas de Investigação: da realidade europeia até as iniciativas nacionais sobre o assunto. Cooperação em
Pauta, número 48, fevereiro 2019. p. 1.

[31] Cf. artigo 19, Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, promulgada no Brasil por meio do Decreto n.º 5015/2004.

[32] Conferir artigo 19, Convenção de Palermo: “Os Estados Partes considerarão a possibilidade de celebrar acordos ou protocolos bilaterais ou multilaterais em
virtude dos quais, com respeito a matérias que sejam objeto de investigação, processos ou ações judiciais em um ou mais Estados, as autoridades competentes
possam estabelecer órgãos mistos de investigação. Na ausência de tais acordos ou protocolos, poderá ser decidida casuisticamente a realização de investigações
conjuntas. Os Estados Partes envolvidos agirão de modo a que a soberania do Estado Parte em cujo território decorra a investigação seja plenamente respeitada”.

[33] Conferir artigo 5º, III, Lei n.º 13.344/2016.

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27/01/2021 Unidade 4 – Notas introdutórias sobre a cooperação internacional

A cooperação policial internacional


Até o momento, apresentamos algumas medidas de cooperação jurídica internacional.
Passaremos a abordar a cooperação administrativa internacional, que inclui a colaboração entre
autoridades de instituições sem competência exclusivamente judiciária.

A cooperação policial se dá entre autoridades policiais de diferentes Estados – órgãos de natureza


executiva cuja função se fundamenta na aplicação da lei –, não sendo necessária qualquer
manifestação de autoridade judicial para a sua ocorrência. É, portanto, uma cooperação administrativa
direta e tem se mostrado como uma das mais habituais medidas de cooperação internacional em
matéria penal.[34]

Ela pode se dar de forma direta entre forças policiais ou por meio de organismos internacionais;
dentre estes, o mais conhecido é a International Criminal Police Organization ou Organização
Internacional de Polícia Criminal (Interpol). A Interpol é uma organização intergovernamental de
cooperação policial que tem como atribuições a administração de um serviço de comunicações em
nível mundial, o gerenciamento de serviços de processamento de informações e banco de dados e a
disponibilização de apoio material, emergencial ou organizacional de grandes operações policiais e
treinamento de forças policiais nacionais.[35]

O Brasil é parte da Interpol e há uma autoridade que funciona como seu ponto de contato local em
cada superintendência estadual do Departamento de Polícia Federal. O serviço de polícia
internacional, centralizado na Direção-Geral da Polícia Federal em Brasília, dentre outras atribuições,
coordena e difunde informações sobre o crime transnacional no território nacional e promove medidas
para sua prevenção e repressão. [36]

Cabe observar que o intercâmbio de informações e apoio entre polícias e agências, sem um pedido
formal de auxílio direto, é entendido como uma medida de cooperação internacional informal. Esta
pode se dar antes de uma investigação se tornar oficial, ou do início do procedimento criminal, para
efetuar uma vigilância, por exemplo. Nas situações em que não é imperativa qualquer medida
coercitiva, mostra-se mais célere e fácil alcançar informações por meio dessa medida informal.[37]

Um contexto favorável à cooperação informal se apresenta na medida em que se constrói um


histórico de trabalho conjunto entre autoridades de dois Estados – em razão, por exemplo, de casos de
extradição – e uma potencial relação de confiança entre ambas.

IMPORTANTE

Há que se respeitar os procedimentos das ordens judiciais envolvidas e, caso exista a pretensão de
realizar diligências para coletar provas em outra jurisdição com o intuito de apresentá-las a um
tribunal da sua jurisdição, os pedidos informais não devem ser utilizados. Neste caso, aconselha-se
utilizar o auxílio direto. [38]

Antes de passar para o próximo tópico, leia a reportagem PF prende 8 em operação contra
rede de contrabando de imigrantes da Ásia para os EUA. Nela é possível conhecer um pouco
de uma das maiores operações já feitas no Brasil em contrabando de migrantes, a partir de
uma cooperação internacional com os EUA, e que ocorreu simultaneamente em vinte países
da América do Sul e Central.

[34] DODGE, op. cit., 2014, p. 102-103.

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[35] DODGE, op. cit., 2014, p. 102-103.

[36] DODGE, op. cit., 2014, p. 104.

[37] Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, op. cit., 2009, p. 12.

[38] Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, op. cit., 2009, p. 12-13.

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A Operação Fada Madrinha


Para enriquecer nossa reflexão sobre a cooperação jurídica internacional, apresentaremos a seguir
dados da Operação Fada Madrinha.

A partir de informações obtidas com a Delegada de Polícia Federal Luciana Maibashi Gebrim,[1] a
quem registramos nosso agradecimento, temos conhecimento de que a investigação teve início a partir
de notícia-crime encaminhada pelo Ministério Público do Trabalho, tratando do delito de tráfico de
pessoas para fins de exploração sexual.

Foi apurado que uma das pessoas investigadas, por meio da internet, aliciava e recrutava travestis
brasileiras – especialmente jovens, com poucos recursos financeiros e moradoras de locais distantes –
mediante promessa de realização de transformações faciais e corporais – procedimentos estéticos e
cirúrgicos com o fim de alcançarem contornos de um corpo feminino –, preparação para concursos de
beleza e posterior viagem das vítimas para a Itália.

Verificou-se a existência de três perfis do FACEBOOK INC. utilizados para o agenciamento,


aliciamento, recrutamento, transporte, alojamento ou acolhimento de pessoas, mediante fraude ou
abuso, com a finalidade de exploração sexual.

As jovens aliciadas eram acolhidas em uma casa localizada na cidade de Franca, São Paulo, e lá
eram obrigadas a se prostituir para pagar as dívidas contraídas em razão da comida, hospedagem,
intervenções cirúrgicas, etc. até serem enviadas à Itália, no caso das vítimas entendidas “com
potencial” (novas e bonitas).

Uma das jovens aliciadas, após passar por exploração sexual em Franca e transformação facial e
corporal, foi enviada em setembro de 2017 para a Itália, onde foi recepcionada e acolhida por
parceiros dos possíveis traficantes brasileiros. A vítima contraiu uma dívida de aproximadamente
quinze mil euros em razão da colocação no estrangeiro. Esta passou a se prostituir nas ruas da cidade,
inicialmente em Roma e depois em Viareggio e Nápoles, sob a supervisão das pessoas investigadas,
além de participar de um concurso de beleza que lhe custou uma dívida de aproximadamente três mil
e quinhentos euros entre a inscrição, roupa e acessórios.

Uma das pessoas investigadas viajou da Itália para o Brasil e a suspeita era de que esta recrutou em
território brasileiro novas vítimas para a Itália. Informações colecionadas na investigação indicam o
uso de perfis do FACEBOOK INC. para demonstrar uma vida de glamour e luxo, com carros
esportivos, locais badalados, passeios por locais históricos, registrando a companhia das vítimas
recém-chegadas sorridentes e transmitindo uma ideia equivocada da realidade a possíveis novas
vítimas que acessavam suas páginas de redes sociais.

Você se lembra de que já mencionamos ao longo do curso o uso das mídias sociais no crime
de tráfico de pessoas?

A partir da Operação Fada Madrinha, é possível mencionar duas ocasiões em que a medida de
auxílio direto foi utilizada.

Cabe relembrar que auxílio direto é um instituto por meio do qual se permite o intercâmbio de
documentos, provas, atos e medidas processuais entre países, ou entre estes e organizações
internacionais, a partir da atuação de uma Autoridade Central.

Na primeira delas, solicitada em março de 2018, a autoridade requerente é a Polícia Federal, o


remetente é Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional e o
destinatário é o Ministério da Justiça italiano, cabendo mencionar o Tratado entre a República
Federativa do Brasil e a República Italiana sobre Cooperação Judiciária em Matéria Penal por meio do
Decreto n.º 862/1993.

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A assistência solicitada é que fossem realizadas diligências visando a averiguar as atividades que
as pessoas suspeitas exerciam, onde a exerciam, os locais onde residiam e a quem pertenciam os
imóveis onde estavam hospedadas, assim como a identificação de bens móveis e/ou imóveis no nome
das mesmas.

O objetivo da solicitação era confirmar o acolhimento e a exploração sexual das vítimas pelos
suspeitos na Itália, possibilitar ulterior medida cautelar de busca e apreensão e ainda o resgate e o
acolhimento das vítimas pelos órgãos de proteção às vítimas de tráfico de pessoas. A localização de
bens móveis e/ou imóveis das pessoas suspeitas tinha como finalidade possibilitar a caracterização de
sua origem criminosa, bem como ulterior medida de sequestro destes bens, e a verificação da
ocorrência de possível crime de lavagem de dinheiro.

Como procedimentos a serem observados, foi indicada a importância da tramitação do pedido


em sigilo por razão de segurança da vítima e de seus familiares no Brasil e para não prejudicar
ulteriores medidas cautelares, como busca e apreensão e sequestro de bens dos criminosos. Na
hipótese de que os alvos da diligência não fossem encontrados, foi solicitada pesquisa junto às
concessionárias de luz, água e telefone, cadastros municipais e lista telefônica do Estado requerido.

Na segunda ocasião em que a medida de auxílio direto foi utilizada, com data de abril de 2018, a
autoridade requerente é a Polícia Federal, o remetente é o Departamento de Recuperação de Ativos
e Cooperação Jurídica Internacional e o destinatário são as autoridades dos Estados Unidos da
América, cabendo mencionar o Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal entre o Governo
da República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da América por meio do Decreto
n° 3.810/ 2001.

A assistência solicitada é que fosse determinado à empresa FACEBOOK INC., situada nos Estados
Unidos da América, o fornecimento dos seguintes dados de determinados perfis envolvidos na
investigação:

Conteúdo integral da caixa de mensagens;


Relação dos contatos;
Grupos de que participa;
Conteúdo integral da linha do tempo (timeline) do usuário, inclusive postagens feitas por
terceiros;
Fotos e vídeos carregados no perfil, com as respectivas informações de metadados;
Publicações realizadas na linha de tempo (timeline) de outros usuários

Os perfis se encontravam desativados, mas a Polícia Federal esclareceu que foi solicitada
anteriormente a preservação do conteúdo dos referidos perfis.

O objetivo da solicitação era obter todo conteúdo de mensagens, vídeos, fotos e postagens dos
perfis indicados, por meio dos quais seria possível comprovar a responsabilidade das pessoas
investigadas pelo agenciamento, aliciamento, recrutamento, transporte, alojamento ou acolhimento de
vítimas, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de exploração
sexual.

Como procedimentos a serem observados, foram indicados o sigilo dos dados telemáticos
obtidos e urgência na resposta.

Interessante ver o desfecho da investigação em um vídeo de agosto de 2018:

<https://globoplay.globo.com/v/6934504/>

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[1] Todas as informações sobre a Operação Fada Madrinha a seguir relatadas foram obtidas com a Delegada de Polícia Federal Luciana Maibashi Gebrim.

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Conclusão e Referências Bibliográficas


Chegamos ao final da Unidade 4 e do nosso curso!

Ao longo desta quarta e última unidade, foram tecidas considerações sobre a importância da
cooperação internacional para o enfrentamento do tráfico de pessoas, apresentadas diferentes formas
de cooperação internacional – dentre elas a extradição, a carta rogatória, equipes conjuntas de
investigação, etc. – e um caso prático a partir da Operação Fada Madrinha.

É certo que há desafios para a efetivação da cooperação internacional em matéria penal; esta exige
dos Estados envolvidos conhecimentos, planejamento e sensibilização em questões práticas como o
custo das investigações, o local do julgamento, o enquadramento legal aplicável, a localização das
testemunhas, a localização das pessoas investigadas, a coleta de provas e sua admissibilidade de
acordo com as regras internas dos Estados requerente e requerido, dentre outras. No entanto, cabe
reforçar que os benefícios da utilização da cooperação internacional, em grande parte, superam tais
desafios.[1]

O passo seguinte é a realização da avaliação final para apropriação do conteúdo e reflexão sobre os
temas aprendidos nesta unidade.

Desejamos uma boa avaliação!

Disponibilizamos na biblioteca virtual do curso a Cartilha de Cooperação Jurídica


Internacional em Matéria Penal (DRCI, 2014), que apresenta dúvidas correntes e
explicações fáceis sobre o tema.

Acesse para mais informações em cooperação jurídica internacional!

Referências bibliográficas

CARMO, André. Tráfico de Pessoas e a Cooperação Internacional. In: 5º Curso de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas sob
o novo marco legal (Lei n.º 13.344/2016). Foz do Iguaçu/PR, 28 de novembro de 2019.

DIAS, Claudia Sérvulo da Cunha (Coord.). Tráfico de pessoas para fins de exploração sexual. Brasília: OIT, 2005.

DODGE, Raquel Elias Ferreira (Coord. e Org.). Roteiro de atuação: tráfico internacional de pessoas. Brasília: MPF, 2014.

Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime. Manual contra o tráfico de pessoas para profissionais do sistema de
justiça penal. Módulo 6. Organização das Nações Unidas: Nova Iorque, 2009.

FORNAZARI JUNIOR, Milton. Cooperação jurídica internacional: auxílio direto penal. 2 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2017.

GIACOMET JÚNIOR, Isalino Antonio. Equipes Conjuntas de Investigação: da realidade europeia até as iniciativas nacionais
sobre o assunto. Cooperação em Pauta, número 48, fevereiro 2019.

Ministério da Justiça e Segurança Pública. Secretaria Nacional de Justiça. Departamento de


Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional. Manual de Cooperação Jurídica
Internacional: Matéria Penal e Recuperação de Ativos. 4° ed. Brasil, 2019.

https://ead.dpf.gov.br/anpcidada/mod/book/tool/print/index.php?id=10159 19/21
27/01/2021 Unidade 4 – Notas introdutórias sobre a cooperação internacional

PIOVESAN, Flávia; KAMIMURA, Akemi. Tráfico de pessoas sob a perspectiva de direitos humanos: prevenção, combate,
proteção às vítimas e cooperação internacional. p. 105-132. In: Brasil. Secretaria Nacional de Justiça. Tráfico de pessoas: uma
abordagem para os direitos humanos. Brasília: Ministério da Justiça, 2013.

[1] Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, op. cit., 2009, p. 2.

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Considerações finais
Lembre que iniciamos o curso com reflexões introdutórias sobre as migrações internacionais
(Unidade 1); em seguida, apresentamos o conceito de tráfico de pessoas, suas modalidades, a
legislação interna e internacional referente ao tema (Unidade 2), notas introdutórias sobre a
investigação do tráfico de pessoas (Unidade 3) e finalizamos o curso com considerações sobre a
cooperação jurídica internacional para o enfrentamento ao tráfico de pessoas (Unidade 4).

Esperamos que você tenha aproveitado o curso e que possa utilizar os conhecimentos aprendidos
em sua prática profissional. E, ainda que você não trabalhe diretamente com casos de tráfico ou a
aplicação da Lei n.º 13.344/2016, esperamos que o aprendizado seja proveitoso para sua vida pessoal,
já que devemos estar todos atentos para a prevenção do crime de tráfico de pessoas.

Para finalizar, convidamos você para assistir o vídeo da Campanha


#TodosContraOTraficoDePessoas e refletir sobre o conteúdo do curso no seu cotidiano.

Lembre-se: caso identifique alguma possível situação de tráfico de pessoas, é possível contatar
o Disque 100 ou 180!

https://ead.dpf.gov.br/anpcidada/mod/book/tool/print/index.php?id=10159 21/21

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