Atualmente, a agricultura, principalmente de larga
escala, que vem buscando diminuir seus custos de produção, reduzindo o uso de agrotóxicos, adubos químicos e sementes transgênicas, apoia-se no seguinte tripé: plantas de cobertura anuais, pós de rocha e microrganismos. onsideramos louvável o uso de microrganismos para trazer a vida de volta aos nossos solos degradados, juntamente com o rejuvenescimento proporcionado pelos pós de rocha, mas, ao plantar grãos somente com plantas de ciclo de vida curto, nunca caminharemos para sistemas de abundância, pois, para isso, precisamos das árvores de ciclo de vida longo em grande número. Na pecuária, devemos seguir a mesma recomendação. Como podemos, então, criar sistemas em larga escala com árvores? Criamos uma savana submetida fortemente a um ou dois distúrbios (podas) por ano. Usamos árvores como araribá (Centrolobium tomentosum) ou cajá-mirim, as quais suportam poda e são plantadas no início juntamente com eucalipto e guapuruvu (na distância de dois a três metros na linha), entre os quais plantamos cajá, mogno-africano, mogno-amazônico — plantas que suportam a poda anual e reagem muito bem, além de buscarmos por mais espécies com esse comportamento, como o jambolão (Eugenia jambolana), que produz boa madeira e também reage bem à poda. O sombreiro teria o mesmo comportamento, mas não produz madeira de boa qualidade. Podemos também, ao invés de plantar a safrinhaG, colocar banana no sistema (nas linhas das árvores), o que criaria um sistema mais inteligente e um descanso maravilhoso às plantas. Com isso, teríamos mais liberdade para pulsar o sistema. Por exemplo, podemos decidir pulsá-lo (ou seja, causar o distúrbio por meio da poda) em outubro/dezembro para plantar milho branco, ou em fevereiro/março para plantar hortaliças de verão. Nesse momento, fazemos a poda drástica, destopando as árvores, derrubando toda a banana e deixando só o filho chifre. Isso pode ser feito em grande escala. Esse método não empobrecerá o sistema, ao contrário, teremos um aumento da matéria orgânica e um forte efeito hormonal. Para um sistema específico para cereais, não é possível empregar o mesmo design dos agroecossistemas em que produzimos tangerina, manga, café, laranja, pois ele não atenderia ao costume alimentar atual da população (grande consumidora de grãos). Necessitamos criar sistemas específicos para cereais, assim como para frutas, nozes e para a pecuária. Um sistema para cereais deve ter design bastante específico em virtude da presença de canteiros na linha das árvores, onde podemos cultivar plantas semiperenes, como cúrcuma, gengibre, cardamomo etc. Já em um sistema para pecuária, não podemos ter canteiros nas linhas das árvores, pois o gado não os respeita; além disso, as árvores escolhidas para pecuária precisam aguentar o pasto no pé. Um sistema de pecuária deveria funcionar estritamente rotacionado, com, no máximo, entre 6 e 12 horas para rotação do gado. Após sua retirada, o capim não comido deve ser ceifado para não ficar velho, assim não teremos problemas. Quando o gado vive em um pasto sombreado, ele nunca deposita o esterco próximo às árvores, mas sim nas entrelinhas. Com essa lógica, os animais sempre vão comer o capim das linhas de árvores, sobrando somente capim não pastado nas ruas, onde o gado deposita parcialmente o esterco. Então, imediatamente após o término de cada rotação, pode-se mecanizar o corte do capim não pastado.